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CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2
Uma hora depois, Eve conseguiu escapar até seu quarto para trocar-se para o jantar. Eve fez o melhor que pôde para sair do caminho de Cassie depois que a levou até a mãe. E para sair de perto de Jacob Romero também, com seus olhar profundo e traços atraentes. Ela não sabia o que esperar de um acompanhante de Cassie. Não havia nada remotamente infantil em Jacob Romero, e desde que o vira do lado de fora, quando chegou, Eve teve um pressentimento. Provavelmente esperava um rapaz mais velho. Mas Romero era obviamente bem mais novo. Alto, com um peito musculoso e uma barriga reta que seguia até quadris estreitos, ele parecia forte e viril. Uma impressão reforçada por seus cabelos, cortados bem curtos. Ele parecia perigoso, ela pensou. Perigosamente atraente, pelo menos. E sexy, uma característica que, no caso dele, não era exagerada. Era fácil entender o que Cassie via nele. O que perturbava Eve é que ela também era capaz de enxergar isso. Ela fez uma careta diante de seu reflexo no espelho da penteadeira. Então, despiu-se e entrou no banho. Estava fantasiando, pensou. Há dez anos, se tivesse sentido os olhos de um homem sobre ela não reagiria assim. Mas naquela época era mais severa, desconfiada e malandra. Depois que veio morar com a avó, ficou mais sensível. Baixou a guarda, pois tinha idade suficiente para entender. Eve pensou no que vestiria. Não tinha nada muito interessante. Para as raras ocasiões em que saía, ganhou da avó um vestido curto de veludo preto de mangas longas. Mas não caía bem para a ocasião. Depois de muito pensar, ela colocou uma camiseta de cotton com gola V que tinha detalhes em marfim nas mangas e no decote, e cujo verde contrastava com sua pele clara. Calçando um par de sapatos sem saltos, ela saiu do quarto antes que mudasse de idéia. Watersmeet era uma casa grande, mas com o passar dos anos, Eve se acostumou. Naquela época do ano, acendiam-se as lareiras de todas as salas usadas no andar de baixo. Eve primeiro foi à cozinha para ver como a Sra. Blackwood estava lidando com a situação. — A madame não vai comer nenhum dos molhos — explicou a Sra. Blackwood, quando Eve comentou a organização. Ela falava de Cassie, Eve sabia. A avó dela não queria ingerir calorias naquele dias. Eve sorriu. — Tenho certeza de que está uma delícia — falou calorosamente. — O que temos para sobremesa? — Pudim de pão e sorvete — respondeu a Sra. Blackwood. — Sei que engorda, mas é a sobremesa favorita da Sra. Robertson. Pensei que ela merecesse algo especial, depois de ter caído. — Hum. — Eve assentiu, de acordo. O pudim de pão da Sra. Blackwood era famoso no vilarejo. — Você acha que sua avó aprovará? — Acho que ela vai adorar — garantiu Eve. — O que me faz lembrar que devo ver como ela está. — Eu não me preocuparia. — A Sra. Blackwood olhou para Eve. — Sua avó é osso duro de roer, Eve. — Espero que esteja certa. Eve se encaminhou para as escadas. Mas quando pisou no primeiro degrau, percebeu que alguém estava descendo. Olhando para cima, viu Jacob Romero descendo. Ela percebeu que ele também trocou de roupa, apesar de ter baixado o olhar rapidamente até que ele passasse. Seu suéter caramelo e sua calça preta ficariam bem em qualquer ocasião. Talvez porque tivessem sido caras. Tudo que vinha dele demonstrava riqueza, o que era a preocupação de Cassie. Não que aquele moreno atraente não fizesse diferença. Eve esperava que ele sorrisse e passasse, mas ele não o fez. Em vez disso, parou ao lado dela, e ela logo notou sua altura. Ele também estava muito mais próximo do que ela podia imaginar, e foi preciso encher-se de coragem