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CAPÍTULO IV



William Sleeman decidiu que sua esposa deveria viajar lentamente e que a jornada até Gwalior tinha de ser muito agradá vel.

Em outras circunstâ ncias, teria percorrido o trajeto em pouco tempo, mas tendo Amelie e Brucena a seu lado determinou que deveriam apreciar a paisagem, ao mesmo tempo em que aproveitaria a oportunidade para inspecionar vá rias regiõ es submetidas à sua jurisdiç ã o.

Divertiu-se com a insistê ncia de lorde Rawthorne no sentido de que chegassem o mais breve possí vel. Nã o era tã o pouco perspicaz que nã o compreendesse que por detrá s daquela atitude havia o desejo de rever Brucena e nã o o propó sito de distraí -los com as festividades que preparava em honra deles.

Considerava entretanto que seus interesses possuí am uma importâ ncia muito maior.

Enviou, portanto, numerosos mensageiros a fim de prevenir os oficiais dos territó rios que atravessariam e també m deu-lhes instruç õ es no sentido de providenciar as melhores acomodaç õ es possí veis.

Brucena ficou muito impressionada com a maneira metó dica e precisa como o primo William planejava a viagem.

Partiram muito cedo, trê s dias mais tarde. Quatro cavalos baios puxavam a carruagem em que viajavam e ela imaginou que tudo aquilo haveria de ter custado uma pequena fortuna.

Como sempre, estavam escoltados pelos sipaios e um destacamento da Cavalaria e quando observou que tudo aquilo tinha um aspecto de realeza o primo William riu.

— Se nã o tivé ssemos tanta pressa em chegar, aí sim é que viajarí amos como se deve, com a maior pompa, exatamente como pretendo fazê -lo no Ano-Novo, quando partir para inspeç ã o.

— Entã o vai parecer mais importante do que parece no momento? — perguntou Brucena.

— Certamente, pois entã o serei precedido por um elefante e transportado em um palanquim..

Sorriu, como se estivesse caç oando de si mesmo, e acrescentou:

— Aquele meu chapé u cheio de plumas inspira respeito e admiraç ã o até mesmo aos thugs!

Brucena lamentou a ausê ncia do elefante, mas apreciava o entusiasmo que eles despertavam nas localidades por onde passavam.

Logo constatou que primo William nã o era somente respeitado, mas que os habitantes da proví ncia confiavam nele e chegavam até mesmo a amá -lo.

Muitos deles já se davam conta do alí vio que sentiam por nã o se verem mais sujeitos à opressiva ameaç a dos thugs. Podiam viajar com maior seguranç a e nã o eram mais coagidos a guardar silê ncio, como sem dú vida acontecera no passado.

Assim que se viram a só s, Brucena comunicou tudo isso ao primo William, mas ele limitou-se a sacudir a cabeç a.

— Há ainda muita coisa a ser feita e nã o me sinto feliz em saber que, se os expulsar desta proví ncia, eles passarã o a ameaç ar o povo, em outras regiõ es da Í ndia.

Brucena sabia, enquanto prosseguiam viagem, das dificuldades criadas por Gwalior, ao permitir que os thugs se refugiassem por lá.

Apesar de ela desconhecer o fato, o primo William confidenciara a Iain Huntley que aquela viagem seria de extrema importâ ncia, se ela lhes desse a oportunidade de encontrar em Gwalior algum thug em cuja captura estivessem empenhados.

— O senhor acha realmente que eles se mostrarã o? — perguntou o major Huntley.

— Lembre-se de que muitos deles nã o possuem a menor idé ia de que temos consciê ncia de sua existê ncia. Você e eu, entretanto, possuí mos uma lista secreta com seus nomes. Tenho certeza de que numerosas pessoas que se encontram nela pensam que sã o anô nimas.

— É verdade. Precisamos ficar de olhos bem abertos.

— Confio em você para que isso aconteç a. Você bem sabe o quanto foi bem-sucedido no passado, quando o enviei a cumprir missõ es quemais ningué m conseguiu executar de modo satisfató rio.

— Obrigado.

Os dois sorriram. Sabiam que naquela luta ambos eram gratospela compreensã o e camaradagem demonstradas por um em relaç ã o ao outro.

Com efeito, nã o havia ningué m mais em quem William Sleeman pudesse confiar.

Nã o tinha o menor desejo de estragar a felicidade româ ntica em que vivia com Amelie, dando-lhe conhecimento dos detalhes desagradá veis de seu trabalho.

É claro que a mulher tinha conhecimento de boa parte do que se passava, mas quando ele se encontrava em casa tentava interessá -la em outras coisas. Havia de parte a parte um grande interesse pela agricultura e pelo plantio da cana-de-aç ú car, graç as a qual eles haviam se conhecido.

William Sleeman tinha també m um grande interesse em á rvores. Quando o governo o tinha congratulado pelo grande sucesso alcanç ado com a cana-de-aç ú car de Mauritius, ele, para comemorar o evento, tinha começ ado a plantar uma impressionante fileira de á rvores, que iam de Jhansee Gat, nas margens do rio Nerbudda, até Mirzapore, no Ganges.

