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CAPÍTULO V



Parecia a Brucena que aquele espetá culo nã o havia de terminar nunca mais.

Sabia que em outras circunstâ ncias ficaria encantada com as danç as das mulheres, com os encantadores de serpentes e os estranhos instrumentos musicais cuja melodia começ ava a apreciar.

Constatou poré m que era difí cil impedir seus pensamentos de voltaram-se toda hora para o garotinho que sabia estar sob o domí nio dos thugs. Nã o havia a menor dú vida de que os homens que vira em sua companhia na estrada deveriam ter assassinado um grupo de viajantes, mas deviam ter poupado a crianç a porque era muito bonita.

Nã o gostaria de examinar mais detidamente as razõ es que os haviam levado a proceder assim.

O marajá parecia um prí ncipe de um conto de fadas e somente a maldade estampada em seu rosto revelava o fato de que ele era um vilã o, muito mais do que um heró i.

Suas roupas eram bordadas com ouro, seu achkau, recamado de jó ias. Seu turbante ostentava mais jó ias ainda, alé m de uma grande aigreete. Fieiras de diamantes em forma de pê ra circundavam-no, como festõ es colocados em uma á rvore de Natal.

As jó ias faiscavam em seus dedos e em seu cinto e a bainha de sua espada era incrustada com diamantes, no meio dos quais luzia uma enorme esmeralda.

Havia fios e fios de pé rolas magní ficas em torno de seu pescoç o. Brucena achou que Amelie tinha toda razã o ao imaginar que seu modesto colar de duas fieiras passaria desapercebido.

O marajá fazia o possí vel para agradar os convidados de lorde Rawthorne, mas Brucena sentia que havia algo de perverso em suapessoa. Sentia també m que grande parte das pessoas presentes nã o somente toleravam os thugs, mas talvez até mesmo os encorajavam. Toda sua alegria dissipou-se, mesmo encontrando-o em meio ao esplendor e à beleza daquela noite. Para onde quer que olhasse, via apenas o rostinho do menino e as lá grimas que inundavam seus olhos, quando ele dissera, referindo-se à mã e:

— Morreu...

Sentiu um enorme alí vio quando percebeu que o primo William dera indicaç õ es de que sua mulher estava cansada e que já estava na hora de se recolherem.

— Mas você nã o precisa ir — disse lorde Rawthorne afobado, quando ela se levantou.

— Pelo contrá rio — retrucou Brucena friamente -, quando a sra. Sleeman se retira, está claro que eu devo acompanhá -la.

— Por quê? Há muita gente que poderá lhe fazer companhia, se é isto o que você deseja.

Ela nã o se dignou responder e simplesmente seguiu Amelie enquanto esta fazia uma mesura para o marajá e, escoltada pelo marido, caminhava em direç ã o à porta.

Todas as pessoas pelas quais passavam juntavam a palma das mã os, em sinal de polidez, e inclinavam a cabeç a. Pareciam respeitosas, mas Brucena achou que a expressã o de seus olhos contradizia o gesto e sentiu-se contente em deixar para trá s aquele aposento suntuoso onde o marajá os recepcionara.

Talvez fosse tã o refulgente quanto as jó ias daquete soberano, mas por detrá s de tudo aquilo havia algo escuro e assustador, que a fazia estremecer instintivamente da cabeç a aos pé s.

Lá fora havia uma carruagem que os transportaria para a casa dos hó spedes, e no meio do curto trajeto, Brucena se deu conta de que o capitã o Huntley nã o se encontrava com eles.

«Imagino que esteja apreciando as bailarinas», pensou com uma ponta de desprezo, mas em seguida ponderou que ele deveria ter outras razõ es para permanecer lá.

Percebeu subitamente que o havia visto muito pouco durante a noite. Estivera presente durante o jantar, que se prolongara um bocado, mas nã o conseguia lembrar se ele mais tarde tinha se sentado com eles nas cadeiras estofadas de cetim, agrupadas em volta do trono dourado do marajá.

Lembrava-se apenas que durante o tempo todo lorde Rawthornemurmurava elogios em seus ouvidos, declarando-se a ela com aquela mistura de arrogâ ncia e impertinê ncia que lhe era tã o caracterí stica.

«Quanto mais o conheç o, menos gosto dele», pensou.

Sabia, e isso a aborrecia, que Amelie contemplava o assé dio de lorde Rawthorne com prazer. Sabia també m que, apesar de suas objeç õ es, a mulher de seu primo estava convencida de que para seu pró prio bem ela deveria desposar um homem tã o importante.

Chegaram até a casa dos hó spedes e Amelie suspirou.

— Foi uma noite espetacular, mas devo reconhecer que estou um tanto cansada.

— Nã o está se sentindo mal, nã o é, meu bem? — perguntou seu marido preocupado.

— Nã o, estou bem, mas como vou gostar de ir para a cama!

— Você me perdoará se eu voltar para a festa, onde ficarei por alguns momentos? Sei que caso contrá rio ofenderí amos nosso anfitriã o, que fez o possí vel para nos proporcionar uma bela diversã o.

— Nã o se demore muito, querido, se bem que estarei dormindo quando você voltar.

— Farei o possí vel para nã o acordá -la.

