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O Drama De Uma Mulher Casada 7 страница



— Não percebi que estava aí. Você deve ser David… Não en­controu Paul ainda?

— Não, acabei de chegar. Havia algum motivo especial para que eu o encontrasse?

— Sim. — Alice mordeu o lábio, contrariada ao perceber que ela mesma teria de lhe dar a notícia. — Eu… não sou uma hóspe­de. Sou esposa de Paul.

Os olhos dele tornaram-se frios e hostis.

— Quando issoaconteceu?

— Uma semana atrás. Era uma… surpresa.

— Sem dúvida. Qual é a sua idade?

— Tenho idade suficiente. E se a próxima pergunta é sobre quem eu sou, não se dê ao trabalho de fazê-la. Sua mãe já me perguntou isso.

— Não fico surpreso… Isso não é nenhum tipo de piada, é?

— Não, não é. Posso lhe mostrar a certidão de casamento, se quiser. É tudo legal.

— Não tenho dúvidas quanto a isso. Onde está ele?

— Saiu para uma cavalgada. Eu teria ido também, só que não sei andar a cavalo. Mas adoraria aprender. — O sangue subiu-lhe ao rosto ao perceber que começava a tagarelar como uma tola. — Santa Amélia é linda. Não sei como Paul pode ficar longe daqui tanto tempo.

— Não sabe mesmo? Qual de vocês quis vir para cá?

— Paul, é claro. Quer dizer, eu também. Estava ansiosa para conhecer a família.

— Ah, sim, claro. Diga-me: há quanto tempo vocês se conhe­ciam quando se casaram.

— Mais ou menos dez dias…

— Dez dias. Considera isso tempo suficiente para conhecer uma pessoa?

— Não, mas dizem que é impossível conhecer uma pessoa sem se viver com ela antes.

— É claro que antes vocês resolveram tornar isso legal, colocar tudo preto no branco…

— Era o que nós dois queríamos. Eu não o obriguei a se casar comigo. Quase desmaiei quando ele fez o pedido.

— Quanto a esse aspecto, prefiro não dar meu parecer antes de falar com Paul. Enquanto isso… Acho que não preciso pedir-lhe que se sinta em casa. Parece que você já fez isso.

Alice permaneceu imóvel, petrificada, até que a porta se fechas­se atrás dele. Que homem odioso! Mesmo não tendo semelhança alguma com a mãe, ele era igualzinho a ela por dentro: um tirano, insensível aos sentimentos dos outros. Como se atrevia a descon­fiar que ela houvesse forçado Paul ã se casar.

Por quanto tempo Alice permaneceu trancada sozinha na sala de estar, ela não saberia dizer. A verdade é que só saiu de lá por­que não havia outro jeito. Precisava recuperar o controle para o jantar, quando haveria o perigo de mais ataques por parte daque­la família horrorosa. Paul estaria então com ela e trataria de defendê-la.

O sol já se punha quando Paul veio ter com ela. Parecia zanga­do, como um garoto depois de levar uma descompostura.

— Que diabos você andou dizendo a David? Ele fez com que eu me sentisse um idiota.

— Pois ele fez com que eu me sentisse bem pior. Espero que você tenha explicado que as coisas não aconteceram bem como ele pensa.

Paul hesitou um pouco antes de responder.

— Disse-lhe que tinha idade suficiente para me casar com quem eu bem entendesse, quando quisesse. De qualquer modo, não há nada que ele possa fazer.

A não ser tornar a vida dela um inferno. Pelo visto, a ajuda de seu marido não seria de grande valia. Paul evitava seu olhar, e is­so era suficiente para que ela começasse a desconfiar que ele não a amava tanto quanto imaginava. Casara-se com ela por capricho, e já começava a se arrepender.

Alice esforçou-se para afastar esses pensamentos negativos. Ain­da era muito cedo para entrar em desespero. Com certeza, Paul criaria coragem para defendê-la e em pouco tempo ela estaria rin­do do medo que agora sentia.

