|
|||
CAPITULO 3CAPITULO 3
Ainda estava escuro e frio quando Jake levantou da cama. O aquecimento ainda não funcionava, e ele caminhou até a janela para observar a escuridão do lado de fora, que tinha apenas o traço prateado de uma geada sobre o contorno das árvores no pasto. Ele dormiu sozinho, para irritação de Cassandra. Sabia que uma das razões de ter sido convidado era que ela desejava que a relação deles passasse para outro estágio. Mas não tinha interesse nisso, e o fato de a mãe dela ter organizado camas separadas para eles deixava claro que ela não aprovava nenhum ato ilícito sob seu teto. Uma luz piscando no quintal chamou a atenção de Jake. Seu quarto era nos fundos da casa, e quando olhou, viu uma figura afastar-se da casa e dirigir-se aos estábulos pouco visíveis. Eve. Seu perfil alto e esguio era inconfundível. Vestindo calça jeans e um suéter volumoso e com a trança caindo sobre os ombros, ela se movimentava com uma graça inconsciente que provocava uma percepção indesejada em Jake. O que era loucura. Ela não era bonita como Cassandra. Seus traços eram muito irregulares, sua boca era larga e o nariz, longo demais. Mas tinha uma postura quase exótica que mostrava uma ancestralidade latina, e seus olhos cinza pareciam ricos em conhecimento. Ele se flagrou desejando fazê-la sorrir, desejando que ela o envolvesse com seu calor, e não àquela senhora para quem trabalhava. Não foi bem-sucedido. Ainda não, pelo menos. Por alguma razão, ela não gostou dele, e por mais que ele tentasse, não conseguia fazê-la relaxar. Ela forçou-se a ser educada com ele durante o jantar com clima tenso criado por Cassandra e sua mãe, mas ele sentiu sua desaprovação durante toda a refeição. Ele fez uma careta. Teria que agir melhor, pensou, sem entender realmente por que queria isso. Ao vestir sua calça jeans, arrepiou-se um pouco com o contato com o tecido frio. Depois, vestiu o suéter que usou na noite anterior. Jake saiu do quarto alguns minutos mais tarde. Sua jaqueta de couro estava jogada sobre os ombros. Arriscando, encaminhou-se para o corredor que ele esperava que levasse para os fundos da casa. Estava certo. Ou pelo menos parcialmente certo. Quando abriu a porta no fim do corredor, se viu na cozinha. A empregada olhou surpresa para ele, e Jake imaginou que ele seria a última pessoa que ela pensava em ver. — Sr. Romero! — ela exclamou. — Posso ajudá-lo? — É... eu ia passear — respondeu pouco convincente. — Queria sair pelos fundos da casa. — Ah. — Bem, pode vir por aqui, Sr. Romero. — Ela mostrou uma outra porta. — Mas tem certeza de que deseja sair tão cedo? Está muito frio. Jake acreditava nisso. Estava contente por ter levado a jaqueta. — Ficarei bem. — Ele sorriu e se encaminhou para a porta. Do lado de fora, descobriu que ela não estava brincando. Estava não apenas frio, mas congelante, e ele rapidamente vestiu a jaqueta. Depois, seguiu na direção em que viu Eve caminhando. Não demorou muito para chegar até os estábulos. Prédios baixos ocupavam os dois lados de uma área arredondada, e um grandioso celeiro ocupava a outra área. E foi do celeiro que ele viu uma luz irradiando. Ele duvidava que ela fosse gostar de vê-lo, mas cruzou o celeiro de qualquer forma. Eve estava colocando feno no carrinho de mão. Ela arregaçou as magas do suéter até os cotovelos e se inclinava na direção dos fardos armazenados contra a parede do celeiro, e a parte de trás de sua calça jeans expunha uma parte descoberta de sua pele, na cintura. Porém ela não parecia sentir frio. Obviamente sua atividade a mantinha aquecida. — Oi — ele falou suavemente, e teve a duvidosa satisfação de vê-la reagindo. Ele a assustou, indubitavelmente, e suas bochechas claras ficaram vermelhas. — O que está fazendo aqui? — perguntou, e mais uma vez ele percebeu a impaciência de sua voz. — Pensei em dar uma volta — ele respondeu calmamente. — O que está fazendo? Pensei que Cassandra tivesse dito que sua mãe vendeu