Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





O Drama De Uma Mulher Casada 6 страница



— Não, não é. David está planejando alguma viagem de lua-de-mel?

— Não que eu saiba.

— Pois deveria. Vocês deviam embarcar no Seajade e fazer uma longa viagem até Barbados. Vocês precisam passar algum tempo sozinhos.

— Seria maravilhoso, mas sei que David tem muito a fazer aqui.

— Scott pode cuidar de tudo. Ele é capaz de fazer qualquer coisa que não envolva risco. — Madalyn reclinou-se na cadeira e suspi­rou, exasperada. — O que se faz com um homem que acha que todas as mulheres são iguais?

— Prova-se que ele está errado… Você está apaixonada por Scott?

— Somos amantes há um ano. E antes que me pergunte, já dor­mi com Tod também. — Ela suspirou mais uma vez. — Desculpe a rudeza, mas você e David chegaram no momento errado. Eu aca­bava de dar um ultimato a Scott. Ou tudo ou nada!

— E ele preferiu ficar sem nada?

— Exato. Disse que ia deixar o campo livre para Tod.

— E convidar Tod para vir a Santa Amélia foi uma boa idéia?

— É claro que não! Eu fui mesquinha e usei Tod, só que não obtive os resultados que desejava. Uma pena! De qualquer modo eu não merecia mesmo um final feliz.

— Você não sente nada por Tod?

— Sinto, mas não e algo tão profundo… Acho que vou ter de contar tudo a ele, não?

— Claro. Ele merece uma explicação. E talvez Scott mude de idéia, caso Todsaia de cena.

— Não é a concorrência que o espanta. Ele simplesmente está convencido de que o casamento estraga tudo. Disse que já passou pela experiência uma vez e não pretende repeti-la. Às vezes penso até que ele tem razão… Oh, eu não devia atormentá-la com meus problemas. Esqueça, sim?

— David sabe disso?

— Não, e nem quero que saiba. Obrigada por me ouvir. Vejo-a mais tarde.

Já era quase noite, e os vaga-lumes já voavam pelo jardim. Ali­ce permaneceu sentada, olhando para a água, perdida em pensa­mentos. Sem dúvida, sentia pena de Madalyn, incapaz de conquistar o homem que amava. Por outro lado, aquela não fora a ocasião mais apropriada para tomar conhecimento dos problemas da cu­nhada. Se Madalyn e Scott estivessem certos, se um casamento po­dia mesmo arruinar uma relação, que chance ela e David tinham? O amor seria suficiente para lhes assegurar a felicidade? David estava a sua espera no quarto quando ela entrou.

— Estava prestes a ir atrás de você. Por que ficou tanto tempo lá fora?

— Estive pensando.

— E a que conclusões chegou?

— A nenhuma. Como sua mãe recebeu a notícia?

— Melhor do que eu esperava. De certo modo, creio que ela prefere pensar em você como minha esposa, ao invés de esposa de Paul. Ela vai deixar Santa Amélia.

— Só porque estou aqui?

— Porque as lembranças estão aqui. Mamãe tem uma irmã em Washington, e pretende recomeçar a vida lá. Disse que não foi uma resolução repentina, que tem pensado muito no assunto nesses úl­timos dias.

— Você não tentou persuadi-la a ficar?

— Não, nunca tivemos tanta intimidade assim. E depois, ela po­de voltar quando quiser. Mas duvido que o faça. Nunca foi feliz aqui.

— Acha que ela teria sido mais feliz com o pai de Paul?

— Quem sabe? Nem mesmo ele quis experimentar. Ao saber que ela estava grávida, desapareceu.

— Ela mesma lhe disse isso?

— Sim, quando eu tinha dezenove anos, Mas isso foi há muito tempo, e o que importa é o presente. Você virá até mim, ou eu terei de ir atrás de você?

— Logo será hora de jantar — ela respondeu, baixando o olhar, enrubescida.

