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CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4
Jake voltou para o quarto, tomou banho e trocou de roupa. Ele desceu novamente e estava tomando café quando Cassandra finalmente apareceu. Cassandra entrou na sala ainda vestindo um roupão de seda vermelho que Jake duvidava que fosse suficiente para o frio que fazia. Mas ele sabia que ela gostava da roupa. E como ela não usava nada sob ele, Jake imaginava onde isso ia parar. — Querido — exclamou ela, petulante — por onde andou? Fui no seu quarto mais cedo, mas você não estava e fiquei preocupada. Então... onde esteve? — Saí — respondeu ele. — Por que não se veste e vai ver como sua mãe está hoje? — E eu me importo? Ela obviamente não se importa comigo. Ouviu quando zombou da minha carreira de atriz ontem à noite? Só porque eu tive mais bom senso e não me satisfiz com a vida desse lugar atrasado e provinciano, ela tira proveito para me humilhar. Jake deu de ombros. Não podia negar que a Sra. Robertson fora implicante. Mas ele não conhecia a história da família, então era difícil ter uma opinião. Sentia pena de Eve, presa no meio de duas mulheres que pareciam determinadas a se agredir. Mas Eve defendeu Cassandra e não a patroa, apesar da forma como falou dela hoje cedo. — De qualquer forma, ainda é cedo. — Cassandra certamente tinha outros planos em mente. Aproximando-se do local onde ele estava sentado, ela afrouxou o cordão do quimono. Ele caiu aberto, revelando que as suspeitas iniciais dele estavam certas. — Por que não voltamos para cima? Jake afastou a cadeira e se levantou. Então pegou os dois lados do quimono com as mãos unindo as duas pontas. — Vá tomar um banho frio, Cassandra — falou diretamente. — Quero sair e conhecer a vida aqui. Se quiser vir comigo, avise-me. Não era um bom dia. As sextas-feiras geralmente eram, mas hoje Eve achava praticamente impossível concentrar-se no trabalho. O dia não melhorou quando ela foi convocada para uma reunião, quando as aulas acabaram. Eles nunca faziam reuniões nas tardes de sexta-feira. Mas o semblante da diretora era pesado quando ela se uniu à equipe na sala, e Eve previu que as notícias não seriam boas. Estava certa. A Sra. Portman ouviu naquela tarde que a escola seria fundida a uma escola maior. Simplesmente não havia alunos suficientes para justificar as despesas de ser mantida aberta, e no fim do semestre seguinte a escola seria fechada. Todos ficaram surpresos e em silêncio quando a Sra. Portman terminou de falar. — Então a escola fecha na Páscoa — falou Eve, com o coração partido diante da possibilidade de ter que procurar outro emprego. — Oficialmente — concordou a Sra. Portman. — Mas é claro que não espero que vocês aguardem até lá para procurarem novas colocações. Por causa da notícia, Eve estava arrasada quando foi andando para casa mais tarde, e não estava com bom humor para responder favoravelmente quando viu o carro vindo na direção do portão. Romero estava dirigindo e Cassie estava sentada orgulhosamente ao seu lado, acenando com a mão. Não tinha ciúmes, reforçava Eve para si mesma. Nunca tivera nada de Cassie no passado e não queria nada agora. Mas gostaria que Cassie reconhecesse suas responsabilidades. O barulho do freio a tirou de seu devaneio. O carro parou e agora voltava na direção dela. Oh, Deus, eles ofereceriam carona. Uma janela foi baixada e Romero olhou para fora. — Entre — falou ele. — Vamos lhe dar uma carona até a casa. — Não é necessário — respondeu Eve retesada, e Cassandra bocejou. — Eu falei que ela diria não — declarou, em um tom entediado. Jake apertou as mandíbulas. Depois de ter passado quase todo o dia ao lado de Cassandra, não estava com bom humor para ouvi-la agora. Mas, droga, Eve não estava facilitando. Eve parecia com frio, ele pensou. Seus traços exóticos aparentavam estar pálidos diante da luz da rua, e apesar de estar vestindo um agasalho, ele não parecia substancial o suficiente para aquecê-la. Ignorando os protestos de Cassandra, ele abriu a porta e saiu do carro. — Estamos a uma boa distância da casa — falou, ciente de que Eve dera um passo para trás quando ele se aproximou. — E daí? — E daí que está frio e você parece cansada. — Puxa, obrigada. — Você sabe o que quero dizer. Acho que teve um dia