todos os cavalos. — Todos, menos um — respondeu Eve brevemente. — Onde está Cassie? Jake deu de ombros, apoiando o ombro contra a parede do celeiro. — Acho que está dormindo — respondeu, desabotoando a jaqueta e aquecendo os dedos sob os braços. Eve apertou os dedos no cabo do garfo. Não pôde deixar de notar que, quando ele abriu a jaqueta, expôs o fato de sua calça ser surrada em todas as partes mais íntimas. O tecido se ajustava adoravelmente ao corpo dele, suave e texturizado, e ela pensou nas razões de um homem rico gostar de vestir algo tão velho. Ela mal notou o quanto o observava até que seus olhos voltaram para o rosto dele e encontraram os olhos de Jake. Ele a estava observando e, num esforço de demonstrar que não a desconcertou, ela perguntou: — Você não sabe? — Não sei o quê? — perguntou ele, inocentemente. — Não sabe onde... está Cassie? Pensei que soubesse. — O que quer dizer é que pensou que tivéssemos dormido juntos, certo? — sugeriu ele, evidentemente se divertindo com a confusão. — Bem, detesto desapontá-la, mas dormi sozinho. — Oh. — Eve engoliu em seco. — Bem... bom. — Ela virou de costas para voltar a trabalhar, usando o garfo com vigor renovado. — Preciso trabalhar. — Deixe-me ajudá-la. — Não acho boa idéia. — Por que não? — Porque você... — Ela umedeceu os lábios antes de continuar. — Este trabalho é pesado. — E? — E tenho certeza de que não quer ficar todo suado e com calor. — Fico suado e com calor o tempo todo — ele argumentou secamente. E como ele percebeu o que ela estava pensando, acrescentou: — Trabalhando com os barcos, é o que quero dizer. — Sei disso. — O rosto de Eve ardia de calor. — Certo. — O sorriso dele dizia que não acreditava nela. — Apenas não queria que tivesse a impressão errada. — Acho que é exatamente o que queria — ela respondeu, quase inaudível. Ela suspirou. — Olhe, por que não vai passear e me deixa terminar isso? — Porque quero conhecer esse cavalo para o qual trabalha tanto — replicou Jake, tirando a jaqueta e colocando-a sobre um barril de gasolina. Ele caminhou na direção dela e tomou o garfo de seus dedos sem resistência. — Não foi tão difícil, foi? — Cassie não vai gostar disso — ela avisou, e Jake virou para olhar para ela. — Você se importa? — perguntou ele, começando a colocar feno no carrinho com surpreendente energia. — Sabe, vou gostar disso. Fiquei muito tempo sentado. — Pensei que estivesse acostumado ao trabalho manual. — Estou. — Jake encheu o garfo de feno e colocou no carrinho. — Mas nas últimas seis semanas tenho viajado pela Europa para verificar pedidos, e geralmente tudo o que faço é levantar uma caneta. Eve hesitou. Queria muito saber se Cassie ia com ele, apesar não conseguir dizer por que isso a interessava. — Não tem uma assistente que possa fazer esse trabalho por você? — ela perguntou, e Jake se levantou, alongando os músculos das costas enquanto olhava para ela com os olhos apertados. — Por que não pergunta logo se Cassandra me acompanha? — ele falou. — Foi isso o que quis dizer, não foi? A mãe de Cassandra lhe incumbiu de descobrir quais são minhas intenções? — Não! E não é da minha conta saber se Cassie foi ou não com você. — Certo. — A mão dele se moveu de suas costas para roçar os músculos retos de sua barriga e a respiração de Eve acelerou quando ele acidentalmente levantou a frente do suéter e uma nuvem de pêlos pretos pularam pela fresta. Uma atração que não era bem-vinda tomou conta dela e ela virou rapidamente, quando ele falou: — Bem, se quer saber, Cassandra ficou em Londres. — Tanto faz. — Eve não virou. Dando de ombros, ela disse: — Esse feno é suficiente. Se quiser conhecer Storm, venha por aqui. Ela abriu a porta e Jake pegou a jaqueta, sentindo-se ligeiramente irritado por ela o tratar tão bruscamente. Ele abotoou a jaqueta e a seguiu para fora. Agora estava mais claro, mas ainda estava frio, e ele colocou as mãos nos bolsos da jaqueta enquanto a seguia. Storm estava