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CAPÍTULO VCAPÍTULO V
A segunda-feira foi movimentada. Lisa não teve nenhuma hora livre para pensar nos acontecimentos. Quando estava se preparando para receber seu último cliente, surpreendeu-se ao ver Gary. — Soube que você passou o fim de semana com Richard Hanson — ele disse sem preâmbulos. — Não creio que seja recomendável que os funcionários do Royale se envolvam com os hóspedes. — Nós não... Ele não permitiu que ela se justificasse. — Não tenho nada a ver com sua vida. Estou dizendo isso apenas porque é a política da empresa, Brett não permitiria. — Eleja sabe — Lisa interrompeu-o. — Richard me convidou para uma festa e Brett era um dos convidados. Gary franziu o cenho. — Ele é o dono. Não lhe cabe zelar pela disciplina dos funcionários. Se eu não lhe dissesse nada, estaria abrindo um precedente. Não pretendo comprometer a reputação deste hotel. Não mantemos um serviço de acompanhantes. — Talvez fosse melhor você conversar com Brett antes de começar a ditar suas leis. Ou, se preferir, eu dou o recado. Jantarei com Brett esta noite. — Desde quando...? — Gary quis saber, completamente perplexo. — Desde que ele me convidou. Agora, por favor, dê-me licença. O próximo cliente deve chegar em um ou dois minutos. — Eu não me enganei sobre sua capacidade, mas talvez tenha errado sobre sua conduta! Cuidado para não trocar o certo pelo duvidoso. Brett pode ser um partido melhor do que Richard Hanson, mas ele não é homem de relacionamentos duradouros. Gary deixou-a antes que pudesse responder. Pela primeira vez, Lisa desconfiou de que Brett estivesse com a razão sobre o verdadeiro motivo que levara Gary a lhe oferecer o emprego. Mas não se lembrava de tê-lo incentivado nesse sentido. Levara-o a sua casa e lhe apresentara os pais, mas apenas para que eles soubessem que ela não estava fugindo com um aventureiro. Não tinha o direito de acusá-lo, portanto, pelo equívoco que se criara. Não o culpava por pensar que ela era uma oportunista. Ela mesma contribuíra para reforçar essa impressão ao contar sobre o jantar com Brett, da maneira que fizera. Um dia ela teria de aprender a pensar antes de falar. Do jeito que estava a situação, não conseguiria nem sequer completar o período de experiência. Apesar da decisão que tomara na noite anterior, Lisa resolveu comparecer ao jantar. Como empregada no hotel de Brett, não podia deixá-lo a esperar. Talvez devesse ligar e cancelar o encontro, mas não tinha coragem. A única saída era demonstrar sua educação e sua falta de interesse por algo mais profundo entre eles. Com uma calça preta de crepe e uma blusa de seda branca, próprias para a noite, Lisa se dirigiu à casa de Brett, torcendo para não ser vista. Ele a esperava na piscina, com uma mesa arrumada para dois, decorada com um candelabro de prata e duas velas e um arranjo de orquídeas.. — Imaginei que você gostaria de jantar ao ar livre. Na Inglaterra, quase não temos essa oportunidade. Toma alguma coisa além de suco de laranja? — Aceitaria uma pina colada. — Lisa mencionou uma bebida exótica do Caribe. — Richard apresentou-me a ela. Se Brett não gostou do comentário, não deu demonstração. — Fique à vontade. Ela tentou. Era impossível ficar à vontade com um homem que só ao fitá-la fazia seu coração bater mais depressa. Quando Brett voltou com os drinques, ela estava calma, ao menos em aparência. Em vez do costumeiro uísque, trazia uma pina colada também para si. Os copos estavam muito atraentes, enfeitados com fatias de abacaxi. — A um melhor relacionamento! — ele brindou. Ela não respondeu. — Não acreditei que viesse — Brett declarou inesperadamente. — O que teria feito? — Iria procurá-la. — Em outras palavras, ninguém diz não a Brett Sanderson. — Podem dizer, mas em voz alta e clara e no momento certo. Portanto, se ainda está aborrecida comigo por causa daquela noite, aproveite e diga. — Eu já disse em voz alta e clara e no momento certo. Ele riu. — Touché! A um novo começo! — O que tem em mente? — Ela foi direta. — O que você acha? — Responder uma