|
|||
Capítulo 2
Quatro dias depois, Shahir se levantou da cama à s trê s da madrugada e entrou em seu luxuoso banheiro para dar-se outra ducha de á gua fria. Sentia-se como se o tivessem enfeitiç ado e, enquanto a á gua escorregava por seu forte e musculoso corpo, gritou enfurecido. Nenhuma mulher o tinha perturbado o sono antes. Havia algo em Kirsten Ross que tinha desatado sua imaginaç ã o até cotas de criatividade eró tica insuperá veis. A idé ia de que se convertesse em sua amante o tinha obcecado e o fazia ter fantasias sexuais das que nã o se podia liberar. Inclusive dormindo, seu cé rebro revisava uma e outra vez o breve encontro que eles tiveram e o transformava até convertê -lo em um encontro apaixonado e selvagem mais do gosto sexual masculino. Nã o poder controlar sua mente o enfurecia. Shahir apoiou a testa nos ladrilhos de má rmore e pensou em Faria, algo que nã o se permitia muito freqü entemente porque nã o era homem de pensar no que nã o podia ser. Lembrou de Faria, mulher de belos olhos escuros e grande coraç ã o, aquela mulher com a que jamais poderia se casar porque, apesar de que nã o serem parentes de sangue, a mã e de Faria o tinha amamentado durante um perí odo de tempo e sua religiã o proibia o casamento entre irmã os de leite. Shahir nã o tinha sabido o que era o amor até o dia em que durante um casamento interminá vel tinha visto uma linda garota de cabelos castanhos que brincava com os meninos e os fazia truques de magia. Faria tinha se convertido em uma mulher enquanto ele estava trabalhando no estrangeiro e se formou como professora. No princí pio, nem sequer a tinha reconhecido, pois a ú ltima vez que se viram era somente uma menina. Entã o, deu-se conta de que queria casar-se com ela e nesse mesmo instante tinham começ ado suas tribulaç õ es e seus sofrimentos. Agora, acontecia-lhe o mesmo. Embora nã o se atrevesse a comparar o desejo luxurioso que sentia por Kirsten Ross com o sincero amor que o atraí a para Faria, a verdade era que voltava a ver-se apanhado por uma mulher a quem nã o podia ter. Shahir repensou e se disse que, talvez, aquele mal que o afligia vinha dado por muito tempo de abstenç ã o sexual e decidiu que aquilo somente o podia curar uma mulher aberta e decidida. E sabia exatamente a quem recorrer. Lady Pamela Anstruther, a proprietá ria da propriedade vizinha, uma viú va de gostos muito caros, mas que nã o tinha ficado muito bem economicamente e que nunca tinha escondido que estava interessada nele. No descanso da manhã, Jeanie olhou Kirsten e franziu o cenho. ― Aconteceu algo? Tem olheiras, como se nã o tivesse dormido bem. ― Estou bem... ― murmurou Kirsten. A verdade era que levava vá rias noites sem poder conciliar o sono, incapaz de deixar de pensar no misterioso motorista da motocicleta e, quando se colocava na cama e fechava os olhos, ele voltava a protagonizar seus sonhos, cujo conteú do Kirsten jamais atreveria a compartilhar com ningué m. ― Algum problema em casa? ― insistiu Jeanie. ― Nã o ― respondeu Kirsten. ― Um outro dia tropecei com um motociclista, na sexta-feira pela tarde... Acredito que está hospedado no castelo... ― acrescentou mordendo o lá bio inferior. ― Por aqui sempre há um montã o de caras novas e por acaso veio um escritor para documentar sobre a histó ria do castelo e um passarinho me disse que chegou de moto ― respondeu Jeanie. ― Entretanto, nã o acredito que seja seu prí ncipe azul porque é bem mais velho. ― Nã o, o homem do que eu te falo nã o é velho ― disse Kirsten. ― Era jovem e parecia de outro paí s... ― Ah... Esse! ― exclamou Jeanie. ― É o pedreiro polonê s que está encarregando do novo está bulo. É alto, moreno, de pele bronzeada e muito bonito? Kirsten assentiu quatro vezes como uma