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CAPÍTULO XIII



 

Muito antes das sete horas da manhã seguinte, Netta sabia, que nã o ia poder andar a cavalo como tinha planejado. També m ficou sabendo, com uma certeza inabalá vel sem precisar de confirmaç ã o, que nã o ia poder montar por vá rios meses.

— Agora terei de ficar com Jos. É o filho dele, e quando eu contar...

Fez uma pausa e seu breve momento de inebriante alegria se dissolveu como a né voa da manhã.

— Nã o. Nã o vou usar meu bebê como se fosse um esparadrapo para consertar nosso casamento — disse baixinho, cheia de teimosia. — Jos vai ter que me querer por mim mesma, porque me ama... nã o por causa do nosso filho. Se nã o for assim...

Se Jos soubesse de seu estado, nunca se separaria dela. Lembra­va-se muito bem das palavras de Wendy na embaixada, minutos antes da cerimô nia do casamento: " Jos é um homem honrado... "

— Nã o quero que seja deste jeito! Pensou Netta.

Mary apareceu trazendo o chá e biscoitos e ela ficou feliz que fosse a mocinha em vez da sra. Berry. A governanta era uma pessoa vivida, tinha olhos espertos, logo desconfiaria desse mal-estar que ela estava sentindo. Mary era ingê nua e ainda acreditaria que era por causa da viagem. Por enquanto, decidiu, aquele segredo seria só seu. Primeiro queria saber como iria ficar seu futuro, se seria com Jos... ou sem ele.

Quando sentiu que já estava bem, vestiu-se e desceu. Sua batalha ia recomeç ar, ia ter que enfrentar Jos mais uma vez. Desceu as escadasvagarosamente, desejando que ele já estivesse no escritó rio cuidando dos negó cios. No entanto, ele estava na copa. vestido para montar, e parecia muito bravo.

— Você está atrasada e nã o está com roupa adequada para andar a cavalo. Will já preparou a é gua.

— Mudei de idé ia.

— Mudou de idé ia? É só isso? Por acaso se esqueceu que deu ordens especí ficas para Will esperá -la à s sete horas? — Suas palavras a atingiram como uma chicotada.

— Eu nã o... — Netta parou. Nã o podia dizer que nã o estava se sentindo bem desde que acordou, teria que dar explicaç õ es, res­ponder perguntas.

— Acho que nem estava pretendendo ir. Fez isso só para Caroline ficar sem montaria.

— Nã o foi nada disso!

— Nã o me venha com desculpas. — A voz dele continuava rí spida. — Foi criancice sua, só quis impedir Caroline de se divertir um pouco. Nã o pode haver outra razã o para nã o ter aparecido na hora combinada.

Havia uma excelente razã o, mas nunca iria contá -la a Jos. A sra. Berry entrou para servir o café a Jos e os cumprimentou alegremente.

— Deixe, sra. Berry, Netta pode fazer isso.

— Muito bem, entã o eu os deixarei a só s, poderã o conversar em paz.

Netta teve vontade de rir quando ouviu aquelas palavras. Paz era a ú ltima coisa que podia haver entre eles. Virou-se para o bufê satisfeita por ter alguma coisa para aliviar a tensã o.

Ele comeu em silê ncio, pareciam dois estranhos num hotel, e Netta precisou de toda sua coragem para romper aquela barreira:

— Vai estar em seu escritó rio esta manhã? Preciso saber quem vai querer convidar para a festa.

— Se ainda insiste em cuidar de todos os preparativos... — Jos fez uma expressã o de desagrado. — Caroline poderia cuidar de tudo sem precisar da minha ajuda.

— Nã o vou tomar muito de seu tempo.

— Oh, está bem, já que insiste... afinal, é um privilé gio seu.

Nã o é só um privilé gio, pensou Netta, é um direito, mas ficou emsilê ncio para evitar discussã o.

— Entã o vamos acabar logo com isso. Estou muito ocupado, tenho que sair com Will para ver comoanda a propriedade. — Seu tom de voz nã o deixava dú vidas de que ele considerava os negó cios muito mais importantes do que ela.

Netta o seguiu até o escritó rio e examinou o cô modo interessadamente. Mais do que qualquer outro da casa, ele revelaria a Netta a personalidade de Jos. Era grande, revestido de lambris de madeira e, ao contrá rio do resto da casa, nã o dava impressã o de luxo, mas sim de conforto e funcionalidade. Havia uma grande escrivaninha de carvalho, algumas poltronas e inú meras prateleiras cheias de livros elegantemente encadernados. Seu olhar captou o brilho de um grande cofre em um dos cantos do escritó rio.

— Sim, é lá que estã o as jó ias — disse Jos, percebendo para onde ela estava olhando e com uma voz que parecia ser feita do mesmo aç o do cofre.