Todos os anos, os frutos que elas davam eram sumamente apreciados pelos viajantes. A ironia de tudo aquilo é que ele fizera ex-componentes do bando dos thugs plantá -las e cuidar delas.

Isto o levou a estudar a flora da Í ndia com aplicaç ã o ainda maior e Amelie, graç as à sua ajuda, fez alguns esboç os muito bonitos de flores e plantas que eles sabiam ser do interesse de seus amigos, quando voltassem para a Inglaterra.

Enquanto viajavam para o norte, em direç ã o a Gwalior, o primo William mostrava para Brucena tudo aquilo que achava digno de sua atenç ã o e sempre tinha uma histó ria incrí vel para contar, relativa à s pessoas com quem cruzavam na estrada.

Ele narrou-lhe coisas extraordiná rias como, por exemplo, que na Í ndia nove entre dez pessoas acreditavam que o arco-í ris nascia do há lito de uma serpente, e que uma estrela cadente no firmamento significava que um grande homem nascera naquela noite ou entã o morrera.

Certo dia, quando Amelie dormira durante a jornada, William narrou a Brucena algumas superstiç õ es relativas aos thugs que ela tanto desejava saber.

Exprimindo-se em voz baixa, de modo que sua mulher nã o ouvisse, William Sleeman contou-lhe que antes de partirem parasuas expediç õ es criminosas, os thugs faziam oferendas a Kali e a Bhowani, a deusa da varí ola.

Antes que partissem, algué m do bando ia na frente, a fim de observar o vô o dos pá ssaros ou ouvir os ruí dos emitidos pelos lagartos.

— Qual é o significado destes sons? — perguntou Brucena.

— Os thugs acreditam que traz sorte ouvir o barulho dos lagartos ou entã o o grasnar de um corvo empoleirado em uma á rvore, do lado esquerdo da estrada.

— E há outros sinais?

— Muitos. O aparecimento de um tigre é considerado um acontecimento extremamente auspicioso e o barulho de uma perdiz no lado direito da estrada denota para os thugs que eles encontrarã o uma presa naquele mesmo lugar. Eles entã o ficam à espera de que suas infortunadas ví timas apareç am.

— E quais sã o os sinais que indicam boa sorte?

— Uma lebre ou uma cobra que atravessem a estrada por onde eles passem, o pio de uma coruja ou o grito de um chacal solitá rio.

— Tudo isto me parece um tanto complicado.

— Fico contente em saber que tudo isto torna a tarefa deles mais difí cil. Para eles, matar algué m da casta dos Kayale, bem como carpinteiros, oleiros, lavadeiras, talhadores de pedra e gente que trabalha em metal é algo que traz muito azar!

— Entã o, nã o sobram muitas ví timas...

— Ao contrá rio. Muitos viajantes devem suas vidas a eles porque no grupo pode encontrar-se um homem que esteja pastoreando uma vaca ou uma cabra.

— E os thugs estrangulam somente os ricos?

William Sleeman balanç ou a cabeç a.

— Entre eles nã o há diferenç a entre ricos e pobres, pois seu dever é de fundo religioso.

— Nã o consigo imaginar porque escolheu a tarefa tã o á rdua de suprimir justamente essa gente.

— Acho que Deus fez isto por mim — disse William Sleeman com simplicidade. Brucena sabia que ele acreditava na verdade do que tinha acabado de dizer.

Amelie despertou e eles abordaram novamente o assunto relativo à s á rvores e flores.

A maior parte das pessoas com quem cruzavam no caminhoiam a pé ou entã o acompanhavam um cavalo ou um burrico que transportava seus pertences.

Dois dias mais tarde encontraram alguns Lohars em seus carros de madeira puxados por bú falos, chapeados de cobre com todos os signos do zodí aco inseridos nas rodas.

Brucena ficou encantada e William Sleeman explicou:

— Os carros vã o de aldeia em aldeia e os Lohars, de geraç ã o em geraç ã o, sã o grandes fabricantes de ferramentas.

— E eles viajam por toda a Í ndia?

— Sim, pois no sé culo XVI quando seu rajá Pratap Singh foi derrotado pelos muç ulmanos, a tribo fez o voto de que seu povo jamais voltaria a morar no Rajasthan, até que Pratap Singh voltasse a ser rei. Ainda esperam que algum dia ele regresse.

Era esse tipo de histó ria que fazia a jornada escoar-se rapidamente para Brucena. À noite, ela dormia profundamente, sonhando com mangueiras, á rvores banyü n, as aldeiazinhas onde os velhos abrigavam-se a sombra enquanto as crianç as brincavam nuas na terra poeirenta e marrom.

As cabanas feitas de barro, os bú falos arando as terras por meio de arados de madeira, a sú bita visã o de centenas de pé s de hibisco carregados de flores, o odor de madeira queimada e de vez em quando a mú sica de uma flauta encerravam uma magia que Brucena jamais conseguiria descrever para aqueles que nã o tivessem presenciado tudo aquilo.

