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O Drama De Uma Mulher Casada 4 страница



Alice já estava nadando quando David chegou. Na beirada da piscina, ele tirou o roupão, e exibiu um corpo forte, esbelto, bron­zeado, coberto de pêlos escuros. Logo depois, mergulhou e emer­giu ao lado dela.

— Por que não esperou por mim?

— Não sabia que você fazia questão disso… Como estavam as coisas na destilaria?

— Bem, como era de se esperar. Scott é muito competente.

Se David pensava assim, então por que a pressa em verificar co­mo estava a situação?

— Ele está há muito tempo com você?

— Quase três anos. Chegou aqui pouco depois de você.

— Por que o contratou? Por que não confiava no senso de responsabilidade de Paul?

— Em parte, sim… Não se deixe magoar pela atitude de minha mãe. Ela nunca mais foi a mesma desde que Paul morreu.

— Pelo visto, ela o adorava.

— Paul era seu filho favorito. Foi o único que se assemelhou a ela, pelo menos fisicamente.

— Isso não pode fazer tanta diferença assim…

— Em circunstâncias normais não, mas a posição de Paul era especial. Ele não era um Hamilton por nascimento.

— Como assim?

— Minha mãe teve um caso com outro homem. Paul era o re­sultado dessa ligação.

—- E seu pai soube disso?

— Desde o começo. Mas ele a amava o suficiente para perdoá-la e aceitar o filho como seu,

— Eu tinha conhecimento disso antes?

— Duvido. Mesmo Paul morreu sem saber de nada.

— Então por que está me contando tudo isso agora?

— Porque quero que seja paciente com minha mãe. Quando Paul se casou com você, ela se sentiu roubada da única criatura que podia considerar inteiramente sua. Eu e Madalyn sempre fo­mos independentes, mas não Paul, que sempre foi muito apegado a ela. Mamãe vivia em função dele.

— Foi por isso que você lhe cedeu metade da propriedade? Pa­ra fazê-lo passar mais tempo aqui?

— Eu também precisava de ajuda no negócio, e acho que pen­sava em matar dois coelhos com uma só cajadada. Você está tre­mendo! É melhor entrar em casa.

Ele saiu da piscina e estendeu-lhe a mão.

— Não é preciso, obrigada. — Convinha não se arriscar a um contato físico. — Vou usar a escada.

Sem comentar, David foi buscar o roupão que ela deixara na espreguiçadeira. Assim que Alice saiu da piscina, voltou as costas para ele, permitindo que ele a ajudasse a vestir o abrigo. Um arre­pio percorreu-lhe a espinha ao sentir as mãos masculinas sobre seu corpo. E, de repente, uma imagem surgiu-lhe na mente. Uma som­bra, o vulto de um homem de ombros largos, bloqueou-lhe o sol, e ela chegou a ouvir um rumor de ondas quebrando-se na praia e a sentir a maresia pairando no ar…

A visão durou poucos segundos e logo desapareceu nas profun­dezas de sua mente. Com uma vertigem ela apoiou-se no encosto de uma cadeira e depois se sentou.

— Você está bem? — A voz de David chegava-lhe abafada, co­mo se viesse de muito longe. — Alice, o que foi?

— Nada. Acho que tomei muito sol hoje; devia ter usado um chapéu. Vou ficar boa num instante.

— Quer conversar sobre o que está sentindo?

— Não há muito o que dizer. Por um segundo estive prestes a me lembrar de algo… Já aconteceu antes. É como acordar de um sonho e não conseguir se lembrar dele.

— Não deve ter sido um sonho muito bom, para deixá-la nesse estado.

— Não é mesmo…

— Por que não se deita e relaxa um pouco. Só vai escurecer den­tro de meia hora, e posso lhe fazer companhia.

Alice preferia ficar sozinha, mas sabia que David não concor­daria. Precisava pensar, colocar em ordem suas idéias confusas… Ela reclinou-se na cadeira e fechou os olhos. Depois de alguns ins­tantes de silêncio, perguntou:

— Por que está me tratando assim, David? Há algumas horas você tinha a mesma opinião desfavorável a meu respeito que sua mãe.

— Você se engana. Nunca me ocorreu a idéia de que você pu­desse ser responsável pelo acidente de Paul. Ouvir minha mãe fazer-lhe uma acusação aberta serviu para que eu percebesse como esta­va sendo injusto com você. Seja lá o que for que aconteceu entre você e Paul, isso já passou. Talvez seja melhor deixar tudo como está, começar do zero.

