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Capítulo 6



 

Do mirante havia uma vista espetacular do vale do Strathcraig e das montanhas. Rodeado por um espesso bosque, o castelo parecia dali um palá cio de conto de fadas. Abaixo, no vale, via-se o lago em forma de lá grima.

O silê ncio que abraç ava Kirsten se viu interrompido pelo ruí do do motor de um carro que chegava.

Alguns minutos depois, efetivamente, viu chegar a limusine de Shahir.

― Suponho que estará se perguntando por que queria ver você ― disse ao entrar no carro.

― Sei perfeitamente o que aconteceu esta tarde ― contradisse-a Shahir olhando-a de maneira intimidadora.

Por um momento, Kirsten teve a sensaç ã o de que o que tinham compartilhado aquele dia jamais tinha acontecido.

― Eu nã o roubei nada ― defendeu-se.

― Jamais justificarei um roubo, mas, em suas circunstâ ncias, entendo por que o tem feito.

― Eu nã o roubei nada! ― insistiu Kirsten.

― Kirsten... Eu mesmo vi como tentava roubar uma jó ia de lady Pamela na primeira vez.

― Como diz? ― exclamou Kirsten estupefata.

― Recordo que tinha desaparecido um broche misteriosamente e que nã o aparecia apesar de que Pamela o tinha procurado vá rias vezes. De repente, você o encontrou como se nada tivesse acontecido. Eu acredito que o que se passou é que te assustou porque se deu conta de que tinha desaparecido e voltou a pô -lo em seu lugar.

― Está me dizendo que acredita que quando encontrei o broche estava mentindo? ― perguntou Kirsten consternada.

― Naquele momento, nem me passou pela cabeç a, mas eu nã o acredito nas coincidê ncias e vou ser sincero: quando me inteirei que o brinco de diamantes estava em seu armá rio, lembrei-me do broche. Como você compreenderá, parece-me impossí vel aceitar que lhe tenham acusado falsamente de roubo.

Aquilo fez que Kirsten se sentisse como se ele lhe tivesse dado um murro na boca do estô mago, enjoada e com ná useas porque ela, de algum jeito, tinha estado segura de que Shahir saberia ver a verdade.

Agora, dava-se conta de que confiar nele tinha sido uma completa ingenuidade de sua parte.

― De verdade acha que sou uma ladra?

― Saiba que ela nã o a denunciou à polí cia pela situaç ã o pessoal em que se encontra ― respondeu Shahir com frieza. ― Quer ir embora de casa e para isso necessita de dinheiro. Sem ir mais longe hoje mesmo me disse que tinha intenç ã o de ir embora do Strathcraig.

― Sim, é verdade, mas lhe asseguro que jamais me passaria pela cabeç a roubar uma jó ia para financiar minha fuga ― defendeu-se Kirsten.

Doí a-lhe a cabeç a e tinha uma imensa vontade de gritar e de chorar de frustraç ã o, de medo e de dor, sentia-se horrivelmente sozinha.

Nã o tinha feito nada errado, mas todo mundo estava convencido de que era uma ladra e a face arroxeada nã o faziam mais que reforç ar essa teoria porque justificava porque queria ir embora de sua casa fosse como fosse.

― Tenho intenç ã o de lhe dar o dinheiro que necessita para sair de sua casa ― comentou Shahir.

― Nã o, obrigada. Jamais aceitaria dinheiro de você! ― respondeu Kirsten olhando-o furiosa.

― Quero ajudá -la. Entendo seu desespero.

Kirsten nã o podia suportar mais aquela situaç ã o e tentou abrir a porta, mas nã o pô de porque estava trancada.

― É por sua seguranç a. O que te disse pode ser que nã o te faç a muita graç a, mas nã o sou seu inimigo ― murmurou Shahir.

― Como nã o é? Eu confiava em você, tinha fé em você. Agora me pergunto por que. Nã o sei como demô nios pude chegar a acreditar que de algum jeito você saberia ver que eu jamais roubaria nada! E agora me encontro com que me acusa nã o somente de ter roubado o diamante, mas també m o broche. Deixe-me sair do carro!

― Tranqü ilize-se e nã o diga tolices.