 

 

Capítulo VIII

 

Não fosse por Madalyn, Alice não teria agüentado as primeiras semanas em Santa Amélia. Não era nada agradável ter um marido negligente, uma sogra que a tratava com o mais absoluto desdém e um cunhado que só lhe dirigia a palavra quando necessário.

— Paul bem que podia ser um pouco mais esforçado — disse Madalyn, certa tarde, quando estava a sós com Alice. — David tornou-o sócio na destilaria apenas para que ele se interessasse um pouco mais pelo negócio. Aconteceu o contrário. A propósito, onde está Paul?

— Pegou a lancha e foi para Roadtown.

— Você não quis ir com ele?

— Não fui convidada.

— Ah, sim. E desde quando você precisa de um convite para sair com seu marido?

— Acho que ele queria ficar sozinho um pouco.

— Sozinho? Em Roadtown?

— Muito bem, ele queria era ficar longe de mim. De mim e de todas as lembranças do erro que cometeu.

— Não acha que está sendo um pouco precipitada em suas conclusões?

— Provavelmente.

— Paul sempre se aborreceu aqui. Talvez fosse melhor que vo­cês deixassem a ilha e construíssem um lar em outra parte.

— É um lugar tão adorável! Tenho certeza de que Paul não se aborreceria tanto se fizesse o que David quer. Apesar de que ago­ra ele não é mais tão necessário. Afinal, vocês contrataram um capataz…

— Quem contratou foi David, não eu. E mesmo assim, há bas­tante serviço. Paul não fez nada porque não quer.

— David poderia pressioná-lo um pouco.

— Como? A sociedade com Paul está legalizada, e não pode ser rescindida. E mesmo que pudesse, duvido que David o fizesse. Ele assume toda a responsabilidade de seus erros.

— Que não devem ser muitos, não é?

— David tem sido um bocado duro com você, não é? — per­guntou Madalyn, sorrindo.

— Acho que ele ainda acredita que obriguei Paul a se casar co­migo. Só não sei que poder eu teria para fazer isso.

— Você nunca se olhou no espelho? Não que eu concorde com David, mas seus atrativos são suficientes para conquistar qualquer homem. Se o teimoso do meu irmão quisesse conhecê-la melhor, certamente passaria a gostar de você.

— Obrigada, Madalyn. Mas acho que ele não quer me conhe­cer melhor. Pelo menos por enquanto.

— Enquanto isso, vamos tratar de nos divertir. Que tal um pas­seio a cavalo?

— Seria ótimo, mas não tenho roupas apropriadas e não me sin­to à vontade pedindo as suas emprestadas.

— Eu não me importo nem um pouco de emprestar. De qual­quer modo, podemos ir a São Tomás para que você compre rou­pas de montaria. Há séculos não faço compras. Iríamos nos divertir bastante.

E por que não? Em circunstâncias como aquelas nada melhor do que se manter ocupada. E depois, a situação não era tão desesperadora assim. Ela e Paul não eram o primeiro casal a enfrentar dificuldades no começo de um relacionamento. Só precisavam de tempo para se ajustar à situação. Desde as primeiras lições que Ma­dalyn lhe dera, sentira-se bastante à vontade para lidar com os ca­valos, e estava progredindo cada vez mais. Ainda não saíra com Paul porque queria adquirir mais confiança, já que o marido não tinha paciência alguma com principiantes.

E isso fazia com que ela se recordasse de como o conhecera na Suíça. Inexperiente com os esquis, ela compensara essa deficiên­cia com coragem e, principalmente, ousadia. Se houvesse demons­trado algum sinal de medo, Paul provavelmente não teria se interessado por ela. Se ao menos pudesse recuperar a euforia da­queles primeiros dias…

Madalyn e Alice cavalgaram na direção noroeste, cruzando a ilha. Ao chegarem ao topo de uma colina, viram as instalações da destilaria a seus pés. Logo depois, ficava o porto onde, naquele ins­tante, estava sendo embarcada uma partida de rum.