— E a mulher que estava com Paul?

— Deixe isso com a polícia. Temos de considerar seriamente a possibilidade de você nunca mais recobrar a memória. Acha que pode viver com tal possibilidade?

— Vou tentar, isso eu garanto.

— Assim é que se fala. Força de vontade nunca lhe faltou. Amanhã, vou mostrar do que você é dona. Como se sente sendo uma mulher rica?

— Não vejo diferença alguma. Talvez porque não consiga me convencer de que tenho algum direito sobre a propriedade.

— Mas tem. Não sou um filantropo. Um tolo às vezes, mas não um filantropo.

— Um tolo? Por que? Porque me contou tudo?

— Não, não… Estava pensando em erros do passado.

— Duvido que você tenha muitos.

— O suficiente. Todo homem tem direito à sua quota de erros.

— Toda mulher também?

— Você é felizarda nesse sentido. Está começando de novo, com­pletamente esquecida dos erros do passado. Isso não acontece a qualquer um.

— Vou tentar me lembrar disso e manter limpa a minha folha corrida.

Mas, mesmo no momento em que dizia aquilo, Alice sabia que era tarde demais, pois já havia cometido o maior erro de sua vida: voltar para aquele lugar.

 

Para grande alívio de Alice, Elaine Hamilton recusou-se a des­cer e preferiu jantar em seu quarto. A refeição, desse modo, foi calma e agradável. Scott, o capataz, também estava presente. Na­quela noite, Alice descobriu que ele morava num chalé a alguns quilômetros dali, e que gastava boa parte do seu tempo livre cole­tando e classificando as maravilhosas borboletas da ilha. Era um homem calmo, de uma paz interior invejável.

— Ele não fala muito sobre o passado — comentou Madalyn, ao deixar, juntamente com Alice, os dois homens sozinhos para uma partida de xadrez. — Sei que teve uma esposa. Seja lá o que for que ela fez, parece que foi o suficiente para que ele desistisse de se relacionar com mulheres daquela época em diante.

— Scott não parece ser do tipo que odeia mulheres.

— No dia-a-dia, não. Mas experimente chegar muito perto dele.

— Isso significa que você já tentou?

— Claro. Não consigo resistir a um desafio.

— Até que você encontrou Tod e perdeu o interesse.

— Pois é. Encontrei Tod. — Madalyn apressou-se a mudar de assunto. — Você e David parecem estar se entendendo melhor, não é?

— É verdade. Ele acha que deveríamos esquecer tudo o que aconteceu e começar do zero.

— É mesmo? Isso não é do feitio dele. Quando me telefonou dizendo que a havia encontrado, David parecia disposto a desco­brir toda a verdade. De qualquer modo, é um alívio, e agora só nos resta convencer mamãe a fazer o mesmo.

— O que não será nada fácil.

— Também acho. Apesar disso, foi bom você ter aparecido. Desde a morte de Paul ela age como um zumbi. Pelo menos agora mostrou sinais de vida.

As duas moças saíram do pavilhão e foram passear pelos jar­dins. O canto incessante das cigarras perdera o ar de novidade pa­ra Alice e já era parte integrante do encanto daquele lugar. Deliciada, ela aspirou o ar puro, carregado do perfume dos jasmins e das flores de cactos.

— Há uma paz tão grande por aqui!

— Aproveite ao máximo. Temos visitantes com bastante fre­qüência.

— Quer dizer que nem todos acham o lugar aborrecido?

— Está se referindo a Imogen? Mesmo ela, se quiser David, te­rá de se conformar em passar um bom tempo por aqui, aborrecendo-se ou não. De qualquer modo, as mulheres costumam fazer sacrifícios quando o amor está em jogo.

— E você acha que ela está apaixonada por David?

— Tanto quanto é possível para uma mulher daquele tipo.

— Pensei que vocês duas fossem amigas.

— Não temos muito em comum. É claro que ela deve ter alguma qualidade, pois do contrário David não lhe daria atenção. Ele não costuma se interessar por mulheres como ela. Imogen disse quando viria para cá?

— Não que eu me lembre.

— Bem, isso não faz diferença. Não estamos com falta de es­paço. Que tal bebermos alguma coisa?

— É ótima idéia. — E as duas começaram a voltar para a casa. — Madalyn, será que vocês ainda têm alguma foto de Paul?

— Não sei. Nós não gostamos muito de tirar fotografias. Ma­mãe talvez tenha alguma.