― Nã o estou dizendo tolices! ― gritou Kirsten. ― Nã o sou uma ladra e nã o penso aceitar sua compaixã o. Suponho que quer me fazer desaparecer porque se deitou comigo. Asseguro-o que vou embora de Strathcraig, mas o farei a meu ritmo e com meu dinheiro. Nã o necessito de você para nada.

― Se controle ― disse Shahir com frieza.

Kirsten tomou ar vá rias vezes, dando-se conta de que, na realidade, nã o queria controlar-se absolutamente porque, se sua raiva diminuí sse, sua forç a diminuiria també m e entã o, embora odiasse Shahir com todo seu coraç ã o, corria o risco de mostrar a dor que lhe tinha produzido que tomasse por uma ladra.

― Acredite ou nã o, importa-me o que te aconteç a ― insistiu Shahir. ― Se nã o fosse assim, nã o teria pedido que se casasse comigo.

― Nã o é verdade, nã o se importa absolutamente! ― exclamou Kirsten.

― Quero ter a certeza de que estará a salvo e em sua casa nã o acredito que vá ser assim. A decisã o é sua ― disse Shahir lhe deixando um envelope ao lado.

― É ó timo ter muito dinheiro e poder ir dando de presente por aí, verdade?

― Está disposta a denunciar seu pai por agressã o?

― Nã o ― respondeu Kirsten com veemê ncia.

― Entã o, nã o há maneira de se proteger dele. Tem algum parente que possa tentar fazê -lo entrar em razã o ou com o quem possa ir viver?

Kirsten negou com a cabeç a em silê ncio.

― Tenho um irmã o, Daniel, mas ele brigou com meu pai faz cinco anos, foi e nã o sei onde está. Depois, nã o tornou a entrar em contato conosco.

― Dava-se bem com ele?

― Sim, quando é ramos crianç as nos dá vamos muito bem.

― Talvez pudé ssemos encontrá -lo, mas vamos necessitar de tempo. Parece-me que a ú nica coisa que pode fazer agora mesmo é ir embora de Strathcraig e eu estou lhe oferecendo o apoio que necessita para fazê -lo.

― Que apoio? Refere-se ao dinheiro? Decepcionou-me ― respondeu Kirsten vendo satisfeita como Shahir apertava a mandí bula ante sua condenaç ã o.

― Dá -me igual o que acha. Estou preocupado seriamente com você. Se for daqui, quero que me diga aonde vai.

― Por que eu iria lhe dizer aonde vou se nã o acredita absolutamente em nada do que eu digo? ― espetou-lhe Kirsten. ― Estou dizendo a verdade, eu nã o roubei nada, nã o sou uma ladra. E repito que nã o quero nem necessito seu dinheiro. Já me arrumarei sozinha. Muito obrigada. Agora, se nã o se importar, eu gostaria de descer do carro.

Kirsten necessitava desesperadamente de dinheiro, mas nã o estava disposta sob nenhuma circunstâ ncia a aceitar o dinheiro de Shahir.

Assim que pô s os pé s no chã o, correu colina abaixo sem olhar para trá s, dizendo-se que nã o devia perder o tempo recordando o que acabava de acontecer, pois seria um desgaste mental desnecessá rio.

Como tinha podido ser tã o ingê nua para acreditar que seu prí ncipe ia vir em seu resgate como em um conto de fadas?

De repente, o mundo desabou deixando Kirsten em um lugar lú gubre e incerto e a ferida que Shahir lhe tinha infligido era o que mais lhe doí a de tudo.

Kirsten estava consciente de que nã o queria ficar em sua casa, assim decidiu colocar seus pertences em uma pequena mala e ir para a casa de Jeanie com o Squeak porque nã o queria deixar o velho cã o para trá s por medo de que seu pai a castigasse atravé s dele.

Kirsten deixou a bandeja cheia de pratos sobre a mesa da cozinha.

― Nã o precisa fazer isso ― disse Donald com amabilidade. ― Você se ocupe de cobrar, nã o do trabalho duro.

Kirsten assentiu e esperou que seu chefe se fosse para massagear as costas, que a estavam matando de dor.

