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O Drama De Uma Mulher Casada 8 страница



E, no entanto, se resolvesse ir embora, para onde iria? Não ti­nha nem dinheiro suficiente para voltar à Inglaterra, quanto mais para iniciar uma nova vida. E talvez ainda fosse muito cedo para admitir a derrota. Enquanto houvesse chances de salvar o casa­mento, era sua obrigação permanecer e lutar.

Mas havia David. Só de pensar nele seu coração disparava. Mo­rar em sua casa, vê-lo todos os dias, ter consciência do poder que ele exercia sobre ela, tudo isso contribuía para tirar sua paz de es­pírito. Por sorte, ele não demonstrara a menor intenção de tentar outra investida. O controle que ele tinha sobre si mesmo era tão perfeito, que por vezes Alice chegara a duvidar se o beijo daquela noite acontecera realmente ou se fora apenas um sonho. Mas, so­nho ou não, nada poderia existir entre eles, e quanto mais cedo ela se convencesse disso, melhor. Paul ligou o motor assim que ela subiu a bordo.

— Pensei que havia decidido ir com Madalyn — comentou ele, impaciente.

— Teria sido um alívio, não? Ele deu de ombros, indiferente.

— Creio que não estamos fazendo muito bem um ao outro.

— Talvez devêssemos nos esforçar mais — sugeriu Alice, mes­mo sem acreditar na possibilidade.

— Uma breve separação talvez ajudasse. Eu poderia ir para São Tomás por alguns dias.

— Deixando-me sozinha?

— Você não estaria só. Teria a companhia de David e de mamãe.

— Grande consolo!

— Se não gosta, faça outros planos. Eu já tomei minha decisão.

— E quando vai partir?

— Amanhã, ou então hoje à tarde mesmo. É o melhor a fazer.

— Talvez você tenha razão. Quer que eu desapareça antes de sua volta?

— Decida o que quiser… O fato é que você não é a mesma ga­rota com quem me casei. Volte a ser o que era antes e eu ficarei feliz.

— Madalyn acha que devíamos deixar Santa Amélia e começar uma vida nova em outro lugar.

— Ela quer é se ver livre de mim!

— Não é verdade! Ela estava só pensando em você. E depois, você não gosta mesmo daqui. Qual seria o problema?

— Minha mãe mora em Santa Amélia. Está sugerindo que eu a abandone?

— Não, não estou.

Mas era o que ele vinha fazendo nos últimos anos com bastante regularidade: desaparecendo da ilha por meses a fio, sem lembrar que tinha uma mãe.

Assim que chegou em casa, Paul iniciou os preparativos para a viagem. O que Elaine achou da idéia permaneceu um mistério para Alice, já que ele deu a notícia em particular. De qualquer modo, Elaine Hamilton preferiu não descer para o jantar naquela noite.

Alice esteve a ponto de implorar ao marido para que desistisse da viagem. Não o fez porque tinha plena consciência de que seus sentimentos em relação a ele não haviam mudado. Queria que ele ficasse apenas para não se ver a sós com David.

Com medo ou não, esse encontro aconteceu bem mais cedo do que esperava. Naquela mesma tarde, pouco depois da partida de Paul, David foi ter com ela na piscina. Após ouvir o relato do que acontecera, ele mergulhou e ficou nadando por alguns instantes.

— Eu precisava disso — comentou depois, deitando-se ao lado dela. — Então meu irmãozinho foi cruel com você?

— Tenho tanta culpa quanto ele. "Casamento com pressa, arrependimento na certa". O diabo com esses lugares comuns é que eles quase sempre são verdadeiros.

— Nem sempre… O que a atraiu em Paul, afinal?

— Ele é um homem bonito.

— Só isso?

— Não… Paul representava para mim um mundo completamen­te diferente daquele a que estava acostumada, um mundo glamouroso e excitante! Mal consegui acreditar quando ele me pediu em casamento. Havia tantas garotas bonitas a quem ele poderia fazer a proposta.

— Paul a escolheu porque você não quis ir para a cama com ele.

— Acha que foi mesmo esse o motivo?

— Deve ter sido uma das razões. Paul está acostumado a con­seguir tudo o que quer,

— Talvez fosse melhor ter aceitado. Se tivesse dormido com ele talvez não tivéssemos nos casado. Teria sido melhor… Ele agora acha que sou frígida.

— Pois eu tenho certeza de que não é.

— Por favor, não quero me lembrar daquela noite.