— Eu odiaria ter de pedir a ela.

— Não a culpo. Ei, espere aí! Acho que suas coisas ainda estão guardadas no sótão!

— Minhas coisas?

— Sim. Eu não joguei nada fora, e duvido que alguém o tenha feito. Vamos dar uma olhada.

— Não acha que é um pouco tarde? — perguntou Alice, te­merosa.

— Não há ocasião melhor. Vamos. Não quer descobrir a ver­dade sobre si mesma?

— É claro que sim — respondeu ela, sem muita convicção. Alcançava-se o sótão através de uma escada estreita no pavimento superior. Ao chegarem, Madalyn acendeu a luz, revelando um ver­dadeiro tesouro em antigüidades. Abrindo um dos baús, ela reti­rou um vestido gracioso e delicado, feito de tafetá.

— Já imaginou ter de vestir isto só para jantar? — ela pergun­tou, colocando o vestido na frente do corpo. — Tanto refinamen­to devia ser um bocado cansativo.

Cansada de brincar com o vestido, Madalyn guardou-o e pôs-se a olhar à sua volta.

— Agora, vejamos… Onde teriam colocado suas coisas?

— Podemos perguntar aos outros e ver isso amanhã.

Madalyn nem escutou. Estava de cócoras junto a um dos baús.

— Este parece razoavelmente novo. Vamos dar uma olhada?

Alice concordou a contragosto. Ainda não tivera tempo para se ajustar à nova situação e não estava preparada para descobertas. O que quer que estivesse dentro daquele baú pertencia a outra pes­soa, não a ela.

— É este mesmo! Este estojo de toucador foi David quem lhe deu no dia em que você fez vinte e um anos. — Ela estendeu a cunhada uma escova de cabelo e um espelho finíssimos. Alice contemplou-se no espelho durante alguns instantes.

— Houve festas para mim?

— Não. Para dizer a verdade, eu estava ausente. E você nunca falou muito de seu passado a ninguém. David descobriu o dia de seu aniversário por acidente. Você está bem, Alice? Está tão pálida.

— Não é nada. Acho que foi muita ansiedade em relação ao que ia encontrar dentro do baú.

— Por que estava relutante em examiná-lo?

— Medo. Talvez seja melhor não recobrar a memória.

— Bobagem! Pensamento positivo antes de tudo. Acho que devemos levar estas coisas para baixo. São boas demais para serem postas de lado.

— É mesmo. Eu tinha um guarda-roupa e tanto. Foi comprado aqui nas Ilhas Virgens?

— Sim. Nós duas fizemos algumas compras em Charlotte Amalie.

— Eu estava gastando o meu dinheiro ou o de Paul?

— Não sei, nunca perguntei. Bem, vamos tratar de dar um jei­to nestas roupas. Vamos ver se elas ainda lhe servem?

— Mais tarde. Antes temos de procurar a fotografia.

— É mesmo. Tome, dê uma olhada nesta caixa, enquanto vejo no fundo do baú. Seja lá quem for que guardou estas coisas, não o fez com muito método.

Alice abriu a caixa e viu um objeto pequeno e escuro cair ao chão. Inclinou-se para pegá-lo.

— É só um botão. E não há nada na caixa além de envelopes e papel de carta.

— Que pena. Ei, veja isto! — Madalyn tirou uma moldura de prata de dentro do baú. — Aqui estão! Vocês dois!

Foi com receio que Alice pegou o porta-retratos que a cunhada lhe estendia. Das duas faces sorridentes, apenas uma era-lhe fami­liar. Ela parecia tão inocente e feliz naquela época! O homem a seu lado era magro e alto, com um rosto malicioso e encantador, e ambos seguravam esquis. Ao fundo, via-se um teleférico subin­do a encosta nevada de uma montanha.

— Não consigo me imaginar esquiando nesse lugar.

— Paul nos disse que você era pouco mais do que uma principiante, mas que não hesitou em aceitar um desafio e descer com ele um dos trechos mais perigosos. É claro que não lhe ocorreu que você podia ter morrido.

— Pelo jeito, essa idéia não me ocorreu tampouco. Duvido que eu fizesse tal proeza hoje.

— Quem sabe? Dependendo das circunstâncias ou do homem que se quer impressionar… E então? O que acaba de ver não lhe traz recordação alguma?

— Não. Sinto muito.

— Por favor, não se desculpe! Não é sua culpa. Acho que deveríamos parar de forçar a situação. Ou melhor, eu deveria parar. Muita pressão pode ter um efeito contrário ao desejado. Você quer suas coisas de volta ou não?

