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CAPÍTULO II
— Nã o tenho nem mesmo provas de que Le Renard nã o é casado, Wendy. Só sua palavra. — Netta escovava os cabelos vermelhos, cheia de energia. Wendy levantou-se, com os olhos arregalados. — Claro que ele nã o é casado! — exclamou, escandalizada — Jos é um homem honrado. É da famí lia de Courcey, de Long Minton. Harry e eu o conhecemos há anos. — Por mim, podia ser até dos de Courcey da Conchinchina, nã o faz a mí nima diferenç a. — Jos é inglê s. O sobrenome é francê s, mas a famí lia está na Inglaterra desde a Idade Mé dia. Desde que o velho barã o morreu, é ele o proprietá rio de Thimbles. — Nã o me diga que, alé m do apelido, aquele homem tem um tí tulo de nobreza! — Netta gemeu, fazendo uma careta. — Nã o — disse Wendy, com uma risada —, ele só herdou as terras, nã o o tí tulo. — Wendy, Netta! — a voz de Harry interrompeu a conversa. — Jos já está esperando. — Pois que espere — resmungou Netta. Depois, lembrando-se do rosto aflito do jovem pai que estava no andar inferior, pô s a escova sobre a penteadeira e disse: — Já estou indo! Sentiu as pernas pesadas enquanto descia as escadas, seguindo Wendy. Algué m tinha lembrado de enfeitar a sala para a ocasiã o, colocando dois grandes vasos de lí rios nativos, de cor amarelo-pá lida, que tinham um perfume penetrante. Acho que, de hoje em diante, vou passar a odiar o perfume de lí rios, pensou Netta. enquanto seus olhos percorriam o salã o, examinando as pessoas que tinham vindo assistir à cerimô nia. Alé m do pessoal da embaixada, estava presente um homem vestindo um uniforme militar e um velho que tinha todo o tipo de um funcioná rio pú blico. — As funç õ es dele sã o equivalentes à s de nossos juizes de paz — murmurou Wendy. — Terí amos preferido o padre da missã o, mas... — Missã o? — Netta virou-se rapidamente, uma idé ia surgindo em seu pensamento. — Será que eu nã o... — começ ou, e logo foi interrompida por Jos. — Nã o, você nã o pode ficar na missã o. Vai voltar para a Inglaterra comigo. Por falar nisso, eu nem ao menos sei o seu nome certo. Acredito que Netta seja um dí minutivo, um apelido de famí lia, como Jos. — Havia uma nota de bom humor em seu rosto, quando ele fez essa observaç ã o. — Meu nome é Garnet — disse Netta, rigidamente. Nã o estava vendo motivo nenhum para achar graç a da ocasiã o. — Muito adequado — disse ele, inclinando a cabeç a, num gesto gozador. — Garnet. Quer dizer granada, nã o é? Uma pedra semipreciosa. Será que estava sendo sarcá stico? Netta olhou-o cheia de suspeitas. — Harry contou-me sobre a sua famí lia e o seu trabalho. Quer dizer que tinha feito perguntas a Harry, tal como ela fizera a Wendy, para tentar descobrir alguma coisa. Bem, pelo menos nesse aspecto, estavam empatados. A esta altura ele já estaria sabendo que ela era filha de John Vaughan, o renomado joalheiro. Talvez, seguindo essa linha de pensamento, ele já tivesse alguma idé ia dos negó cios que a tinham levado a Lak. Sentiu-se um tanto inquieta, mas logo se acalmou ao perceber que Le Renard nã o poderia estar a par dos detalhes. Como num sonho, ouviu a voz do velho que equivalia ao juiz de paz e a voz forte de Jos logo em seguida. — Eu. Joseph, recebo você, Garnet... na alegria e na dor... Na alegria e na dor... mas nã o por muito tempo, acrescentouNetta mentalmente. Assim que estivessem na Inglaterra, em seguranç a... — Para amar e respeitar... Pode esquecer isso també m, pensou ela furiosamente. Seria sua esposa só no nome, só até atingirem um lugar seguro. O fato de estar se casando com ela, nã o iria lhe dar quaisquer direitos ou privilé gios. Jos virou-se para ela, tirou um anel feminino de ouro de seu dedo mí nimo e, com dedos firmes, pegou a mã o de Netta e colocou-o. Surpreendentemente, ele se ajustou perfeitamente. Netta olhou para a superfí cie artisticamente trabalhada e a experiê ncia adquirida trabalhando com o pai logo lhe assegurou que era uma peç a muito antiga. Provavelmente uma heranç a de famí lia. Mais tarde, logo que fosse possí vel, iria devolvê -lo a Jos... Sentiu seus olhos se encherem de lá grimas. Seu coraç ã o estava triste. Nenhum casamento devia acontecer num lugar como aquele. Sempre tinha sonhado em se casar na pequena igreja que costumava freqü entar perto de sua casa, em Londres. — Eu agora os declaro marido e mulher. — Tente fingir que está alegre, o chefe militar está observando tudo. Jos puxou-a para perto dele e resmungou alguma coisa a respeito do beijo