Nesse instante, ouviram uma batidinha e logo o rosto alegre de Will Dyer apareceu na porta.

— O senhor disse para eu vir logo depoisdo café, sr. Jos. Des­culpe-me, sra. de Courcey, nã o quis interromper. Posso voltar mais tarde.

— Nã o precisa Will, nã o vou demorar. Estamos planejando uma festa e Jos só vai me entregar sua agenda para fazer os convites.

— É pena ficar escrevendo dentro de casa num dia tã o lindo — disse Will e virou-se para Jos. — A é gua nã o fez nenhum exercí cio, senhor, e entã o eu a atrelei na charrete para irmos até a plantaç ã o. Nã o gostaria de vir junto, madame? Ontem de manhã a senhora nã o parecia muito disposta e hoje ainda está um pouco abatida. O ar fresco vai lhe fazer bem e um passeio de charrete é menos cansativo do que montar.

Will já tinha entendido por que ela nã o havia aparecido no está bulo e quando disse que ela estava " abatida", Jos levantou a cabeç arapidamente e olhou-a fixamente. Quando Netta começ ou a abrir a boca para recusar a sugestã o, ele se adiantou:

— É uma ó tima idé ia.

Mais uma vez, ele respondeu por mim, pensou Netta, irritada. Nã o sou nenhuma dé bil mental, teve vontade de dizer, mas evitou falar isso na frente de Will.

— Um passeio ao ar livre ajuda a afastar as teias de aranha do cé rebro — acrescentou Jos com um olhar oblí quo que fez Netta ranger os dentes de raiva. — Deixe os convites para depois.

— A charrete já está aí fora, senhor.

Jos tomou o braç o de Netta e conduziu-a até o jardim. A charrete era do tipo quadrado como uma caixa, com espaç o para quatro pessoas e uma porta na parte de trá s. Will segurou firmemente a cabeç a da é gua e Jos pegou a mã o de Netta para ajudá -la a entrar. Por um segundo cheio de agonia ela parou com um pé no degrau com os olhos fechados, lutando contra o desejo de se virar e cair nos braç os de Jos confessando tudo o que ia em seu coraç ã o.

Ele percebeu sua hesitaç ã o e deve ter imaginado que ela estava assustada ao ver a charrete cedendo sob seu peso, porque disse, num tom impessoal:

— Fique bem na frente. Nã o se preocupe, é bastante segura.

Subiu atrá s dela e sentou-se ao seu lado, ainda segurando suamã o, esperando que se acomodasse. Por um louco momento de esperanç a, Netta pensou que Jos nã o soltaria seus dedos.

— Vá por ali, Will — Jos apontou na direç ã o da alameda — acompanhe o rio e depois volte por trá s, assim conseguiremos ver toda a plantaç ã o.

Quando Jos soltou a mã o de Netta para indicar o caminho que queria que Will seguisse, ela estremeceu e ficou muito quieta.

— Está com frio? — Ele percebeu que Netta tinha tremido.

— Nã o, é...

— É por causa da sombra da casa — disse o empregado. — Logo o sol vai estar bem quente. — Fez um ruí do com a boca e a é gua começ ou a andar. — Olhem, Tara já está esperando. — Will mostrou o setter sentado na curva da alameda, balanç ando o rabo.

— Podemos deixá -la entrar aqui conosco? — perguntou Netta. ansiosa por ter alguma coisa em que se apoiar, agora que Jos tinha soltado sua mã o.

— Nã o, ela nã o vai querer ficar na charrete. — Will riu. — Tem energias demais para isso. Gosta de ir solta, nos acompanhando para poder investigar todos os barulhinhos que ouve no mato. De vez em quando sai correndo e depois vem se encontrar de novo conosco.

Se estivesse feliz, eu ia adorar o passeio, pensou Netta, admirando a paisagem à sua volta. A plantaç ã o de centeio, verde-prateada se estendia por um dos lados da alameda enquanto a de aveia, amarelo-pá lido, balanç ava sob a brisa de verã o do lado oposto, indo até os confins da propriedade.

Will parou a charrete e comentou com Jos:

— Acho que já está quase na é poca do corte. Se o tempo continuar firme, poderemos começ ar na pró xima semana. Já falei com o pessoal, mas estava esperando suas ordens para confirmar o contrato.

— Certo. Vamos dar uma olhada. — Jos abriu a portinhola da charrete e começ ou a descer.

— Vou ficar aqui com a sra. de Courcey — disse Will.

— Nã o precisa se preocupar comigo — Netta respondeu cheia de confianç a. — Posso ficar segurando as ré deas.

— Tem certeza? — Will parecia estar cheio de dú vidas.

