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CAPÍTULO I



CAPÍTULO I

 

— Quero dinheiro! — exigiu o porto-riquenho. — Depressa!

— Não tenho — Lisa respondeu, forçando-se a parecer calma e segura de si.

Sair sozinha à noite não fora uma boa idéia. Apesar de aquela ser uma das ruas principais da cidade, o movimento era quase nulo e naquele instante não havia ninguém por perto que pudesse ajudá-la.

— Ou me dá seu dinheiro de uma vez ou será pior para você — o homem ameaçou.

Ela estava dizendo a verdade, mas ele obviamente não acreditava. Assustada e com o coração prestes a saltar do peito, Lisa tentou fugir. Antes que desse o segundo passo, porém, o homem agarrou-a pela cintura com uma das mãos e com a outra tapou-lhe a boca. Começou, então, a puxá-la na direção de um beco escuro a poucos metros de distância.

Lisa fez mais uma tentativa desesperada para escapar das mãos que a prendiam com a força de tentáculos. Se o assaltante conseguisse levá-la até o beco, coisas muito piores poderiam acontecer. Mas por mais que lutasse, ele era muito mais forte do que ela.

Um súbito guinchar de freios à beira da calçada foi o que a salvou. O porto-riquenho hesitou por um instante. Em seguida empurrou-a e saiu correndo.

Ela caiu de joelhos e assim permaneceu, aterrorizada demais para conseguir se mover. O som de passos fez com que se encolhesse.

— Você não corre perigo comigo — disse uma voz ao mesmo tempo que a segurava pelo cotovelo e a levantava. — Está ferida?

— Fisicamente não — ela respondeu com um fio de voz —, mas o susto afetou meus nervos. Não consigo parar de tremer.

- Não é de admirar. Poderia ter perdido a vida nas mãos daquele marginal.

— Ele queria dinheiro — Lisa contou.

Os lábios do estranho se distenderam com malícia.

— Acho que ele queria mais do que dinheiro. Loiras de olhos azuis chamam muito a atenção neste lugar. Onde está hospedada?

O desconhecido imaginava que fosse uma turista. O que era mais do que compreensível, Lisa pensou. Quem, exceto um turista, seria ingênuo a ponto de sair sozinho à noite e a pé por ruas desertas?

— No Ambassador Plaza.

O homem fitou-a com reprovação. — Esse hotel não fica nada perto daqui.

— Eu saí para dar um passeio e me perdi — Lisa admitiu.

— Um passeio à noite? Sozinha? Em San Juan? — O espanto era patente. — Você não tem juízo?

— Não se trata disso — Lisa retrucou, ofendida. — Apenas cometi um erro.

— Um erro que poderia ter sido fatal ou ao menos lhe custar caro. — O estranho balançou a cabeça e apontou para a limusine de onde descera. — Vou levá-la para seu hotel.

Naquele instante, Lisa notou que havia um motorista uniformizado ao volante. Mordeu o lábio. Sentia-se entre a cruz e a espada. Não conhecia aqueles homens e não queria entrar no veículo. Por outro lado, diante das circunstâncias, recusar o oferecimento seria uma grande tolice. Afinal, nem sequer sabia como voltar ao hotel.

O homem entendeu seu silêncio como concordância. No minuto seguinte, ela já estava sentada no banco de trás da limusine ao lado dele.

— Para o Ambassador Plaza — ele disse ao motorista. Lisa não sabia onde colocar as mãos nem para onde olhar.

Não estava acostumada a tanto luxo. Nem ao escrutínio de um homem- Ele não parava de encará-la.

— Quantos anos você tem?

A pergunta inesperada irritou-a, mas como não estava em posição de ser indelicada, respondeu:

— Vinte e três.

— Idade suficiente para ter desenvolvido um pouco de bom senso — ele observou. — Eu lhe aconselharia mais prudência se espera chegar aos vinte e quatro. Ninguém pode se descuidar da própria segurança nos dias de hoje. Nem sequer na Inglaterra. Em especial as mulheres.