— Pois eu acho impossível esquecê-la. Ainda me lembro do primeiro dia em que a vi. Fiquei olhando para você enquanto tocava, indagando a mim mesmo se o fato de ser muito mais jovem do que eu seria um obstáculo para abordá-la. Foi um choque desco­brir que Paul havia chegado primeiro.

— Ainda me acha jovem demais?

— Acho, mas isso não tem importância. Quando vai fazer vin­te e um anos?

— Dia catorze. Na semana que vem, não é?

— Sim. Por que não nos avisou? Madalyn teria adiado a via­gem se soubesse.

— Eu me esqueci.

— Esqueceu-se do próprio aniversário? Não brinque!

— Mas é verdade. Tenho tantos problemas ocupando minha mente…

— Bem, ainda não é tarde demais. Quando Paul disse que voltaria?

— Não disse. Mas isso não tem importância nas atuais circuns­tâncias.

— Não vamos deixar a data passar em branco só porque as coi­sas não estão correndo como deveriam. Os problemas serão resol­vidos com o tempo.

— Como?

Ele deu-lhe um beijo em resposta.

— Tudo vai dar certo — prometeu.

Como ignorar os sentimentos que David despertava nela? Que chance tinha de salvar o casamento quando sabia que escolhera o homem errado? E como se convencer de que o homem certo não podia ser seu?

— Pare de pensar nisso — ordenou ele, parecendo ler-lhe os pensamentos. — Assim que Paul retornar, vocês vão se sentar e con­versar seriamente. Cometeram um erro mas ele não é irreversível,

— Não podemos nos divorciar com apenas dois meses de casamento.

— Pelas leis britânicas, não. Mas tenho certeza de que pode­mos dar um jeito. Vamos, venha nadar. Isso vai distraí-la.

Nada podia distraí-la, mesmo assim ela aceitou. Estar ao lado de David, ainda que por alguns momentos, já era um grande conforto.

 

Paul não retornou a Santa Amélia dentro de um ou dois dias como prometera. Só quando recebeu um telegrama dele, de Cara­cas, é que Alice percebeu que, desde o início, ele havia planejado uma viagem longa.

Elaine Hamilton também não havia tomado conhecimento das intenções do filho. Esse fato tornou-se óbvio quando ela rompeu a muralha de silêncio que impusera à nora para insultá-la. Os in­sultos terminaram apenas quando David dirigiu algumas palavras mais ríspidas à mãe.

— Mamãe está indo longe demais! — exclamou ele, irritado, logo após a saída dela. — Não sei o que é pior: uma mãe possessi­va ou um filho irresponsável.

— Talvez um fato seja conseqüência do outro — observou Ali­ce, melancólica. — Não sabia que ela me odiava tanto.

— Ela odiaria qualquer mulher que surgisse no caminho do filho.

— Mas ela devia saber que Paul se casaria mais cedo ou mais tarde.

— É claro. Só que de preferência com uma mulher escolhida por ela. Alguém que pudesse controlar. Não a odeie muito, por favor.

— Eu não a odeio… Você nunca se ressentiu por ela demons­trar tanta predileção por Paul?

— Não. Eu e Madalyn sempre fomos muito independentes. E nunca sentimos falta de afeição, já que papai sempre nos adorou. Mas isso não interessa agora, e, sim o seu aniversário. Podemos entrar em contato com Paul e fazer com que ele volte a tempo.

— Não. Prefiro que ninguém saiba.

— Mas eu sei. Que tal uma comemoração particular? Podería­mos passar o dia no Seajade.

— Seria ótimo.

— Então, está combinado.

 

Os dias se arrastaram com uma lentidão exasperante até que finalmente o dia tão esperado chegou. Despertar para uma manhã de aniversário sem festas ou cartões não era uma experiência nova para Alice, já que sua tia não ligava muito para comemorações. Parada na janela, contemplando a maravilhosa paisagem banha­da de sol, ela ficou imaginando como seria duro voltar à Inglater­ra e recomeçar tudo outra vez, sozinha e sem amigos. Horrível, mas inevitável, caso se separasse de Paul.

No entanto, o pior sofrimento não seria o casamento fracassa­do ou a partida daquele paraíso. Duro mesmo seria abandonar David. Se fosse sensata, Alice estaria arrumando suas malas naquele instante e não se preparando para passar o dia ao lado de um ho­mem que não podia ser seu. Só que ela não era sensata. Aquela talvez fosse a última oportunidade de estar junto a ele, e estava além de suas forças desperdiçar a ocasião. David já estava à sua espera em um dos jipes.

