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A paixão de Piers por Abby, sua secretária, foi tão violenta que em pouco tempo eram marido e mulher. Abby estava no céu. Mas aquela felicidade acabou num piscar de olhos: os preconceitos da aristocrática famíl



 

 

Capítulo I

Ao voltarem para o apartamento, duas cartas a esperavam na caixa do correio. O dia fora terrível. Primeiro, estourara a bomba de que a Companhia Boume Electronics ia fechar as portas. Depois, aquela convocação do professor de Matthew para que ela comparecesse à escola, após a aula; e agora, aquelas duas cartas, enviadas de Rothside, que traziam a Abby recordações que preferia esquecer.

Matthew a seguiu até a acanhada sala de estar do apartamento, lançando um olhar furtivo para os dois envelopes que ela segurava, antes de atirar-se displicentemente sobre o sofá.

Era um menino muito desenvolvido para a idade. Já tinha quase a altura da mãe. o que dificultava ainda mais fazer-lhe uma reprímenda.

Mas, naquele momento, Abby estava mais preocupada com o conteúdo da carta de Piers, que há anos não lhe escrevia, do que com as últimas novidades da tumultuada vida escolar do filho.

Matfhew era uma criança problemática, ou, pelo menos, era o que parecia nos últimos dois anos. Abby começava a perder a confiança em sua capacidade de controlá-lo.

Nem sempre fora assim. Durante dez anos, eles tinham sido muito chegados, e se enlendiam às mil maravilhas. Mas quando o garoto descobrira que Piers, seu pai, ainda estava vivo, e não morto, conforme a mãe lhe contara desde pequeno, as coisas tinham se complicado.

Abby tentara justificar-se, explicando que mentira para poupá-lo do senti­mento de rejeição que ele sofria agora, mas Matthew não lhe dera ouvidos.

Ao saber que na realidade a mãe se separara do pai. antes mesmo dele nascer, não quis mais aceitar qualquer argumentação, e atribuía-lhe toda a culpada separação.

De início. Abby preferiu deixar o barco correr, sem forçar a barra, na esperança de que, com o passar do tempo, Matthew compreendesse suas razões. Suas previsões, porém, estavam erradas. O tempo piorara ainda mais a situação, e até o comportamento de Matthew no colégio vinha se agravando desde então.

Matthew agora estava ameaçado de expulsão da escola, caso não parasse de cabular as aulas. Mas até mesmo este grave problema passarapara segundo plano diante daquela carta imprevista.

Piers nunca escrevia. De vez em quando, ela recebia notícias dele, através de sua tia Hannab. Desde sua última visita, quando ela ainda eslava na maternidade, por ocasião do nascimento de Matthew, Piers nunca mais dera sinal de vida. E era por isso que os dedos de Abby tremiam ao abrirem o envelope.

Era curioso como ela conseguia reconhecer a caligrafia do ex.-marido, depois de tantos anos. Taivez fosse graças às horas intermináveis que, no passado, passara datilografando seus incontáveis rascunhos.

Até que Abby gostava de ir todas as manhãs à mansão da fazenda, para trabalhar na elegante e luxuosa biblioteca. Todas as moças da região a invejavam por ela secretariar Piers Roth, o galã mais cobiçado das redondezas de Rothside e Alnbury. Fora uma verdadeira glória ter conseguido aquela colocação, entre tantas candidatas. E quando Piers começou a demonstrar que se sentia atraído por ela, Abby teve a impressão de estar sendo a protagonista de uma novela romântica e maravilhosa, em que ambos se apaixonavam, casavam e viviam felizes para sempre.

Desdobrou o papel da carta e viu impresso nele o nome e endereço do remetente.

"Cara Abby..."

- De quem é? quis saber Matthew, curioso, esparramando-se no sofá. Aquele cabelo cortado tão rente a fez lembrar de uma foto que vira de um prisioneiro de um campo de concentração.