Ele olhou pela janela e Lisa aproveitou para examiná-lo. Devia ser inglês, a julgar pelo comentário, embora não estivesse residindo no país há algum tempo. Sua pele estava profundamente bronzeada. Tentou calcular a idade. Uns trinta anos. Era bonito, mas sua arrogância a incomodava. Apesar de tê-la salvado, sua atitude não lhe despertava simpatia.

Como podia ser tão ingrata?, Lisa pensou em seguida. Se não fosse por aquele homem, sua vida poderia ter se transformado num pesadelo, se é que ainda estaria viva. Tinha o dever de se mostrar agradável ao menos.

Só então notou que ele estava usando um smoking.

— Espero não tê-lo atrasado para seu compromisso. O homem fez um gesto de indiferença.

— Alguns minutos. Não tem importância. Está viajando sozinha?

— Sim — Lisa admitiu, e seu temperamento rebelde acabou vencendo por mais que tentasse contê-lo. — Gosto de viajar sozinha. Gosto de fazer e de ver o que quero, na hora que quero.

— Poderia continuar fazendo o que quer mesmo com alguém acompanhando-a. Bastaria encontrar uma pessoa compatível com seus gostos. Não parece ser casada. Mas não é preciso ter um marido para ter proteção. Amigos normalmente são bons substitutos.

— Eu não tenho nenhum amigo cuja companhia me desperte interesse suficiente para ser meu acompanhante de viagens. Sei me cuidar. Cometi um erro esta noite, mas não tornará a acontecer. Portanto, não precisa se preocupar.

— Há lindas ilhas pela região se veio aqui para passar férias. Não deveria ficar apenas em Porto Rico.

Lisa não ficaria. Na manhã seguinte voaria para uma das ilhas. St. Thomas. Mas ela não pretendia dar explicações sobre sua vida.

Por sorte, o hotel já estava perto. Ao ver o edifício todo iluminado, Lisa quase suspirou de alívio. O quanto antes saísse da presença daquele homem, melhor se sentiria. Ainda bem que não correria o risco de tornar a encontrá-lo. Aquela seria sua última noite em San Juan.

Ele desceu da limusine para dar-lhe passagem. Quando ficaram frente a frente, para se despedirem, Lisa não pôde evitar um estremecimento. O desconhecido era muito mais alto do que ela, seus ombros eram largos e fortes sob o paletó de caimento perfeito. Poucas mulheres não se sentiriam atraídas fisicamente por ele.

— Obrigada mais uma vez — Lisa disse, por fim. — Sou-lhe muito grata pelo que fez por mim.

Ele inclinou a cabeça num gesto galante e irônico ao mesmo tempo.

— Foi um prazer servi-la. Cuide-se.

Lisa ouviu o veículo se afastar as suas costas. Estava entrando no hotel e seguiu em frente, sem olhar para trás. O saguão estava movimentado. Pessoas iam e vinham, muitas delas vestidas em trajes de gala próprios para a sofisticada vida noturna que a moderna San Juan oferecia.

Do bar vinha o som de uma música suave. Ela olhou para lá e pensou em tomar um drinque para se acalmar. Mas havia gente demais. Continuou, portanto, a andar e se dirigiu aos elevadores.

Com o vôo marcado para as oito horas da manhã, precisaria estar no aeroporto às sete e trinta o mais tardar. O melhor que tinha a fazer era se deitar cedo e procurar descansar.

Enquanto fechava a porta do luxuoso e amplo apartamento, alguns momentos depois, Lisa pensou na maré de sorte que vinha acompanhando-a. Devido ao atraso de uma hora no vôo de Nova York para San Juan, ela perdeu a conexão para St. Thomas. A companhia aérea compensou-a oferecendo-lhe hospedagem naquele magnífico hotel e não numa hospedaria qualquer de beira de estrada, conforme temera.

Seu destino final seria ainda melhor, provavelmente. O hotel Isle Royale tinha fama de ser um dos mais luxuosos do Caribe. Pelos folhetos turísticos que vira, com certeza também era um dos mais caros.

Jamais poderia se hospedar em hotéis daquela categoria se as contas dependessem de seu orçamento, mas o que importava que não fosse ela a pagar, se podia se hospedar nele ou como cliente a ser ressarcida por um transtorno ou como funcionária?