difícil na escola. Eve pressionou um lábio contra o outro, imaginando por que relutava tanto para entrar no carro. Não era apenas por causa de Cassie, apesar de saber que ela a observava com um olhar frio. Eve sabia que não estaria facilitando as coisas para o seu lado aceitando a carona daquele homem. — Preciso caminhar — ela finalmente respondeu. — Pode ir. — Ela umedeceu os lábios. — Mas obrigada mesmo assim. — Eu gostaria de acreditar nisso — murmurou ele, mas não podia empurrá-la para dentro do carro. Então, ele pegou no banco traseiro um cachecol de lã que comprou em uma das milhares de lojas que visitaram. Ele agradeceu pelo cachecol ter sido útil ao aquecê-lo quando subiu nas ruínas do forte romano, mas agora não precisava mais dele. — Tome — disse, voltando para onde Eve estava e entregando o cachecol a ela. — Faça um favor a si mesma e use isso. — E como ela não respondeu nada, ele perguntou: — Nos veremos mais tarde, certo? Eve assentiu com a cabeça, mas esperou até que o carro tomasse uma distância para colocar o cachecol em volta do pescoço. Ele estava certo. Ela estava com frio. Mas era mais um frio interno do que externo. Ainda assim, o cachecol era muito macio e espesso. Infelizmente, ele também tinha um cheiro que era uma mistura de loção de barba cara com calor puramente masculino. Mas, apesar de seu receio anterior, ela enterrou o nariz no calor da roupa e, depois de re-posicionar a mochila, enfiou as mãos nos bolsos e caminhou na direção da casa. Felizmente sua avó estava sozinha na biblioteca quando Eve chegou. A Sra. Blackwood transmitiu a informação de que a Sra. Robertson havia telefonado para Newcastle e cancelado a ambulância que Eve tinha chamado. — Ela está aqui embaixo, tirando álbuns de fotografia da estante. Quando perguntei o que fazia, ela disse que estava tentando se lembrar qual era a aparência da Srta. Cassie na sua idade. — Ela... falou por quê? — Não. Acho que estava apenas sentimental com a vinda da Srta. Cassie. Mas não devia fazer tanta coisa na idade dela. — Não. Eve reconhecia o fato, mas agora, quando entrou na biblioteca e encontrou a avó olhando para o vazio, sentiu-se apreensiva. A velha senhora tinha algo em mente, e Eve esperava que não fosse nada relacionado a ela. — Olá — ela falou. — Soube que recusou-se a tirar o raio-x do tornozelo. Como está se sentindo? — Estou bem — respondeu. E então, mais gentilmente: — Acabou de chegar, querida? — Há alguns minutos — respondeu Eve, sem mencionar que já tinha ido no quarto guardar o cachecol de Jake Romero no guarda-roupa. — A Sra. Blackwood falou que a senhora passou o dia aqui embaixo. Se insiste em ignorar o conselho do médico, deveria ao menos descansar. — Só porque eu não tive aquele lindo rapaz para me ajudar? — perguntou a velha senhora, espertamente. — Eu consegui. — Ela pegou a bengala e a sacudiu. — Não sou inválida. — Ainda assim... — Ainda assim, nada. — A Sra. Robertson parecia severa agora. — Pare de resmungar, Eve. — Ela fez uma pausa. — Eu ouvi o barulho de um carro mais cedo? Isso significava que Cassie não se preocupou em ver como estava a mãe, pensou Eve, tristemente. Não se importava com ela? Ou, mais importante, não percebia que estava brincando com fogo? — Oh, acho que era o carro do Sr. Romero — ela respondeu. — Eles passaram por mim na estrada. — Então Cassie voltou? — Imagino que sim. — Eve não queria discutir o encontro que teve com eles. — Já tomou chá? — Não quis — respondeu Ellie mal-humorada. — Onde ela está agora? — Cassie? — Quem mais? — Deve ter ido lá para cima tirar o casaco — murmurou. — Logo descerá. — Pelo menos era o que esperava. E sem a companhia perturbadora de seu convidado, se tivesse bom senso. — E ele subiu também? — perguntou a Sra. Robertson, apesar de Eve saber que ela conhecia a resposta desta pergunta. — O Sr. Romero? — Pare de ser obtusa, Eve. Você sabe perfeitamente de quem estou falando. — Ela parou, encarando a neta com sagazes olhos cinza. — O que acha dele? Eve engoliu em seco para ter tempo para pensar. — Ele... parece legal. — Legal? Que tipo de resposta é essa? — A avó dela estalou a língua. — Não acha que ele é novo demais para Cassie? Ela tem 47 anos, você sabe. — Quarenta e seis — corrigiu Eve. — Pare de enrolar. Ela é ou não é velha demais para