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CAPÍTULO II



CAPÍTULO II

 

O primeiro impulso de Lisa foi fugir para longe daqueles olhos cinzentos. Em seguida, precisou lutar consigo mesma para não esbravejar. Não gostava de ser feita de tola.

— Por que não me disse quem era?

— Não achei necessário. Você acabaria descobrindo mais cedo ou mais tarde.

— Devo entender que a oferta de emprego já não é válida?

Ele fez um gesto com os ombros.

— Já que está aqui, pode ficar e provar se meu gerente estava certo ou não em chamá-la. O período normal de experiência deveria ser três meses, mas eu o abreviarei para seis semanas. Gary, nós ainda não tomamos o café da manhã. Creio que a srta. Renshaw apreciaria conhecer seu quarto e descansar um pouco. Mande servir o café em seus aposentos. Eu tomarei o meu no restaurante.

Uma aura de poder parecia envolvê-lo, Lisa pensou enquanto acompanhava com os olhos cada um de seus passos à medida que se afastava. Com tantos homens no mundo, por que tivera de ser ele a salvá-la do assalto? O homem que decidiria sobre o emprego que mais queria!

— Sinto muito — Gary murmurou. — Brett não costuma vir à ilha nesta época do ano. Eu esperava que você já tivesse provado seu valor antes que sua presença precisasse ser explicada. Apesar de que foi ele mesmo quem sugeriu que contratássemos uma massagista permanente.

— Não uma inglesa, é óbvio. Talvez até preferisse um homem — Lisa retrucou. Por outro lado, por que deveria zangar-se

com o gerente? Ele não tinha culpa. — Paciência. Se Brett Sanderson não aprovar minha contratação, ao menos tive a oportunidade de conhecer St. Thomas e morar neste hotel magnífico por seis semanas.

— Tenho certeza de que ficará muito mais. Brett é exigente com seus funcionários, mas não hesita em satisfazer os clientes. Ele se orgulha de ser o número um em cortesia. A propósito, como se conheceram?

— No avião. Embarcamos juntos em San Juan. — Ela não viu necessidade de mencionar o encontro anterior. — Quando ele me ofereceu uma carona, pensei que estivesse hospedado aqui. Confesso que surpreende-me o fato de ele não contar com transporte aéreo próprio, com a posição que tem.

— Ele costuma usar o jato da empresa em suas viagens — Gary confirmou. — O piloto não deve ter tido tempo para prepará-lo após aterrissarem em San Juan. Eles saíram de Boston na sexta-feira à noite.

— O compromisso deveria ser muito importante — Lisa sugeriu com ironia ao pensar no smoking. — Um homem como ele certamente tem amigas em todas as cidades que freqüenta.

Gary deu uma risada.

— Talvez esteja certa. Conheço duas, ao menos, que valem qualquer sacrifício. Pedirei que um dos mensageiros acompanhe-a até seus aposentos. Tem permissão para chamar o serviço de quarto e pedir o que quiser para o café.

— Não estou com fome. Acho que prefiro esperar o almoço.

— A escolha é sua. Se mudar de idéia, o serviço funciona as vinte e quatro horas do dia. Volte aqui depois que arrumar suas coisas. Eu lhe mostrarei o lugar. — Antes de dispensá-la, Gary sorriu. — Não se preocupe. Dará tudo certo.

Era o que ela esperava. Os últimos minutos haviam apagado um pouco de seu entusiasmo. Queria fazer algumas perguntas, mas sabia que aquele não era o momento. Gary tinha seus afazeres. Mais tarde, talvez, pudessem retomar os planos amigáveis que haviam feito. Não sentiam atração um pelo outro no sentido romântico, mas entenderam-se bem desde que se conheceram.

O mensageiro que se identificou como Cleveland levou-a a sua nova moradia.

O alojamento para os funcionários ficava separado do prédio principal. Era uma construção de dois andares com arcadas em estilo espanhol que se abriam para um terraço coberto em toda extensão do andar superior. Pintado de branco e enfeitado de primaveras, parecia um sonho.

O quarto de Lisa localizava-se no andar superior. Espaçoso e confortável, com móveis novos e bonitos, contava com uma porta-balcão que dava para o terraço. O piso era de cerâmica bege com dois tapetes rústicos nos trechos de maior uso. A cama ficava escondida dentro de um sofá colocado numa espécie de alcova formada por armários. Para completar, havia um banheiro pequeno, mas adequado, com chuveiro.

