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Capítulo 3
― Quero que averigü e onde está trabalhando Kirsten Ross porque quero falar com ela em particular. Com a má xima discriç ã o ― disse Shahir a seu secretá rio particular, que com muita dificuldade conseguiu dissimular sua surpresa. Uma vez a só s, Shahir ficou olhando as rosas vermelhas que havia no canteiro situado junto à janela. Continuando, acariciou delicadamente uma das pé talas e pensou nos lá bios de Kirsten. Aquilo o fez amaldiç oar, pois, embora a paixã o daquela mulher o tivesse surpreendido, nã o devia permitir que seus pensamentos voltassem outra vez para ela. Ao final de alguns minutos, bateram na porta e entrou lady Pamela, com quem tinha ficado para fazer a lista da pró xima festa que ia fazer no castelo e que ela, como em outras ocasiõ es, ia organizar. Ao vê -lo, lady Pamela sorriu encantada e Shahir lhe devolveu o sorriso, mas nã o era um sorriso de cumplicidade como outras vezes porque agora o certo era que aquela mulher se fazia muito ó bvia comparada com o Kirsten e nã o o atraí a. Kirsten estava limpando as janelas da galeria e, como de costume, ficou olhando o piano de cauda que havia naquela estadia e se perguntou se ainda seria capaz de tocar. Fazia muitos anos que nã o o fazia e, em todo caso, nã o se atrevia a tocar uma peç a tã o antiga sem permissã o. Sua mã e tinha sido professora de mú sica antes de casar-se e se encarregou de que sua filha fosse uma maravilhosa pianista. Kirsten tinha chegado inclusive a substituir com assiduidade o organista na igreja, mas quando as pessoas tinham começ ado a comentar como tocava bem, seu pai tinha decidido que a mú sica era uma frivolidade, tinha vendido o piano e a tinha proibido de voltar a tocar. Aquilo tinha partido o coraç ã o de sua mã e e foi entã o, aquele mesmo dia, quando Kirsten jurou que algum dia teria um piano pró prio que poderia tocar tantas horas ao dia como lhe desse a vontade. Naquele momento, apareceu um homem e lhe pediu que passasse a outra sala para limpar o chã o onde tinham derramado algo. Kirsten assentiu, agarrou um pano e rezou para que nã o tivessem manchado um dos valiosos tapetes do castelo. Felizmente, só tinham derramado um pouco de leite sobre o chã o de madeira e Kirsten nã o demorou nada em limpá -lo. Quando se incorporou, o homem tinha desaparecido e Kirsten se encontrou em um lindo salã o cheio de flores. Quando se preparava para se retirar, outra porta abriu e Shahir apareceu. Kirsten nã o pô de nem se mover do lugar. Estava tã o bonito, que nã o pô de evitar ficar olhando-o fixamente. ― Espero que me perdoe por ter planejado este encontro. ― Você planejou esse encontro? ― surpreendeu-se Kirsten. ― Sim, queria falar com você a só s. Queria ver você, queria pedir perdã o pela forma como me comportei no outro dia. O que fiz foi inapropriado, um equí voco da minha parte. Kirsten o olhou com a boca aberta. ― Mas eu... ― Você nã o teve absolutamente nenhuma culpa. Kirsten ficou gratamente surpresa ao comprovar que Shahir nã o se deixou levar pelo orgulho, mas, longe disso, tinha querido vê -la para lhe pedir perdã o. Certamente, qualquer outro homem em sua posiç ã o, nã o se teria tomado a atitude de fazer isso por uma empregada. ― Eu també m tive minha parte de culpa ― insistiu Kirsten. ― Nã o, você é muito jovem e a inocê ncia nã o é nenhuma culpa — murmurou Shahir com amabilidade. Kirsten o olhou nos olhos e Shahir recordou a tarde em que se conheceram, aquele momento em que se fixou em seu cabelo dourado e seus olhos como esmeraldas e se disse que devia comportar-se como um homem adulto e nã o como um adolescente que nã o pode deixar de pensar na garota que gostava. ― Eu... ― Suponho que nã o quer que as pessoas se inteirem de que esteve a só s comigo, assim nã o é inteligente que fiquemos muito tempo conversando ― interrompeu-a Shahir. Kirsten baixou a cabeç a envergonhada. ― Eu nã o gosto que faç a trabalhos tã o duros porque nã o parece muito forte ― comentou Shahir. ― Asseguro-lhe que sou forte como um cavalo ― riu Kirsten. ― Embora nã o