— Ainda temos bastante tempo. Do que está com medo, Alice?

— De tudo. Não sou a mesma pessoa que você conheceu.

— Talvez você tenha mudado um pouco, mas, no fundo, ainda é a mesma. Hoje, enquanto estávamos no Seajade, era como se os dois últimos anos não tivessem acontecido. Você me desejava.

— E ainda desejo.

Um súbito brilho de paixão iluminou os olhos de David, ele aproximou-se de Alice e a ergueu nos braços. Instantes depois depositou-a sobre a cama e pôs-se a despi-la. Beijou avidamente o corpo desnudo, deixando-lhe uma trilha de fogo sobre a pele, enchendo-a de prazer.

Embevecida, ela o viu tirar a roupa, deliciando-se diante do pei­to largo e poderoso, dos membros musculosos e bem-feitos, da virilidade daquele homem que agora lhe pertencia.

Logo depois, eles se abraçavam apaixonadamente, abandonando-se sem reservas ao desejo que por tanto tempo haviam sentido. Os dedos hábeis, os lábios sensuais acariciavam o corpo dela, insinuantes, arrancando-lhe gemidos de prazer. Por fim, quando o desejo tornou-se premente, seus corpos uniram-se, rendendo-se ao ritmo febril do amor, até a satisfação final.

Ébrios de prazer, a respiração ofegante, os dois permaneceram abraçados até que o ritmo de seus corações voltasse ao normal. Satisfeita, dominada por uma sonolência doce e envolvente, ela sentiu-se protegida nos braços dele.

— Linda e arrebatadora como sempre — ele murmurou, acariciando-lhe os seios. — Ainda me lembro da primeira vez em que a vi num biquíni. Tive de entrar na água para esfriar meu desejo.

— Você me queria tanto assim?

— Perdidamente. Tentei me afastar de você, mas foi impossível.

— E Paul tinha conhecimento disso?

— Não. Ele nunca foi muito observador.

— Sei… Especialmente em relação a pessoas que não tinham interesse algum para ele.

— Ele gostava de você no começo. Isto é, tanto quanto era pos­sível para uma pessoa como ele, egoísta e descuidada. Mas isso já é passado, e o futuro é que importa. Como se sente agora?

— Ótima. — E ela sorriu com malícia.

— Não fisicamente, sua tolinha. Estava me referindo à sua mente.

— Sinto-me uma mulher completa pela primeira vez nestes úl­timos anos. Eu te amo tanto, David…

— Não tenho tanta certeza disso… Que tal você tentar me con­vencer?

 

Beirando os quarenta anos, Tod Sherman era bem mais velho do que Alice esperava. E era também o oposto de Scott. Texano, alto, forte, expansivo e dono de um império econômico que não se confinava aos limites de seu estado.

Tod estava sozinho com Alice na segunda manhã de sua visita quando fez uma confissão:

— Eu me sinto como Gulliver em Lilliput. Meu rancho no Te­xas é duas vezes maior que Santa Amélia. É claro que não é tão bonito. Afinal, gado precisa de pastagens, não de coqueiros.

— É você mesmo quem o administra?

— Não. Tenho muitos outros negócios que consomem a maior parte de meu tempo… Madalyn contou-me que você perdeu a me­mória. Deve ser horrível, não?

— Não me preocupo mais com isso.

— É o melhor a fazer. Qualquer dia desses, você vai acordar e lembrar-se de tudo. — Ele fez uma breve pausa e diminuiu o tom de voz antes de prosseguir. — Você e Madalyn são bastante ínti­mas, não?

— Mais ou menos — ela respondeu, cautelosa, pressentindo o rumo que a conversa tomaria.

— Você acha que sou velho demais para ela?

— Não necessariamente. David, por exemplo, é onze anos mais velho do que eu.

— Pois eu sou dezoito anos mais velho que Madalyn. Tenho quarenta e três.

— Pois não parece.