Segundo o mensageiro, todas as dependências de funcionários eram iguais, embora poucos morassem no hotel.

— O sr. Sanderson é um bom patrão — declarou o jovem moreno com forte sotaque típico das índias Ocidentais —, mas quase não vem aqui.

Desfeita a bagagem e com grande parte da manhã ainda pela frente, Lisa proporcionou-se alguns minutos para desfrutar da paisagem.

Daquele ângulo era possível avistar apenas uma parte do porto, mas o mar perdia-se até a linha do horizonte. Outro transatlântico estava a caminho. Aparentemente, as companhias de navegação faziam de St. Thomas uma escala para seus cruzeiros ao Caribe.

A ilha, por Ser um porto livre além de possuir paisagens idílicas, atraía muitos turistas e compradores. Não tantos da Inglaterra, é claro, devido às limitadas cotas estabelecidas pelo governo. Por isso, era melhor ela começar a se vigiar desde o início para não se empolgar e comprar mais do que poderia levar de volta a seu país.

A insegurança estava começando a dar lugar ao otimismo. Dependia dela mostrar a Brett Sanderson que era uma massagista capaz de agradar a clientela do Isle Royale. Gary havia comentado algo sobre eles terem discutido esse assunto em Boston. Boston, portanto, devia ser a base principal dele. Talvez ela nem sequer tornasse a encontrá-lo durante seu período de experiência de seis semanas.

Eram quase dez horas quando Lisa retornou à recepção a fim de perguntar por Gary. Encontrou-o lá, conversando com um casal.

Enquanto esperava, junto a um vaso com grandes folhagens, Lisa aproveitou para observar os hóspedes que entravam e.saíam. Logo eles poderiam ser seus clientes, afinal. Sabia que. oitenta a noventa por cento a procurariam apenas para fins de relaxamento ou estética. Não importava. Estava pronta para atendê-los em suas necessidades.

— Desculpe a demora — Gary disse quando conseguiu se livrar do casal. — São clientes antigos e assíduos. Passam todos os meses de novembro conosco desde que abrimos.

—Um mês inteiro! Devem pagar uma fortuna—Lisa comentou.

— Sim. O Isle Royale não é um hotel econômico. Vamos a nosso pequeno tour! Pensei em lhe mostrar nosso pequeno ginásio em primeiro lugar. Os entusiastas da forma física perfeita aliada à saúde-o freqüentam várias horas por dia. Sua sala ficará anexa a ele. É claro que alguns clientes preferem a privacidade de suas suítes. Nesse caso, terá de ir a eles.

O ginásio estava situado no porão do hotel, mas devido à inclinação do terreno, havia algumas janelas que recebiam iluminação natural.

No lugar de algumas paredes havia portas de vidro corrediças que davam acesso aos jardins, às piscinas e ao solarium.

A vista, de todos os pontos, era magnífica. Lisa pensou que nunca se cansaria de admirá-la, mesmo que vivesse ali por muito tempo.

Bem equipado para seu tamanho, o ginásio contava com apenas um cliente naquele momento. Um homem de seus cinqüenta anos que, provavelmente, seria seu primeiro cliente, a julgar pejo esforço que estava fazendo ao levantar pesos.

— Deveria haver alguém para supervisionar os aparelhos e as pessoas — Lisa murmurou. — Muitas vezes elas prejudicam sua saúde, pensando que estão se beneficiando dos exercícios.

— O ginásio fica fechado aos domingos — Gary estranhou. — O pessoal da limpeza deve ter esquecido de trancar a porta. Se ele ainda estiver aqui depois que terminarmos nosso tour, darei um jeito para tirá-lo da sala.

De repente, os olhos de Gary pousaram sobre a túnica branca que Lisa estava usando.

— A propósito, você não precisa usar uniforme. Short e camiseta, além de confortáveis, são usados o dia inteiro por aqui e por todas as pessoas.

Túnicas imaculadamente brancas eram a ordem do dia nos salões de Londres. Lisa vestira-a de maneira automática antes de se apresentar a Gary conforme ele pedira. Assim como os sapatos brancos. Gostava de usar short e camiseta. Esse tipo de roupa talvez fosse mais apropriado ao clima da ilha. Mas não se sentiria bem se trabalhasse sem seu uniforme. Além disso, a sala de massagem contava com um aparelho de ar-condicionado.