— É claro. Nã o é a primeira vez que ando de charrete.

— Neste caso...

Will entregou as ré deas a Netta e os dois homens passaram pela cerca e foram primeiro examinar a plantaç ã o de centeio, conversando, avaliando o seu crescimento.

Tudo aconteceu de forma inesperada.

Com o canto dos olhos, Netta viu um corpo vermelho correndo em direç ã o da charrete. Tara estava perseguindo algum animal, como tinha dito Will, e logo se juntaria a eles. De repente ela parou, farejando alguma coisa escondida no mato. Deu um salto e estava quase em cima do faisã o quando ele explodiu num cacarejo assustado e alç ou vô o, cheio de pâ nico, batendo contra o focinho da é gua.

A é gua assustou-se, relinchou e recuou violentamente. Nettaescorregou e teria caí do se nã o segurasse na portinhola que Will tinha deixado aberta. Com grande presenç a de espí rito ela apanhou de novo as ré deas, aplicando uma pressã o firme, poré m suave, até a charrete se equilibrar novamente. Nesse instante, seu suspiro de alí vio se transformou em uma exclamaç ã o de susto. A portinhola bateu com um barulho forte que foi demais para a é gua assustada e ela disparou pelo campo. Atrá s dela, Netta ouviu Jos gritar:

— Netta, segure firme!

— Puxe, madame! Puxe á s ré deas!

— Nã o posso fazer as duas coisas ao mesmo tempo!

Era fisicamente impossí vel se equilibrar e puxar as ré deas ao mesmo tempo e algum instinto a fez escolher as ré deas. Precisava das mã os e de toda a forç a do seu corpo pequeno.

O animal continuava correndo desesperadamente e Netta ficou horrorizada quando viu o bosque a sua frente. Ia de encontro à s á rvores numa velocidade incrí vel.

Nunca mais verei Jos!

Fechou os olhos e sentiu um vazio em seu cé rebro. Pensou que fosse desmaiar, mas nã o largou as ré deas. Sentiu a charrete virar para um lado e abriu os olhos, apavorada, pensando que ela fosse tombar. Ficou olhando, fascinada, quando aé gua começ ou a descrever uma curva em frente das á rvores, que pareciam formar uma muralha de madeira.

Ela nã o vai conseguir!

Netta chegou a sentir um dos ramos de um carvalho tocando em seu cabelo mas, segundos antes que a charrete se estraç alhasse contra um tronco, a é gua completou a curva e começ ou a acompanhar o bosque, diminuindo o passo quando viu ao longe o caminho que levava à seguranç a do seu está bulo.

— Graç as a Deus!

Vagarosamente a é gua saiu do galope, começ ou a trotar e finalmente parou, obedecendo as ré deas comandadas por Netta.

Ela se endireitou na charrete, sentindo um desejo de rir e chorar ao mesmo tempo, completamente esquecida do mundo a sua volta.

Depois de alguns minutos, ouviu o barulho de passos, vindo rá pidos na sua direç ã o.

— Que beleza, madame! Que controle!

Will correu para a frente e agarrou a cabeç a da é gua para acalmá -la. Jos pulou para dentro da charrete e Netta estendeu-lhe as mã os, pensando que ele fosse confortá -la. Mas ele se manteve afastado, olhando-a cheio de raiva.

— Por que nã o segurou a é gua direito? Veja o estado em que ela ficou!

— Como eu podia saber que Tara ia assustar um faisã o bem no focinho dela? — Toda a fú ria voltou, quando ela ouviu o tom de voz dele. Todas as crí ticas eram sempre dirigidas a ela.

— Se estivesse segurando as ré deas direito ela nã o teria se assustado. — Jos continuava a falar no mesmo tom rí spido. — Você podia ter morrido!

Nos dois poderí amos ter morrido, pensou Netta, eu e meu filho. Sentiu um arrepio gelado percorrer seu corpo. Jos ficaria ainda mais furioso se soubesse sobre o bebê.

— É muita gentileza sua se dignar a pensar no que poderia ter acontecido comigo — disse Netta, cheia de amargura. — Vá cuidar da é gua, ela parece ser muito mais importante do que eu.

— É isso mesmo o que eu vou fazer! — Jos pulou da charrete e foi acariciar o animal, falando baixinho com ela, convencendo-a a andar num passo tranqü ilo até o está bulo.

Netta, sentada sozinha na charrete, sentiu vontade de chorar. Teria dado a pró pria vida para ouvir aquelas palavras de carinho sendo dirigidas a ela. Mas nã o, sentia-se como uma condenada sendo levada ao patí bulo. Acusada e condenada sem nem mesmo ter uma oportu­nidade de se defender, de ser ouvida.

