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CAPÍTULO VIII



CAPÍTULO VIII

 

 

A água era maravilhosa. Imersa até o pescoço, Karen se deliciou com todo aquele frescor antes de começar a se lavar com um sabonete verde, biodegradável. Quando ela terminou o banho, Jake ainda estudava a estrela. Mantinha um pequeno caderno aberto sobre a perna e parecia estar decifrando a estranha escrita. Karen, já vestida em roupas limpas, aproximou-se dele.

— Terminado — ela anunciou. — Se vai ficar aqui, posso ir avisar os outros.

— Volto com você — disse ele, colocando o caderno no largo bolso da camisa. — Preciso de uma muda de roupa.

O sol descia no horizonte. Dentro de uma hora, mais ou menos, já seria noite. O calor havia diminuído, e a temperatura chegava a ser quase agradável. O começo da noite e o amanhecer eram as melhores horas do dia para Karen, que se sentia renovada após o banho.

Jake seguia a sua frente, examinando o caminho. A alguns metros do acampamento, ele a segurou pelo braço, apontando para uma das árvores. A princípio Karen nada conseguiu ver em meio à profusão da folhagem verde, e então gradualmente foi distinguindo a forma de um animal imóvel, pendurado de cabeça para baixo num galho de árvore.

— Uma preguiça — Jake disse. — Não é fácil vê-las.

— São animais noturnos, não são?

— Sim. O que mais você sabe?

— Que elas quase nunca descem ao chão, porque quase só conseguem se arrastar, e que são capazes de ferir gravemente qualquer coisa que as ataque. Só isso.

— Sabe mais do que muita gente.

Jake ainda segurava o braço de Karen. O contato de seus dedos aquecia a pele delicada. Um leve puxão, e ela estava em seus braços. O beijo a deixou quase sem respiração.

— O futuro pode trazer mais surpresas do que você supõe — Jake falou. — Nunca vi uma mulher sofrer toda essa pressão que você suportou nesses dias e ainda continuar a sorrir. — Jake traçava com o dedo o contorno suave do rosto de Karen. — Nenhuma outra mulher — repetiu suavemente.

Com o coração aos saltos, ela o encarava com os olhos semicer-rados. Livre do sarcasmo e do cinismo que lhe eram peculiares, Jake era irresistível. Sem querer ceder àquela impressão, Karen pensou que assim que a expedição estivesse terminada cada um seguiria seu caminho. Por isso deveria ter cuidado com o desenvolvimento de seus sentimentos em relação a ele.

— Não é uma frase muito original — disse num tom de brincadeira.

— Tem razão. Tomarei mais cuidado.

A volta de Karen e Jake juntos ao acampamento não passou desapercebida. A expressão no rosto de Mike dizia muito bem o que ele estava pensando. O fato de estar certo não ajudava em nada.

— Achei um lago raso e seguro para se nadar — Karen anunciou, esquecendo-se dos cabelos molhados. — É todo de vocês, agora.

— Encontrei uma estrela enterrada na grama — Jake falou para Roger. — Melhor remontarmos a cena, vale a pena gravar. Aproveitemos o resto de luz. O banho fica para depois.

O sol lançava seus últimos raios na floresta quando acabaram a filmagem. Karen voltou para o acampamento, deixando os homens à vontade para um mergulho. Podia ouvir suas vozes alegres por entre as árvores. Invejava aquela camaradagem masculina.

Santino e Juan haviam ficado a fim de terminar algumas tarefas. Iriam mais tarde. Pendurou as roupas que lavara e arrumou sua mochila, acostumando-se aos sons da floresta a sua volta. O peru selvagem que Luz caçara e pusera em um espeto improvisado começava a exalar um aroma delicioso. Comida não era problema. Além de peixes e perus ainda tinham mamões e frutas silvestres em abundância.

Dentro de quarenta e oito horas, se tudo ocorresse como o esperado, estariam alcançando seu destino. Alguns dias mais e iniciariam a volta. A chance de ver Jake de novo na Inglaterra era remota, a não ser que ele tomasse a iniciativa. Longe dos olhos, logo estaria longe dos pensamentos dele também.

