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CAPÍTULO I
De Volta Para Você Dishounorable Intent
Anne Mather EGA 38.2
DE VOLTA PARA VOCÊ
A vida de Will Quentin já era complicada demais antes de a ex-esposa surgir em sua porta. Havia sido louco por Francesca e a agonia de sua traição ainda o atormentava. Will sabia que devia ouvir os conselhos de sua avó, mas não podia dar as costas a Francesca, especialmente no momento em que ela temia pela própria vida. Mas será que era este mesmo o motivo pelo qual ela o queria de volta?
Doação do livro: Valéria Digitalização: Joyce Revisão: Alice Akeru
Copyright © 1997 by Anne Mather Originalmente publicado em 1997 pela Harlequin Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra
Esta edição é publicada por acordo com a Harlequin Mills & Boon Ltd. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: Dishounorable intent Tradução: Débora da Silva Guimarães Isidoro Editor: Janice Florido Chefe de Arte: Ana Suely Dobón Paginador: Nair Fernandes da Silva EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10° CEP: 05424-010 - São Paulo - Brasil Copyright para a língua portuguesa: 1998 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA Fotocomposição: Editora Nova Cultural Impressão e acabamento: Gráfica Círculo
CAPÍTULO I
Ele estava parado diante da espaçosa janela da biblioteca, observando os visitantes que se dirigiam à saída. Não podia ouvir o que diziam, mas pressentia sua relutância em sair. O jardim e o terreno do Mosteiro Lingard tornavam-se uma das mais populares atrações turísticas de Yorkshire, e o dinheiro proporcionado por essas visitas ia aos poucos possibilitando a retomada da antiga glória da velha propriedade. Podia pagar um salário digno aos jardineiros, que aproveitavam a época propícia do ano para oferecer um espetáculo de cores àqueles que visitavam o local. O lago, cintilante sob os raios do sol poente, refletia todo o esplendor das árvores e plantas que o cercavam. No entanto, teria que contar com um rendimento muito maior que o garantido pelos turistas para começar uma verdadeira reforma na casa. Umidade, goteiras e frestas no assoalho haviam tornado certas partes do mosteiro inabitáveis, razão pela qual considerava a sugestão de sua avó sobre casar-se novamente. Uma esposa rica, que não exige muito mais que seu título, seria a única esperança de preservar a propriedade que sempre fora seu lar. Franzindo a testa, afastou-se da janela. Era arcaico, pensou irritado. Casar-se com alguém para restaurar a fortuna da família! Se voltasse a pensar em matrimônio, teria de ser com alguém com quem ao menos se importasse. Mas... Esse tipo de união não havia funcionado no passado. Por que acreditava que uma segunda tentativa poderia ser bem-sucedida? Havia sido louco por Francesca, e ela o abandonara. Estaria mesmo disposto a repetir o mesmo erro? A resposta era um estrondoso não. Pensar em envolver-se num novo e desastroso relacionamento era o suficiente para fazê-lo sentir náuseas. Talvez estivesse certa; quando dizia que, era melhor ser amado do que amar. Afinal, amara Francesca e sofrera as penas do inferno quando tudo acabara. Batidas na porta interromperam a reflexão. — Entre — ele autorizou, parando sobre o velho tapete diante da enorme lareira. A figura angular de Watkins, o mordomo, surgiu na soleira. — Boa noite, meu lorde. A sra. Harvey gostaria de saber se vai estar em casa para o jantar. Ah, sim, e O'Brien me pediu para comunicar que o aparador elétrico desapareceu. Ele deixou-o num canto do jardim, e quando voltou não o encontrou. — Em que O´Brien estava pensando quando deixou o aparador no jardim? — explodiu. Em seguida, notando a apreensão no rosto do empregado, respirou fundo e controlou-se. — Tudo bem, falarei com ele amanhã cedo. Quanto ao jantar, a sra. Harvey não precisa incomodar-se. Comerei com lady Rosemary em Mulberry Court. — Sim, meu lorde. Gostaria de um drinque antes de partir? — Não, obrigado. — Com licença, meu lorde. Watkins saiu caminhando devagar e, sozinho, ele pensou que o mordomo devia estar aposentado. Devia ter cerca de setenta anos e trabalhava para a família desde a adolescência. Mas sem o emprego, Watkins não disporia de meios de sobrevivência. Sentado na velha cadeira de couro atrás da imponente mesa de mogno, suspirou e olhou para o espaço. Lá estava ele, William Henry Robert Gervaise Quentin, nono conde de Lingard, e não podia nem oferecer aos empregados uma aposentadoria decente.
