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O Drama De Uma Mulher Casada 5 страница



— Você não pode fugir! — rosnou a sra. Hamilton, ao ver a nora erguer-se. — Se David não vai lhe contar a verdade, eu vou!

Elaine tinha razão. De nada adiantaria fugir da verdade.

— Pois então, me conte tudo — desafiou Alice, sentando-se ou­tra vez.

— Você nunca me enganou, desde o começo, Alice. Você tinha Paul nas mãos. Só quando começou a se interessar por David, ele percebeu o erro que havia cometido ao se casar.

— E o que ele fez? Que atitude tomou?

— Nenhuma. Não tinha mais interesse algum em você e pouco lhe importava que ficasse com David para sempre. Só que David não a queria também, e você tentou reconquistar Paul.

— Será que foi por isso que viajamos para São Tomás?

— Deve ter sido idéia sua, e Paul deve ter concordado apenas para poder enfiá-la em algum avião para bem longe.

— Se isso fosse verdade, ele teria lhe contado.

— Só depois de feito. Ele não se arriscaria a contar antes.

— Bem, são suposições apenas, não?

— Claro. A única pessoa viva que pode nos contar toda a ver­dade é você.

— A senhora acha que estou fingindo que perdi a memória? Acredita que eu conseguiria manter uma farsa por tanto tempo?

— Não, não acho. David já teria descoberto.

— Então não me condene antes de saber toda a verdade.

— Por que deveria fazer isso? Meu filho morreu por sua causa.

— Mas eu nem estava presente quando ele morreu! Era outra mulher que o acompanhava. Por que não culpa essa mulher?

— Provavelmente ela pediu carona depois que ele deixou você no aeroporto.

— Quer dizer que o acidente aconteceu perto do aeroporto?

Pela primeira vez, desde que abrira a boca, Elaine Hamilton mostrou-se confusa.

— Não importa o que aconteceu. Aquela mulher era apenas uma desconhecida a quem ele deu uma carona.

— A senhora ainda acredita que eu sabotei o carro?

— David disse que isso é impossível… Não quero mais falar nes­se assunto. Por que não me deixa em paz?

Permanecer ali e insistir seria perda de tempo. E de que adian­tava discutir um fato do qual ela não tinha a menor lembrança? Ela e David… Teria existido mesmo algo entre os dois? E, se fosse verdade, até que ponto haviam chegado? A única maneira de des­cobrir era perguntado a ele, e isso ela não tinha coragem de fazer.

David retornou antes do esperado, e sozinho. Em resposta à in­dagação da mãe, limitou-se a dizer que Imogen não viria para Santa Amélia, sem mais detalhes. Mais tarde, depois que Elaine Hamil­ton foi dormir, ele tratou de demonstrar que Imogen não fora o único motivo que o levara a São Tomás.

— Acho que descobri a identidade da mulher que foi enterrada com Paul.

— Como? — perguntou Madalyn, atônita.

— Estive investigando com a ajuda da polícia. Entre os três no­mes que levamos em consideração, há uma mulher que desembar­cou naquele dia do vôo proveniente de Caracas, mas que nunca chegou em casa. Parece que ela telefonou ao marido dizendo que ia tomar um táxi.

— E Paul deu-lhe uma carona? — perguntou Alice.

— É provável que sim. Examinando os horários concluímos que ele provavelmente deixou você no aeroporto e depois foi encontrar-se com essa mulher.

— Como sabe que ele me levou ao aeroporto?

—- Seu nome estava na lista de passageiros para Nova York.

— E você acha que essa carona não foi um simples acaso?

— Não, não deve ter sido. Paul não tinha necessidade alguma de ir até o setor de desembarque. O encontro deve ter sido combi­nado com antecedência.

— O marido já foi informado?

— Ainda não. Primeiro a polícia vai exumar o corpo e identificá-lo. Isso será feito amanhã.

— Pobre homem! — comentou Alice, com um suspiro. — O que ele deve ter sofrido…

— Será um alívio para ele. O pior é não saber da verdade.

Durante alguns minutos os três permaneceram em silêncio, me­ditando sobre tudo o que acontecera. Aquele trágico acidente en­volto em mistério ainda persistia em atormentá-los. Quando poderiam esquecer tudo aquilo?

— Você fez a viagem no Seajade? — perguntou Alice, tentan­do descontrair o ambiente.

— Não. Usei a lancha, como de costume. Para dizer a verdade, estava pensando em sair no Seajade amanhã. Vocês gostariam de ir comigo?

