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CAPÍTULO V



CAPÍTULO V

 

 

Dispostas ao longo da varanda, as sete tendas formavam uma estranha visão. Karen não conseguia imaginar o que o proprietário estaria pensando a respeito. Pressupondo que estava sendo pago, Karen concluiu que ele não se importaria com a extravagância de sua clientela. O saco de dormir mostrou-se até bem confortável. Karen escolheu um largo e discreto pijama de algodão a fim de não causar nenhum aumento de pressão sangüínea em alguns dos companheiros. Sua vestimenta a cobria quase por inteiro e ainda permitia a ventilação.

Roger já estava adormecido. Podia ouvir-lhe o ressonar suave de onde estava. Jake estava de pé no final da varanda ao lado de Luz. Karen imaginou se ele também roncaria durante o sono. Afinal os homens eram mais propensos a isso do que as mulheres. Karen adormeceu sem perceber. A impressão que teve era de que mal se passara um minuto e já estava abrindo os olhos para o alvorecer sob o chamado de Roger.

— O banheiro está livre. Melhor usá-lo agora. Depois só teremos o rio e as matas.

Qualquer um dos dois seria preferível, Karen pensou, arrepiada ao se lembrar do que vira. Mesmo assim, pegou a toalha que deixara pendurada na grade da varanda. A camiseta de algodão e a calça que pretendia usar estavam dobradas sobre a mochila, ao lado das botas de couro com solado de borracha antiderrapante que havia sido aconselhada a trazer.

Não havia fechadura no banheiro. Karen desistiu de tomar um banho rápido no velho e enferrujado chuveiro a um canto, optando por se lavar na pia. A umidade logo estaria tomando conta da pele de todos, pelo menos começaria o dia se sentindo razoavelmente confortável. A água correu fria por sua pele, removendo a leve espuma do sabonete aplicada sobre os ombros, colo e braços.

Visto com dificuldade através do pequeno espelho que havia acima da pia, seu rosto estava pálido, apesar dos olhos se apresentarem brilhantes. A luz do amanhecer se insinuava por uma janela estreita. O abrir repentino da porta pegou Karen enquanto se enxugava. Jake não fez a menor tentativa de se retirar. Usava a mesma roupa caqui do dia anterior e trazia uma toalha pendurada aos ombros.

— Há outras pessoas esperando para usar este lugar — ele disse. — Você já teve seus cinco minutos.

Cobrindo o corpo com a toalha, Karen o encarou e acusou. — Você está fazendo isso de propósito!

— A escolha de estar aqui é sua. Não espere privilégios. — Jake olhou para a toalha com um ar irônico. — Por que a súbita vergonha? Não está escondendo nada que eu já não tenha visto.

— E que não voltará a ver. Agora, se puder me dar um momento, eu acabarei...

— Um minuto.

Karen esperou a porta se fechar e correu para suas roupas. Estava pronta em trinta segundos. Mesmo que quisesse, não haveria tempo para alguma vaidade.

Mike estava ao lado de Jake quando ela saiu do banheiro.

— Valeu a pena esperar, mesmo sem maquiagem!

Jake não comentou as palavras de Mike. Ambos entraram rápidos no recinto, deixando Karen se dirigir à varanda. Roger já havia enrolado seu saco de dormir, fechado a mochila e parecia estar pronto.

Karen pegou em sua mochila um lenço de amarelo brilhante e com ele prendeu os cabelos de maneira rápida e graciosa.

— Fica bem em você — Roger falou, observando-a.

— Não estou me importando com isso, é uma questão de praticidade. Vamos comer?

— Sim. O jantar de ontem foi surpreendentemente bom. O café... tortilhas com certeza.

Karen não se importava. Sua fome era tamanha que poderia comer um boi! Nigel e Howard foram os últimos a se levantar. Luz havia saído para dar uma última checada nos barcos e suprimentos. Usariam dois barcos até chegarem ao lago de onde entrariam definitivamente na floresta, deixando-os depois amarrados em lugar seguro para a volta a Fuentas Santos. Isso levaria dois dias.

Panquecas, feijão, ovos e café. Essa foi a refeição da manhã, tomada a uma mesa disposta para esse fim, na outra extremidade da própria varanda.

O rio corria lento a poucas jardas de distância, e um arrepio de excitação tomava conta de Karen. Essa seria a primeira de muitas outras aventuras. Até o final daquele ano, esperava percorrer ainda muitas outras partes do mundo, seguindo os passos de Roger para então poder começar a se definir como produtora. Sabia que as mulheres eram minoria nessa carreira, mas tinha certeza de que venceria.