marionete. ― O vi na cidade no sá bado à noite. Certamente, jovenzinha, tem bom gosto. Kirsten avermelhou dos pé s a cabeç a. ― Sabe se é casado? ― conseguiu perguntar. ― Nã o, nã o é casado ― riu Jeanie. ― Agora entendo por que está nas nuvens. Falou com ele? Foi uma flechada? ― Jeanie! Eu simplesmente estava dando um passeio, nos encontramos e nos falamos durante um minuto. Era só curiosidade. ― Já sei, só curiosidade, claro... ― sorriu Jeanie, ― Bonita como é, nã o vai ter nenhum problema em conseguir um encontro com ele. Outra coisa será que a seu pai pareç a bem. ― Nã o vou ter nenhum problema com meu pai porque nã o quero sair com ele ― assegurou-lhe Kirsten. ― Por favor, nã o vá por aí falando disto. Se meu pai se inteira, me mata. ― Kirsten, nã o se preocupe, ningué m por aqui te faria a tarefa de ir com uma fofoca assim a seu pai. Depois da briga que teve na igreja, todo mundo tem medo dele. Kirsten baixou a cabeç a envergonhada. Naquele momento, a chefe de pessoal veio procurá -la para lhe perguntar se podia cobrir o turno de uma companheira que se havia ficado doente e Kirsten aceitou encantada, pois isso significava mais dinheiro e menos horas em casa. Agradecida, ficou a lustrar os chã os daquela parte do castelo que nã o conhecia e da que normalmente se encarregava sua companheira. Entã o era polonê s? Um pedreiro da Polô nia. Entã o, o acento britâ nico de classe alta deviam ter sido imaginaç ã o dela. Naquele instante, deu-lhe vontade de saber absolutamente tudo sobre a Polô nia, mas, por que se preocupava tanto com um homem que nã o ia voltar a ver? Ele trabalhava fora e ela, dentro. O castelo era imenso e havia muitas pessoas trabalhando nele, assim era virtualmente impossí vel encontrarem-se por acaso. A nã o ser, claro, que ele a procurasse. E por que ele iria fazer isso quando tinha gritado com ele? Se fosse como Jeanie, seria ela quem iria procurá -lo. Menos mal que nã o se parecesse com sua amiga. Claro que a idé ia de nã o voltar a vê -lo a fazia sentir-se vazia e triste. De repente, a má quina deixou de funcionar e, ao virar-se, Kirsten se encontrou com um jovem vestido de terno e gravata. ― Senhorita, por favor, estamos em uma reuniã o muito importante e essa má quina faz um ruí do espantoso... Importaria-se de ir limpar em outro lugar? ― disse-lhe em tom furioso. ― Agora mesmo senhor ― murmurou Kirsten. ― Que seja a ú ltima vez que fala assim com um de meus empregados ― murmurou outro homem em tom glacial. ― Sinto muito, alteza ― desculpou-se o primeiro ruborizando dos pé s a cabeç a. Ao ver o segundo homem, Kirsten ficou sem ar nos pulmõ es, pois era o homem da moto. O homem que tinha conhecido na colina era o prí ncipe Shahir? Nã o, nã o podia ser. Era verdade que lhe havia dito que aquelas terras eram deles, mas Kirsten tinha acreditado que ele estava lhe tirando o sarro. Rapidamente, recolheu o cabo da má quina e tentou sair dali a toda velocidade, mas estava nervosa e suas palmas das mã os suavam, o que entorpecia seus movimentos. ― Deixe que a ajude com isso... ― Nã o! ― exclamou Kirsten horrorizada ao virar a cabeç a e encontrar-se com o Shahir muito perto dela. ― Perdã o... ― acrescentou afastando-se pelo corredor por volta da primeira porta aberta que viu. Shahir duvidou um segundo, franziu o cenho aborrecido e surpreso ante o comportamento da jovem e foi até ela. ― Kirsten... ― Supõ e-se que nã o deve falar comigo! ― exclamou Kirsten com a respiraç ã o entrecortada. ― Nã o diga tolices. ― Nã o sã o tolices! O que quer de mim? Quer que lhe peç a perdã o? Muito bem, pois o peç o. Perdã o por ter gritado por dirigir sua motocicleta como um louco. Perdã o por interromper sua importante reuniã o... Já está... Nã o é... majestade ― disse Kirsten abrindo a porta e perdendo-se dentro do novo cô modo. Shahir se apressou a segui-la. ― Nã o se mova! ― murmurou. ― Deve me dar atenç ã o enquanto falo com você. ― Isso vai contra as normas! ― defendeu-se Kirsten. ― Que normas? ― riu Shahir. ― As normas do castelo. Supõ e-se que o pessoal do serviç o deve desaparecer quando você aparece... ― Nã o quando eu quero falar com um deles ― interrompeu-a Shahir. ― Você vai me colocar em uma boa confusã o... Ningué m sabe que nos conhecemos no outro dia e eu nã o quero que se inteirem. ― Nã o há problema ― respondeu Shahir abrindo uma porta que havia a sua direita. ― Falaremos aqui. Kirsten respirou fundo e entrou em uma sala de reuniõ es elegantemente mobiliada. ― Por que quer falar comigo? Shahir pensou que jamais tinha ouvido uma pergunta tã o estranha. Era ó bvio que qualquer homem gostaria de falar com aquela beleza de pele cremosa cor marfim e perfil de uma elegâ ncia e perfeiç ã o maravilhosas. A falta de vaidade e a ingenuidade daquela mulher o surpreenderam sobremaneira. Estava acostumado que todas as mulheres se interessassem por ele, algumas, de forma direta, outras, de uma maneira mais sutil. Se ele mostrava o mí nimo interesse por alguma garota, desfaziam-se em elogios e ficavam a seus pé s. ― Por que nã o contou a ningué m que nos conhecemos? Kirsten fixou o olhar nos preciosos sapatos de Shahir. ― Porque se supunha que nã o teria que ter estado aquela tarde na colina. ― Mas como? Kirsten nã o sabia o que responder. Nã o queria admitir que seu pai a tinha completamente controlada, mas a alternativa de mentir se fazia insuportá vel porque nã o estava acostumada a fazê -lo. ― Lhe fiz uma pergunta ― insistiu Shahir. Kirsten levantou a cabeç a. ― Nã o teria que ter estado aquela tarde na colina porque meu pai nã o gosta que saia sem sua permissã o. Alé m disso, estava lendo uma revista e ele me proibiu de ler isso. ― Perdã o, nã o deveria ter insistido ― desculpou-se Shahir ao compreender que a tinha envergonhado. ― Sentia curiosidade. Kirsten tragou engoliu em seco. ― Eu també m sentia curiosidade... Shahir ficou está tico ante a sincera admissã o, pois nã o estava acostumado a que o tratassem assim e logo compreendeu que tinha sido sua culpa por ter começ ado a tratar de assuntos pessoais. Apressou-se a recordar que aquela garota trabalhava para ele e que estavam a só s em um cô modo porque era sua empregada e confiava nele, assim nã o devia aproveitar-se da situaç ã o. Dava na mesma se a atraç ã o entre eles fosse mú tua. Kirsten nã o podia deixar de olhá -lo nos olhos. ― O outro dia, disse-me que algué m tinha entrado de moto nas terras de seu pai e as tinha estragado. Fiz que investigassem o caso e, efetivamente, um empregado do castelo foi o culpado. Ele já foi alertado e a situaç ã o nã o voltará a se repetir. Nos poremos em contato com seu pai para informá -lo do ocorrido e para deixar-lhe bem claro que eu corro com os gastos do estrago. ― Ah... ― contestou Kirsten com o pensamento em outro mundo. ― O que acabo de lhe dizer? ― perguntou Shahir, dando-se conta de que Kirsten nã o o tinha escutado. ― Algo dos campos de meu pai... ― respondeu Kirsten. ― Nã o estava escutando ― murmurou Shahir, satisfeito. Adorava que Kirsten nã o pudesse concentrar-se estando tã o perto dele. Adorava que tivesse a respiraç ã o entrecortada e os mamilos endurecidos. Shahir se sentiu como um pirata que poderia tê -la tomado entre seus braç os, tê -la deitado na mesa e tê -la possuí do de maneira tã o deliciosa e prazerosa, que Kirsten teria se convertido voluntariamente em sua escrava. O sorriso de Shahir cativou Kirsten e se perguntou o que sentiria se a beijasse. Entã o, de repente, deu-se conta do que estava pensando e baixou