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CAPÍTULO IIIBrucena prendeu o fô lego. De repente, mil perguntas cruzavam-lhe o espí rito. Sabia muito bem que temia algo, mas sentiu que nã o devia mencionar o fato diante de Amelie. Esta ú ltima já dissera que estava assustada e Brucena já constatara, desde sua chegada a Saugar, que William Sleeman evitava falar dos thugs diante de sua mulher. Isto era devido nã o só ao fato de ela se encontrar grá vida mas també m porque, como a maioria dos ingleses, acreditava que as mulheres deviam ser protegidas contra tudo que fosse desagradá vel ou violento. Havia nele um cavalheirismo que ela sabia fazer parte de sua ancestralidade. Seu avô, que també m nascera na Cornualha, a exemplo dos antepassados de Sleeman, possuí a igualmente os mesmos princí pios. Ela portanto manteve em suspenso as suspeitas que lhe vinham à mente e ao mesmo tempo disse a si mesma que se entregava a um excesso de imaginaç ã o. O primo William dissera que apó s a ú ltima batida os thugs haviam abandonado a regiã o e no entanto os tumultos que ela presenciara à sua chegada, ocasionados pelo fato de que seis thugs deviam ser enforcados, mostrou-lhe que muita gente em Sauger simpatizava com eles ou entã o estavam por demais assustados para tomar qualquer outra atitude. Alguns momentos mais tarde cruzaram o remanescente do grupo que parecia ter alguma ligaç ã o com os dois homens distintos em cuja companhia se encontrava o garotinho. Havia alguns cavalos sobrecarregados de bagagem, conduzidospor homens de barba e turbante, todos bem vestidos e ostentando um ar de prosperidade. Nã o havia mulheres no grupo e Brucena ficou intrigada, querendo saber o que tinha acontecido com aquelas a quem vira pela manhã usando sá ris de cores tã o vivas, bem como com as crianç as que brincavam com o menino que lhe dera a flor. Nã o conseguiu controlar a voz que tremia e perguntou: — De onde vê m essas pessoas? — Houve uma grande feira em Saugar, hoje — respondeu William Sleman. — Agricultores vindos de toda a proví ncias trouxeram seus legumes e frutos para vender. Suas mulheres acompanharam-nos para comprar belos sá ris e mais jó ias para pendurar em seus narizes e em torno do pescoç o. Tal explicaç ã o nã o respondia à s perguntas que Brucena desejava formular em voz alta. Se havia tantos viajantes, nã o haveria també m thugs que os espreitavam? Thugs que, escondidos à sombra das á rvores, aproveitariam a primeira oportunidade a fim de cometer á gil e silenciosamente seus crimes terrí veis, adicionando tudo o que a ví tima possuí a aos bens pilhados de outras pessoas por eles estranguladas... — É impossí vel que isto aconteç a aqui, em plena luz do dia — disse para si mesma. O rosto do garotinho banhado em lá grimas preencheu seus pensamentos, excluindo tudo o mais. Prosseguiram e Brucena manteve-se em silê ncio, enquanto Amelie conversava banalidades. Nã o imaginava o que o primo William diria quando ela lhe participasse suas suspeitas e sentiu-se um tanto apreensiva, pois ele poderia zombar dela e dizer-lhe que esquecesse os thugs e tratasse de se divertir. Qualquer garota inglesa faria o mesmo em seu lugar. Sabia, poré m, que se sentiria traindo a crianç a que lhe dera a flor se nã o pedisse a seu primo para fazer uma investigaç ã o. Os homens e os cavalos nã o se distanciariam tanto que os sipaios montados nã o pudessem alcanç á -los. A carruagem chegou ao bangalô e, enquanto passavam por entre os canteiros floridos, Brucena notou o major Huntley à espera deles, no ú ltimo degrau da varanda. Assim que os cavalos pararam, ele veio apressadamente até a Porta da carruagem e disse: — Senhor, lorde Rawthorne me procurou, trazendo uma carta do residente de Gwalior. — E por que o sr. Cavendish haveria de lhe escrever, William? — perguntou Amelie antes que ele pudesse falar. — Tenho certeza de que se trata de notí cias desagradá veis. — Em relaç ã o a isto nã o há a menor dú vida — disse William Sleeman sorrindo. — Mas quem é lorde Rawthorne? — Pelo que soube, está viajando por toda a Í ndia e neste momento hospeda-se com o residente. É portador de cartas de apresentaç ã o dadas pelo governador-geral. — Devemos tratá -lo com atenç ã o — comentou o capitã o Sleeman. — Ele chegou um pouco tarde, pois sua viagem sofreu um atraso — prosseguiu Iain Huntley. — Em sua ausê ncia, sugeri que o sr. e a sra. Sleeman teriam muito prazer, se ele passasse a noite aqui. — Pois fez muito bem! — disse William Sleeman, em tom de aprovaç ã o. — Mandei sua escolta