— Feliz aniversário — cumprimentou ele, beijando-a. — Você está radiante hoje.

E que mulher não ficaria radiante ao lado de um homem como aquele? Pois ela trataria de esquecer todos os problemas e apro­veitar ao máximo a companhia dele.

O tempo não poderia ser melhor para um longo passeio. Eles rumaram para a ilha de Santa Cruz. Deitada ao sol no convés, Alice ficou imaginando como seria passar dias, até mesmo semanas, na­vegando sem prazo ou compromissos, conhecendo novas terras. E, mais do que isso, imaginou como seria estar assim ao lado de David.

— Você está muito quieta. Pensei que hoje fôssemos esquecer todos os problemas.

— Eu não pensava em problemas. Estava só achando tudo isto maravilhoso e me sentindo grata por ter me trazido.

— Não quero sua gratidão. Eu a desejo, Alice.

— Eu não sou livre.

— Não importa. Paul não a merece.

Não a merecia, mas ainda era seu marido. Só que ela não che­gou a pronunciar tais palavras. Quando David estendeu-lhe os bra­ços, ela aninhou-se em seu peito, esquecendo-se por um instante de Paul, do casamento, de tudo o que a impedia de ser feliz.

Quando seus lábios se encontraram, ela pôs de lado todos os resquícios de culpa e medo, entregando-se inteiramente à magia da­quele instante. Quando ele lhe tirou o biquíni, não sentiu vergonha, apenas orgulho por ser capaz de excitar de tal modo aquele ho­mem. Tremeu ao sentir a mão forte sobre seu corpo, mas desejava aquele contato, assim como desejava aqueles lábios sensuais percorrendo-lhe cada centímetro de pele, arrancando-lhe gemidos, enlouquecendo-a de prazer, deixando-a ansiosa e impaciente pelo que estava por vir.

Por fim, tão ansioso por satisfação quanto ela, David a possuiu. Num abandono total, eles entregaram-se àquele ritmo tão anti­go quanto a vida, o ritmo do amor. E depois permaneceram abra­çados, ofegantes, enquanto ondas de prazer sacudiam seus corpos.

— Isto não está certo — murmurou ela, depois de alguns ins­tantes de silêncio.

Ele a beijou suavemente, despertando-lhe mais uma vez o desejo.

— Não me sinto culpado. Você e Paul não tinham futuro jun­tos. Assim que ele voltar, vamos tratar de dar um jeito na situa­ção. Não me pergunte como.

E mais uma vez os dois se amaram. Depois de passarem um bom tempo deitados, ele ergueu-se.

— O horizonte estava livre quando olhei pela última vez. Mas Já faz tanto tempo…

— Acha que pode haver alguém aqui por perto?

— Não, não acredito… Mas se alguém nos visse, que diferença faria? Não estamos fazendo nada demais.

Alice levantou-se e olhou à sua volta. Nenhum sinal de embarcações, felizmente.

— Se ao menos este dia pudesse durar para sempre… A vida é tão injusta!

— A vida é o que fazemos dela. Cabe a nós o esforço para torná-la boa, e é exatamente isso o que vamos fazer. Antes de mais nada vamos esquecer que Paul existe. E quando ele chegar vamos nos reunir para uma conversa séria.

Ela bem que gostaria de compartilhar daquela segurança, mas isso não era tão fácil. Mais do que nunca, precisava de proteção e conforto, e só havia uma pessoa com quem podia contar: David.

— Não me deixe sozinha — murmurou ela, abraçando-o.

 

As duas semanas que se seguiram foram de agonia e êxtase para Alice. De comum acordo, ela e David não mantinham nenhum con­tato físico dentro de casa, mas saíam no Seajade todos os dias. Alice vivia para aqueles momentos. Somente quando estava a sós com ele é que conseguia livrar sua mente da expectativa do que aconteceria quando Paul voltasse.

David pedira-lhe que não se preocupasse, pois ele trataria de tu­do. Mas como deixar de pensar no confronto iminente? Ela teria de contar a verdade a Paul. Sabia que o marido não a amava, mas isso não significava que ele fosse aceitar a nova situação. Seria um golpe muito grande para seu orgulho ver a esposa arrebatada pelo próprio irmão.

E a reação de Elaine Hamilton, qual seria? Sem dúvida, ela fi­caria deliciada ao saber que o casamento de seu filho favorito era um fracasso. Mas o que diria quando soubesse que sua odiada no­ra havia simplesmente trocado o caçula pelo primogênito?