Quando chegaram em casa ela começ ou a abrir a porta da charrete com dedos trê mulos, pensando em fugir o mais depressa possí vel pata o refú gio do seu quarto. No entanto, Jos foi na sua direç ã o e a pegou pelo braç o para ajudá -la a descer.

— Você ainda está tremendo.

— E o que esperava, depois de tudo o que aconteceu?

— Quem sai na chuva é para se molhar...

— Nã o foi culpa minha!

— É uma questã o de opiniã o.

Eles entraram em casa e Jos parou perto da porta do escritó rio.

— Espere um pouco, vou pegar a agenda com os endereç os.

Ele entrou e Netta foi atrá s dele, indignada pela sua falta de consideraç ã o para com ela, depois de tudo por que havia passado.

— Pelo menos você podia ficar contente por eu nã o estar ferida! Nem que fosse só por gentileza!

Jos deixou a agenda cair sobre a escrivaninha e a olhou com aquele olhar frio que sempre a assustava.

— Estou contente que nã o tenha se machucado, Netta. — As pala­vras soaram duras como aç o. Depois ele foi se aproximando dela e, com uma voz falsamente suave, continuou: — Se nã o acredita no que estou dizendo... se quer uma prova...

Dessa vez ela també m nã o conseguiu escapar. Como sempre, suas pernas se recusaram a obedecê -la e Jos a alcanç ou com um movimento fá cil.

— Estou muito contente por você nã o ter se machucado— caç oou ele, e beijou-a com toda a forç a.

— É essa a prova que queria? — disse, quando finalmente a largou, e Netta cambaleou, apoiando-se na mesa para nã o cair.

— Jos... eu... — Tremendo dos pé s à cabeç a, ela engoliu em seco e tentou falar, mas seus lá bios estavam doloridos e. adormecidos.

— Vá para o seu quarto e deite-se.

Jos falou primeiro, secamente. Ele disse " seu quarto" e nã o " nosso quarto", é por minha pró pria culpa, pensou Netta. Seu orgulho tinha impedido qualquer intimidade e, agora que ele tinha desaparecido, a oportunidade já havia passado.

— Vou mandar a sra. Berry cuidar de você.

Netta quis gritar: nã o quero a sra. Berry, quero você! mas sua garganta seca impediu-a de falar e ela continuou escutando, envolta num silê ncio profundo.

— Pode levar a agenda, a nã o ser que prefira que Caroline cuide de tudo. Parece que você nã o está em muito boas condiç õ es.

Seu tom de voz diria que ele preferia que Caroline cuidasse de tudo e a raiva fez Netta recuperar a voz e as energias:

— Sou eu quem vai fazer os convites! Eu serei a anfitriã dessa festa e, como você mesmo disse, precisamos observar as convenç õ es. Nã o se preocupe, seus convidados serã o bem recebidos. Depois disso... — As lá grimas embargaram a voz de Netta e ela pegou a agenda segurando-a contra o peito como um escudo.

— Depois disso... o quê? — perguntou Jos com voz gelada.

Netta saiu do escritó rio e correu para as escadas. Estava subindoquando ouviu a porta bater com forç a, como se estivesse fechando sobre seus sonhos de uma vida ao lado de Jos.

Netta nã o voltou mais ao está bulo, mas sabia que Jos saí a diaria­mente para montar porque o ouvia andando pelo quarto de vestir, logo cedo, pela manhã. Ele nunca a convidava, o que era um alí vio e uma agonia ao mesmo tempo. Caroline tinha saí do com ele uma vez, mas quando Jos persistiu em continuar cavalgando antes da sete, ela acabou desistindo de acompanhá -lo.

— Por que nã o trabalha logo cedo e depois sai para andar a cavalo, numa hora mais razoá vel? — reclamou a prima, quando estavam tomando café em uma das manhã s.

— Tenho muito o que fazer e nã o quero interromper o meu trabalho a nã o ser para fazer as refeiç õ es. Passei muito tempo fora e agora há uma pilha de papé is para pô r em dia.

— Sei que está muito ocupado. Jos, mas será que poderia dar uma olhada nesta lista de convidados? — Netta interrompeu delicada­mente, vendo que ele estava bastante nervoso. — Gostaria que visse os nomes para ver se você concorda. Os convites já estã o endereç ados e deixei alguns em branco para o caso de você querer convidar algué m que nã o esteja com o nome anotado na agenda.

— Será que é absolutamente necessá rio me incomodar com isso? — A voz de Jos nã o escondia sua impaciê ncia. — Por que você e Caroline nã o cuidam de tudo?

— Eu poderia ter me encarregado, se Netta tivesse pedido — disse Caroline, com uma vozinha cheia de doç ura.