Sabia que não seria fácil lidar com uma clientela acostumada ao que havia de mais requintado, mas era uma excelente massagista e tinha confiança em suas habilidades.

Sua formação e treinamento foram de primeira linha. O fato de Gary Conway se interessar por ela o suficiente para lhe oferecer um emprego era um ponto mais do que positivo em sua carreira.

O período de experiência seria de três meses. Ao término, se fosse aprovada, assinaria um contrato. Lisa estava esperançosa. No Caribe, a alta temporada durava o ano todo. O sol brilhava quase todos os dias. Clientes não deveriam faltar.

Foi somente depois que se deitou que ela tornou a pensar no homem que a salvara. Rico e bem-sucedido, disso ela não tinha dúvida. Um cavalheiro em toda extensão da palavra, embora firme e dominador ao tratá-la, ele a impressionara mais do que desejaria admitir.

Não podia culpá-lo por ter pensado que era uma cabeça-oca como a maior parte das mulheres e que precisava de proteção para viver. Seu comportamento deixara realmente a desejar. Mas ela havia aprendido.

Por outro lado, não entendia a razão de estar tão preocupada com o que ele estava pensando a seu respeito. Não tornaria a vê-lo, é claro. O que devia fazer era fechar os olhos, virar de lado, e procurar dormir. Uma boa noite de sono era o que estava precisando.

Acordou às seis horas e apresentou-se no balcão do aeroporto às sete. Consultada pelo funcionário da companhia aérea sobre uma opção de vôo às sete e quinze, Lisa aceitou com entusiasmo.

Dirigiu-se ao portão de embarque indicado e colocou-se na fila, atrás de um grupo de quatro turistas, todos de short e camiseta.

Ela percebeu que alguém mais havia se juntado à fila. De modo instintivo, virou-se a fim de cumprimentá-lo. Seu sorriso congelou nos lábios no instante que seus olhos encontraram os mesmos olhos cinzentos da noite anterior.

A luz do dia, ele parecia ainda mais alto e seus ombros mais largos sob a camisa esporte azul-clara, aberta no pescoço.

— Então você seguiu meu conselho — ele murmurou com expressão surpresa.

— Não exatamente — Lisa respondeu. — Eu estava de viagem marcada para St. Thomas.

— Não foi a impressão que me deu ontem à noite. Ela deu de ombros, de propósito.

— Então você teve uma impressão errada.

— Parece que sim. Ainda bem. Lisa sorriu com falsa doçura.

— Pretende fazer turismo na ilha?

Ele negou com um movimento de cabeça.

— Moro em St. Thomas. Ao menos quando posso. Quanto tempo pretende ficar lá?

— Três meses pelo menos. — Lisa registrou a surpresa que a informação causou e procurou examinar a causa. De calça comprida de algodão e blusa sem mangas, ela estava longe de parecer uma turista capaz de prolongar suas férias por um período tão extenso. Quase explicou a ele a razão de sua permanência, mas não disse nada. Isso não era da conta de ninguém, apenas dela.

Com o grupo se avolumando diante do portão de embarque, os fiscais começaram a verificar as passagens e permitir o ingresso à sala de espera.

Lisa procurou se afastar assim que sua bagagem foi liberada, mas ele alcançou-a em poucos passos.

— As ilhas são. lindas e pitorescas. Confesso, porém, que são poucos os que permanecem mais de uma semana numa só. Você não pretende visitar as outras também?

— Visitar apenas — Lisa respondeu. — Prefiro conhecer um lugar a fundo do que vários superficialmente. Tenho certeza de que encontrarei muitas distrações em St Thomas. O sol, por exemplo. Em pleno novembro, eu quase não conseguiria vê-lo na Inglaterra.

— O tempo já deve estar nublado e úmido a essa altura. Não a culpo por querer fugir para o sol.

— Não parece ter visitado a Inglaterra recentemente.

— Acertou. Faz muitos anos que não viajo para lá. As lembranças da umidade e do fog remontam à infância. Minha família se mudou para o Caribe quando eu tinha doze anos.

— Para St. Thomas?

— Tortola.