Além disso, ainda havia a sensação de culpa a atormentá-la. Ia contra todos os seus princípios ter um amante, ainda mais quando esse amante era o próprio cunhado. Mas o que podia fazer? David tornara-se tão essencial quanto o ar que respirava.

Ao final da segunda semana, a situação assumiu um aspecto ain­da mais desagradável. Os dois estavam no Seajade, abraçados de­pois de fazer amor, quando ele anunciou que teria de deixar Santa Amélia por dois dias. A notícia atingiu-a como um raio.

— Negócios inadiáveis — explicou ele. — Mas não tenha me­do, pois estarei de volta antes de Paul.

— E o que vai acontecer depois, David? Terei de ir embora?

— É provável, pelo menos por algum tempo.

Eles permaneceram em silêncio por alguns instantes até que ele, depois de olhar para o horizonte, disse:

— É melhor descer. Vamos ter tempestade.

— Prefiro ficar aqui.

— Como quiser, mas a temperatura vai cair. Há um casaco na minha cabine. Vista-o.

— E você?

— Estou acostumado. E depois, não será uma grande tempes­tade, nem vai durar muito.

O casaco estava pendurado atrás da porta, e ela, antes de vesti-lo, acariciou o tecido e aspirou-lhe o perfume. Notou então que um dos botões do punho estava quase caindo. Tratou de arrancá-lo e guardá-lo no bolso, já que planejava pregá-lo mais tarde. Gos­tava tanto de fazer pequenos favores a ele, mas as oportunidades eram tão raras!

Ao subir novamente, o vento frio bateu-lhe em cheio no rosto. Segundos depois, a chuva caía furiosamente, reduzindo a visibili­dade praticamente a zero. Alice tratou de procurar abrigo. Mas, minutos depois, como que por milagre, a tempestade acabou tão repentinamente quanto começara, e o sol voltou a brilhar. Ela foi então pegar uma toalha e levou-a para David.

— Você ainda não me deu uma resposta definitiva — disse ela, enquanto ele enxugava o cabelo. — O que vai acontecer quando Paul voltar?

— Isso depende de Paul. Não posso adivinhar qual será a rea­ção dele.

— Mas, seja qual for a reação, eu terei de deixar a ilha, não é?

— Temporariamente. Podemos alugar-lhe um apartamento em Tortola.

— Não será nada agradável.

— Só há outra alternativa: voltar à Inglaterra e esperar. É o que prefere?

— É claro que não. — Desalentada, ela suspirou. — A verdade é que nunca poderemos estar juntos abertamente. Não em Santa Amélia, pelo menos.

— Está insinuando que devo escolher entre você e a ilha?

— Não, não é nada disso. Mas você concorda comigo, não? Será um bocado difícil permanecer em Santa Amélia com Paul moran­do lá.

— Posso comprar a parte dele. Paul adoraria receber uma boa quantia para sair da ilha.

— E sua mãe?

— Duvido que ela queira ficar em Santa Amélia depois da par­tida de Paul. E Madalyn? Se acha que ela nos dará problemas, tam­bém posso expulsá-la.

— David! Isso não é justo!

— Eu sei — concordou ele, rindo. — Não se preocupe, queri­da. Tenha paciência e tudo dará certo.

 

Na manhã seguinte ele partiu, e o paraíso de Santa Amélia per­deu parte de seu encanto para Alice. As horas arrastavam-se, mo­nótonas e vazias, até que ela perdeu a paciência, foi até a destilaria e pediu serviço a Scott. Ele arrumou-lhe algumas tarefas, suficien­tes para ocupá-la a tarde inteira.

Com os três filhos fora de casa, havia pouca probabilidade de Elaine Hamilton descer para o jantar. Assim, foi com surpresa que Alice encontrou a sogra à mesa. Suas tentativas de estabelecer uma conversa leve e amigável foram brindadas com uma frieza cheia de desprezo, que serviu apenas para tirar-lhe o pouco apetite que ainda tinha. E aquilo era apenas uma amostra do que aconteceria quando ela descobrisse toda a verdade.

— Você não acredita seriamente que vai conseguir algo com David, acredita?

— O que está insinuando? — perguntou Alice, surpresa.

— Desde que você chegou, ele me disse que acabaria com esse casamento a qualquer custo. Não aprovo os métodos dele, mas David pelo menos conseguiu desmascará-la. E não pense que vai con­seguir fazê-lo de tolo como fez com Paul.

— Eu não fiz Paul de tolo. Nós dois cometemos um erro.