Algumas vezes detinham-se durante bastante tempo, enquanto William Sleeman confabulava com os velhos de uma aldeia ou recebia um relató rio de um dos oficiais do distrito.

Os jovens militares dessas localidades olhavam admirados para Brucena, quando ela chegava, e demonstravam uma certa melancolia quando ela partia. Depois disso sabiam que teriam de cuidar de uma regiã o que se estendia por centenas de quilô metros quadrados, enfrentando problemas e dificuldades que surgiam diariamente, sem cessar, naquelas pequeninas comunidades indianas.

Finalmente, quando parecia que tinham viajado por um perí odo interminá vel, entraram na regiã o ondulante de Gwalior, que era diferente sob todos os aspectos e pouco tinha a ver com as terras por onde haviam passado.

Havia rios e muito mais á rvores do que haviam visto até entã o e finalmente, à distâ ncia, surgiu uma grande fortaleza vermelha, a cujos pé s estendia-se uma cidadezinha.

O forte possuí a uma histó ria longa e violenta. Mulheres Rajput haviam se suicidado por meio do fogo no interior de suas muralhas. Os Moguls haviam envenenado os prisioneiros dando-lhes suco de papoula misturado com flores venenosas.

Vá rias vezes os ingleses haviam capturado o forte e o haviam devolvido a Í ndia.

— Nã o posso deixar de sentir — declarou William Sleeman — que estamos nos aproximando de uma dinastia de prí ncipes bá rbaros que, à semelhanç a de Atila, escolheram o lugar de sua residê ncia assim como os demô nios escolheram seus postos no inferno.

— Tome cuidado com o que diz, meu bem — advertiu-o Amelie.

— Odeio Gwalior desde a primeira vez que estive aqui. Antes que eu acampasse, um bando de ladrõ es havia roubado um de meus melhores tapetes e os adornos de bronze do mastro da tenda!

O modo como ele se exprimia fizeram Amelie e Brucena rir.

— Você s tê m de tomar o má ximo cuidado — disse muito sé rio. — Lembro-me de que há alguns anos esteve aqui um rajá a fim de prestar homenagens ao marajá de Gwalior e todas as suas jó ias, trajes e objetos de valor foram roubados.

Amelie levou a mã o ao pescoç o, dizendo:

— Arrependo-me de ter trazido meu colar de pé rolas.

— O mesmo rajá perdeu també m cinco cavalos e preveniu-me que eu devia cortar a cauda de minhas montarias, caso contrá rio certamente teriam o mesmo destino.

— E esse estado de coisas ainda prossegue? — indagou Amelie.

— Nã o ficaria nem um pouco surpreendido, apesar de imaginar que, por sermos hó spedes de lorde Rawthorne, estaremos um tanto protegidos. No entanto, ladrõ es sã o ladrõ es, onde quer que se encontrem. Aconselho-as a nã o se descuidar e vigiar permanentemente tudo o que trouxeram de valor.

— Nã o entendo porque você nã o me preveniu antes? — queixou-se Amelie.

William Sleeman riu.

— Receei que você desistisse no ú ltimo momento, caso eu contasse. Como queria vir até Gwalior, sem ofender o residente dizendo que estou aqui a negó cios, achei melhor manter silê ncio.

— Pois foi muita maldade de sua parte, querido — disse Amelie.

William Sleeman e Brucena sabiam que ela nã o estava realmente zangada.

A recepç ã o que lhes proporcionaram foi realmente impressionante. Rifles foram disparados, lorde Rawthorne veio a seu encontro com um destacamento de cavalaria carregando estandartes, flores foram atiradas em sua carruagem e uma multidã o os aclamava enquanto eles percorriam a cidade, encaminhando-se para o palá cio.

A velha cidade de Gwalior estava situada a dois quilô metros da nova cidade de Lashkar, o Acampamento, assim denominada quando o marajá anterior, um homem muito belicoso, plantou suas tendas naquela localidade em 1809.

Havia começ ado a erigir um edifí cio permanente rodeado por um parque tã o enorme que, segundo contaram mais tarde para Brucena, os tigres perambulavam por lá, pensando que ainda estivessem em seu pró prio territó rio!

O palá cio era impressionante, todo rodeado de buganví lias escarlates.

Ouviu-se o barulho de numerosos tambores e o som de trombetas bá rbaras e ao passarem pelo palá cio aproximaram-se de uma edificaç ã o menor, que lorde Rawthorne declarou ser o lugar onde ficariam hospedados.

Saltaram da carruagem. Brucena pensou que estava satisfeita por ter vindo, apesar da maneira insistente e constrangedora como lorde Rawthorne a encarava e a despeito de tudo o que o primo William dissera a respeito de Gwalior.

Lorde Rawthorne encontrava-se em seu elemento e era evidente que o marajá lhe dera carta branca para recepcionar seus hó spedes como bem lhe aprouvesse. Havia um pequeno batalhã o de criados para atendê -los e os aposentos de Amelie encontravam-se decorados com uma quantidade fantá stica de flores.