Talvez ele tivesse percebido o tremor de suas mãos, e Abby foi para perto da janela, fingindo precisar de mais luz para ler.

- Não me distraia, disse, sem disposição de enfrentar uma nova discussão.

Matthew conformou-se e começou a apertar os cordões das botas.

"Cara Abby", tornou a ler, soltando um suspiro, "Talvez não lhe surpreenda muito saber que eu decidi me divorciar."

Divórcio! Ela não só ficou surpresa, mas pasmada. Sem qualquer razão plausível, Abby sempre pensara que Piers nunca iria se divorciar dela. Talvez, inconscientemente, alimentara a esperança de que um dia toda aquela horrível confusão seria esclarecida. E que Piers iria acreditar na sua verdade. Mas agora via que estivera errada, e aquelas palavras a abalavam profundamente.

Continuou a ler:

"Estou cientie de que, diante das circunstâncias, eu não teria necessidade de informá-la sobre minhas intenções, mas quis que soubesse que não lhe guardo mais rancor. O que foi feito, foi feito. Você era jovem demais para a responsabilidade de um casamento, e eu era suficientemente adulto para saber disso."

Os dentes de Abby mordiam nervosamente os lábios, mas ela forçou-se a terminar a leitura.

"'Espero que você e o garoto estejam bem. Comunico-lhe que em breve você será procurada pelos meus advogados". Seguiam-se as despedidas de praxe e a assintura: "Roth".

Somente Roth, pensou Abby com amargura, dobrando a folha. Nem Piers ou pelo menos, Piers Roth. Parecia que ele assinara uma carta comercial. Os músculos de seu rosto chegaram a latejar, mas só por um instante, pois logo conseguiu controlar suas emoções.

E daí'?, perguntou-se. Que grande diferença fazia isso? Ela poderia continuar a chamar-se sra. Roth. Então, por que sentia-se tão abalada?

- E então?

Tinha até se esquecido de Matthew. mas ao ouvi-lo, lançou-lhe um olhar por cima dos ombros.

- Nada. Nada de importante e recolocou a carta dentro do envelope. - Oh, esta aqui é da tia Hannah!

- Ela também é minha tia, não é? Matthew ergueu-se no sofá. Porque nunca fui visitá-la? Fez uma careta. Oh. nem precisa dizer. Já sei. É porque ela mora em Northumberland e não vale a pena fazer uma viagem tão longa só para ir vê-la, ele sorriu forçado. O que você quer dizer, na verdade, é que meu pai também mora lá. e você tem medo de encontrá-lo.

- Não!

As faces de Abby ficaram rubras. Sabia que Matthew nunca acreditaria nela, mesmo se lhe contasse toda a verdade, pois estava convencido de que ela o privara da companhia do pai, fugindode caso pensado, para Londres.

Voltando a dar atenção a carta de tia Hannah, Abby passou uma vista d'olhos por aquela letra miúda e insegura. O texto era bem mais sucinto do que habitualmente. Só ocupava uma página, em vez da meia dúzia de folhas que tia Hannah costumava enviar. Suas cartas eram quase sempre extensas, e descreviam minuciosamente o menor incidente que ocorresse, em Rothside. Era uma consequência da sua própria solidão, e Abby queria convencer-se de que lia aqueles calhamaços só para agradar a velha senhora, mas o fato é que ela adorava cada palavra.

Hannah Caldwell não era na verdade tia de sua mãe. Mas quando esta morrera, ao dar a luz a um prematuro, ela levara Abby consigo para Rothside. O pai de Abby ficara tão transtornado com a morte da esposa que vendeu a casa que possuíam em Newcastle e mudou-se para a Escócia, indo trabalhar em Aberdeen.

Ficara combinado com tia Hannah que tão logo ele encontrasse uma moradia adequada e conseguisse uma empregada doméstica, Abby se mudaria para lá. Mas isso nunca aconteceu.