Beijou sua mulher, desejou boa-noite a Brucena e desapareceu na escuridã o, encaminhando-se para a carruagem.

Brucena contemplou-o com uma expressã o consternada estampada no rosto.

Pretendia aproveitar a oportunidade e falar-lhe a respeito do menino, mas agora era impossí vel.

Nã o tivera como fazê -lo, pois os preparativos para a festa consumiram todo o tempo e a carruagem estava à espera, pronta para transportá -los para o palá cio.

«Preciso absolutamente falar com ele! », pensou, mas nã o lhe restava mais nada a fazer a nã o ser ir para seu quarto, onde as criadas já deviam estar à sua espera.

Ajudaram-na a despir-se e ela escovou os cabelos com ar ausente, pensando na crianç a e sentindo que mesmo que o primo William soubesse o que estava acontecendo, nada poderia fazer.

«É uma situaç ã o intolerá vel», pensou.

Sabia perfeitamente que se estivessem em alguma outra proví ncia, o residente faria com que uma crianç a sequestrada naquelas circunstâ ncias tenebrosas fosse levada de volta ao local onde o crime ocorrera. Sabia igualmente que o sr. Cavendish nã o faria absolutamente nada para ajudar o primo William. Muito pelo contrá rio, colocaria todos os obstá culos para que ele levasse adiante aquilo que ele acreditava fosse o seu dever.

" Este lugar é horrí vel! ", pensou Brucena.

As criadas deixaram-na a só s e ela deitou-se, mas nã o conseguia conciliar o sono.

Entã o, pela primeira vez, achou que talvez tivesse se colocado em uma posiç ã o perigosa.

Tudo o que havia feito era dar um lenç o de seda para o garoto, mas havia feito perguntas a respeito de sua mã e. Sentia que se o questionassem, nã o havia razõ es para que ele nã o dissesse a verdade e repetisse o que a moç a inglesa lhe havia dito.

Tinha a sensaç ã o desagradá vel de que o homem que avanç ara em sua direç ã o sabia perfeitamente quem ela era e onde a tinha visto antes.

— Ele sabe que eu contaria tudo para o primo William e receará que seu crime seja descoberto — disse a si mesma, e resolveu nã o levar aquilo muito a sé rio. Enquanto permanecesse em Gwalior estaria a salvo, mesmo que William Sleeman fosse informado a seu respeito.

Sua mente nã o cessava de recapitular o que havia acontecido naquela noite, até que ela sentiu-se quase como um esquilo trancado em uma gaiola, girando em torno de si mesmo e sem conseguir avanç ar.

Deviam ter-se passado duas ou trê s horas e até mesmo mais. Agora os raios do luar passavam atravé s das janelas sem cortinas, inundando o quarto com seu halo prateado.

Brucena, que contemplava tudo aquilo atravé s do mosqueteiro, achava a cena estranha e bela, poré m sinistra.

O luar em si mesmo era revelador, mas as sombras eram muito escuras e ocultavam tantas coisas...

Subitamente ouviu-se um ruí do.

Nã o era muito claro, mas mesmo assim diferia dos ruí dos noturnos que ela estivera a ouvir durante as ú ltimas horas.

Nã o sabia explicar por quê, e no entanto sabia que era diferente dos demais sons, que haviam se tornado parte de seu pensamento. Subitamente estremeceu e era como se a base de seu crâ nio fosse invadida por um terror que ela jamais sentira na vida.

Sentou-se na cama ouvindo, prestando muita atenç ã o no que acontecia e esperando que o som voltasse a se produzir. Nã o tinha nem mesmo certeza de que se tratava de algo objetivo ou de uma mera sensaç ã o, mas no entanto seria capaz de jurar que aquilo era causado por um ser humano.

Passou-lhe subitamente pela mente que sua morte poderia ser um dos meios pelos quais o homem que trouxera o garotinho até Gwalior evitaria ser reconhecido como um thug.

Ao mesmo tempo que formulou tal pensamento, disse a si mesma que estava sendo irracional.

Os thugs matavam somente os viajantes. Mas será que aquele homem nã o recorreria ao assassinato, a fim de salvar a pró pria pele?

Começ ou a tremer. Calafrios de pavor, semelhantes a descargas elé tricas, percorriam todo o seu corpo e ela sentiu um medo horroroso, como jamais lhe ocorrera em toda a sua vida.

Ouviu novamente aquele barulho e agora tinha quase certeza de que eram passos que se aproximavam, quase semelhantes ao de uma apariç ã o, mas sem dú vida alguma pertencentes a um homem que caminhava em sua direç ã o... aterrorizando-a... ameaç ando-a...

Durante um breve momento teve a sensaç ã o de que era impossí vel mover-se e que se quisesse fugir seu corpo nã o obedeceria à s ordens emanadas de seu cé rebro.

Com a maior cautela, movendo-se silenciosamente de modo a nã o ser ouvida, levantou o mosqueteiro e saiu da cama.

Sentia a maciez do tapete sob seus pé s descalç os e enquanto permanecia hesitante, o barulho se fez ouvir mais uma vez.

Invadida por um terror irracional e por um pâ nico que nã o lhe permitia sequer pensar com clareza, saiu correndo do quarto e mergulhou na escuridã o do corredor.

Sabia vagamente que devia pedir ajuda, mas ignorava a quem se dirigir e aonde ir.