seja muito bonito dizê -lo... Shahir ficou olhando-a alguns segundos, até que pô de reagir e tirar do bolso um cartã o de visita. ― Se alguma vez precisar de ajuda, nã o duvide em me chamar neste nú mero. Kirsten teve que fazer um grande esforç o para disfarç ar sua surpresa porque Shahir nã o estava flertando com ela e ela morria para que o fizesse. Engolindo em seco, aceitou o cartã o, o guardou e voltou para seu trabalho. Naquela mesma semana, voltava para casa uma tarde de bicicleta quando sua roda traseira travou. O pior era que nã o tinha nada para arrumá -la e estava chovendo. Apesar de ter tentado rebocar a bicicleta a toda velocidade, logo se encontrou molhada até os ossos, assim, quando um grande carro parou ao seu lado, assustou-se porque nã o o tinha visto. ― Olá, eu a levo para casa ― disse Shahir baixando o vidro do carro. Kirsten teria gostado de negar-se, mas foi completamente impossí vel porque o motorista, seguindo as instruç õ es do Shahir, estava colocando a bicicleta no porta-malas. ― De verdade... Nã o precisava ter parado. Poderia ter ido andando perfeitamente... Estou ensopada e vou molhar o carro... ― balbuciou Kirsten entrando na limusine. Entretanto, ao perceber que Shahir nã o viajava sozinho, calou imediatamente e se ruborizou dos pé s a cabeç a. ― Pamela Anstruther ― apresentou-se a elegante mulher que ia sentada junto a ele. ― Com quem tenho o gosto de falar? ― Kirsten Ross ― respondeu Kirsten timidamente. Sabia perfeitamente quem era aquela mulher, sabia perfeitamente que sua famí lia tinha construí do o castelo de Strathcraig e tinha vivido nele durante alguns duzentos anos, mas que desgraç adamente o pai de Pamela se viu forç ado a vender a propriedade para pagar suas dí vidas, o que tinha provocado que fossem viver em Londres quando ela era menina. ― Está ensopada ― interveio Shahir. ― Pegue ― acrescentou lhe entregando um lenç o branco. Kirsten afastou uma mecha de cabelo molhado da face e secou o rosto com o lenç o. Enquanto o fazia, olhou Shahir e, quando seus olhares se encontraram, sentiu que lhe acelerava o coraç ã o. ― Obrigada. ― De nada ― murmurou Shahir educadamente. Kirsten sorriu encantada e Pamela pigarreou, o que a fez deixar de olhar para Shahir. Ao dar-se conta de que a outra mulher a tinha visto olhando-o, envergonhou-se e baixou a cabeç a. ― O prí ncipe Shahir me disse que trabalha como faxineira no castelo ― remarcou lady Pamela. ― Parece uma jovem muito capaz. Nã o acha que poderia ter outro tipo de trabalho? ― Sim, assim espero, algum dia... Este é meu primeiro trabalho ― respondeu Kirsten olhando pela janela. Nã o queria que a levassem até a porta de sua casa porque nã o queria nem imaginar como ficaria seu pai se inteirasse de que tinha aceitado que algué m a levasse de carro. ― Me acaba de ocorrer uma ó tima idé ia! ― exclamou lady Pamela, ― por que nã o me ajuda a organizar a festa que vamos dar no castelo? ― Eu? ― exclamou Kirsten surpresa. ― Por que nã o? Poderia-me ajudar a dar alguns recados e a escrever os convites à mã o. ― Eu adoraria ― respondeu Kirsten encantada ante a idé ia de fazer outra coisa que nã o fosse limpar. Lady Pamela sorriu. ― Eu adoro ajudar o prí ncipe a organizar suas recepç õ es, mas é muito trabalhoso para uma pessoa sozinha, assim que me será de grande ajuda. ― Nã o sei se a minha chefe de limpeza gostará disso ― comentou Kirsten mordendo o lá bio. Continuando, para seu horror, deu-se conta de que tinham chegado a sua casa e de que seu pai os olhava com desprezo da porta. Shahir, que nã o havia dito nada enquanto as duas mulheres falavam, estava olhando-o com os olhos entrecerrados e os dentes apertados, notando que Angus Ross parecia furioso. Kirsten desceu do carro seguida de perto pelo Shahir, que disse ao motorista que tirasse a bicicleta do porta-malas. Enquanto o homem assim o fazia, Shahir se apresentou e explicou ao pai de Kirsten o que tinha acontecido, o que Angus Ross pareceu aceitar. ― Entã o agora essa vadia trabalha para o prí ncipe, nã o é? ― comentou uma vez a só s com sua filha e com sua mulher. ― Obviamente, quer