— Eu não — respondeu Madalyn. — Tod vai telefonar ama­nhã. Por que não vai, Alice? Será divertido.

— É um convite tentador. A que horas quer sair, David?

— Por volta de dez horas. Podemos passar o dia inteiro no mar, almoçar a bordo. O que acha?

— Ótimo. Isto é, se Madalyn não se importa de ficar sozinha.

— Já estive sozinha antes — ela respondeu, rindo. — E, se me entediar, sempre posso atormentar Scott.

Elaine Hamilton não apresentou reação alguma ao ser informa­da do passeio. Depois da explosão com Alice, ele havia voltado à costumeira apatia.

— Ela não quer superar a morte de Paul — disse David, quan­do Alice expressou sua preocupação pela sogra. — Depois que vo­cê voltou, cheguei a pensar que ela iria se recuperar.

— Será que sua mãe não teria mais chances de melhorar se dei­xasse a ilha, indo para longe do lugar que lhe traz tão más lem­branças?

— Talvez. Mas ela teria de ser levada a força, e não estou disposto a fazer isso.

Os dois percorreram o resto do caminho até o cais em silêncio quase absoluto. Apenas uma vez, ele voltou-se para ela e elogiou-lhe a roupa.

— Estes sapatos estavam no meu baú — disse Alice, apontan­do para os calçados com solado de corda. — Achei que talvez fos­sem apropriados para o barco.

— São mesmo. Foram comprados em Roadtown.

— Você estava comigo na ocasião? — ela perguntou, com o co­ração aos pulos.

— Estava.

Ele estacionou o jipe, pegou o cesto com a comida e abriu-lhe a porta. Ao perceber que ela hesitava em descer, ergueu as sobran­celhas e perguntou:

— Está com medo? Quer desistir?

— É claro que não. — Ela apressou-se em descer do veículo. — Se já velejei antes, posso fazê-lo de novo.

— Hoje você não precisa fazer nada. Trate de relaxar.

— Vou tentar.

Apesar de ser uma experiência nova naquela sua segunda vida, Alice percebeu que seu corpo se ajustava automaticamente ao ba­lanço do navio.

— Paul gostava de velejar?

— Não, só gostava de barcos a motor. Dê uma olhada no bar­co e familiarize-se com ele. Vou lhe mostrar onde fica o fogão pa­ra que você possa preparar um café.

Deixaram o cais com o motor ligado: Alice ouvia o ronco da máquina enquanto percorria a embarcação. Era um belo barco, confortável e espaçoso, bem maior do que se podia imaginar vendo-o apenas por fora.

Adivinhou qual era a cabina usada por David graças a um casa­co pendurado na porta. Pegou a peça de roupa na mão e começou a acariciá-la. Bastante usada. Engraçado como os homens se sen­tiam bem em roupas velhas… Ao perceber que havia um botão frouxo, Alice tratou de procurar agulha e linha para pregá-lo. Mes­mo sendo velho, o casaco era de boa qualidade e ainda tinha anos de uso pela frente.

Alice estava prestes a iniciar o serviço quando algo lhe chamou a atenção. O punho esquerdo tinha três botões, ao passo que o direito tinha apenas dois. Examinando melhor o formato e a cor deles, não teve mais dúvidas: o botão que encontrara em seu baú, guardado com envelopes e papéis de carta, era o que deveria estar ali naquele casaco. Ela o guardara como uma recordação… Do quê?

Terminado o serviço, Alice recolocou o casaco na cabina e foi preparar o café. Ao terminar, o motor já fora desligado e o barco seguia em frente, sereno, com as velas enfunadas. David estava sem camisa, deliciando-se ao sol, sentindo o vento acariciar-lhe a pele. Alice caminhou até ele e entregou-lhe uma caneca.

— Obrigado. Espero que tenha trazido um traje de banho. Achei que talvez pudéssemos nadar um pouco.

— Tenho um biquíni por baixo da roupa — ela respondeu, ten­tando aparentar calma, o que era difícil depois da descoberta que acabara de fazer.

David levou a caneca aos lábios e tomou um gole e sorriu.

— Você ainda faz café muito bem. Lembro-me de que na épo­ca fiquei bastante surpreso.

— Por quê? Achava que eu era uma inútil incapaz até mesmo de preparar café?

