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CAPÍTULO V



CAPÍTULO V

 

Francesca ouviu vozes quando terminava de maquiar-se. Havia decidido ir ao vilarejo. Precisava comprar algumas coisas para o final de semana, e recordava que as lojas do pequeno centro comercial ofereciam tudo de que necessitava. Mas o som de uma risada feminina a atraiu para perto da janela, por onde viu Will, outro homem e duas mulheres caminhando pelo jardim.

Deviam ser os convidados que ele mencionara. Quem seriam, e o que faziam ali? Apesar da atitude cordial, era possível perceber a falta de familiaridade entre os membros do grupo. De qualquer maneira, não tinha o direito de sentir-se ofendida pela presença de outra mulher na casa que já não lhe pertencia. Em vez de estar pensando em Will e em seus relacionamentos, devia preocupar-se com os próprios problemas. O que faria quando voltasse para casa?

Um arrepio percorreu seu corpo. Não conseguiria sentir-se segura dentro do pequeno apartamento. Não enquanto ele estivesse solto. OK, Deus o que faria?

Um sentimento sufocante ameaçou dominá-la e ela respirou fundo para controlar-se. Isso era ridículo, censurou-se. Não podia permitir que um maluco arruinasse sua vida. Quem quer que fosse, estava doente. Ninguém em seu juízo perfeito sentiria prazer aterrorizando qualquer pessoa; Tinha de enfrentar e resolver o problema sozinha, sem envolver outras pessoas nele. Sem envolver Will...

Às vozes se tornaram mais altas e ela viu que o grupo se aproximava da casa. Uma das mulheres era mais velha, provavelmente entre os quarenta e cinco e os cinquenta anos, e o homem tinha a mesma idade, o que apontava para a probabilidade de serem um casal. Portanto, a jovem era acompanhante de Will, como suspeitara antes.

E era linda. Sorrindo, flertava com o companheiro e fitava-o com um misto de ingenuidade e sensualidade, fingindo precisar de seu braço para apoiar-se. Era evidente que ficaria mais satisfeita se estivessem sozinhos, porque seu rosto tornou-se sombrio quando a mulher mais velha aproximou-se para dizer alguma coisa.

Will parecia pensativo, distante. Ou estaria imaginando coisas, impelida por desejos que jamais se realizariam? Desejos? Não tinha o direito de incomodar-se com as companhias do ex-marido. Ele era um homem livre, jovem o bastante para reconstruir sua vida ao lado de outra mulher.

Como devia ter feito, Francesca pensou com amargura. Se houvesse se casado novamente, não estaria vivendo esse pesadelo. Mas a experiência com Will deixara marcas profundas, e não sabia se algum dia voltaria a depositar sua felicidade nas mãos de um homem.

Precisara de muito tempo para superar a dor. Apesar do choque provocado pelas acusações, não conseguira acreditar que tudo havia acabado. Não aceitara a separação e recusara-se a conformar-se com seu amargo destino. Durante um período, vivera numa espécie de vácuo fora do mundo, convencida de que Will acabaria percebendo seu engano.

Mas ele não se retratara. Havia preferido acreditar no pior a seu respeito, e tudo porque insinuara que gostaria de voltaria a trabalhar depois do nascimento do bebê. Aparentemente, ele não fora capaz de entender que o desejo de ter uma carreira não significava que o lar e a família fossem menos importantes para ela. Will sempre tivera Lingard, por que não pudera compreender que também precisava de alguma independência?

Mas tudo isso havia ficado no passado. A gravidez não durara o bastante para que a questão pertinente ao trabalho se tornasse um problema de fato. No momento em que mais precisara da simpatia de Will, ele a negara. Em vez de apoiá-la, acusara-a de tê-lo traído e de pôr suas necessidades egoístas acima de tudo e de todos.

Lágrimas quentes ameaçavam brotar de seus olhos. Respirando fundo, conteve-as e censurou-se pelo momento de nostalgia. Se Will mostrara-se tão inclinado a pensar no pior a seu respeito, então havia sido melhor partir naquele momento.