Na hora do jantar sempre havia um montã o de gente e o resto das garç onetes nã o davam conta, assim se tornava impossí vel ficar sentada junto à caixa registradora sem dar uma mã o a suas companheiras.

Fazia já mais de sete meses que tinha saí do de casa deixando detrá s de si somente um bilhete.

Donald era o irmã o de Jeanie e ele e sua mulher, Elspeth, deram-se muito bem com ela e a tinham ajudado muito.

O fim de semana seguinte ao que Kirsten saiu de casa, Donald e Elspeth se apresentaram ali para recolher suas coisas e a tinham levado a Londres, onde lhe tinham alugado um quarto em sua pró pria casa e Donald lhe tinha dado trabalho como garç onete na sua cafeteria.

No princí pio, havia se sentido muito perdida na cidade e o ruí do e a quantidade de gente a tinham esmagado. Freqü entemente, sentia falta da natureza, das montanhas, da paz e do silê ncio do vale. Isso a tinha empurrado a explorar os parques londrinos acompanhada por Squeak.

Uma das primeiras coisas que tinha feito alé m de trabalhar tinha sido informar-se sobre diversos cursos e logo tinha decidido que queria formar-se como professora de mú sica.

Para começ ar, estava indo a aula duas vezes por semana porque, apesar de que seus conhecimentos musicais eram suficientes, tinha que passar um exame de outras disciplinas antes de poder colocar-se como professora.

A idé ia de passar vá rios anos estudando e vivendo com pouco dinheiro teria deprimido a outra pessoa, mas a enchia de orgulho porque tinha tido a coragem de tentar e de tirar da vida muito mais do que seu pai lhe jamais teria permitido ter.

O futuro lhe desejava muito prometedor, mas logo seus sonhos se viram truncados.

Patsy, uma das garç onetes, ficou enchendo os potes de ketchup e, quando Kirsten tentou ajudá -la, a outra garç onete lhe indicou que se sentasse e ficasse quieta.

― Está tã o magra que, se viesse uma rajada de vento um pouco forte, sairia voando ― disse a mulher agarrando-a pelo braç o para enfatizar sua preocupaç ã o. — Como anda de saú de? Quando foi a ú ltima vez que foi ao mé dico?

― Sempre fui muito magra ― assegurou-lhe Kirsten sem querer responder a sua pergunta porque ficou dormindo e nã o tinha ido à ú ltima consulta. ― Nã o se preocupe tanto comigo. Nã o precisa, de verdade.

― Nã o posso evitar. Nã o tem forç as nem para levantar uma colherinha e o bebê nascerá dentro de poucas semanas ― suspirou Patsy.

― Estou bem ― insistiu Kirsten.

Continuando, girou-se para atender a um cliente e se bateu com a barriga na mesa. Ainda nã o se acostumou a seu novo corpo e, à s vezes, quando se olhava em alguma vitrine pela rua, nã o se reconhecia.

Deu-se conta de que estava grá vida quando estava quase de quatro meses. Tinha descoberto que as contí nuas ná useas que sentia nã o eram o resultado de uma gastrenterites persistente.

A verdade era que tinha chegado a Londres sentindo-se muito mal, tendo que fazer um grande esforç o para nã o pensar dia e noite no Shahir.

Para tentar afastar sua mente do prí ncipe, dedicou-se a trabalhar e a estudar sem descanso, mal comia e dormia pouco e tinha passado uma eternidade até que se deu conta de que nã o lhe tinha chegado o perí odo em vá rios meses.

Entã o, atribuiu-o ao estresse e à perda de peso e tampouco se preocupou muito, mas, como nã o parava de ter ná useas, decidiu ir ao mé dico.

Nem sequer entã o, tinha lhe passado pela cabeç a que pudesse estar grá vida, o que o recordando agora lhe parecia incrí vel porque, embora fosse virgem, obviamente sabia que manter relaç õ es sexuais com um homem podia acabar em uma gravidez.

Assim que pensava em Shahir, as emoç õ es a bloqueavam, entã o, para proteger-se, tinha decidido nã o voltar a pensar nele nem recordar a paixã o que tinham compartilhado aquele dia.