Lawrence Charlton acabou morrendo afogado num acidente marítimo, poucas semanas após sua chegada, e o lar provisório de tia Hannah ficou sendo definitivo.

À medida que lia a carta da tia, aumentava a apreensão de Abby. Ela contava que sofrera um ataque cardíaco há questão de uns dez dias. - "você entende, não foi nada sério, mas serve como lembrete de que já não sou mais tão jovem como antes", escrevera.

Abby ficou pensativa.Quantos anos teria agora tia Hannah? Oitenta e dois, oitenta e três? Refletiu que a tia estava velha demais para morar sozinha naquela casa de campo, principalmente agora que estava com o coração enfraquecido.

"O sr. Willis quer que eu me transfira para Rosemount", continuava a carta -"Mas eu lhe disse que só saio daqui carregada numa maca. Essa é a solução que esses jovens médicos encontram hoje em dia: jogar velhos nos asilos, como se fossem gado. Não quero ir viver com uma turma de velhos caducos. Gosto de estar cercada de gente jovem. Meu maior desejo é que você e Matthew viessem morar mais perto de mim. Sinto muito a sua falta. Abby."

A consciência de Abby doeu. Fora duro para tia Hannah quando ela casara com Piers, com somente dezoito anos. Mas, pelo menos naquela época, ela acreditava que a sobrinha ia ser feliz. E quando Abby deixara Rothside. menos de um ano depois, tia Hannah sofreu muito, arrependendo-se de ter deixado que tudo aquilo acontecesse.

De início.quando Matthew era ainda um bebé. a tia fora até Londres conhecer o sobrinho-bisneto, mas as despesas de viagem e a idade avançada impediram que ela voltasse mais vezes. Já tinham se passado dez anos desde aquele encontro, e apesar de Abby manter uma correspondência assídua, não era a mesma coisa que verem-se pessoalmente.

E agora mais aquela: tia Hannah tivera um ataque cardíaco, e Abby não soubera de nada até ser informada pela própria tia. Afinal, ela era sua única parente e Abby tinha-lhe uma dívida de gratidão.

Respirou fundo e leu as últimas linhas:

"Sem dúvida você já deve estar sabendo que Piers tem intenção de casar novamente." Abby pestanejou. O divórcio!

"Ele veio visitar-me há poucos dias, a tia prosseguia, - "Acho que foi o dr. Willis quem lhe contou sobre o meu pequeno distúrbio. Ele hegou, muito amável e solícito, com uma cesta cheia de frutas e ovos frescos da fazenda. Disse-lhe que não devia ter-se incomodado, más ele grantiu que não era incómodo algum.

Desconfio que pretendia me amansar, antes que a notícia chegasse aos meus ouvidos. A eleita é Valerie Langton, naturalmente. Você deve se lembrar dela. pois já lhe contei que os Langton compraram a fazenda de Ben Armsírong quando ele se aposentou. Eia é engraçadinha, e não deve ter mais do que uns vime e três, vinte e quatro anos.

E tem chances de tornar-se a futura sra. Roth,. já que gosta de caçadas e dedica-se a obras de caridade. Bem, minha querida, não me sinto com forças para prolongar esta carta. Escreva logo. Você sabe o quanto anseio pelas suas notícias. Com todo o meu carinho..."

Abby estava arquejante quando repôs a carta da tia no envelope. Quer dizer que Piers queria o divórcio para poder casar de novo? Abby não pôde evitar que uma onda de ressentimento lhe invadisse a alma. Como ele podia fazer uma coisa dessas? Como?

Certa de que Matlhew ainda a observava, simulou um comportamento natural.

- Tia Hannah sofreu um enfarte, informou. - O médico acha que ela não deve mais morar sozinha, na sua idade, e eu estou de acordo.

Matthew franziu a testa.

- Então, porque ela não vem morar conosco? perguntou, muito prático.

Abby soltou um longo suspiro.