nupcial. Abaixou a cabeç a para ela e Netta levantou o rosto, se bem que um tanto relutante, para cumprir a tradiç ã o e satisfazer os soldados presentes. Mas a situaç ã o nã o exigia que os lá bios dele devessem permanecer nos dela, explorando sua doç ura ainda nã o experimentada. Poré m, sem qualquer aviso, esses lá bios se modificaram e se incendiaram com uma paixã o urgente e exigente que a tomou completamente de surpresa. Foi como se um raio percorresse suas veias, tocando cada nervo de seu corpo, enquanto tomava consciê ncia de quem era o homem que a segurava nos braç os. Seu marido... Por alguns segundos Netta ficou quieta em seus braç os, e a feminilidade que tinha estado adormecida durante todos os seus vinte e seis anosdesabrochou como uma flor sob o poder daquele beijo. Sentiu-se impotente para resistir e, quase sem perceber, viu-se correspondendo beijo por beijo, numa â nsia que nunca imaginou seria capaz de sentir até ser ensinada por Jos de Courcey, naquele momento emocionante. Quando ele levantou a cabeç a, Netta nã o precisou fingir para enganar as autoridades. Seu rosto estava iluminado e seus olhos brilhavam, refletindo a luz interior que tinha sido ativada pelos votos solenes que tinha acabado de fazer e pela louca, maravilhosa e impossí vel convicç ã o de que nã o se lamentava por isso. — Meus parabé ns, sra. de Courcey — disse o chefe militar. Ela ouviu seu nome de casada pela primeira vez. O homem nã o sorriu quando o pronunciou. Ele a olhou com um olhar duro, seco, oficial e, repentinamente, Netta sentiu uma onda de frio percorrer todo seu corpo. Nã o foi por medo ou por causa da cerimô nia que tinha sido realizada, mas por ter percebido o verdadeiro perigo por trá s da atitude de Jos. " Tente fingir que está alegre", tinha dito. E, para dar maior realismo à ocasiã o, ele a beijara. Nã o porque quisesse, mas porque queria impressionar os soldados. A paixã o que tinha despertado aqueles sentimentos nã o era mais do que um gesto teatral para impressionar militares. Netta sentiu-se traí da. Ele nã o precisava ter sido tã o convincente. Seu excesso de entusiasmo nã o só tinha convencido os soldados como també m a tinha enganado. Uma flor que desabrocha ao calor do sol nã o pode mais voltar a ser um botã o. Quando tomou consciê ncia do que Jos havia feito, todo o brilho desapareceu de seu rosto e de seus olhos. Aquela nova vitalidade que tinha sido despertada fugiu do seu coraç ã o e o espaç o vazio foi preenchido por uma dor e uma agonia que jamais havia sentido. Suas pernas ficaram fracas e precisou apoiar-se em Jos para nã o cair, dando ainda mais realismo à cena que estavam representando para as autoridades. Ele nã o devia ter feito isto comigo, pensou. Uma onda de raiva começ ou a surgir das profundezas de toda aquela dor e tristeza. Raiva contra aquele homem que a obrigara a se casar com ele. Quis arrancar o anel de seu dedo, atirá -lo longe, mas viu o olhar do chefe militarsobre ela e permaneceu imó vel. Aquele cí rculo de ouro parecia queimar o seu dedo. — Espere por mim aqui. Voltarei quando o aviã o estiver pronto para partir. — Jos beijou-a levemente no rosto em despedida. Ainda está fingindo que é um marido apaixonado, pensou Netta amargamente. — Bem, vamos acabar de fazer as malas — disse Harry a Wendy, voltando aos assuntos mais prá ticos. O chefe militar dirigiu-se a todos que estavam na sala. — Só poderã o levar bagagem de mã o. Ningué m deverá carregar mais do que o absolutamente indispensá vel para passar uma noite. E lembrem-se: toda a bagagem será revistada, portanto obedeç am as instruç õ es. — Isto significa que nã o poderei levar meus arquivos — Harry franziu a testa quando a porta se fechou atrá s do oficial. — Vamos — disse, dirigindo-se agora ao corpo diplomá tico —, nã o temos tempo a perder. Precisamos destruir todos os papé is antes de sair. — Bem, vou subir para arrumar nossas coisas — decidiu Wendy. — E eu vou pegar algumas coisas no hotel. — Netta tinha que apanhar algumas roupas, como todos os outros, mas o que mais desejava era se apoderar do pacote que tinha motivado sua ida a Lak. " A bagagem será revistada... " A advertê ncia do soldado foi dirigida a Harry, mas atingiu outro alvo també m, pensou Netta. Estava decidida a levar consigo o conteú do do pacote. Mas como conseguiria escondê -lo para burlar uma revista? Um mê s atrá s, em sua elegante casa numa praç a tranqü ila de Londres, conversando com um cliente de seu pai, parecia que tudo ia ser muito