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COLEÇÃO JARDIM DAS FLORES 3COLEÇ Ã O JARDIM DAS FLORES 3 SHEIK INDOMADO
Lynnegraham
Escocia
Kirsten ross
Capí tulo 1
Sua majestade o prí ncipe ShahirbinHarith Al-Assad chegou a sua preciosa propriedade escocesa pouco antes das oito da manhã. Como de costume, tudo estava preparado e arrumado para sua chegada com o luxo e o detalhe ao que tinha direito por nascimento. Uma limusine de vidros escuros o tinha recolhido em seu aeroporto particular onde pouco antes tinha aterrizado seu aviã o. Ningué m tinha se acercado a ele em nenhum momento, pois disso se cuidava muito seu pessoal, já que a Shahir lhe agradava manter sua privacidade e era um homem muito reservado. Depois de fazer umas poucas perguntas ao encarregado de sua propriedade escocesa, Fraser Douglas, que o acompanhava na limusine, ambos tinham sumido num cô modo silê ncio. O ú nico caminho que levava até o Castelo Strathcraig era de terra e serpenteava durante alguns vinte quilô metros atravé s de pradarias verdes rodeadas de montanhas azuladas. O entristecedor e majestoso silê ncio daquela paisagem e seu maravilhoso cé u azul recordavam ao Shahir o deserto, que amava com a mesma paixã o que aquele lugar. Shahir sempre procurava o resguardo e a forç a da natureza depois de ter se visto submerso na frené tica vida da cidade. A limusine começ ou a descer para o frondoso vale onde estava situada sua propriedade quando um rebanho de ovelhas obrigou o veí culo a deter-se. Junto a ele també m havia esperando uma mulher de cabelo branco em uma bicicleta. Ao chegar a seu lado, Shahir girou a cabeç a e se deu conta de que nã o se tratava de uma mulher idosa, mas sim de uma garota muito jovem de cabelo loiro platinado e nã o branco. Tratava-se de uma jovem magra e linda de enormes e inteligentes olhos e boca pequena e atraente. Apesar de que nã o usava roupa elegante, nada podia esconder que tinha um corpo tã o puro e belo como o daquele anjo que Shahir tinha visto uma vez em um manuscrito. Entretanto, nã o houve nada de angé lico na instantâ nea descarga de desejo que Shahir sentiu por aquela mulher e que foi tã o intensa, que o surpreendeu, já que fazia muito tempo que nã o se sentia atraí do tã o fortemente por uma mulher. ― Quem é essa mulher? ― perguntou ao encarregado do castelo, que estava sentado frente a ele. ― Kirsten Ross, majestade ― respondeu Fraser. ― Parece-me que foi contratada para fazer a limpeza no castelo ― acrescentou ao ver que o sheik nã o se dava por satisfeito. A Shahir jamais lhe ocorreria deitar-se com uma empregada e inteirar-se de que trabalhava para ele de criada o incomodou sobremaneira, pois era um homem muito exigente em seus gostos. ― Nunca a tinha visto ― comentou. ― Kirsten Ross nã o gosta de chamar a atenç ã o ― respondeu Fraser. ― Mas suponho que estará acostumada a chamar a atenç ã o, tendo em conta quã o bela que é ― comentou Shahir. ― Nã o acredito, porque, pelo visto, seu pai é um tipo muito religioso com fama de ser muito rí gido em casa ― explicou-lhe fazendo uma careta de desgosto. Ao dar-se conta de que a estava olhando fixamente, Shahir afastou o olhar justo no momento em que o veí culo iniciava a marcha de novo. O que o encarregado do castelo lhe acabava de contar o tinha surpreendido e Shahir se perguntou onde terminava a devoç ã o religiosa e começ ava o fanatismo. A vida do Strathcraig girava em torno das atividades da igreja e as pessoas que ali viviam tinham um có digo de valores diferente ao que reinava na ambiente mais liberal da alta sociedade. Por ali, as pessoas eram muito conservadoras, o que surpreendia aos que chegavam de fora, e Shahir supunha que aquilo se devia a que aquele lugar tinha ficado isolado do mundo durante muito tempo. Encontrava-se muito a gosto ali, muito mais a gosto que imerso em uma cultura mais lassa, já que no Dhemen, o reino do Oriente Mé dio onde tinha nascido, a disciplina també m era restrita e ele estava