meter-se na sua cama para recuperar o castelo que pertenceu a sua famí lia, mas nã o tem nada que fazer porque estou certo que o prí ncipe sabe que é uma vadia que só procura seu dinheiro. ― Pelo que me disseram, nã o é fá cil enganá -lo ― interveio Mabel. ― Todo mundo sabe que, antes de ficar viú va, lady Pamela se deitava com quem lhe dava a vontade. Obviamente, por isso sir Robert lhe deixou tã o pouco dinheiro quando morreu. Kirsten olhou o seu cã o com tristeza, desejando que seu pai e sua mulher fossem mais compassivos com os outros. Viviam em um povoado pequeno onde nã o havia segredos e ela també m conhecia a histó ria da aristocrata. Lady Pamela se casou fazia já mais de dez anos com sir Robert Anstruther, um pró spero homem de negó cios que tinha o dobro de sua idade. Uma vez convertidos em marido e mulher, tinham decidido voltar para as terras que antigamente foram propriedade da famí lia dela e logo tinham começ ado os falató rios. Sir Robert tinha naquele lugar um pavilhã o de caç a que nã o estava acostumado a utilizar muito freqü entemente e sua mulher decidiu reformá -lo e utilizá -lo como casa de fé rias. Sir Robert passava muito tempo em Londres e sua mulher estava acostumada ir muito para o imó vel com amigos. Quando seu marido morreu, os rumores se fizeram cada vez piores e as pessoas chegaram a dizer que ele tinha deixado quase todo o dinheiro aos filhos que tinha tido em seu primeiro casamento como vinganç a por suas contí nuas infidelidades. Apesar de tudo aquilo, Kirsten acreditava que lady Pamela merecia o benefí cio da dú vida, já que lhe tinha parecido uma mulher encantadora e nenhuma pessoa que falava mal dela tinha provas definitivas de que a aristocrata tivesse sido infiel a seu marido ou de que se casou com ele por dinheiro. ― Nã o tenho interesse em que fazer fotografias ― proclamou Kirsten impaciente quatro dias depois enquanto cruzava o pá tio do castelo. Jeanie riu ao ver a cara de confusã o do Bruno Judd. ― Se você conhecesse o pai do Kirsten, senhor Judd, entenderia por que o diz ― explicou ela ao fotó grafo. ― Se você conhecesse Angus Ross, jamais teria pedido a sua filha que posasse de minissaia! Eu sou sua amiga a muito tempo e jamais vi os seus joelhos, assim nã o acredito que você vá ter mais sorte que eu. ― A oportunidade que estou lhe oferecendo é incrí vel. Asseguro-lhe que nã o há nada ofensivo em minha proposta. O que acontece é que me dá pena que se desperdice uma beleza tã o incrí vel ― respondeu o homem frustrado. ― Eu acredito que Kirsten poderia chegar a ser uma modelo famosa... ― É claro que poderia ser! ― exclamou Jeanie afastando-se com o Kirsten. ― Você acha que ele fala a sé rio? ― perguntou a sua amiga uma vez a só s. ― Nã o sei ― respondeu Kirsten encolhendo os ombros. ― Em todo caso, dá -me igual porque quando for daqui penso ir diretamente a universidade e nã o penso perder o tempo com estú pidos sonhos de fama e passarelas. ― Como está se saindo com lady Esnobe? ― perguntou Jeanie trocando de assunto. ― Nã o a chame assim ― respondeu Kirsten. ― Comporta-se muito bem comigo. ― Que estranho porque todo mundo diz que é má pessoa. ― Nã o é verdade. ― Se você o diz... ― respondeu Jeanie, nada convencida. Kirsten estava há dois dias trabalhando para lady Pamela e estava encantada atendendo ao telefone, deixando mensagens, organizando a mesa cheia de papé is da aristocrata, desfazendo suas malas, engomando suas roupas e arrumando o quarto em que lady Pamela se hospedava quando estava no castelo. Lady Pamela a tratava como a uma conhecida em lugar de como a uma empregada e Kirsten nã o podia evitar querer agradá -la. Shahir franziu o cenho ao ver o Bruno Judd falando com Kirsten no pá tio, pois todos sabiam da falta de escrú pulos do velho fotó grafo. Quando se dispunha a afastar-se da janela, perguntando-se se devia ou nã o intervir, chamaram para lhe dizer que lady Pamela queria vê -lo em pessoa imediatamente. ― O que aconteceu de tã o importante para que nã o o possamos tratar por telefone? ― perguntou para a aristocrata alguns minutos depois. ― A