Iria para qualquer lugar, contanto que se afastasse do horror que a assustava e daquele assassino que, tinha certeza, pretendia tirar sua vida. O corredor estava imerso na mais profunda escuridã o e quando começ ou a correr chocou-se contra algué m, forte e corpulento. Horrorizada, deixou um grito agudo escapar de sua garganta.

Sentiu-se como se estivesse indo ao encontro da morte e agora nã o havia mais nenhuma esperanç a, nenhuma possibilidade de fugir.

Estava tã o apavorada que só lhe restava tremer e esperar que a morte chegasse.

Entã o, dois braç os enlaç aram-na e ela certificou-se atravé s do instinto que estava salva.

Agarrou-se freneticamente ao homem que a segurava, ainda tremendo violentamente e sabendo ao mesmo tempo que agora estava protegida daquilo que a atemorizava.

— O que aconteceu? — perguntou o homem tã o baixinho que ela mal conseguia ouvi-lo.

Nã o conseguia responder, pois a voz lhe morrera na garganta. Conseguia somente olhar na direç ã o de onde a voz viera e ao fazê -lo os lá bios de um homem apoderaram-se dos seus e mantiveram-nos cativos.

Durante alguns momentos, ela nã o sentiu nada, nem mesmo surpresa e apenas uma sensaç ã o sú bita de alí vio que expulsou para bem longe aquele medo irracional.

Os braç os daquele homem apertaram-na com mais forç a e os lá bios de Brucena cederam à insistê ncia dos seus. O terror que ainda a fazia tremer dissolveu-se, como se o sol estivesse surgindo na escuridã o do cé u.

Algo de suave e infinitamente maravilhoso invadiu todo o seu corpo, movendo-se lenta e persistentemente atravé s de seus seios, percorrendo a garganta tensa e explodindo em seus lá bios.

Era tã o perfeito, tã o diferente a tudo que ela sentira e conhecera até entã o, tã o exaltante que ela sentiu que todo o seu ser rendia-se à gló ria daquele momento.

Era como se ela estivesse atingindo naquele momento a forç a vital, como se isso passasse a fazer parte dela e sentiu que aquela energia inefá vel invadia todas as suas veias.

Ao mesmo tempo deixou de ser humana e tornou-se divina, pois somente os deuses seriam capazes de conhecer tamanho enlevo.

Nã o teve a menor idé ia da duraç ã o daquele beijo, sabia apenas que a escuridã o e o terror se haviam dissipado e que estava mergulhada em uma luz que vinha de seu coraç ã o e integrava a beleza Presente na mú sica, nas flores e no pô r-de-sol.

Sentia-se segura, como sempre quisera estar, e agora o medo se dissipara.

Iam Huntley levantou a cabeç a e disse em um tom de voz difí cil de reconhecer:

— Minha querida, minha doç ura! Há tanto tempo que a amava e nã o tinha coragem de dizer.

Eu també m amo você... — murmurou Brucena, com um tremor na voz — mas... nã o tinha me dado conta de que eraamor. — Subitamente compreendeu que era por isso que detestara lorde Rawthorne, odiando seus galanteios e achando-o repelente.

Era també m por isso que ficava irada, toda vez que Iain Huntley a reprovava, bem como a quase mania que ele tinha de surpreendê -la em circunstâ ncias comprometedoras. Compreendeu també m porque sentia sua falta, quando ele se encontrava ausente...

Agora era impossí vel pensar. Limitava-se apenas a sentir e aproximou-se instintivamente ainda mais dele.

Iain voltou novamente a beijá -la, lenta e apaixonadamente, de tal modo que ela tinha a impressã o que o coraç ã o ia lhe pular do peito.

Beijou-a até que ela teve a sensaç ã o de que o mundo virava de cabeç a para baixo e tornava-se uma esfera luminosa, reluzindo como os candelabros do palá cio do marajá.

Finalmente, como se a natureza humana irrompesse sob a intensidade de tamanho ê xtase, Brucena escondeu o rosto em seu pescoç o e ele disse baixinho:

— Eu te amo, mas você precisa me contar o que a deixou tã o preocupada.

Foi entã o que Brucena compreendeu que tinha esquecido o que a fizera fugir do quarto, o que a aterrorizava e porque fugira em busca de seguranç a, encontrando-a nos braç os de Iain Huntley.

Ao relembrar tudo aquilo sentiu que o medo voltava e disse apressadamente, tropeç ando nas palavras:

— Tenho algo muito importante... a lhe dizer...

— Estou pronto para ouvir, mas nã o aqui. Acho melhor voltarmos para seu quarto.

Sentiu que ela estremecia, ao ouvir tais palavras e perguntou:

— Há algo lá que a deixou preocupada?

— Nã o... agora que você está comigo... nã o! — ela disse, apó s uma pausa.

Ele tomou-a pela cintura e percorreram o corredor até seu quarto. Brucena olhou com apreensã o em torno de si, como se receasse ver algué m perto da janela ou uma faca na cama, mas o aposento estava vazio, banhado pelo luar.

Iain Huntley fechou a porta e perguntou:

— O que a deixou tã o assustada, meu anjo?