— Se a observação foi deselegante, peço desculpas. A verdade é que não foi apenas seu café que me surpreendeu. Como você ainda não havia velejado, achei que ficaria enjoada e nunca mais iria pôr os pés em um veleiro. E você, pelo contrário, mostrou-se perfeita.

Depois de alguns minutos de silêncio, ele apontou para uma man­cha ao longe:

— É para lá que vamos.

Logo depois, eles entravam em uma baía, cercada de rochedos. David ancorou o barco e tirou a roupa. Um arrepio de excitação percorreu a espinha de Alice ao ver o corpo musculoso e bronzea­do à sua frente. Só depois que ele pulou na água é que ela come­çou a se despir.

— Use a escada até sentir-se segura de si — disse ele, ao emer­gir. — Você estava aprendendo a mergulhar quando… quando foi, embora.

Por que a hesitação? Havia algo mais que ele não queria dizer, mas que ela pressentia…

Depois de uns quinze minutos na água, nadando preguiçosamen­te, David sugeriu que voltassem para o barco. Após subir, ele es­tendeu a mão e ajudou-a a fazer o mesmo.

— Nada como um pouco de exercícios para abrir o apetite. Vou buscar o cesto. Lá embaixo está quente demais para se almoçar.

Após estender uma toalha no convés, ele abriu o cesto, revelan­do um verdadeiro banquete de carnes, frutas, pão fresco, bolos de dar água na boca e fritas. A refeição foi agradável e calma. Vez ou outra, eles atiravam pedaços de comida aos pelicanos e gaivotas, abundantes no local.

— É verdade que Robert Louis Stevenson tinha as Ilhas Virgens em mente quando escreveu A Ilha do Tesouro?

— É possível — respondeu ele. — Até a chegada dos grandes colonizadores estas ilhas estavam infestadas de piratas. O primei­ro Hamilton a chegar aqui ajudou a estabelecer lei e ordem nas ilhas. Como recompensa, foi-lhe oferecida esta ilha, desabitada na época. O nome de Santa Amélia foi escolhido por ele em homena­gem à esposa.

— Nunca houve nenhuma tentativa de confisco da ilha?

— Não. O documento de posse da ilha para Hamilton e seus descendentes foi lavrado no cartório. Os documentos originais ain­da se encontram em Londres. Eu mesmo os vi quando estive lá pela última vez.

— Esse foi o único motivo que o levou a Londres?

— Não, eu tinha outros negócios a resolver lá. Até que a encontrei… O destino é mesmo caprichoso, não?

— E como!

Tornava-se cada vez mais difícil para Alice aparentar naturali­dade. Ela sentia vontade de acariciar-lhe o peito, sentir a maciez dos pêlos escuros e as batidas daquele coração. Não seria a pri­meira vez que fazia tal coisa, disso tinha certeza. Houvera mais do que simples carícias entre ela e David… Talvez aquele fosse o momento adequado para esclarecer isso…

— Eu preguei um botão frouxo em seu casaco. Faltava outro no punho direito.

— Eu sei. Um igual àquele que você tem guardado.

— Talvez seja o mesmo. — Depois de um instante de silêncio, ela respirou fundo e disse. — David, eu quero saber toda a verda­de. Como o botão foi parar naquele lugar?

— Minha dúvida é por que você o guardou. — A expressão de­le era enigmática. — Você já vestiu aquele casaco.

— Quando?

— No dia em que fomos surpreendidos pela tempestade. No dia em que fizemos amor pela última vez.

 

 

Capítulo VI

 

Alice suspeitara que havia mantido um caso com o cunhado. Mesmo assim estremeceu quando ele confessou o fato. Alguns ins­tantes se passaram antes que ela recuperasse o controle.

— Você disse no dia em que fizemos amor pela última vez?

— Isso mesmo. Tive de me ausentar da ilha, e o acidente ocor­reu no dia seguinte à minha partida.

— Mas David… Você nem ao menos confiava em mim! Você mesmo me disse.

— Só no começo, e isso não me impediu de desejá-la. Passei noites em claro, enlouquecido por imaginar você e Paul juntos na cama. Quando ele começou a se desinteressar, eu entrei em cena. Não estou me desculpando.

— Aquelas vezes em que velejamos juntos…

— Foi como tudo começou. Nós dois sozinhos no meio do mar. A tentação era irresistível.

— Quanto tempo isso durou?

— Umas duas semanas. Madalyn estava viajando, e Paul… Bem, Paul nunca ficava na ilha por muito tempo.

— Você fala como se tudo fosse sua culpa! Sua mãe acha que eu fui a única responsável por tudo.