— Ele sem dú vida está sendo muito atencioso — disse Amelie, enquanto ela e Brucena encaminhavam-se para seus quartos, a fim de refrescar-se, apó s a longa jornada. — Tenho certeza de que se William e eu tivé ssemos vindo sem você, nossa recepç ã o nã o teria sido tã o impressionante...

Brucena riu.

— Pelo menos, sirvo para alguma coisa!

Amelie olhou para ela, toda pensativa.

— Lorde Rawthorne é muito apresentá vel e, segundo acredito, muito rico.

— Se está pretendendo arranjar algum casamento, desista. Para lhe dizer a verdade, eu o acho um tanto repelente.

— Pelo que sei, um lorde inglê s goza de grande importâ ncia.

— É verdade, mas sendo eu inglesa nã o sinto o menor desejode embarcar em um casamento arranjado. Pare de fazer planos, Amelie! Quando decidir que quero me tornar a esposa de algué m, é porque estarei apaixonada.

— Deixe-me continuar a sonhar! — replicou Amelie. – Você até que ficaria bem bonita com uma coroa de lady...

— E você també m, mas em vez de procurar um duque francê s ou pelo menos um conde, como seu pai, você se decidiu por um funcioná rio inglê s que vive sonhando com aç ú car!

— É verdade! William, poré m, é diferente e muito mais atraente do que qualquer outro homem no mundo. Desista, portanto, de encontrar algué m como ele!

— Por mais que você diga, quero manter a esperanç a de encontrar um outro William! — retrucou Brucena, apó s o que foi para seu quarto.

Lá estavam duas criadas indianas prontas para servi-la. No momento em que tirava o chapé u viu um bilhete colocado sobre a penteadeira. Adivinhou quem era o autor e nã o o abriu enquanto nã o mudou de vestido.

Entã o, com certa relutâ ncia, pegou o bilhete, sentindo que lorde Rawthorne já se acercava dela de um modo insistente, o que sem dú vida continuaria fazendo durante o resto de sua estada em Gwalior. Compreendia perfeitamente o comentá rio de Amelie, quando ela declarou que o lorde era um bom partido e que qualquer outra jovem em sua posiç ã o encorajaria a corte que ele lhe fazia, esperando ansiosamente que ele a pedisse em casamento.

Brucena nã o conseguia entender o que sentia em relaç ã o à quele homem. Nã o somente o achava uma pessoa muito desagradá vel, como també m o detestava sem conseguir disfarç ar sua aversã o. Certificou-se do que sentia ao ver seus olhos, que percorriam avidamente seu rosto no momento em que ela chegou. Sentiu um calafrio percorrendo-lhe todo o corpo, assim que ele segurou sua mã o, quando entravam na casa de hó spedes.

— É um absurdo e eu nã o deveria deixar que uma coisa destas acontecesse — disse para si mesma. — Mas acontece e espero somente que ele nã o faç a manobras, de modo a se encontrar a só s comigo.

Tinha certeza de que era exatamente essa a sua intenç ã o e abriu a carta, imaginando o que ele teria a dizer.

Sua letra era exatamente como ela esperava: grande, audaciosa, escrita de maneira a quase transmitir a sensaç ã o de que ele estivesse dando ordens, no sentido de que ela deveria aprovar o que ele lhe comunicava.

«Seja bem-vinda, princesa de meus sonhos. Fiquei contando as horas até sua chegada e agora beijo-lhe as mã os, saudando-a e esperando muito mais. Rawthorne».

Brucena pousou a carta sobre a penteadeira e desviou o rosto do espelho.

— Muito obrigada — disse em urdu para as duas criadas e elas riram deliciadas, pois Brucena dirigira-se a elas em sua pró pria lí ngua. Inclinaram-se e juntaram a palma das mã os, enquanto saí am do quarto.

A sala de estar, situada no centro da casa, era decorada com um candelabro pesado. Mais tarde Brucena haveria de constatar que, no palá cio, esse tipo de decoraç ã o se repetia.

O marajá anterior gostava que tudo brilhasse e assim sendo nã o somente o candelabro mas també m o mobiliá rio luzia, pois era tudo embutido com pedaç os de cristal, ouro polido e vidro em alto relevo.

Havia refrescos e doces deliciosos na sala de visitas, mas infelizmente engordavam muito, segundo o comentá rio desolado de Amelie.

Lá se encontrava també m lorde Rawthorne, que parecia maior e mais poderoso do que em Saugat.

— Planejei coisas muito divertidas para você s amanhã — disse -, mas achei que hoje gostariam de repousar, apó s a viagem. Jantaremos portanto aqui, en famille, apesar de Sua Alteza se mostrar ansioso por conhecê -los.

— Acho ó tima idé ia — disse Amelie, muito delicada.