Enquanto ele falava Brucena deu um pequeno grito de surpresa, pois ele nã o usava o uniforme dos Lanceiros de Bengala, com que tinha se apresentado na festa do marajá, mas estava vestido comonativo, com um turbante na cabeç a e um dhoti branco que lhe dava a aparê ncia de qualquer outro indiano.

Ele sorriu, ao notar seu espanto, e disse:

— Você me fez esquecer tudo o mais, exceto o fato de que a amo.

— Você saiu... com este disfarce?

Ele fez que sim e disse sorrindo:

— Neste momento nenhum de nó s dois tem uma aparê nciamuito convencional...

Suas palavras fizeram com que Brucena tomasse subitamente consciê ncia de sua pró pria aparê ncia e pela primeira vez percebeu que nã o usava nada alé m de uma camisola rendada.

Cruzou instintivamente as mã os sobre os seios, como se quisesse proteger-se de seu olhar e Iain Huntley disse calmamente:

— Vá para a cama, meu bem. Entã o conversaremos, embora pareç a censurá vel. Tenho poré m de saber o que a deixou atemorizada.

— Sim... é claro... — concordou Brucena.

Levantou o cortinado, a fim de deitar-se, mas nesse exato momento, para sua grande surpresa, Iain Huntley agarrou-a subitamente pelo braç o e puxou-a, obrigando-a a deitar-se no chã o.

Ela balbuciou qualquer coisa, surpreendida e fitou-o com os olhos arregalados, mas ele inclinava-se e puxava os lenç ó is lentamente, com o maior cuidado.

Viu que ele fazia uma pausa, levou a mã o de lado e logo em seguida fez um movimento brusco para a frente.

— Mas... o que foi? O que é que você está fazendo? — perguntou, aterrorizada.

De repente viu que a mã o dele brandia uma faca comprida e pontuda. Na outra mã o havia algo pequeno e verde, que se debatia com lentidã o cada vez maior, nas ú ltimas contraç õ es da morte.

Durante alguns instantes foi impossí vel mover-se. Horrorizada, viu que Iain levava a serpente até a janela e jogava-a fora.

— Uma cobra! — exclamou Brucena. — Entã o havia alguma coisa! Eu sabia... tinha certeza de que ele estava tentando me matar!

— Do que é que você está falando? Você nã o há de querer dormir aqui e compreendo muito bem. Encontrarei outro quarto para você e entã o me contará o que aconteceu, mas primeiro…

Olhou à sua volta, indeciso e, para grande surpresa de Brucena soltou-a e a fez sentar-se em uma cadeira.

Retirou o turbante da cabeç a e atravessando o quarto entrou no banheiro. Era um tanto primitivo, contendo vá rias latas repletas de á gua e um cano que saí a da parede, servindo como uma espé cie de chuveiro. Brucena esperava, atemorizada e trê mula, sem saber o que ele fazia.

Iain voltou envolto em um roupã o de algodã o felpudo, que se encontrava nas salas de banho.

Iain, sem os trajes nativos, agora parecia um inglê s comum. Olhou à sua volta, pegou um penhoar sobre uma cadeira e disse:

— Vista isto, querida. Vou encontrar outro quarto para você, mas antes que chame uma criada você terá de me contar o que a deixou tã o assustada e por que havia uma serpente em sua cama.

Brucena encarou-o, levantou-se e abrigou-se em seus braç os.

— Aperte-me! Aperte-me bem juntinho de você! Tenho medo! Se nã o fosse uma cobra, poderia ser uma faca... ou um lenç o amarelo!

Nã o conseguiu continuar e Iain disse, querendo reconfortá -la:

— Os thugs nã o conseguirã o pô r a mã o em você, querida. E por que haveriam de fazê -lo?

— É isto o que vou lhe contar.

Brucena soltou um breve suspiro.

— Queria contar para o primo William hoje à noite... mas ele voltou para a festa e sabia que nã o devia dizer-lhe o que tinha acontecido, pois Amelie se encontrava presente.

— Pois entã o conte para mim.

Sentou-se em uma cadeira e a fez sentar-se em seu joelho, ninando-a como se ela fosse uma crianç a.

Brucena encostou a cabeç a em seu ombro e sentiu que uma onda de ternura a invadia.

Era maravilhoso estar tã o pró xima dele e saber que no momento nada poderia atingi-la. Conseguiu contar com bastante coerê ncia seu encontro com o garotinho que lhe tinha dado a flor e a quem ela, como retribuiç ã o, dera o novelo de seda cor-de-rosa.

Contou-lhe també m que vira a crianç a toda chorosa, quando voltavam para Saugar, naquele dia em que foram passear na borda do lago. Tinha certeza de que os thugs haviam eliminado sua famí lia.

Fez uma pausa para respirar e disse a Iain como o rostinho infeliz do menino a havia impressionado. Estava convencida de que ele se encontrava em algum lugar de Gwalior.

— Eu tinha razã o — murmurou. — Oh, Iain, o que irá lhe acontecer com aqueles homens terrí veis? O que farã o com ele?

— Acabe sua histó ria, querida — Iain disse, muito calmo.

Sentiu que ele ficava cada vez mais tenso à medida que seurelato prosseguia. Contou-lhe que voltara a ver o menino e em seu relato chegou até o momento em que ouvira sons estranhos, ficando aterrorizada com a perspectiva de ser assassinada pelo homem que a vira conversando com o garoto.