— Obrigado… Mas acho que isso não tem mesmo tanta importância. Se a idéia de se casar fosse tão atraente para ela quanto é para mim, ela já teria se decidido.

— Algumas mulheres levam mais tempo para se decidir.

— Bem, Madalyn só terá mais uma semana para decidir. De­pois disso, eu saio de cena.

— Experimente dizer isso a ela. Às vezes um ultimato pode ajudar.

— Talvez… A verdade é que ela tem um fraco por esse capataz de David, o tal Scott. Ele passa boa parte de seu tempo livre por aqui, não é?

— Scott não tem tanto tempo livre assim. — Aliviada, Alice viu que a cunhada vinha na direção deles. — Veja, lá está Madalyn.

O casal havia planejado um passeio a cavalo pela ilha, e Ma­dalyn estava pronta. Antes de se afastar com Tod, porém, ela trans­mitiu um estranho recado a Alice:

— Mamãe quer falar com você. Importa-se de ir ao quarto dela?

É claro que ela se importava! Nos últimos dias, Elaine Hamil­ton havia ignorado sua presença e não lhe dirigira uma única pala­vra. Se tinha algo a dizer à nora, sem dúvida não se tratava de uma oferta de paz. E Alice não estava disposta a enfrentá-la sem a aju­da de David. Só que ele estava na destilaria e voltaria somente pa­ra o almoço.

— Vou até lá agora mesmo. — decidiu ela, a contragosto. — Aproveitem o passeio.

Alice bateu na porta e, pela primeira vez desde que chegara à ilha, entrou no quarto de sua sogra. Elaine Hamilton estava sen­tada em uma poltrona junto à janela, com um álbum de fotogra­fias nas mãos.

— Vou embora amanhã — disse ela, sem rodeios, ao ver a no­ra. — Você e David podem se mudar para este quarto.

— Nosso quarto é bastante confortável. E, de qualquer modo, a senhora pode voltar algum dia.

— Nunca mais. Estou fazendo algo que devia ter feito há dois anos. Não fosse por causa de Paul, eu já teria partido há muito tempo. Mas ele precisava de mim.

— Acredito. O amor de um filho pela mãe é sempre muito es­pecial.

— O de alguns filhos — ela corrigiu. — David nunca teve sentimento algum.

— Tem certeza? Talvez a senhora nunca lhe tenha dado chance de demonstrar o amor que tem pela senhora.

— Ele é igualzinho ao pai. A única coisa que importa para ele é Santa Amélia. E você é a mesma coisa. Conseguiu o que queria casando-se com ele, não é?

— Eu o amo. Não houve interesse de outra espécie nesse casamento.

— Você finge amá-lo, assim como fingiu amar Paul. Foi um grave erro acreditar em você, e o pobre rapaz pagou com a vida.

— Eu não fui responsável pela morte dele.

— Paul estava naquele lugar apenas por sua causa. E sabe por que você perdeu a memória? Porque há coisas das quais não quer se lembrar. Isso pelo menos prova que um dia você teve consciência.

— Sra. Hamilton, não acho que esta conversa traga algum benefício a mim ou à senhora.

— Aí é que você se engana. Ela faz com que eu me sinta bem melhor. — Um brilho maldoso surgiu nos olhos de Elaine. — Vo­cê não acredita que David tenha se casado com você por amor, acredita? Ele mesmo me disse que o casamento era o único modo de manter o controle sobre a ilha.

— Pare com isso!

— Vocês se merecem mesmo. São dois sujos. Não perde por esperar, minha cara. Talvez consiga manter o interesse dele por al­gum tempo, mas isso não irá longe.

Alice saiu do quarto, incapaz de suportar por mais tempo aque­la tortura. Não podia ser verdade que David não a amava. Ele não se casaria apenas por interesse. E, no entanto, ele nunca dissera que a amava… A desconfiança de que se deixara iludir como uma tola começou a parecer-lhe cada vez mais provável.