pergunta com outra pergunta é um costume feminino. — Masculino também. — Está bem. Estou desconfiada dessa sua súbita mudança. No sábado você me acusou de interesseira. — Já pedi desculpas. Se você tivesse me explicado a situação, eu não teria ido tão longe. Por que se calou? — Porque era um assunto meu. Gosto de escolher minhas próprias companhias, sem ter de justificar meus atos a quem quer que seja. — Mesmo que esse alguém seja seu patrão? — Você não manda em minhas horas livres. — Mas você está aqui agora. — Você não me deu chance de recusar. — Poderia.ter telefonado durante o dia. — Estava ocupada demais para pensar nisso. — É claro — ele respondeu, sem parecer convencido. — Você está sendo muito procurada. Não exagere. Os que não podem ser atendidos num dia, passam para o outro. — Conheço minhas limitações. — Em outras palavras, você só faz o que quer. — Se é assim que você prefere entender. Brett respirou fundo. — Se você está tentando me irritar, está no caminho certo. — Não estou fazendo nada — ela mentiu. — Apenas não gosto de interferências em meus assuntos. Brett fitou-a por um longo momento. — Você não gosta muito de mim, gosta? Embora a franqueza de Brett a tivesse pegado desprevenida, resolveu ser igualmente franca. — Não, não gosto. — Por quê? — E muito arrogante. Quando estala os dedos, quer que as pessoas se ajoelhem a seus pés. Não sou esse tipo de mulher. — Fale mais sobre você. — Para quê? Não estou a fim de impressioná-lo. — Você me impressionou desde o primeiro instante. — Ele deslizou um dedo pelo braço de Lisa, provocando-lhe um arrepio. — Outras mulheres teriam entrado em pânico naquela situação. Você logo se controlou. Lembro-me do brilho de rebeldia que vi em seus olhos quando reprovei sua atitude de andar sozinha por aquelas ruas à noite. Precisei lutar comigo mesmo para não beijá-la. Lisa não conseguia entender se ele estava ou não se divertindo a sua custa. — Ainda bem que se conteve. Acho que, então, eu teria entrado em pânico. Havia escapado de um para cair nas garras de outro! Brett estava muito calado. De repente, ela percebeu que ele estava olhando fixamente para sua boca. — Estou sentindo o mesmo impulso daquela noite. Você tem uma boca feita para beijar. — E para comer. Fui convidada para jantar, lembra-se? — Ela tentou brincar. Por sorte, suas palavras surtiram efeito. Brett se levantou e estendeu a mão. Em seguida levou-a à mesa e tocou uma sineta de prata. Um homem saiu da casa empurrando um carrinho que ela reconheceu como sendo um dos usados no hotel, mais especificamente pelos garçons. Aliás ele trabalhava no restaurante. O garçom se afastou assim que serviu o prato à base de frutos do mar. — Amanhã o hotel inteiro estará sabendo que eu jantei aqui com você. — Acho que sim — Brett respondeu com indiferença. — Você não se importa? — Você se importa? — Eu tenho de trabalhar e de me dar bem com eles. — Sua reputação estará mais comprometida com Richard Hanson do que comigo e você não se abalou por isso. — É diferente. — Concordo. Ele é vinte anos mais velho do que eu. — Não há nada entre nós — Lisa repetiu. — Eu já lhe expliquei. — E eu acreditei. Mas os outros continuarão a pensar como eu pensava no início. O que achou da comida? Lisa aceitou a mudança de assunto sem discutir. Estava em paz consigo mesma. Era isso que importava. As pessoas falariam a seu respeito de qualquer modo. Continuasse ou não a sair com Richard Hanson e a jantar na casa do dono do Royale. Aonde essa história iria parar, ninguém poderia saber. Quaisquer que fossem as intenções de Brett, ele era um excelente anfitrião. Durante o jantar, Lisa esqueceu-se mais de uma vez da razão de sua presença. Em circunstâncias normais, teria se apaixonado por Brett. Ele tinha um carisma inegável. Assim mesmo, não conseguia convencê-la com facilidade. Suas opiniões eram diferentes em muitos aspectos. — Você é teimosa demais — ele disse em certo momento. Ela riu com vontade. — Veja quem fala! Brett acabou rindo também. — Mais um drinque? Seria seu terceiro, mas o álcool não a estava afetando. Estava