para não dar um passo para trás. Havia um traço de humor cruel em seus olhos? Será que ele sabia o efeito que provocava nela? — Apenas gostaria de agradecer a hospitalidade — disse ele, com um sotaque evidente. Seria americano? Bem, isso só acrescentava mais um toque de sensualidade ao rapaz, e Eve não conseguiu evitar um arrepio de apreensão subindo pela espinha. — A casa não é minha — ela respondeu rapidamente, percebendo que seu tom tinha sido mais forte do que o> dele. Mas, droga, ele a desconcertava. — Você mora aqui — ele murmurou. — Cassandra falou que leciona na cidade. É uma ocupação interessante? — É um trabalho — respondeu Eve, colocando a mão firmemente sobre o corrimão e deixando claro que a conversa estava encerrada. Ele não entendeu a dica. — Então... gosta de morar aqui? — perguntou. — Parece muito... remoto. — Longe da civilização, quer dizer? — ela disparou, ciente de que estava sendo desnecessariamente rude, mas sem conseguir evitar. — Eu quis dizer que não deve ser fácil ter apenas uma velha senhora como companhia — emendou ele, secamente. Então, com um toque de humor, acrescentou: — Com quem estou brincando? Obviamente você não nos quer aqui. — Nunca falei isso. — Eve ficou surpresa por ter traído seus sentimentos de forma tão sincera. — Naturalmente, Cassie é sempre bem-vinda. Esta é a casa dela. — Sim, certo. — Ele sorriu diante do desconforto dela, os dentes brancos contrastando com sua pele morena. — Mas não é minha casa. Entendo. — Não foi o que quis dizer. — Eve o estava encarando, mas agora baixou os olhos. — Você está me entendendo mal — falou ela, concentrando o olhar abaixo da sombra da barba dele. Mas sua calça justa era perturbadora também, com o tecido colando de forma adorável em todas as linhas e em todos os ângulos da protuberância que havia entre suas pernas. Oh Deus! — Estou tentando não fazer isso — disse ele, e sua fala mansa roçou como seda a pele sensível dela. Ele estava muito perto, muito másculo, e foi preciso um esforço para lembrar onde estava indo antes deste encontro. — Preciso ir — declarou ela apressadamente, tentando passar. — A Sra. Robertson deve estar imaginando onde estou. — A senhora? — Quando os seios dela foram de encontro ao braço que ele esticou para impedi-la de passar, ela recuou em pânico. Mas tudo que ele falou foi: — Ela não está no quarto. Cassandra disse que ela insistiu em descer para jantar conosco. Eve estava tensa. Saber que Cassandra convenceu a mãe a sair da cama, quando realmente precisava descansar, só para se unir a ela e seu amante para jantar já era o bastante. Mas o que acabara de acontecer a deixou nervosa. Mas o que acontecera?, ela perguntava a si mesma. Obviamente não significou nada para ele. E ela tinha tanto medo da atenção masculina que o fato de ter roçado os seios sem querer nos braços dele virou um grande evento? Certa vez, ela teria considerado isso. Certa vez, ela teria lutado contra qualquer tentativa de aproximação e se algum homem tentasse se dana mal. Estava se sensibilizando, pensou, percebendo que ele a estava observando com um olhar estranhamente especulador em seu rosto moreno. Mas, droga, os bicos de seus seios ainda estavam duros e retesados, e o contato inesperado com o corpo dele provocou uma perturbadora onda de calor em seu corpo. Sacudindo a cabeça, como se esse simples ato pudesse acabar com sua confusão, ela perguntou: — Onda ela está? Minha... quero dizer, a Sra. Robertson? — A sua Sra. Robertson está na biblioteca — respondeu Jacob Romero, apesar das circunstâncias. As sobrancelhas dele se uniram acima do nariz reto. — Você está bem? — Por que não estaria? — exclamou, conseguindo soar surpresa pela pergunta. — Se me der