Havia um jipe estacionado em frente à casa. Alice correu para ele. Apesar de nunca ter dirigido naqueles dois anos, executou automaticamente todos os movimentos necessários para colocar o car­ro em movimento. Queria ouvir dos lábios de David toda a verdade, imediatamente.

Só que não havia mais necessidade. Como se um véu fosse er­guido de repente, ela se lembrou de tudo, e as imagens do passado começaram a desfilar em sua mente…

 

 

Capítulo VII

 

— Estou nervosa, Paul — confessou Alice, quando estavam prestes a descer em Tortola. — E se eles não gostarem de mim?

Paul riu e fez um gesto de pouco-caso.

—- Gostando ou não, eles não podem fazer mais nada.

Não era bem esse o tipo de encorajamento que ela esperava do marido, mas a observação era, sem dúvida, típica dele. Com um suspiro, Alice fechou os olhos e pôs-se a recordar das coisas incrí­veis que haviam acontecido nas últimas semanas.

A morte de tia Susan fora o início de tudo. Casa hipotecada, herança, dívidas, e, pagas as contas, haviam lhe sobrado três mil libras. Quantia suficiente para reiniciar a vida ou então para co­meter uma extravagância. Alice acabou por escolher a segunda al­ternativa: partiu para a Suíça.

Depois de passar dois dias no país, ela conheceu Paul, que a partir desse dia tornou-se uma companhia inseparável. Apesar de alimen­tar certas esperanças em relação a ele, quase desmaiou quando foi pedida em casamento. É claro que aceitou sem pestanejar.

Não houve tempo para voltar à Inglaterra depois do casamen­to, mas Alice não se importou com isso. Com a morte da tia, não tinha mais um lar, parentes, nem mesmo um amigo mais íntimo. Por ter cuidado da tia inválida, ela nunca tivera tempo para arru­mar amigos. A pensão que recebiam não mais existia, e, sem expe­riência, seria difícil encontrar um emprego. Mas agora Alice nunca mais teria de se preocupar com essas coisas.

No momento, havia outros problemas a ser enfrentados. Somente na noite anterior, no quarto do hotel, é que Paul lhe dissera que não havia contado à família que se casara. Limitara-se a dizer-lhe que levaria uma "hóspede" para casa.

— Será uma surpresa e tanto. É a última coisa que eles esperam da ovelha negra da família. Sabia que eu não sou um Hamilton de verdade? Minha mãe teve um caso com outro homem. Nunca conheci meu verdadeiro pai.

Havia certa amargura na voz de Paul, e ela lhe acariciou o ros­to, penalizada.

— Como descobriu isso?

— Ouvi minha mãe comentar o fato com David. Eu tinha doze anos na época, mas compreendi tudo muito bem.

— Mas por que ela iria contar isso a seu irmão?

— Não sei. Foi pouco depois que o pai dele morreu. David e mamãe estavam brigando. Acho que ela quis chocá-lo.

— Conseguiu?

— Não sei. De qualquer modo, não fazia diferença alguma. Ele era o filho mais velho e herdou toda a propriedade sem problema algum.

— Mas… Você não disse que tem cinqüenta por cento da propriedade?

— Isso porque David cedeu-me a metade. Até hoje não sei por quê.

— Talvez tenha sido uma maneira de compensá-lo pelo que aconteceu.

— Seja lá qual for o motivo, não me interessa. Você teria se casado comigo se eu fosse pobre?

— É claro que não! — ironizou ela. — Afinal, que outros atra­tivos você tem?

— Vou lhe mostrar num instante. Prepare-se para ser violenta­da, prezada esposa!

Não era força de expressão. Paul fez amor com ela com entusiasmo, mas sem ternura alguma. Apesar do desconforto, Alice não permitiu que isso a preocupasse muito. Mais tarde, quando estivessem instalados, levando uma vida normal, trataria de dis­cutir o assunto com ele.

