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CAPÍTULO I



 

— Nã o me casaria com você nem que fosse o ú ltimo homem da terra!

Netta encarou-o com um ar de desafio. Era graciosa, pequenina, e no momento tremia de indignaç ã o. Tinha um temperamento forte, fogoso, que combinava perfeitamente com seus cabelos lisos cor-de-cobre.

— Nã o pense que estou morrendo de alegria com a perspectiva de me amarrar a uma mulher como você, mesmo que seja por pouco tempo.

— Entã o, vamos esquecer de vez essa idé ia maluca!

— No que me diz respeito, nã o poderia haver nada melhor. No entanto, nã o quero ficar com a morte de todos os membros da embaixada na minha consciê ncia pelo resto da vida.

A raiva tinha tomado conta dele e parecia transbordar pelos seus olhos, estranhos, cor-de-ouro, que lhe tinham valido o apelido de Le Renard, A Raposa, que Netta iria ouvir tantas vezes antes de, finalmente, voltar à Inglaterra. O rosto magro, moreno, o queixo fino, a testa alta e larga, os cabelos pretos e a cor dos olhos contri­buí am ainda mais para acentuar esse apelido. Ele realmente fazia lembrar uma raposa.

— Nã o sou responsá vel pelo pessoal da embaixada.

— Infelizmente, eu sou. E estou preparado para fazer até o impossí vel para tirá -la de Lak em seguranç a.

— E isso inclui um casamento?

— Isso inclui até a necessidade de me casar com uma mulher como você.

— Por que nã o leva o pessoal e me deixa aqui? — Netta estava ficando desesperada; sentia-se como se estivesse sendo ví tima de uma chantagem, como se estivesse presa numa armadilha. — Posso muito bem cuidar de mim mesma.

— As autoridades de Lak nã o pensam assim. E, só para lembrá -la, eles já estã o fazendo muito permitindo que um aviã o transporte o pessoal da embaixada, com suas esposas e filhos. — Ele falou " esposas" num tom seco, acentuando a palavra. — A condiç ã o que impuseram é que todos terã o de ir ao mesmo tempo ou entã o vã o ficar aqui mesmo sob a responsabilidade do embaixador. Recusam-se a assumir qualquer responsabilidade por estrangeiros que nã o estejam ligados ao corpo consular. Já tê m muito em que pensar com essa revolta popular, e nã o vã o se importar com você.

— Mas por que insiste neste casamento? Por que nã o posso ir como se fosse um funcioná rio da embaixada?

— Porque os militares tê m uma lista com os nomes de todos os funcioná rios. — Ele falou com uma voz forç ada, como se estivesse explicando uma liç ã o a uma crianç a idiota.

— Podia ter dito que sou simplesmente uma turista.

— E me arriscar a vê -la fuzilada? — Ele a encarou com incredu­lidade. — Será que nã o tem a mí nima idé ia do perigo em que se meteu vindo para cá? Ningué m iria acreditar que é apenas mais uma turista porque ningué m, em seu juí zo perfeito, se arriscaria a entrar num paí s à beira da guerra civil. Se tentasse usar essa explicaç ã o, imediatamente despertaria sé rias suspeitas de que é uma ativista polí tica, que veio para criar mais problemas ainda para o governo. E, nã o preciso dizer qual seria a pena para esse tipo de comporta­mento, aqui em Lak — terminou com um tom sombrio.

— Eu vim a negó cios! — protestou Netta.

— As autoridades jamais acreditarã o nisso. — Ele deu uma risadinha curta e á spera, enquanto seus olhos percorriam a figura elegante de Netta, que continuava charmosa e feminina apesar de estar vestindo um simples conjunto safá ri. — As mulheres daquinã o se metem em negó cios. Tê m juí zo bastante para ficar em casa, que é o lugar delas, e deixam esses assuntos para seus homens.

Quer dizer que, alé m de arrogante e presunç oso, també m é um chauvinista confesso! Essa observaç ã o sobre as mulheres é bem tí pica, pensou Netta, furiosa.

— Ainda nã o entendo por que...

— O ú nico modo que encontrei para explicar seu comportamento, e de modo convincente, foi dizer a eles que você era minha noiva e que veio até aqui para se casar comigo. Surpreendentemente, até um exé rcito em guerra acredita no amor.

Netta vislumbrou um ar de sarcasmo em seu sorriso.