— Pois agora eu estou pedindo. — Jos atirou a lista sobre a mesaperto da prima, tomou uma ú ltima xí cara de café e levantou-se para ir ao escritó rio. — Nã o tenho tempo para cuidar dessas bobagens.

Netta respirou fundo e começ ou a contar: um... dois... trê s... Nã o vou responder, pensou, nã o quero ficar nervosa, preciso pensar no bebê. Tinha vontade era de gritar, atirar coisas em Jos e Caroline, mas fez o possí vel e o impossí vel para se controlar, mas quase estourou quando Caroline falou:

— Quero alguns convites em branco para mandar a alguns amigos pessoais.

Ela nem ao menos tinha pedido, foi agindo como se fosse a dona da casa.

 

O rosto de Jos estava impassí vel enquanto estava ao lado de Netta na porta do salã o recebendo os convidados. Ela havia pensado em comprar um vestido para a ocasiã o, mas isso significaria ter que pedir dinheiro a ele, alé m de transporte até a cidade. Felizmente encontrou um traje adequado entre as roupas de Rosemary.

Era um vestido de seda pura, de um tom verde delicado que combinou perfeitamente com a cor de seus cabelos e o bronzeado que tinha conseguido. Era um modelo simples e elegante que nã o requeria complementos. Netta resolveu dispensar qualquer jó ia, usando apenas o anel de Jos. Isso seria suficiente.

Tinha sentido o olhar dele sobre ela enquanto descia para encontrá -lo na porta do salã o, já no ú ltimo minuto. Tinha feito de tudo para que a ocasiã o fosse perfeita e nã o estava disposta a provocar uma briga.

Netta olhou à sua volta e se sentiu satisfeita com o resultado dos preparativos. Tinha discutido vá rias vezes com Caroline, que queria contratar um conjunto musical mais moderno e outro bufê, que consi­derava mais na moda. No entanto, Netta tinha se mantido inflexí vel em sua decisã o e agora estava feliz em ver que acertara na escolha. A pequena orquestra de cordas e o bufê mais discreto e elegante combinavam perfeitamente com a casa antiga e os convidados de Jos.

Quando Netta se aproximou de Jos, ele a olhava fixamente.

— Você...

— Nã o estou atrasada, sã o exatamente oito horas, como combi­namos.

Os convidados começ aram a chegar logo em seguida e Netta foi beijada, cumprimentada e parabenizada da maneira mais amigá vel por todas aquelas pessoas, parentes e amigos, que tinha convidado e nem mesmo conhecia. Quando todos já estavam no salã o, ela sentiu uma pontada de tristeza com aquela ironia. Percebeu que todos os que eram chegados a Jos a tinham aceito com prazer, mas ele mesmo continuava frio e distante.

— Vamos abrir o baile?

Ele a tomou nos braç os, incrivelmente bonito em trajes de noite, e todos a olhavam como se ela fosse a mulher mais feliz do mundo. Como estã o enganados, pensou Netta, amargamente.

— Você danç a muito bem — disse Jos.

— Você també m — respondeu ela, cordialmente.

Simples banalidades, palavras formais que os mantinham ainda mais afastados. No entanto, depois de alguns minutos, Netta permitiu que o ritmo da mú sica a envolvesse e entregou-se aos braç os de Jos, esquecendo-se de tudo, da festa, dos convidados. Só tinha consciê ncia da presenç a dele, do seu corpo, do seu toque.

Oh, Jos! Como eu o amo! pensava.

Lembrou-se de quando o havia conhecido, da cerimô nia apressada de casamento, em Lak, e dos lí rios do Oriente. Tudo parecia tã o real, podia até sentir o perfume daqueles lí rios exó ticos. Ficou tã o envolvida pelas recordaç õ es que até confundiu os passos da danç a. Jos apertou-a com mais forç a, para que prestasse mais atenç ã o.

— O que foi? — ele perguntou.

— Nã o sei... é estranho... por um instante pensei ter sentido o perfume de lí rios.

Era ridí culo, é claro, nã o tinha encomendado lí rios para a decoraç ã o.

— É, o cheiro fica um pouco forte demais quando se chega perto deles. — Para seu espanto, Jos concordou com ela. Foi entã o que viu o grande vaso de lí rios amarelos-pá lidos perto de onde estavam.

— Mandei colhê -los agora à noite. Lembram um pouco os lí rios de Lak, nã o é?

A mú sica terminou e Jos virou-se para agradecer os aplausos dos convidados, que recomeç aram a danç ar quando o orquestra tocou outro nú mero. Netta cambaleou e pensou que fosse desmaiar. Ouviu uma voz conhecida, que parecia vir de muito longe.

— Dê uma bebida a Netta, ela está precisando.

— Sente-se por alguns instantes e beba isto. — Jos conduziu-a até uma cadeira e algué m pô s um copo em suas mã os.