para o quartel. Ele e seus criados pessoais ficarã o hospedados em sua casa. William Sleeman fez um sinal com a cabeç a, em tom de aprovaç ã o, descendo da carruagem, enquanto o major Huntley ajudava Amelie a fazer o mesmo. Nã o teve a oportunidade de ajudar Brucena. Ela já havia descido antes que ele lhe estendesse a mã o e ela ficou hesitante durante alguns momentos, imaginando se devia transmitir-lhe suas suspeitas. Disse poré m a si mesma que ele, com toda certeza, nã o levaria em conta o que ela tivesse a lhe comunicar e voltaria a repetir que nã o deveria preocupar-se com os thugs.. Seguiu, portanto, Amelie até a sala de visitas, onde deparou com um homem alto e moreno, que aparentava uns trinta e seis anos e conversava com o primo William. — Sinto muito nã o estar presente quando o senhor chegou — disse o capitã o Sleeman, enquanto entrava na sala. — Nã o entendo por que o sr. Cavendish nã o me participou sua chegada, pois terí amos nos preparado para recebê -lo devidamente. — Nã o queria lhe causar nenhum incô modo — replicou lorde Rawthorne. — Pretendia chegar bem mais cedo e apó s conhecê -lo prosseguiria viagem até Bhopal, onde tenho alguns amigos. Quando cheguei já era um pouco tarde para ir mais adiante. — Sentimos um imenso prazer em tê -lo conosco. Permita agora que lhe apresente minha mulher. Amelie fez uma mesura enquanto lorde Rawthorne inclinava-se. — E esta é minha prima, recé m-chegada da Inglaterra. Srta. Brucena Naí rn. Lorde Rawthorne mal disfarç ou o espanto ao contemplar Brucena. «Era indubitá vel a admiraç ã o que se estampava em seu olhar enquanto ele a estudava, um tanto à maneira de um homem que apreciava uma bela montaria», pensou Brucena. Havia naquele homem algo que ela nã o gostava. Talvez a arrogâ ncia de sua postura e o fato de que nã o se importava absolutamente com o que estivessem pensando dele. — Com que entã o está fora da Inglaterra, assim como eu? Temos, portanto, algo em comum, srta. Nairn. O que pensa deste paí s estranho, selvagem e pouco comum? — Acho-o fascinante. — Eu també m tenho visto muitas coisas fascinantes por aqui — replicou lorde Rawthorne, com a clara intenç ã o de fazer daquilo um elogio à sua interlocutora. Mais tarde, naquela mesma noite, quando sentaram-se à mesa do jantar, para o qual o major Huntley tinha sido convidado, Brucena achou aquela cena por demais familiar. Com exceç ã o dos criados indianos poderiam estar jantando convencionalmente em qualquer paí s do mundo. A prima Amelie e ela usavam seus mais finos trajes de noite. O primo William em sua tú nica bordada a ouro e o major Huntley no uniforme vermelho e azul dos Lanceiros de Bengala tornavam a reuniã o muito colorida e també m muito formal. Lorde Rawthorne, em contraste, teria parecido um tanto desbotado se nã o tivesse decorado o peitilho engomado de sua camisa com um enorme botã o de esmeraldas e diamantes, que brilhava à luz das velas. Era uma jó ia tã o bela que Brucena nã o conseguia despregar os olhos dela. Como se tivesse percebido o fato, lorde Rawthorne disse: — Srta. Nairn, acho que está admirando minha ú ltima aquisiç ã o, desde que cheguei à Í ndia. Queria adquiri-lo do marajá de Gwalior, mas ele insistiu em presenteá -lo. Desde entã o, tenho feito muitas buscas, procurando algo com que possa retribuir à altura. William Sleeman ficou tenso enquanto seu hó spede falava. Disse, entã o, lentamente, como se estivesse escolhendo as palavras: — Parece-me, milorde, que deveria tomar as maiores precauç õ es ao aceitar presentes do jovem marajá. — O que quer dizer com isto? — Ele tem se tornado um tanto impertinente desde que teve idade suficiente para se ocupar pessoalmente de determinados assuntos. Quando, há algum tempo, falei a seu respeito com o governador-geral, ele deixou bem claro que deverí amos tomar muito cuidado com as pessoas que nos fazem presentes. O capitã o Sleeman se exprimia com tamanho tato que era impossí vel sentir-se ofendido com suas palavras. Lorde Rawthorne, no entanto, franziu o cenho e disse: — Entendo muito bem o que está querendo me dizer, Sleeman. Ao mesmo tempo, o residente britâ nico acha que houve uma sé rie de mexericos injustos relativos ao marajá, afirmando que os ingleses talvez o tenham tratado com injustiç a, em mais de uma oportunidade. Brucena sentiu que o primo William esforç ava-se para nã o dizer as palavras que lhe vinham aos lá bios. Teria muito a declarar a respeito do comportamento do jovem marajá, mas sabia que suas palavras seriam, sem a menor dú vida, transmitidas