Uma hora mais tarde, banhado e barbeado, os cabelos longos e escuros penteados para trás das orelhas, Will percorreu de carro a distância que separava o Mosteiro Lingard da residência da avó em Mulberry Court. Tentava ser otimista, mas pensar na noite que teria pela frente era suficiente para irritá-lo. Uma coisa era reconhecer suas limitações no anonimato do mosteiro, outra era considerar a alternativa oferecida pela avó e deparar-se com o fato concreto. Mulberry Court brilhava imponente sob o céu claro de verão. Com sua origem datando do século dezesseis, a mansão fora adquirida para o filho mais velho de sua tia. Infelizmente, seu primo Edward morrera de leucemia antes de completar vinte anos, e o favorecido seria um parente distante de seu falecido avô. Lady Rosemary nunca escondera o desapontamento com o fato do neto preferido não estar na linha direta de herança daquela propriedade. Ela também lamentava não poder contribuir para a manutenção adequada do mosteiro, mas fazia tudo que podia para tornar a vida do neto menos conturbada. Lady Rosemary só deixava de ser a criatura adorável de sempre quando falava sobre o casamento que traria ao mundo o próximo conde de Lingard, ele refletiu com amargura ao estacionar o carro diante da porta principal. Na opinião dela, nada podia compensar a ausência de uma esposa e de uma família, e a mulher certa seria aquela que pudesse solucionar os dois problemas de uma só vez. Uma criada abriu a porta antes que pudesse bater, sinal de que a avó o estivera observando através de uma janela. Ela e seus convidados saboreavam aperitivos no terraço que dava para o laranjal, e o agradável aroma das frutas pairava no ar. — Will! — Rosemary levantou-se para ir ao encontro do neto e beijou-o no rosto. — Meu querido. Estava começando a me preocupar com sua demora. Emma e seus pais esperam ansiosos para conhecê-lo. Podia sentir o rosto se transformando numa máscara tensa e fez um esforço para relaxar. — Olá, Rosie — provocou sorrindo. — Vejo que não perdeu tempo. Tem medo de que eu fuja antes de me arrastar para o altar? O sorriso de lady Rosemary perdeu o brilho. — Espero que saiba comportar-se, Will — falou em voz baixa, temendo que os convidados pudessem ouvi-la. — Emma não é como Francesca Goddard. — Francesca ainda usa o nome Quentin — ele suspirou. — É claro que sim! Por que ela abriria mão de um nome que pode abrir todas as portas? Estou surpresa por não ter tentado conservar o título, também. Rosemary estava furiosa, e Will lamentou ter provocado reação tão intensa. Por um momento, imaginou se os pais, caso ainda fossem vivos, teriam sido mais tolerantes com o comportamento de Francesca. Mas eles haviam morrido num naufrágio quando ainda era um adolescente, e desde então a avó fora sua guardiã. Desde o início, Rosemary sempre demonstrara uma certa hostilidade para com Francesca. Além de considerá-la inadequada, ela tinha em mente outra candidata ao título, alguém em melhor posição social e financeira. Infelizmente, naquela época Will pensava com o coração, em vez de usar a cabeça. Apaixonara-se por Francesca, desejara-a com loucura e sonhara se casar com ela. Havia realizado o sonho. Mais tarde, o sonho se transformara em pesadelo. — Venha, vamos entrar. — Lady Rosemary apoiou-se em seu braço. — Aqui está ele — anunciou orgulhosa. — William Quentin, meu neto. Will, quero que conheça sir George e lady Merritt, e sua filha Emma. Will havia conhecido pessoas como os Merritt antes. Sir George construíra a fortuna da família com esforço próprio, atraindo a atenção da mídia por estar sempre patrocinando causas milionárias. Era vários centímetros mais baixo que Will, com uma barriga arredondada que traía o gosto pela bebida, enquanto a esposa era magra a ponto de parecer doente, certamente adepta da máxima de que elegância e riqueza nunca são demais. A filha, Will constatou com alívio, era diferente. De todas as mulheres que a avó oferecera para sua inspeção, Emma Merritt era a mais atraente. Esguia, sem ser magricela como a mãe, com cabelos lisos e louros cortados retos na altura do queixo e grandes olhos azuis, era dona de uma beleza impressionante. Sir Gerald adiantou-se. — É um prazer conhecê-lo, meu lorde. — Por favor, pode me chamar