se sentindo no topo do mundo, mas com a mente clara como cristal. Não iria abusar. — Não, obrigada. Brett deveria ter decidido parar de beber também pois não se levantou para preparar outro copo. — Esfriou. Vamos tomar o café lá dentro? Se os sinos de alerta soaram, Lisa não os ouviu. Aceitou o convite e acompanhou-o com satisfação. Brett parecia um outro homem nas últimas duas horas. A sala era espaçosa e decorada num estilo que combinava com o clima tropical. Lisa sentou-se no sofá em frente à lareira de pedra e não se conteve: — Nunca pensei que acendessem lareiras em ilhas do Caribe. — Não acendemos — Brett respondeu. — Mandei fazê-la apenas como decoração. Reminiscências da infância na Inglaterra, eu acho. O mesmo garçom que servira o jantar trouxe o café. — Pode ir agora, Sol — Brett dispensou-o. — Sol? — Lisa estranhou. — Abreviação de Solomon. Nomes bíblicos são comuns nas ilhas. Você serve? — Prefiro que você sirva. Detestaria deixar cair alguma - gota em seu incrível carpete branco. — Não teria nenhum problema — ele respondeu. — Puro ou com creme? — Com creme, por favor. E uma colher de açúcar. Em seguida, Brett ofereceu conhaque. Ela preferiu repetir o café. Não que precisasse dele. Nunca se sentira mais sóbria. Se Brett pretendia dar o final que ela imaginava à noite, logo faria algo nesse sentido. Ele fez. Tirou a xícara de suas mãos, colocou-a sobre a mesinha e sentou-se ao lado dela. — Já esperei bastante — ele murmurou. — É agora que começo a pagar pelo jantar? — ela indagou. Ele havia deslizado a mão sob a cascata de seus cabelos. Diante da pergunta, enrijeceu. — Por quê disse isso? — Porque é o que penso que você está pensando — ela disse com firmeza. — Não mandou Sol embora para ficar sozinho comigo? Ele tirou a mão abruptamente de seu pescoço. — Mandei ele ir embora porque já havíamos terminado de jantar. Quanto ao que estou sentindo, não nego. Quero fazer amor com você, sim. Só que não basta um querer. Não sou dos que forçam uma mulher contra sua vontade. — Sinto muito. — Eu também. Acho que está na hora de você ir. — Não assim. — Ela estava arrependida da maneira injusta que o tratara. — Eu cometi um erro. Por favor, aceite minhas desculpas. Ele estava se levantando, mas parou. Os olhos, contudo, permaneceram frios. — Dê-me uma boa razão para eu aceitá-las. — É um pedido que lhe faço. — Por quê? Lisa estava realmente arrependida. Queria muito desfazer o estrago que fizera. Fora influenciada por preconceitos. Não culpava Brett por estar magoado com ela. — O que quer que eu diga? Sabe que estou, atraída por você, não sabe? — Mas não confia em mim. — Não confiava. Agora confio. Ela estendeu a mão e tocou-o nos lábios. Ele permaneceu impassível por um momento. Depois entreabriu-os e segurou um de seus dedos de um modo que fez seu sangue correr mais depressa nas veias. Lisa não opôs resistência quando Brett abraçou-a. Enlaçou-o pelo pescoço e correspondeu ao beijo. Também não resistiu quando ele acariciou-lhe os seios. O gesto pareceu natural, uma seqüência esperada. Desejava-o. Desejava-o desde o primeiro instante. Agora estava pronta para admitir essa verdade. Ele prosseguiu e desabotoou a blusa. Quando tocou sua pele nua, um arrepio percorreu-lhe o corpo. Os mamilos tornaram-se rijos sob as carícias insistentes. Ela quis sentir os dele também. Desabotoou a camisa e tocou-o no peito. Foi Brett quem parou. Arrumou suas roupas e afastou-a. — É melhor você ir. — Ela deveria ter ficado tão perplexa que ele precisou insistir. — Não me olhe desse jeito. Você voltará intacta como veio. Era o que queria, não? Lisa se levantou. Suas pernas vacilaram. Estava decepcionada consigo mesma. — Acompanho-a. — Não é preciso, obrigada. — Sempre acompanho meus hóspedes à saída — ele respondeu. — Não abro exceções. Caminharam em silêncio pelo pátio. Brett mantinha as mãos nos bolsos e uma expressão enigmática no rosto. No alto da escada, deteve-se. — Boa noite. Tenha bons sonhos e cuidado ao descer. Lisa se afastou como unia sonâmbula. Era óbvio que não haveria mais nada entre eles. O