Suspirando, aproximou-se da porta e parou, incerta. Seria sensato deixar a casa enquanto aquelas pessoas estavam ali? Não tinha o menor desejo de encontrar o grupo, nem queria ser acusada de estar bisbilhotando. Talvez fosse melhor esperar que partissem para deixar a propriedade. E se ouvissem o barulho do carro e fizessem perguntas? Will ficaria furioso.

Francesca sorriu. Era divertido imaginá-lo constrangido, tentando explicar o que a ex-esposa estava fazendo em sua casa. Se pretendia se casar novamente, seus planos estariam correndo perigo.

As batidas na porta não causaram o mesmo terror da noite anterior. Era a sra. Harvey, e ela parecia perturbada.

— Eu... vim saber quando pretende almoçar, sra. Quentin. Preparei a mesa no salão matinal, como sugeriu meu lorde.

Recusava-se a dar importância ao vazio provocado pelas palavras da governanta.

— Não poderia trazer uma bandeja ao quarto? Não estou com muita fome.

— Uma bandeja? — A sra. Harvey repetiu com entusiasmo. — Oh, sim, se prefere comer aqui... Meu lorde imaginou que gostaria de descer para a refeição.

— Prefiro ficar no quarto — decidiu, disposta a preencher o tempo dando alguns telefonemas. Prometera a Clare que ligaria, e Tom Radley devia estar preocupado. Esperava que a amiga houvesse conseguido encontrá-lo para explicar o que acontecera. Já havia telefonado para a Teniko, mas duvidava de que o chefe houvesse se incomodado em informá-lo sobre sua ausência.

Não dissera ao sr. Hamishito onde estava, ou o que acontecera. Tinha a sensação de que ele a culpava pelos problemas que enfrentava, e sentia que o vice-presidente da Teniko considerava as mulheres seres inferiores.

— Se tem certeza — a governanta insistiu.

— Sim, tenho certeza. E não precisa trazer muita comida. Normalmente como apenas um sanduíche no meio do dia.

Um hábito que havia adquirido desde que ele começara a segui-la, prejudicando seu apetite.

Clare estava em sua mesa na Teniko quando Francesca ligou.

— Estava começando a ficar preocupada — ela disse. — Falou com Hamishito?

— Falei. Disse que estou doente, mas não esperava que ele a avisasse.

— É claro. E então, como vão as coisas? Seu marido a deixou ficar?

— Sim, e disse que posso passar o final de semana aqui, se quiser. A oferta é tentadora, mas estou preocupada com seu carro. Pode passar três dias sem ele? Sei que deixei as chaves do meu e que pode usá-lo, se quiser, mas...

— Não se preocupe. Se quiser ir a algum lugar, pedirei a Mick para levar-me. Além do mais, ele nunca usa o carro nos finais de semana. Enquanto houver um único jogo na televisão, ninguém consegue arrancá-lo do sofá.

Francesca sorriu. Desde que perdera o emprego, o marido de Clare se interessara por esportes de maneira geral. Para combater o ócio forçado, matriculara-se numa academia de ginástica onde se exercitava diariamente.

— Nesse caso, acho que vou ficar por aqui — disse. — Obrigada por tudo, Clare. Principalmente pela compreensão. — Não mencionara o telefonema quando fora procurar a amiga. Havia sido suficiente dizer que alguém tentara arrombar seu apartamento.

— Se precisar de alguma coisa, procure-me.

A conversa com Tom Radley foi mais difícil. Como imaginava, ele desconhecia os eventos da noite anterior. Por isso teve de explicar onde estava antes de falar sobre a janela quebrada, e Tom se mostrou ofendido por não ter sido procurado.

— Eu me ofereci para ficar no seu apartamento até esse pervertido se cansar e ir procurar outra pessoa para incomodar! — exclamou furioso. — Não precisava ter corrido para York-shire! Pensei que você e seu marido não se falassem!

— Não nos falávamos, mas... Tente entender, Tom. Chegar em casa e descobrir que alguém havia quebrado a janela foi terrível, mas saber que foi ele...

— Alguma coisa foi roubada?

— Acho que não.