acostumado e gostava. Ali, era muito fá cil diferenciar o bem do mal, e o bem comum sempre estava por cima do bem individual. Pouca gente se atrevia a saltar-se aquelas normas tã o claras, e os que o faziam tinham que sofrer o rejeiç ã o social. De igual maneira, Shahir aceitava as limitaç õ es que o destino lhe tinha imposto e sabia que cada vez que se deitava com uma mulher nã o conseguia mais que substituir durante umas horas à mulher a que realmente amava, uma mulher com a que jamais poderia estar. Aos seus trinta e dois anos assim era sua vida embora nã o gostasse. Sua famí lia se esforç ava em lhe apresentar as mulheres para ver se gostava de alguma e decidia casar-se. Ou melhor, isso era exatamente o que tinha que fazer, escolher a uma das candidatas e dar esse passo. Shahir era consciente de que havia muitas mulheres que estariam encantadas de casar-se com ele porque em troca teriam filhos, riquezas e o prestí gio de ter uma maravilhosa posiç ã o social. Naquela equaç ã o nã o havia lugar para o amor e assim devia ser. Em seu mundo, o casamento estava regido pelo pragmatismo, os contatos familiares e, sobretudo, a idé ia de ter um herdeiro. De momento, seu pai respeitava profundamente seu desejo de permanecer solteiro, mas Shahir era consciente de que era o pró ximo na linha de sucessã o e de que, cedo ou tarde, ele també m teria que se casar e dar um herdeiro ao reino. Para ele, o fato de nã o possuir nem um só á tomo de romantismo em seu corpo era uma grande satisfaç ã o, pois lhe tinha permitido manter seu temperamento apaixonado a raia. Era um homem que sempre se enfrentava à verdade por mais difí cil que fosse, jamais cometia erros estú pidos e era consciente da famí lia em que tinha nascido e das responsabilidades que aquilo entranhava, assim seria muito mais inteligente de sua parte aceitar a necessidade de encontrar uma esposa em lugar de perder o tempo admirando a uma muito bonita, mas completamente inaceitá vel mulher ocidental que nã o era nada mais que uma empregada... ― Nã o sabe o que diz ― disse Jeanie Murray para Kirsten se sentando no desgastado banco de madeira e acendendo um cigarro apesar de que fosse proibido fumar no castelo. ― Seu pai jamais a deixará ir para a universidade. Kirsten seguiu limpando uma delicada molheira de porcelana de Sevres. ― Eu acredito que agora que se casou com Mabel fique mais fá cil. ― Certamente, apesar de todas as rezas e as preces, nã o duvidou em cortejar outra mulher pouco depois de que sua mã e morrera. As pessoas dizem que gosta que lhe tenham bem atendida a casa ― riu a ruiva. ― Ele pode fazer o que quiser, mas nã o vai consentir que você saia de casa porque trabalha e lhe leva seu salá rio e todos por aqui sabemos quã o avaro é Angus Ross! Kirsten teve que fazer um grande esforç o para nã o fazer uma careta de desgosto ao inteirar-se de que a austeridade de seu pai era de domí nio pú blico. As francas opiniõ es de Jeanie e seu pouco tato eram causa habitual de fricç ã o com outros membros do serviç o, mas Kirsten a perdoava porque sabia que no fundo tinha bom coraç ã o. ― Jeanie... ― Sabe que tenho razã o. Inteirei-me de um par de coisas de sua casa e a verdade é que me parece terrí vel. ― Eu nunca falo de minha vida familiar ― objetou Kirsten. Jeanie pô s os olhos em branco. ― Aposto o meu pescoç o que você cozinha e limpa a casa, e assim é impossí vel que Mabel queira que vá embora. Kirsten, você tem vinte e dois anos e já é hora de que compreenda que a ú nica maneira de te liberar de tudo isso e de ter uma vida pró pria é que saia correndo daqui a toda velocidade. ― Já o veremos ― respondeu Kirsten. Kirsten era consciente de que necessitaria de muito dinheiro para poder se tornar independente, e fugir da casa de seu pai lhe parecia uma covardia. Alé m disso, fazê -lo só a levaria a pobreza mais terrí vel e ela queria alugar uma casa decente e ter um bom futuro. Kirsten se disse pela ené sima vez que o que tinha que fazer