ao residente e isso poderia acarretar sé rias dificuldades. O velho marajá havia morrido há seis anos, deixando uma viú va, Baza Bae, mas nenhum herdeiro legí timo. Apó s muitas consultas, ela escolheu como herdeiro um parente de seu falecido esposo. O menino recebeu o tí tulo de marajá e cresceu na corte; mas logo revelou-se um pequeno demô nio, mal-humorado e de um temperamento insuportá vel. O Exé rcito de Gwalior sempre fora turbulento, rebelde, acostumado a tudo pilhar. Era uma ameaç a para o Estado e para a seguranç a de seus vizinhos. O prí ncipe encorajava suas aç õ es desavisadas e o residente britâ nico, por mais estranho que parecesse, deixava o jovem prí ncipe agir como bem lhe aprouvesse. O marajá e seus soldados mais rebeldes encorajavam os thugs e o residente britâ nico considerou um exagero o relató rio que o capitã o Sleeman fez de suas atividades. Disse para todos aqueles que queriam ouvir que tinha certeza de que muitos dos enforcamentos e prisõ es nã o passavam de uma precipitaç ã o das autoridades. Pior ainda: recusou-se a permitir que William Sleeman perseguisse ou capturasse qualquer thug no territó rio de Gwelior. A situaç ã o apresentava-se muito difí cil para o capitã o Sleeman e apesar de o governador-geral lhe ter delegado plena autoridade para perseguir os thugs e reprimi-los o mais que pudesse, a proximidade de Gwalior tornava sua tarefa mais á rdua. Dizia frequentemente: — A proví ncia é um abrigo seguro para os homens que persigo. Agora que soubera da origem da esmeralda que brilhava no peitilhode lorde Rawthorne, Brucena certificou-se de que ela nã o a atraí a mais, achando até mesmo que dela se desprendia um fulgorperverso. Já que o assunto tinha sido deixado de lado, William Sleeman voltou-se para falar com Iain Huntley e em um tom de voz que unicamente Brucena poderia ouvir, lorde Rawthorne disse: — As esmeraldas combinariam muito com a srta. Nairn. Gostaria de vê -las luzindo sobre sua pele tã o alva. Ela considerou aquele comentá rio um tanto impertinente e levantou o queixo em atitude de desafio, enquanto replicava com evidente frieza: — Que outras regiõ es da Í ndia pretende visitar, lorde Rawthorne? Ele percebeu muito bem por que ela havia mudado de assuntoe replicou com um brilho matreiro e insolente no olhar: — Ando por aí, sem direç ã o ou finalidades, srta. Nairn. Pretendo me divertir nos lugares para onde meus caprichos me impelirem. Brucena nã o respondeu e Amelie disse: — Precisa visitar Taj Mahal, lorde Rawthorne. É um dos edifí cios mais belos que vi em toda minha vida e meu marido é da mesma opiniã o. Meu pai sempre dizia que era uma das grandes maravilhas do mundo. — Perdoe-me — disse lorde Rawthorne — se perguntar o nome de seu pai. Acho um tanto surpreendente encontrar uma francesa no centro da Í ndia. — Meu pai pertence à antiga famí lia dos condes Blondin de Chalain — replicou Amelie — e ele, conde Auguste Blondin de Chalain, estabeleceu-se na lie de France, que os senhores denominam Mauritius. Enviou-me para a Í ndia, pois achava que aqui haveria maiores oportunidades de aumentar sua fortuna. Brucena percebeu que lorde Rawthorne nã o estava unicamente interessado no que Amelie lhe contava, como també m impressionado com o fato de que ela procedia de uma famí lia francesa nobre. Desprezava-o, pois sua atitude tornara-se um tanto mais respeitosa à medida que Amelie prosseguia em seu relato, contando-lhe que tinha apenas dezenove anos de idade quando veio para a Í ndia em 1828, a fim de ficar com uma famí lia inglesa em Jubbulpore. Foi lá que conheceu Willí am Sleeman e para grande aborrecimento de um grande nú mero de oficiais jovens da regiã o, a maior parte deles bons partidos, apaixonou-se perdidamente por aquele militar de quarenta anos e desposou-o. Nã o era de surpreender que lhe tivesse acontecido o mesmo em relaç ã o a ela, pois Amelie de Chalain era alta, tinha a pele muito alva e os cabelos castanho-escuros. Possuí a uma vivacidade natural, uma inteligê ncia alerta e um encanto que levava quase todos os homens a caí rem a seus pé s. Naquele momento, no entanto, ela nã o estava em suas melhores fases e era ó bvio, à medida que o jantar se desenrolava, o interesse de lorde Rawthorne por Brucena. Sentou-se a seu lado, quando os cavalheiros vieram ao encontro das senhoras e fez-lhe alguns elogios, que, se nã o a fizeram corar, levaram-na a encará -los como um tanto impertinentes. Tinha a sensaç ã o de que ele esperava que ela ficasse encantada com suas atenç õ es. O fato de achá -lo tã o pouco atraente deixou-a muito surpreendida, ao ouvir William Sleeman dizer para sua esposa: — Minha querida, tenho aqui uma carta do sr. Cavendish, comunicando que é imperioso nos vermos mais cedo ou mais tarde. Lorde Rawthorne concebeu uma idé ia e espero que você concorde com ela. — De que se trata? — perguntou Amelie. — Ele gostaria imensamente que fô ssemos assistir algumas competiç õ es esportivas organizadas para que ele se divirta um pouco, durante sua permanê ncia em Gwalior. Acho que você e Brucena, é claro, haveriam de gostar bastante se fô ssemos todos para Gwalior e ficá ssemos com lorde Rawthorne na casa que, segundo ele, foi colocada à sua inteira disposiç ã o. A sra. Sleeman ficou por demais surpreendida ao ouvir a sugestã o de seu marido, sabendo o que ele pensava de Gwalior e sobretudo do comportamento do residente britâ nico. Era poré m suficientemente perspicaz para compreender que ele deveria ter razõ es secretas para concordar com o convite de lorde Rawthorne e fazendo uma ligeira pausa respondeu com um sorriso: — Acho que será muito interessante e tenho certeza de queBrucena apreciará demais, pois ela tem se aborrecido um bocado desde que veio ficar conosco. — Pois precisamos modificar tudo isto — comentou lorde Rawthorne. — Falarei com o marajá, que parece ser um jovem muito conciliador, e providenciarei para que possamos assistir à s danç as regionais, alé m de tantas outras coisas que, na corte de Gwalior, sã o executadas com o maior requinte. Sabendo que se esperava aquele comentá rio de sua parte, Brucena declarou: — Tudo isto me parece muito interessante. — E será, palavra de honra. Empregando novamente um tom que pretendia fosse ouvido unicamente por ela, lorde Rawthorne acrescentou: — Farei tudo o que estiver a meu alcance para tornar esta breve temporada especialmente divertida para a senhorita. Nã o se surpreendeu, quando chegou a hora da despedida, que lorde Rawthorne segurasse sua mã o mais do que o necessá rio e a encarasse de um modo que ela considerou particularmente constrangedor, pois teve certeza que o major Huntley nã o deixou de notar. Somente quando lorde Rawthorne retirou-se para seu aposento, escoltado pelo major Huntley, e Brucena viu-se a só s com seus primos, perguntou em um tom de voz que era quase um sussurro: — Por que quer ir até Gwalior, primo William? Achei que nã o sentia simpatia pelo marajá! — Fiquei sem saber o que pensar — declarou Amelie, antes que seu marido respondesse. — Por um momento, achei que você devia estar brincando. — Há algum tempo ando desejando esta oportunidade — replicou o capitã o Sleeman. — Sempre que estive em Gwalior, foi em cará ter oficial, devido à minha posiç ã o como superintendente para a Supressã o dos thugs. Se for lá como convidado de um nobre inglê s, posso iludir vá rias pessoas, que talvez nesse momento abandonarã o certas cautelas... — Desconfiava de que era por isto — disse sua mulher. — Mas, William, nã o haverá perigo? Suponha que... — Se isto vai deixá -la preocupada — interrompeu-a o capitã o Sleeman -, ficaremos em casa. — Nã o, claro que nã o. Nã o sou tã o tola assim... É que temos ouvido relatos terrí veis sobre o comportamento do marajá, mesmoele sendo tã o jovem e na minha opiniã o o modo como ele trata Baza Baé, sua benfeitora, desafia qualquer discriç ã o. — Como é que ele pode ser tã o ingrato, depois de ter sido escolhido por ela? — indagou Brucena. — É um jovem horrí vel. Uma de minhas amigas me contou outro dia o quanto ele é grosseiro em relaç ã o à quela pobre mulher. Ela tem medo, pois sua vida está inteiramente em suas mã os. William Sleeman apertou os lá bios e Brucena percebeu que ele, naquele momento, pensava que o residente britâ nico devia tomar uma atitude firme em relaç ã o à quele assunto. Nã o viu poré m nenhum sentido em declarar o que sentia e assim sendo desejou a todos boa-noite, recolhendo-se a seu quarto. Brucena levantou-se cedo, como sempre fazia. Impelida por um impulso irresistí vel e cheia de esperanç a, pois sonhara a noite inteira com o garotinho da vé spera, foi até a cerca de hibiscos, onde o tinha encontrado no dia anterior. Olhou atravé s da cerca, imaginando se os viajantes que haviam acampado lá vinte e quatro horas antes ainda se encontrariam no local. Já nã o havia mais ningué m e sua presenç a se fazia notar unicamente pelas marcas deixadas no terreno arenoso, onde as crianç as tinham brincado. Voltou-se, com o coraç ã o cheio de pesar, achando que mesmo que comunicasse ao primo William seus