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CAPÍTULO IV



CAPÍTULO IV

 

 

San Samoza lembrava muitas das outras cidadezinhas pela qual já havia passado no caminho. Ao descer do ônibus na poeirenta e escura rua, Karen pensou de imediato em como encontrar um meio de chegar até Fuentas Santos. Mais fácil pensar do que fazer, pois com o seu pobre espanhol certamente teria algumas dificuldades. Mas a determinação era maior do que um mero problema de comunicação. Depois de dez horas naquele velho ônibus, ela estava mais do que pronta a enfrentar o que fosse necessário, até o dorso de uma mula.

Não que fosse preciso. Havia carros na avenida principal da cidade, e onde há carros há ao menos uma garagem. Se não pudessem lhe arrumar um transporte, pelo menos estariam aptos a lhe dar uma boa indicação. Karen desconsiderou a hipótese dessa mesma garagem estar já fechada.

Os outros com certeza se encontravam em Fuentas Santos há horas. Iriam passar a noite no único hotelzinho da cidade, antes de se dirigirem ao rio sob a indicação de Luz. Todos os homens juntos, Karen pensou com cinismo. Bem, seria um choque, especialmente para Jake Rothman, que pela sua atitude de manhã a julgara colocada em seu devido lugar.

Não que Jake tivesse dito alguma coisa, mas a expressão de seus olhos ao se cruzarem no desjejum falara mais que mil palavras. A lembrança de que Jake a tinha visto seminua e que a havia tocado fez Karen corar e sentir um ímpeto selvagem de avançar até aquele homem e agredi-lo a fim de apagar o sorriso cínico que trazia estampado no rosto. Bem... estaria fazendo isso de outra forma dentro de duas ou três horas.

Karen se sentira mal ao se despedir de Roger, era como se o estivesse traindo. Mas mesmo assim nada dissera acerca de seu plano, pois estava contando com o apoio dele quando chegasse a Fuentas Santos. Naquele momento da partida Roger a teria desaprovado com veemência. A responsabilidade no trabalho era sagrada para ele. Até a família ficava em segundo plano.

Família! Não conseguia imaginar o que sua mãe pensaria de uma aventura como essa. Ela nunca quisera que sua única filha tivesse sequer se mudado para Londres, o que dizer de um trabalho em que se corria risco de vida. Com dois irmãos menores ainda vivendo na casa dos pais, Karen precisara se armar de uma grande dose de coragem para deixar aquele lar tão querido. Grande parte dessa audácia viera de seu pai, que achava que a vida era para ser vivida plenamente, sem medos. O olhar curioso de um senhor que passava por ali chamou sua atenção. Com um sorriso nos lábios e o melhor espanhol que pôde encontrar, Karen disse:

— Próximo garaje, por favor?

Era terrível, ela sabia, mas o senhor compreendeu seu pedido. Karen se esforçou ao máximo para seguir as instruções que lhe foram dadas, mas não estava tendo êxito, quando por sorte encontrou outra pessoa que falava um pouco de inglês. A garagem fechara às nove horas, disse-lhe o homem, mas ele poderia levá-la até Fuentas Santos se quisesse, pelo dobro da tarifa usual. A viagem duraria um pouco mais de uma hora.

Karen concordou com a soma sem discutir. Afinal o homem teria de voltar a San Samoza, e quem pechincha não pode escolher muito. Se aceitasse uma carona qualquer, estaria correndo maior risco do que o que se apresentava agora. Se esse era o único jeito de alcançar seu objetivo, então estava decidido. O veículo no qual fariam a jornada estava estacionado dois quarteirões abaixo. Ao vê-lo Karen teve algumas dúvidas de que levariam somente hora e meia para lá chegar. Tinha a lataria quase totalmente corroída pela ferrugem e os pára-choques amarrados com arame. O interior era um pouco melhor, e pelas inúmeras penas e serragem depositadas nos assentos, Karen concluiu que o veículo era usado para transportar mercadorias até o posto de abastecimento.

O motorista, cujo nome parecia ser Pedro, não se perturbou com o barulho ensurdecedor do motor assim que o ligou. Sacolejando pela estrada empoeirada, Karen aceitou o fato de que na próxima hora e meia sua paciência e seus nervos passariam por um duro teste. O cheiro de gasolina misturado ao odor de penas de frango a deixaram um pouco enjoada. Depois disso a selva pareceria um paraíso.

Escura e impenetrável, a escuridão da estrada desceu sobre os ocupantes do veículo. A rodovia era estreita, pontilhada de buracos que Pedro parecia não evitar, talvez porque houvesse muitos dos quais desviar. Qualquer problema mecânico e estariam perdidos.