— Era esta a intenç ã o dele! — declarou Brucena, quase fora de si.

— Tenho certeza de que isto nã o se repetirá — disse Iain. — Vou encontrar outro quarto para você. Quero que tente dormir. Prometo-lhe que tudo terminará bem. Queria que você tivesse me contado isto antes.

— Tinha medo que você pensasse que tudo nã o passava de imaginaç ã o. Você estava tã o resolvido a nã o me revelar nada a respeito dos thugs...

— E sabe por quê?

— Nã o.

— Porque você era tã o bela, tã o jovem, tã o inocente... Nã o suportaria que você ouvisse narrativas de horror e degradaç ã o... Queria que permanecesse como era quando chegou encarando a Í ndia cheia de encantamento, como se ela fosse o reino da luz e do sol.

— Para mim continua sendo... e agora é ainda mais maravilhosa... porque eu encontrei você aqui.

Ele nada disse e apó s uma breve pausa ela indagou:

— Você me ama? Você me ama de verdade?

— É impossí vel dizer o quanto... — respondeu Iain.

Havia um ligeiro sorriso em seus lá bios enquanto ele prosseguia:

— Inicialmente, lutei contra meus sentimentos dizendo a mim mesmo que era velho demais, dedicado demais à minha profissã o. Acontece, meu anjo, que descobri ser impossí vel lutar contra o amor.

— Saberia que seria assim quando encontrasse... o amor, mas Amelie vivia me dizendo que devia me casar com... lorde Rawthorne. Agora sei, que a razã o pela qual eu o odiava era por estar apaixonada por você, apesar de nã o ter consciê ncia do fato.

— Tem certeza?

— Absoluta!

Olhou para Iain e o luar revelou-lhe a expressã o de seu rosto. Se ela era bela antes, o amor agora conferia-lhe um fulgor que ia alé m de toda descriç ã o.

Como se nã o conseguisse evitá -lo voltou a beijá -la com possessividade até que ela agarrou-se a ele e ficou quase sem fô lego.

— Eu te amo! — ele disse e sua voz tremia. — Minha querida, preciso protegê -la nã o somente contra os thugs e os assassinos que nos rodeiam, como també m contra qualquer intriga. Se algué m nos visse neste momento, haveria de nos censurar e muito, aliá s!

— Nã o me importo com o que as pessoas pensem ou digam... Você me ama e só isso importa.

— E é só isso que deve importar, mas agora quero que você repouse um pouco.

Fez com que ela se levantasse e ele també m ficou de pé.

— Nã o vai me deixar sozinha durante muito tempo, nã o é?

— Vou até o hall, onde sei que há alguns criados de plantã o.

Beijou-a novamente e enquanto ela ficava ao lado da portaaberta ele percorreu o corredor aos gritos.

Alguns segundos mais tarde voltou com vá rios criados, todos com ar de quem acabava de despertar.

— Ouvi mem sahib gritar — explicou Iain — e ela me disse que viu uma serpente rastejando em sua cama. Matei-a e joguei-a para fora da janela. Você s a encontrarã o na varanda.

Um dos criados foi até a janela e olhou para fora.

— É uma ví bora perigosa, sahib. Muito perigosa!

— Eu sabia. Agora precisamos encontrar outro quarto para mem sahib. Ela nã o pode dormir aqui hoje à noite.

— Nã o, claro que nã o, sahib. Duas portas adiante há um quarto desocupado.

— Antes, revistem-no cuidadosamente, pois Sua Alteza ficará extremamente zangado ao saber que uma de suas convidadas levou tamanho susto.

Esta observaç ã o produziu o efeito que ele pretendia e os criados apressaram-se em fazer o que lhes fora solicitado.

Quando Brucena, tendo Iain a seu lado, chegou ao quarto que iria ocupar teve certeza de que eles haviam vasculhado todos os recantos.

O quarto assemelhava-se bastante à quele que ela acabava de desocupar e enquanto os criados se retiravam, inclinando-se, ela perguntou:

— O que você vai fazer?

— Eu lhe direi mais tarde. Nã o se esqueç a de que pela manhã você deve se mostrar extremamente preocupada com o que aconteceu. Acho que você deve ficar preparada para partir imediatamente apó s o café da manhã. Agora, vou acordar seu primo e participar-lhe que você s todos devem ir embora.

— Nã o vá deixar Amelie preocupada — disse Brucena rapidamente.

— Ela nã o ficará sabendo de nada a nã o ser que você se assustou com uma cobra — replicou Iain. — Deixe tudo o mais por minha conta.

Segurou suas mã os com muita forç a e seu olhar nã o se desprendia dos lá bios de Brucena.

Ela pensou que ele a beijaria e entã o percebeu que os criados estavam parados na porta.

— Muito obrigada — disse Brucena com ternura.

Quando Brucena se viu a só s sentiu-se no auge da felicidade e sabia que nada mais lhe importava, exceto o fato de que Iain a amava.

Ouviu sua voz à distâ ncia e sabia que agora havia criados vigiando, ao lado da janela. Sabia també m que haveria outros criados dormindo no corredor, como acontecera durante sua viagem até Gwalior.