licença, vou ver se ela precisa de algo. Se pensava que fosse escapar dele, frustrou-se. Ele a acompanhou até a biblioteca. A avó de Eve estava sentada na poltrona e um banco apoiava seu pé machucado. Apesar de Eve achar que ela parecia cansada, estava segurando uma taça de vinho tinto. Cassie também estava lá, ocupando a cadeira oposta. Alguém puxara outra cadeira para o lado de Cassie, obviamente para Jacob Romero sentar, pensou Eve. O que significava que ela deveria sentar-se no banco que sobrou. — Sirva-se de vinho, querida — sugeriu Ellie, quando Eve sentou-se, mas Jacob Romero interveio. — Eu sirvo para você — disse ele, indicando a cadeira ao lado de Cassie. — E sente-se ali. — Obrigada — falou, e ignorando a irritação emanada pela mulher ao seu lado, virou-se para Ellie. — Como se sente? — Sinto-me bem melhor esta noite — declarou Ellie, apesar de estar pálida. — Não me olhe com tanta desaprovação, Eve. Eu não desci sozinha. O Sr. Romero me carregou. Eve olhou para ele com admiração. Sua avó não era leve, ele devia estar em forma para tê-la carregado lá de cima. — Isso foi... gentil de sua parte — murmurou ela, pouco convincente, aceitando a taça de vinho que ele oferecera. Mas agora sabia que Cassie estava envaidecida. — Jake é extremamente forte — falou ela, sorrindo para ele de forma calorosa e íntima. A língua dela circulou o lábio superior em um gesto deliberada-mente sensual, quando ele parou ao lado de Ellie. — Creio que seja porque se exercita muito. — Minha família é dona de uma empresa de embarcações em San Felipe — argumentou ele. — Eu transporto mastros e iço velas desde criança, então levantar um peso-pena como a senhora, Sra. Robertson, não foi nada. — San Felipe? — murmurou Ellie, repetindo o nome, enquanto Eve absorvia o fato de que ele não era americano. — Espanha? — É uma ilha no Caribe — ele respondeu, e Eve imediatamente imaginou as areias, o mar azul e as palmeiras. Não era à toa que ele era tão bronzeado. — A família de Jake é dona da ilha — observou Cassie com presunção. — Jake dirige a empresa. — Que interessante. — Eve estava contente de ver que a avó não ficou radiante por essa declaração de riqueza ilimitada. — Então, o que faz na Inglaterra, Sr. Romero? Pensei que essa fosse a época do ano em que a maioria das pessoas visitasse o Caribe. — É, claro. Entretanto, sou obrigado a passar pelo menos parte do ano na Europa. — Jake tem interesses comerciais em quase todo o mundo. Nos conhecemos ano passado na exposição Paris Boat Show, não foi, querido? — Nunca pensei que você se interessasse por barcos, Cassie — observou Ellie. — Cassandra era uma das hostess da exposição — falou Romero. — Era muito boa nisso também. — Era apenas um bico — protestou Cassie. — Normalmente não faço esse tipo de coisa. — Não? — Sua mãe de repente percebeu que tinha o controle. — Lembre-me, Cassie: qual foi o último papel que representou? Eve agora estava na desconfortável situação de sentir-se constrangida por ela, e com uma inesperada compaixão falou: — Você teve um papel na refilmagem de Orgulho e preconceito, não teve, Cassie? Acho que representou uma das irmãs Bennett. — Você sabe que não representei uma das irmãs Bennett — sibilou Cassie, olhando para Eve intensamente, mas sua mãe apenas sorriu. — Sra. Bennett, talvez? — sugeriu ela, aproveitando o momento. — Provavelmente você não seria escalada para ser a ingênua. — E você e o Sr. Romero passaram muito tempo em Paris, Cassie? — Eve perguntou rapidamente, percebendo que a avó não estava pensando em recuar. — Apenas alguns dias — respondeu. — Mas Jake prometeu me procurar quando fosse a Londres novamente — acrescentou, olhando para ele de forma clemente. — E isso foi