As estimativas de Pedro quanto à duração da viagem foram otimistas. Era quase meia-noite quando finalmente atingiram a pequena vila. A população, bem menor que a de San Samoza, parecia haver desaparecido àquela hora da noite. Um pouco melhor do que o esperado, o hotel se debruçava sobre um rio manso e silencioso. As luzes estavam acesas, e algum movimento podia ser visto através das cortinas brancas.

Grata pela total ausência de curiosidade de seu motorista, que não se incomodou em lhe fazer perguntas, embora fosse intrigante ver uma jovem desacompanhada naquele lugar, Karen acrescentou uma generosa gorjeta ao preço combinado e esperou o veículo desaparecer na estrada deserta. Não havia mais volta.

Uma malcuidada varanda acompanhava a frente do hotel. Karen respirou fundo antes de se dirigir à porta de vaivém da entrada. Ao entrar ela se encontrou numa espécie de bar e área de recepção. Algumas mesas rústicas se encontravam espalhadas pelo local. Somente uma das mesas estava ocupada no momento. Sentado de frente para a porta, Roger foi o primeiro a vê-la. Sua expressão abismada fez silenciar a conversa, enquanto os outros seguiam a direção de seu olhar. Jake estava de costas para a entrada. Ao se virar e acompanhar o grupo, seu rosto não perdeu a habitual impassividade.

— Surpresa, surpresa! — Karen exclamou, parodiando uma personagem da televisão. — Ninguém me oferece um drinque?

— Como conseguiu chegar aqui? — Mike perguntou com um enorme sorriso no rosto.

— Ônibus e carro.

Jake fez um movimento brusco em direção à porta.

— Tarde demais. Já partiu.

— Há outros. Partirá de volta para San Samoza amanhã bem cedo.

Dessa vez Roger teve uma atitude decisiva.

— Desculpe, Jake, mas não concordo com isso. Deixá-la na cidade foi uma coisa, mas aqui é outra completamente diferente. Não temos outra escolha senão levar Karen conosco, gostando ou não. — Roger se levantou, pegando uma cadeira e oferecendo-a a Karen. — Deve estar exausta. Venha e sente-se aqui. Miguel — disse, acenando para o homem atrás do balcão —, uma bebida para a senhora. Não creio que ele tenha vodka — falou com um sorriso, enquanto Karen se acomodava.

— Aceito o mesmo que vocês, cerveja. — Karen estava exultante. Seus olhos se encontraram com os de Jake. — Não aceito derrotas com facilidade.

— Parece que não — Jake disse num tom neutro. — Eu, por meu lado, sei quando perdi uma jogada. Este é nosso guia. Luz, esta é Karen Lewis, assistente de Roger. Parece que nos acompanhará na viagem.

O homem inclinou a cabeça num gesto polido de boas-vindas, apesar do ar pouco convincente. Tinha a pele cor de café, o nariz arqueado sobre proeminentes bochechas, o cabelo liso e preto, revelando sua distinta ancestralidade maia. Com certeza nada havia de servil em suas maneiras.

— Você carregará sua bagagem — Jake avisou no mesmo tom.

— Era o que esperava, não se preocupe.

Um copo com um líquido marrom foi colocado à frente de Karen pelo homem gordo e baixo que ela presumiu ser o proprietário do lugar. Cuidadosa, tomou um pequeno gole da bebida, resistindo a fazer uma careta ao sentir o gosto amargo. Não era uma conhecedora de cervejas, por isso se absteve de qualquer comentário.

— Com fome? — Roger perguntou.

— Não muita — negou, ciente de que já era bem tarde para que conseguisse algo para comer. — Comprei alguns suprimentos antes de tomar o ônibus.

— Deve ter sido uma viagem dura — Nigel comentou com admiração visível.

— Já vi piores — Karen respondeu com um sorriso. Era uma mentira e tanto, mas, com Jake ao lado, ela não tinha a intenção de admitir o rigor de sua aventura. — A paisagem da rodovia é espetacular — disse, tomando outro gole da cerveja, determinada a dar ao grupo a melhor impressão possível. — A que horas partimos?

— Com a primeira luz da manhã — Jake falou. — Dormiremos e acordaremos cedo durante toda a expedição. Esse é o último gole de álcool que todos provaremos até a volta. Por isso, aproveite bem.

Karen não sentiria falta, refletiu, lançando um olhar para os companheiros. Pensar no que a aguardava provocava-lhe um friozinho de excitação. Aprovada ou não, agora fazia parte daquele time, e de modo algum daria a Jake motivos para queixas.

— Começamos a usar os mosquiteiros hoje à noite mesmo — Jake continuou. — Luz, por favor, pegue o equipamento necessário para a srta. Lewis.