Netta tomou um gole, sem capacidade para recusar. Nã o gostava de bebidas alcoó licas. Engasgou com o conhaque muito seco, mas se sentiu um pouco revigorada e começ ou a prestar atenç ã o à sua volta.

— Wendy! — Viu o rosto sorridente da amiga e o de seu marido logo atrá s. — E Harry! — Levantou-se imediatamente, completamente esquecida da tontura. — Quando chegaram? — Nã o tinha mandado um convite para eles porque nã o sabia se estavam na Inglaterra.

— Estamos chegando de Paris. Tive que ficar lá até terminar meus relató rios. — Harry abraç ou-a com alegria.

— Foi Jos quem nos encontrou. Telefonou a Paris, simplesmente implorando nossa presenç a. Nã o que tivesse que implorar muito, devo dizer. — Wendy sorriu alegremente —, mas prometi que nã o escre­verí amos para você, para fazer uma surpresa. — Ela olhou para Jos que estava ao lado deles.

— Ranjit mandou um recado para você — disse Harry.

— Ele está bem? Quando foi que falou com ele?

— Logo antes de sair de Paris. Ele mandou avisar que está bem e que só vai poder vir à Inglaterra dentro de uns trê s meses, depois que conseguir colocar todos os negó cios em ordem. També m disse alguma coisa sobre ter recuperado a maioria das montagens que foram deixadas no hotel. Falou que você ia compreender.

— Compreendo sim.

Jos també m compreendeu. Ela pô de sentir que ele ficou tenso, e seus pensamentos chegaram até ela como por telepatia. Agora ele sabia que a histó ria dela sobre as jó ias era verdade. Netta sentiuum vazio dentro do peito. Agora nã o era mais importante, as jó ias nã o tinham mais valor para ela, o ú nico valor de sua vida era Jos.

— Bem — disse Harry. — Acho que agora tenho direito de uma danç a com a dona da festa.

Ele pegou a mã o de Netta e puxou-a para o salã o. Ela se virou para ver se via Jos, mas ele tinha seguido o exemplo de Harry, tirando Wendy para danç ar. Logo, outros casais ficaram entre eles e Netta perdeu-o de vista. Sentiu uma sensaç ã o de abandono, mas continuou acompanhando a mú sica com Harry, seguindo maquinal-mente o ritmo.

— Você danç a maravilhosamente — disse ele, quando a mú sica acabou.

— Obrigada, mas agora estou precisando de um pouco de ar fresco.

— Venha, sente-se que eu vou buscar um refrigerante. — Harry pegou-a pelo braç o e levou-a até uma cadeira perto das enormes portas de vidro que se abriam para o terraç o que dava para o gramado.

Netta acomodou-se com um suspiro de alí vio, deliciando-se com a brisa fresca e perfumada que vinha do jardim. Algué m já havia ido buscar refú gio no terraç o, começ ou a ouvir movimentos no escuro e pensou em se levantar da cadeira. Devia ser um casal de namorados, imaginou, nã o gostaria de dar impressã o de que estou espionando. No entanto, quando seus olhos se acostumaram com a escuridã o, pô de ver um grupo de quatro ou cinco pessoas que estavam conversando perto de um dos pilares. Um homem falou e uma mulher respondeu. Era a voz de Caroline.

— É uma pena que nã o haja caç adas aqui em Thimbles, parece ser o lugar ideal. Deve haver um monte de raposas por esses campos.

— Oh, a famí lia de Jos é toda encucada por causa delas. — Havia sarcasmo na voz de Caroline.

Netta levantou-se rapidamente. Nã o tinha a mí nima intenç ã o de ficar ouvindo a conversa de Caroline e seus amigos.

— Continue sentada. — Jos apareceu do lado dela e entregou-lhe o copo de refrigerante que estava trazendo. — Nossos convidados estã o se deliciando com o bufê e, como estã o sendo bem atendidos podemos descansar um pouco.

Os dedos de Netta tremiam quando ela pegou o copo. Notou que ele tinha dito " nossos convidados" e " podemos descansar".

— Pensei... Harry disse...

— Encontrei Harry quando vinha para cá, tirei o copo da mã o dele e vim em seu lugar. Agora, beba.

Ele nem precisava ter insistido. As pernas de Netta estavam tã o fracas que ela nã o conseguiria levantar-se. Abaixou os olhos e começ ou a beber, mas parecia que sua garganta ainda continuava seca. Nã o se atrevia a olhar novamente para Jos. Aqueles olhos dourados estavam sempre duros quando os dois conversavam, e parecia que Jos sempre tinha alguma palavra de reprovaç ã o quando se dirigia a ela. O que teria feito agora? O que teria saí do errado?