Uma das Ilhas Virgens, Lisa pensou. Quis estender o assunto, perguntar se elas haviam mudado no decorrer dos anos, mas decidiu não prolongar o assunto.

O avião era um bimotor que parecia já ter visto épocas melhores. Lisa tentou se acalmar dizendo a si mesma que não havia perigo, que o aparelho fazia aquele trajeto de quarenta minutos várias vezes ao dia sem problemas.

Sentou-se numa poltrona junto à janela e suspirou. Enfim poderia se livrar daquele homem. Mas, embora houvesse lugares vazios, ele se acomodou ao lado dela.

— Chegaremos em tempo para o café da manhã — ele brincou. — Alugou um lugar ou ficará num hotel?

— Ficarei num hotel — Lisa respondeu e acrescentou, antes que ele perguntasse — Isle Royale.

— Por três meses? — O tom de surpresa deu lugar à perplexidade. — Fez reserva?

Não adiantava continuar omitindo a situação, Lisa pensou, resignada. Quase um nativo da ilha, ele sabia que apenas uma milionária poderia se hospedar num hotel da classe do Isle Royale por três meses.

— Não ficarei lá como hóspede — Lisa confessou por fim.

— Mas como funcionária.

— É mesmo? Em que departamento?

— Serei a massagista residente.

O rugido dos motores impediu o prosseguimento da conversa, mas se o modo com que ele franziu o cenho significava algo, ele não aprovou seu ramo de trabalho.

— Conseguiu esse emprego por intermédio de um anúncio de jornal?

— Oh, não! — Não era da conta dele, mas como Lisa sentia-se em dívida por causa do que acontecera na noite anterior, disse:

— O gerente do hotel distendeu um músculo enquanto corria no parque de St. James durante uma visita que fez a Londres no mês passado. Eu estava por perto e consegui ajudá-lo.

— E ele lhe ofereceu o emprego ali mesmo?

— Não. Ele foi ao instituto onde eu trabalhava e fez o tratamento.

— Aposto que as sessões foram caras.

— Não mais do que o que cobram em outros institutos — Lisa respondeu na defensiva.

O avião estava correndo na pista, preparando-se para decolar. Lisa apoiou a cabeça no encosto do banco e fechou os olhos. Estava acostumada a viajar em jatos. A impressão que tinha era que aquele aparelho não teria forças para subir.

Ao contrário do que esperava, a decolagem foi perfeita. Em poucos minutos a aeronave estava pairando nas nuvens e proporcionando uma vista belíssima do mar azul-turquesa com nuances se aproximando ao azul-marinho junto às ilhas. Mal podia acreditar que estivesse no Caribe, longe do mundo em que sempre vivera.

O homem a seu lado havia feito silêncio por fim. Mas como o silêncio se prolongasse, olhou-o de esguelha. Ele estava com os olhos fixos num ponto a frente e com o rosto sem expressão. Seu perfil era marcante. Os lábios eram firmes e o queixo bem definido. Não fazia idéia de quem ele era e de como ganhava ' a vida. Até aquele momento, ele sabia muito a seu respeito, e ela nada a respeito dele.

Não que isso fizesse alguma diferença. Quem quer que ele fosse, pertenciam a classes sociais diferentes. Não freqüentariam os mesmos círculos.

Ele manteve o silêncio até o final da viagem que Lisa aproveitou mais do que esperava. Estava tão fascinada com o cenário que nem sequer se lembrou que sempre sentia medo nas aterrissagens. Montanhas verdejantes encontravam-se com praias de areias brancas e construções em tons pastéis. Tinha certeza de que adoraria viver naquela ilha. Quem não se apaixonaria por tanta beleza?

Seu companheiro foi o primeiro a se levantar após o pouso da aeronave. No mesmo instante apanhou as bagagens de mão.

— Obrigada — Lisa agradeceu.

Ele parecia outro homem depois de descobrir que ela não era a pessoa por quem a tomara. Não sabia se o preferia agora ou antes. De qualquer modo, as primeiras impressões costumavam se provar erradas. O dinheiro, afinal, não tornava um ser humano melhor ou pior. Todos têm defeitos. E aqueles que se consideram superiores por causa de uma gorda conta bancária, não merecem um segundo olhar.