— Quando ela lhe disse tal coisa?

— Na mesma manhã em que você partiu para São Tomás. Ti­vemos uma longa conversa. Ela viu…

— Minha mãe viu apenas o que queria ver. — Havia irritação na voz dele. — Tudo o que você fazia estava errado para ela. A verdade é que me aproveitei de sua vulnerabilidade.

— Só isso? Foi tudo tão simples, tão calculado?

— Não exatamente. Eu estava realmente louco por você, tanto que não me importei com nenhuma dificuldade. Só quando você partiu é que percebi que me deixara iludir como um tolo.

— Quer dizer que não só fui uma adúltera, como também ca­paz de me atirar a uma aventura apenas por prazer?

— Não foi uma simples aventura. Você gostava de mim.

— Mas não suficiente. Afinal, fui atrás de Paul.

— Foi o que pensei na época. Mas hoje sei que, horas depois de deixar Santa Amélia, você estava num avião para a Inglaterra, ao passo que Paul passeava de carro com outra mulher. Isso não faz sentido, faz?

— Não, nem um pouco.

— E só fará sentido quando você se lembrar do que aconteceu. Enquanto isso, terá de confiar em mim e crer na minha palavra. Não tenho motivo algum para mentir.

Alice não tinha dúvidas. Aquilo explicava a irresistível atração que sentira por ele desde o primeiro instante em que o vira. Havia perdido a memória, mas o sentimento que nutrira por David ain­da estava em seu inconsciente.

— Você devia ter se calado quando me reconheceu. Todos nós estaríamos melhor hoje.

— Acha que eu faria isso?

— É claro que não! Afinal, algum dia eu poderia recuperar a memória e vir reclamar meus direitos.

— Eu não disse isso. Mas, tudo bem. Você tem direito de se mostrar ressentida. Acho que não a tratei muito bem ultimamen­te… De certo modo, creio que isso foi um modo de puni-la pelo que me fez sofrer na época. Estas últimas semanas foram um ver­dadeiro suplício. Estive tentando colocar meus pensamentos em ordem tomar decisões…

— E qual foi o resultado?

— Cheguei a uma conclusão muito importante. Seja lá o que for que aconteceu entre nós, o que sentimos um pelo outro ainda está vivo. Temos agora uma chance de recomeçar, e acho que não devemos desperdiçá-la.

— Onde está querendo chegar? — perguntou ela, trêmula de excitação.

— Você se esqueceu de meu rosto, mas uma parte do seu ser ainda me reconhece. Podemos construir um relacionamento a partir disso, começando agora mesmo.

Os últimos temores de Alice desapareceram quando ele lhe tomou o rosto entre as mãos e a beijou. Ao sentir a língua quente de David contra a sua, ela viu-se completamente dominada pelo fogo da paixão. Imagens desconexas, lembranças confusas do pas­sado atravessavam-lhe a mente em questão de segundos, sem que conseguisse fixá-las. Nos braços daquele homem ela estava prestes a recuperar uma parte de seu passado!

Ao contato dos dedos dele sobre seus seios nus, Alice rendeu-se completamente à magia daquele momento. Era como se vivesse um sonho. Inebriada de prazer, deslizou as mãos pelo corpo masculi­no, sentindo-lhe a textura macia da pele e a força dos músculos.

Instantes depois, ele a afastou de si e a encarou com seriedade.

— Eu a desejo mais do que nunca, mas há algo que precisamos fazer antes. Você vai se casar comigo, Alice.

— Mas você é irmão de Paul!

— E isso importa agora? Ele está morto, e nada nem ninguém pode nos deter.

— Mas… sua mãe, Madalyn…

— Elas vão se acostumar. Não pretendo renunciar a você desta vez.

— David, nós não podemos fazer isso.

Não havia convicção naquela recusa, apenas temor. Queria era que ele a persuadisse de que tal felicidade era possível, queria que ele varresse todas as dúvidas. Casar-se com ele… Não havia nada que ela mais desejasse. Se ao menos as circunstâncias não fossem tão complicadas!

— E Imogen? Até a semana passada era a ela que você desejava.

— Imogen apenas representou uma tentativa de me insurgir con­tra você enquanto colocava meus sentimentos em ordem. Esclare­ci toda a situação ontem.

— Nem tudo. O que aconteceu no passado pertence apenas a nós. — David acariciou os lábios dela suavemente.