Entretanto, quando o mé dico lhe disse que podia estar grá vida, Kirsten nã o teve mais remé dio que recordar seus momentos de intimidade e entã o se deu conta de que Shahir nã o tinha tomado precauç õ es.

Em um princí pio, a idé ia de converter-se em mã e solteira a encheu de vergonha e de medo. Logo depois, enfureceu-se com o Shahir. Por que demô nios nã o tinha tido mais cuidado? Obviamente, porque nã o lhe importava nada carregá -la com a responsabilidade de um filho.

Kirsten nã o tinha nem idé ia de como ia fazer quando nascesse o bebê, mas o que era ó bvio era que nã o ia poder trabalhar nem dar aulas.

Evidentemente, ser mã e ia dificultar muito sua vida.

Tinha pensado em chamar Shahir para lhe contar o acontecido, mas ele a tinha acusado de ser uma ladra e talvez pensasse que estava mentindo.

Alé m disso, nã o devia esquecer que estava apaixonado por outra mulher e que se arrependia de ter se deitado com ela.

O orgulho que ficava tinha impedido Kirsten de entrar em contato com ele.

― Como está seu cã o? ― perguntou-lhe Patsy.

― Dorme muito, o veteriná rio me disse que nã o é nada em especial, simplesmente é muito velho... ― respondeu Kirsten com tristeza.

A idé ia de perder Squeak se fazia insuportá vel porque era o ú nico ví nculo que ficava com sua mã e.

Quando teve terminado seu turno, saiu à rua. Fazia frio e as luzes iluminavam com sua luz amarela o pavimento ú mido. Sob uma das luzes, havia um carro de onde desceu um homem de cabelo negro.

No princí pio, Kirsten nã o o reconheceu porque seu rosto estava na sombra, mas quando se incorporou por completo Kirsten viu que era Shahir e nã o pô de evitar que o coraç ã o lhe subisse à garganta.

― Assustei você?... Nã o era minha intenç ã o ― a saudou Shahir em tom amá vel, como se se falassem com regularidade.

― Como ficou sabendo onde eu estava? ― exclamou Kirsten fechando o casaco a toda velocidade para tentar esconder a barriga.

― Tenho meus contatos ― respondeu Shahir. ― Você está bem? ― acrescentou olhando-a com o cenho franzido. ― Está muito pá lida.

― De verdade? Deve ser esta luz... A que veio?

― Para ver você.

Kirsten cruzou os braç os, mas os descruzou a toda velocidade porque aquela postura lhe marcava a barriga.

― Mas como?

― Disse para você antes de que fosse embora que entrasse em contato e nã o sabia nada de você. Estava preocupado. Levo-a para casa.

― Nã o, nã o precisa.

― Claro que precisa. Está tremendo de frio.

Kirsten se deu conta de que era verdade, de que seu leve casaco nã o impedia que o frio da noite entrasse em seu corpo. Tinha frio, estava cansada, doí a-lhe muito as costas e tudo aquilo era culpa de Shahir.

Entã o, por que demô nios estava tentando esconder a barriga precisamente do homem que a tinha metido em tudo aquilo?

Com um movimento repentino que tomou o Shahir de surpresa, Kirsten deslizou a seu lado e entrou na limusine, onde se sentiu muito bem porque lá dentro estava bem aquecido.

― Poderí amos jantar em meu hotel ― propô s Shahir.

― Tenho que ir primeiro para casa... ― respondeu Kirsten dando-se conta de que virtualmente tinha aceito seu convite.

Era desconcertante, mas a verdade era que sua boca trabalhava mais depressa que seu cé rebro. Sem comentar nada mais, Shahir lhe pediu seu endereç o e o comunicou ao chofer.

Enquanto o fazia, Kirsten o olhava de esguelha, sem perder nenhum detalhe do bem vestido que estava. Certamente, aquele homem parecia recé m saí do de uma revista de moda.

Era incrivelmente bonito, o pecado personificado. Nã o era de se surpreender que Kirsten tivesse se apaixonado perdidamente por ele e se colocou em sua cama.

― Demoro dez minutos ― disse ao chegar em casa.