era ter paciê ncia. Fazia somente um mê s e meio que tinha começ ado a trabalhar e, dado que seu pai ficava com a maior parte de seu salá rio para mantê -la, ia demorar ainda alguns meses para poder economizar algo para ir embora. Tinha que agü entar. Seu trabalho, embora fosse muito humilde, era muito prezado para ela. Kirsten adorava trabalhar rodeada do esplendor medieval do castelo, cujos magní ficos arredores eram uma fonte de fascinaç ã o sem fim para ela. Ir a seu lugar de trabalho todas as manhã s de bicicleta lhe dava um sentimento de liberdade que fazia muito tempo que lhe tinha sido negado e o poder de mesclar-se com outras pessoas també m lhe agradava sobremaneira, mas també m era consciente de que nã o queria passar toda a vida limpando, e de que para poder acessar a algo melhor precisava de qualificaç ã o e estudos. Entretanto, a idé ia de ter que se enfrentar abertamente à s rí gidas normas de seu pai lhe dava medo, já que desde pequena tinha sido educada na obediê ncia mais cega para ele, que era um homem frio e distante, de cará ter violento e intimidató rio. Isabel Ross tinha adoecido quando ela tinha treze anos e Kirsten tinha cuidado dela, porque seu pai havia dito que aquilo eram «coisas de mulheres». Kirsten se tinha visto em tã o tenra idade com uma grande responsabilidade. Embora tivesse um irmã o, Daniel, cuidar de sua mã e tinha sido só tarefa dela porque ele já tinha bastante trabalho ocupando-se da granja em que viviam. Assim como tinha sido com Kirsten, que sempre tinha sido a melhor estudante de sua classe, tinha começ ado a faltar ao colé gio e suas notas tinham começ ado a piorar paulatinamente. Seu irmã o tinha terminado por discutir com seu pai pela falta de liberdade que impunha em seu lar e, ao final, foi-se de casa. Entã o, assim que lhe tinha sido legalmente possí vel, Angus Ross fizera que sua filha deixasse de estudar e a tinha trancado em casa para cuidar de sua mã e e fazer-se acusaç ã o dos afazeres domé sticos. Durante cinco anos, Kirsten nã o tinha saí do de casa mais que para ir à igreja e fazer a compra semanal. A seu pai nã o o fazia nenhuma graç a que fosse a nenhum evento social e tampouco lhe permitia as visitas. Exatamente um ano depois da morte de sua mã e, seu pai se casou com Mabel, uma mulher de muito mau cará ter cujo principal passatempo era falar mal dos outros. Em todo caso, Kirsten lhe estava agradecida porque ela tinha convencido a seu pai para que a deixasse trabalhar lhe dizendo que assim haveria mais dinheiro em casa. ― A veja se pelo menos esta semana, que o sheik está aqui, veja-o e te alegra um pouco a vida ― comentou Jeanie rindo. ― Para que saiba, esta manhã vi sua limusine ― sorriu Kirsten. ― A limusine nã o é nada comparada com ele. Eu somente o vi em um par de ocasiõ es e, de longe, mas posso lhe assegurar que é o homem mais bonito que vi em minha vida ― respondeu Jeanie, apagando o cigarro e escondendo o cinzeiro. ― É desses homens pelo que algué m cometeria mais de um pecado. ― Tomarei cuidado entã o para nã o cruzar o seu caminho porque nã o quero perder meu trabalho. Quando a tinham contratado, tinham-lhe advertido que devia trabalhar no mais absoluto silê ncio e que, se alguma vez se encontrasse com o sheik em um corredor, devia ir-se a toda velocidade, assim Kirsten nã o achava muito prová vel que pudesse vê -lo de perto. ― Se eu tivesse seu corpo e seu rosto, faria tudo o que estivesse em minha mã o para tropeç ar nele ― brincou Jeanie. ― Se ele gostasse, poderia te afastar de todo este mundo e te pô r em uma casa para você. Solucionaria sua vida! ― exclamou. ― Imagine as roupas que poderia ter, e as jó ias, e, alé m disso... Um homem impressionante em sua cama! Kirsten é uma mulher realmente bonita. Se houver algué m que possa deslumbrar o prí ncipe Shahir, essa pessoa é você. Kirsten a olhou surpresa e se ruborizou. ― Eu nã o sou assim... ― Pois seria muito melhor fosse ― insistiu a ruiva. ― A vida é para