fá cil. — Pode ficar tranqü ilo, Ranjit, eu mesma irei buscar as jó ias que você está querendo remontar, assim teremos muito mais tempo para fazer o serviç o. Você estará mesmo fora da Inglaterra até a pró xima primavera e, quando chegar, talvez já encontre tudo pronto. Já tem idé ia do que temos de fazer, papai? — É o mesmo de sempre. Substituiremos as pedras originais por pedras sinté ticas, usando a montagem original. Vou ter de examinar os engastes para ver quais sã o suas condiç õ es. — John Vaughan virou-se para seu cliente: — Pelo que sei, Ranjit, essas peç as tê m estado com sua famí lia há vá rias geraç õ es e já devem estar bastante gastas. As partes esmaltadas certamente ainda estarã o boas, mas as de ouro sã o muito mais moles, talvez já tenham se desgastado. — Nó s as restauraremos com perfeiç ã o — disse Netta, com a certeza e confianç a que só uma grande experiê ncia e habilidade podem dar. — Poderemos até fazer có pias — disse o joalheiro. — Ranjit trouxe umas fotografias excelentes, em tamanho ampliado. Se ele quisesse poderí amos até deixar os originais onde estã o. — Ainda quero que as jó ias venham para Londres. Vou depositá -las em meu cofre no banco. — Neste caso — sorriu Netta —, avise-me quando voltar para Lak, assim que terminar esta viagem de negó cios. Pegarei as peç as e logo começ aremos o trabalho. Ainda acho que é uma pena, mas... Era o tipo de encomenda muito comum, mas Netta sempre lamentava a necessidade de se esconder a beleza de pedras preciosas dentro das paredes de um banco. Mesmo depois da substituiç ã o por pedras sinté ticas, o valor das jó ias ainda seria extremamente alto mas, ainda assim... — É muito mais seguro usar material sinté tico — disse o pai, mas em seus olhos també m havia um pouco de pena. Mais tarde, depois que Ranjit saiu, Netta ficou surpresa ao ver a preocupaç ã o estampada no rosto do pai. — Nã o estou muito contente com a idé ia de você ir buscar aquelas jó ias em Lak. Existem rumores de tensã o polí tica. — Ora, papai, há tensã o em todos lugares, até mesmo aqui em nosso paí s. Há sempre algué m discordando de algué m por causa de alguma coisa. — Netta estava tã o habituada a fazer esse tipo de viagem, para buscar peç as para serem restauradas, que nem levou a preocupaç ã o do pai a sé rio. — Alé m disso, papai, vou aproveitara oportunidade para fazer uma visita a Wendy, nã o a vejo desde que estivemos juntas em Paris. — Nesse caso... Pensando bem, també m nã o deve ser um volume muito grande. Pelo que Ranjit me contou, sã o na maioria, ané is, brincos, enfeites de cabelo e algumas pulseiras, todos de uso pessoal da famí lia dele. Mesmo assim, eram suficientemente grandes, a ponto de se tornar um problema, agora que teria que enfrentar uma revista de bagagem. Pela primeira vez, Netta começ ou a se arrepender de nã o ter ouvido os conselhos de Ranjit assim que chegou a Lak. — Estou muito preocupado, acho que nã o vou deixar que as leve. Com toda esta situaç ã o polí tica, poderia ser muito arriscado para você. — Ranjit, que era um cliente de muitos anos e que já tinha se tornado amigo da famí lia, estava mais preocupado com ela do que com as jó ias. — Nã o haverá risco algum. Vou direto para a embaixada e sairei do paí s com os funcioná rios. Nã o há nada mais seguro para estas peç as, já soube que os rebeldes do norte estã o roubando todos os tesouros. — E o pior é que nã o estã o usando os fundos para uma boa causa — disse Ranjit, sombrio. — Nã o gostaria de contribuir para algo de mau para o meu paí s. Ranjit nã o teve outra alternativa senã o concordar com Netta, e era por isso que, nesse instante, a moç a estava preocupada em contrabandear as jó ias para fora de Lak, um subterfú gio que teria sido totalmente desnecessá rio em tempos normais. Pensou em falar com Harry, em pedir a sua ajuda, mas logo desistiu. O pobre homem já tinha problemas demais. Depois, pensou em Jos. Talvez pudesse contar tudo a ele. — Nunca! — disse Netta, em voz alta. — Ele iria me obrigar a devolvê -las a Ranjit. Enquanto percorria as ruas desertas até o hotel, lembrou-se de que Jos havia lhe dito para ficar na embaixada esperando por ele. Bem, ele teria que engolir a desobediê ncia. Precisava de algumas roupas, isso era uma boa desculpa, e nã o parecia haver nenhum perigo deimediato. A ú nica pessoa que encontrou em todo o caminho foi o dono do hotel, que estava pregando tá buas de madeira nas janelas do pré dio para proteger os vidros. O homem pareceu ficar muito