— Talvez eu nunca descubra o que você realmente sentia por mim há dois anos, mas não vou me preocupar com isso. O que você sente agora é que me importa. Estou errado ao achar que com­partilharmos as mesmas emoções?

— Não, não está. Também passei por maus bocados nestas úl­timas semanas, pensando em você…

— Então só nos resta o casamento. E o modo mais fácil de con­tar a todos será revelar a nova situação como um fato consumado. Dentro de meia hora chagaremos a Roadtown e eu já tenho a licença.

— O quê? — Ela arregalou os olhos, atônita. — Desde quando?

— Há alguns dias já — ele respondeu, sorrindo. — Como pode perceber, não estava disposto a aceitar um "não" como resposta. E então? Vamos?

A tentação de abandonar toda a cautela era grande demais. Por que esperar, afinal? Se não o amara há dois anos, agora pelo me­nos não tinha dúvidas quanto a seus sentimentos. E, casada com David, ela enfrentaria qualquer coisa, até mesmo a possibilidade de nunca recuperar a memória.

— Pois muito bem! Vamos!

A única parte da cerimônia da qual Alice podia se lembrar com clareza era o momento em que David colocara a aliança em seu dedo. Só na viagem de volta a Santa Amélia é que ela começou a se dar conta da seriedade daquela atitude.

-— Estou começando a achar que somos dois loucos — comen­tou ela, sacudindo a cabeça. — E é isso o que os outros vão pensar.

— Eles que pensem o que quiserem. — Rindo, ele abraçou-a e deu-lhe um beijo. — Fomos feitos um para o outro. Que tal an­corar em algum lugar e ir para a cabine?

— Não, não aqui.

— Por que não? Afinal, esta é nossa lua-de-mel.

— Não é. Bem que eu gostaria que fosse, que pudéssemos na­vegar para bem longe de tudo e de todos.

— Mais cedo ou mais tarde, minha família terá de saber a ver­dade. Adiar o confronto não servirá para nada; portanto, vamos acabar com isso de uma vez.

— Tem certeza de que é o melhor a fazer? Será que não pode­mos esperar alguns dias antes de revelar tudo?

— Por quê? Você é minha esposa, e eles têm de aceitar isso.

— Será um choque tão grande para sua mãe!

— Também seria um choque se contássemos a ela daqui a uma semana. Agora é tarde demais para se arrepender, querida.

— Não estou arrependida.

Será que não mesmo? A loucura que se apossara dela nas duas últimas horas começava a se dissipar, deixando-a insegura e temerosa. Elaine e Madalyn Hamilton ficariam chocadas com a notícia e, a cada momento que passava, Alice tinha mais medo do con­fronto.

Ao desembarcarem no cais em Santa Amélia, David abraçou-a e, carinhosamente, fez com que ela o encarasse.

— Nós tomamos um passo muito importante, e não quero que você tenha medo. O que aconteceu hoje teria acontecido há dois anos, caso eu a encontrasse antes de Paul.

— Tem certeza disso?

— Tenho. Você agora é minha, e será minha para sempre. Paul está morto, e ninguém mais pode nos separar.

— Paul nunca existiu, pelo menos para mim. Eu amo você, Da­vid. Amo-o desde o primeiro instante em que o vi… Nesta minha segunda vida, pelo menos.

— E é só disso que preciso, querida. Vamos fazer deste casa­mento um sucesso, gerando uma nova linhagem de Hamiltons.

— Crianças, já? Primeiro temos de nos acostumar à idéia de que estamos casados.

— Não tem que ser já, neste instante. Apesar de que não há mal algum se praticarmos um pouquinho.

— Bem, querido, vamos deixar esse assunto para depois e deci­dir o que fazer. E quanto antes melhor, como você mesmo disse. Quando daremos a notícia à família? A esta hora, sua mãe deve estar no quarto.

— Deixe mamãe comigo. Posso lhe dar a novidade sozinho. É melhor que ela se acostume à idéia antes de encontrá-la.

Alice ficou aliviada. Restava apenas enfrentar a cunhada.

Madalyn estava sentada ao lado de Scott, á beira da piscina. A julgar pela expressão dos rostos, os dois acabavam de ter um desentendimento.

— Puxa, o passeio deve ter sido bom mesmo! — comentou Madalyn. — Onde vocês se enfiaram?

— Fomos até Roadtown — respondeu David. — Fico contente por estar aqui, Scott. Pode comemorar conosco.

Madalyn franziu as sobrancelhas, olhou para Alice e depois para o irmão.