E agora, ali estava ela, em Tortola, nas Ilhas Virgens Britâni­cas, prestes a seguir para Santa Amélia, o lar dos Hamilton, o seu lar.

Felizmente, nenhum membro da família estava na lancha em que embarcaram. Apenas um criado veio ao encontro deles.

— Josh, você será o primeiro a saber da novidade. Esta é a no­va sra. Hamilton.

— Parabéns, senhor. Prazer em conhecê-la.

— Agora, rumo a Santa Amélia. — Paul beijou a mão da espo­sa. — Não fique tão preocupada, querida. Eles vão adorá-la.

Era o que ela esperava.

Santa Amélia correspondia inteiramente às expectativas de Ali­ce. Um paraíso de praias brancas, palmeiras esguias, vegetação lu­xuriante, cheia de vida e cor. Até mesmo os canaviais eram uma deliciosa novidade para ela.

Paul, por sua vez, não dava a menor atenção ao cenário enquanto rumava para casa. Estava ausente há três meses e, no entanto, comportava-se como se houvesse saído dali apenas por uma ou duas horas. Talvez não fosse bem essa a atitude que David esperava do irmão ao ceder-lhe a metade da propriedade. Paciência… Alice apaixonara-se pelo que Paul era, não pelo que deveria ser.

O primeiro vislumbre da casa encheu-a de alegria. Sólida e graciosa, era tudo o que ela podia esperar de um lar. Lembrou-se da reação que Paul tivera quando ela lhe perguntara onde iriam mo­rar. Surpreso, ele havia respondido que a casa da família era bem espaçosa.

Madalyn, a irmã mais jovem de Paul, recebeu-os na porta. Muito atraente, apesar de não ter uma beleza convencional, a moça era simpática, alegre e, a julgar pelas aparências, tinha um caráter in­dependente e decidido.

— É bom revê-lo, Paul. Acabo de dar os últimos retoques no quarto de hóspedes. — Ela voltou-se sorridente para Alice. — Desculpe-me, mas ainda não sei seu nome. Meu irmão não des­perdiça palavras nos telegramas.

— O nome dela é Alice. — Paul estava achando tudo aquilo muito divertido. — Onde estão David e mamãe?

— Mamãe está no jardim, e David na casa de Scott.

— Diabos! Eu queria todos juntos aqui.

— Para quê?

— Para dar a grande notícia. Bem, isso não é tão importante assim. Alice e eu estamos casados. Como vê, o quarto de hóspe­des não será necessário.

A surpresa de Madalyn teve curta duração. Após arregalar os olhos involuntariamente, ela logo recuperou o controle.

— Bem, acho que só me resta lhe dar os parabéns.

— Obrigado — disse Paul, abraçando a irmã. — Sabia que po­dia contar com você.

— Já estou acostumada com suas surpresas, caro irmão. Ago­ra, por que não vai dar a notícia a mamãe, enquanto mostro o quar­to a Alice? Prometo devolvê-la num instante.

— Ótima idéia. Até logo.

Josh tinha as duas malas de Alice nas mãos e esperava pelas or­dens de Madalyn.

— Leve-as para o quarto de Paul, por favor. Vamos, Alice?

Madalyn conduziu a cunhada escada acima e depois pelo cor­redor esquerdo do pavimento superior. Ao chegar à porta do quarto de Paul, fez com que ela entrasse primeiro.

Era um belo aposento, dominado por uma cama de madeira entalhada com dossel de damasquim azul-escuro, combinando com o azul mais pálido do tapete e das cortinas. O aspecto austero do quarto era suavizado pelas paredes brancas e por algumas peças de arte leves e refinadas.

— O banheiro fica logo ali. E não tenha pressa, estarei à sua espera.

Alice abriu a porta indicada, lavou as mãos e contemplou o ros­to no espelho durante alguns instantes, imaginando o que iria di­zer quando saísse dali. Gostaria tanto de estar naquela casa apenas como noiva de Paul, ou então como uma simples hóspede! A si­tuação era tão desagradável!