— Seria interessante descer e fazer uma visita — sugeriu Madalyn. — David e Scott estão lá, e podemos tomar chá com eles.

— Será que não vamos atrapalhar?

— Não seja boba. Esta ilha é parte da coroa britânica. Todos os súditos de Sua Majestade param para o chá. Vamos!

Levaram poucos minutos para alcançar a destilaria, vibrando de atividade naquele instante, com caminhões de um lado para ou­tro. O barulho não era ensurdecedor como Alice esperava. O que a incomodava mesmo era o cheiro enjoativo do melaço de cana.

— Depois de algum tempo você vai se acostumar — disse Ma­dalyn ao ver a careta que ela fazia. — Quem trabalha aqui nem sente mais o cheiro. David precisa lhe mostrar todas as instalações.

Que esperança! Alice certamente não teria coragem de pedir is­so a ele.

Após amarrarem os cavalos em uma cerca, as duas subiram ao escritório, onde encontraram os dois homens.

— Surpresa! — exclamou Madalyn, entrando sem bater. — Estamos morrendo de sede e exaustas.

— Então se sentem antes que caiam — convidou David.

— O chá vem num instante — disse Scott, sorridente, oferecen­do uma cadeira a Alice. — Vimos vocês chegarem. Ninguém diz que você nunca cavalgou antes, Alice. Parece que não fez outra coisa a vida inteira.

— Pelo menos ainda não caí.

— Você só será uma amazona completa quando cair — disse David num tom razoavelmente amistoso. — O que as trouxe até aqui?

— Falta de companhia — respondeu Madalyn. — Paul foi pa­ra Roadtown.

— Você não quis ir com ele, Alice?

— Não, não quis. Espero que não estejamos atrapalhando o serviço.

— Não, não estão. Na verdade, já íamos embora.

— Chegamos em boa hora, então. — Madalyn voltou-se para Scott com um sorriso. — Faz um bom tempo que você não nos visita. Saiba que é sempre bem-vindo em nossa casa.

— Não quero incomodar.

— Não é incômodo algum. Que tal jantar conosco hoje? Duvi­do que já tenha compromisso.

— Na verdade, não tenho mesmo.

— Ótimo! E depois do jantar, David bem que poderia nos le­var para um passeio no Seajade.

— Você gosta mesmo de organizar programas, não? — David olhou para Scott. — O que acha da idéia?

— Parece um bom modo de passar a noite.

— Duvido que Paul vá conosco — disse Madalyn, servindo o chá que acabava de chegar. — E você, Alice? Já velejou antes?

— Não, e acho melhor não ir desta vez. Posso estragar a noite de todos.

— Qualquer coisa podemos jogar você para fora do barco — gracejou David. — Como Jonas. Só que não há nenhuma baleia para engoli-la por aqui.

— Tenho certeza de que ela vai se dar muito bem — disse Ma­dalyn. — Ela aprende tudo bem rápido. Então jantamos por volta das sete e depois saímos. Certo?

Os quatro deixaram o escritório juntos. Os homens dirigiram-se aos carros, e as mulheres aos cavalos. Já a caminho de casa, Ma­dalyn comentou:

— Desta vez, Scott não conseguiu escapar. Esse homem passa muito tempo sozinho.

— Você está interessada nele?

— Ele me intriga. Tem a mesma idade que David e parece não ter interesse algum em aproveitar a vida. Em três meses no Cari­be, ele só foi a Roadtown uma vez!

— Talvez ele goste muito do trabalho. Alguns homens colocam o trabalho acima de tudo.

— Se está tentando incluir David nessa categoria, está engana­da. Ele se dedica muito ao trabalho, mas não se esquece de reser­var tempo para outras coisas.