— Podia ter dito que eu já era sua esposa — insistiu teimosamente.

— Depois de quase um ano neste paí s, as autoridades já me conhecem tã o bem como conhecem Wendy e Harry Fraser. — Estava se referindo ao embaixador e à sua esposa, que era amiga de Netta há muitos anos. — As autoridades estã o com os registros da embaixada...

— Eles foram roubados — corrigiu ela, friamente.

— Estã o com eles, roubaram, confiscaram, emprestaram, use o termo que quiser, o fato é que sabem que sou solteiro. — Seu tom de voz começ ou a se alterar e ele deu um passo em direç ã o a Netta.

Instintivamente, ela de um passo para trá s, tentando evitá -lo. Apesar da sua determinaç ã o de nã o se deixar intimidar, sentiu certo temor ao ver aqueles olhos furiosos; mas seu passo foi curto demais para escapar do braç o magro e forte. Dedos finos e morenos se fecharam em torno de seu pulso, como tiras de aç o. Netta tentou se libertar inutilmente. Estava lutando contra quase um metro e oitenta de fú ria masculina, provocada pela sua teimosia, pela sua recusa em obedecer aquela ordem.

A ordem era: casar com ele! Um completo estranho...

— Ainda nã o entendo por que tenho que fazer esse sacrifí cio — disse ela, fazendo um ú ltimo movimento desesperado para se libertar. — Afinal, só vim à embaixada para visitar a minha amiga. Estou aqui por puro acaso.

— Se realmente nã o consegue entender, vá você mesma dizer aopessoal por que acha que nã o vale a pena sacrificar seu estado civil de solteira por eles.

Ela nã o teve outra escolha a nã o ser segui-lo. Ele praticamente a arrastou pela porta do estú dio até o salã o de visitas da embaixada, onde estavam reunidos todos os funcioná rios e respectivas famí lias. Havia muitas crianç as, desde bebê s até aqueles quase em idade de freqü entar uma escola. Todos olharam para cima quando Joseph de Courcey abriu violentamente a porta, puxando Netta para dentro.

— Alguma novidade, Jos? — perguntou um dos homens.

— Vá... diga a eles.

Netta jamais conseguiu esquecer o silê ncio que se seguiu à quelas palavras. Foi como se todos que estavam no salã o tivessem prendido a respiraç ã o. Foi entã o que uma das crianç as choramingou:

— Estou com medo, papai!

O pai, um dos funcioná rios mais jovens, sentado ao lado da esposa que segurava um bebê nos braç os, olhou para Netta com um olhar suplicante. Ela tentou evitá -lo, era pura chantagem sentimental, mas...

— Está certo, eu me caso com você — disse, virando-se para Joseph de Courcey e, falando rapidamente, antes que pudesse mudar de idé ia, acrescentou:

— Vou ter que voltar ao hotel para trocar de roupa. Nã o posso me casar de calç as compridas.

— Nã o há tempo — objetou Jos.

— Nã o vou tentar escapar, se é isso o que está pensando.

— Nã o estou pensando em nada. Só quis dizer que nã o há tempo. O aviã o vai chegar assim que começ ar a escurecer. Temos poucas horas e o chefe dos militares logo virá me procurar para dar a ordem final de partida.

— Vamos, venha se arrumar um pouco. — Wendy percebeu que Netta precisava de alguns minutos de tranqü ilidade antes de se ver irremediavelmente comprometida.

— Você está linda assim mesmo — confortou a amiga.

— Wendy, até parece que está aprovando tudo isso! — Nettaolhou para ela, quase sem acreditar. — Você é mesmo um caso perdido! — Sentou-se na cama, sentindo as pernas fracas, com um desejo histé rico de rir e chorar ao mesmo tempo. — Você nã o mudou nada — conseguiu dizer, finalmente.

— Bem, querida, tem que admitir que é muito româ ntico.

— Româ ntico! Parece que ainda somos adolescentes, coleguinhas de escola!

— Bem, certamente nã o sou mais uma adolescente, mas nã o sei por que nã o posso continuar a ser româ ntica — disse Wendy, comum brilho alegre no olhar.

Netta nã o conseguiu deixar de sorrir. O casamento de Wendy tinha sido quase repentino. Tinha conhecido Harry Fraser em uma de suas fé rias, quando trabalhava no exterior, e a decisã o foi imediata. A princí pio, Netta alimentou muitas dú vidas de que aquilo fosse durar, mas, depois de sete anos, os dois ainda pareciam muito apaixonados.