desfrutá -la e para divertir-se. Se nã o tomar cuidado, no final seu pai vai terminar convertendo-a em uma solteirona! Depois de terminar de lavar a baixela do Sevres, Kirsten a secou com cuidado apesar de que seus pensamentos estavam a anos luz dali. Sentia-se muito diferente de Jeanie porque a tinham educado em uma casa em que a ú nica referê ncia que se fazia sobre o sexo a fazia seu pai e sempre dizendo que era «o pecado da fornicaç ã o». A ú nica coisa que lhe era permitido ler era a Bí blia e outros textos sagrados e agora que tinha tido acesso a outro tipo de publicaç õ es, jornais e revistas, nos que se falava de outras coisas completamente diferentes Kirsten se sentia secretamente atraí da pela roupa e os lugares exó ticos que tinha visto nelas. Quem dera se seu pai fosse um homem mais razoá vel. Quem dera lhe permitisse sair e conhecer pessoas, como faziam outras garotas de sua idade. Kirsten raciocinava que, afinal, ele tinha que ter saí do com sua mã e antes de casar-se e que aquilo nã o podia ser mau, nã o? À medida que o tempo passava, seu pai foi se fazendo cada vez mais irracional; até o ponto de que tinha discutido com os paroquianos na igreja e tinha decidido deixar de ir, proibindo a Kirsten e a Mabel que o fizessem també m. Kirsten adorava a mú sica e um dos poucos prazeres que tinha na vida era escutar o rá dio, mas seu pai o tinha quebrado quando Mabel se queixou de que a garota passava muito tempo escutando-o e demorava muito em preparar o café da manhã. Kirsten ainda recordava a cara de horror de sua madrasta ao ver a irada reaç ã o de seu marido. Aquela tarde, depois do almoç o, outra companheira lhe deu uma revista que ela já tinha terminado de ler e Kirsten a aceitou com a cabeç a baixa. Enquanto se ia, escutou como suas companheiras comentavam que era uma pena a maneira como seu pai a tinha educado e, as palavras de um texto da revista que lhe tinha dado era: «a essa pobre garota dá medo até sua pró pria sombra». «Nã o é verdade», disse-se Kirsten enquanto pedalava rumo a casa. Nã o tinha tanto medo, mas tampouco estava tã o louca para procurar uma confrontaç ã o aberta com seu pai antes de dispor dos meios necessá rios para ir embora. A beleza daquele dia de princí pios do verã o logo apaziguou seu â nimo e a encheu de vitalidade. Era sexta-feira, seu dia favorito da semana porque terminava de trabalhar cedo e estava acostumado a ter a casa inteira para ela durante a tarde porque seu pai e Mabel estavam fazendo a compra semanal. Kirsten decidiu passear com o cachorro e ler a revista e, meia hora depois, saí a da casa de seu pai e atravessava a pradaria verde em direç ã o ao bosque. Uma vez ali, entre as á rvores, tirou os sapatos, desabotoou um par de botõ es da blusa e soltou o cabelo para deitar um pouco ao sol. Squeak, um cã ozinho manco que Kirsten adorava, deitou-se exausto a seu lado e nã o a advertiu do ruí do de um motor que se aproximava, pois fazia tempo que tinha perdido a audiç ã o. Kirsten começ ou a devorar a revista e logo esteve completamente imersa no mundo das celebridades, da moda e da fofoca. De repente, o ensurdecedor ruí do de uma moto a tirou de sua leitura e, ao girar a cabeç a, comprovou com horror que iam atropelar o Squeak. Rapidamente, ficou em pé e conseguiu tirar o cã o de debaixo das rodas da motocicleta, cujo condutor perdeu o equilí brio ante a repentina freada e caiu no chã o. Kirsten afogou um grito de horror, mas logo comprovou que ao condutor nã o tinha acontecido nada, pois ficava em pé tã o tranqü ilo. ― O que você faz aqui? ― gritou ao ver que o homem se aproximava dela. Shahir estava furioso por ter encontrado uma mulher sentada na metade do caminho, como se estivesse esperando que algué m a levasse pela frente. E, para cú mulo, estava lhe gritando. Ningué m tinha gritado com ele jamais. Entretanto, a beleza daquela mulher nublou seu aborrecimento. Luzia uma impressionante juba loira que lhe chegava à cintura e tinha