Agora já nã o sentia mais medo de ser assassinada e tinha confianç a em que Iain tomaria conta dela.

Assim que adormeceu repetiu seu nome vá rias vezes, como se ele fosse um talismã.

Quando Brucena entrou na varanda, onde o café da manhã estava sendo servido, primo William disse:

— Fiquei muito preocupado em saber que você quase foi atacada por uma cobra, ontem à noite. Na minha opiniã o, os pé s de buganví lia e os arbustos foram plantados muito perto da casa. Se morasse aqui, eu os mandaria remover para uns cinqü enta metros de distâ ncia.

— Acho que isto é um sacrilé gio, pelo menos no que diz respeito à s buganví lias, primo William, mas morro de medo das cobras!

— Todos nó s morremos, mas Huntley contou-me que você se portou com muita coragem. Acho, poré m, que já está na hora de partirmos e Amelie já mandou fazer as malas. Mandarei um criado dizer à s suas criadas que faç am o mesmo.

Amelie nã o tinha aparecido para o café da manhã, mas era impossí vel conversar abertamente com o primo William, porque sempre havia criados em volta.

Era ainda muito cedo e Brucena pensou que haveria tempo de sobra para arrumar as malas, dizer adeus a lorde Rawthorne e pô r-se a caminho antes que o calor se tornasse desagradá vel.

Nã o ficou nada surpreendida quando, daí a pouco, lorde Rawthorne apareceu na varanda, obviamente mortificado com a decisã o que eles tinham tomado de ir embora.

«Seu cenho estava carregado e ele parecia um tufã o», pensou Brucena.

— Mas o que está acontecendo, Sleeman? — ele perguntou em voz alta. — Comunicaram-me que você s estã o de partida.

— Apreciamos nossa visita imensamente, mas milorde há de compreender que nã o posso me ausentar muito tempo de minha proví ncia.

— Mas esperava que permanecessem aqui pelo menos uma semana...

— É o que gostarí amos de fazer, mas chegou um mensageiro de Saugar comunicando-me de que há problemas no sul da proví ncia e portanto devo voltar, a fim de lidar com a situaç ã o.

— Mas você, com toda certeza, pode delegar sua autoridade, nã o é mesmo? Afinal de contas, també m é dispensá vel!

— Sempre acreditei nisto, mas neste momento estou sendo requisitado nã o só como superintendente, mas també m como magistrado e oficial do distrito. Exerç o tantas funç õ es, que quando nã o estou lá, eles sentem minha falta!

Ele se exprimia com jovialidade, mas lorde Rawthorne indagou, de mau humor:

— Imagino que nã o vai deixar sua esposa e a srta. Nairn aqui?

— Penso que nã o. Minha senhora nã o está em condiç õ es de ficar onde quer que seja sem a minha companhia, como o senhor sabe, e Brucena é essencial, quando se trata de lhe dar assistê ncia. Alé m disso, está sob nossa responsabilidade, e é uma criatura preciosa demais para que a deixemos sozinha!

William Sleeman gracejava, mas Brucena tinha certeza de que ele tinha a intenç ã o de se mostrar muito firme. Nada do que lorde Rawthorne pudesse dizer o desviaria de sua intenç ã o de voltar para casa.

Acabaram partindo um pouco mais tarde do que pretendiam. Lorde Rawthorne estava indignado, mas mesmo assim os escoltou.

A partida foi um tanto imponente, pois eram seguidos por umdestacamento da Cavalaria de Gwalior e por onde passavam eram aclamados pela populaç ã o.

Nã o havia, entretanto, tambores e trombetas e assim que deixaram para trá s a fortaleza vermelha, Brucena sentiu que primo William estava muito aliviado, a exemplo do que sucedia com ela.

Preocupou-se, pois nã o se via o menor sinal de Iain. Olhava o tempo todo para ver se o distinguia entre os soldados que cavalgavam atrá s deles e nã o podendo mais se controlar, perguntou:

— O major Huntley nã o vem conosco?

— Foi caç ar — respondeu William Sleeman. — Já havia prometido, desde ontem, e nã o gosta de desapontar as pessoas a quem deu sua palavra.

Brucena estava a ponto de dizer qualquer coisa, mas percebendo que lorde Rawthorne cavalgava ao lado da carruagem achou mais prudente se calar.

Alguns quilô metros depois de Gwalior, os cavalos se detiveram e eles despediram-se de seu anfitriã o.

— Foi uma visita muito agradá vel, lorde Rawthorne — disse Amelie, estendendo a mã o. — Sinto muito nã o podermos permanecer por mais tempo.

— Eu també m! Espero que me permitam visitá -los novamente, dentro em breve! Quem sabe, aparecerei dentro de uma semana?

Fez-se uma pausa antes que Amelie repetisse:

— Uma semana, lorde Rawthorne?

— Pretendo continuar a viagem que interrompi quando cheguei em Saugar e os convidei para serem meus hó spedes aqui em Gwalior.

Sorriu, olhou para Brucena e prosseguiu:

— Conforme já lhes disse, tenho amigos em Bhopal e em vá rios outros lugares que pretendo visitar. Planejo, portanto, partir mais uma vez como um explorador da Í ndia e espero que sejam tã o gentis comigo como o foram durante minha ú ltima visita.