— Você nã o foi " forç ada" a se casar — lembrou à amiga. — Se tivesse recebido seu telegrama a tempo, nunca teria vindo para cá e nada disto estaria acontecendo.

— Deve ter ficado surpresa com minha atitude fria ao vê -la chegar.

— Bem, tenho que admitir que fiquei até chocada — disse.

Netta lembrava-se bem da cena: para seu espanto, nã o tinha sidorecebida com alegria; pelo contrá rio, Wendy nã o pô de esconder um certo desâ nimo ao vê -la chegando na embaixada.

— Meu Deus! Você nã o recebeu meu telegrama, avisando quenã o era para vir? — tinha dito a amiga, na ocasiã o.

— Nã o. Faz duas semanas que estou viajando num safá ri foto­grá fico e, como papai també m está viajando, nã o adiantava ligarpara a Inglaterra; como nã o estava muito longe de Lak, resolvi virdireto para cá.

Ainda surpresa com a recepç ã o da amiga, logo acrescentou:

— Se tem algum compromisso importante, alguma recepç ã o, nã o se preocupe, nã o quero incomodar; posso ficar passeando por aí, conhecendo o lugar, até você estar livre. Teremos muito tempo para conversar depois, nã o tenho data marcada para voltar.

— Você vai voltar conosco assim que Harry conseguir a permissã o para o aviã o decolar, e, quanto a passear pela cidade, esqueç a isso imediatamente.

— Por quê? Há alguma epidemia, problemas diplomá ticos ou o quê?

— Você chegou bem no meio de uma guerra civil. — Nesse momento Harry Fraser, o marido de Wendy, aproximou-se delas e Netta ficou impressionada com a mudanç a no rosto simpá tico que tinha visto alguns anos atrá s. Parecia exausto e terrivelmente preo­cupado. — O paí s pediu a nossa ajuda e estamos mesmo fazendo o possí vel, mas eles ainda nã o conseguiram controlar a situaç ã o.

— Entã o é por isso que tudo estava tã o deserto quando atravessei a fronteira? Pensei que fosse um dia santo, ou coisa parecida, e que todos estivessem em casa ou nos templos. Bem que eu notei a relutâ ncia do dono do hotel em me arranjar um quarto, apesar do lugar estar quase vazio. — Netta engoliu em seco, ao tomar cons­ciê ncia da situaç ã o que estava enfrentando.

— Todos que puderam sair já partiram — disse o embaixador. Onde é que está hospedada?

— No... naquele hotel grande que fica na esquina. Achei que era melhor conseguir um quarto num hotel, no caso de você s estarem com visitas na embaixada.

— Bem, acho que vai poder ficar lá até estarmos prontos para partir. — Harry ainda estava com um ar tristonho. — Claro que gostaria que ficasse na embaixada conosco, mas... — ele lanç ou um olhar para a esposa.

— Nã o temos nem um centí metro de espaç o — explicou Wendy, balanç ando a cabeç a. — Os franceses estã o conosco, a embaixada deles fica mais para o interior e já foi tomada pelos rebeldes, há gente dormindo até nos banheiros.

— Nã o se preocupem, ficarei bem no hotel. — Netta esperava que seu tom de voz mostrasse mais confianç a do que estava sentindo.

— Afinal, nã o estou longe da embaixada.

— Ainda assim, você fará as refeiç õ es conosco — insistiu Harry.

— Agora que está aqui, somos responsá veis por você, de modo quedeve ficar em contato direto conosco e sempre a par dos nossos planos para evacuar o paí s, caso a situaç ã o se agrave.

— E como está a situaç ã o?

— Está fervendo, mas a panela ainda nã o explodiu.

— E eu espero que quando chegar essa hora, já estejamos todos no aviã o, a caminho de casa — interrompeu Wendy, cheia de ansiedade.

— Se nã o fosse Le Renard, acho que nem terí amos conseguido o aviã o — disse um dos refugiados franceses que estava ouvindo a conversa.

— Le Renard? — Netta dirigiu-se ao embaixador. — Parece sinistro. A Raposa! Uma criatura da noite, que anda por caminhos ocultos. Certamente você nã o precisou recorrer a tal pessoa; afinal, como embaixador, um pedido feito direto à s autoridades...