Gary levou meia hora para lhe mostrar o hotel. Como os hóspedes chegariam apenas no final da tarde, ele lhe mostrou, inclusive, uma das suítes especiais.

— Estamos com a lotação completa até o Reveillon — Gary contou com orgulho. — Você passará um Natal diferente de todos os outros de sua vida. Um Natal no Caribe.

Com o sol brilhando no céu e uma temperatura de mais de trinta graus era difícil para Lisa aceitar que o Natal estivesse a apenas quatro semanas.

Seria seu primeiro Natal longe da família, mas seus pais insistiram que desse prioridade ao emprego e ela acabara concordando em tentar algo novo. De qualquer modo, se não desse certo, no início do ano ela já estaria de volta.

Mas queria que desse certo. Pensaria positivo. Se falhasse no teste, não seria por falta de esforço nem de dedicação.

Debruçada sobre o gradil do terraço da suíte, Lisa admirou a paisagem que cercava o hotel. Notou, então, que havia uma outra casa numa pequena elevação, ainda no território do Royale.

— É a residência de Brett quando ele não está em Boston — Gary explicou. — Não mora aqui a maior parte do tempo, mas é seu lugar preferido. É onde consegue relaxar.

— Quer dizer que ele quase nunca vem a St. Thomas?

— Ele vem em fins de semana ocasionais, feriados prolongados e quando consegue dar uma escapada. Eu não o esperava hoje realmente. Brett costuma passar um mês na ilha a partir do Natal. A um mês da data, confesso que estranho sua presença. Não que ele não tenha o direito de vir no momento que desejar. Afinal é o dono e tem dinheiro suficiente para se aposentar a qualquer instante.

Seria impressão de Lisa ou havia uma nota de inveja na observação? Não devia ser fácil para Gary ter um patrão dez anos mais moço do que ele.

— Ou ele é viciado em trabalho ou um ganancioso. Isso deve explicar — Lisa declarou.

Gary fez um movimento com os ombros.

— Brett é um bom patrão. Ele quase nunca interfere em minhas decisões quanto à administração do Royale.

— A não ser com relação a mim?

— O que não deixa de ser compreensível. Eu tomei a decisão sem refletir. E claro que ele não considerou a contratação sob um enfoque comercial como deveria ter ocorrido.

— Está arrependido por ter me convidado?

— Claro que não — Gary se apressou a dizer e ela respirou, aliviada. Por um momento havia ficado em dúvida sobre as verdadeiras intenções do gerente.

— Preciso descer agora — ele avisou-a. — Não posso ficar longe de rainha sala por muito tempo. É incrível, mas se algo tem de dar errado, sempre acontece quando saio de minha sala por algum motivo. E você pode se preparar para começar a trabalhar a partir de terça-feira. Mandei colocarem um aviso no quadro de que contamos com uma massagista para atender nossos clientes.

— Eu poderia começar hoje mesmo ou amanhã.

— Terá um dia para se refazer da viagem e se adaptar ao fuso horário.

Lisa desceu pelo elevador. Estava se sentindo ótima. Talvez a parada em San Juan houvesse ajudado no sentido de adaptação ao fuso. Não sentia nenhum cansaço.

Meio-dia em St. Thomas significava cinco horas da tarde na Inglaterra. No domingo anterior, a essa hora, ela estava se despedindo dos pais antes de voltar a Londres para cumprir seu aviso prévio no instituto.

Acostumada a visitar os pais com freqüência, pois Northwood ficava perto de Londres, sentiria saudade. Principalmente se fosse aprovada no teste e fosse contratada em caráter definitivo.

Não que se arrependesse pela decisão que tomara. Vivia muito só em Londres embora dividisse um apartamento com duas amigas. Ambas estavam sempre envolvidas emocionalmente. Ela, contudo, apesar de já ter namorado algumas vezes, nunca se apaixonara realmente.

Era por esse motivo que queria tanto que o novo emprego desse certo. Estava ansiosa por um novo prospecto de vida.

— Prefiro fazer as refeições com os outros funcionários — ela disse quando Gary sugeriu que se encontrassem à uma hora para o almoço. — Não quero privilégios.

— Somente hoje, então — Gary insistiu. — Como um sinal de boas-vindas.

