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CAPÍTULO XII



CAPÍTULO XII

 

 

Passava das oito quando Francesca chegou em casa. Estava exausta. Não dormia bem há meses, e a situação não havia melhorado desde que retornara de Yorkshire. Esperava que os sentimentos por Will perdessem a intensidade assim que se afastasse dele, mas enganara-se. Eles só se tornaram mais fortes, perturbando seus dias e arruinando as noites.

As notícias dadas pelo sargento deviam ter servido para acalmá-la, mas ainda estava tensa. Um homem fora pego arrombando o apartamento vizinho e, sob interrogatório, ele confessara ser seu perseguidor e fora preso. Mas era tudo muito conveniente para ser real. O sujeito era um criminoso comum, com uma ficha maior que ela e evidentes problemas mentais.

Reconhecia que ele podia ter tentado entrar em seu apartamento, talvez até houvesse quebrado a janela do banheiro. Mas ele não parecia o homem que vira parado na porta do prédio. Mesmo assim a polícia havia dado o caso por encerrado.

Francesca havia discutido suas dúvidas com Clare no dia anterior.

Ela e a amiga almoçavam no restaurante da empresa quando Tom Radley aparecera e se juntara a elas. Depois da habitual troca de cumprimentos, Clare retomara a conversa.

— O que Hamishito queria com você esta manhã? Vi quando ele saiu de sua sala com aquela cara de poucos amigos.

— Oh, ele só estava interessado num estudo que havia me pedido para elaborar. Ainda nem terminei de reunir os números preliminares. Aquele homem é um carrasco! Sabe que ele nem perguntou se eu havia melhorado?

— Você não esteve doente — Tom apontara com tom seco.

— Mas ele não sabe disso. Para todos os efeitos, sofri uma séria infecção gástrica. O mínimo que ele devia ter feito era perguntar por minha saúde.

— Talvez ele acredite que esteja recuperada — Tom respondera, demonstrando a falta de simpatia que revelava desde que ela se recusara a aceitá-lo em seu apartamento. — Se quer saber minha opinião, tudo isso não passou de uma tempestade num copo de água. Você mesma disse que o tal perseguidor não voltou a incomodá-la desde que retornou de Yorkshire.

— É claro que não! Ele está preso — Clare declarara.

— Não acredito que ele esteja realmente preso — Francesca havia comentado. — Duvido que o homem que pegaram seja o mesmo que me persegue.

— Fran! Não foi isso que você disse antes! — Clare se assustara.

— Eu sei, mas receio que a polícia tenha cometido um engano. Sei que o bandido confessou tudo, mas sinto que ele ainda está por aí.

Tom franzira a testa.

— Mas não tem certeza disso.

— Não. Apenas sinto. Oh, meu Deus! Devo estar ficando paranóica! Posso sentir os olhos dele em cima de mim.

Clare havia suspirado e Tom se levantara.

— Preciso ir — dissera com tom incomodado. — Prometi a Bob Davis que não demoraria. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar.

— Obrigada.

Assim que ficaram sozinhas, Clare aproximara a cadeira da amiga e baixara o tom de voz.

— Você não acha... Acredita que pode ser Tom? Disse que ele havia se tornado difícil depois que o recusou em seu apartamento.

— Tom? — Francesca repetira incrédula. — Está brincando?

— Não. É evidente que ele está fascinado por você. Talvez isso explique essa sensação de estar sendo sempre observada.

— Não quis dizer que sou perseguida por algum conhecido. Tudo que eu disse foi... Ah, eu nem sei o que quis dizer. Mas ontem à noite, quando cheguei em casa, experimentei essa mesma sensação. Cheguei a ter certeza de que encontraria um recado na secretária eletrônica.

— E encontrou?

— Não.

— E ele não deixou nenhuma mensagem durante toda a semana.

— Não.

— Isso deve provar alguma coisa.

— Talvez. Gostaria de estar convencida. Acho que vou precisar de algum tempo para acostumar-me à ideia.

Clare havia garantido que o homem sob custódia da polícia era o mesmo que a perseguia, mas Francesca não se sentia segura ao entrar no apartamento. Apesar de ter passado uma semana sem receber ameaças ou ser incomodada, estava apreensiva. Não acreditava que o assunto estivesse encerrado.

Foi um alívio descobrir que não havia recados em sua secretária eletrônica, e que o apartamento permanecia exatamente como o deixara naquela manhã. Talvez estivesse exagerando em seus temores. Voltar para a solidão de sua casa depois de ter passado algumas noites no mosteiro a incomodava. Em Lingard, estivera sempre cercada de outras pessoas, enquanto em Londres vivia sozinha, e era essa diferença que estava mexendo com seus nervos.