Luz ainda não voltara ao hotel. Estava supervisionando o carregamento dos barcos. Havia muito trabalho a ser feito. Karen evitou os olhos azuis de Jake, quando ele se juntou ao resto do grupo.

— As moscas vão adorar — observou. — Amarelo as atrai. Melhor tentar prender os cabelos com um par extra dos cordões das botas.

— Não trouxe nenhum par extra — Karen confessou.

— Como uma aventureira experiente, eu pensei que você não se esqueceria dos itens essenciais, ou será que você conta com a ajuda dos outros para suprir suas necessidades?

— Todos podem cometer um erro de vez em quando — ela redarguiu com frieza. — Você nunca se esquece de nada?

— Nunca. Tenho um par extra. Não se preocupe.

— Você não tem outra coisa para prender os cabelos? — Roger perguntou.

— Cordões de botas estará bem. Já os usei antes. Servem ao mesmo propósito.

— E melhor comer tudo o que está em seu prato. E nossa última refeição substancial até montarmos acampamento.

Mike e os outros dois companheiros apareceram com as caixas de alumínio nas quais se encontravam os filmes, câmeras e todo o equipamento de som e vídeo. As tomadas seriam tanto em água como em terra.

O sol já havia despontado por completo e aquecia o ar quando finalmente tudo estava a contento para a partida. Jake entrou num dos barcos e pegou um par de cordões que deu a Karen. Não fora só a cor do lenço que o incomodara, pensava ela, e sim o toque feminino. Jake estava assim simplesmente reforçando sua desaprovação por vê-la integrada à expedição. Bem, não havia mais nada que pudesse ser feito contra esse fato.

— Tudo pronto e checado? Então vamos — Roger falou.

Os barcos eram surpreendentemente espaçosos e estáveis. Sentada sob uma cobertura de lona, Karen admirava os movimentos rápidos dos homens. Jake estava à frente, os cabelos escuros brilhando ao sol, as mangas da camisa enroladas até os cotovelos, revelando os braços musculosos.

Luz, imediatamente atrás, mostrava também o mesmo preparo físico. Dois homens de raças e costumes diferentes unidos por um apaixonante interesse comum. Já no meio da suave correnteza do rio, uma brisa bem-vinda começou a soprar. A mata margeava os dois lados, e não se via sinal de civilização, apesar de Karen saber que uma agricultura de subsistência era praticada na área.

A fauna começava a se mostrar em todo o seu esplendor: garças de plumagem branca e brilhante pescavam nas partes mais rasas, tartarugas verdes nadavam junto à superfície, e grupos de macacos tentavam se esconder por entre o denso arvoredo. Os iguanas se aqueciam nos galhos e troncos das árvores batidos pelo sol. Mesmo se sabendo que eram inofensivos herbívoros, a má impressão causada por suas aparências era inevitável.

Câmera ao ombro, Howard estava em seu elemento. Mike, também absorto, se ocupava em gravar os primeiros sons. Uma pena que os aromas e perfumes não pudessem ser gravados, Karen pensou, aspirando o ar.

Jake tomava notas num bloco. Nem ele nem Luz pareciam se perturbar com a presença da câmera. Como sempre, Karen anotava tudo o que Roger falava em relação ao trabalho, numerando e datando cada página como referência.

Mais tarde, durante o processo de edição, essas mesmas notas seriam de grande valor. Não se podia reter tudo na memória. Os mosquitos eram uma irritação constante, apesar do uso indiscriminado de repelente por todos.

Nigel parecia ser o preferido dos insetos. Ao pararem em uma das margens para o almoço, sua pele estava repleta de pontos vermelhos e inchados.

— Sempre fui mais suscetível que os outros — falou quando Karen comentou o fato com simpatia.

— Tente o meu repelente. Pode ser que funcione melhor.

— Usei um diferente pela manhã, mas vou aceitar. Obrigado.

Tortilhas, queijo e frutas, esse foi o almoço rápido. Um dos indígenas que os acompanhavam e cujo nome era Santino ferveu água e preparou café em um pequeno fogão portátil. Jake comentou na ocasião que alguém de gostos apurados se encontraria em maus lençóis durante a expedição.

Se era uma indireta para ela, Karen nem se importou. Comeria o que lhe fosse oferecido. Já havia provado até carne de cobra e de jacaré. Tudo dependia de uma mente aberta.