Comido com as mãos, o peru comprovou estar tão delicioso quanto o aroma de ervas que exalara. Tomando pequenos goles de café recém-coado, Karen experimentava uma sensação de contentamento que nem os mosquitos podiam dispersar. A vida da cidade pareceria estranha depois daquela experiência.

Jake e Roger estavam envolvidos numa conversa, sem prestar atenção ao resto do grupo. Karen encontrou enorme prazer em observar-lhe as feições, arrepiando-se por inteiro ao lembrar do toque daqueles lábios.

— Tê-la apenas uma vez não é suficiente para mim — Jake dissera. Bem, ela também se sentia assim. A diferença era que, longe de ser só puro desejo, atração física, Karen tinha de admitir que estava apaixonada por aquele homem. Esconder esse fato de si mesma era inútil, mas não menos doloroso. Mike também observava e tirava suas conclusões, para surpresa de Karen.

— Você está se enganando se acha que isso vai resultar em alguma coisa — falou em voz baixa, assustando-a. — Jake só está usando você. Do mesmo modo que todos nós gostaríamos, se tivéssemos chance!

Karen fez um esforço para encará-lo com calma.

— Estava demorando para você se mostrar como realmente é — falou, controlada. — Não julgue as pessoas por você mesmo.

— Somos todos homens, minha querida. O que esperava? — disse com secura. — E você não é tão inocente assim, por isso não assuma esse ar arrogante. Sei o que se passa entre você e Rothman. Vi vocês ontem à noite no rio.

Karen mal acreditou no que acabara de ouvir.

— Você... estava lá?

— Vi Jake segui-la, então esperei alguns minutos e fui atrás dele. Vocês já estavam muito ocupados para ouvir qualquer coisa, mas eu vi o bastante. — O sorriso no rosto de Mike era sugestivo.

O bom senso a advertia de que Mike poderia estar blefando ou ter visto muito pouco devido à escuridão da noite, mas isso não reduzia a maldade e a falta de caráter do que dissera.

— Você não é um homem, Mike. Você é um verme!

— Vou lhe mostrar como sou homem antes do fim desta viagem! Por que Rothman pode ter tudo? Dividir é o meu lema!

Karen poderia ignorá-lo, mas o insulto passava dos limites.

— Não se depender de mim — falou com raiva por entre os dentes. — Não quero você perto de mim nem por todo o ouro do mundo!

Karen se levantou e começou a armar seu mosquiteiro. Ninguém estranharia, já estava quase na hora mesmo, e ela precisava ficar só. Deitada, ouvindo os homens conversarem, chegou à conclusão de que Jake estava certo. Não deveria ter vindo. Mike não podia ser totalmente culpado por achá-la uma conquista fácil, apesar de nada desculpar seu comportamento. Desse momento em diante ficaria afastada de Jake e se concentraria só no trabalho, como Roger vinha fazendo.

Chegaram ao seu destino por volta de meio-dia. Menor do que o lago anterior, este era coberto por densa vegetação aquática. As ruínas que procuravam ficavam a pequena distância dali, dentro da floresta. Admirando o trabalho de pedra semi-exposto, Karen pôde imaginar a emoção que Luz devia ter experimentado à primeira vista do descobrimento. Jake contara a ela que Luz explorava por puro prazer de reencontrar a história de seus antepassados.

Santino e Juan buscavam um lugar para o acampamento. Usavam os machados como extensão dos braços, abrindo passagens e caminhos antes impenetráveis. Karen se sentou num pedaço de rocha partida, tremendo com a aproximação de Jake.

— Você tem me evitado. Há alguma razão especial para isso?

— Pensei que a razão fosse óbvia.

— Mudança súbita de opinião, não é? —perguntou, estudando-lhe as feições.

— Na verdade, não. Cheguei à conclusão de que aquilo não deveria ter acontecido de nenhuma maneira.

— Certo, bem certo. Mas aconteceu, e nós dois quisemos — Jake replicou. — Ou você está tentando negar esse fato?

Um suspiro desanimado escapou dos lábios de Karen.

— Por que você simplesmente não me deixa sozinha?

— Porque não posso. Sabia que não conseguiria me manter indiferente. Essa é a razão pela qual não queria que você viesse. Com homens é diferente.