aliviado quando Netta pediu-lhe para tirar o pacote que estava guardado no cofre por já estar de partida. — Nã o vou me demorar mais do que meia hora — disse ela, e correu até o seu quarto, fechando a porta com um suspiro de alí vio. Precisava de alguns momentos de solidã o depois dos acontecimentos das ú ltimas horas. No entanto, o barulho das marteladas a fez lembrar de que nã o podia perder tempo. Rapidamente abriu o pacote que Ranjit lhe havia entregue e espalhou o conteú do em cima da cama. — Nunca vou conseguir esconder tudo isto — disse em voz alta, cheia de desâ nimo. O militar tinha falado sobre uma revista na bagagem, mas nã o podia descartar a possibilidade de uma revista pessoal. Nã o podia levar as jó ias nos bolsos: seria muito arriscado. Usá -las, era impossí vel. Afinal, no momento em que estava se casando, usava somente um reló gio, e o chefe militar, que estava assistindo a tudo com muita atenç ã o, certamente notou isso. Alé m do mais, aquelas jó ias eram peç as antigas, desenhadas para serem usadas com sá ris, e jamais combinariam com um traje esportivo, nem passariam despercebidas. Netta franziu a testa, ainda pensando no que poderia fazer. Finalmente, encolhendo os ombros, pegou sua caixinha de manicure. Era puro vandalismo, sabia muito bem disso, mas nã o tinha outra escolha. Começ ou a trabalhar, retirando as pedras preciosas das montagens em ouro e esmalte. Nã o foi fá cil. Vá rias vezes os instrumentos escaparam, ferindo seus dedos, mas Netta continuou obstinadamente. As gemas engastadas em ouro saí ram com certa facilidade, mas as montadas em esmalte demoraram muito tempo para ser retiradas. Em sua oficina em Londres, com instrumentos adequados, essa operaç ã o teria sido realizada sem nenhum arranhã o nas peç as ou dificuldade, mas ali, lutando contra o tempo, as peç as ficaram totalmente danificadas. Olhando os broches, brincos e braceletes sobre a cama, entortados, as garras quebradas, sem as pedras preciosas, Netta disse em voz baixa: — Que maldade! Felizmente, temos fotografias para fazer có pias exatas, mas, se isto pudesse ser evitado... Bem, graç as a Deus já terminei. Escondeu as peç as no fundo de uma gaveta, atrá s das roupas que ia deixar no hotel, e passou a se preocupar em como iria levar as gemas. — E agora, o que vou fazer com isto? Olhou para a pequena pilha de pedras preciosas: rubis, esmeraldas, diamantes e safiras de valor incalculá vel. Onde poderia esconder esse tesouro? Nervosamente, passou os dedos pelo có s das calç as. Estava suada, sentia-se desconfortá vel. Nesse momento, teve uma idé ia. — O có s das calç as! — murmurou. — Por que nã o pensei nisso antes? Sua indecisã o já tinha lhe custado minutos preciosos. O có s era largo, duplo, formaria um tubo perfeito em volta de sua cintura, e com as pontas fechadas pelo zí per, um esconderijo ideal. Netta tirou as calç as, pegou a tesourinha de unha e abriu um pedacinho da costura, por onde começ ou a enfiar as pedras, distribuindo-as pelo có s de modo a nã o formarem um ú nico volume. De repente, ouviu os passos do dono do hotel no corredor. Tinha dito a ele que nã o iria levar mais do que meia hora e já devia ter passado mais do que isso, o homem estaria ali para chamá -la. Logo ouviu sua voz perguntando se já estava pronta para sair. — Estou terminando de me vestir! — disse Netta, atravé s da porta fechada. Com os dedos trê mulos, enfiou uma linha na agulha com alguma dificuldade e costurou cuidadosamente a abertura que tinha feito. Estas sã o as calç as mais valiosas que já usei, pensou enquanto se vestia. Começ ou a enfiar a camisa de seda por dentro do có s e parou automaticamente. Seria melhor usá -la por fora, disfarç aria melhorainda qualquer volume. Mas a camisa já estava usada e amassada na cintura, e Netta perdeu mais alguns minutos trocando-a por uma outra, limpa e passada, que estava no armá rio. — Bem. agora só falta o filme da viagem — disse baixinho. — Certamente nã o vou deixá -lo para trá s. Durante sua viagem de fé rias, participando de um safá ri fotográ fico, Netta fotografara vá rias flores exó ticas que jamais tinha visto anteriormente, com a intenç ã o de usá -las como inspiraç ã o para criar novos modelos de broches e outras jó ias. Era essa a sua especialidade e o seu nome já estava começ ando a ficar quase tã o conhecido como o do pai no ramo da joalheria. — Nã o vai adiantar tentar levar a câ mara, é quase certo que irã o confiscá -la. Deu uma olhada relutante para o sofisticado