— Comemorar o quê?

— Há uma hora e meia nós nos casamos.

O rosto de Madalyn permaneceu inexpressivo. Scott, pela primeira vez, desde que Alice o conhecera, perdeu sua habitual com­postura e ficou boquiaberto. O ar de desconcerto durou pouco, e logo depois ele disse, com sua calma habitual:

— Parabéns.

— Obrigado, Scott. E você, Madalyn? Não diz nada?

— A única coisa que me ocorre no momento é chamá-lo de idio­ta. Por que fizeram um casamento secreto? Vocês são adultos, e ninguém iria impedi-los.

— Assim foi mais fácil. Bem, creio que a ocasião exige um brin­de. Acho que temos champanhe no refrigerador.

— Foi tudo muito bem planejado — tornou Madalyn, olhando para Alice. — Não esperava isso de sua parte.

— Sinto muito, Madalyn.

— Ela não podia ter lhe contado nada — interveio David, abrin­do a garrafa. — Alice não sabia de meus planos até a hora do al­moço, quando eu tratei de convencê-la.

Madalyn levantou-se bruscamente e abraçou Alice.

— Eu é que devo pedir desculpas, Alice. Fiquei nervosa porque a notícia me pegou de surpresa. Se era isso mesmo que vocês que­riam, estou satisfeita. Só que ainda não entendo por que a pressa e o segredo.

— Você sabe, sim — David trouxe-lhe uma taça de champanhe. — Eu não queria que mamãe pusesse obstáculos ao casamento.

— A reação dela será a mesma. É obvio que ela não vai gostar.

— Paciência. Terá de aprender a conviver com o fato.

Ela terminou de distribuir as taças e, com um ar satisfeito, er­gueu a sua num brinde:

— O que importa neste instante é o que faremos a partir de ago­ra, não o que já fizemos. Um brinque ao futuro. Que ele nos re­serve sorte.

— Amém — respondeu Madalyn, olhando fixamente para Scott.

— Com um pouco de fé e esforço, a sorte sempre acaba por vir. Agora, descendo novamente à Terra e às questões práticas: em qual suíte o feliz casal vai se instalar?

— O quarto que ocupo hoje é mais do que adequado. Basta que Alice se mude.

— Posso fazer isso sozinha. Não há necessidade de envolver os criados.

— Não seja boba. — Madalyn riu do nervosismo da cunhada. — Os criados vão saber o que aconteceu de qualquer jeito. Vai ser o assunto favorito deles por alguns dias.

— Logo encontrarão algo melhor para comentar. A propósito, Madalyn: Tod já decidiu quando vem para cá?

— Amanhã. Não sei por quanto tempo vai permanecer… Imogen já sabe de tudo, David?

— É claro.

— Acho que não devo perguntar como ela reagiu.

— Muito sensato de sua parte.

Dando o assunto por encerrado, David passou a interrogar Scott a respeito da exumação da mulher que morrera com Paul. Soube então que a operação ocorrera normalmente, e que as conclusões oficiais ficariam prontas dentro de alguns dias.

Enquanto isso, Alice sentia-se como um peixe fora d'água. Num espaço de poucas horas ela havia abandonado um papel do qual não se recordava, o de viúva de Paul, assumido outro ao qual se­ria difícil se acostumar, o de esposa de David.

Por fim, Scott decidiu ir embora, recusando o convite de Da­vid para jantar. Desta vez, Madalyn não se ofereceu para acompanhá-lo ao carro, limitando-se a uma despedida seca e distante.

— Quando vai contar a novidade a mamãe?

— Agora mesmo. Fique aqui, Alice. É melhor que eu vá sozi­nho. Desconfio que ela não jantará conosco hoje.

Era bem provável, e Alice achava que seria melhor assim. Tal­vez na manhã seguinte ela acordasse com mais coragem para en­frentar a sogra.

Assim que se viu a sós com a cunhada, Madalyn puxou uma ca­deira para junto de Alice e disse:

— Perdi um ou dois capítulos do romance de vocês. Estava na Austrália quando o acidente ocorreu, mas desconfio que este ca­samento tem raízes naquela época. Estou errada?

— Não sei do que está falando, Madalyn.

— É claro que sabe! Já existia algo entre você e David naquela época. Não me interprete mal, Alice, não a recrimino por nada. Paul nunca mereceu a esposa que tinha. Só espero que dê certo entre vocês.

— Nós nos amamos. E isso é suficiente.



  

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