Ao ver o bairro tã o lú gubre em que vivia, Shahir teve que fazer um grande esforç o para nã o se oferecer a acompanhá -la. É obvio, o que fez foi dar instruç õ es ao guarda-costas que estava no assento do co-piloto, que por sua vez entrou em contato com a equipe de seguranç a que viajava no carro de trá s.

Shahir tomou ar lentamente e se disse que Kirsten tinha mudado muito fisicamente. Continuava sendo incrivelmente bonita, mas estava pá lida, tinha olheiras e estava horrivelmente magra.

Parecia doente.

Kirsten deu o jantar para Squeak dando-se conta de que nã o havia como voltar atrá s, decidida a contar a Shahir que ele ia ser pai, e nã o ia fazer isso porque lhe parecia o correto ou porque fosse uma tolice sentir-se humilhada por uma gravidez do qual ele era responsá vel.

Nã o, ia lhe dizer que estava grá vida para lhe chatear o dia. Sim, era uma vinganç a infantil e raivosa, mas era assim como se sentia.

De repente, encontrou-se perguntando com quantas mulheres teria estado nos ú ltimos sete meses. Certamente, teria saí do com mulheres de sua condiç ã o social e nã o com faxineiras que somente serviam para praticar o sexo.

Aquele pensamento nã o fez nenhum bem a sua já abalada auto-estima.

Kirsten estava convencida de que, enquanto ela fazia grandes esforç os para sobreviver, Shahir devia ter estado passando muito bem. Embora as pessoas dissessem que ele sempre que ia para Strathcraig levava uma vida muito simples e que nã o fazia mais que trabalhar e dedicar-se a obras de beneficê ncia.

Entretanto, ela estava convencida de que escondia algo mais porque tinha casas por todo mundo nas que podia fazer o que lhe desse a vontade sem que ningué m soubesse e lhe tinha proposto ser sua amante, nã o?

Nã o tinha demorado muito em levá -la para a cama, o que significava obviamente que tinha experiê ncia. Qualquer homem que tivesse amantes era um colecionador de mulheres. No melhor, Shahir era um don Juan discreto, mas um don Juan de qualquer modo.

Agora que tinha recuperado o ó dio que sentia por ele tinha chegado o momento de que Shahir se inteirasse de tudo, de que soubesse o que pensava dele!

Squeak tinha artrite, assim Kirsten teve que levá -lo nos braç os até a limusine, onde o cã o se acomodou em um canto e ficou adormecido.

Kirsten se sentou em frente aShahir e fechou os olhos brevemente, repassando mentalmente o que ia lhe dizer. Entretanto, estava tã o cansada, que nã o pô de evitar adormecer.

Despertou com um som ao qual nã o estava acostumada: Squeak grunhindo.

― Certamente, é um bom cã o de defesa ― comentou Shahir. ― Estava tentando despertá -la e nã o achou nenhuma graç a. Já chegamos ao meu hotel ― acrescentou.

― Nossa, acabei adormecendo ― disse Kirsten passando os dedos pelo cabelo. ― Onde estamos?

― No estacionamento do hotel. Pensou que ia seqü estrá -la ou algo assim?

― Nã o diga tolices ― riu Kirsten saindo do carro e dirigindo-se ao elevador.

Enquanto caminhavam, Squeak lhe cruzou o caminho e Kirsten tropeç ou com a correia, o que a fez tropeç ar. Menos mal que Shahir estava perto para agarrá -la.

― Tome cuidado...

Sem dar-se conta do perto que estavam, Kirsten se voltou nervosa para Shahir com a má sorte de que sua barriga se meteu no meio e golpeou Shahir no quadril. Ao dar-se conta, Kirsten baixou o olhar e tentou fechar o casaco, que tinha se aberto ligeiramente.

Shahir seguiu a direç ã o de seu olhar e de repente compreendeu tudo, seu aspecto doentio, seus andar torpe e lento. Sem pensar duas vezes, desabotoou os dois botõ es do casaco de Kirsten e afastou o tecido.

― Vai ter um filho ― exclamou assombrado. ― E logo. De quem é?

Kirsten colocou as mã os nos bolsos e voltou a fechar o casaco, consciente de que se havia ficado vermelha.

― De quem você acha que é? ― espetou-lhe.