- Porque ela não vai querer deixar sua casa, e, além disso, eu não tenho condições financeiras para hospedá-la. A Boume Electronics vai fechar, e ao menos por um mês ficarei sem emprego, até conseguir outro. Matthew arregalou os olhos.

- E o que você vai fazer?

- Não sei,

Abby ainda não tivera tempo de meditar sobre seus problemas, que não eram poucos. O que faria? Aquele apartamento, apesar de pequeno, tinha um aluguel exorbitante. Qualquer corte na renda traria dificuldades. O pagamento mensal da firma era-lhe indispensável para fazer frente às despesas de manutenção. Havia contas de luz e gás, a escola de Matthew. e uma verba para poder apresentar-se decentemente vestida em sua função de secretária.

Quanto à comida, ela não se incomodava em pagar o alto custo dos jantares de Matthew no colégio, pois. pelo menos, tinha certeza de que ele ficava bem alimentado. Abby era de comer pouco. Graças a isso, conservava-se tão esbelta quanto nos tempos de escola.

Trevor até lhe tinha dito que ela nem parecia mãe de um filho da idade de Matthew, mas Abby desconfiava dos elogios dele. Trevor era parcial, e por mais que ele afirmasse o contrário. Abby estava convencida de que envelhecera bastante nos últimos dois anos.

Olhou para o filho com ansiedade. O que fariam? Como reagiria Matthew quando não houvesse dinheiro para a sua mesada?

- Você vai arrumar outro emprego?

O garoto parecia seriamente preocupado, e Abby apressou-se em tranquilizá-io.

- Se Deus quiser! Vou ter que arrumar, não é? Afinal, se não sou eu, quem põe dinheiro nesta casa?

Matthew pareceu ofendido.

- Gostaria de já ter idade suficiente para poder trabalhar, mas ainda faltam quatro anos! Não é justo!

Abby não respondeu, e foi para a pequena cozinha que dava para a saleta. Ainda por cima, precisava encarar a possibilidade de Matthew parar de estudar aos dezesseis anos. Outrora, tivera confiança de que o filho se sairia bem nos exames finais e conquistaria uma bolsa de estudos para a Universidade. Mas agora perdera as esperanças. Mesmo que tivesse dinheiro suficiente para lhe financiar os estudos universitários, Matthew não demonstrava qualquer interesse em aprender.

A turminha com quem ele andava só não tinha ainda ido parar na delegacia de Polícia. De resto, aprontavam horrores! Abby imaginou o que poderia acontecer quando o menino não estivesse mais na escola.

Não queria que o filho se tornasse um marginal, nem pretendia que fosse o sustentáculo da casa. Tudo o que desejava era que eie fosse um garofo normal, que a respeitasse, assim como ela o respeitava, e não passasse o resto de seus dias acusando-a de ter-lhe arruinado a vida.

Poucos dias mais tarde, Abby estava no escritório, arquivando a correspondência, quando o telefone tocou. Ao atender, a telefonista avisou que a chamada era para ela. Rezou para que não fosse novamente aquele professor de Matthew. Mas foi uma voz masculina desconhecida que faiou do outro lado da linha.

- É a sra. Roth? Aqui quem fala é Sean Willis, o médico da sra. Caldwell.

Abby sentiu a boca seca.

- Não me diga que...

- Não, não há com que preocupar-se, sra. Roth. Ao menos por enquanto.

- Como assim? - Abby não estava entendendo direito.

- Acho que não estou sendo claro, sra. Roth. Na verdade, a razão principal do meu telefonema é que a sra. Caldwell me contou que a senhora é sua única parente. Estou certo?

A única parente... Abby tentava se recuperar do susto, pois no primeiro instante pensara que o dr. Willis ia comunicar-lhe a morte da tia.

- Oh. sim, acho que sou, ela confirmou.- Por quê? Há algo de errado com ela? Em que posso ser útil?