equipamento fotográ fico e para o resto das coisas que teriam que ficar no hotel e só guardou o filme no fundo da bolsa, uma sacola a tiracolo contendo o mí nimo indispensá vel, e saiu do quarto. O proprietá rio do hotel estava nervoso, esperando no corredor. — Deve partir imediatamente, senhorita. Por favor... — O homem estava muito assustado. — Nã o, por aí, nã o! — disse ele, quando a viu dirigindo-se para a escadaria principal. — Pelos fundos, é mais seguro. Indicou o caminho e foi andando na frente de Netta por corredores mal iluminados por causa das tá buas nas janelas. Passaram pela cozinha e por toda a á rea de serviç o do hotel até chegar a uma pequena porta que o homem abriu com mã os trê mulas. — Por aqui, senhorita. Vá depressa, eles já estã o chegando. Assim que Netta passou, ele bateu a porta atrá s dela e trancoua fechadura. A moç a deu uma olhada apreensiva à sua volta. Estava num beco atrá s do hotel que, segundo imaginava, devia ser paralelo à rua onde ficava a entrada principal. No entanto, enquanto estivera seguindo o homem pelos corredores desconhecidos, tinha perdido todo o sentido de orientaç ã o. Finalmente, conseguiu ver parte do telhado da embaixada. Tinha que chegar lá o mais rá pido possí vel, já estavacomeç ando a escurecer. Deu uma olhada para o reló gio, viu que tinha menos de dez minutos antes do toque de recolher. Harry já a avisara sobre os riscos que correria se fosse encontrada, andando pelas ruas depois da hora determinada, que tinha sido imposta pelo estado de emergê ncia. Alé m disso, logo o aviã o iria chegar e nã o podia deixar todos esperando por ela. Que caminho devia tomar? Netta olhou para os dois lados, ainda indecisa. O beco era curvo, nã o conseguia ver as extremidades e nã o parecia haver qualquer diferenç a em qual caminho seguir. Resolveu ir pela direita, imaginando que, acompanhando sempre a parede lateral do pré dio do hotel, logo chegaria à avenida principal, por onde chegaria facilmente até a embaixada. Bem, se estiver errada, poderei voltar a ir pelo outro lado. pensou, mas sabia que nã o haveria tempo suficiente. Tornou a olhar cuidadosamente pelo beco, procurando uma passagem, mas parecia que todos os pré dios eram fechados por muros altos. Netta sentiu seu coraç ã o bater forte, acelerado, como se ele també m estivesse consciente da carga valiosa que ela carregava em volta da cintura. Respirava com dificuldade, ofegante, parte pela pressa com que estava andando, parte por causa da tensã o, mas, apesar de nã o querer admitir, o motivo verdadeiro era por medo do que Jos iria dizer se chegasse à embaixada antes dela e nã o a encontrasse, apesar da sua ordem expressa de que Netta devia esperar por ele ali mesmo. Quando foi chegando ao fim do beco, começ ou a ouvir ruí dos que ecoavam nos muros altos. Ouviu a freada de um veí culo e os gritos de protesto de um homem, em lí ngua desconhecida. Até aqui existem maus motoristas, pensou, dando uma risadinha e continuando a andar, sentindo-se mais relaxada. Harry tinha dito que a maioria dos cidadã os já tinha fugido mas, certamente, ainda restavam vá rios deles na cidade; pessoas que, como ela, deviam estar se apressando para voltar para casa antes do toque de recolher. Logo que chegasse à avenida, perguntaria a algué m se havia um modo mais rá pido de alcanç ar a embaixada. Em poucos minutos ficaria muito escuro; a noite, nos tró picos, costuma cair rapidamente e Netta nã o tinha o menor desejo de se ver andando pela escuridã o numa cidade desconhecida. Chegou ao fim do beco que, como suspeitava, dava para a avenida, só que a uma distâ ncia um pouco acima do hotel, onde havia uma praç a que, em tempos normais, devia ter sido um ponto de lazer para os moradores daquela cidade. Imediatamente percebeu de onde vinham os ruí dos que estava escutando. Vá rios caminhõ es, de diferentes modelos e estados de conservaç ã o, estavam desordenadamente estacionados em volta da praç a e um grande nú mero de homens saltava de dentro deles. Devem ser trabalhadores chegando dos campos, pensou Netta. ansiosos para voltar para casa antes do toque de recolher. Os homens conversavam em altos brados e um deles, que parecia ser o lí der, gritava ordens com voz ainda mais alta. Netta nã o entendia uma ú nica palavra do que estava dizendo, mas podia perceber que estava furioso. Deve ser o capataz, pensou, e pelo jeito é muito exigente. E estã o todos armados! A espantosa verdade caiu sobre ela como um jato de á gua fria. Nã o eram