Lisa concordou com relutância. Um almoço com o gerente logo em seu primeiro dia no hotel poderia significar distanciamento dos demais funcionários. E ela estava precisando de amigos.

Voltou para o quarto e trocou a túnica por um vestido simples de algodão listrado de verde e marfim. Calçou sandálias trançadas. Havia feito três sessões de bronzeamento antes de embarcar. Não estava morena, mas sentia-se à vontade o suficiente para exibir as pernas sem meias. Aliás, como era bom não precisar usar meias! Naquele clima, talvez pudesse aposentá-las!

Perambulou pelo terreno do hotel até o final da manhã. Observou os hóspedes. Todos eram de meia-idade ou mais velhos com exceção de um ou dois casais de jovens. Não viu nenhuma criança. Aquele, portanto, não era um local ideal para férias em família. Para uma lua-de-mel, contudo, era maravilhoso.

Uma forte sirene a fez olhar em direção ao porto. Um dos navios de cruzeiro estava partindo. Gostaria de permanecer ali e assistir a cena, mas faltavam apenas cinco minutos para a uma e Gary a esperava no restaurante.

O maitre informou-a que o sr. Conway já se encontrava no terraço, a sua espera. Ela seguiu-o por entre as mesas ocupadas e por mais arranjos de folhagens tropicais. Deteve-se e seu primeiro impulso foi recuar quando viu que Brett Sanderson estava sentado à mesma mesa que Gary. Mas era tarde demais para fugir, pois fora vista.

Ambos os homens se levantaram a sua aproximação e esperaram que o maítre lhe puxasse uma cadeira antes de retomarem seus lugares. Isso a fez sentir ainda mais desconfortável. Não dava para adivinhar o que Brett Sanderson estava pensando pois sua expressão era indecifrável, mas tinha certeza de que ele não estava satisfeito em tê-la tão cedo outra vez em sua companhia.

— Não imaginei que fosse encontrá-lo aqui, sr. Sanderson

— ela disse, à guisa de justificativa.

— Gosto de me misturar de vez em quando — ele respondeu.

— Já se acomodou?

— Mais ou menos — Lisa respondeu e se calou. Não sabia o que dizer. Sentia-se como um micróbio sob as lentes de um microscópio.

Gary felizmente salvou-a, ao lhe entregar o cardápio numa capa de couro.

— Escolha à vontade. Não há pre8sa e as opções são muitas. Gostaria de tomar alguma coisa?

— Água gelada é o suficiente, obrigada — ela respondeu ao receber um copo de um garçom que surgiu inesperadamente a seu lado.

— Está de dieta? — Brett Sanderson perguntou

— Não.

— É diferente das outras mulheres. Quase todas são obcecadas por dietas.

— Talvez as que conheça. Eu nunca tive problemas com meu peso.

— As que eu conheço tampouco têm problemas — ele retrucou —, mas isso não faz diferença. A verdade é que não é nada divertido levar uma mulher para jantar quando ela não parece apreciar um bom prato.

— Talvez as deixe nervosas — Lisa sugeriu. Ele fitou-a de modo inquiritivo.

— Eu a deixo nervosa?

— Não o bastante para comprometer meu apetite. Ainda mais num restaurante como este onde tudo deve ser delicioso. A propósito, eu não pretendo fazer minhas refeições aqui todos os dias.

— Os funcionários são muito bem tratados neste hotel. — A resposta foi rápida e seca.

Lisa corou, ciente de que estava sendo colocada em seu devido lugar. Não podia culpar Brett Sanderson. Ela estava pedindo por isso desde que chegara. Que mania de desafiar as pessoas! Se queria permanecer no emprego, ao menos durante seis semanas, era melhor conter seu espírito rebelde!

A chegada de outro garçom desanuviou a atmosfera. Como os preços não constavam do cardápio, ela procurou escolher a entrada e o prato principal que acreditou serem os mais baratos.

Enquanto esperavam pelo almoço, Lisa aproveitou para admirar a vista do mar sobre o ombro de Gary Conway. Aquilo que era vida e aquilo que era luxo, ela pensou. O sol brilhava na água, transformando sua superfície em prata. Um iate solitário deslizava rumo ao horizonte. Barcos com velas muito brancas cortavam o azul do mar.

— Você precisará de um carro para se locomover pela ilha — Brett disse, pegando-a distraída. — Sabe dirigir?