Nã o posso passar a noite inteira com o nariz enfiado dentro de um copo, pensou Netta, quase histé rica, e arriscou um olhar para Jos. Ele nã o parecia bravo, sua expressã o era calma, apesar de ele a estar olhando fixamente.

— Deixe o copo aí e vamos sair para dar uma volta no jardim.

Netta nã o sabia o que dizer. Demorou procurando um lugar onde pô r o copo, tentando ganhar tempo para se recompor dá surpresa.

Nesse momento, ouviu novamente a voz de Caroline:

— Quando Jos e eu estivermos casados, vou fazer com que ele mude de idé ia sobre as caç adas.

Netta sentiu uma onda de pavor. Será que era por isso que Jos a tinha convidado para passear no jardim? Para dizer que pretendia se casar com Caroline? Será que nã o tinha coragem de enfrentá -la cara a cara, sob as luzes, e estava querendo falar com ela na penumbra do jardim? Virou-se para ele, para dizer que nã o iria, quando viu que Jos já tinha ido na sua frente e estava atravessando o terraç o com seu passo silencioso.

— Pensei que Jos fosse casado com aquela mocinha de cabelos vermelhos que estava do lado dele quando chegamos — disse um dos homens.

— Oh, eles estã o casados... por enquanto. — A voz de Caroline mostrava claramente seu desprezo. — É uma bobinha qualquer que ele conheceu em Lak. Os dois foram apanhados no meio de umaguerra civil ou coisa parecida. Sabe, os homens costumam fazer atos quixotescos em situaç õ es com essa. Felizmente, hoje em dia essas coisas sã o fá ceis de se consertar.

É verdade, pensou Netta, sentindo os olhos cheios de lá grimas. Já está na hora de tudo acabar... Fazendo um esforç o, lutou contra a vontade de chorar e foi atrá s de Jos, que já estava chegando perto do grupo de Caroline, que nã o parecia ter notado a sua aproximaç ã o.

— Podem ter certeza de que no ano que vem haverá caç adas em Thimbles. — Caroline continuava a conversa, cheia de confianç a.

— Você nã o está cuidando bem dos seus convidados, Caroline. — Jos falou logo atrá s dela e havia gelo em sua voz. A moç a levou um susto e uma expressã o de desalento se espalhou pelo seu rosto.

— Eu... eu...

— Sirva-lhes alguma coisa. — Ele interrompeu o que ela ia dizer com toda a suavidade e imediatamente virou-se para Netta: — Cuidado com o degrau.

Jos cumprimentou o grupo com um movimento de cabeç a, pegou o braç o de Netta e guiou-a até o gramado. Ela mal podia ver para onde iam. Seus olhos estavam cheios de lá grimas e dava graç as pela semi-escuridã o, que ia aumentando à medida que se afastavam da casa. Estremeceu.

— Você nã o trouxe um abrigo. Tome o meu paletó. — Sem esperar por uma resposta, Jos tirou o paletó e colocou-o sobre os ombros de Netta. Depois, disse suavemente: — Você é tã o pequenina, fica parecendo um sobretudo.

O paletó estava quente, era calor do corpo dele, mas nada, nada podia combater o frio que tinha tomado conta de Netta, que vinha de dentro dela e nã o da brisa fresca da noite.

— Ele vai cair. — Netta levantou as mã os para segurar o paletó que estava começ ando a escorregar, mas Jos adiantou-se passando os braç os por suas costas. Segurava o paletó e segurava Netta contra seu corpo. Ela falou apressadamente, procurando o primeiro assunto que lhe ocorreu, porque nã o podia suportar essa proximidade sabendo que, na verdade, estavam a quilô metros de distâ ncia um do outro.

— Foi muito gentil em ter convidado Wendy e Harry.

— Foi um alí vio saber que eles estavam bem. E seu cliente també m.

— Pelo menos agora você tem prova de que nã o sou nenhuma ladra.

— Você foi uma ladra. E continua sendo.

Netta enrijeceu-se como se tivesse levado uma bofetada. Quis soltar-se dos braç os dele para poder olhá -lo frente a frente, para fazê -lo engolir aquelas palavras. Entã o ele falou de novo, muito suavemente, puxando-a mais para perto dele com uma forç a que, mesmo com toda a sua raiva, Netta nã o conseguiria resistir.

— Você roubou meu coraç ã o. — Ele falou tã o baixinho que Netta pensou que tivesse entendido mal, e mesmo depois de compreender, ainda nã o estava acreditando. — Você roubou meu coraç ã o no primeiro momento em que a vi, em Lak. Você ainda está com ele, e vai ficar com ele porque eu nã o o quero de volta.