alguns maravilhosos olhos verdes que pareciam esmeraldas. Shahir se sentiu atraí do por sua beleza. ― Como se atreve a entrar nesta propriedade? É um delito ― insistiu Kirsten. ― Asseguro-lhe que nã o sou nenhum delinqü ente ― respondeu o motociclista ainda de capacete. ― Ah, nã o? E o que é a pessoa que entra em uma propriedade que nã o é dela? ― respondeu Kirsten zangada porque ainda nã o lhe tinha pedido perdã o pelo incidente. ― Nã o se deu você conta de que vinha muito rá pido? ― Sei perfeitamente a velocidade que eu vinha ― respondeu Shahir. Kirsten se deu conta de que aquele homem nã o falava como um vâ ndalo, embora se comportasse como um deles. Era impossí vel nã o perceber seu sotaque inglê s de classe alta, mas a Kirsten deu igual. Estava se comportando errado e isso era a ú nica coisa que importava, assim levantou o queixo e o olhou em atitude desafiante. ― Deu-nos um susto de morte a meu cã o e a mim! ― exclamou deixando Squeak no chã o. Squeak se aproximou de Shahir, moveu o rabo, fez-se um novelo a seu lado e descansou ao sol. ― Pelo menos, ele nã o grita ― comentou Shahir. ― Eu nã o estou gritando ― defendeu-se Kirsten. ― A ú nica coisa que quero que compreenda é que poderia tê -lo matado ou ter morrido! Shahir levantou a viseira do capacete e Kirsten ficou está tica. A primeira coisa que lhe passou pela cabeç a ao ver seus olhos foi a imagem de um falcã o dos que tinham no castelo. Aquele homem possuí a um olhar penetrante e duro, mas també m um espetacular brilho dourado nos olhos e uns cí lios muito negros. Kirsten sentiu que o coraç ã o lhe dava um salto e começ ava a pulsar rapidamente. ― Nã o seja exagerada ― uivou Shahir. ― Você vinha muito depressa... ― insistiu Kirsten. Shahir nã o pô de evitar ficar olhando o reflexo do cabelo daquela mulher sob o resplendor do sol e pela primeira vez em sua vida esqueceu do que ia dizer. ― De verdade? ― perguntou tirando o capacete e revirando o cabelo. Kirsten sentiu que a boca secava. Aquele homem era tã o incrivelmente bonito, que nã o pô de evitar ficar olhando-o fixamente. Tinha um rosto impossí vel de esquecer, uma estrutura ó ssea fantá stica com umas maravilhosas e altas maç ã s do rosto, um nariz forte e masculino e sobrancelhas escuras. Sua compleiç ã o morena e seu cabelo escuro sugeriam alguns ancestrais de outras terras. Aquele homem a seduziu rapidamente e Kirsten sentiu que enjoava como se tivesse estado dando voltas sobre si mesma e, de repente, sentiu na pé lvis algo que jamais havia sentido antes. ― Como? ― murmurou confusa. Shahir sorriu e Kirsten se sentiu enfeitiç ada por aquele sorriso. ― É verdade que dirijo muito depressa, mas lhe asseguro que sou muito bom motorista ― apontou Shahir. ― Mas a essa velocidade é impossí vel ver o caminho ― insistiu Kirsten. ― Certamente, o que ningué m espera nem a essa velocidade nem a nenhuma outra é encontrar-se com uma garota e um cã o sentados na metade do caminho. ― De qualquer maneira, isto é propriedade particular... ― Eu sei e sei perfeitamente que nã o há gado solto por aqui porque esta terra é minha ― respondeu Shahir. ― Nã o, esta terra nã o é sua. Por acaso eu vivo ali, descendo a colina, e sei perfeitamente a quem pertence esta terra, assim você nã o pode me enganar ― sorriu Kirsten. Shahir se deu conta de que aquela mulher nã o o tinha reconhecido. ― Entã o nã o é a primeira vez que entra nestas terras, nã o é? ― comentou Kirsten recordando os rastros que tinha visto perto de casa de seu pai. ― Para que saiba, você estragou o caminho da colina. ― Asseguro-lhe que eu nã o fui ― respondeu Shahir ofendido. ― Ah, nã o? Quantos motoristas como você há por aqui? ― Senhorita, agradeceria-lhe que, tendo em conta que nã o tem você prova, nã o me acuse de algo que eu nã o tenho feito ― defendeu-se Shahir. ― É uma grande ofensa ― acrescentou em tom frio e distante. Kirsten empalideceu. ― A mim o que me parece uma grande ofensa é que você ainda nã o tenha me pedido desculpa