— Refere-se a mulheres?

— Entre outras coisas. Acha isso estranho?

— Não. Só acho estranho que ele ainda não tenha se casado.

— Isso porque ainda não encontrou uma mulher que se adapte ao estilo de vida que ele leva. Não é qualquer uma que estará dis­posta a se encarcerar por semanas a fio numa ilha como Santa Amélia.

— Mas o lugar é tão lindo! E você faz isso.

— Eu nasci aqui e adoro o lugar. E mesmo assim, gosto de viajar de vez em quando. A propósito, vou para a Austrália no mês que vem. Temos alguns parentes por lá.

Alice ficou desolada com a notícia, mas conseguiu conter o de­sapontamento.

— Deve ser uma viagem interessante. Quanto tempo vai ficar fora?

— Algumas semanas, não sei ao certo. Você e Paul deviam fa­zer a mesma coisa. Por que não sugere a ele uma viagem? Ele não tem compromissos por aqui, e vai dar pulos de alegria com a idéia.

— É uma boa idéia. Quem sabe?

Longe de Santa Amélia, talvez eles reencontrassem o vínculo que os unira na Suíça. Tudo era tãodiferente agora. Ainda faziam amor apaixonadamente, mas não compartilhavam mais nada no dia-a-dia. A cada momento passado com ele, Alice descobria que tinham pouca coisa em comum. Paul era inquieto e estava sempre à procura de novidades e agitação. Naquela tarde mesmo, haviam dis­cutido um bocado. Ele acabara por chamá-la de aborrecida e provinciana e saíra logo depois para Roadtown, à procura de "um pouco de sossego".

Paul ainda não havia voltado quando eles chegaram à casa. Ali­ce aproveitou para tomar um demorado banho, vestindo em se­guida a camisa e as calças brancas que Madalyn sugerira que usasse para o passeio. Paul entrou no quarto quando ela acabava de amar­rar o cabelo num rabo-de-cavalo.

— Está parecendo uma garotinha.

— De certo modo, é o que sou. Divertiu-se?

— Sem dúvida. Você devia ter ido comigo.

— Não fui convidada. E depois, você me chamou de aborreci­da e provinciana. Lembra-se?

— Coitadinha da minha esposa! Abandonada pelo marido cruel.

— Saí com Madalyn. Fomos à destilaria visitar David. Scott vem jantar conosco hoje, e logo depois vamos dar uma volta no Seajade.

— Não conte comigo. Sabe que odeio veleiros.

— Nesse caso, acho que não vou também.

— Ora, por que não? Não temos de viver grudados o tempo to­do. Posso ficar fazendo companhia a mamãe, já que ela também não suporta barcos à vela.

Alice permaneceu diante do espelho, olhando para o rosto impassível. Estava aprendendo a esconder suas emoções. É claro que se sentia magoada com Paul, mas de que adiantaria demonstrar isso? Ele não fazia questão de tê-la em sua companhia. Paciên­cia… Trataria de aproveitar ao máximo aquela noite.

Ninguém se surpreendeu quando Paul anunciou sua decisão de não acompanhá-los nem mesmo quando Alice confirmou que participaria do programa daquela noite. Evitando o olhar de despre­zo da sogra, ela imaginou o que aconteceria caso mudasse de idéia e resolvesse ficar com o marido…

Os quatro foram para a praia de jipe. A noite estava quente e agradável. A areia sob a luz do luar tinha a aparência de prata, e pontos fosforescentes brilhavam no mar. Ao zarparem, Alice sentou-se ao lado de David, presa de uma euforia da qual nem se julgava mais capaz. Pela primeira vez, desde que chegara a Santa Amélia, sentia-se livre. Era como acordar de um sonho ruim.

Madalyn conseguiu isolar-se com Scott num canto do navio. O capataz parecia bem mais descontraído e chegou mesmo a rir de algumas das piadas da moça. Alice concordava com a cunhada: aquele homem era mesmo um enigma.

