|
|||
O Drama De Uma Mulher Casada 5 страница— Você não pode fugir! — rosnou a sra. Hamilton, ao ver a nora erguer-se. — Se David não vai lhe contar a verdade, eu vou! Elaine tinha razão. De nada adiantaria fugir da verdade. — Pois então, me conte tudo — desafiou Alice, sentando-se outra vez. — Você nunca me enganou, desde o começo, Alice. Você tinha Paul nas mãos. Só quando começou a se interessar por David, ele percebeu o erro que havia cometido ao se casar. — E o que ele fez? Que atitude tomou? — Nenhuma. Não tinha mais interesse algum em você e pouco lhe importava que ficasse com David para sempre. Só que David não a queria também, e você tentou reconquistar Paul. — Será que foi por isso que viajamos para São Tomás? — Deve ter sido idéia sua, e Paul deve ter concordado apenas para poder enfiá-la em algum avião para bem longe. — Se isso fosse verdade, ele teria lhe contado. — Só depois de feito. Ele não se arriscaria a contar antes. — Bem, são suposições apenas, não? — Claro. A única pessoa viva que pode nos contar toda a verdade é você. — A senhora acha que estou fingindo que perdi a memória? Acredita que eu conseguiria manter uma farsa por tanto tempo? — Não, não acho. David já teria descoberto. — Então não me condene antes de saber toda a verdade. — Por que deveria fazer isso? Meu filho morreu por sua causa. — Mas eu nem estava presente quando ele morreu! Era outra mulher que o acompanhava. Por que não culpa essa mulher? — Provavelmente ela pediu carona depois que ele deixou você no aeroporto. — Quer dizer que o acidente aconteceu perto do aeroporto? Pela primeira vez, desde que abrira a boca, Elaine Hamilton mostrou-se confusa. — Não importa o que aconteceu. Aquela mulher era apenas uma desconhecida a quem ele deu uma carona. — A senhora ainda acredita que eu sabotei o carro? — David disse que isso é impossível… Não quero mais falar nesse assunto. Por que não me deixa em paz? Permanecer ali e insistir seria perda de tempo. E de que adiantava discutir um fato do qual ela não tinha a menor lembrança? Ela e David… Teria existido mesmo algo entre os dois? E, se fosse verdade, até que ponto haviam chegado? A única maneira de descobrir era perguntado a ele, e isso ela não tinha coragem de fazer. David retornou antes do esperado, e sozinho. Em resposta à indagação da mãe, limitou-se a dizer que Imogen não viria para Santa Amélia, sem mais detalhes. Mais tarde, depois que Elaine Hamilton foi dormir, ele tratou de demonstrar que Imogen não fora o único motivo que o levara a São Tomás. — Acho que descobri a identidade da mulher que foi enterrada com Paul. — Como? — perguntou Madalyn, atônita. — Estive investigando com a ajuda da polícia. Entre os três nomes que levamos em consideração, há uma mulher que desembarcou naquele dia do vôo proveniente de Caracas, mas que nunca chegou em casa. Parece que ela telefonou ao marido dizendo que ia tomar um táxi. — E Paul deu-lhe uma carona? — perguntou Alice. — É provável que sim. Examinando os horários concluímos que ele provavelmente deixou você no aeroporto e depois foi encontrar-se com essa mulher. — Como sabe que ele me levou ao aeroporto? —- Seu nome estava na lista de passageiros para Nova York. — E você acha que essa carona não foi um simples acaso? — Não, não deve ter sido. Paul não tinha necessidade alguma de ir até o setor de desembarque. O encontro deve ter sido combinado com antecedência. — O marido já foi informado? — Ainda não. Primeiro a polícia vai exumar o corpo e identificá-lo. Isso será feito amanhã. — Pobre homem! — comentou Alice, com um suspiro. — O que ele deve ter sofrido… — Será um alívio para ele. O pior é não saber da verdade. Durante alguns