temores em relaç ã o ao menino, seria tarde demais para salvá -lo. O grupo de thugs, caso o fossem, havia desaparecido e poderia encontrar-se em qualquer lugar da proví ncia ou até mesmo a caminho de Gwalior, onde estaria a salvo. — Eu devia ter comunicado imediatamente — disse para si mesma. No entanto fora difí cil e até mesmo impossí vel, pois quandochegaram em casa depararam com lorde Rawthorne. Logo em seguida, a noite caiu, dificultando ainda mais a localizaç ã o do grupo, pois muita gente estava abandonando a cidade, depois que a feira terminara. Estava para voltar para o bangalô quando viu um homem alto caminhando atravé s do jardim florido. Percebeu que se tratava de lorde Rawthorne. — Um criado disse-me que eu a encontraria aqui. Quem sabeconseguiria convencê -la a andar a cavalo em minha companhia, agora de manhã? — Achei que partirí amos cedo — replicou Brucena. — Nã o sinto pressa, agora que a encontrei. Brucena olhou em outra direç ã o e ele exclamou: — Você é tã o bela! Imagino que muitos homens já tenham dito o mesmo. Acho-a a criatura mais bela que vi desde que deixei a Inglaterra. — Acho que o senhor nã o prestou muita atenç ã o na Í ndia e em seu povo. Apesar de conhecê -la muito pouco, considero-a o lugar mais lindo que vi até hoje e as mulheres indianas sã o verdadeiras princesas. — Pois é isto o que você é — prosseguiu lorde Rawthorne em voz baixa -, uma princesa que eu vi unicamente em sonhos. Mas agora vejo que é real e a encontrei. — O senhor nã o deveria dirigir-se a mim neste tom — declarou Brucena, tomando a alameda que levava ao bangalô. — E quem poderá me impedir? Quando me conhecer melhor, saberá que sempre digo o que penso. — Talvez determinados pensamentos nã o devessem ser formulados. Ele riu. — Que bobagem! Todas as mulheres gostam de ser elogiadas. Estou apenas dizendo a verdade e portanto tenho certeza de que aquilo que declaro é muito mais aceitá vel. «Ele era tã o presunç oso», pensou Brucena, que ela desejou ser suficientemente espirituosa e esperta para fazê -lo parecer um tolo. Nã o conseguia, poré m, encontrar as palavras apropriadas e pô s-se a andar rapidamente. Sentia-se incapaz de lidar com um homem que nã o perdia tempo com preliminares e a cortejava abertamente, se é que se tratava disto. Como se percebesse o que ela estava pensando, lorde Rawthorne parou subitamente e segurou-a pelo pulso, impedindo-a de prosseguir. — Olhe para mim — ordenou. Ela ficou tã o surpreendida com sua atitude que o obedeceu. — Pensei em você a noite inteira. Acho que me enfeitiç ou! Acho-a sedutora, irresistí vel! Ele se exprimia com surpreendente violê ncia e Brucena teria se afastado, se ele nã o a dominasse. — Sinto muito, lorde Rawthorne — ela declarou, esperandotransmitir a mesma frieza. — Sou suficientemente escocesa para nã o contrair amizades precipitadas. Prefiro conhecer as pessoas aos poucos. — Você sabe muito bem que o que lhe ofereç o nã o é amizade — retrucou lorde Rawthorne. — Se lhe agradar, obedecerei as regras de seu jogo durante algum tempo. Há algo em você que enlouquece um homem o que, acrescentado a este clima, é estonteante... — Por favor, permita que eu volte para casa. Debateu-se a fim de que a soltasse, mas ele resistiu e ela, assustada, teve a sensaç ã o de que ele passaria o outro braç o em torno dela. Entã o, para seu grande alí vio, percebeu que algué m caminhava em sua direç ã o e somente quando se viu livre notou que era o major Huntley. Voltou-se para encará -lo e o major disse em um tom de voz que, para seu desapontamento transmitia uma leve nota de desprezo: — Sua prima está à sua procura, srta. Nairn. Ela está tomando o café da manhã. — Obrigado, major Huntley. Encarou-o e notou em seu olhar uma expressã o que a deixou encolerizada. Iain obviamente a condenava e desprezava e Brucena disse a si mesma que ele em absoluto tinha o direito de encará -la daquele jeito ou pensar que ela deveria ser censurada devido à s circunstâ ncias em que a encontrara. Estava tã o encolerizada que escapou da companhia dos dois homens, correndo em direç ã o à casa e esperando que imaginassem que seu gesto se prendia ao fato de que ela nã o queria deixar a prima à sua espera. Sabia, no entanto, que estava querendo evitar uma situaç ã o constrangedora. Nã o se sentiu mais tranquila ao descobrir que sua prima nã o se encontrava tomando o café da manhã e nem tinha mandado chamá -la. Lorde Rawthorne permaneceu lá o dia inteiro e apesar de Brucena se ver obrigada a conversar com ele durante as refeiç õ es, conseguiu manter-se à distâ ncia em outras oportunidades. Sabia que nã o tinha o menor desejo de entrar novamente em contato com ele e disse para Amelie: — Por que vamos a Gwalior? Sinto-me tã o feliz aqui e pelo que ouvi dizer trata-se de um lugar horrí vel. — Pois acho que você vai gostar. Nã o tem por que se preocuparcom os problemas e dificuldades de William. Se formos acreditar no que diz o lorde, lá haverá muitos esportes e apresentaç õ es de danç as regionais. Acho que você se divertirá imensamente. — Imagino que sim — replicou Brucena, com certa relutâ ncia. — Mas é claro que sim! O primeiro festival que presenciei em Jubbulpore foi a experiê ncia mais fantá stica que até hoje vivi. Era belí ssimo e todo mundo usava jó ias fantá sticas, até mesmo os elefantes! Riu e acrescentou: — Minhas duas fieiras de pé rolas pareciam bem insignificantes quando comparadas com as do marajá, que possui dezenas delas, bem como colares de tudo quanto é pedra preciosa. — Já li muitas histó rias relativas a jó ias indianas, mas algumas delas trazem má sorte e foi o que senti na noite passada, ao contemplar a esmeralda de lorde Rawthorne. Enquanto falava, cogitava se tudo aquilo era de fato verdade. Era talvez porque nã o gostava dele que imaginava que sua esmeralda fosse portadora de infortú nios. Daí disse a si mesma que as jó ias possuí am na verdade estranhos poderes. Tinha certeza que jamais haveria de querer possuir a esmeralda que lorde Hawthorne usava ou quaisquer jó ias que tivessem pertencido um dia ao perverso marajá. — Quaisquer que sejam seus sentimentos, quando estivermos em Gwalior, mesmo que fiquemos chocados diante daquilo que veremos ou ofendidas com o que ouvirmos, devemos esconder nossas reaç õ es por debaixo de uma camada de polidez — comentou Amelie. Sorriu e acrescentou: — A ú nica coisa que desejo fazer é ajudar William. Você nã o tem idé ia de como ele se dedicou de corpo e alma à sua tarefa de reprimir os thugs e até agora tem sido tã o bem-sucedido que todo mundo está maravilhado com seus triunfos. — Nã o tenho a menor dú vida e estou certa de que ele acabará recebendo um tí tulo de nobreza por ter morto o dragã o. Você será chamada de milady e usará uma belí ssima tiara, quando voltar para a Inglaterra. Amelie riu. Brucena sentia que no fundo daquele coraç ã ozinho sensí vel queimava a ambiç ã o de que um dia seu marido fosse amplamente recompensado por sua dedicaç ã o. Estava decidida a ajudá -lo no que pudesse, até ele atingir plenamente seus objetivos. Foi com grande alí vio que Brucena ficou sabendo que lorde Rawthorne pretendia partir logo depois do almoç o, a fim de empreender a longa viagem de volta a Gwalior. — Nã o há a menor pressa — ele disse, quando William Sleeman sugeriu que ele deveria partir antes do almoç o. — Sinto-me muito à vontade viajando a cavalo e por isso recusei uma carruagem que me transportasse. — Mas mesmo tendo cavalos à sua disposiç ã o nã o é aconselhá vel viajar no escuro — preveniu o capitã o Sleeman. Lorde Rawthorne riu com certa altivez. — Ainda está preocupado com os thugs, capitã o? É muito pouco prová vel que eles passem um lenç o amarelo em torno de minha garganta. — É uma medida de sensatez estar previnido — comentou William Sleeman com muita calma. — Quanto a isto, nã o se preocupe! Se eu fosse lhe dar ouvidos, deveria suspeitar que por detrá s de cada á rvore oculta-se um thug à minha espera! Riu com estardalhaç o e Brucena desejou ter algo à mã o para poder jogar em cima dele. William Sleeman, entretanto, nã o deixava transparecer a menor perturbaç ã o. — Dentro de trê s semanas iremos ao encontro de Sua Senhoria. — Mudei de idé ia. Nã o posso esperar tanto tempo. Quando voltar, hoje à noite, começ arei a executar todos os preparativos no sentido de recebê -los. Conto com a companhia de você s dentro de oito dias. Vou contar com ansiedade todas as horas até que cheguem! Falava com William Sleeman, mas olhava para Brucena, que se sentia furiosa consigo mesma pois percebia que começ ava a corar. Ele estava fazendo demonstraç õ es por demais evidentes do que sentia por ela. O primo William, pelo visto, nã o percebia nada, mas isso nã o se dava com o major Huntley. A fim de disfarç ar seus sentimentos foi até a varanda e lá ficou a contemplar as flores do jardim. Estava muito quente mas ela, para sua grande surpresa, constatou que gostava do calor e nã o o achava opressivo, a exemplo do que acontecia com a maior parte dos ingleses. O inverno aproximava-se e agora era possí vel andar a