— Andei caç ando tigres esses dias — prosseguiu lorde Rawthorne. — Nã o sei, Sleeman, se você ou Huntley gostariam de tomar parte em uma caç ada, enquanto estiverem aqui. Posso tomar providê ncias neste sentido e no fim do dia você s terã o belos trofé us e muitas histó rias para contar.

Lorde Rawthorne prosseguiu contando o quanto atirava bem e que já havia mandado empalhar alguns animais, mas Brucena nã o prestava mais atenç ã o.

Olhava para o jardim repleto de flores e para o enorme parqueonde se situava o palá cio e a casa de hó spedes. Imaginava se seria possí vel em algum momento ir até a cidade e observar seus moradores.

Se a sorte estivesse de seu lado, quem sabe acabaria vendo de relance o garotinho, de quem jamais se esquecera...

Tinha, no entanto, a sensaç ã o de que seriam impedidos de manter contato com as pessoas do povo. Ainda estava entregue a seus pensamentos quando as portas se abriram e foi anunciada a chegada de Richard Cavendish, Residente de Gwalior.

Nã o havia a menor dú vida de que de estava extremamente aborrecido com o fato de que o capitã o Sleeman, a quem havia proibido capturar ou perseguir os thugs na proví ncia de Gwalior, se encontrasse ali em pessoa.

Teve poré m o bom senso de nã o dizer nada que soasse como uma provocaç ã o, apesar de dar a entender, atravé s do modo como se exprimia e da expressã o de seu rosto, que o capitã o nã o era bem-vindo.

— Dizer que estou surpreendido por vê -lo, Sleeman, é expressar meus sentimentos com muita moderaç ã o!

— Achei impossí vel recusar o generoso convite de lorde Rawthorne — replicou William Sleeman com estudada polidez. — Alé m do mais, minha mulher e eu está vamos ansiosos para mostrar para minha prima um pouco da Í ndia. Ela acaba de chegar da Inglaterra e está morando conosco. Permita que a apresente.

O sr. Cavendish saudou Brucena com uma certa frieza, segundo lhe pareceu, mas como ela achava que aquilo agradaria seu primo, fez-lhe perguntas relativas a Gwalior, que ele se viu na contingê ncia de responder.

Felizmente, lorde Rawthorne havia convidado o residente para jantar e quando as senhoras se retiraram para um breve repouso, Amelie disse:

— Quase valeu a pena fazer uma viagem tã o cansativa para ver o quanto nossa presenç a aborrece o sr. Cavendish. Jamais esperaria encontrar William em seu territó rio e em uma posiç ã o tal, que nã o pode lhe dar ordens para ir embora!

— Achei-o detestá vel, sem levar em conta o fato de que ele incentiva os thugs.

— Concordo com você, mas precisamos tomar muito cuidado, em benefí cio de William. Temos de ser delicadas para com todo mundo.

«Isso incluí a lorde Rawthorne», pensou Brucena, sentindo uma Pontada no coraç ã o.

O jantar transcorreu na maior calma, pois todos estavam muito cansados, mas assim que ele terminou, lorde Rawthorne insistiu para que fossem até a varanda e contemplassem as luzes da cidade a seus pé s, o grande precipí cio que havia por detrá s da casa e o campo que se estendia em direç ã o ao horizonte.

Tudo aquilo era de fato muito belo, principalmente naquele momento em que o sol se punha, iluminando pela ú ltima vez os rochedos e desfiladeiros, as mangueiras frondosas e um rio dourado, que serpenteava por entre as pedras.

As luzes se acendiam uma por uma e Brucena acharia tudo aquilo muito româ ntico e excitante, se lorde Rawthorne nã o tivesse aproveitado a oportunidade e ficasse bem junto a ela, tentando lhe falar a só s.

— Tenho tantas coisas para lhe mostrar, tanto o que conversar... — disse-lhe bem baixinho, julgando que somente ela conseguiria ouvi-lo.

— Hoje sinto-me por demais cansada para apreciar o que quer que seja.

— Recebeu meu bilhete?

— Sim.

— Queria escrever muitas outras coisas, mas preferi dizê -las...

— Espero que se abstenha de fazê -lo.

— Nã o conseguirá me impedir...

— Pois entã o ficarei extremamente zangada...

— Ficaria de fato aborrecida se lhe dissesse que nã o sai de meu pensamento, desde que deixei Saugar, e que só tenho conseguido dormir quando finjo que você está abraç ada comigo?

Brucena afastou-se um pouco dele e lorde Rawthorne seguiu-a, dizendo:

— Eu a deixei aborrecida?

— Sim, muito! Nã o deve falar comigo com tamanha familiaridade. Acho um atrevimento, pois mal nos conhecemos.

— Pois para mim o tempo voa. Sinto que a conheç o há anos e que durante toda minha vida tenho estado à sua procura.

Seu rosto estava bem pró ximo ao dela e como Brucena nã o sabia contornar a situaç ã o, percorreu rapidamente a varanda e foi ao encontro de Amelie que conversava com o major Huntley.