verdade é que é uma questã o um tanto delicada ― respondeu Pamela. ― Desapareceu uma de minhas jó ias do meu quarto. Shahir ficou muito sé rio. ― Vou chamar à polí cia agora mesmo. ― Nã o, nã o quero que os empregados se sintam sob suspeita. A verdade é que o broche que desapareceu nã o valia muito. ― O valor econô mico é o de menos. Nã o penso tolerar que ningué m roube nada em minha casa. ― Espere um pouco antes de chamar à polí cia. Ou talvez, nã o me roubaram e eu simplesmente o perdi. Vou dizer a Kirsten que procure bem por todo o quarto. ― Como você quiser ― respondeu Shahir perguntando-se por que teria ido falar com ele sem ter procurado bem antes. ― Tem já a lista de convidados para a festa? ― Está quase terminada ― respondeu Pamela. ― Por que nã o toma café hoje comigo? ― Muito bem, nos vemos dentro de meia hora ― respondeu Shahir apesar de que nã o ter gostado muito. Quando Pamela lhe contou o que tinha acontecido com o broche, Kirsten se preocupou seriamente porque sabia que, se algo desaparecia, todos eram suspeitos. ― É obvio, começ arei a procurá -lo agora mesmo ― disse-lhe. ― Se nã o se importar, primeiro procure por esta sala e, quando o prí ncipe chegar para tomar café dentro de meia hora, procure no meu quarto e continue ali ― pediu-lhe lady Pamela. ― Muito obrigada por sua ajuda. Espero que o encontre. Kirsten estava de quatro procurando o broche pelo chã o quando ouviu Shahir chegar e nã o pô de evitar sentir uma grande emoç ã o. Por mais que tentasse, nã o podia deixar de pensar nele. De repente, ao apalpar com as mã os sobre o tapete, tocou algo que resultou ser o broche. ― Encontrei-o! ― exclamou incorporando-se. ― Ah, perdã o ― acrescentou ao ver que Shahir a olhava do salã o da suí te de lady Pamela. ― De verdade o encontrou? ― exclamou Pamela encantada. ― Nã o posso acreditar nisso! Onde estava? ― No chã o, junto à cô moda ― respondeu Kirsten. ― É incrí vel, nã o sei como nã o o vi porque estive procurando por toda parte. ― Está acostumado a ocorrer. Parabé ns, Kirsten ― interveio Shahir. Kirsten ficou olhando-o fixamente. Quando seus olhos se encontraram, sentiu que os mú sculos do ventre lhe contraí am e que o ar nã o chegava aos pulmõ es. ― Sim, muito obrigada ― disse Pamela sorrindo encantada. ― Se importaria se falá ssemos um momento a só s, Kirsten? Surpresa, Kirsten a seguiu para o corredor. ― Tinha que tirá -la de lá o quanto antes ― disse uma vez a só s ante a confusã o do Kirsten. ― Nã o se deu conta? Foi vergonhoso, ficar olhando o prí ncipe Shahir. Ficou completamente ridí culo diante ele. Nã o lhe disseram nenhuma vez que nã o deve ficar olhando um homem como uma estú pida colegial? Surpresa pelo inesperado ataque, Kirsten baixou o olhar aflito. Entretanto, algo nela a fez rebelar-se, pois acaso nã o ele ficou olhando-a també m? E como nã o ia ficar olhando encantada ao ú nico homem que a tinha beijado em sua vida? ― Já tinha me dado conta no dia que a levamos para sua casa que está louca por ele, mas procure dissimular porque nã o acredito que goste que as pessoas riam de você ― acrescentou Pamela com um desprezo que nã o era pró prio dela. ― Eu nã o tenho absolutamente a sensaç ã o de ter feito o ridí culo ― defendeu-se Kirsten levantando o queixo. Diante aquelas palavras, o duro olhar de Pamela se adoç ou. ― Me desculpe se lhe disse isso de maneira muito direta, mas me parecia que algué m tinha que adverti-la para o seu pró prio bem. Olhe, por que nã o vai hoje cedo para casa? Kirsten decidiu nã o fazê -lo porque algumas de suas companheiras de trabalho já haviam se queixado de sua nova flexibilidade de horá rios e nã o queria ter problemas, assim desceu ao porã o e decidiu terminar seu turno de limpeza. Enquanto trabalhava, recordou que Pamela tinha lhe dado uma primeira impressã o favorá vel e se disse que, talvez, tinha sido ingê nua ao julgá -la porque parecia ó bvio que os rumores eram verdadeiros, que a aristocrata estava interessada no prí ncipe. Quando se dispunha a ir para casa, um dos ajudantes pessoais do Shahir foi procurá -la para lhe indicar que o prí ncipe