— Será que Scott está fugindo de algo?

Só quando David lhe dirigiu a palavra é que ela percebeu que havia expressado seus pensamentos em voz alta:

— Acho que isso é problema dele, não? — disse David.

— Claro, claro… Eu não pretendia interrogá-lo.

— Ótimo… Desculpe-me. Fui um tanto grosseiro com você.

— Não, não foi. Você tem razão. Não tenho direito algum de me meter na vida dele.

— Uma pena que Madalyn não pense do mesmo modo. Se co­nheço bem minha irmã, ela agora está tentando arrancar uma con­fidência de Scott. Está perdendo tempo. Ele nunca fala sobre seu passado.

— Isso não o incomoda? Não saber nada sobre ele?

— Sei tudo o que preciso saber. Eu lhe pago para que trabalhe para mim, e ele faz isso muito bem. — David fez uma breve pausa e mudou de assunto. — Está gostando de velejar?

— É maravilhoso! Mas não tenho certeza de que me sairia bem com mar agitado.

— Podemos experimentar qualquer dia.

— Será que Paul vai mudar de idéia e vir conosco? Acha que há chances disso acontecer?

— Você devia saber, afinal é esposa dele. A propósito, o que está achando do casamento? Não tão fácil quanto esperava?

— Nunca esperei que fosse fácil. É preciso esforço para que um casamento dê certo.

— Sim, claro. Só que alguns exigem mais esforço do que ou­tros. O de vocês é um desses. Os dois são absolutamente incompa­tíveis. Acho que você mesma já começou a tomar consciência disso.

— Se eu fosse a vigarista caça-dotes que você imaginou, isso não teria tanta importância, não é?

— Um argumento lógico, sem dúvida — admitiu ele, sorrindo.

— E você ainda acha que sou uma vigarista?

— Não. Acho que se casou devido a uma fantasia romântica. Ingênua, não vigarista.

— E Paul? Por que teria se casado?

— Para nos afrontar. Foi um gesto dramático bem ao gosto dele.

— Acredita então que ele não sente nada por mim?

— É claro que ele sente algo por você! Poucos homens seriam capazes de olhar para uma garota adorável como você sem sentir nada. Só que ele é imaturo, completamente inadequado para o ca­samento.

— Sua observação também é válida para mim?

— Nem tanto. Tenho observado seu comportamento. Apesar de não demonstrar, você está infeliz com a situação. Ou será que é por que se sente presa em Santa Amélia?

— Não me sinto presa — ela protestou com veemência. — Adoro este lugar.

— Sabe de uma coisa? Acho que está dizendo a verdade.

— É claro que estou! Qualquer pessoa adoraria este paraíso.

— Isso é mentira. Você é uma em mil.

— David… Vai ser meu amigo agora?

— Nunca fui seu inimigo, pode ter certeza.

— Então fingiu muito bem.

— Tinha meus motivos… Você trouxe traje de banho?

— Sim. Madalyn disse que talvez parássemos em algum lugar para nadar.

— Então desça e troque de roupa. Vamos chegar em poucos minutos à enseada. Gosta de nadar à noite?

— Nunca experimentei, mas tenho certeza de que vou adorar.

Dominada por um entusiasmo quase infantil, Alice desceu até uma das cabinas e vestiu o maio que trouxera. Há tempos não se sentia tão feliz, e isso por ter conseguido vencer as reservas de Da­vid. Então ele mostrara-se hostil em relação a ela com motivos… Quais seriam esses motivos? David era um homem tão complexo! Talvez ela nunca viesse a compreendê-lo inteiramente.

Ficaram ancorados numa enseada por quase uma hora. Alice, apesar de não ser boa nadadora, sentiu-se bastante à vontade, já que a água era calma e quente. Ainda assim, conhecendo as limi­tações dela, David fez questão de ficar a seu lado, caso ela tivesse algum problema.

