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CAPÍTULO XIIICAPÍTULO XIII
— Então você o convidou. Francesca o encarou furiosa. Como ele se atrevia a agir como se merecesse sua lealdade, quando saía com todas as mulheres que a avó escolhia dentre as famílias milionárias da Europa? — Se convidei, o problema é meu. No entanto, a verdade é que não esperava a visita de Tom. Havia acabado de sair do banho e... — E deixou o sujeito entrar, mesmo estando em trajes íntimos. Beberam vinho, conversaram, e estavam prontos para ir para a cama quando você mudou de ideia. — Acredite no que quiser. Não tenho de lhe dar satisfações. — Não? Tive a impressão de que ficou muito feliz ao me ver. — Sim, fiquei, mas... Ah, pare com isso, Will! Deve saber que eu não queria deixá-lo entrar. — Por que deixou? — Não sei. Fiquei assustada quando ele bateu na porta. Não esperava ninguém, e foi um alívio descobrir que era apenas um amigo. — Nunca pensou que esse tal Tom pode ser o homem que a persegue? — Não. Além do mais, o bandido foi preso. — Está falando sério? — A polícia surpreendeu um homem arrombando o apartamento vizinho, e ele confessou ser o perseguidor. Quem sabe? Talvez estejam enganados. — Espere um minuto! Está dizendo que o homem que a ameaçava foi preso, e você nem se deu ao trabalho de me avisar? — Bem, eu... Não pensei que estivesse interessado. Desculpe. Teria avisado, se soubesse que isso o tranquilizaria. — Francesca! Sabia que eu estava preocupado com você, e mesmo assim preferiu ocultar uma informação importante porque... porque... Oh, nem sei por quê? — Está enganado. — Será? Como se não bastasse, teve a ousadia de dizer que ficou assustada quando Radley bateu na porta! — E fiquei. — Por quê? Ele tem o hábito de vir aqui assustá-la, ou está acostumada a receber possíveis amantes e ser ameaçada em sua sala de estar? Francesca não pôde mais conter-se. Quando percebeu, já havia desferido uma violenta bofetada contra o rosto de Will. — Nunca mais repita isso! Ele a segurou pela nuca com uma só mão, mas a força dos dedos sobre sua pele sugeria violência contida. — E você, o que é? Uma mentirosa? Uma provocadora barata? Ou uma inocente presa nas malhas da própria ingenuidade? Era absurdo, mas o calor proporcionado pelo contato a impedia de raciocinar. De repente sentia-se fraca, como se toda a capacidade de resistência a abandonasse de um momento para o outro. — Você não entende... — começou. — Entendo perfeitamente. Você sabe o que está fazendo, e eu, pobre idiota, sou incapaz de me defender. — Abraçou-a, enterrando o rosto em seus cabelos. Francesca tremeu, mas não tentou afastar-se. — Isso é loucura — ele murmurou antes de beijá-la. A paixão a invadiu como uma onda de calor, e ela nem tentou resistir. — Percebe o que está fazendo comigo? — Will perguntou depois de alguns instantes, colando o corpo ao dela. — Seria difícil não notar — ela confessou com tom sensual, deslizando as mãos pelo peito musculoso numa carícia provocante. A essa altura, sabiam que não podiam mais voltar atrás. Will ajudou-a a despir o robe e, ao descobrir que estava nua sob a peça de seda, emitiu um gemido abafado. Os lábios dele deixaram um rastro de fogo sobre sua pele, provocando uma resposta imediata que só contribuiu para alimentar o fogo que o queimava. Os únicos sons na sala eram os de suas respirações ofegantes, dos suspiros e gemidos que escapavam de suas gargantas. Quando se deu conta do que acontecia, Francesca estava sendo carregada na direção do corredor que levava ao quarto. Will encontrou o caminho sem nenhuma dificuldade, como se o instinto o guiasse. Há muito tempo não faziam amor. Senti-lo novamente junto ao corpo, quente e dominado pelo desejo, era suficiente para banir da mente de Francesca qualquer vestígio de bom senso. E foi assim que ela se entregou, sem hesitações ou receio, dominada apelas pela necessidade de provar mais uma vez o doce sabor do prazer, da satisfação plena que só conhecera nos braços dele.