— Quero.

— Ótimo. Amanhã de manhã pedirei a Josh e Samuel que le­vem o baú para seu quarto. Pode ficar com ele até decidir o que deseja conservar.

Madalyn levantou-se e sacudiu a poeira das mãos.

— Já é tempo de alguém dar uma olhada nestas velharias e se­lecionar o que é útil ou não. Algum dia o sótão vai acabar ceden­do com tanto peso.

— Duvido muito. E depois, você estaria jogando fora um bo­cado de história.

— Acho que você está certa… É bom tê-la de volta, Alice. Sen­ti sua falta.

Era bom saber que, pelo menos para uma pessoa, seu reapareci­mento não era um incômodo.

As duas voltaram ao pavilhão do jardim e encontraram David e Scott conversando e bebendo.

— Scott venceu a partida — confessou David, servindo bebi­das a elas.

— Isso aconteceu porque você não prestou atenção ao jogo — retrucou o outro. — Sua mente estava a quilômetros daqui.

Alice não duvidava disso. Imogen estava sempre presente e, se não fisicamente, pelo menos em espírito.

— O que vocês duas fizeram esse tempo todo? — perguntou Da­vid, estendendo-lhes os copos.

— Estávamos no sótão. As coisas que Alice deixou para trás ainda estão lá.

— Pelo jeito, não tiveram muita sorte, não é? — perguntou Scott, interessado.

— Ainda não. Mas um dia desses, ainda vou acordar lembrando-me de tudo.

— Enquanto isso não acontecer, tenho certeza de que você está em boas mãos.

David pareceu não gostar muito da observação do capataz, pois tratou de desviar o assunto.

— Parece que vai chover. É melhor irmos para casa antes que comece.

— Prefiro ir para minha casa. — Scott esvaziou o copo e ergueu-se. — Obrigado pela partida, David.

— Vou acompanhá-lo até o carro — disse Madalyn inesperadamente. — Não estou mais com vontade de beber.

David ficou observando o casal que se afastava com um sorriso irônico nos lábios.

— Pensei que ela houvesse desistido.

— O que quer dizer com isso?

— Há três anos ela vem tentando romper a couraça de Scott, sem sucesso algum. O problema com minha irmã é que ela não sabe aceitar uma derrota.

— Acha que é por causa de Scott que ela não se casou ainda com Tod?

— Não. Ela ainda não se casou com Tod porque seria obrigada a abandonar a ilha.

— Mas se ela o ama…

— Você acredita que o amor resolve tudo?

— Não, mas acho que é uma parte essencial de um relacionamento.

— Mas não a única. Compatibilidade de gênios também é indispensável. E ela tem muito mais pontos em comum com Tod Sherman do que com Scott.

— Mas não o suficiente para que ela tome uma decisão. Pelo jeito, arrumar um sucessor para gerir esta propriedade não vai ser tão fácil.

— Acho que vou ter mesmo de arrumar um filho.

Alice pôs-se a imaginar como seria Imogen Barrymore grávida e não conseguiu. Era difícil crer que uma garota como ela se dispusesse a ter filhos. Mas, se isso significasse conquistar David, tal­vez ela se sujeitasse.

A bebida que David lhe servira era muito forte, e, ao tomar o primeiro gole, ela engasgou. Tossindo, tirou o lenço do bolso e ouviu o ruído de algo que caía ao chão. David abaixou-se, recolheu o objeto e observou-o à luz da lâmpada.

— O que é isto?

— Um botão apenas. Encontrei dentro do baú com minhas roupas.

— Não é o que eu chamaria de uma preciosidade para colecionadores.

Alice concordava. Pequeno, azul-escuro, o botão devia perten­cer a alguma peça de roupa que ela sem dúvida encontraria no baú.

— Ontem você disse que me levaria para dar uma volta pela ilha. Isso leva muito tempo?

— Se quiser examinar tudo como se deve, pode levar quase o dia inteiro. Que tal fazermos um piquenique?

— Completo? Com champanhe?

— Se você quiser… Você quer?

— Não, acho que nunca mais vou beber champanhe.

— Você culpa o champanhe pelo que aconteceu entre nós? — Ele sorriu com sarcasmo. — Mas nem chegamos a beber. Imagino o que teria acontecido caso eu não visse a sua marca de nascença.

— Decerto eu teria recuperado o controle da situação. É claro que, se eu soubesse quem você era…

— Não teria sentido a mesma atração?