ele? — Eu... muitas mulheres se casam com homens mais novos. — Eu não falei em casamento. Por que ele se casaria se pode ter o que quer sem sequer comprar um anel para ela? Eve sentiu o estômago apertar diante da imagem que a avó dela criava, e se apressou em falar: — Desde que eles sejam felizes. Hum... quer que eu guarde essas caixas? — Você sabe o que tem dentro delas, claro? Fotografias. Seu avô adorava fotografias. Ele dizia que elas são um registro do passado. Achei que devesse mostrar algumas ao Sr. Romero. — Não! Não pode, Ellie. Isso seria malicioso, sabe disso. — Por quê? O que há de malicioso com fotografias? Ele pode se interessar em ver como Cassie era quando menina. — Não pode fazer isso. — Inclinando-se, Eve pegou algumas das caixas do chão e as colocou no armário, onde estavam anteriormente. Então, levantando-se, ela falou: — Tenho uma coisa para contar. — Sobre Cassie? Ou o Sr. Romero? — Não — falou Eve concisamente. Ela pegou mais caixas para guardar enquanto falava. — De acordo com a Sra. Portman, a escola vai fechar perto da Páscoa. — Não. — A avó dela ficou chocada, e Eve esperava que isso servisse para distrai-la dos pensamentos de constranger a filha. — Por quê? — Parte dos planos do governo. Já faz tempo que estamos com poucos alunos, e os que temos serão transferidos para outra escola. Vou ter que procurar outro emprego. — Justo quando você tinha se acomodado — exclamou Ellie curtamente. — Não vai se mudar, vai? — Até parece — respondeu Eve suavemente. — Não, agora você está presa a mim. Esta é minha casa. — Você é uma boa moça. — A Sra. Robertson cobriu a mão dela com as suas. — Uma neta melhor para mim do que eu ou Cassie poderíamos merecer. — Isso não é verdade — protestou Eve, sem desejar entrar no assunto sobre Cassie novamente. Mas antes que Ellie pudesse retrucar, o telefone tocou. Eve foi atender. Salva pelo gongo, pensou, pegando o telefone. — Alô. — Posso falar com Srta. Wilkes, posso favor? — Srta. Wilkes? — A voz da mulher não era familiar, e por um segundo Eve sentiu um branco em sua mente. Mas então ela lembrou que Wilkes era o nome que Cassie usava profissionalmente. — Oh, sim — respondeu. — Vou chamá-la. — Quem é? — perguntou Ellie quando Eve se dirigiu à porta, e ela sussurrou que era uma mulher querendo falar com a Srta. Wilkes. — Cassie! — A avó dela não fazia esforço para diminuir o tom de voz. — O que ela quer com Cassie? Eve sacudiu a cabeça inutilmente, mas não tinha tempo para responder agora. Ela subiu as escadas na direção do quarto de Cassie. Eve bateu e não obteve resposta, então tentou abrir a porta. Cassie poderia estar no banheiro e não ter ouvido, pensou, defensivamente, mas o quarto e o banheiro estavam vazios. Suspirando, ela fechou a porta novamente, ciente que só havia um lugar em que Cassie pudesse estar. No quarto de Jake Romero. E aproximar-se de lá era muito diferente. Ainda assim isso tinha que ser feito, e respirando fundo, ela caminhou pelo longo corredor até o quarto do hóspede. Sua primeira batida gerou um estridente protesto, e seu coração disparou quando ela pensou no que poderia ver quando a porta fosse aberta. Mas, para sua surpresa, ela foi aberta quase imediatamente e Jake Romero a atendeu, totalmente vestido. — Hum... tem uma ligação para... Srta. Wilkes — ela disparou, sentindo-se estúpida, particularmente quando Cassie surgiu por trás dele, passando o braço sobre o ombro dele de forma possessiva. Ela estava sem suéter e sua saia tinha uma grande fenda. — Uma ligação? Para mim? — Cassie ficou confusa. — Tem certeza? — Você é a única Srta. Wilkes aqui — respondeu Eve brevemente. — Se quiser privacidade, use o telefone do corredor. Sua mãe está na biblioteca. — Privacidade? No corredor? — Cassie zombou. — Pode acreditar nisso? — perguntou ela, virando-se para ele. — Uma casa desse tamanho e não tem telefone aqui em cima. — Certamente isso não é problema para sua mãe — retrucou Jake secamente, ciente de que a reação de Eve ao encontrá-los juntos o irritou um pouco também. — Vá lá, preciso tomar um banho. — Oh, mas estávamos... — Você estava prestes a voltar para o seu quarto — falou Jake diretamente. Ele esperou até ela sair e fechou a porta com mais força do que era necessário.
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