— Sim — respondeu —, mas...

— Há um jipe extra que poderá usar, se não se importar com o desconforto.

— É muito amável, obrigada. Eu gostaria muito de aproveitar minha permanência para conhecer a ilha.

— Precisará de um mapa. As estradas não são bem sinalizadas. A baía de Magen é muito bonita e fica do outro lado da colina. Se quiser aproveitar uma praia em sua folga, é a que fica mais próxima. E o mais importante: é considerada uma das dez melhores do mundo, de acordo com a National Geographic.

— Eu a visitarei com toda certeza. Obrigada — Lisa respondeu, entusiasmada. Brett Sanderson estava sendo muito gentil de repente. Estaria arrependido de sua atitude inicial?

Apesar de breve, o sorriso que ele deu fez sua pulsação acelerar.

— De nada.

— lisa tem um irmão que trabalha no ramo de hotelaria — Gary disse, — É o segundo chef do Savoy, nem mais nem menos!

— Incrível. Precisamos incluí-lo em nossos arquivos para uma futura referência.

Incapaz de se conter, Lisa retrucou:

— Duvido que ele esteja interessado. Está muito satisfeito com o atual emprego.

— Nesse caso, não o chamaremos, é claro.

Dessa vez ela mordeu o lábio.para sé punir. Fora impetuosa demais em sua observação. Suas palavras não deveriam ter sido levadas a sério. A impressão que tinha era que Brett Sanderson estava se divertindo a sua custa.

O almoço, apesar de tudo, foi agradável. A comida era esplêndida, o serviço impecável. Sentia-se pouco à vontade por estar sendo tratada pelo garçom como se fosse uma hóspede. Sempre que surgia uma oportunidade procurava demonstrar quem era, mas ele permanecia impassível. A única vez que o viu sorrir foi quando Brett Sanderson perguntou sobre sua esposa e filhos.

— Loxley trabalha conosco há anos — disse Gary enquanto tomavam o café. — Como quase todos nossos funcionários. Trabalhar no Royale dá prestígio.

— Também proporciona um salário acima da média do mercado — acrescentou o dono. — A lealdade não é gratuita.

— Lealdade não pode ser comprada a meu ver — Lisa retrucou. — A genuína ao menos.

— Lealdade genuína é um luxo de que poucos podem dispor. Veja seu próprio caso. Se for tão boa quanto Gary afirma, então seus ex-patrões devem ter sentido sua perda. No entanto, você esqueceu sua lealdade a eles em troca de uma melhor oferta. — Ele se deteve e encarou-a. — Não estou criticando-a, apenas apontando um fato.

Foi com dificuldade que Lisa se calou ao comentário. Não que tivesse alguma resposta pronta. Brett Sanderson estava certo em sua linha de raciocínio. Seus patrões haviam implorado para que continuasse no instituto, mas não adiantou. A oferta de Gary era boa demais para ser recusada. Quem teria resistido? Brett Sanderson podia ser um cínico, mas estava certo. A lealdade genuína muitas vezes exigia um sacrifício que muitas pessoas não estavam preparadas para assumir.

— Qual é o método de massagem que emprega? — Brett perguntou.

— Depende do cliente — ela respondeu. — Sueco para aqueles que procuram mais estímulo do que relaxamento. Reflexologia, porém, é o que mais gosto de oferecer. Tenho estudado muito a respeito.

Se ela esperava impressioná-lo com sua ciência, não conseguiu.

— São massagens concentradas nos pés, não é isso?

— Nos pés e nas mãos, embora os pés proporcionem pontos mais definidos de indicação.

— De que indicação você está falando? — Gary quis saber, interessado.

— De conexões que ligam os pés ao resto do corpo — Lisa explicou. — Se a pessoa estiver com algum problema, o órgão correspondente provocará uma inflamação reflexa em algum ponto do pé.

— Parece especulação — ele respondeu, sem se deixar convencer.

— Não é — Lisa garantiu. Estava acostumada a esse tipo de reação. — Ainda estou estudando o processo e não posso dizer que sou uma expert, mas o tratamento realmente funciona.

— Eu não tenho nenhum problema de saúde do qual tenha conhecimento — Brett declarou —, mas creio que será uma boa idéia receber uma massagem experimental, antes de liberá-la para meus hóspedes. Poderíamos marcar para as três horas?