a cabeç a envergonhada, sentindo-se como uma prostituta. ― Tenho que voltar para o trabalho ― murmurou ela. ― Nã o é isso o que gostaria de fazer. ― Nã o... ― admitiu Kirsten. ― No que estava pensando? ― quis saber ele. Kirsten se estremeceu. ― Venha, diga-me e nã o minta para mim. ― Estava-me perguntando o que eu sentiria se me beijasse... Shahir murmurou algo em á rabe e se aproximou dela, segurou-a pelos antebraç os. Sentia o sangue pulsando-lhe nas tê mporas e nã o podia parar para escutar a vozinha dentro de sua cabeç a que lhe advertia que nã o devia fazê -lo. ― Deixa que lhe demonstre isso... Ato seguido, Kirsten sentiu aqueles maravilhosos lá bios na boca. O beijo de Shahir foi firme e apaixonado, mas nã o o suficiente para satisfazer o incrí vel desejo que Kirsten sentia no mais profundo de seu ser. Kirsten ficou na ponta dos pé s e lhe passou os braç os pelo pescoç o, lhe acariciando o cabelo. Sentia como se estivessem dentro de uma tormenta, como se o mundo girasse a toda velocidade ao redor deles. A excitaç ã o tomou por completo seu corpo e agora a ú nica coisa que importava era a potente sensaç ã o de ter Shahir tã o perto, colado a sua pele, sentir seus braç os, suas mã os e sua lí ngua. Kirsten estava tã o entregue no que estava fazendo, que quando algué m falou em á rabe pelo interfone nã o pô de evitar dar um pulo assustada. ― Quem é esse? O que disse? ― perguntou. ― É meu secretá rio pessoal e me informa que uma pessoa veio me ver ― respondeu Shahir. Fez-se o silê ncio entre eles. Kirsten nã o se atrevia a olhá -lo e, de repente, abriu a porta que tinha perto e saiu correndo como a alma que é levada ao diabo. Shahir teria gostado de correr atrá s dela e desculpar-se, mas o estavam esperando e era ó bvio que Kirsten estava desgostada, assim seria uma loucura arriscar-se a que se produzisse uma cena que unicamente faria atrair a atenç ã o sobre ela e aumentar sua vergonha. Que demô nios, tinha se passado com ele? Nã o entendia como tinha podido perder o controle daquela maneira e estava furioso por isso. Tinha sido como se sua libido se tivesse extravasado e ele nã o tivesse podido fazer absolutamente nada para submetê -la. Kirsten se olhou no espelho e comprovou que havia um brilho de culpa e de surpresa em seus olhos, que tinha os lá bios avermelhados e que sentia o corpo mais escuro e volumoso que nunca. A culpa e a vergonha se apoderaram dela. Como tinha se atrevido a dizer ao prí ncipe Shahir que estava se perguntando o que sentiria se a beijasse? Comportou-se como uma vadia! Tentou concentrar-se no trabalho, mas nã o podia esquecer como tinha respondido ao beijo do Shahir. Jamais a tinha ocorrido que um homem pudesse fazê -la reagir daquela maneira, pudesse fazê -la estremecer de paixã o, uma paixã o que nem sequer era consciente de possuir até aquela tarde. Nã o conhecia o prí ncipe absolutamente de nada e, entretanto, nã o tinha duvidado em entregar-se a ele. Parecia-lhe tã o irresistí vel que teria permitido que lhe fizesse algo e o que a fazia sentir-se pior, era que tinha sido ele quem tinha deixado de beijá -la ao ouvir seu secretá rio pelo interfone! Aquela tarde, ao sair do trabalho, Kirsten estava montando na bicicleta quando percebeu que um homem a olhava fixamente de um conversí vel. ― Olá, sou Bruno Judd, fotó grafo de moda ― disse-lhe a distâ ncia. ― Você é consciente do incrivelmente linda que é? Se fosse també m fotogê nica, poderia ser uma das melhores modelos do mundo, sabe? ― acrescentou aproximando-se. ― Parece-lhe bem que fiquemos para lhe fazer uma sessã o de fotografias? ― Nã o, obrigada ― respondeu Kirsten. ― Mas nã o ouviu o que eu disse? ― Me deixe em paz ― disse Kirsten afastando-se pedalando a toda velocidade.
|
|||
|