— Estou cansada, Amelie, e tenho certeza de que você també m está. Acho que deverí amos ir dormir.

— Tem toda razã o, Brucena. Amanhã poderemos fazer muitos passeios. Boa noite, lorde Rawthorne, e obrigada por sua acolhida tã o generosa.

Fez uma pequena mesura.

— Boa noite major Huntley.

Ambos os homens se inclinaram, enquanto Brucena fazia o mesmo. Rawthorne estendeu a mã o, como se quisesse impedi-la de sair.

— Quero conversar com a senhorita. Precisa mesmo se recolher?

— Sinto muito, mas mal consigo ficar de olhos abertos.

Seguiu rapidamente Amelie e foram para seus quartos, que se encontravam do outro lado da casa.

— Lorde Rawthorne, pelo visto, está muito enamorado de você — comentou Amelie.

— Ele é um tanto atrevido e diz coisas que nã o tem em absolutoo direito de dizer — observou Brucena.

— Prometa-me uma coisa.

— De que se trata?

— Se ele se declarar, nã o o rejeite imediatamente, mas pense no assunto. Você sabe que seria um casamento brilhante para você. Posso lhe assegurar que mesmo que William e eu lhe apresentá ssemos vá rios jovens muito recomendá veis, nenhum deles ocuparia a posiç ã o social de lorde Rawthorne, alé m do que nã o possuem muito mais dinheiro do que aquele que ganham.

— Já lhe disse o que desejo — respondeu Brucena.

— Jamais lhe pediria para se casar com algué m devido ao seu dinheiro ou sua posiç ã o, mas você pelo menos poderia tentar achar o amor no lugar onde estas coisas se encontram...

Brucena riu.

— Minha querida Amelie, agora você está sendo francesa demais!

Beijou-a e dirigiu-se para o quarto, onde ficou contemplandoa noite.

— E se eu nunca encontrar o amor? — perguntou para si mesma. — Mas para mim seria impossí vel me satisfazer com qualquer coisa que nã o corresponda à quilo que faz parte de meus sonhos.

Sabia que o futuro era algo inteiramente desconhecido, mas por outro lado nã o tinha o menor desejo de regressar à Escó cia, onde se encontrava aquele pai tã o rigoroso e a madrasta tã o ciumenta.

Por outro lado, nã o podia ficar com os Sleeman para sempre, sabia, por mais que protestasse, que Amelie nã o a deixaria cuidardo nenê, conforme ela pretendia, e já estava à procura de uma boa Ayah a quem outras inglesas pudessem recomendar. Diante dos protestos de Brucena dissera:

— É claro que você pode me ajudar a olhar o nenê. Quero que ele fique comigo tanto quanto possí vel. Ao mesmo tempo, nã o desejo aborrecer William e sei que por mais que ele fique contente com a crianç a, ainda assim há de querer ficar a só s comigo.

— E é nesses momentos que poderei cuidar do bebê — declarou Brucena, com firmeza.

— Sim, com a ajuda de uma Ayah — retrucou Amelie. — Nã o seja ridí cula, Brucena. Você é por demais jovem e atraente para se amarrar a uma crianç a. Devia mais é pensar nos homens e especialmente naquele que será seu futuro marido.

— Enquanto este modelo de virtudes nã o aparece, eu poderia me tornar ú til... — comentou Brucena, rindo.

Tinha certeza de que Amelie nã o permitiria que isso acontecesse. Uma vez que começ asse a confiar na Ayah estaria patente que nã o poderia mais abusar da hospitalidade do casal.

A alternativa era encorajar lorde Rawthorne, se bem que ele nã o precisasse de nada disso.

— Nã o adianta — murmurou Brucena. — Nã o consigo gostar dele e ningué m conseguirá me persuadir a agir de modo diverso!

Conseguia ouvir o zumbido dos pernilongos na escuridã o. Chamou as criadas para ajudá -la a despir-se e abrigar-se sob o mosquiteiro que lhe cobria a cama. Mal pousou a cabeç a no travesseiro, começ ou a dormir.

Nã o havia a menor dú vida de que lorde Rawthorne tinha feito todos os esforç os no sentido de distrair Brucena e ele fazia questã o de deixar patente que mais ningué m lhe importava.

Era seu rosto que ele olhava, enquanto os elefantes ajaezados com arreios de prata e trazendo howdahs igualmente de prata tomavam posiç ã o assemelhando-se a grandes monstros pré -histó ricos.

Dois esquadrõ es dos Lanceiros de Gwalior desfilaram e a multidã o alvoroç ada esperava pelo momento mais excitante da parada.

Havia no ar um cheiro de terra ú mida, pois o chã o fora molhado com a á gua de centenas de odres de pele de cabra, de modo que o pequeno grupo sentado sobre valiosos tapetes persas e abrigado à sombra dos pá ra-só is de seda nã o fosse incomodado pela poeira.

Ouviu-se o ruflar dos tambores, o som das trombetas e de repente surgiu um enorme elefante, muito maior que os outros, carregado de jó ias e transportando em suas costas um howdah dourado no qual estava sentado o jovem marajá.