― Entã o, nã o faltam mais que umas poucas semanas...

― Já vejo que sabe contar ― comentou Kirsten com acidez.

Shahir nã o sabia o que dizer.

Se seus cá lculos eram corretos, em menos de dois meses ia ser pai. Estava completamente atordoado. O filho que Kirsten ia ter era dele... Por isso estava tã o cansada.

Shahir nã o sabia quase nada de gravidez nem de mulheres grá vidas, mas o pouco que sabia, que sua mã e tinha morrido ao dar a luz a ele, fez que um calafrio de terror lhe percorresse as costas.

Um empregado do hotel lhes tinha aberto a porta principal e estavam no salã o.

― Quero que saiba que o odeio por ter me posto nesta situaç ã o ― disse Kirsten com veemê ncia. ― Odeio-o!

Shahir pensou que era normal que estivesse zangada. Obviamente, nã o devia ter passado muito bem nos ú ltimos meses e era evidente que estava cansada, mas agora que ele tinha chegado para tomar conta dela tudo ia mudar.

A situaç ã o ia melhorar para ela.

Shahir sentiu um tremendo desejo de tomá -la entre seus braç os e de correr com ela para o aeroporto, mas estava consciente de que nã o podia levá -la a seu paí s e cuidá -la até que fosse sua esposa.

― Está me ouvindo? ― gritou Kirsten.

― Sim. Estou consciente de que nã o tivemos uma relaç ã o convencional...

― Nã o tivemos nenhuma relaç ã o, nem convencional nem nã o convencional... Simplesmente se deitou comigo!

― Nã o acredito que recordar o passado de um ponto de vista emocional sirva de nada. Está grá vida, vai ter meu filho e isso é a ú nica coisa que importa agora. O que temos que fazer é nos casar o quanto antes ― declarou Shahir muito seguro de si mesmo.

― Por que?

― Porque nosso filho ou filha será o herdeiro ou herdeira do trono do Dhemen, mas somente se nascer dentro do casamento e for declarado legí timo ou legí tima.

Kirsten ficou olhando-o furiosa.

― Nã o disse nada do que eu te falei.

― Nã o penso comentar o que disse porque tenho muito claro que a ú nica coisa que importa agora mesmo é o filho que vai ter.

― Continua querendo se casar comigo? ― perguntou-lhe Kirsten estupefata.

Nã o podia acreditar que a vida a voltasse a pô r diante de si Shahir, que de novo tivesse a oportunidade de casar-se com ele. O orgulho e um forte sentido de justiç a lhe tinham feito negar-se aquela possibilidade sete meses antes porque entã o nã o necessitava de uma alianç a para compensar a perda de sua virgindade e, embora já estava apaixonada por ele entã o, nã o tinha querido aceitar aquelas condiç õ es tã o humilhantes.

― É obvio ― respondeu Shahir.

― E nã o teria sido mais simples tomar precauç õ es e evitar que isto acontecesse?

― Sim, mas nã o aconteceu assim ― respondeu Shahir apertando a mandí bula. ― Asseguro-lhe que jamais antes tinha me acontecido nada parecido.

― E nã o lhe passou pela cabeç a neste tempo que eu podia ter ficado grá vida?

Shahir se ruborizou levemente.

― Quando me passou pela cabeç a que nã o tí nhamos usado mé todos anticoncepcionais, já era muito tarde e confesso que depois nem me expus isso. Embora tenha pedido que continuasse em contato comigo, ao nã o fazê -lo, nunca me passou pela cabeç a que tivesse ficado grá vida.

― E agora que sabe como se sente? Furioso? Nervoso? ― perguntou-lhe Kirsten ansiosa por ter uma resposta.

― Acredito que este é nosso destino e que devemos aceitá -lo com alegria ― respondeu Shahir.

Kirsten nã o podia acreditar no que estava ouvindo. Estava segura de que Shahir tinha que ter se sentido frustrado e confuso embora nã o estivesse disposto a admitir.

― O que é isso que comentou antes de que o menino ou a menina herdará o trono de nã o sei que paí s?

― Eu sou o prí ncipe herdeiro de meu paí s. Meu pai, Hafiz, é o atual rei do Dhemen ― explicou-lhe Shahir. ― Acaso nã o sabia?