de Quentin, ou Lingard, se preferir. Raramente uso meu título entre amigos. Lady Merritt sorriu satisfeita por ser incluída no círculo de amizades do conde e protestou: — Mas devia usá-lo. De qualquer maneira, agradecemos a honra de sermos tratados como iguais. — Meu neto sempre foi dono dos próprios atos — Rosemary explicou com um misto de orgulho e reprovação. — Quando estava na universidade, ele se apresentava como Will Quentin para que ninguém tomasse conhecimento de sua origem nobre. Estou sempre tento de lembrá-lo sobre as responsabilidades que cabem a ele. — Deveres para com os de sua classe, é claro. — Lady Merritt fez um movimento afirmativo com a cabeça. — Todos temos uma ou outra cruz a carregar. Veja George, por exemplo; não imagina com que frequência seus serviços são solicitados. Há sempre um jantar beneficente, ou um chá de caridade em sua agenda. Meu marido tornou-se bastante popular, graças à sua habilidade de falar em público. — Creio que não era a isso que lady Rosemary se referia — Emma opinou com um sorriso confiante. — Talvez ele — enfatizou, olhando para o conde sem usar o título — prefira ser aceito e reconhecido por suas qualidades. Odiaria pensar que as pessoas se aproximam de mim só porque sou sua filha, papai. Will teve de sorrir da audácia da jovem. Em poucas palavras, ela destruíra todos os argumentos dos pais sem causar ofensa a ninguém. A atitude corajosa e firme o fez pensar que a noite não seria tão aborrecida quanto antecipara. — Bem... — Sir George foi o primeiro a reagir. — Sou obrigado a concordar com você, minha querida. — E pousou um braço sobre os ombros da moça. — Não sou um homem de sorte, Lingard? Uma filha com beleza e cérebro é mais do que muitos homens possuem. — Trata-se de uma combinação rara — Will reconheceu, apesar de ter percebido o olhar astuto de Emma. Ela era divertida, e mais interessante do que a maioria das debutantes fúteis com que fora obrigado a lidar no passado. A criada que o recebera na porta entrou com uma bandeja de coquetéis, mas Will preferiu servir-se de uma dose de uísque. Archie Rossiter, um dos mais antigos admiradores de sua avó, cochilava numa cadeira de vime num canto da varanda. Archie havia sido o médico de Rosemary até aposentar-se, alguns anos antes, e estava sempre presente quando era necessário equilibrar um grupo desigual. Era um homem agradável, apesar da inclinação ao esquecimento trazida pela idade. Havia um copo de uísque sobre a mesa ao lado da cadeira, e Will deduziu que ele estivera bebendo desde antes da chegada dos convidados. O bom e velho Archie! Às vezes enfrentavam pequenas diferenças, mas tinha um grande afeto por ele. — Aborrecido com nossa companhia? A voz às suas costas o fez perceber que, enquanto observava Archie, Emma deixara os pais conversando com a anfitriã e aproximara-se. — De maneira nenhuma, srta. Merritt. A noite está apenas começando. — Meu nome é Emma. O fato de tratar-me com tanta formalidade confirma o que eu pensava sobre seu estado de espírito. Você nos considera aborrecidos. — Está enganada. — Aposto que não queria jantar conosco. — De onde tirou essa ideia? — Papai insistiu em passar alguns dias no campo, e não há nada mais difícil do que tirá-lo do escritório. É estranho, não acha? — Talvez ele tenha sentido necessidade de descansar. Não moram nesta região, certo? — Oh, não! Estamos hospedados em Mulberry Court, mas vivemos em Cambridge. Papai tem interesses comerciais naquela área. Will não perguntou quais eram esses interesses. Lembrava-se de ter ouvido a avó mencionar alguma coisa sobre componentes eletrônicos para telefones celulares e máquinas de fax. De acordo com lady Rosemary, e esse era o fator mais importante segundo seu ponto de vista, sir George era muito rico, e estava ansioso para dar à filha o tipo de pedigree que o dinheiro não podia comprar. — Lady Rosemary contou que estudou em Cambridge — Emma continuou. — Infelizmente, não fui inteligente o bastante para ingressar numa universidade. Papai me enviou para uma escola de especialização na Suíça. — Não creio que tenha sido tão difícil entrar numa universidade. Talvez não tenha se esforçado o suficiente. — Quem quer passar horas estudando livros velhos e empoeirados, quando se pode