Um olhar para aquele rosto autoritá rio e maldoso convenceu Brucena de que o primo William tinha razã o em tudo o que dissera a respeito dele.

O marajá desceu por uma pequena escada e todos lhe foram apresentados por lorde Rawthorne. Brucena ficou a imaginar se aquele povo todo que o aclamava realmente o apreciava na qualidade de governante escolhido pelas divindades.

O marajá veio para o meio deles, sentou-se em uma cadeira que se assemelhava a um trono e protegeu-se do sol nã o somente por meio de um pá ra-sol dourado, bem como por abanos feitos de plumas de pavã o.

Foi entã o que começ aram as festividades.

Diante deles desfilaram soldados, malabaristas, má gicos, domadores de serpentes e acrobatas.

— As danç arinas se exibirã o hoje à noite — disse lorde Rawthorne. — Elas sem dú vida divertirã o os outros homens, mas eu terei olhos somente para você.

— Fale-me a respeito dos encantadores de serpentes — solicitou Brucena, tentando desviar o assunto de si mesma.

— Você me encanta de um modo que mal consigo descrever — disse lorde Rawthorne. — Enfeitiç ou-me de tal maneira que jamais conseguirei escapar!

Por mais que tentasse, Brucena nã o conseguia que ele falasse de mais nada que nã o fosse ela mesma.

Quando terminaram as apresentaç õ es e eles estavam de volta ao palá cio ela pensou que tudo aquilo que acabavam de presenciar era fascinante, mas teria preferido que o primo William ou o major Huntley lhe explicassem do que se tratava. Em vez disso, teve de ficar ouvindo lorde Rawthorne transformando tudo o que ela dizia em elogios rasgados.

— Devo dizer que nosso anfitriã o nã o faz a menor questã o de esconder seus sentimentos, Brucena! — comentou William Sleeman, quando ficaram a só s. — Acho que como responsá vel por você deveria lhe perguntar se suas intenç õ es sã o honradas!

Estava caç oando com ela, mas Brucena mordeu a isca, ficando indignada.

— Nã o vai fazer nada disto, primo William! Faç o o que posso para desencorajar o lorde. Se quer saber a verdade, ele estragou completamente meu dia. Queria compreender o que estava acontecendo, mas ele só conseguia fazer elogios ridí culos, incluindo até mesmo minhas pestanas!

— Bem, elas sã o um tanto compridas! — comentou o primo.

Brucena bateu com os pé s no chã o, em um gesto de contrariedade, mas de repente percebeu que ele estava caç oando dela e começ ou a rir també m.

— Brucena está sendo bastante ridí cula! — disse Amelie. — Devia ficar encantada com o fato de que o melhor partido que jamais encontramos nesta parte do mundo esteja a seus pé s, mas em vez disto quer apenas enxotá -lo. Devia ter uma conversa sé ria com ela, William.

— Acho que isto se deve ao fato de Brucena ter em suas veias sangue da Cornualha. Isto torna a todos nó s pessoas idealistas. Havia decidido nã o me casar até o dia em que a encontrei, minha querida. Veja só o que aconteceu!

— Oh, William! Entã o eu era tudo aquilo que você procurava, durante todos os anos em que permaneceu solteiro? — perguntou Amelie, começ ando a falar francê s, o que sempre acontecia quando ficava comovida ou excitada.

— Já lhe disse com frequê ncia o que sentia — disse primo William, um tanto encabulado, pois Brucena estava ouvindo. — Direi novamente, mas nã o neste momento. Temos de nos aprontar para o almoç o, quando conheceremos todos os dignatá rios importantes de Gwalior. Trata-se de um bando de convencidos!

— Cuidado, William! — disse Amelie rapidamente. — Você sabe que neste lugar até mesmo as paredes tê m ouvidos!

No final da tarde, quando o calor diminuí a, Brucena, abrindo um guarda-sol, saiu do quarto e dirigiu-se para o jardim.

Estava ansiosa por evitar que lorde Rawthorne descobrisse para onde ela ia, pois tinha certeza de que ele insistiria em acompanhá -la e isto estragaria tudo.

Queria passear sozinha. Queria ver o que havia a seu redor, sem ter necessidade de falar a respeito daquilo, sem que tudo o que ela dissesse fosse transformado em algo pessoal.

Andando por entre as alamedas de enormes buganví lias conseguiu manter-se afastada da casa dos hó spedes.

O jardim era mesmo uma maravilha, repleto de flores e trepadeiras exuberantes, que se enrolavam em torno das á rvores, produzindo os mais incrí veis efeitos.

«O parque era realmente fantá stico e era uma pena», pensou Brucena, «que o cará ter das pessoas que viviam em Gwalior nã o estivesse em harmonia com aquilo que seus olhos viam».

O sí tio em que o palá cio se situava era tã o enorme que abrigava, como é comum na Í ndia, uma grande quantidade de pessoas que ali viviam. Todas elas, com certeza, serviam ao marajá de um modo ou de outro.