Depois de trancar a porta e usar a trave de segurança, foi tomar um banho pensando em jantar e abrir uma garrafa de vinho. Há muito tempo não conseguia relaxar, e já era hora de começar a reformular sua vida.

 

 

Havia vestido um robe de seda e estava abrindo a garrafa de vinho, quando alguém bateu na porta. O som a assustou e a mão escorregou sobre o saca-rolhas. A garrafa caiu sobre o carpete da sala, mas escapou ilesa da reação exagerada.

Apavorada, Francesca agarrou a garrafa pelo gargalo e decidiu usá-la como uma arma, se fosse preciso.

— Fran! — A voz era baixa e masculina, e por um momento o sangue esfriou em suas veias. — Fran, está em casa? Sou eu, Tom. Posso entrar?

O ar escapou de seus pulmões num suspiro ruidoso. Que diabos Tom estava fazendo em sua porta? Nunca o convidara a visitá-la, e embora conhecesse seu endereço, ele não tinha o direito de invadir a privacidade de uma simples colega de trabalho àquela hora da noite.

As palavras de Clare surgiram em sua mente. Pensando bem, não conhecia Tom de verdade. Tomaram alguns drinques juntos depois do expediente em duas ou três ocasiões, e ele se oferecera para dormir em sua sala enquanto o tal lunático a perseguia, mas era só isso. Sabia que era solteiro, e o fato de trabalharem para a mesma empresa não o excluía da lista de suspeitos.

Mas o bom senso prevaleceu. Tinha de controlar-se, ou acabaria enlouquecendo. Acreditava realmente que Tom podia ser o homem que a perseguia? Era um amigo! Trabalhavam juntos há três anos! Devia confiar nele.

Além do mais, o homem que a aterrorizara estava preso.

— Só um minuto — pediu. Depois foi deixar a garrafa sobre o balcão da cozinha e amarrou a faixa do robe com mais força. Teria preferido vestir-se, mas esperava que Tom não demorasse muito.

— Estou incomodando? — Tom perguntou ao vê-la do outro lado da porta.

Devia ser evidente que sim, já que usava trajes íntimos e estava despenteada e sem maquiagem, mas Tom era um amigo. Estava apenas sendo gentil. Esperava que ele não tivesse a intenção de entrar.

— Tudo bem — respondeu com um sorriso forçado. — Não esperava visitas, só isso. Devia ter telefonado. Eu podia ter saído...

Seria essa a esperança de Radley?

— Foi uma decisão impulsiva. Achei que gostaria de um pouco de companhia.

— Foi muita bondade sua, mas...

— Estou incomodando? — ele repetiu.

— Não exatamente, mas... Como pode ver, eu não esperava visitas.

— Ei, não precisamos dessas cerimônias. Não vai me convidar para entrar?

— Bem... — Francesca hesitou. — Se esperar até eu me vestir...

— Não se incomode com isso. Não vou ficar muito tempo.

Não havia nada que pudesse fazer além de fechar a porta e segui-lo até sua sala de estar. Com exceção de mandá-lo embora e prejudicar o relacionamento profissional, não tinha escolha. Além do mais, disse a si mesma, podia lidar com a situação. Era loucura permitir que o medo de um lunático desconhecido determinasse o rumo de sua vida.

— Sente-se — convidou, apontando para o sofá. — Estava abrindo uma garrafa de vinho. Gostaria de um copo?

Tom tomaria um copo de vinho e iria embora, ela decidiu com firmeza. Se fosse necessário, fingiria uma dor de cabeça. Esse truque sempre funcionava.

— Ótima ideia — Tom aceitou, seguindo-a até a cozinha.

— Deixe-me abrir a garrafa — disse e tomou-a da mão dela.

Depois de servir a bebida e colocar uma distância mais confortável entre eles, Francesca comentou:

— Não esperava vê-lo esta noite.

Tom esperou que ela se apoiasse no braço do sofá para ir sentar-se a seu lado.

— Eu sei, mas depois do que disse ontem na hora do almoço, fiquei preocupado. '

Ela conteve o ímpeto de afastar-se e forçou um sorriso.

— Foi muita bondade sua, mas não precisa se preocupar comigo. Cheguei à conclusão de que estava enganada. O homem que a polícia prendeu é... é ele.

— O perseguidor?

— Sim. É um alívio saber que tudo chegou ao fim.