— Então admite que o casamento foi um erro?

— Sim.

— E quando chegou a tal conclusão? Ao descobrir que um casamento com David seria mais vantajoso?

— Não foi nada disso! Não foi mesmo!

— Pois cometeu outro erro ao se interessar por David. Assim que voltar, ele vai pô-la para fora daqui.

— Não acredito em uma palavra do que está dizendo.

— Não mesmo? Pois então espere e verá. Mas não fique muito preocupada. Contanto que deixe Santa Amélia sem criar proble­mas, David tratará de oferecer compensações financeiras bastante generosas. É o que deve estar fazendo agora. Ele me disse que ia conversar com seus advogados.

— A senhora está apenas adivinhando, chegando a suas pró­prias conclusões. Não pode ter certeza das intenções dele.

— Conheço meu filho muito bem, e, como o pai, ele é capaz de ser impiedoso quando acha necessário. David queria que você desaparecesse, e estava disposto a usar qualquer método… Esco­lheu o mais agradável. Afinal, ter um caso com uma jovem atraente não é um sacrifício terrível.

Diante do olhar de triunfo da sogra, Alice levantou-se e saiu da sala. Tentava se convencer de que tudo aquilo era apenas uma agres­são gratuita, sem nenhum fundo de verdade, mas o veneno da dú­vida já tomava conta dela. O que acabava de ouvir fazia sentido, e muito. Explicava, por exemplo, a repentina mudança de atitude de David em relação a ela. Como pudera ser tão tola? E como ele devia ter rido às suas custas!

Tinha de deixar a ilha o mais rápido possível. Uma pena que não pudesse sair naquela noite mesmo, mas iria logo pela manhã. Incluiria na bagagem apenas o essencial. O resto ficaria para mais tarde, quando finalmente se estabelecesse em outro lugar. Quanto às "compensações financeiras" de David, ele que ficasse com tu­do. Seria difícil, mas ela arrumaria um emprego.

Na hora de escolher as roupas para levar, perturbada como es­tava, ela limitou-se a pegar as primeiras que lhe vieram à mão. Ao ver os jeans que usara no último passeio no Seajade, ficou com os olhos cheios de lágrimas. Tirou do bolso o botão do casaco de David e segurou-o durante alguns instantes, sem saber o que fazer com ele. Por fim, guardou-o na caixa onde tinha envelopes e pa­pel para correspondência. O botão serviria como uma lembrança daquela experiência dolorosa. Um aviso para que no futuro não se deixasse levar por ilusões.

Foi difícil adormecer naquela noite. Seu sono foi agitado, po­voado de sonhos ruins, mas nenhum mais cruel do que a realida­de. Ao acordar e ver as malas prontas ao lado da cama, ela percebeu que o pior estava por vir.

Já eram dez horas, e ela não podia perder tempo. Havia poucas chances de que David voltasse naquele dia, mas não queria correr riscos, já que seria humilhante encontrá-lo outra vez. Seria obri­gada a pedir emprestada a lancha para chegar a Tortola, e duvida­va que fosse encontrar qualquer oposição nesse sentido por parte da sogra. Nada daria mais prazer a Elaine Hamilton que descobrir que sua odiada nora ia embora.

E o dinheiro? Tinha pouco mais de cento e sessenta libras disponíveis, quantia que não era suficiente para levá-la para longe dali. A solução mais sensata seria pedir um empréstimo a sra. Hamil­ton, mas seu orgulho não permitiria tal coisa. De um modo ou de outro, ela voltaria à Inglaterra, mesmo que para isso tivesse de tra­balhar como camareira em algum navio com destino à Europa.

Alice escolheu um vestido às pressas e começou a se vestir. Enquanto se calçava, Paul entrou no quarto.

— Vai a algum lugar? — Ele franziu a testa, intrigado.

— Quando você chegou? — perguntou ela, sem demonstrar a menor surpresa por vê-lo ali.

— Há alguns minutos.

— Já viu sua mãe?

— Ainda não. Por quê?

— Acho que ela tem algo a lhe contar.

— Sobre o quê? Ou sobre quem?

— Sobre mim… e David.

— E é verdade?

— Sim, é. E não finja estar magoado, pois seria desonesto. O máximo que pode sentir é raiva pelo orgulho ferido, e só. Você sabia que tudo estava acabado entre nós.

— E isso dá a David o direito de tomar meu lugar assim que viro as costas?

Eu lhe dei o direito, e não estou pedindo desculpas. Aconte­ceu e pronto.