— Homens! Sou capaz e estou preparada para enfrentar qualquer situação que apareça, tal e qual seus homens.

— Não estou falando de mulheres teimosas ou cabeça-dura. Já vi muitas, acredite! Você é diferente.

Mesmo sem se tocarem, havia entre eles uma corrente elétrica, que Karen temia ser percebida pelos outros.

— E daí? — disse numa voz rouca.

— Daí que eu gostaria de continuar nosso relacionamento mesmo depois de voltarmos.

Karen olhava firme para os olhos azuis de Jake, tentando ler sem sucesso o que se passava em sua mente.

— Com que propósito?

— O tempo dirá.

— Eu tive a impressão — começou devagar — de que você estava envolvido seriamente com Elena Sleeman.

— O que lhe deu essa idéia?

— Suponho que a própria Elena — Karen admitiu. — Era óbvio que na festa ela o tratava como uma propriedade sua.

Jake deu um sorriso apagado.

— Elena é uma mulher acostumada a ter os homens a seus pés. Trata a todos como sua propriedade.

— Então quer dizer que não há nada entre vocês?

— Nada que nos afete. Não sou santo nem monge, tenho trinta e quatro anos e sou aparentemente bem ajustado à época em que vivo. — Depois de uma pausa, o tom da voz de Jake se alterou. — Quero fazer amor com você de novo, Karen. Se tiver de esperar muito mais, vou acabar explodindo!

Talvez toda aquela conversa tivesse um único propósito, Karen pensou e negou em seguida, pois não era no que desejava acreditar. Se amava aquele homem, tinha de aprender a confiar em suas palavras.

— Mais uma coisa. Esclareça sua situação com Roger.

— Já fiz isso há dois dias.

— Bom. Como ele reagiu?

— Do jeito que sempre recebe tudo, conformado. — Karen fez uma ligeira pausa. — Honestamente eu não sabia que Roger tinha algum interesse por mim, Jake. E eu não tenho nada a ver com a ruína de seu casamento. Só queria que tudo desse certo para ele, por isso o escutava.

— Planeja continuar trabalhando com ele?

— Sim.

— Foi Roger que pediu?

— Sim — Karen confirmou. — Roger não vê nenhuma razão para não separar as coisas.

— Ele está falando sem pensar. É melhor começar a procurar outro trabalho tão logo cheguemos a Londres.

— Vou pensar — Karen prometeu. E faria qualquer outra promessa. Resolvera não se preocupar com o futuro e viver só o presente. Saber que Jake sentia alguma coisa por ela já era o suficiente.

Aproveitaram as últimas horas do dia para filmar. A pequena área na qual estavam trabalhando guardava ruínas substanciais de uma espécie de praça com uma torre no meio, e uma fileira de degraus íngremes que conduzia ao topo da torre, cuja superficie de pedra se apresentava toda esculpida com carrancas e figuras aladas. O verde da vegetação cobria todo o monumento, inclusive o que parecia ser um tipo de arena que circundava toda a extensão do lugar.

Provavelmente um centro cerimonial, um templo, Jake anunciou. Um lugar de culto aos deuses. Deveria conter um rico tesouro histórico em seu interior. Qualquer peça que viesse a ser descoberta seria propriedade do governo guatemalteco, mas somente se encontrassem indicações de que o lugar havia sido de alguma importância é que a área viria a ser considerada de interesse arqueológico.

— Mais um dia de escavações e teremos novos materiais — Jake declarou depois do jantar. — O martelo de pedra pojida que Luz encontrou não é o único artefato que restou. Nossos espectadores esperam mais.

— Poderíamos ter trazido algumas peças e espalhado pelo lugar. Quem descobriria? — Mike falou.

Jake nem se preocupou em dar alguma resposta à sugestão tola do companheiro.

— Começaremos a trabalhar com a luz da manhã e descansaremos durante as horas de maior calor. — Por um momento seu olhar pousou em Karen, sem entretanto alterar suas feições. — Não há por que termos pressa. Não sei de vocês, mas estou moído e vou me deitar. Amanhã teremos um longo dia.