minutos os três permaneceram em silêncio, meditando sobre tudo o que acontecera. Aquele trágico acidente envolto em mistério ainda persistia em atormentá-los. Quando poderiam esquecer tudo aquilo? — Você fez a viagem no Seajade? — perguntou Alice, tentando descontrair o ambiente. — Não. Usei a lancha, como de costume. Para dizer a verdade, estava pensando em sair no Seajade amanhã. Vocês gostariam de ir comigo? — Eu não — respondeu Madalyn. — Tod vai telefonar amanhã. Por que não vai, Alice? Será divertido. — É um convite tentador. A que horas quer sair, David? — Por volta de dez horas. Podemos passar o dia inteiro no mar, almoçar a bordo. O que acha? — Ótimo. Isto é, se Madalyn não se importa de ficar sozinha. — Já estive sozinha antes — ela respondeu, rindo. — E, se me entediar, sempre posso atormentar Scott. Elaine Hamilton não apresentou reação alguma ao ser informada do passeio. Depois da explosão com Alice, ele havia voltado à costumeira apatia. — Ela não quer superar a morte de Paul — disse David, quando Alice expressou sua preocupação pela sogra. — Depois que você voltou, cheguei a pensar que ela iria se recuperar. — Será que sua mãe não teria mais chances de melhorar se deixasse a ilha, indo para longe do lugar que lhe traz tão más lembranças? — Talvez. Mas ela teria de ser levada a força, e não estou disposto a fazer isso. Os dois percorreram o resto do caminho até o cais em silêncio quase absoluto. Apenas uma vez, ele voltou-se para ela e elogiou-lhe a roupa. — Estes sapatos estavam no meu baú — disse Alice, apontando para os calçados com solado de corda. — Achei que talvez fossem apropriados para o barco. — São mesmo. Foram comprados em Roadtown. — Você estava comigo na ocasião? — ela perguntou, com o coração aos pulos. — Estava. Ele estacionou o jipe, pegou o cesto com a comida e abriu-lhe a porta. Ao perceber que ela hesitava em descer, ergueu as sobrancelhas e perguntou: — Está com medo? Quer desistir? — É claro que não. — Ela apressou-se em descer do veículo. — Se já velejei antes, posso fazê-lo de novo. — Hoje você não precisa fazer nada. Trate de relaxar. — Vou tentar. Apesar de ser uma experiência nova naquela sua segunda vida, Alice percebeu que seu corpo se ajustava automaticamente ao balanço do navio. — Paul gostava de velejar? — Não, só gostava de barcos a motor. Dê uma olhada no barco e familiarize-se com ele. Vou lhe mostrar onde fica o fogão para que você possa preparar um café. Deixaram o cais com o motor ligado: Alice ouvia o ronco da máquina enquanto percorria a embarcação. Era um belo barco, confortável e espaçoso, bem maior do que se podia imaginar vendo-o apenas por fora. Adivinhou qual era a cabina usada por David graças a um casaco pendurado na porta. Pegou a peça de roupa na mão e começou a acariciá-la. Bastante usada. Engraçado como os homens se sentiam bem em roupas velhas… Ao perceber que havia um botão frouxo, Alice tratou de procurar agulha e linha para pregá-lo. Mesmo sendo velho, o casaco era de boa qualidade e ainda tinha anos de uso pela frente. Alice estava prestes a iniciar o serviço quando algo lhe chamou a atenção. O punho esquerdo tinha três botões, ao passo que o direito tinha apenas dois. Examinando melhor o formato e a cor deles, não teve mais dúvidas: o botão que encontrara em seu baú, guardado com envelopes e papéis de carta, era o que deveria estar ali naquele casaco. Ela o guardara como uma recordação… Do quê? Terminado o serviço, Alice recolocou o casaco na cabina e foi preparar o café. Ao terminar, o motor já fora desligado e o barco seguia em frente, sereno, com as velas enfunadas. David estava sem camisa, deliciando-se ao sol, sentindo o