— Sim, é claro — disse Amelie. — Nó s o receberemos com muito prazer.

— Espero que possa dizer o mesmo — declarou lorde Rawthorne, dirigindo-se a Brucena.

Ela achou que nã o fazia muito sentido mostrar-se desagradá vel e respondeu:

— Espero que até lá já tenhamos chegado em casa.

— Estou sempre preparado para esperar...

Havia sem a menor dú vida um significado mais profundo por detrá s daquelas palavras que Brucena nã o teve a menor dificuldade em compreender.

Tinha vontade de retrucar:

— Se o senhor esperasse até o dia do Juí zo Final, para mim nã o faria a menor diferenç a! — Em vez disso, forç ou um sorriso.

Somente quando se afastaram e lorde Rawthorne ficou vendo-os desaparecer na distâ ncia, Brucena perguntou, quase frené tica, para sua prima:

— Onde está lain? Por que nã o se encontra aqui conosco?

Sabia perfeitamente que o emprego do primeiro nome do majorHuntley e a agitaç ã o que sua voz transmitia fizeram o major William Sleeman e sua mulher fitarem-na atô nitos. Nã o conseguiu dominar o rubor que lhe invadia o rosto e sua prima disse, com um sorriso nos lá bios:

— Quer dizer que o vento está soprando nessa direç ã o! Devo reconhecer, Brucena, que você me pegou desprevenida!

Brucena ficou rubra como um pimentã o e balbuciou:

— Nã o pretendia que você s soubessem tã o cedo... mas nã o suporto o pensamento de que ele ficou sozinho naquele lugar.

— Huntley sabe cuidar de si mesmo — declarou William Sleeman, querendo consolá -la, mas Amelie deu um grito.

— Oh, Brucena, queria tanto que todo mundo a chamasse de lady!

— Se quer saber minha opiniã o, Brucena tomou uma decisã o correta — declarou seu marido. — Huntley vale doze lordes pretensiosos como Rawthorne e, mais importante do que tudo, irá muito longe graç as a seus pró prios mé ritos.

Amelie nã o ouvia. Olhou para Brucena e disse:

— Minha querida, você sabe que a ú nica coisa que desejamos é a sua felicidade.

— Eu sou feliz... muito, muito feliz... mas gostaria que ele estivesse aqui.

— Pare de se preocupar com o major Huntley e tome cuidado com o que diz. Os criados tê m ouvidos! Nã o se esqueç a, ele foi caç ar tigres.

Brucena arregalou os olhos.

— Está querendo dizer que...?

— E isso mesmo. Se quiser ser a esposa de lain, deve aprender a calar-se e saber quando é preciso dissimular.

— Sim... sim... é claro — disse Brucena com humildade. — Sinto muito ter sido tã o tola.

Sabia ao mesmo tempo que estava morrendo de medo que algo acontecesse com lain.

Como o seu primo podia deixá -lo a só s em Gwalior com todos aqueles thugs? Homens que só desejavam estrangulá -lo com aquele lenç o amarelo, colocar serpentes em sua cama ou assassiná -lo do modo como lhes ocorresse no momento!

Pernoitaram em um bangalô, na proví ncia de Gwalior. Brucena sentiu dificuldade em conciliar o sono e permaneceu acordada, rezando para que lain permanecesse incó lume e voltasse logo para seus braç os.

Sentia que a cada momento que passava seu amor aumentava. Parecia que ele preenchia seu mundo e nã o havia mais nada alé m de sua pessoa. Até mesmo a beleza da Í ndia deixou de comovê -la e só conseguia pensar em sua voz, na seguranç a que sentia quando estava em seus braç os e em seus lá bios pousados sobre os dela.

Quando partiram no dia seguinte, nã o conseguiu imaginar como seu primo e Amelie podiam parecer tã o despreocupados, quando ela se sentia cada vez mais tensa, à medida que se afastavam de Gwalior, sem o menor sinal do homem a quem amava.

«Sempre pensei que o amor fosse sinô nimo de felicidade», pensava, «mas sinto uma angú stia pior do que a dor fí sica, pois meu coraç ã o pode sofrer mais do que meu corpo».

Alcanç aram os limites do Estado de Gwalior e as colinas e desfiladeiros foram deixados para trá s. Agora tudo era mais plano, havia uma quantidade maior de mangueiras e logo aproximaram-se das plantaç õ es de cana-de-aç ú car, iniciativa de primo William.

Logo apó s a fronteira havia um bangalô mais confortá vel do que aqueles em que haviam pernoitado a caminho de Gwalior. Lá haviam de permanecer mais tempo para grande surpresa de Brucena.

William Sleeman explicou que precisava avistar-se com alguns oficiais e també m desejava inspecionar a fronteira entre as duas proví ncias. Brucena tinha certeza de que isso dizia respeito aos thugs, mas as coisas nã o se tornavam mais fá ceis pelo simples fato de ela deixar de se preocupar incessantemente com lain, que até aquele momento nã o tinha dado sinal de vida.

Amelie mostrou-se muito feliz. Levantava-se quase na hora do almoç o e sentava-se na varanda, em um lugar onde nã o fosseouvida por seu marido, que recebia os dignatá rios da regiã o, mas ainda assim contente por ele se encontrar perto dela.