pé até mesmo ao meio-dia e logo depois do almoç o. Em outras é pocas doano os ingleses costumavam levantar muito cedo e fazer a sesta apó s o almoç o, a exemplo dos indianos. De onde se encontrava, via formas que se assemelhavam a trouxas, escondidas por entre os arbustos e ao pé das á rvores, mas sabia que eram os jardineiros tirando uma soneca. Aquilo duraria pelo menos umas duas horas e sabia que os demais criados faziam o mesmo, em outros lugares do bangalô. Ouviu passos que se aproximavam e ao voltar-se deparou com lorde Rawthorne que caminhava em sua direç ã o. — Vim lhe dizer adeus, mas na verdade trata-se de um simples até logo. — Adeus, milorde. — Você sabe o quanto gostaria de revê -la — disse lorde Rawthorne, tomando-lhe a mã o. — Tenho muito a lhe dizer e espero que me diga muitas coisas. Lá em Gwalior, tudo será mais fá cil. Tomarei providê ncias neste sentido! Brucena esperava que aquilo nã o passasse de uma frase, mas evitou responder-lhe. Ele olhou-a durante um bom momento e antes que ela pudesse impedi-lo levou a mã o dela a seus lá bios. O contato daquela boca sobre sua pele a fez estremecer, por alguma razã o misteriosa que ela nã o conseguiu explicar para si mesma. Foi com grande alí vio que ouviu os passos de seu primo e entã o viu-se livre daquela solicitaç ã o inoportuna. A medida que lorde Rawthorne afastava-se com os soldados da cavalaria de Gwalior em seu encalç o, ela sentiu um desafogo impossí vel de ser exprimido atravé s de palavras. — Será que lorde Rawthorne gosta realmente do marajá e de tudo aquilo que encontrou em Gwalior? — ouviu o major Huntley perguntar. — Ele deve ter lá suas razõ es — retrucou William Sleeman. — No que me diz respeito, ele me proporcionou uma oportunidade pela qual tenho esperado há algum tempo. Nã o me sinto preparado Para questioná -lo. — Nã o, claro que nã o — concordou Iain Huntley. — Ao mesmo tempo, eu o acho insuportá vel. — Eu també m. — Era o que Brucena tinha vontade de dizer, entã o lembrou-se da expressã o de suspeita que havia detectado no olhar do major Huntley e, muito irada, sentiu que nã o estaria disposta a dar maiores explicaç õ es. — Deixe que ele pense o que quiser — falou com seus botõ es. — Ele, à sua maneira, é quase tã o desagradá vel quanto lorde Rawthorne. Afastou-se em direç ã o à porta da sala. — Onde é que você vai? — perguntou o primo William. — Preparar meus vestidos mais Belos, a fim de deslumbrar Gwalior, e, é claro, o encantador lorde Rawthorne! Ela se exprimia com grande sarcasmo, mas agradou-lhe perceber um lampejo de raiva no olhar do major Huntley e notar que ele franzia o cenho. Será que ele imaginava realmente que ela estava enamorada daquele homem ridí culo e presunç oso? Nesse caso, como era possí vel ele ser tã o bobo? Era preciso arrumar muitas malas e as criadas do bangalô passavam a ferro os vestidos de Amelie e de Brucena. Nem sequer por um momento Brucena lamentou todo o dinheiro que havia gasto com seu guarda-roupa. Tinha lido o suficiente a respeito da Í ndia, antes de partir da Inglaterra, para saber que devido ao calor era necessá rio mudar frequentemente de roupa. Ficou contente por ter saias em quantidade suficiente. Dariam pelo menos para os pró ximos meses. Sentiu-se assim mesmo muito comovida e extremamente grata quando Amelie deu-lhe algumas roupas suas, que já nã o podia mais usar. — Você há de querê -las de volta — protestou Brucena. — Nã o posso aceitá -las. — Pois vou lhe contar um segredo — disse Amelie, sorrindo. — Meu pai gosta de me mimar. Atravé s de mim, conseguiu ganhar muito dinheiro. Nessa histó ria toda, William passou a gozar de um grande prestí gio. Brucena ficou curiosa e ela explicou: — A razã o pela qual vim para a Í ndiaé que meu pai queria que eu fizesse uma espé cie de reconhecimento do paí s e lhe comunicasse o que achava da cana-de-aç ú car que um certo capitã o William Sleeman havia importado do Taiti. Deu uma risada. — O pobre William nã o sabia que a melhor cana-de-aç ú car que existe vem de Mauritius. Tive um trabalhã o, tentando convencê -lo que nossa cana-de-aç ú car era muito superior à dele. Pediu-me que lhe arranjasse algumas amostras e meu pai enviou-lhe sementes. Ela notou o interesse de Brucena e prosseguiu: — Nem preciso lhe contar o resto da histó ria! A cana-de-aç ú car de Mauritius foi adiante, William foi elogiado pelo governo, por tudo aquilo que tinha feito em prol da agricultura e papai, graç as a isso, ganhou muito dinheiro! — Que histó ria extraordiná ria! E o mais fantá stico é que