vento acariciar-lhe a pele. Alice caminhou até ele e entregou-lhe uma caneca. — Obrigado. Espero que tenha trazido um traje de banho. Achei que talvez pudéssemos nadar um pouco. — Tenho um biquíni por baixo da roupa — ela respondeu, tentando aparentar calma, o que era difícil depois da descoberta que acabara de fazer. David levou a caneca aos lábios e tomou um gole e sorriu. — Você ainda faz café muito bem. Lembro-me de que na época fiquei bastante surpreso. — Por quê? Achava que eu era uma inútil incapaz até mesmo de preparar café? — Se a observação foi deselegante, peço desculpas. A verdade é que não foi apenas seu café que me surpreendeu. Como você ainda não havia velejado, achei que ficaria enjoada e nunca mais iria pôr os pés em um veleiro. E você, pelo contrário, mostrou-se perfeita. Depois de alguns minutos de silêncio, ele apontou para uma mancha ao longe: — É para lá que vamos. Logo depois, eles entravam em uma baía, cercada de rochedos. David ancorou o barco e tirou a roupa. Um arrepio de excitação percorreu a espinha de Alice ao ver o corpo musculoso e bronzeado à sua frente. Só depois que ele pulou na água é que ela começou a se despir. — Use a escada até sentir-se segura de si — disse ele, ao emergir. — Você estava aprendendo a mergulhar quando… quando foi, embora. Por que a hesitação? Havia algo mais que ele não queria dizer, mas que ela pressentia… Depois de uns quinze minutos na água, nadando preguiçosamente, David sugeriu que voltassem para o barco. Após subir, ele estendeu a mão e ajudou-a a fazer o mesmo. — Nada como um pouco de exercícios para abrir o apetite. Vou buscar o cesto. Lá embaixo está quente demais para se almoçar. Após estender uma toalha no convés, ele abriu o cesto, revelando um verdadeiro banquete de carnes, frutas, pão fresco, bolos de dar água na boca e fritas. A refeição foi agradável e calma. Vez ou outra, eles atiravam pedaços de comida aos pelicanos e gaivotas, abundantes no local. — É verdade que Robert Louis Stevenson tinha as Ilhas Virgens em mente quando escreveu A Ilha do Tesouro? — É possível — respondeu ele. — Até a chegada dos grandes colonizadores estas ilhas estavam infestadas de piratas. O primeiro Hamilton a chegar aqui ajudou a estabelecer lei e ordem nas ilhas. Como recompensa, foi-lhe oferecida esta ilha, desabitada na época. O nome de Santa Amélia foi escolhido por ele em homenagem à esposa. — Nunca houve nenhuma tentativa de confisco da ilha? — Não. O documento de posse da ilha para Hamilton e seus descendentes foi lavrado no cartório. Os documentos originais ainda se encontram em Londres. Eu mesmo os vi quando estive lá pela última vez. — Esse foi o único motivo que o levou a Londres? — Não, eu tinha outros negócios a resolver lá. Até que a encontrei… O destino é mesmo caprichoso, não? — E como! Tornava-se cada vez mais difícil para Alice aparentar naturalidade. Ela sentia vontade de acariciar-lhe o peito, sentir a maciez dos pêlos escuros e as batidas daquele coração. Não seria a primeira vez que fazia tal coisa, disso tinha certeza. Houvera mais do que simples carícias entre ela e David… Talvez aquele fosse o momento adequado para esclarecer isso… — Eu preguei um botão frouxo em seu casaco. Faltava outro no punho direito. — Eu sei. Um igual àquele que você tem guardado. — Talvez seja o mesmo. — Depois de um instante de silêncio, ela respirou fundo e disse. — David, eu quero saber toda a verdade. Como o botão foi parar naquele lugar? — Minha dúvida é por que você o guardou. — A expressão dele era enigmática. — Você já vestiu aquele casaco. — Quando? — No dia em que fomos surpreendidos pela tempestade. No dia em que fizemos amor pela última vez.