Alice achou melhor não responder à pergunta, mesmo por que não saberia como fazê-lo.

— Você não disse que ia chover? Não é melhor sairmos daqui?

Ele concordou. As primeiras gotas começaram a cair quando eles chegavam à casa. Segundos depois, despencava um verdadeiro dilúvio.

Madalyn já estava lá, sentada numa das cadeiras da varanda, com um copo na mão.

— Vocês escaparam por pouco. Estava pensando em mandar-lhes um guarda-chuva. — A informação seguinte era destinada exclusivamente a Alice. — As chuvas nunca duram muito tempo por aqui. Prefere sentar-se lá dentro?

— Não, Madalyn, muito obrigada. Ainda não terminei de des­fazer a bagagem e estou muito cansada. Até amanhã.

Era o que Alice mais desejava fazer: ir para o quarto, o único refúgio naquela casa onde podia ficar sozinha com seus pensamen­tos. A situação era cada vez mais desconcertante, e seus sentimen­tos por David tornavam tudo pior. David, David… Ele deixara-se atrair por uma desconhecida chamada Annabel Morris porque ela se parecia com a cunhada. Agora, ao descobrir que Annabel e Ali­ce eram a mesma pessoa, ele afastava-se. Como entender tal coisa?

 

 

Capítulo V

 

Nos dias que se seguiram, a atitude de Elaine Hamilton para com Alice não mudou muito, mas ela pelo menos voltou a ocupar seu lugar à mesa durante as refeições. Ignorada por aquela mulher du­rante a maior parte do tempo, Alice tentou não dar muita impor­tância ao fato. Mais cedo ou mais tarde, Elaine acabaria por aceitá-la.

Enquanto isso, havia um bocado de coisas com que se ocupar. A prometida excursão pela ilha revelou-se uma experiência fasci­nante, se bem que inútil para a recuperação de sua memória. David mostrou-lhe cada etapa da produção de rum, desde a prensagem da cana até a destilação, quando o produto obtido era armazena­do em tonéis de carvalho para um envelhecimento de, pelo menos, três anos.

Na parte oriental da ilha havia um povoado, maior até do que ela esperava, um amontoado de casinhas de tijolos vermelhos es­palhadas ao redor da baía, todas com encantadores jardins. Ha­via ainda uma igreja, um armazém geral e um salão usado durante o dia para as aulas das crianças mais novas, já que as mais velhas estudavam em Tortola.

Dias depois da visita, quando se bronzeavam na piscina, Alice demonstrou interesse pela história da ilha. David informou-lhe que a maior parte da população era constituída de descendentes dos escravos importados para a ilha. A propriedade dos Hamilton fo­ra uma das poucas a continuar próspera depois da abolição, isso porque haviam diversificado a produção, deixando de lado o açú­car e investindo no rum.

— Você sabe se seus ancestrais eram bons para com os escravos?

— Se fossem, a antiga mansão estaria de pé. Ainda temos algu­mas relíquias daquele tempo, instrumentos de tortura.

— E o filho que escapou à rebelião? O que ele fez?

— Valeu-se da ajuda do governo para sufocar a revolta, e iniciou a reconstrução. Se passou a tratar seus escravos com mais hu­manidade ou não, eu não sei. Os negros naquele tempo nem eram considerados seres humanos.

— Houve mais alguma rebelião?

— Não. E depois da abolição, ao contrário do que era de se es­perar, não houve um êxodo de mão-de-obra. A maioria permane­ceu na ilha, só que agora na condição de assalariados.

— Talvez eles tenham preferido ficar num lugar onde o empre­go era garantido. Sempre seria melhor do que correr riscos.

— É provável. E acho que é isso que ainda mantém essas pes­soas aqui.

A aula de história estava terminada. Os dois permaneceram em silêncio, deitados à beira da piscina, enquanto Madalyn nadava.

— Você já examinou o baú que estava no sótão? — perguntou ele depois de algum tempo.

— Já, mas não adiantou nada. Imaginei que talvez pudesse en­contrar alguma coisa; um diário, talvez.

— Acha provável que mantivesse um diário enquanto esteve aqui?

— Foi apenas uma idéia. Mas, se existia um, e eu o levei daqui, isso significa que eu não pretendia voltar. Não acha?

— Pode ser… Eu não estava aqui quando você foi.

— Ainda assim, você sabia que meu casamento estava por um fio.

— Era o que parecia.

Com um gesto brusco, David esmagou o cigarro no cinzeiro e ergueu-se.