ela é verdadeira! — exclamou Brucena, entusiasmada. — E nã o foi somente a cana-de-aç ú car que o interessou — disse Amelie, exprimindo-se com ternura. — A partir do momento em que o vi, com aqueles incrí veis olhos azuis, soube que era o homem que estava procurando durante toda a vida. — Você realmente se apaixonou por William no momento em que o viu? — De iní cio, nã o — reconheceu Amelie com toda sinceridade. — Depois que conversamos e compreendi o quanto ele era diferente de todos aqueles jovens que só sabiam me lisonjear e queriam apenas danç ar, certifiquei-me de que ele era o ú nico homem a quem gostaria de desposar. — Ele era muito mais velho do que você. — Sim, eu tinha dezenove anos e ele era um solteirã o inveterado! O amor, poré m, nada tem a ver com a idade. O amor é irresistí vel e quando você encontrá -lo, querida, compreenderá o que quero dizer. Brucena suspirou ligeiramente. — Espero que sim, mas algumas vezes sinto que jamais me apaixonarei. — Nã o é verdade. Subitamente seu coraç ã o virará de ponta para cima, o ar ficará cheio de mú sica e quando você encontrar o homem que antes apenas fazia parte de seus sonhos, o mundo nunca mais voltará a ser o mesmo. — Espero ter tanta sorte quanto você. O tom com que Brucena se exprimia nã o denotava muito otimismo. Ao falar, tinha a sensaç ã o de que seu coraç ã o era um tanto diferente do de prima Amelie, mais prá tico e mais terra a terra. Os franceses encontravam o romance onde quer que mirassem, mas ela era feita de um estofo mais rijo. «Gostaria de ser diferente», pensou Brucena. «Gostaria de me apaixonar. Quero me casar e ser tã o feliz quanto Amelie é como o Primo William». Entã o pensou em lorde Rawthorne e estremeceu. Se aquele era o tipo de homem que ia pedir-lhe para desposá -la, preferia ficar solteira para o resto da vida! Disse a si mesma que quando chegasse a Gwalior teria de tomar muito cuidado... um extremo cuidado para nã o ficar a só s com ele. A ú nica coisa que queria evitar acima de tudo era sentir novamente o toque de suas mã os. Ela a havia lavado inú meras vezes, depois que ele a beijou e mesmo assim, para seu grande aborrecimento, conseguia sentir aqueles lá bios sobre sua pele, quentes, possessivos, plenos de solicitude. Ao ir para a cama, naquela noite, Brucena pô s-se a contemplar a escuridã o. As estrelas brilhavam no Armamento e sentia-se vindo lá de fora o cheiro das flores e da madeira que queimava. Era uma noite feita para o romance, para os murmú rios dos amantes, para canç õ es entoadas apaixonadamente à beira do lago, para as carí cias, para lá bios que se encontravam. No entanto Brucena nã o pensava no amor, mas no garotinho, naquela crianç a com os olhos marejados de lá grimas e que segurava na mã o um novelo de fios de seda pura. Onde se encontraria naquele momento? Para onde o teriam levado? Estaria sendo iniciado no terrí vel culto de Kali, a deusa da escuridã o? Sentiu subitamente como se o terror que emanava daqueles assassinos se apoderasse de todo o seu ser e ela nã o conseguisse desvencilhar-se dele. Uma coisa era ler a respeito dos thugs e até mesmo pensar neles, mas outra coisa era sentir que eles rastejavam na escuridã o, gozando com o assassinato, assim como um inglê s se entregaria ao prazer de partir para uma caç ada. A ú nica diferenç a era que eles haviam doado sua vida para aquela religiã o perversa e assassina. Pareceu subitamente a Brucena que o pró prio anonimato daquilo tudo era assustador, pois as pessoas nã o tinham a menor idé ia de onde encontrariam um thug e nã o dispunham de meios para identificá -lo. Eles se encontravam nas trevas, à espera, desejando que sua sede de sangue fosse satisfeita. Seu ú nico propó sito era matar e continuar matando secretamente, quase sempre sem temer serem identificados ou capturados. — Como pode algué m como o primo William vencer, ele quefoi o primeiro a revelar todo o horror dos thugs e que continua a combatê -los quase sozinho? Quaisquer que fossem as circunstâ ncias, ele empregava toda sua forç a contra algo que existia há sé culos e que estava profundamente entranhado em dezenas de geraç õ es de thugs. — É inú til! Trata-se de uma causa sem a menor esperanç a! — disse Brucena para si mesma, desesperanç ada. Entã o, viu novamente o rosto do garotinho, banhado de lá grimas, e o primo William com seus olhos azuis chispando com o zelo de um visioná rio, jurando que haveria de liquidar aquela prá tica abominá vel e de uma vez por todas!
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