Capítulo VI
Alice suspeitara que havia mantido um caso com o cunhado. Mesmo assim estremeceu quando ele confessou o fato. Alguns instantes se passaram antes que ela recuperasse o controle. — Você disse no dia em que fizemos amor pela última vez? — Isso mesmo. Tive de me ausentar da ilha, e o acidente ocorreu no dia seguinte à minha partida. — Mas David… Você nem ao menos confiava em mim! Você mesmo me disse. — Só no começo, e isso não me impediu de desejá-la. Passei noites em claro, enlouquecido por imaginar você e Paul juntos na cama. Quando ele começou a se desinteressar, eu entrei em cena. Não estou me desculpando. — Aquelas vezes em que velejamos juntos… — Foi como tudo começou. Nós dois sozinhos no meio do mar. A tentação era irresistível. — Quanto tempo isso durou? — Umas duas semanas. Madalyn estava viajando, e Paul… Bem, Paul nunca ficava na ilha por muito tempo. — Você fala como se tudo fosse sua culpa! Sua mãe acha que eu fui a única responsável por tudo. — Quando ela lhe disse tal coisa? — Na mesma manhã em que você partiu para São Tomás. Tivemos uma longa conversa. Ela viu… — Minha mãe viu apenas o que queria ver. — Havia irritação na voz dele. — Tudo o que você fazia estava errado para ela. A verdade é que me aproveitei de sua vulnerabilidade. — Só isso? Foi tudo tão simples, tão calculado? — Não exatamente. Eu estava realmente louco por você, tanto que não me importei com nenhuma dificuldade. Só quando você partiu é que percebi que me deixara iludir como um tolo. — Quer dizer que não só fui uma adúltera, como também capaz de me atirar a uma aventura apenas por prazer? — Não foi uma simples aventura. Você gostava de mim. — Mas não suficiente. Afinal, fui atrás de Paul. — Foi o que pensei na época. Mas hoje sei que, horas depois de deixar Santa Amélia, você estava num avião para a Inglaterra, ao passo que Paul passeava de carro com outra mulher. Isso não faz sentido, faz? — Não, nem um pouco. — E só fará sentido quando você se lembrar do que aconteceu. Enquanto isso, terá de confiar em mim e crer na minha palavra. Não tenho motivo algum para mentir. Alice não tinha dúvidas. Aquilo explicava a irresistível atração que sentira por ele desde o primeiro instante em que o vira. Havia perdido a memória, mas o sentimento que nutrira por David ainda estava em seu inconsciente. — Você devia ter se calado quando me reconheceu. Todos nós estaríamos melhor hoje. — Acha que eu faria isso? — É claro que não! Afinal, algum dia eu poderia recuperar a memória e vir reclamar meus direitos. — Eu não disse isso. Mas, tudo bem. Você tem direito de se mostrar ressentida. Acho que não a tratei muito bem ultimamente… De certo modo, creio que isso foi um modo de puni-la pelo que me fez sofrer na época. Estas últimas semanas foram um verdadeiro suplício. Estive tentando colocar meus pensamentos em ordem tomar decisões… — E qual foi o resultado? — Cheguei a uma conclusão muito importante. Seja lá o que for que aconteceu entre nós, o que sentimos um pelo outro ainda está vivo. Temos agora uma chance de recomeçar, e acho que não devemos desperdiçá-la. — Onde está querendo chegar? — perguntou ela, trêmula de excitação. — Você se esqueceu de meu rosto, mas uma parte do seu ser ainda me reconhece. Podemos construir um relacionamento a partir disso, começando agora mesmo. Os últimos temores de Alice desapareceram quando ele lhe tomou o rosto entre as mãos e a beijou. Ao sentir a língua quente de David contra a sua, ela viu-se completamente dominada pelo fogo da paixão. Imagens desconexas, lembranças confusas do passado atravessavam-lhe a mente em questão de segundos, sem que conseguisse fixá-las. Nos braços daquele homem ela estava prestes a recuperar uma parte de seu passado! Ao contato dos dedos dele sobre seus seios nus, Alice rendeu-se completamente à magia daquele momento. Era como se vivesse um sonho. Inebriada de prazer, deslizou as mãos pelo corpo masculino, sentindo-lhe a textura macia da pele e a força dos músculos. Instantes depois, ele a afastou de si e a encarou com seriedade. — Eu a desejo mais do que nunca, mas há algo que precisamos fazer antes. Você vai se casar comigo, Alice. — Mas você é irmão de Paul! — E isso importa agora? Ele está morto, e nada nem ninguém pode nos deter. — Mas… sua mãe, Madalyn… — Elas vão se acostumar. Não