trabalhadores, era um bando de rebeldes chegando à cidade! Eles já estã o aqui! Sem mais nenhum segundo de hesitaç ã o. Netta deu meia-volta e correu de volta para o beco. Seu coraç ã o começ ou a bater desesperadamente e ela sentiu uma pontada do lado direito do corpo, causada pelo esforç o fí sico. A dor a fez diminuir o passo apesar de ainda estar ouvindo as vozes atrá s dela. Continuou em direç ã o à outra saí da e, repentinamente, percebeu o que estava acontecendo. Eles estã o vindo pelos dois lados! Sentiu seu coraç ã o na garganta e parou, petrificada de medo, encostando-se na parede para nã o cair, olhando para a turba ululante que estava vindo pelas duas direç õ es. O beco tinha a forma de uma ferradura, com as duas extremidades dando para a avenida, e os rebeldes estavam avanç ando pelos dois lados. Netta sempre tinha ouvido falar em revoltas, rebeliõ es, guerras civis. Estavam em todas as manchetes de jornais e revistas em letras grandes e sempre apareciam em letras miú das nas apó lices de seguro: " Em caso de rebeliã o, insurreiç ã o, golpe militar... " agora sabia, sentia na pró pria carne o que isso significava. A massa que estava se aproximando dela estava incitada e quase histé rica pelos gritos de seu lí der, e todos estavam armados até os dentes, decididos a procurar encrenca... E ela com as jó ias de Ranjit em volta da cintura. Estava perdida! A multidã o ainda nã o a tinha visto, sua roupa cor-de-areia se confundia perfeitamente com a cor das paredes à sua volta, camuflando-a. Tenho que voltar para o hotel, pensou, desesperada. Andando vagarosamente, colada contra os muros dos pré dios, chegou até a porta e começ ou a bater desesperadamente. — Nã o é esta! Netta olhou para ela quase sem conseguir acreditar no que estava vendo. A porta pela qual tinha saí do era azul, parecia ter sido pintada há pouco tempo, e esta era escura, desbotada, com a pintura já descascada. — Nã o pode ser — murmurou, desesperada —, tenho certeza de que ficava por aqui. Tem que ser a pró xima, entã o. A pró xima parecia estar a quilô metros de distâ ncia para Netta, mas, na realidade, nã o estava a mais de alguns metros. Os gritos da multidã o enfurecida, que a cada segundo pareciam ficar mais altos, fizeram o pâ nico tomar conta de todo o seu corpo, embotando seu cé rebro, destruindo sua capacidade de pensar. O rugido que vinha dos dois lados do beco estava chegando cada vez mais perto e, se um ú nico rebelde fizesse uma das curvas, ela logo seria avistada e nã o teria como escapar. Netta atravessou o beco com um salto, colando-se contra a parededo outro lado, onde a curva era mais fechada. Pelo menos teria mais alguns segundos e poderia atravessar novamente, quando chegasse em frente a porta azul. Logo à sua frente havia uma estrada escura formada por um arco e assim que passasse por ele... — Nã o grite! Um braç o saiu de dentro da escuridã o e se prendeu como um tentá culo em volta da sua cintura, arrastando-a para a sombra. A outra mã o se fechou sobre a sua boca, sufocando o grito que tinha começ ado a sair da sua garganta e tampando o seu nariz, impedindo-a de respirar. Netta começ ou a lutar. — Fique quieta! — rosnou uma voz grossa e impaciente. — A nã o ser que queira ser apanhada por aqueles doidos! Foi o choque e nã o a ordem que foi dada que a imobilizou. A voz falou num inglê s perfeito e pertencia a... estava certa que era a de... — Jos! — Quieta! — ordenou ele, tenso, e carregou-a atravé s da porta, passando o ferrolho assim que ela se fechou atrá s deles. — Mas como... por quê? Como resposta, ele a beijou. Seus lá bios se aproximaram dos dela, separando-os com uma pressã o forte e Netta perdeu toda a vontade de fazer perguntas. Aquela mulher ardente que havia sido despertada há poucas horas, que a pró pria Netta ainda nã o conhecia muito bem, voltou a reviver sob o toque dos lá bios de Jos. Tentou evitar o sentimento que estava se apossando dela, mas foi inú til. Seus sentidos vibraram com a proximidade dele e, sem nem mesmo perceber o que estava fazendo, seus braç os se levantaram na direç ã o da cabeç a de Jos e ela sentiu os cabelos lisos surpreendentemente macios por entre seus dedos carinhosos. Do outro lado da porta, o clamor da massa chegou a um ponto ensurdecedor quando os dois grupos se encontraram no meio do beco, mas nã o chegou nem perto do clamor que havia no coraç ã o de Netta. — Jos... — A voz dela saiu num sussurro emocionado quando ele a soltou. — Este é o ú nico modo que conheç o