por ter me dado o maior susto de minha vida ― respondeu ofendida. Shahir se ruborizou, pois sempre se teve por um homem extremamente cortê s. ― É ó bvio, lhe peç o desculpas por assustá -la. ― Bom, eu també m lhe peç o desculpas por ter dito que tinha sido você o que tinha entrado nas terras de meu pai com a motocicleta e as tinha estragado ― respondeu Kirsten. ― Você estava lendo? ― perguntou Shahir recolhendo a revista de Kirsten do chã o. ― Sim, obrigada ― respondeu Kirsten aceitando-a e ruborizando ao ver que Shahir a olhava intensamente. Shahir teve que fazer um grande esforç o para controlar seu desejo, pois os lá bios daquela mulher e seus preciosos e firmes seios lhe faziam desejá -la com tanta intensidade, que estava atô nito. ― Terá acontecido algo à moto? ― perguntou Kirsten, nervosa, pois tinha se dado conta de que entre eles se instalou uma estranha tensã o cuja origem nã o chegou a vislumbrar. ― Nã o acredito ― respondeu Shahir. Tinha conseguido controlar-se, sim, mas estava zangado consigo mesmo porque nã o entendia como se sentia atraí do por aquela mulher. Por mais bonita que fosse, ele estava acostumado a mulheres incrivelmente belas, assim nã o era aquela a razã o. ― Você vai muito longe? ― quis saber Kirsten. Em outra circunstâ ncia, jamais teria se atrevido a perguntar algo assim a um desconhecido, mas a verdade era que sabia que aquele homem partiria e nã o queria que se fosse. ― Nã o, vou ao castelo ― respondeu Shahir, levantando a motocicleta do chã o. Poderia lhe ter dito quem era, mas decidiu que nã o havia motivo para fazê -la passar tal vergonha porque o mais prová vel era que jamais voltassem a se ver. Kirsten supô s que o motociclista estava passando uma temporada como convidado no castelo no qual ela trabalhava e rezou para que nã o desse um mau relató rio dela a ningué m, porque, se fosse assim, perderia o trabalho e seu pai se zangaria. Shahir pô s o capacete, pô s a motocicleta em marcha, montou e se afastou sem sequer olhá -la, mas pensando nela, em seus maravilhosos olhos verdes e em que parecia assustada e infeliz, o que o levou a se perguntar que tipo de vida levaria com aquele pai faná tico do que lhe tinha falado o encarregado do castelo. De repente, se encontrou se perguntando se Kirsten Ross estaria disposta a converter-se em sua amante. Shahir se enfureceu consigo mesmo por semelhante pensamento, pois ter uma amante implicava uma relaç ã o e ele preferia saltar de cama em cama sem se comprometer com nenhuma mulher. Nã o estava disposto a perder sua liberdade por ningué m e, alé m disso, Kirsten Ross era uma empregada. Que demô nios lhe estava acontecendo? Em menos de vinte e quatro horas, lhe tinha passado pela cabeç a que tinha que encontrar uma esposa e agora estava pensando em ter uma amante! Depois de fazer um buraco sob as á rvores e enterrar a revista, Kirsten correu para casa seguida de perto pelo Squeak. Ao chegar, entrou pela porta de trá s e, para sua desgraç a, encontrou-se com seu pai. ― Nã o sabia que iam voltar tã o cedo... Ocorreu algo? ― perguntou nervosa ao perceber a tensã o no ambiente. ― A mã e de Mabel está doente ela vai passar a noite com ela ― respondeu Angus Ross. ― Onde esteve? ― Saí para dar um passeio ― respondeu Kirsten. ― Perdã o... ― Se eu tivesse estado em casa, nã o teria estado vadiando por aí. O que esteve fazendo? Kirsten ficou está tica. ― Nada. ― Espero que seja assim ― grunhiu seu pai aproximando-se dela e agarrando-a pelo braç o com forç a. ― Me prepare o jantar agora mesmo. Depois do jantar, leremos a Bí blia e rezaremos para que nã o volte a cair no pecado da vadiagem ― acrescentou saindo da cozinha. Uma vez a só s, Kirsten se esfregou o braç o com o cenho franzido e se disse que nã o devia preocupar-se, já que seu pai tinha mau gê nio, mas jamais lhe tinha levantado a mã o. Entretanto, tinha a penosa suspeita de que aquilo estava a ponto de mudar.
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