queria vê -la. Kirsten o seguiu até uma sala de recepç ã o onde a estava esperando Shahir e se deu conta de que, por uma parte, morria de vontade de vê -lo e, por outra, teria preferido ir para sua casa. Pulsava-lhe o coraç ã o rapidamente e nã o pô de evitar passear seu olhar pelo maravilhoso rosto e espetacular corpo do prí ncipe. Nesse momento, Shahir imaginou à quela beleza de pele de porcelana deitada em sua cama com os cabelos esparramados sobre o travesseiro. Embora tentasse apagar de sua mente as eró ticas imagens, sua anatomia reagiu de forma violenta. Shahir se apressou em recordar que aquele encontro nã o ia ser por seu interesse pessoal, mas sim pelo bem de Kirsten. ― Suponho que estará se perguntando por que queria vê -la ― comentou. ― É verdade ― admitiu Kirsten sentindo uma bola de fogo no baixo ventre. De novo, Shahir tinha mandado chamá -la. De novo, tinha querido vê -la. Aquilo a fez sentir como se estivesse flutuando. ― Vi o Bruno Judd falando com você e me informaram que nã o é a primeira vez que isto acontece. Estou preocupado. Aquela explicaç ã o tomou Kirsten completamente de surpresa e a fez descer de sua nuvem rosa e ruborizar por ter sido tã o ingê nua em acreditar que o prí ncipe tinha querido vê -la por motivos pessoais. ― Bom, pelo visto, ele quer fazer uma sessã o fotográ fica comigo porque acredita que tenho o que se necessita para me converter em uma modelo — lhe explicou nervosa. ― Farei tudo o que esteja em minha mã o para que nã o volte a incomodá -la ― informou Shahir. Com que direito assumia aquele homem que ela nã o estava interessada na proposta do fotó grafo? Em casa, era obrigada a aceitar a tirania de seu pai, mas nã o estava disposta a consentir que nenhum outro homem tomasse decisõ es por ela nem lhe dissesse o que devia ou nã o fazer. ― O senhor Judd nã o está me incomodando absolutamente ― defendeu-se ― E, em todo caso, se assim fosse, eu mesma lhe diria que nã o estou interessada em sua proposta. ― Como de fato deve ser ― insistiu Shahir muito seguro de si mesmo. ― Nã o tem mundo suficiente para sobreviver na passarela. O mundo da moda é desumano, e lhe asseguro que Judd nã o tem escrú pulos e nã o duvidaria em deixá -la na estacada quanto lhe conviesse. ― Sei cuidar de mim mesma! ― exclamou Kirsten indignada. ― Nã o levante a voz para mim ― respondeu Shahir. ― Nã o seja impertinente. Kirsten baixou a cabeç a aflita, sentindo-se como uma menina bronca e castigada em um canto. Em seu interior, mesclavam-se a vergonha e o ressentimento. Estava zangada com o mundo em geral e o nã o poder dizê -lo em voz alta e com liberdade a zangava ainda mais. ― A ú nica coisa que quero é protegê -la para que nã o a explorem ― murmurou Shahir. ― Talvez, eu tenha mais mundo do que parece ― disse Kirsten doí da. ― Talvez eu queira arriscar a me converter em modelo! Ao ver como Shahir a olhava, Kirsten ficou sem fô lego. Era ó bvio que a desejava e aquilo fazia que ela reagisse da mesma maneira. ― É obvio, essa decisã o é sua e só sua ― respondeu Shahir lhe abrindo a porta para que se fosse. Kirsten nunca havia se sentido tã o rejeitada, mas conseguiu sair com a cabeç a erguida. Quando chegou a ala de serviç o e viu que algué m tinha deixado ali um exemplar novo da mesma publicaç ã o que estava lendo a tarde em que tinha conhecido Shahir, compreendeu que tinha sido ele e que realmente estava preocupado por ela. Aquilo a tranqü ilizou e de muito melhor humor chegou a casa, onde desgraç adamente a estava esperando seu pai muito zangado. ― Esteve aqui o senhor Judd ― disse-lhe assim que Kirsten entrou na cozinha. Kirsten engoliu em seco. ― Por sua culpa, esse homem veio encher minha casa de lixo e me mostrar fotografias de mulheres meio nuas. Como se atreveu a lhe dizer onde morava e a lhe pedir que convencesse seu pai para que a deixasse ir para Londres com ele? ― Eu nã o fiz nada disso ― defendeu-se Kirsten sinceramente. ― Está mentindo e nã o penso consentir isso ― enfureceu-se Angus Ross levantando um punho e golpeando sua filha.
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