Ao sair, sentia-se um pouco mais segura, o suficiente para enca­rar a cunhada sem pestanejar.

—- A notícia deve ter sido um choque para você, não?

— Será um choque bem maior para minha mãe. Onde vocês se conheceram?

— Na Suíça, enquanto esquiávamos.

— Foi tão romântico quanto imagino? — perguntou Madalyn, surpreendendo a outra com um inesperado e amistoso sorriso.

— E como!

— Sua família já sabe?

— Não tenho família. A tia que me criou morreu há pouco tempo.

— Sinto muito. Bem, agora você tem uma família. Só não sei se vai gostar dela ou não. — Ela levantou-se, resoluta. — Acho melhor acabarmos com isso de uma vez.

— Vai ser tão ruim?

— É provável. Mamãe não vê Paul há três meses. Ter de reparti-lo com uma esposa não será fácil.

— Eu não quero me interpor entre os dois.

— É claro que quer. Nenhuma esposa normal se conforma em ocupar um posto secundário nas afeições do marido. Paul precisa viver sua própria vida, e mamãe tem de aceitar o fato.

— Ela ainda tem você e David.

— Não é a mesma coisa, e você logo vai perceber isso. Paul sem­pre foi o queridinho dela.

Seria por ter amado mais ao pai dele do que ao próprio marido? Talvez…

Os jardins na parte detrás da casa deixaram-na maravilhada. Se toda a ilha fosse igualmente linda, ela não teria muitas dificulda­des para ser feliz naquele lugar. Tão diferente dos acanhados jar­dins do subúrbio onde fora criada… Sem dúvida, havia mesmo mudado radicalmente seu estilo de vida!

Paul e a mãe estavam sentados ao lado da piscina.

— Aí vem ela! — Ele se ergueu abruptamente. — Venha cumprimentar minha mãe, Alice. Ela está ansiosa para conhecê-la.

A senhora de traços duros e frios olhos azuis parecia tudo, me­nos ansiosa.

— Como está, sra. Hamilton?

— Paul me disse que você é órfã — respondeu ela, ignorando a pergunta. — É verdade?

— Sim, é. Mas nunca me senti sozinha de verdade.

— Como era sua família?

— Meu pai era professor universitário. Ele e minha mãe mor­reram num acidente aéreo quando eu tinha quatro anos. Fui cria­da por uma tia, e, quando ela se tornou inválida, cuidei dela até sua morte.

— Interessante — tornou a outra, com frieza. — Não vou fin­gir que estou feliz com esse casamento apressado e irresponsável, mas, já que é um fato consumado, creio que vamos ter de nos acos­tumar. Madalyn, já pediu que servissem o almoço?

Madalyn respondeu que sim, um tanto desconcertada com a mudança brusca de assunto. Ao se recuperar, sugeriu que abrissem uma garrafa de champanhe, e sorriu para a cunhada, como se qui­sesse encorajá-la.

O pior, pelo jeito, havia passado, e Alice retribuiu ao sorriso amigável de Madalyn. Apesar do alívio, não estava satisfeita. Fo­ra posta de lado como algo insignificante, apenas um infeliz erro de Paul que agora tinha de ser aceito com resignação. Desde aque­le instante, Alice teve certeza de que nunca haveria afeição entre ela e a sogra. O máximo que poderia esperar da mulher seria tole­rância.

Ao contrário da esposa, Paul não estava nem um pouco pertur­bado com a fria recepção, e Alice começou a crer que ele nem per­cebera a hostilidade da mãe em relação a ela. Era estranho, mas ali, na ilha, Paul parecia diferente do homem que ela conhecera na Suíça. Será que teria de disputar o carinho do marido com Elaine Hamilton?

Coube a Madalyn deixar a recém-chegada à vontade e fazer com que participasse, da conversa. Alice sentiu-se grata pela considera­ção, e magoada por ver que a cunhada encarregava-se de uma ta­refa que competia a Paul. Era como se, passada a excitação da surpresa, ele houvesse perdido todo o interesse pelo casamento.