— O nome é Karen — ela falou, dirigindo-se ao guatemalteco. — Por favor me perdoe o incômodo.

— Não é problema — ele devolveu num inglês excelente. — O pedido inicial foi para seis pessoas, já está pronto. Só creio que não vai encontrar as facilidades a que está acostumada. É tudo muito primitivo.

— Não estranharei mais do que os outros. Já vivi sem banheiros antes.

— Se me perdoa, permita dizer que você se parece com uma mulher acostumada às boas coisas da vida.

— As aparências enganam. Só trago comigo um pote de hidratante. O resto deixo por conta da natureza.

— O básico, hem? — Mike observou. — Uma das poucas que pode se dar a esse luxo.

Karen ignorou o comentário. A opinião de Mike não importava. Jake pareceu não acreditar muito naquela aparente falta de vaidade feminina. Bem, ela provaria pela manhã que estava errado, aparecendo com seu rosto desprovido de qualquer vestígio de maquiagem. Luz deixou a mesa e foi buscar o que lhe havia sido solicitado. Jake afastou a cadeira e se levantou em seguida.

— Dormiremos lá fora, na varanda. Karen, você pode usar um dos quartos ou se juntar a nós se quiser.

Lá fora estaria mais frio do que no quarto, Karen pensou rápido, e ainda havia os insetos. Bem, os mosquiteiros resolveriam esse aspecto. O que Jake estava antecipando era uma possível recusa em se unir ao grupo só de homens. Considerando que conviveria com eles por algum tempo, o melhor a fazer era começar já.

— Fico na varanda. Usaremos barracas nas próximas noites?

— Não há barracas que detenham nossos invasores. Só servem para aumentar o calor do ambiente. Ainda interessada?

— Não. E já me acostumei à idéia. Nada de barracas!

— Há um banheiro nos fundos. Sugiro que o use agora e o libere para nós.

— Está bem. — Não deixaria que Jake a embaraçasse. — Pode me mostrar onde fica, eu suponho.

— Sem dúvida.

Jake balançou a cabeça em negativa ao ver que Karen se abaixava para pegar a mochila que deixara ao lado da cadeira.

— Livre-se disso assim que Luz voltar com seu equipamento. A bagagem é limitada. Só leve o que conseguir carregar, inclusive itens pessoais.

O corredor até o banheiro era tão estreito que mal se podia caminhar com folga. Jake vinha logo atrás dela. Sentir a mão daquele homem em seu ombro, assim que ficaram fora das vistas e ouvidos do grupo, não foi surpresa para Karen. A sugestão de que Jake lhe mostrasse o caminho do banheiro antecipava e resolvia de vez a confrontação que haveria entre os dois cedo ou tarde. Ao se virar, Karen ficou encostada à parede sem ter para onde ir.

— Você simplesmente não aceita uma negativa como resposta, não é?

— Não de você — Karen respondeu. — Quando aceitei esse trabalho, ficou entendido que eu iria aonde fosse requisitada. Não seria digna do meu cargo se deixasse me levar pelo primeiro que quisesse me impedir, fosse quem fosse.

— Roger acabou no final concordando comigo.

— Você devia estar com uma arma em sua cabeça para ele ter mudado de opinião. — Karen não media o que falava. — Não que eu acredite que você tivesse atirado, caso Roger discordasse. Sem o apelo da tevê você cairia em relativa obscuridade.

— O quê? — Jake sacudiu a cabeça, negando o comentário maldoso. — Você é pura encrenca, Karen Lewis. O tipo de encrenca que podíamos evitar. É melhor se cuidar por toda a jornada.

— Tenha certeza de que não serei eu a instigar qualquer problema que apareça.

— Não precisa ser exatamente você, sua tola. Nigel quase espumou pela boca quando você chegou, e Roger tem um brilho especial nos olhos. — Jake ainda a segurava firme pelo ombro, comprimindo seus dedos na pele macia. — Alguns dias confinados e logo estarão se pegando, talvez.       

— Como eu disse antes, há homens e homens. Como pode ter certeza de que é o único capaz de controlar seus instintos?

— Se estamos falando da noite passada, eu ganho com facilidade.

— Talvez você não esteja tão certo assim em relação a seu autocontrole.

Karen pensou por um rápido instante se não estaria indo longe demais provocando-o desse jeito. Trazendo uma das mãos até o rosto de Jake, traçou-lhe a linha dos lábios com a pontinha de um dedo, ciente de sua própria reação.

— Professor Rothman... cientista extraordinário... ter uma dessas fraquezas humanas!

— Terei um grande prazer em colocá-la no seu devido lugar, mocinha.