pretendo renunciar a você desta vez. — David, nós não podemos fazer isso. Não havia convicção naquela recusa, apenas temor. Queria era que ele a persuadisse de que tal felicidade era possível, queria que ele varresse todas as dúvidas. Casar-se com ele… Não havia nada que ela mais desejasse. Se ao menos as circunstâncias não fossem tão complicadas! — E Imogen? Até a semana passada era a ela que você desejava. — Imogen apenas representou uma tentativa de me insurgir contra você enquanto colocava meus sentimentos em ordem. Esclareci toda a situação ontem. — Nem tudo. O que aconteceu no passado pertence apenas a nós. — David acariciou os lábios dela suavemente. — Talvez eu nunca descubra o que você realmente sentia por mim há dois anos, mas não vou me preocupar com isso. O que você sente agora é que me importa. Estou errado ao achar que compartilharmos as mesmas emoções? — Não, não está. Também passei por maus bocados nestas últimas semanas, pensando em você… — Então só nos resta o casamento. E o modo mais fácil de contar a todos será revelar a nova situação como um fato consumado. Dentro de meia hora chagaremos a Roadtown e eu já tenho a licença. — O quê? — Ela arregalou os olhos, atônita. — Desde quando? — Há alguns dias já — ele respondeu, sorrindo. — Como pode perceber, não estava disposto a aceitar um "não" como resposta. E então? Vamos? A tentação de abandonar toda a cautela era grande demais. Por que esperar, afinal? Se não o amara há dois anos, agora pelo menos não tinha dúvidas quanto a seus sentimentos. E, casada com David, ela enfrentaria qualquer coisa, até mesmo a possibilidade de nunca recuperar a memória. — Pois muito bem! Vamos! A única parte da cerimônia da qual Alice podia se lembrar com clareza era o momento em que David colocara a aliança em seu dedo. Só na viagem de volta a Santa Amélia é que ela começou a se dar conta da seriedade daquela atitude. -— Estou começando a achar que somos dois loucos — comentou ela, sacudindo a cabeça. — E é isso o que os outros vão pensar. — Eles que pensem o que quiserem. — Rindo, ele abraçou-a e deu-lhe um beijo. — Fomos feitos um para o outro. Que tal ancorar em algum lugar e ir para a cabine? — Não, não aqui. — Por que não? Afinal, esta é nossa lua-de-mel. — Não é. Bem que eu gostaria que fosse, que pudéssemos navegar para bem longe de tudo e de todos. — Mais cedo ou mais tarde, minha família terá de saber a verdade. Adiar o confronto não servirá para nada; portanto, vamos acabar com isso de uma vez. — Tem certeza de que é o melhor a fazer? Será que não podemos esperar alguns dias antes de revelar tudo? — Por quê? Você é minha esposa, e eles têm de aceitar isso. — Será um choque tão grande para sua mãe! — Também seria um choque se contássemos a ela daqui a uma semana. Agora é tarde demais para se arrepender, querida. — Não estou arrependida. Será que não mesmo? A loucura que se apossara dela nas duas últimas horas começava a se dissipar, deixando-a insegura e temerosa. Elaine e Madalyn Hamilton ficariam chocadas com a notícia e, a cada momento que passava, Alice tinha mais medo do confronto. Ao desembarcarem no cais em Santa Amélia, David abraçou-a e, carinhosamente, fez com que ela o encarasse. — Nós tomamos um passo muito importante, e não quero que você tenha medo. O que aconteceu hoje teria acontecido há dois anos, caso eu a encontrasse antes de Paul. — Tem certeza disso? — Tenho. Você agora é minha, e será minha para sempre. Paul está morto, e ninguém mais pode nos separar. — Paul nunca existiu, pelo menos para mim. Eu amo você, David. Amo-o desde o primeiro instante em que o vi… Nesta minha segunda vida, pelo menos. — E é só disso que preciso, querida. Vamos fazer deste casamento um sucesso, gerando uma nova linhagem de Hamiltons. — Crianças, já? Primeiro temos de nos acostumar à idéia de que estamos casados. — Não tem que ser já, neste instante. Apesar de que não há mal algum se praticarmos um pouquinho. — Bem, querido, vamos deixar esse assunto para depois e decidir o que fazer. E quanto antes melhor, como você mesmo disse. Quando daremos a notícia à família? A esta hora, sua mãe deve estar no quarto. — Deixe mamãe comigo. Posso lhe dar a novidade sozinho. É melhor que ela se acostume à idéia antes de encontrá-la. Alice ficou aliviada. Restava apenas enfrentar a