A atmosfera tornou-se bem mais leve quando Elaine Hamilton retirou-se para a sesta após o almoço.

— Agora subam e tratem de se acomodar — aconselhou Ma­dalyn. — Creio que há bastante espaço nos armários para vocês dois. A não ser que você tenha mais coisas além do que trouxe, Alice.

— Pouca coisa. Apenas algumas miudezas que mandarei bus­car depois na Inglaterra.

— O que você pretendia fazer da vida, caso não encontrasse Paul?

— Isso tem importância, mana? Ela está aqui agora, e é só isso que importa.

Sinceramente, Alice esperava que fosse assim mas começava a ter sérias dúvidas. Parte delas desapareceu quando fizeram amor no novo quarto. Logo depois, deitada nos braços de Paul, ela murmurou:

— Acho que sua mãe não me considera boa o suficiente para você.

— Minha mãe não considera nenhuma mulher boa o suficiente para mim. Mas não se preocupe, ela vai superar isso. Contanto que você me faça feliz, é claro.

— Ah, naturalmente! É o dever de uma esposa, não?

— Exatamente, querida! — Após beijar-lhe a ponta do nariz ele se levantou. — Vou sair para uma cavalgada. Quer ir comigo?

— Não sei cavalgar. E, depois, ainda tenho de desfazer minhas malas.

— Bella pode cuidar disso.

— Prefiro eu mesma fazer.

— Como quiser. Aproveite e desfaça as minhas também — Ele já estava no banheiro. — Volto dentro de duas horas mais ou menos.

Por volta de quatro horas, Alice tinha tudo pronto, e as peças de roupa que precisavam ser lavadas estavam no cesto do banhei­ro. Ao fechá-lo, ela suspirou, satisfeita. Sem dúvida, uma das gran­des vantagens de se ter criados era não ter de se preocupar com tarefas domésticas. Ela mesma já fizera muito tais tarefas, já que tia Susan sempre fora bastante exigente. Agora isso era coisa do passado. A princípio talvez achasse um tanto estranho ser servida, mas não tinha dúvida de que logo se acostumaria a tal estilo de vida.

Havia tantas novas experiências diante dela. Cavalgar, por exem­plo, já que ela nunca estivera sequer perto de um cavalo. E pas­sear em barcos! Ao desembarcar, ela vira o veleiro de David, o Seajade. Paul não gostava de veleiros, preferia a velocidade das lanchas, mas ela bem que podia pedir ao cunhado que a levasse para um passeio.

Às quatro e meia, usando um vestido claro de algodão, Alice desceu as escadarias. Encontrou a casa em silêncio e aparentemente deserta. Sentindo-se extremamente desconfortável, ela se pôs a abrir portas em silêncio, até encontrar a sala de estar. Ficou maravilha­da ao ver o piano. Ali estava algo que ela podia fazer: tocar! Se ao menos pudesse sentar-se ao piano um pouco… Mas por que não? Aquele agora era o seu lar, e ela não iria passar o resto da vida esperando permissão para se sentir à vontade.

Tratou de fechar a porta e sentar-se ao piano. Ao tocar o tecla­do sentiu um arrepio de prazer. Em pouco tempo, tocava com en­tusiasmo, arrebatada pela música, como acontecia sempre que tinha a oportunidade de usar algum instrumento.

Bem mais tarde ela se deu conta da presença de um homem, calmamente recostado ao batente da porta, olhando-a com interesse. Parou abruptamente e encarou-o, embaraçada. O homem era atraente, parecido com Madalyn, e não havia dúvidas quanto à sua identidade. Alice sentiu um frio na barriga e viu-se incapaz de pro­nunciar uma única palavra.

— Você deve ser a hóspede de Paul, não? Não pare de tocar. Eu estava gostando.



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.