Caminharam em direção à alfândega que estava localizada

num prédio pequeno mas bem mais moderno do que esperava encontrar. Como já havia passado por inspeção na noite anterior em San Juan, Lisa foi liberada e pôde seguir imediatamente para a esteira de devolução de bagagens. Ele, no entanto, juntou-se a uma fila. Ela não se importou. Ao contrário. Esperava que aquela fosse a última vez que se vissem.

A bagagem lhe foi devolvida somente após uma longa espera.

— Sistema caribenho — informou o fiscal. — Todos trabalham com calma por aqui. A escolha é irritar-se ou aceitar o fato.

Determinada a manter a calma, Lisa sorriu.

— Talvez seja uma boa ocasião para eu aprender a viver em ritmo mais lento para variar.

— Até que aconteça uma emergência — o homem acrescentou.

Mas Lisa não queria pensar em emergências. Tudo estava correndo bem até aquele momento. Enquanto pudesse, seguiria o conselho do funcionário.

Suas duas malas eram grandes e pesadas, e não havia carregadores nem carrinhos por perto.

Ela estava se dirigindo à saída a fim de alugar um táxi, quando trombou com alguém.

— Eu as levo para você. Tenho um carro a minha espera.

— Não é necessário, obrigada — Lisa respondeu, quase agressiva. — Eu posso dar um jeito.

— Sob a ameaça de distender seus próprios músculos, eu diria. Não valeria a pena, não acha? Afinal, seu emprego depende de seus braços e mãos. Além disso, estou indo para o mesmo hotel que você.

— Pensei que tivesse dito que reside na ilha.

— Sim. Quando estou em St. Thomas, moro no Isle Royale. Um hóspede regular. Talvez isso explicasse o interesse fora do normal que ele demonstrara por sua contratação. Embora não o justificasse.

— Posso pegar um táxi.

— Os táxis não são baratos aqui. Nada é barato na ilha, aliás.

— Não sou uma mendiga como parece estar pensando. Tenho condições para pagar um táxi de vez em quando.

Ele não se desculpou, mas continuou insistindo.

— Mas como estamos seguindo para o mesmo lugar, para que um táxi? Aceite a oferta.

Lisa, é claro, acabou aceitando.

O carro que os esperava era uma perua Dodge nova em folha, com um indiano bem moreno como motorista. Seu sorriso era afável e os modos gentis.

Ao ver que os outros viajantes se dirigiram a veículos iguais, ela entendeu que aqueles deveriam os táxis disponíveis na ilha.

— Não trouxe nenhuma mala? — Ela estranhou ao ver apenas as suas no interior do veículo.

— Eu tenho um guarda-roupa aqui. A propósito, meu nome é Brett Sanderson.

— Lisa Renshaw. — Ela fez um esforço para adotar uma atitude apropriada. — É muito amável, sr. Sanderson.

Havia ironia no movimento que ele fez com a cabeça.

— Como já disse, estamos seguindo para o mesmo local. Verá o Royale impor-se sobre a cidade assim que começarmos a subir a montanha. Fica à três quilômetros de distância da praia mais próxima, mas a vista do porto de Charlotte Amalie compensa essa pequena desvantagem. Muitos turistas vêm a St. Thomas por causa dela. Dizem que é uma das quatro mais lindas do mundo, em especial à noite.

Lisa acreditava naquelas palavras. Vira fotos em livros de viagens e elas, na verdade, haviam sido as responsáveis por ela ter aceitado a oferta de emprego sem pestanejar.

Naquele noite, teria a oportunidade de vê-la pela primeira vez, mas estava determinada a vê-la muitas outras vezes. Queria ter sucesso naquele novo emprego e naquela nova vida, custasse o que custasse.

Uma cidade antiga com montanhas verde-esmeralda em contraste com lindas praias, Charlotte Amalie apresentava a atmosfera da qual Lisa sentira falta em San Juan.