Foi mais uma ordem do que uma sugestão e ela não estava em posição de discutir, por mais que relutasse em ser colocada sob aquele tipo de teste.

— E claro. Acho justo que queira saber como está aplicando seu dinheiro.

Ele sorriu de um modo irônico e terminou o café. Quando se levantou, Gary imitou o gesto. Brett fez um sinal para que permanecesse sentado.

— Fique. Vou para casa. —Virou-se para Lisa. — Encontro-a em uma hora.

Lisa consultou seu relógio de pulso.

— Menos — ela corrigiu-o. — Já são duas e dez.

— Em cinqüenta minutos, então — ele disse com mais ironia ainda. — Devo mencionar também os segundos?

Era isso que ganhara por ser tão pedante, Lisa reprovou-se. Na tentativa de disfarçar o constrangimento, sorriu para Gary.

— Não creio que tenha causado uma boa impressão até agora.

— Sua técnica conseguirá reverter a situação, se for o caso — Gary procurou tranqüilizá-la. — Isso é o que importa. O problema é que Brett está acostumado a ter as mulheres a seus pés.

Lisa não duvidava disso. Com sua aparência, posição e dinheiro, Brett Sanderson poderia ter qualquer mulher que quisesse.

Gary foi chamado para resolver um problema assim que saíram do restaurante.

De volta ao seu quarto, Lisa decidiu vestir um short e uma camiseta como Gary aconselhara. Olhou-se ao espelho e despiu-se. Jamais conseguiria trabalhar sem sua túnica branca. Sentia-se mais à vontade de uniforme, dissesse o gerente o que dissesse.

Como usava os cabelos em estilo Chanel, com as pontas viradas para baixo na altura do queixo, Lisa podia prendê-los quando necessário ou penteá-los com sofisticação.

Um corte mais curto talvez fosse mais apropriado ao clima, mas ela não sacrificaria seus cabelos, principalmente porque não sabia por quanto tempo ficaria na ilha. Por mais que quisesse pensar positivo, nada era certo quando tudo dependia da decisão de Brett Sanderson.

Ela só tinha certeza de uma coisa. Não haveria bajulações de sua parte. Se conseguisse permanecer no emprego seria por seu próprio mérito.

Embora ainda fossem apenas duas e meia, Lisa dirigiu-se ao.ginásio. As portas estavam fechadas agora, mas Gary havia lhe dado uma chave.

A sala de massagem era bonita e arejada. Os armários estavam arrumados e o estoque estava em ordem.

Escolheu um óleo com essência de canela que julgou ser o mais indicado para o homem em questão. Em seguida, examinou a mesa para se certificar de que estava firme e os lençóis limpos. Como não havia mais nada a fazer, sentou-se e esperou.

Brett se apresentou no horário marcado, de short e camiseta. Suas pernas eram fortes e bronzeadas. Lisa procurou não demonstrar sua reação quando ele saiu do vestiário apenas com uma toalha ao redor dos quadris. Afinal, Brett Sanderson não era o primeiro homem a deitar em sua mesa de massagem.

Ele se deitou de bruços. Ela fez o primeiro contato com a pele dele colocando sua mão na curva da coluna. Sentiu o músculo contrair de imediato. Respirou fundo. Também havia sentido algo sem precedência em sua carreira. Algo difícil de ignorar.

Espalhou o óleo nas palmas das mãos e começou a lenta e suave massagem pelos ombros. Brett Sanderson tinha um corpo perfeito, pensou. Os ombros eram fortes, sem que ele tivesse chegado ao exagero de dobrá-los de tamanho por meio de musculação como muitos homens consideravam o ideal de beleza.

Pouco a pouco, «Ia foi aumentado a pressão nos movimentos. Ele permaneceu imóvel, com os olhos fechados, em total relaxamento. Sua boca, porém, continuava firme.

Como Gary não mencionara uma esposa, ela acreditava que Brett Sanderson fosse solteiro. Ou divorciado.

De qualquer modo, ele não devia ser uma pessoa fácil de conviver. Era autoritário demais. Esse tipo de atitude poderia agradar algumas mulheres, mas ela detestava homens mandões.

Quando atingiu a terceira etapa do processo de massagem que exigia uma pressão mais intensa, ouviu um pequeno som, mas nenhuma reclamação da parte dele. Aplicou a técnica nas costas e em ambas as pernas. Ao término, fez movimentos mais suaves e relaxantes por toda a extensão do corpo.