orgulho masculino de Brett estava salvo. Final da história. Que o hotel inteiro ficou sabendo sobre o encontro deles ficou evidente pelo modo que as pessoas olhavam para ela e cochichavam quando passava. Celina foi a única a lhe falar abertamente. — Com quem você pretende sair da próxima vez? — Não costumo fazer planos — Lisa respondeu. — Não sei o que você ouviu por aí, mas fique certa de que estão exagerando. — Sol disse que você e o patrão estavam muito bem quando os deixou a sós ontem à noite. Como você o descreve? — Como um anfitrião e um cavalheiro perfeitos. Celina sorriu e deu uma piscada. — Você entendeu o que eu quis dizer. — E você entendeu errado o que aconteceu ontem à noite. Brett me convidou para jantar porque somos da mesma nacionalidade, eu acho. Um gesto cordial. Nada mais. — Oh, sim. Fique tranqüila Eu espalharei a notícia. — Não é importante. Não precisa se dar ao trabalho. — Como você quiser — Celina respondeu e deu outra piscada. Lisa procurou encerrar o assunto. Não havia muito o que fazer. As- pessoas falariam por alguns dias até que surgisse outra novidade. Ou até que descobrissem que não havia realmente nada entre ela e o dono do Royale. O que Lisa não esperava era que a fofoca tivesse chegado aos ouvidos de Richard. Ele marcou uma hora para a quarta-feira, em sua suíte como sempre, alegando que a dor no ombro havia voltado. — É verdade que existe um romance em andamento entre você e Brett? — Não. Não pensei que desse ouvidos a rumores desse tipo. Ao perceber que o comentário irritara Lisa, Richard levantou a cabeça e fitou-a. — Algo errado? Ela suspirou. Precisava dar um jeito de aprender a se controlar. Com sua atitude, acabara de se trair. — Nada que eu não possa resolver. — Quer conversar a respeito? As vezes ajuda. Lisa deu um pequeno sorriso. — Não vale a pena, mas obrigada. — Ele magoou você, não? — Não! Ele não me fez nada. — Então por que você está tão diferente? Apaixonou-se? — Claro que não! — Ela se apressou a negar. — Mal o conheço! — E é preciso conhecer para amar? Eu amei minha esposa desde a primeira vez que a vi. Brett é um bom homem. — Não duvido. Mas estou tão apaixonada por ele quanto ele por mim. Só jantamos juntos. Não houve mais nada. — Ele nem sequer a beijou? Foi impossível mentir dessa vez. O rubor a denunciou. — Sentir atração por um homem não é o mesmo que estar apaixonada por ele. Não tornará a acontecer. — Devo entender que ele tentou ir mais longe? — Ao contrário. Ele... — Lisa mordeu o lábio. — Agradeço seu interesse, Richard, mas eu não quero falar sobre esse assunto. Está bem? — Está bem. Apenas lembre-se de que estou aqui, se mudar de idéia. Lisa continuou com a massagem embora sua mente estivesse longe da tarefa. Não podia estar apaixonada por Brett. Um homem que fazia o que ele fizera na noite anterior não merecia um segundo pensamento. O melhor que tinha a fazer era esquecê-lo. Não tornou a vê-lo durante a semana. Talvez tivesse voltado para Boston. De qualquer forma, ela não procurou saber. Jantou com Richard uma noite e aceitou seu convite para praticar snorkelling no sábado. Estava gostando cada vez mais desse amigo. Suas relações com Gary, entretanto, estavam abaladas. Ele mal lhe falava. Só não a despedia, provavelmente, porquê ela estava se tornando cada vez mais popular entre a clientela. O final de semana chegou depressa. Richard a esperava na porta do hotel. Eram oito e trinta quando seguiram para o Seajade, o barco que transportava os hóspedes para os passeios marítimos. Lisa já estava a bordo quando viu Brett, de short e camiseta, com o braço ao redor dos ombros bronzeados de Andréa Gordon. Ele estava de costas. Ao ouvi-lo rir de algo que a mulher dissera, Lisa sentiu o sangue subir ao rosto. — Você não me disse que ele também viria — Lisa acusou Richard. — Eu vou descer! — E tarde demais. As amarras já foram soltas — Richard explicou. — Eu não sabia que ele estava no hotel. Quanto mais no barco. Não que ele não tenha o direito de estar. É o dono, lembra-se?
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