Brucena dava passeios a cavalo, seguida por dois soldados da Cavalaria, sempre que primo William nã o podia acompanhá -la. Quando o calor diminuí a passeava a pé pela estrada que passava em frente ao bangalô, olhando sempre na direç ã o de Gwalior, imaginando o que poderia estar acontecendo, pois os dias passavam e ainda nã o havia notí cias de lain.

«Primo William deveria ter deixado pelo menos dois sipaios lhe fazendo companhia», pensou Brucena.

A intuiç ã o lhe disse subitamente que lain deveria estar agindo sob a proteç ã o de um disfarce.

Tinha consciê ncia de que o convite para a caç ada era apenas uma desculpa para ficar em Gwalior. Ao mesmo tempo, nã o conseguia imaginá -lo como um indiano, perdido no meio da multidã o, na cidade velha de Gwalior.

O que lhe aconteceria se fosse descoberto?

Ficou quase doente, de tanta preocupaç ã o e ao mesmo tempo era impossí vel deixar de pensar e orar por ele, a cada minuto da noite e do dia. Disse para si mesma que devia confiar em que ele voltaria sã o e salvo, seguindo nesse ponto a atitude de William Sleeman.

Havia poré m tantas coisas que podiam nã o dar certo! «Mas o que lhe importava», pensou, «se os thugs se multiplicassem aos milhares, contanto que lain estivesse a salvo»?

Primo William podia muito bem dedicar-se a eliminar os thugs, mas ela estava preocupada unicamente com a seguranç a de uma pessoa: lain, o homem a quem amava.

Há quatro dias estavam no bangalô e como primo William e Amelie nã o davam sinal de querer prosseguir a viagem, Brucena, sentindo que enlouqueceria se continuasse inativa, fez menç ã o de caminhar decididamente em direç ã o à estrada.

— Onde é que você vai, querida? — perguntou Amelie, que estava sentada à sombra da varanda.

— Dar um passeio.

— Você nã o deve se afastar muito.

— Tenho de ir a algum lugar. Já estou enlouquecendo de tanto ficar trancada aqui, pensando e me preocupando!

— Sinto muito, meu bem, mas garanto a você que nada de mal está acontecendo com lain!

— Mas como é que você pode saber? Como pode ter idé ia do que está acontecendo com ele? Se ele nã o vier logo irei à sua procura.

— Acha que conseguiria reconhecê -lo? — perguntou Amelie com toda calma.

— Eu o reconheceria em qualquer lugar. Meu instinto me diria onde ele pode se encontrar.

Sentiu que as lá grimas vinham-lhe aos olhos, enquanto falava e como isto a fazia sentir-se um tanto envergonhada começ ou a percorrer a estrada poeirenta.

— Nã o se afaste muito — recomendou-lhe Amelie —, — Caso contrá rio mandarei um sipaio à sua procura.

Nã o se importou de pô r um chapé u, pois nã o havia ningué m para vê -la. Levou apenas o guarda-sol para protegê -la. O calor havia diminuí do bastante, pois já estava ficando tarde.

A estrada, muito comprida, estendia-se à distâ ncia e ela pensou que lain, naquele momento, estaria na prisã o em Gwalior. Quem sabe o torturariam, a fim de que ele revelasse os segredos que conhecia, relativos aos thugs!

E se isso fosse verdade, o que é que se podia fazer? Se nã o pudessem resgatá -lo, entã o ele morreria, como tantos outros homens haviam morrido, a serviç o da Í ndia.

— Nã o vale a pena! Nã o vale a pena!

Sabia poré m que para homens como o primo William e lain, a Í ndia valia qualquer sacrifí cio que se pedisse deles, mesmo que isto representasse dar sua vida por esta terra.

— Nã o tenho nenhuma resposta para isto — disse Brucena com seus botõ es.

Percebeu que, por estar entregue a seus pensamentos, havia se afastado um bocado do bangalô. Como nã o queria deixar Amelie preocupada, devia voltar imediatamente.

Olhou para os lados de Gwalior e fez uma oraç ã o, pedindo pela vida de lain.

— Cuide dele, oh meu Deus, e traga-o de volta para mim. Eu o amo e sem ele nada mais resta em minha vida, a nã o ser o vazio. Proteja-o, meu Deus, proteja-o!

Seus sentimentos eram tã o intensos que seus olhos ficaram marejados de lá grimas.

Deu meia-volta e dispunha-se a voltar para o bangalô. Nesse momento, descendo por um morrinho onde havia algumas á rvoresmuradas, viu um homem e um menino, precedidos por uma cabra. Suas tetas fartas estavam cheias de leite, mas ela andava lentamente, sem demonstrar grande desejo de ir adiante.

Brucena lanç ou-lhe um olhar rá pido, antes de fitar o homem que usava um dhoti amarrotado e sujo. Seu olhar pousou em seguida sobre o menino.

De repente ela ficou parada.

O menino estava maltrapilho, mas aquele rosto belo e delicado e as pestanas enormes lhe eram muito familiares.

Durante alguns instantes achou que estava sonhando e que sua imaginaç ã o distorcera sua visã o. Olhou novamente para o homem e soltou um pequeno grito de alegria, que ecoou no ar da tarde.

Pô s-se a correr em sua direç ã o.

 



  

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