Era capaz de reconhecer vários lugares pelo que vira em seus livros de geografia. O prédio verde-claro da prefeitura de frente para o mar e a estrutura avermelhada do forte Christian que fora erguido para proteger os primeiros colonizadores dos intrusos estrangeiros. Mais além, estava o Castelo de Barba Azul com seu telhado vermelho e pitoresco. O hotel havia sido construído ao redor de uma velha torre de pedra que, supostamente, havia pertencido ao legendário pirata. Mais alto ainda, destacando-se com sua brancura em contraste com o verde da montanha, estava o Isle Royale.

Para chegar lá era preciso percorrer uma estrada estreita e íngreme que serpenteava montanha e bosques acima e que terminava numa imponente entrada sob um arco.

De repente, dois roedores de pêlo marrom passaram na frente do veículo e correram para os arbustos em flores.

— Mangustos — disse Brett Sanderson quando Lisa virou para trás para tentar vê-los. — Verá muitos deles por aqui. E também iguanas, embora o melhor lugar para encontrá-las seja a praia de Limetree.

O motorista fez uma última curva antes de estacionar a limusine junto a um portal.

Lisa desceu e se maravilhou com a vista esplêndida do porto e das ilhas vizinhas. Havia dois navios brancos ancorados no porto. Os turistas deviam estar pululando pelas ruas e pelas lojas. Também havia pequenos barcos salpicando o mar azul. O calor era intenso mas uma brisa suave trazia até ela as essências de jasmim e de hibisco.

— E ainda mais bonito ao vivo do que em fotos! — Lisa exclamou com genuíno entusiasmo. — Mal posso acreditar que esteja aqui.

— Não está sonhando, eu garanto — disse Brett Sanderson. — Mas se já estivesse aqui alguns anos atrás, quando Hugo nos atingiu, teria considerado um pesadelo.

Lisa olhou para a fachada do hotel que era feita em pedra.

— Não vejo sinais de destruição.

— O Royale foi construído um ano depois da passagem daquele furacão. A ilha ficou devastada.

O motorista havia retirado a bagagem do porta-malas e colocado-a na entrada do hotel. No mesmo instante, surgiu um jovem funcionário vestido ao estilo da ilha: calça branca e camisa de algodão amarela. No rosto havia um sorriso de boas-vindas.

— Eu as levarei, madame, para a recepção.

Antes que Lisa pudesse tentar fazer uma observação, ele já havia desaparecido.

Brett Sanderson pagou o motorista e apontou para a porta de entrada.

— Vamos?

Como trabalharia no hotel, Lisa não achou certo se apresentar na recepção. Não era uma turista. Mas seguiu Brett.

Afinal ele morava ali e devia conhecer todas as salas e funcionários. Uma vez no hall, provavelmente lhe indicaria o local onde era esperada.

Estavam se aproximando do balcão quando seus braços se tocaram. Foi como se uma carga elétrica a atingisse.

A decoração era tão elegante que o suntuoso Ambassador Plaza se sentiria acanhado em comparação. O piso era todo de mármore. Havia plantas tropicais onde quer que se olhasse. Ela sorriu consigo mesma. Parecia ter entrado num dos romances de Somerset Maugham.

Um homem de feições familiares começou a andar em sua direção. Ela sorriu, dessa vez de alívio. Era Gary Conway, o gerente, um homem bonito e agradável de 42 anos.

— Olá! — Lisa cumprimentou-o. — Enfim, cheguei!

— Ótimo — ele respondeu, constrangido. Olhava de um para o outro, sem saber o que fazer. — Não o esperávamos esta semana, Brett.

— Mudança de planos — ele respondeu com uma entonação que despertou a atenção de Lisa. — Acabei de saber que contratamos uma massagista?

O constrangimento pareceu acentuar-se.

— A idéia de contratarmos uma massagista permanente foi sua.

— E foi preciso ir à Inglaterra para encontrar uma?

— Bem, não. Foi por casualidade. Eu estava na Inglaterra quando caí e precisei de tratamento. Lisa é uma profissional muito competente. Sua técnica é incomparável.

— Desculpe — Lisa interrompeu-os, incapaz de conter a curiosidade. — Eu posso saber o que está acontecendo?

Gary olhou para ela.

— Pensei que já soubesse. O sr. Brett Sanderson é o dono deste hotel.

 

 



  

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