Havia criados em uniformes especiais que saí am de casas bem baixas e caminhavam em direç ã o ao palá cio e numerosos soldados a quem ela havia visto na parada e que agora acampavam em tendas em outra parte do parque.

Viu entã o crianç as brincando por entre as casas baixas, das quais vinha um cheiro de comida. Das chaminé s saí am rolos de fumaç a, brancos e espessos, e nã o havia no ar a menor brisa que os dissipasse. A maioria delas nã o eram tã o bonitas quanto as crianç as que vira em Saugar, sobretudo quanto aquele em quem ainda pensava e a quem ainda tentava encontrar.

Havia lá també m homens com enormes bigodes ou barbas, sentados sob as á rvores, entretidos em conversar.

Fizeram-na pensar nos homens a quem ela vira com o garotinho que chorava.

Eles també m usavam turbantes, dhotis brancos sobre as pantalonas e sandá lias com as pontas recurvadas.

— Essa descriç ã o poderia aplicar-se a milhõ es de homens em toda a Í ndia— disse para si mesma.

Vá rios homens levantaram os olhos no momento em que passou por eles, mas nã o pareciam especialmente interessados. Prosseguiu por entre as á rvores, passando por flores e arbustos e encontrando mais casas baixas, repletas de gente.

Sabia que tudo aquilo era muito comum, pois havia lido quea maior parte dos criados indianos, quando tinham a sorte detrabalhar para um marajá ou para algué m da Companhia dasÍ ndias Ocidentais, sustentavam talvez dez ou quinze parentes.

Onde quer que fossem, eram seguidos pela numerosa famí lia.

Havia dezenas de cã es vira-latas à procura de restos de comidae de vez em quando Brucena deparava com algum bode faminto, que lutava para achar capim no solo ressequido, que tanto necessitava de chuva.

" Devo voltar", pensou Brucena, " pois é hora de me trocar para o jantar. "

De repente, passou por um tufo de arbustos floridos e deu com umas seis crianç as brincando à sombra das á rvores.

Eram de vá rias idades e constatou tratar-se de meninos. Cada um parecia mais bonito do que o outro.

Teve a impressã o, sem poder dizer ao certo, de que pertenciam a diferentes castas.

Estavam brincando muito felizes, alguns com pequenas varas, outros com pedras.

Enquanto os contemplava, viu o menino que procurava, ou melhor, foi ele quem a viu.

Encontrava-se um pouco apartado dos demais, como se fosse tí mido e receasse aproximar-se.

Entã o, aqueles olhos enormes, que pareciam ocupar todo o rosto, puseram-se a brilhar e ele aproximou-se dela, como havia feito na manhã em que se conheceram.

Agora nã o trazia nenhuma flor, mas quando chegou perto dela enfiou a mã o no bolso e retirou o pequeno novelo de lã que ela lhe havia dado.

Ela agachou-se, de modo a ficar no mesmo ní vel do menino.

— Você ainda está com o novelo! — ela disse em urdu. — Estava à sua procura.

Ele sorriu para ela, dando sinais de que havia compreendido.

— Onde está sua mã e?

Por um momento ele pareceu surpreendido e quando ela repetiu a pergunta uma expressã o de dor aflorou em seu rosto e seus olhos encheram-se de lá grimas.

— Morreu — disse, levando a mã o ao pescoç o.

Brucena prendeu a respiraç ã o, pois sabia que acabava de descobrir o que queria saber.

Pensou rapidamente se havia algo mais que pudesse dizer ou que pudesse lhe dar e um instinto secreto lhe disse que aquilo poderia ser perigoso.

Nã o podia entretanto abandoná -lo, nã o podia dar-lhe as costas sabendo que ele a reconhecera e sentiu que ele confiava nela.

Como nã o tinha mais nada para lhe dar retirou um lenç o branco de seda que estava amarrado no cabo do guarda-sol e colocou-o em sua mã o. O garotinho ficou encantado.

— É para você!

— Para mim?

— Sim, é seu.

Ele nã o fazia questã o de esconder o quanto estava feliz, mas desta vez nã o saiu correndo, como tinha feito da outra vez, quando se conheceram. Simplesmente ficou onde estava, segurando o lenç o e o novelo de seda. Foi entã o que Brucena viu um homem caminhando por entre as á rvores, do lado oposto à quele em que as crianç as brincavam.

Era alto, tinha fartos bigodes e ao ver seu turbante e o dhoti branco Brucena percebeu que era um dos homens a quem ela tinha visto na estrada ao lado do menino.

Levantou-se e disse de propó sito em inglê s:

— Até logo.

Ela afastou-se, como se o menino estivesse por demais interessado em seu mais recente trofé u para perceber o que quer que fosse. Sentia claramente que o homem que caminhava em sua direç ã o nã o tirava os olhos dela.

Tinha a sensaç ã o desagradá vel de que se o olhasse, veria uma expressã o de suspeita estampada em seu rosto.

 



  

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