— Acha? Francesca, essa era a primeira coisa que devia ter verificado!

— Fiquei tão perturbada, que nem pensei nisso.

— O desaparecimento de um objeto teria sido suficiente para provar à polícia que ele havia estado em sua casa. Devia ter examinado a gaveta das calcinhas.

— Tom!

— Estou tentando ser prático, Francesca. Nunca ouviu falar sobre esse tipo de perversão?

— É claro que sim. Mas tenho certeza de que nada foi roubado. Oh, Tom, foi uma sensação horrível! Não consegui pensar em mais nada além de fugir. Clare me convidou para ficar com ela e Mick, mas precisava me afastar.

— Para Yorkshire?

— Para qualquer lugar — Francesca respondeu impaciente. — Tente entender, sim? Fiquei apavorada. Esse sujeito me assusta!

Tom respirou fundo. Quando voltou a falar, a voz era mais calma.

— Está bem. Se a solução é conveniente para você, quem sou eu para contestá-la? Mas vai ter de tomar providências mais permanentes quando voltar.

Francesca concordou, tentando encerrar o assunto. Não sabia o que faria quando voltasse a Londres, mas de uma coisa tinha certeza: não queria Tom acampado em sua sala de estar.

 

 

Francesca almoçou devagar, saboreando a salada, a sopa de aspargos e as costeletas de carneiro. A sobremesa, um cremoso pudim de framboesas, era um verdadeiro néctar dos deuses. Satisfeita, olhou para o relógio e imaginou quanto tempo os convidados de Will ainda permaneceriam na casa. Passava da uma e meia da tarde, e as lojas do vilarejo fechavam às cinco.

Haveria alguma possibilidade de sair sem ser notada? Talvez, se esperasse até às duas, pudesse misturar-se aos visitantes e passar despercebida. O problema era que não sabia onde Watkins estacionara o carro. Ele havia solicitado as chaves naquela manhã para retirá-lo do gramado, mas não informara para onde o levaria.

Podia caminhar até o vilarejo. A distância não era tão grande. Seria melhor do que ficar trancada no quarto, decidiu, aproximando-se da janela para examinar o céu em busca de sinais de chuva. A ausência de nuvens tranquilizou-a.

Lembrar a escada secundária que levava ao hall de serviço foi o fator decisivo. Anos antes, aquela havia sido a via de ligação entre o piso principal e os berçários no segundo andar. Naqueles dias as famílias eram maiores, e a criadagem se contentava com salários menores. Will havia contado que uma dúzia de empregados dormiam nos quartos da ala mais próxima da cozinha.

Hoje em dia o segundo andar não era ocupado por ninguém, e por isso acreditava que poderia sair sem ser vista.

Levando apenas a bolsa, abriu a porta da suíte e saiu. Percorreu o corredor com cuidado, evitando fazer qualquer barulho que pudesse atrair a atenção dos convidados ou da criadagem, e logo encontrou a escada de serviço.

Já havia descido alguns degraus quando se deu conta de passos se aproximando. Ouviu as vozes e imaginou que soassem no hall de baixo. Tratava-se de um homem e uma mulher, e ela deduziu que fossem Watkins e uma das empregadas, ou a própria sra. Harvey. Pouco depois os tons se tornaram reconhecíveis, mas já era tarde demais para retificar o engano.

Podia retroceder. Não seria difícil esconder-se no quarto até que eles se fossem. Mas quando terminou de ponderar as alternativas, a mulher já havia alcançado o patamar no meio dos degraus, de onde podia vê-la.

A jovem assustou-se. Will a seguia de perto, e devia estar contando alguma história sobre os fantasmas que as lendas afirmavam existir no mosteiro.

— Meu Deus! — ela gritou, retrocedendo um passo e colidindo com o peito de Will. — Droga! Você me assustou! — E virou-se para o anfitrião. — Não disse que os empregados não dormiam mais aqui?

— E não dormem.

— Então...

— Sou... apenas uma amiga da família — Francesca ofereceu apressada antes de passar por eles. — Como vai, Will? Estou de partida para o vilarejo. Espero vê-lo mais tarde.



  

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