— Poderia se virar, por favor?

Ele não respondeu, mas atendeu seu pedido de imediato com um ligeiro sorriso.

Lisa gostaria de estar realizando aquela massagem com a mesma naturalidade que empregava nos outros clientes. Mas sentia-se desconfortável diante de Brett desde o primeiro instante. E a visão daquele peito largo, com um tufo de pêlos entre os peitorais não estava ajudando. Muito menos o deslizamento da toalha sobre o abdômen a ponto de quase expor o sexo.

— Deve fazer ginástica com regularidade — ela se ouviu dizendo.

— Sempre que posso — ele confirmou. — Tenho um pequeno ginásio particular em meu apartamento em Boston.

— É lá que se concentram seus outros negócios? — Lisa indagou. — Mais um hotel, talvez?

— Não. O Royale é meu único investimento nesse sentido.

— Mas muito bem-sucedido.

— Sim. — Ele fitou-a com uma sobrancelha erguida. — Podemos continuar?

— É claro.

Um intenso calor lhe subiu pelo rosto. Esperava que ele não percebesse. Pela primeira vez não estava se sentindo à vontade em seu trabalho.

Despejou mais algumas gotas de óleo nas mãos e voltou a massageá-lo, evitando encontrar seus olhos. O que não era fácil. Brett Sanderson não parava de olhar para ela.

Felizmente, suas mãos não traíram sua perturbação interior. Ninguém diria que estava se sentindo como uma iniciante na profissão. Massageou-o com as palmas, dedos e juntas e no final até com os polegares. Não precisaria ter se aprofundado tanto. Fez isso numa espécie de retaliação.

O súbito movimento que ele fez de segurá-la pela nuca e de puxar sua cabeça para baixo pegou-a tão desprevenida que não conseguiu se soltar.

O beijo foi rápido, mas enquanto durou, teve um efeito devastador.

— Sessão encerrada, pagamento em espécie — ele disse e soltou-a.' Quando se levantou, Lisa deu um passo para trás.

— Nunca foi beijada?

— Já, mas nunca tive clientes que tentassem se aproveitar da situação — Lisa retrucou assim que recuperou o controle.

— Costuma se comportar assim com todas suas empregadas? Acha que sua posição lhe dá privilégios especiais?

— Está se referindo ao fato de elas não reclamarem porque são bem pagas? — Ele sorriu. — Confesso que nunca parei para pensar nisso. De qualquer forma, o problema não se aplica a você. A propósito, tem o hábito de judiar daqueles com quem não simpatiza?

Lisa sentiu as faces afoguearem outra vez.

— Sinto muito se o fiz sentir desconfortável em algum ponto da massagem. Não foi intencional.

— Claro que foi — ele desmentiu-a. — Você quis se vingar por eu não lhe ter contado quem era.

Ele estava certo, mas ela não queria nem podia admitir sua fraqueza.

— Não seja ridículo!

— E você não seja insubordinada! Sejam quais forem as circunstâncias, sou seu patrão. Tente demonstrar um pouco de respeito.

Lisa precisou engolir em seco para não obedecer ao instinto e dar uma resposta agressiva. Viajara uma longa distância e fizera muitos planos para abandonar tudo diante do primeiro obstáculo.

— Assim está melhor — ele continuou. — Saber controlar a língua demonstra sabedoria. Quanto a sua técnica, não vi nada de errado. Os clientes, contudo, é que darão a resposta final. Em minha experiências, as mulheres preferem homens para massageá-las. Os homens, as mulheres. Você, sem dúvida, atrairá muitos hóspedes do sexo masculino. Se tiver algum problema com eles, quero ser informado.

— Se surgir algum problema, eu mesma o resolverei.

— Da mesma forma que aconteceu há poucos instantes? Eu disse que quero ser informado. Fui claro?

Ele não esperou a resposta. Dirigiu-se ao vestiário e deixou-a completamente sem ação.

O homem sabia mandar, Lisa pensou. Mas, o importante era ela ter passado no teste. Isso significava que não precisaria mais recebê-lo em sua mesa de massagem. Quanto à ordem que lhe dera, se surgissem problemas, ela usaria seu bom senso para resolvê-los.

 

 



  

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