Insinuando-se por entre a mata, fazendo curvas e voltas, o rio parecia ele mesmo uma serpente. Ora, quase se podia tocar as margens com as mãos, ou chegar até elas pela vegetação que se debruçava preguiçosa sobre as águas, ora quase não se podia vê-las, de tão distantes.

Estavam no meio da tarde quando atingiram o lugar que Luz havia estabelecido para acamparem naquela noite. Santino e seu companheiro, Juan, começaram de imediato a cortar as largas folhas de uma palmeira e a construir um abrigo que chamavam de champas, debaixo dos quais estenderiam os sacos de dormir.

— É para o caso de chover — Roger falou quando Karen comentou o enorme trabalho que os homens estavam tendo. — Essas folhas são sólidas o suficiente para agüentar uma chuva, desde que não seja daquelas torrenciais.

Roger sorriu ao vê-la levar a mão à nuca na tentativa de amenizar o calor da pele úmida. — Não é exatamente o mais agradável dos climas, hein?

— Sinto-me como um trapo molhado — ela confessou. — Mas creio que todos estão assim, menos aqueles dois ali — completou, dirigindo o olhar a Jake e Luz, que conversavam um pouco afastados.

— É mais uma questão de não darem muita importância. Gostaria de conseguir o mesmo. Arrependida? — perguntou ele, estudando-lhe o rosto.

— De jeito nenhum! — O tom era enfático. — Seria preciso o triplo de umidade para me fazer pensar em desistir. Se eu quisesse um trabalho de estúdio não teria me candidatado ao cargo. Sabia qual era o seu tipo de trabalho. Lembre-se de que você é conhecido como o Livingstone da era da tevê.

— Já ouvi. Minha esposa tem um outro nome para mim. Willie, o andarilho, aquele que nunca está por perto! Até entendo, às vezes fico semanas fora de casa.

— Outros maridos também — Karen defendeu. — Ela devia saber disso quando se casou com você.

— Eu ainda não estava na área de documentários. Mas o pior é que não se interessa pelo que eu faço — e acrescentou: — Nunca se case movida só pelos sentimentos. Interesse em coisas comuns é essencial. Se voltar a me casar, farei uma escolha também racional.

— Então já se decidiu?

— Sim. Pedirei o divórcio assim que voltar. James sobreviverá. — Uma mudança no tom de voz de Roger se fez sentir quando perguntou: — Pretende ter filhos?

— Ainda não pensei nisso. Preciso do marido primeiro, e só depois verei se consigo conciliar a maternidade e a carreira.

— Vejo que não tem nenhum homem em mente, então.

Karen preferiu não ouvir uma vozinha acauteladora em sua mente.

— Não tenho tido tempo nem oportunidade para relacionamentos.

— Já deve ter tido alguém em sua vida, Karen. Aos vinte e quatro anos e linda, é impossível que não tenha deixado os homens apaixonados.

— Não sou nenhuma mulher fatal — Karen falou com uma risada. — Já tive namorados, mas nunca encontrei ninguém com quem quisesse passar o resto de minha vida.

— Você não acredita em divórcio?

— Não foi isso que eu quis dizer. — Karen hesitou ao ver que a conversa poderia tomar um rumo indesejado. — Depende das circunstâncias. Gostaria de ter um casamento que durasse para sempre, mas quem sabe?

— Onde há esperanças, há chances. Escolha alguém que partilhe seus interesses, é isso.

Roger deixou o assunto morrer, para alívio de Karen. Ela poderia estar lendo os sinais de maneira errada, lógico, mas começava a duvidar disso. Roger estava desenvolvendo expectativas com relação a ela que não eram só profissionais, e Karen não queria que isso acontecesse.

Apesar de ser um homem atraente, não lhe despertava nenhuma resposta emocional ou física. Não era como Jake, admitiu, relutante. Karen poderia até detestá-lo, mas ele a fazia tremer com um simples olhar. Se não houvesse lutado contra seus instintos, já teria feito amor com ele.

Um calafrio percorreu-lhe a espinha. Certamente para Jake não teria sido nada demais, mas Karen talvez não se sentisse da mesma maneira, não era do seu feitio. Por isso deveria se manter afastada daquele homem. As ameaças da noite anterior a haviam tornado mais observadora e cautelosa em relação ao grupo de companheiros. Se houvesse algum tipo de discórdia, não seria nem poderia ser por causa de sua presença. Tudo faria para se certificar disso.

 

 



  

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