Karen abriu desmesuradamente os olhos, fazendo-se de assustada, mas certa da segurança que a presença dos outros membros logo atrás lhe dava.

— É preciso dois, professor. E duvido muito que o senhor queira arruinar sua reputação por uma mera sugestão de estupro em plena floresta.

— Quem falou em estupro? Você estava mais do que pronta ontem à noite.

— Uma combinação de muito vinho e pouco sono. Não me encontrará mais tão receptiva.

— Não mesmo? — Jake estava a ponto de beijá-la, mas ao sentir-lhe a tensão pareceu pensar duas vezes. — Bem, talvez você esteja certa e agora não seja hora para testes. O banheiro é a segunda porta à direita. Sem nenhum refinamento, mas você sobreviverá ao choque cultural. — Jake a soltou e afastou-se para lhe dar passagem. — Retorne ao saguão de entrada assim que puder. Luz já estará de volta.

Karen não conseguiu conter uma exclamação de nojo ao abrir a porta indicada. As palavras de Jake soaram em seu ouvido. Ausência de refinamento estava longe de definir o que via, pouco mais do que um buraco no chão de concreto. Não haveria conforto na selva, mas seria infinitamente melhor do que aquilo. Chamar aquele lugar de hotel era o maior insulto que ela já ouvira.

Voltando ao saguão, tentou manter a expressão mais natural possível ao encontrar o olhar sardónico de Jake. Luz lhe entregou uma mochila com saco de dormir e mosquiteiro. A coleção de pequenos tubos de alumínio que vinha junto a deixou perplexa. Para que isso se não usariam barracas?

— Esses tubos se encaixam e formam uma pequena estrutura para você apoiar o mosquiteiro — Jake explicou. — Se não há mais perguntas, aconselho-a a separar logo o que precisa. O tempo será curto para todos amanhã.

Sem nenhuma oferta de privacidade, Karen se conformou em arrumar sua mochila na frente de todos. Apesar de prático, parte de seu guarda-roupa teria de ser deixado ali até a volta. Poderia lavar a roupa e colocá-las para secar durante a noite. Água não iria faltar. Assim que terminou, pôs-se de pé, e Jake se aproximou, acabando de tomar sua cerveja.

— Vou lhe mostrar uma vez como se arma o mosquiteiro. Depois disso, espera-se que o faça sozinha.

— Nem ouso dizer que sei como mexer nisso.

— Vou com vocês. Esse suporte é novo para mim também.

A temperatura da varanda era ligeiramente inferior à do saguão. Melhor assim do que ficar em um quarto com pulgas e sabe-se lá o que mais, Karen pensava, feliz após ter visitado o banheiro. Entendia agora o porquê de não ter visto mais nenhum hóspede por ali. Uma picada de algum inseto no pescoço a fez se lembrar de que ninguém seria excluído de tal privilégio, inclusive Jake e o próprio Luz. Os mosquitos não tinham preferências raciais.

Observando a montagem do mosquiteiro, Karen não pôde deixar de notar a economia de movimentos por parte de Jake. Sem dúvida já havia feito aquilo centenas de vezes. Excetuando-se o tempo que usava em palestras, aquela era a condição mais comum em sua vida. Não era à toa que não se casara até o momento. Que mulher suportaria as constantes ausências, que podiam durar até meses? Elena Sleeman por certo não aceitaria essas condições. Era o tipo de mulher que exigia atenção constante, em tempo integral. .

— Eu perguntei se você entendeu — Jake repetiu. — Estava realmente prestando atenção?

— Entendi.

— Bom, então me mostre — ele disse, desmanchando o que fizera.

Ajoelhada, Karen começou a unir os tubos até que toda a pequena estrutura estivesse pronta.

— É assim? — perguntou, levantando os lindos olhos verdes para Jake.

— Sim, é isso — ele falou, surpreso. — Já pensou no que vai usar para dormir? A maioria de nós dorme de cueca.

— Darei um jeito. Detestaria ser a causadora de tentações!

— Continue assim — Jake aconselhou, ignorando a sátira. — Vou cuidar do meu próprio sono.

Jake ainda parou um instante para ver Roger armar o suporte e deu sua aprovação. Karen afastou o olhar daquela figura arrogante e encontrou os olhos de Roger.

— Obrigada pelo apoio que me deu.

— Considerando todo o seu esforço para chegar até aqui não havia outra coisa a fazer. Você é uma em um milhão, Karen!

— É tudo parte do trabalho. Onde meu senhor estiver, lá eu estarei.

— Você é candidata a um aumento quando voltarmos — ele prometeu. — Não pretendo vê-la longe de mim.

Karen preferiu não prestar atenção à ambigüidade daquelas palavras. Já tinha muito com o que se preocupar.

 



  

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