na última cocheira. Ela os ouviu chegando e relinchou as boas-vindas enquanto se aproximavam. Eve pegou uma pequena maçã e deixou que Storm a tomasse de sua mão. Ela a devorou com contentamento, mostrando dentes surpreendentemente bons para sua idade. — Quantos anos ele tem? — perguntou Jake. — Ele é fêmea — respondeu ela, destrancando o portão e colocando uma corda. — E tem 28 anos. Jake se afastou para permitir que ela a levasse para fora, e Storm aproveitou a oportunidade para mordiscar a orelha dele. Ela não o mordeu. Era surpreendentemente gentil e ele viu Eve a observá-la com uma certa surpresa. — Ela parece gostar de mim — comentou ele, tentando achar graça na situação. — Desculpe. — Imagino que as mulheres geralmente gostem — retrucou Eve impetuosamente, e então ficou vermelha ao notar o que falou. — Você não — observou Jake secamente, seguindo Eve e Storm Dancer pela fila de cocheiras vazias, mas Eve não olhou para trás. — Não gosto nem desgosto de você Sr. Romero — falou ela, mas Jake podia dizer que ela não estava tão indiferente quanto tentava demonstrar. — Fico contente em ouvir isso — disse ele, enquanto eles saíam para o ar da manhã novamente. — Isso me dá esperança. — Esperança... de quê? — De que possa vir a gostar de mim. — Ele olhou para ela, permitindo que ela voltasse ao trabalho. — Aonde vamos agora? — Eu vou levar Storm para o pasto — ela respondeu. — Acho que você deve voltar para casa, pois Cassie pode procurá-lo. Ele olhou para o relógio. — Às sete e dez da manhã? Duvido. — Você saberia, claro. — Porque tenho dormido com ela? — sugeriu Jake rapidamente, e mais uma vez ele viu que a desconcertou. Mas ele também viu a forma com que ela tentava disfarçar isso. — Bem tem dormido, não tem? — perguntou ela diretamente, e em vez de sentir raiva, ele sentiu uma necessidade quase urgente de pegar o rosto dela com as palmas das mãos e beijá-la. Sua boca parecia macia e vulnerável, apesar de sua tentativa desesperada de se controlar, e ele imaginava que gosto teria. Ele já conhecia seu cheiro. Provavelmente não tomou banho antes de vir cuidar da égua e o cheiro puro de seu corpo feminino veio à tona com os suaves traços de transpiração. Ele ficou totalmente excitado, achou isso completamente sexy, mas não era uma boa sensação. Droga, chegou ali com uma mulher e agora se atraía por outra. Que tipo de animal era para ficar excitado só de estar com Eve? Qual era o seu problema? O fato de ter se recusado a vir para cá era um consolo, mas Cassandra cuspiria sangue se sequer suspeitasse que ele estava atraído pela acompanhante de sua mãe. Ela estava tentando há mais de seis meses envolvê-lo em uma relação, e foi apenas por causa de suas desculpas de estar ocupado trabalhando em toda a Europa que conseguiu se livrar de um compromisso sério. Ele gostava dela. Era uma boa companhia quando não tentava levá-lo para a cama. E ele gostava da companhia dela nas festas e nos encontros sociais para os quais era convidado quando estava em Londres. Mas isso... Era insuportável pensar nisso, e abandonando a idéia de ajudar Eve a limpar a cocheira da égua e espalhar o feno fresco, ele colocou as mãos nos bolsos traseiros da calça. — Isso faz diferença? — perguntou imparcialmente. Então, com o rosto totalmente sem expressão, acrescentou: — Mas acho que devo voltar para que ela veja que não me esqueci dela. Como se isso fosse provável, pensou Eve dolorosamente quando ele saiu da área do estábulo. Tinha a sensação de que, independentemente do que sentisse por Cassie, ela garantiria que não seria fácil esquecê-la. Desejava não tê-lo insultado agora. Apesar de saber que estava em busca de problema, havia algo em Jake Romero que a pegava de jeito. E apesar de sua determinação de não deixar que ele se aproximasse, ela gostou do jogo de sedução verbal. Gostou de ficar com ele, pensou, apertando novamente a corda de Storm com vigor. E como isso podia ser mais doentio?
|
|||
|