há seis meses, não foi, querido? — Algo assim. — Eve notou que Romero não respondia às freqüentes adulações de Cassie. Mas ela ficou surpresa quando ele virou para ela. — E meu nome é Jake. Ou Jacob, se preferir. — Sim. — Ciente de que todos os olhares se voltaram para ela, Eve foi forçada a ser gentil. — Sim, tudo bem. — Então, desviando o olhar do rosto perturbador dele, virou-se para a avó. — Verei como anda a Sra. Blackwood. Deseja alguma coisa? — Sim, pode me dar uma bebida — respondeu Cassie, segurando o copo, quando Eve se levantou. — Quero whisky, se tiver. Sua escolha de vinho não combina comigo. — E suas maneiras não combinam com as minhas, Cassie — retrucou Ellie. Havia um clima ameaçador se instalando na sala, e Eve sentiu-se apreensiva com o que a avó diria em seguida. — Não sou criança, mamãe. — Todos notaram a ironia quando ela falou "mamãe". — E não gosto de vinho tinto. — Esqueci — declarou a mãe dela afavelmente. — Suas visitas são tão raras, Cassie. Cassie apertou os lábios. Devia saber melhor do que ninguém que não seria inteligente enfrentar a mãe na presença de um estranho. Especialmente se o hóspede fosse alguém que quisesse impressionar. Na esperança de evitar qualquer discussão mais, Eve colocou o copo vazio de Cassie na bandeja. Então, virando de costas para a sala, procurou uma garrafa de whisky. — Desculpe, mas parece que não tem whisky, Cassie. Acho que tem uma garrafa nova na cozinha. Por que não vem pegar? Cassie olhou para ela com um olhar nada amigável. Eve sabia que sua frase a incomodara, mas ela apenas pediu licença a Romero e saiu. Ela esperou até a porta ser firmemente fechada para que pudesse falar. Mas quando falou, foi completamente áspera e acusatória. — O que pensa que está fazendo? — perguntou. — Vi a garrafa de whisky na bandeja quando a Sra. Blackwood serviu o maldito vinho. Não pense que não vi você escondendo a garrafa no armário. — Eu devia saber que nada do que faço a agrada — respondeu brevemente. — E cá estou eu, pensando que estava salvando sua pele! — O que quer dizer? — Está falando sério? — Eve a fitou. — Não percebe que a sua mãe está apenas esperando uma chance para detonar esse mito que você criou sobre você? — Com sua conivência, sem dúvida. — Se é o que quer pensar, não posso impedir. — O que mais devo pensar? Ela não diria nada. Diria? — Se você continuar a atormentá-la, não sei o que pode dizer — respondeu Eve honestamente. — Mas ela está me atormentando! — Cassie parecia frustrada. — Devo aceitar tudo que ela diz sem me defender? Eve se movimentou na direção da cozinha. — Não posso responder. Creio que isso dependa do quanto deseje que seu... hóspede... saiba. Cassie apertou a boca. — Está me ameaçando? — Não! — O olhar que Eve lançou sobre os ombros foi incrédulo. — Por que deveria ameaçá-la? Não me importo com o que faz, me importo? A forma com que conduz sua vida não significa nada para mim. — A pequena Sita. Pureza — falou ela, com desdém. — Imagino se a mamãe conhece o tipo de vida que você levava antes de ela chegar como uma fada-madrinha para levá-la embora. — Ela conhece — falou Eve, e sem querer saber se Cassie a seguiria, entrou na cozinha. — Conhece? — Cassie a seguiu, evidentemente decidindo que se não poderia atormentar a mãe, atormentaria Eve. — Bem, não fale comigo como se fosse uma pessoa virtuosa! Nós duas sabemos que faria tudo para ter um homem como Jake para bancá-la. Eve engasgou. Cassie tinha ido longe demais. — Está errada — disparou ela. — Nunca me prostituí para ficar com nenhum homem Cassie. E a menos que esteja preparada para eu contar todas as sujeiras que já fez, sugiro que pare por aí!
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