ficar ao ar livre, cavalgando, nadando ou jogando pólo? — Ela ofereceu um sorriso astuto. — Foi muito mais divertido em Lausanne. Não acreditaria nas coisas que fazíamos por lá. Will podia imaginá-las, mas não teve tempo para confirmar suas hipóteses. Emma começou a falar sobre a história de Mulberry Court e sobre como apreciava explorar construções antigas. Depois do que dissera sobre livros velhos e empoeirados, era difícil acreditar que tivesse algum interesse pelo assunto, pelo menos de maneira objetiva. Mas Will sabia o que era esperado dele e, cortês, sugeriu que ela fosse visitar o mosteiro. Quando a governanta anunciou que o jantar estava servido, Will concluiu que já conhecia os dados mais importantes sobre Emma Merritt. Sabia em que escolas ela estudara, quais assuntos apreciava discutir e que planos tinha para o futuro. O fato de estar ansiosa para se apaixonar, casar e ter uma família numerosa fora revelado em tom sutil e inocente, e duvidava que muitos homens fossem capazes de resistir a tão delicioso candor. Para seu alívio, descobriu que Archie Rossiter ficaria à sua esquerda na mesa do jantar. Emma Merritt fora colocada à sua direita, o que permitia que lady Rosemary ficasse entre sir George e a filha. Era evidente que a anfitriã pretendia observar atentamente a jovem que pretendia transformar em esposa do neto, mas o arranjo também era conveniente para Will. Podia evitar perguntas inoportunas conversando com o velho amigo da família, e com lady Merritt à sua frente, a vantagem era considerável. Também não se incomodava com o fato de estar sendo analisado. Sorria para a avó sempre que a surpreendia acompanhando seus movimentos ou ouvindo o que dizia e sentia-se tranquilo. Convidara Emma para visitar Lingard, veria como tudo se desenvolveria daí em diante. Não havia feito promessas impetuosas que não poderia cumprir, e não tinha com o que preocupar-se. — Soube que passou algum tempo em nossa região — lady Merritt comentou. — Formou-se em Cambridge, não? — Sim, mas foi há tantos anos que havia quase me esquecido da universidade — Will respondeu sorrindo. — Não faz tanto tempo assim — lady Rosemary interferiu. — Você só tem trinta e quatro anos! Compreendo que alguns aspectos daquela época sejam dignos de esquecimento, mas não devia desprezar sua formação. A educação é um dos maiores tesouros que alguém pode ter. — E olhou para os convidados. — Não concordam comigo? — Bem... Lady Merritt era menos positiva sobre o assunto, e Emma apressou-se em justificar a atitude da mãe. — Creio que fui uma grande decepção nesse campo, lady Rosemary. Confesso que mal podia esperar para ver-me livre da escola. — Mas teve notas excelentes enquanto esteve estudando — a mãe explicou. — Estava falando sobre a formação dos rapazes — a anfitriã sorriu, modificando o comentário anterior para não ofender seus convidados. — Não ia desejar outra graduada na vida do meu neto. Uma foi mais que suficiente. Havia ido longe demais. Will sabia que a avó reconhecera seu erro antes mesmo de encontrar seu olhar gelado. Por isso ela se apressou a mudar de assunto, perguntando a sir George o que ela havia achado do clube de golfe local, onde disputara algumas partidas naquela tarde. — Sua esposa era uma intelectual? — Emma perguntou. Apesar da audácia da jovem tê-lo divertido até pouco antes, agora sentia-se impaciente. — Não exatamente — respondeu de maneira evasiva. A verdade era que Francesca sempre fora inteligente e perspicaz, características que não haviam contribuído para sua felicidade pessoal. — Ouvi dizer que seu jardineiro realizou um trabalho digno de admiração este ano — Archie Rossiter comentou, salvando-o da incômoda conversa com Emma. — É bom saber que ele fez algo corretamente — Will encolheu os ombros. — Esta tarde ele perdeu o aparador elétrico. O'Brien está sempre deixando as ferramentas espalhadas pelo jardim, e depois não entende como desaparecem. Archie riu. — Ele está ficando velho. Todos nós envelhecemos, inclusive sua avó, embora ela se recuse a admitir. — Essa é a desculpa que vovó tem oferecido? — Oh, não! Como acabei de dizer, ela é a última a reconhecer a passagem dos anos. — Que tal passarmos à sala de estar para o café? — Lady Rosemary sugeriu em voz alta.