— Vou entrar. Tenho alguns telefonemas a fazer.

Enquanto ele se afastava, Alice indagou-se se teria dito algo de inconveniente. Era estranho… Seu relacionamento com David pa­recia estar melhorando a cada dia e, de repente, ele se mostrava irritado.

— Por que ele foi embora sem mais nem menos? — perguntou Madalyn, ao sair da piscina.

— Disse que tinha de dar alguns telefonemas.

— Um deles para a "princesa", sem dúvida. David falou-lhe a respeito da visita dela?

— Não a mim.

— Com um pouco de sorte talvez Imogen mude de idéia e re­solva não vir.

— Há quanto tempo eles se conhecem?

— Uns seis meses, mais ou menos.

— Ele deve ter tido várias mulheres no passado, não?

— Nem tantas. Pelo menos não recentemente. Ele precisa é de uma mulher capaz de levar o mesmo estilo de vida dele, David adora Santa Amélia, mas de vez em quando gosta de sair, mudar de ares… Mas não o suficiente para o gosto de Imogen. Se eles se casarem, ela não lhe dará um minuto de paz. Vai querer viajar o tempo todo.

— Então não há nada de firme entre eles?

— Com David, só se pode dizer que algo é concreto e definitivo quando ele mesmo faz tal declaração. É muito teimoso. Somos parecidos fisicamente, mas as semelhanças param aí.

— Até que vocês se dão muito bem.

— Ah, sem dúvida. Ele não mete o nariz nos meus negócios, eu retribuo na mesma moeda, e tudo permanece em paz.

— Os independentes Hamilton! — observou Alice, rindo.

— Acho que somos mesmo. A propósito, ele não gostaria mui­to de saber que estou lhe dizendo estas coisas.

— Fique sossegada, não direi nada a ele.

 

Na manhã seguinte, durante o desjejum, David informou que partiria para São Tomás, onde ficaria por uns dois dias. É claro que Alice ficou decepcionada, mas não pôde fazer nada. Imogen conseguia mesmo tudo o que desejava.

— David precisa consultar um psiquiatra — comentou Madalyn, após a saída do irmão. — Pelo menos uma vez eu gostaria de que­brar as regras e dizer-lhe isso.

— Acha que adiantaria?

— Duvido. Mas não gosto de vê-lo obedecer como um cachorrinho sempre que aquela mulher o chama.

— Talvez ele nunca tenha gostado tanto de alguém.

— Só mesmo estando completamente enfeitiçado para não per­ceber no que ele está se metendo! — Madalyn suavizou o tom de voz ao dizer: — Tenho problemas para resolver esta manhã. Não se importa de ficar sozinha por algumas horas?

— Oh, não. Fique à vontade.

Madalyn olhou para a mãe, que continuava sentada em silên­cio, contemplando o jardim.

— Acompanhe-me até a casa pelo menos — pediu Madalyn. Alice, porém, seguindo um impulso repentino, tomou outra de­cisão, ia tentar uma aproximação com a sogra.

— Se não se importa, Madalyn, prefiro ficar aqui. A manhã está deliciosa.

— Como quiser.

Após a saída de Madalyn, o silêncio, tenso e desconfortável, to­mou conta do lugar, quebrado apenas pelo canto dos pássaros. Até que Alice finalmente criou coragem e disse:

— Este era o recanto favorito de Paul, não era?

Um lampejo de vida surgiu nos olhos apáticos da mulher.

— Sim, ele gostava de ficar aqui.

Não era grande coisa, mas já era um começo,

— Vocês dois eram bastante apegados. David me contou.

— David nunca precisou de mim como Paul. Nunca precisou de ninguém. Essa tal de Imogen vai sumir logo, logo.

— Acha mesmo? Ele parece gostar bastante dela.

— Você vai ver. Ela vai sumir como as outras. Nem você con­seguiu segurá-lo.

Pelo jeito, a mente de Elaine Hamilton estava um tanto confusa.

— Eu fui casada com Paul e não com David.

— E daí? Você queria os dois.

— Que idéia absurda!

— É mesmo? Se perdeu a memória, como pode ter certeza?

Sem dúvida, era difícil dar uma resposta a tal pergunta. E de­pois, talvez ela estivesse certa. Isso explicaria a atração que sentira por David quando o encontrara, duas semanas atrás. Podia mes­mo explicar a atitude dele em relação a ela. Não, não, seria terrí­vel demais! Não devia ser verdade!



  

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