A verdade era que Kirsten sabia que Shahir era prí ncipe, é obvio, mas nã o se expô s que fosse o filho de um rei, ela acreditava que ele seria um parente longí nquo, um prí ncipe a mais de tantos. Certamente, nã o tinha lhe passado pela cabeç a que fosse o pró ximo na linha de sucessã o.

― Vamos jantar... ― indicou-lhe Shahir.

Só entã o Kirsten se deu conta de que algué m tinha aberto uma porta que levava a uma sala em que tinha preparada uma mesa simples e elegante para dois.

Depois de sentar-se à mesa, Shahir lhe serviu á gua e Kirsten bebeu o copo inteiro.

― Entã o, Kirsten, está disposta a esquecer sua hostilidade comigo e a se converter em minha esposa? ― insistiu Shahir.

― Nã o posso acreditar que queira se casar com uma ladra ― comentou Kirsten com malí cia.

Shahir a olhou nos olhos com intensidade.

― A vida é cheia de surpresas ― disse-lhe.

Kirsten o olhou triste porque, em segredo, tinha guardado a esperanç a de que Shahir tivesse mudado de opiniã o sobre ela.

― Eu nã o roubei aquela jó ia, nã o sou uma ladra ― assegurou-lhe de novo.

Shahir nã o respondeu.

Kirsten sabia o que queria dizer seu silê ncio e teve que fazer um grande esforç o para que nã o lhe saltassem as lá grimas de raiva. Teria gostado de falar daquele assunto com Shahir, mas estava consciente de que nã o tinha energias para fazê -lo e de que, alé m disso, a ú nica coisa que importava naquele momento ao prí ncipe era o filho que iam ter.

Shahir queria casar-se com ela para que seu filho fosse legí timo e, para ser sincera, Kirsten estava impressionada pelo grau de compromisso para com o bebê que Shahir tinha demonstrado e o pouco que tinha demorado a fazer-se responsá vel pelo seu futuro.

É obvio, se importava muito pouco, tal e como demonstrava que nem se alterou quando lhe havia dito que o odiava, mas, o que esperava?

Se Shahir era capaz de passar por cima de certos sentimentos e de nã o fazer caso de situaç õ es desagradá veis pelo bem do bebê, acaso ela nã o deveria fazer o mesmo?

Por desgraç a, era evidente que lhe ia custar muito mais porque estava completamente apaixonada pelo ShahirbinHarith al Assad, um homem que lhe tinha feito um dano terrí vel, e lhe bastava levantar o olhar e ver seus maravilhosos olhos para dar-se conta de que se estava arriscando-se a sofrer de novo.

Entretanto, sentia-se terrivelmente envergonhada porque Shahir foi capaz de considerar ú nica e exclusivamente o bem do bebê e ela, nã o.

― Vai se casar comigo? ― insistiu Shahir

― Sim ― respondeu Kirsten encolhendo-se de ombros, como dando a entender que lhe dava exatamente igual.

Shahir pensou que Kirsten se educou em um ambiente no que ter filhos fora do casamento era muito mal visto e, obviamente, queria economizar a seu bebê o sofrimento de ter que viver com aquele estigma.

― Prometo que jamais lhe darei motivos para que se arrependa desta decisã o. Vou preparar imediatamente o casamento ― sorriu Shahir alongando o braç o e lhe acariciando a mã o.

Surpresa, Kirsten se apressou a retirá -la.

― Nã o é preciso que finjamos ― murmurou deixando a um lado o prato de sopa que mal tinha provado. ― Nó s dois sabemos que nosso casamento nã o é de verdade, assim nã o precisa que fingir quando estivermos sozinhos.

Shahir teve que fazer um grande exercí cio de disciplina e autocontrole para nã o responder porque, embora dentro de sua famí lia tivesse fama de ser o mais diplomá tico de todos, quando estava com Kirsten se sentia como um elefante em uma debandada.

Uma vez a só s, teria que pensar detalhadamente sobre por que quando estava com ela nã o era capaz de ser discreto e judicioso.

No momento, preferiu se calar.

 

 



  

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