— Acredita mesmo nisso?

— Definitivamente.

— Não parecia tão certa ontem. O que aconteceu para fazê-la mudar de ideia?

— Deve ser o fator tempo — mentiu. — Ele não telefona a uma semana, desde que a janela do banheiro foi quebrada. Não pode ser apenas uma coincidência.

— Suponho que não.

— Parece ter dúvidas — ela apontou nervosa, levantando-se para colocar alguma distância entre eles. — E ontem tentou me convencer de que o bandido preso pela polícia era o mesmo sujeito que me aterrorizava.

— Isso foi antes de ter tempo para pensar sobre o assunto. — Tom a seguiu até o outro lado da sala. — Agora estou convencido de que o homem não confessaria sua culpa. Por quê? Se já estava preso, o que teria a ganhar com isso?

Francesca sentia-se encurralada. Não poderia mover-se novamente sem dar a impressão de estar fugindo, mas quanto mais a conversa se prolongava, maior era sua ansiedade. Apesar de não dar crédito ao que Clare havia dito, a verdade era que estava sozinha com um homem que mal conhecia.

— Prefiro não discutir esse assunto — disse, esvaziando o copo de vinho. — Era... era só isso que queria?

— Não. — Tom tirou o copo vazio da mão dela e depositou-o uma estante próxima, ao lado do dele. — Vim me desculpar por ontem. Fui antipático, grosseiro e rude.

— Ora, eu... — Francesca parou de falar ao sentir que ele deslizava um dedo por seu braço.

— Gosto desse robe. É macio, suave e gostoso... como você.

Francesca entrou em pânico. A visita inesperada, a maneira como ele forçara sua entrada no apartamento e a ousadia com que a tocava configuravam uma invasão, e a voz rouca e pastosa soava como uma ameaça.

Mesmo assim, correr para o outro lado da sala foi uma imaturidade. Comportava-se como se nunca houvesse estado sozinha com um homem, mas não conseguia conter-se. Desesperada, abriu a porta e quase caiu nos braços do homem que esperava do outro lado.

O grito que conseguira abafar até então escapou de sua garganta, e por um momento teve certeza de que ele tinha um cúmplice. Mas a voz conhecida de Will penetrou em seus sentidos e ela deixou-se cair sobre seu peito, fraca e incapaz de falar.

— O que está acontecendo aqui? — ele perguntou, abraçando-a com um misto de raiva e preocupação. — Se alguém a feriu...

— Ninguém a machucou — Tom anunciou com tom aborrecido, aproximando-se da porta. — Pelo amor de Deus, Fran, não pode ter pensado que eu a machucaria! Só queria provar que me importo... 

— Quem é este homem, Fran? Você o convidou para vir?

Francesca respirou fundo. Se não tomasse uma atitude, logo os dois estariam trocando socos em sua sala.

— Tom Radley é um amigo. Um colega de trabalho.

— Devo deduzir que você o convidou para vir?

— Isso não importa — Tom interferiu. — Sou amigo de Fran, como ela acabou de dizer. Houve um mal-entendido, só isso. E você, quem é?

— Sou o marido dela — Will respondeu, esquecendo o divórcio. — E você ainda não respondeu ti minha pergunta, Fran. Ele é seu convidado?

— Não — ela suspirou. — Não exatamente.

— Será que pode ser mais clara?

— Tom passou por aqui para ver se eu queria sair, tomar um drinque — improvisou.

— É isso mesmo — ele confirmou, aliviado por ter uma boa desculpa. — Sinto muito. Creio que interpretei mal os sinais...

— Que sinais? — Will perguntou com voz gelada, aproximando-se dele com expressão ameaçadora.

— Vá embora, Tom — Francesca interferiu.

Will afastou-se para que o outro homem pudesse sair. Fran sabia que ele estava aborrecido por ter intercedido, mas não podia permitir que o colega de trabalho levasse toda a culpa. Havia tido uma reação exagerada. Não sabia o que pensara quando ele havia tocado seu robe.

Mais calma, fechou a porta e dirigiu-se à sala de estar do apartamento. Will nunca havia estado ali antes, e ela olhou em volta com certa ansiedade. Viu os dois copos de vinho na estante e notou que ele olhava na mesma direção. Virando-se para encará-lo, cruzou os braços numa postura defensiva e tentou amenizar a tensão.

— Então me encontrou — disse com um sorriso forçado. — O que achou do apartamento? Os cômodos são pequenos, comparados aos do mosteiro, mas é bem aconchegante. Não acha?

 



  

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