Seria um sonho? Devia ser sua imaginaç ã o. A tensã o daqueles dias, a festa, tudo isso havia confundido seus pensamentos. Estava ouvindo as palavras que seu coraç ã o queria ouvir, mas estava imagi­nando tudo. Mas nã o, a mú sica que vinha da casa, o pio de uma coruja nas á rvores, tudo isso era muito real, eram coisas tangí veis e. nã o parte de um sonho.

— Netta... querida... eu a amo. — A voz de Jos vibrava de paixã o e ele a segurava como se tivesse medo de perdê -la. — Eu a amo, eu adoro você. Diga que me ama també m.

Agora, incrivelmente, Netta percebeu que nã o estava sonhando. Estava ouvindo as palavras que jamais sonhou que Jos iria dizer. Ficou em silê ncio, querendo ouvir mais, mas ele pareceu nã o entender.

— Sei que nã o devia ter forç ado você a se casar comigo — gemeu Jos, quando viu que ela nã o falava. — Foi errado, mas senti um medo terrí vel de perdê -la.

— Você se casou comigo para podermos tomar o aviã o com o resto do pessoal da embaixada. — Netta finalmente conseguiu falar, levantando o rosto para ele, como se fosse mais uma flor no jardim.

— Foi mentira — confessou Jos. — Você podia ter tomado o aviã o sem ser casada comigo. Mas se eu deixasse isso acontecer, você voltaria para a Inglaterra, eu poderia perder o contato com você, talvez nunca mais a visse. Nã o conseguiria suportar isso! — Ele a apertou ainda mais, começ ando a beijar os cabelos ruivos de Netta.

— Eu també m amo você. Sempre o amei.

— Nã o quero perdê -la, Netta — gemeu Jos. — Nunca!

— Nã o, querido, estaremos sempre juntos. Nosso amor vai durar para sempre.

Netta levantou as mã os e puxou o rosto de Jos para perto dela correspondendo, cheia de emoç ã o, à pressã o dos lá bios dele nos cabelos, nos olhos, na boca, no pescoç o, sentindo uma felicidade que nunca pensou que iria experimentar.

— Fiquei apaixonado no primeiro instante em que a vi na embai­xada — disse Jos com um sorriso quando finalmente parou de beijá -la.

Netta aninhou-se em seus braç os, incrivelmente feliz.

— Amanhã estaremos finalmente sozinhos. Os convidados irã o embora e ficaremos só nó s dois.

— E Caroline?

— Caroline irá embora amanhã, logo cedo. — A voz de Jos voltou a ficar dura e rí spida. — Tenho tolerado seu comportamento por causa dos pais dela, gosto muito deles, mas, desta vez, Caroline foi longe demais. Nunca mais vai voltar a Thimbles.

— Olhe, Jos, quando nã o fui andar a cavalo naquela manhã nã o foi por causa de Caroline. Eu realmente nã o estava me sentindo bem...

— Sei que você nã o faria isso. — Ele a beijou docemente.

— Você ficou bravo.

— Fiquei desapontado. Queria tanto sair com você, estava criando uma oportunidade para ficarmos sozinhos, para podermos conversar. Você percebeu que desde que nos casamos mal tivemos alguns minutos completamente a só s, sem preocupaç õ es, sem algo entre nó s?

— As jó ias. ..

— Os rebeldes... Havia sempre alguma coisa.

— A nã o ser na caverna — lembrou Netta baixinho.

— Sim, na caverna. — Jos beijou-a cheio de paixã o por um longo tempo.

— Agora poderemos sair juntos sempre que você quiser — disse ele alegremente. — Será que nã o vai ter medo? Depois daquele susto quando a é gua disparou! Minha querida — ele a apertou ainda mais e sua voz tremeu com a lembranç a —, pensei que fosse perdê -la para sempre. Nunca experimentei tanto medo!

— Nã o vou poder montar por um bom tempo.

— Logo você vai se esquecer de tudo que passou. Pena que Fleet nã o esteja em condiç õ es de ser montada. Ela é mansa como um cordeirinho.

— Depois que o nosso filho nascer eu poderei montá -la.

— Nosso... filho?

Jos ficou em silê ncio por alguns minutos, seus olhos dourados brilhando com uma alegria indescrití vel. Ele abraç ou Netta com uma ternura imensa, com se quisesse prendê -la para sempre junto de si, ela, seu filho e seu futuro...

— É por isso que você está cada vez mais linda — murmurou Jos, depois de alguns momentos de encantamento. — Tentei lhe dizer isso quando desceu a escada, mas você pensou que eu fosse dizer que estava atrasada.

Ele sorriu com a lembranç a e Netta começ ou a abrir a boca para falar. Os lá bios de Jos procuraram os dela, silenciando as palavras que nã o mais precisavam ser ditas.

 

FIM

 


 

 



  

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