A noite seria longa também, Karen pensou enquanto se preparava para dormir. Se pudesse ficar a sós com Jake... havia tanto o que falar, tanta coisa que queria saber sobre aquele homem. Um rosnar felino ecoou no ar. Provavelmente um jaguar, Luz explicou. Mas não haveria perigo de se aproximar do acampamento. A carne dos macacos e veados que abundavam na floresta era muito mais apelativa e saborosa do que a dos humanos. Todos poderiam dormir sossegados.

Karen, porém, não conseguia conciliar o sono. Não era um possível jaguar que a mantinha acordada, e sim Jake. A conversa que haviam tido à tarde não lhe saía da cabeça. Nessa noite ele montara seu abrigo bem ao lado do seu. O movimento que Jake fez, tentando sair do mosquiteiro, a deixou tensa.

— Vou até o lago — sussurrou. — Dê cinco minutos e me encontre lá.

Karen levou mais que cinco minutos para se decidir. Todos pareciam dormir profundamente, incluindo Mike. Ela se levantou o mais silenciosa que conseguiu e pegou uma lanterna para iluminar o caminho. A mata não lhe parecia assim tão mais perigosa depois de tantos dias. Karen sabia agora que os animais a temiam tanto ou mais do que imaginara a princípio. Jake a esperava à margem do lago e acendera uma espécie de raiz para afastar os mosquitos.

— Pensei que você não viesse mais.

Karen se atirou em seus braços, ansiosa. Não havia por que negar o propósito daquele encontro. O beijo ardente de Jake reforçou seu pensamento.

— Estava ficando louco ao lembrar como era ter você em meus braços — Jake murmurou de encontro a seus cabelos e deslizando a mão pelo corpo esguio. — Agora você sabe o que faz comigo.

— Sinto o mesmo também — ela falou com a respiração entrecortada.

— E pensar que eu queria impedi-la de vir!

— É essa a única razão que o deixa feliz por eu estar na expedição?

— Não, apesar de que isso também conta. — Jake a afastou um pouco, procurando seus olhos. — Você tem se mostrado eficaz no seu trabalho, devo admitir. Excelente assistente.

Karen sorriu com o elogio inesperado. O rosto de Jake estava naquele momento sem nenhuma das linhas severas que costumava apresentar.

— Pensei que você me detestasse, Jake.

— Autodefesa. Achei que estava envolvida com Roger.

— Mesmo depois de eu ter negado?

— Já ouvi mentiras antes.

— Foi o que me pareceu — Karen disse, suave. — Quero dizer, que você já experimentou a pessoa errada.

— Você está certa nesse ponto. — A voz de Jake se endureceu de repente. — Estou lhe avisando, tenho um caráter possessivo.

— Eu também — Karen respondeu, antevendo a perspectiva de um futuro juntos.

Queria dizer-lhe o quanto o amava, mas era muito cedo para tal revelação. Em vez disso, aproximou seus lábios dos dele com toda a paixão refreada dos últimos dias. Jake respondeu, escorregando ambas as mãos por baixo da fina camiseta, fazendo-a arquear o corpo. Nunca antes quisera tanto um homem.

Num instante se livraram das roupas, e Karen enterrou o rosto nos pêlos macios daquele tórax largo, sentindo o sabor e o cheiro da pele morna. Jake era tão forte, tão viril. Ele a deitou na grama e a cobriu com seu corpo .Sentindo-o dentro de si, abraçando-o com ardor, Karen soube que Jake seria o único homem a quem amaria desse jeito.

Algumas palavras tremiam em seus lábios, mas era tarde demais, pois o mundo girava a sua volta, projetando-a no espaço infinito. Banharam-se no lago antes de voltar ao acampamento. Luz estava de pé, avivando o fogo quando o alcançaram. Karen teria retrocedido, mas Jake a fez continuar, encontrando firme e em silêncio o olhar do guia.

— Vá para a cama, eu ficarei um pouco acordado ainda — disse mansamente. — A gente se vê pela manhã.

Não havia movimento nos outros sacos de dormir. Karen acreditou que todos dormiam profundamente. Deitada, observava os dois homens conversarem ao pé do fogo, imaginando o que estariam falando. Não seria sobre ela com certeza. Jake não era esse tipo de homem.

Jake era o seu tipo, e ela o amava muito, sempre amaria. Nada podia mudar isso agora.

 

 



  

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