Francesca percebeu que havia cochilado por alguns minutos, porque, ao abrir os olhos, deparou-se com o sorriso doce de Will. Imediatamente, lembrou-se do que havia acontecido e sentiu um rubor intenso tingir seu rosto. — Que horas são? — perguntou, tentando enxergar o relógio sobre o criado-mudo, além do ombro largo que bloqueava sua visão. — Ainda é cedo — ele garantiu, cobrindo-a com o edredom macio. — Nove e meia. E tem de admitir que esta é uma maneira maravilhosa de acordar. Francesca umedeceu os lábios. — Quer dizer que é melhor do que despertar na beira do rio? — Ofereceu um sorriso preguiçoso, tentando ser casual. — Ou na cadeira da biblioteca. Podíamos ter usado a mesa, mas duvido que houvesse sido tão confortável. Francesca ficou ainda mais vermelha. — Está tentando me embaraçar — acusou-o, suspirando ao sentir o beijo molhado em seu ombro. — Ainda não disse o que veio fazer aqui. Por que veio a Londres? Aposto que sua avó nem imagina que veio me visitar. Os olhos dele se tornaram mais escuros à luz do abajur. — Por favor, não vamos estragar tudo discutindo assuntos sem importância. Não estamos em Lingard. Lá, eu não a toquei uma única vez... — Deslizou o dedo por seu estômago. — E por acaso sentiu vontade de tocar-me? — Durante todo o tempo. E tive a impressão de que você também queria... — Colocou uma perna entre as dela, acariciando-a de maneira íntima e sensual. — Não, eu... — Estava perdendo o controle novamente, e sabia que tinha de conter-se. Podia entender e até justificar o que havia acontecido, fora pega de surpresa pela chegada inesperada de Will e não tivera tempo para recompor-se. Mas agora havia vencido o impacto inicial, e tinha de lembrar que tinham objetivos e intenções diferentes. — Emma veio com você? — perguntou, tentando arruinar a atmosfera de romance. O sucesso foi imediato. Will afastou-se e deixou escapar um suspiro frustrado. — Não, Emma não veio comigo. Se quer saber a verdade, duvido que volte a encontrá-la. Por que se sentia tão satisfeita? Não tinha o direito de reagir às notícias sobre a vida amorosa de Will. Agora eram apenas conhecidos. O casamento acabara anos atrás, e não havia mais nada entre eles. — Se está tentando me fazer lembrar quais são minhas responsabilidades, desista! — ele prosseguiu irritado. — Rosie passa o tempo todo refrescando minha memória, e já estou farto disso. — Mas... tem de admitir que o que está fazendo não é muito oportuno. — Oportuno? Para quem? — Para nós dois — ela continuou com firmeza, tirando vantagem do momento de hesitação para tentar sair da cama. Chegou a tocar os pés no chão, mas Will a segurou pelo pulso e a puxou de volta, imobilizando-a com o peso do próprio corpo. — Fique comigo — pediu. A súplica rouca quase a fez perder o controle. Queria experimentar novamente aquela satisfação completa e plena, aquele desejo selvagem que só ele podia despertar em seu corpo. Queria Will como jamais quisera outro homem. Mas querer levava à necessidade, e precisar dele fazia parte de um estágio de sua vida que já havia conseguido superar. Não podia repetir o passado. Não suportava a ideia da eventual separação, e por isso tinha de convencê-lo de que estava falando sério. — Não — disse com firmeza, ignorando o brilho sensual que iluminava os olhos escuros. — Solte-me, Will. Já obteve aquilo que queria. Agora deixe-me em paz. Foi um golpe certeiro e eficiente. Em silêncio, Will a soltou e pousou um braço sobre os olhos fechados. Quando Francesca saiu do banheiro, ele havia partido, deixando-a com a deprimente certeza de que a única pessoa ferida pelo episódio fora ela.
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