— Muito bem, aconteceu. — Ele deu de ombros, indiferente. — E agora?

— Agora quero partir. É o melhor a ser feito.

— Quer dizer que pretende pedir o divórcio?

— Tão logo seja possível. Nosso casamento é um fracasso.

— Acha que estaria melhor com David?

— Eu estaria melhor longe de vocês dois.

— E para onde vai?

— Tão longe quanto permitir o dinheiro que me resta. E não é muito.

— Isso não é problema. É o mínimo que posso fazer, afinal fui eu quem a pediu em casamento… Uma atitude pouco sábia de mi­nha parte.

— Também não fui muito inteligente ao aceitar… Muito bem, aceito sua ajuda. Pode me comprar uma passagem para a In­glaterra.

— Isso para começar. Certo?

— Errado. Não quero o seu dinheiro, muito menos manter qualquer tipo de contato até que o prazo legal para o divórcio chegue.

— Você mudou um bocado. Nem parece a mesma pessoa.

— Não sou mesmo. Eu amadureci. Agora acho melhor nos mexermos. Com um pouco de sorte, posso pegar o vôo da tarde para Nova York. Pode me emprestar a lancha?

— Não é preciso. Eu mesmo a levo. Minha mãe não precisa sa­ber que cheguei. Terá uma bela surpresa no jantar.

Sem dúvida, a megera teria uma surpresa bastante agradável.Mas, para Alice, isso já não tinha mais importância. Tudo o quequeria naquele momento era ir para longe de Santa Amélia e dafamília Hamilton.

Às duas e meia eles já estavam em São Tomás. Alice ficou sur­presa quando Paul se ofereceu para acompanhá-la durante todoo caminho, e tentou dissuadi-lo, mas em vão. Provavelmente ele queria ter certeza de que ela não mudaria de idéia em cima da hora.

Havia vários táxis na ilha, mas Paul fez questão de alugar umcarro. Durante todo o trajeto até o aeroporto, ele ficou assobian­do alegremente, demonstrando um descanso que em outras circuns­tâncias seria um insulto para ela. No momento, porém, elaencontrava-se insensível. Sabia que a dor viria depois, quando já estivesse no avião, sozinha com seus pensamentos.

Durante momento algum ocorreu-lhe que o vôo da tarde pode­ria estar completamente lotado. Por sorte, ainda conseguiu o últi­mo lugar disponível. Despedir-se de Paul não foi exatamente triste. Foi antes embaraçoso, especialmente quando ele lhe estendeu um maço de notas.

— Leve isto. Vai precisar de dinheiro. Assim que se estabele­cer, entre em contato comigo… Sinto muito que tenha acabado assim. Paciência… Cuide-se, Alice.

— Você também.

 

Na manhã seguinte, às oito e meia, ela aterrissava no aeroporto de Heathcow na Inglaterra. Tomou um trem e foi até a estação Vitória, onde pretendia guardar a bagagem enquanto procurava um lugar para ficar.

Não havia dormido bem, sentia-se exausta e dolorida. Caminhou até o banheiro feminino, na esperança de lavar-se e vestir pelo me­nos uma camisa limpa. Na falta de coisa melhor, teve de colocar a mala no chão mesmo.

Duas mulheres entraram no banheiro logo atrás de Alice, mas ela não lhes deu muita atenção. A única coisa que lhe ocorreu foi que um banho também não faria mal algum a ela.

Foi quando ela se abaixou para lavar o rosto que as duas entra­ram em ação. Alice sentiu uma mão forte agarrando-a pelo pescoço e começou a se debater, conseguindo por fim acertar um chute na perna da agressora. Ao erguer a cabeça ainda viu de relance o rosto maldoso da mulher. E depois um objeto pesado atingiu-lhe a cabeça, e tudo ficou escuro…

 

 

Capítulo X

 

Então fora isso que acontecera dois anos atrás! Era estranhíssi­ma a sensação de recuperar o próprio passado, de reviver cada um daqueles acontecimentos que por tanto tempo haviam permaneci­do em seu inconsciente. Depois de relembrar cada instante de sua primeira passagem por Santa Amélia, Alice sentiu-se tão desnor­teada que foi preciso uma súbita pancada de chuva para tirá-la de suas divagações.

Durante o período em que estivera desenterrando as dolorosas lembranças, ela continuara a dirigir o jipe às cegas. Por sorte, o trânsito na ilha era praticamente nulo. Alice tratou então de abrigar-se sob algumas árvores enquanto a chuva não passava.



  

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