para fazer uma mulher ficar quieta — disse ele, e começ ou a rir. A escuridã o providencial escondeu o rosto de Netta. Nã o deixou que ele visse o choque que empalideceu suas faces e seus lá bios. O brilho que havia em seu olhar, aquele mesmo brilho que tinha surgido há poucas horas, quando ela havia sido despertada pela primeira vez para sentir a maravilhosa e total gló ria do amor, se transformou num fulgor de ó dio. — Odeio você! Netta percebeu que ele fez uma pausa e olhou-a atravé s da escuridã o. — Nã o foi essa a impressã o que tive há alguns minutos. — O tom de voz era gozador, um som bem-humorado que vinha de algum lugar por cima da cabeç a de Netta. Foi como um impacto violento e ela o empurrou com todas as suas forç as, libertando-se dos seus braç os, odiando o contato de seu corpo contra o dela. — Vá embora! Deixe-me sozinha! — gritou. — Fale baixo! — A voz de Jos silvou como um chicote, fazendo-a calar-se. — Quer atrair aquela multidã o para cá? — rosnou furiosamente. As mã os dele soltaram a cintura de Netta e agarraram os seus pulsos com tanta forç a que ela chegou a sentir dor. — Pare! Solte-me! — murmurou, sentindo a voz sufocada muito mais pelas lá grimas do que pela ameaç a dos rebeldes que gritavam no beco. — Nã o vou fazer nada disso. — Jos apertou ainda mais os pulsos dela. — Você vem comigo. — Nã o pode me obrigar! Ele passou a demonstrar que podia. Soltou um dos seus pulsos, apertando o outro ainda mais, e começ ou a puxá -la atrá s de si para atravessarem o que parecia ser o quintal de uma casa. Quando parou perto de uma outra porta, murmurou: — Nã o me interessa se você me ama ou me odeia. O importante é que a cada minuto que passa e que o aviã o fica esperando por nó s, aumenta o risco dele ser capturado pelos rebeldes. Nã o voupermitir que prejudique os outros com as suas tolices. Se por acaso ainda nã o percebeu, o barulho que estamos ouvindo agora é de tiroteio e vem vindo nesta direç ã o. Temos que sair daqui imediatamente. Todo o desejo de resistir a Jos desapareceu do cé rebro de Netta e ela começ ou a correr ao lado dele. Quando ele percebeu que ela estava pronta a obedecer e segui-lo, relaxou a pressã o em seu pulso e começ ou a guiá -la rá pida e silenciosamente por um infindá vel nú mero de pá tios, quintais, portas e becos, até Netta perder totalmente qualquer sentido de direç ã o. Jos parecia saber exatamente onde estava e para onde queria ir e, apesar da escuridã o quase total, nã o hesitou uma ú nica vez. Parecia ser capaz de encontrar seus caminhos com uma exatidã o incrí vel, sem se deixar prejudicar pela falta de visibilidade; como uma criatura da noite habituada a usar a escuridã o para se proteger. — Le Renard. — O estranho apelido se ajustava perfeitamente nele. — O quê? — Jos fez uma pausa e Netta parou ao lado dele, lutando para conseguir respirar. — Nã o se incomode, nã o foi nada. — Só agora Netta percebeu que tinha falado em voz alta. — Entã o vamos em frente. E fique de boca fechada! Mais portas, mais quintais, mais becos, até que... — Abaixe-se! No instante em que era atirada ao chã o, Netta sentiu a vibraç ã o do solo e segundos depois a explosã o. Foi a reaç ã o imediata de Jos que os salvou! Ele a atirou contra o chã o e caiu sobre ela, protegendo-a com seu corpo. O projé til passou por cima deles, indo se chocar contra uma parede mais adiante e o barulho de tijolos partindo e vidros quebrando ecoou até eles, como um sombrio testemunho do que teria acontecido se Jos nã o tivesse... — Está ferida? — perguntou, puxando-a, para que ficasse em pé, sem a menor cerimô nia. Netta balanç ou a cabeç a numa negativa, assustada demais para falar. — Entã o, vamos. — Jos soltou a mã o de Netta. — Jos... — Ela estendeu a mã o para ele, ansiosa por sentir a seguranç a de seu toque, mas ele a pegou pela cintura, ignorando sua mã o, para forç á -la a acompanhar o seu passo. Netta voltou a sentir a pontada do lado direito do corpo, mas o brilho crescente do fogo que aparecia no horizonte foi suficiente para anestesiar a sua dor. Correu junto com ele, esforç ando-se desesperadamente para acompanhar aquelas passadas compridas; e quando pensou que nã o ia agü entar mais, sentiu uma brisa fresca bater em seu rosto e Jos diminuindo o ritmo da corrida até que começ aram a andar. Netta levantou o rosto e respirou profundamente. O ar tinha um cheiro acre de queimado, mas era muito melhor do que o calor sufocante nos becos. A cidade tinha ficado para trá s, as paredes altas fazendo