— Pedidos de embaixadores nã o tê m muito peso num paí s tomado pela guerra civil. Joseph de Courcey, é esse o nome dele, Le Renard, pode empregar linhas de comunicaç ã o que sã o negadas à s embaixadas.

— Quer dizer que ele nã o faz parte do corpo diplomá tico?

— Oficialmente, é um de meus adidos — respondeu Harry, evasivo. — Mas se precisar de alguma ajuda, peç a a outro funcioná rio, ele tem muito o que fazer.

— Acho que esse seu hó spede francê s tem uma queda para o dramá tico. Le Renard, ora essa!

— Chamou-me, mademoiselle?

Netta virou-se, surpresa, e viu-se frente a frente com os estranhos olhos dourados do homem que chamavam de A Raposa.

Era como olhar diretamente para o sol. Netta piscou, como se quisesse evitar uma luz forte demais ou se defender. Os olhos do estranho pareciam penetrar em seu cé rebro, tomando conhecimento de seus mais í ntimos pensamentos.

— Ah, Jos, que bom vê -lo novamente. Quero que conheç a Netta Vaughan, ela vai voltar conosco no aviã o. — Harry fez as apresentaç õ es.

— Srta. Vaughan. — O recé m-chegado curvou o corpo levemente, continuando a olhá -la com seu olhar penetrante. Nã o sorriu e nã ofez nenhuma tentativa de apertar a mã o estendida de Netta. Furiosa com a grosseria, ela enfiou a mã o direita no bolso.

— Harry, eu disse aos chefes militares que seus funcioná rios eram só do sexo masculino. Agora terei que entrar imediatamente em contato com eles para acertar esta situaç ã o.

— Netta nã o trabalha conosco. Veio a passeio, para... — Harry nã o conseguiu continuar. Ao mencionar a palavra " passeio", os olhos dourados se viraram para Netta cheios de raiva.

— Veio a passeio? Num paí s à beira da guerra civil? Por acaso é maluca?

Sua fú ria inesperada atingiu Netta em cheio, e ela recuou frente à quele ataque verbal.

— Eu... eu... — começ ou a se defender, mas, no mesmo instante, seu temperamento forte e explosivo fez com que o enfren­tasse. Aprumou-se para parecer mais alta, tentando olhá -lo diretamente nos olhos. — Vim a negó cios e para visitar minha amiga, nã o sou nenhuma idiota!

— Seja qual for a razã o, nã o poderia ser tã o importante a ponto de trazê -la a Lak numa hora como esta. Arriscar a vida por uma trivialidade é...

— Meu negó cio nã o é uma trivialidade!

— Mesmo assim, certamente poderia esperar uma ocasiã o mais adequada. — Ele ignorou o seu protesto. — Atravessar consciente­mente uma fronteira para cair dentro de um caldeirã o polí tico é.

— Eu nã o estava sabendo...

— Nã o há um jornal, uma emissora de rá dio que nã o esteja dando notí cias sobre os acontecimentos destes ú ltimos dez dias.

— Acontece que estou longe de qualquer meio de comunicaç ã o há duas semanas — disse Netta, feliz por ter uma resposta à altura.

— Deve ter usado muita conversa para atravessar a fronteira. Nã o vá me dizer que mesmo assim nã o desconfiou de nada.

— Nã o havia ningué m no posto quando passei.

— E nã o achou que algo estranho estava acontecendo?

— Ora, é claro que achei esquisito. Pensei que fosse feriado, que os guardas estivessem bê bados em algum lugar, sei lá! Vim por um posto mais do interior. Como nã o havia ningué m, continuei dirigindo em frente...

— Todos estã o abandonando seus postos — interrompeu Harry, mas o outro homem nã o se deixou amansar.

— Vamos deixar isso de lado. Agora que está aqui, é uma pessoa a mais para ser retirada em seguranç a.

— Nã o precisa se preocupar comigo — disse Netta, furiosa. — Sei muito bem cuidar de mim mesma.

— Uma vez que estiver do outro lado da fronteira, em territó rio pací fico, poderá agir como quiser. Mas, enquanto estiver em Lak, ficará sob a responsabilidade da embaixada e vai fazer exatamente o que for ordenado. Vou falar com os chefes militares — disse ele para Harry e afastou-se.

Antes de Netta conseguir recuperar o fô lego para responder, ele já havia desaparecido. Quando voltou, foi para dizer que ela precisava se casar com ele.

 



  

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