Boiando na água, deixando que o mar calmo lhe acariciasse o corpo, Alice não queria mais nada da vida.

— Acho melhor voltarmos — disse David.

— Só mais um pouquinho — ela reclamou. — Está tão agradá­vel, e não é sempre que posso fazer isso.

— Pode usar qualquer um dos carros quando quiser ir à praia. São menos de dez minutos de viagem.

— Não sei dirigir.

— Está na hora de aprender. Por que não pede a Paul que lhe ensine?

— Aulas de volante podem acabar com um casamento.

— Muito bem. Então eu mesmo vou ensiná-la. Não quero car­regar a responsabilidade de um casamento desfeito na minha cons­ciência.

Um movimento brusco de David fez com que ela perdesse o equilíbrio e engolisse um bocado de água. Inexperiente, ela entrou em pânico e começou a se debater.

— Calma, calma — pediu ele, segurando-a pela cintura.

Ela sentia-se segura nos braços dele, mas, ainda assim, seu coração insistia em bater desesperadamente. Algo muito estranho co­meçava a se revelar, uma atração que ela sentira desde o primeiro encontro com David. Seus corpos se tocaram. Se foi a água que a empurrou contra ele, ou então se foi movida por um impulso inconsciente, ela não saberia dizer. O fato é que, ao tê-la junto a si, os olhos de David brilharam de desejo, e ele a beijou. Alice correspondeu apaixonadamente.

E se foi ele quem tomou a iniciativa, foi também ele quem rom­peu o contato. Ao ver-se livre, Alice finalmente se deu conta do que acabara de acontecer. Sem pensar em mais nada, ela pôs-se a nadar em direção ao barco. Apesar do calor da água, seu corpo tremia. Aquilo não era verdade! Só podia ser parte de um sonho louco, do qual ela acordaria a qualquer momento.

David alcançou-a com poucas braçadas e subiu a bordo antes dela, a tempo de ajudá-la a entrar. Mesmo não querendo tocá-lo outra vez, Alice não teve escolha. Assim que se viu a bordo, po­rém, ela virou as costas e saiu em direção às cabinas.

— Não fuja — disse ele, segurando-a.

— Solte-me! Isso não devia ter acontecido.

— Não devia, mas aconteceu.

— Solte-me!

— Ainda não. Não nesse estado. Trate de ficar calma. Afinal, foi apenas um beijo.

Não era verdade, e ambos sabiam disso. Não havia como negar que aquele breve contato deixara-os mais excitados do que nunca e que, se as circunstâncias fossem outras, eles teriam ido em fren­te. Naqueles breves instantes em que permanecera nos braços de David, Alice desejara fazer amor com ele. E o pior era que tivera a certeza de que sentiria mais prazer com ele do que com Paul.

— Não me olhe assim — disse ele, encarando-a. — Senão, vou acabar por beijá-la outra vez.

— Não! David, eu sou a esposa do seu irmão!

— Acha que posso me esquecer disso? Por que acha que tenho evitado sua presença?

— Porque você me despreza, como sua mãe.

— Foi o que tentei fazer. Tentei me convencer de que você era apenas uma vigarista, mas não consegui, porque isso não é verdade.

— Não diga mais nada, David.

— Você não ama Paul, assim como ele também não a ama. Vo­cês foram impulsivos e cometeram um erro. Se tivesse ido para a cama com ele antes do casamento, não teria cometido esse erro. Por que não fez como ele queria?

— Ele lhe disse isso?

— Disse. Não há segredos com Paul. Ele teria me contado mui­to mais se eu estivesse disposto a escutar… Sabia que eu pensava em oferecer-lhe muito dinheiro para reaver parte dele na proprie­dade? E que não fiz isso apenas por você?

— Não quero ouvir mais nada. Deixe-me ir.