Will despediu-se pouco depois das nove e meia da noite. O entusiasmo que sentira ao chegar empalidecera, e apesar de ter combinado apanhar Emma e seus pais na manhã seguinte para levá-los ao mosteiro, onde almoçariam, havia se cansado da companhia do grupo por aquela noite. A silhueta do mosteiro tornou-se visível muito antes de alcançar os portões do estacionamento. As paredes de pedras cinzentas podiam ser vistas nitidamente sob o céu claro, e por um momento sentiu-se orgulhoso por saber que seus ancestrais haviam vivido ali por mais de duzentos anos. Existira um mosteiro no lugar por tempo ainda maior, mas ele havia sido destruído durante a dissolução que ocorrera no século dezesseis. A construção original datava do início do século dezessete, e os sucessivos moradores haviam executado alterações e acrescentado novas alas ou pequenos detalhes ao edifício. Embora não fosse uma residência luxuosa, certos confortos, como aquecimento central, por exemplo, haviam tornado a velha mansão habitável. Seria uma pena deixá-la deteriorar-se ainda mais. Tinha o dever moral de fazer tudo que estivesse ao seu alcance para impedir que Lingard conhecesse a ruína. Will franziu a testa ao ver o pequeno carro esportivo estacionado no gramado diante da casa. Não esperava visitas, e nenhum dos criados possuía veículo semelhante. Talvez fosse um parente de passagem, mas o que o intrigava era o fato de Watkins ter permitido que alguém estacionasse na frente do edifício. Não estava disposto a ser sociável com ninguém e, irritado, parou o Range Rover ao lado do outro automóvel. Quem quer que fosse, era melhor ter um bom motivo para estar em sua casa àquela hora da noite, e sem anunciar-se. Além do mais, o gramado não era estacionamento. A porta de madeira maciça se abriu assim que girou a maçaneta, prova de que Watkins ainda não trancara a casa. Lá dentro, o vestíbulo de piso de pedras era gelado em comparação à temperatura amena do exterior, mas Will nem notou a diferença. No hall, velhos tapetes persas ajudavam a mitigar o frio que emanava das paredes espessas, também cobertas por tapeçarias desbotadas que ofereciam pouco em matéria de calor ou conforto, mas eram familiares, e por isso Will relutava em se desfazer delas. Havia vendido tudo que possuíra de valor para manter a propriedade em estado aceitável, e aquelas tapeçarias faziam parte de sua herança. Will parou na porta da sala de estar e franziu a testa, irritado por alguém ter tomado a liberdade de acender um fogo na lareira em sua ausência. Preparava-se para interpelar o visitante inconveniente quando ouviu a voz de Watkins às suas costas. — Oh, meu lorde! Finalmente está de volta! — Posso saber o que está acontecendo aqui? Watkins respirou fundo, como se quisesse levar mais ar aos pulmões cansados. — Há... há alguém esperando para vê-lo, meu lorde. Ela chegou pouco depois de sua partida. — Ela? Will não conseguia imaginar uma única mulher capaz de invadir sua casa sem ser anunciada, mas, antes que Watkins pudesse oferecer alguma explicação, uma voz familiar os interrompeu. — Olá, Will. Espero que minha presença não seja um incômodo.
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