cunhada. Madalyn estava sentada ao lado de Scott, á beira da piscina. A julgar pela expressão dos rostos, os dois acabavam de ter um desentendimento. — Puxa, o passeio deve ter sido bom mesmo! — comentou Madalyn. — Onde vocês se enfiaram? — Fomos até Roadtown — respondeu David. — Fico contente por estar aqui, Scott. Pode comemorar conosco. Madalyn franziu as sobrancelhas, olhou para Alice e depois para o irmão. — Comemorar o quê? — Há uma hora e meia nós nos casamos. O rosto de Madalyn permaneceu inexpressivo. Scott, pela primeira vez, desde que Alice o conhecera, perdeu sua habitual compostura e ficou boquiaberto. O ar de desconcerto durou pouco, e logo depois ele disse, com sua calma habitual: — Parabéns. — Obrigado, Scott. E você, Madalyn? Não diz nada? — A única coisa que me ocorre no momento é chamá-lo de idiota. Por que fizeram um casamento secreto? Vocês são adultos, e ninguém iria impedi-los. — Assim foi mais fácil. Bem, creio que a ocasião exige um brinde. Acho que temos champanhe no refrigerador. — Foi tudo muito bem planejado — tornou Madalyn, olhando para Alice. — Não esperava isso de sua parte. — Sinto muito, Madalyn. — Ela não podia ter lhe contado nada — interveio David, abrindo a garrafa. — Alice não sabia de meus planos até a hora do almoço, quando eu tratei de convencê-la. Madalyn levantou-se bruscamente e abraçou Alice. — Eu é que devo pedir desculpas, Alice. Fiquei nervosa porque a notícia me pegou de surpresa. Se era isso mesmo que vocês queriam, estou satisfeita. Só que ainda não entendo por que a pressa e o segredo. — Você sabe, sim — David trouxe-lhe uma taça de champanhe. — Eu não queria que mamãe pusesse obstáculos ao casamento. — A reação dela será a mesma. É obvio que ela não vai gostar. — Paciência. Terá de aprender a conviver com o fato. Ela terminou de distribuir as taças e, com um ar satisfeito, ergueu a sua num brinde: — O que importa neste instante é o que faremos a partir de agora, não o que já fizemos. Um brinque ao futuro. Que ele nos reserve sorte. — Amém — respondeu Madalyn, olhando fixamente para Scott. — Com um pouco de fé e esforço, a sorte sempre acaba por vir. Agora, descendo novamente à Terra e às questões práticas: em qual suíte o feliz casal vai se instalar? — O quarto que ocupo hoje é mais do que adequado. Basta que Alice se mude. — Posso fazer isso sozinha. Não há necessidade de envolver os criados. — Não seja boba. — Madalyn riu do nervosismo da cunhada. — Os criados vão saber o que aconteceu de qualquer jeito. Vai ser o assunto favorito deles por alguns dias. — Logo encontrarão algo melhor para comentar. A propósito, Madalyn: Tod já decidiu quando vem para cá? — Amanhã. Não sei por quanto tempo vai permanecer… Imogen já sabe de tudo, David? — É claro. — Acho que não devo perguntar como ela reagiu. — Muito sensato de sua parte. Dando o assunto por encerrado, David passou a interrogar Scott a respeito da exumação da mulher que morrera com Paul. Soube então que a operação ocorrera normalmente, e que as conclusões oficiais ficariam prontas dentro de alguns dias. Enquanto isso, Alice sentia-se como um peixe fora d'água. Num espaço de poucas horas ela havia abandonado um papel do qual não se recordava, o de viúva de Paul, assumido outro ao qual seria difícil se acostumar, o de esposa de David. Por fim, Scott decidiu ir embora, recusando o convite de David para jantar. Desta vez, Madalyn não se ofereceu para acompanhá-lo ao carro, limitando-se a uma despedida seca e distante. — Quando vai contar a novidade a mamãe? — Agora mesmo. Fique aqui, Alice. É melhor que eu vá sozinho. Desconfio que ela não jantará conosco hoje. Era bem provável, e Alice achava que seria melhor assim. Talvez na manhã seguinte ela acordasse com mais coragem para enfrentar a sogra. Assim que se viu a sós com a cunhada, Madalyn puxou uma cadeira para junto de Alice e disse: — Perdi um ou dois capítulos do romance de vocês. Estava na Austrália quando o acidente ocorreu, mas desconfio que este casamento tem raízes naquela época. Estou errada? — Não sei do que está falando, Madalyn. — É claro que sabe! Já existia algo entre você e David naquela época. Não me interprete mal, Alice, não a recrimino por nada. Paul nunca mereceu a esposa que tinha. Só espero que dê certo entre vocês. — Nós nos amamos. E isso é suficiente.
|
|||
|