— Muito bem, pode ir. Só que isto não vai ficar assim. Precisa­mos dar um jeito nesta situação.

Sem lhe dar uma resposta, ela correu para a cabina. Enquanto se enxugava e trocava de roupa, ficou pensando no que acabava de acontecer. Se antes sua situação em Santa Amélia não era das melhores, agora se tornava quase que insustentável. Casar-se com Paul fora um erro, do qual se arrependia tarde demais. E desco­bria isso do modo mais traumático possível, apaixonando-se pelo irmão dele!

Aquilo não podia acontecer outra vez. Seu casamento não era perfeito, mas era um fato consumado. Cabia a ela empenhar-se para que tudo desse certo.

Minutos depois, os três amigos foram ao encontro de Alice, que estava preparando café.

— É algo que sei fazer muito bem — ela comentou, tentando aparentar uma calma que estava longe de sentir. — Assim que se trocarem, o café estará pronto.

— Precisamos repetir o passeio antes de minha viagem — comentou Madalyn mais tarde, quando relaxavam no convés.

— Diverti-me um bocado hoje. Paul não sabe o que perdeu.

— Meu café, pelo menos, ele já conhece — comentou Alice. — Passamos nossa lua-de-mel num chalé de montanha, e eu prepara­va o desjejum todas as manhãs.

— É bom saber disso. Se Bella entrar em greve, já sei quem vou chamar para a cozinha. Sou um desastre até para fritar um ovo.

— Ainda me lembro do bolo que você fez — disse David, zom­bando da irmã.

— Pois é… Cresceu até que eu abrisse a porta do fogão, e en­tão afundou como o Titanic. Mas não estava tão ruim. Com um recheio de creme e frutas, até que ele desceu bem.

— Sem dúvida. Desceu como chumbo.

Os quatro continuaram a conversar por alguns minutos ainda, até que David finalmente resolveu que era hora de partir.

— Você fez o café, mas eu vou lavar as xícaras — disse Ma­dalyn. — Scott pode enxugá-las.

Assim, não houve outro remédio a não ser ir para o lado de David. Após alguns minutos de silêncio durante a manobra para ti­rar a embarcação da enseada, ele perguntou:

— Sente-se bem?

— Não estou enjoada, se é isso que quer saber.

— Não, não é isso. Sabe a que me refiro.

— Você estava certo desde o início. Foi um simples beijo. Va­mos esquecer o que aconteceu hoje.

— Se é isso que você quer…

Não era.

 

 

Capítulo IX

 

A partida de Madalyn para a Austrália deixaria um vácuo difí­cil de ser preenchido. É claro que Alice fez questão de esconder a tristeza ao se despedir da cunhada.

— Eu estarei bem, não se preocupe — garantiu Alice e apontou para o táxi. — É bom apressar-se ou perderá o vôo. Tem certeza de que não quer companhia até o aeroporto?

— Obrigada, mas não suporto despedidas prolongadas. — Ela correu para o carro, voltando-se ainda uma vez para acenar. — Vejo-a dentro de seis semanas. Trate de se cuidar.

Era o que Alice pretendia fazer, mas duvidava que isso adian­tasse alguma coisa. A situação entre ela e Paul piorava cada vez mais, e ela reconhecia que boa parte da culpa era sua já que não conseguia disfarçar seu desencanto com o casamento. Na noite an­terior, Paul chegara a dizer que estava cansado de fazer amor com uma mulher incapaz de sentir prazer.

Ele havia levado Alice e Madalyn para Tortola, uma gentileza motivada mais por tédio do que por afeição à irmã. Foi com um peso no coração que Alice viu o táxi dobrar a esquina e desapare­cer. Cabisbaixa, começou a fazer o caminho de volta à lancha. Tal­vez nunca mais visse Madalyn, já que se julgava incapaz de resistir a mais seis semanas em Santa Amélia.



  

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