sombras estranhas contra o brilho avermelhado do cé u. O terreno à frente deles era aberto, com pouca vegetaç ã o. — A pista do aeroporto — informou Jos. — Graç as a Deus! — Netta deu um suspiro de alí vio. Logo estariam em seguranç a. — Continue abaixada e fique perto de mim. — Jos agachou-se, usando os arbustos que ficavam na beira da pista como proteç ã o contra a luz que vinha dos incê ndios na cidade. — Nã o precisa me empurrar! — disse Netta rispidamente. O braç o pesado de Jos estava em suas costas, obrigando-a a correr abaixada. — Espere! Ele parou com um joelho no chã o, obrigando-a a fazer o mesmo, e os espinhos dos arbustos atravessaram o tecido da calç a de Netta, machucando-lhe o joelho. — Ai! — Silê ncio! — ele murmurou. — Olhe! Ela ouviu o ronco dos motores antes mesmo de Jos virá -la para ver o aviã o, uma forma clara na escuridã o à frente deles, começ ando a se movimentar pela pista. — É o nosso aviã o! — O aviã o que estava esperando por eles e que ia levá -los para a liberdade. — O piloto deve ter se cansado de esperar — disse Jos bruscamente. — Nestas circunstâ ncias, nã o posso culpá -lo. — Seu tom de voz era acusador. — Prepare-se para correr. Ele vai passar por aqui e, se conseguirmos atrair sua atenç ã o... — Quer dizer, vamos fazer um sinal como se fô ssemos tomar um ô nibus? — Uma risada á spera começ ou a surgir na garganta de Netta, mas ela a sufocou rapidamente. Se o piloto nã o os visse, se fossem deixados para trá s, nã o haveria motivos para risos. Começ ou a se levantar e, de repente, tudo pareceu acontecer ao mesmo tempo. — Abaixe-se! A mã o de Jos a atingiu nas costas com tanta forç a que Netta perdeu a respiraç ã o. Uma ensurdecedora barragem de tiros abafou o protesto furioso da moç a. Logo em seguida houve um clarã o, seguido por uma explosã o. Jos levantou-se de onde estava. — Decole, vamos! Decole, seu idiota! — suplicou ao piloto. O ronco dos motores ficou mais alto como em resposta ao apelo. Homens gritavam. O tiroteio aumentava. O aviã o começ ou a correr na direç ã o de Jos e Netta com um barulho atordoante. Ela se abaixou, certa de que o aparelho jamais conseguiria alç ar vô o, mas logo viu as rodas se erguendo do solo numa subida quase vertical que fez Jos falar num murmú rio quase desesperado: — Ele tem que conseguir! Vai conseguir. Os motores gemeram com o esforç o mas, milagrosamente, continuaram a funcionar e gradativamente o aparelho começ ou a ganhar altitude, fora do alcance dos tiros, fugindo para a seguranç a do cé u. — Puxa! — Jos abaixou-se ao lado de Netta. — Foi por pouco! — Eles nos abandonaram! — A voz de Netta estava fraca e cheia de pavor. — Foi por sua culpa! Se tivesse me obedecido quando mandei que ficasse na embaixada até eu voltar... — Harry me disse que eles ainda estavam a uns sessenta quilô metros da cidade. — Harry nã o sabia que eles tinham conseguido uma frota de caminhõ es. No instante em que a notí cia chegou, a embaixada começ ou a ser evacuada. Se Wendy nã o tivesse dito que você tinha ido até o hotel para apanhar algumas coisas, eu jamais saberia onde encontrá -la. Mesmo assim, levei um bom tempo procurando por você. Jos olhou para ela muito sé rio e continuou: — É por isso que, de agora em diante, você vai fazer exatamente o que eu mandar! — Ora, e por que é que terei de obedecer? Mesmo na situaç ã o em que se encontrava, Netta ficou ressentida com o tom de voz que ele usou e nã o quis se deixar intimidar. — No caso de já ter esquecido — falou Jos, secamente —, algumas horas atrá s você prometeu me amar, honrar e obedecer. E, até estarmos em seguranç a, longe de Lak, quero que cumpra exatamente o que disse. Amar, honrar... e obedecer. Claro que o que importava para ele era a ú ltima palavra. A parte do amor e da honra nã o tinham o menor valor. Afinal, nã o tinha se casado com ela por amor. Lá grimas silenciosas e amargas cobriram seu rosto e Netta deixou cair a cabeç a sobre os braç os apoiados nos arbustos, escondendo-os de Jos, sem mesmo se importar com os espinhos a sua volta. Os espinhos nã o poderiam causar maior dor do que a tristeza que rasgava seu coraç ã o. O ruí do dos motores do aviã o foi sumindo, enquanto o aparelho se afastava na direç ã o da fronteira. Pareciam estar caç oando de seus sentimentos, rindo da sú bita consciê ncia de Netta perante a situaç ã o. Agora que o aviã o partira sem eles, o casamento com Jos tinha sido algo totalmente desnecessá rio.
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