- Minha esperança é que a senhora possa ajudar-me a convencer sua tia a deixar Ivy Cottage, disse o médico. Como deve saber, ela mora lá sozinha e recentemente teve um ataque cardíaco.

- Sei disso. Ela me escreveu, contando.

- Ainda bem. Assim, a senhora pode entender melhor que é uma tolice sua tia insistir em ficar lá. Santo Deus! Ela já tem mais de oitenta anos! Pode ter outro ataque a qualquer momento.

- Está querendo me dizer que tia Hannah precisaria ser internada num hospital?

- Não digo num hospital, mas numa casa de repouso, como Rosemont. Não sei se conhece, mas é uma casa residencial bastante agradável.

- ... para gente velha, completou Abby, secamente. Sim, eu sei. Tia Hannah também me contou sobre isso. Mas receio que ela não queira ir para lá.

O dr. Willis soltou um suspiro audível.

- Se a senhora tem afeição pela sua tia, sra. Roth, vai compreender como é importante que ela fique sob constante vigilância. Se ela tiver outra crise...

- Posso fazer uma ideia da situação, doutor, disse Abby, desconsolada. Só não vejo no que posso ajudar.

- Entre em contato com ela. Tente persuadi-la de que isso é para o seu próprio benefício. Quem sabe possa convencê-la,

- Pode ser que não.

- Mas. ao menos, vai tentar?

- Claro, hesitou, antes de perguntar. Ela não está em perigo de vida. está?

- O único perigo é a teimosia dela, retorquiu o dr. Willis. – Eu entrego o caso nas suas mãos. sra. Roth.

Aquele problema ocupou-lhe a cabeça pelo resto do dia, mas no começo da noite. Abby já chegara a uma conclusão. Teria que ir pessoalmente a Rothside. Não iria resolver aquele assunto por carta, e já era tempo de parar de fugir do passado.

Tomou todas as informações sobre horários de trens e ônibus interestaduais. Era um trajeto longo demais para ser feito em apenas um fim-de-se mana, mas não podia deixar de ir. Nunca se perdoaria se acontecesse alguma coisa a tia Hannah sem que ela tivesse tentado ajudar.

Nem quis pensar na hipótese de reencontrar Piers. Mas não via possibilidade de tornar a vê-lo. Afinal, iria passar apenas 24 horas em Rothside. Por que ficar, tão apreensiva? O divórcio era apenas uma formalidade, conforme ele mesmo afirmara, Há doze anos não se comunicavam. Eram praticamente dois estranhos. Talvez ele sequer a reconhecesse, se a visse.

Ao chegar ao apartamento, começou a planejar o que levaria na viagem. Matthew já tinha voltado da escola e assistia televisão. Respondeu ao seu cumprimento com um grunhido, e ela foi guardar as compras do supermercado na cozinha, antes de começar a falar.

- Você se lembra do que andei comentando a respeito de tia Hannah? disse enquanto esperava que os pães de queijo que pusera no forno assassem. Lembra-se que ela leve um enfarte?

- Hum.

Entretido com o desenho animado, Matthew não lhe dera maior atenção.

- Matthew! chamou-o impaciente.

- Estou ouvindo...

- Bom. Fez uma pausa para encontrar as palavras certas. Estive pensando em ir para Rothside neste fim de semana para visitá-la.

- Hum........ O que? Finalmente ele se interessou. Você está dizendo que vamos para Northumoeriand'?

- Sim. para Rothside, em Northumberland.

- Oba! Há anos que Abby não o via tão entusiasmado. Verdade mesmo?

- Verdade!

Abby pasmou-se com aquela reação. Esperava que ele começasse a reclamar porque, com a viagem, iria perder o primeiro turno do campeonato de futebol.

- Que legal! ele exclamou, todo sorridente.

- Então não se importa?

- Eu não! Vamos num daqueles trens expressos?

- Provavelmente. Abby sentiu-se aliviada. E depois, iremos de ônibus, de Newcastle até Alnbury.

- Ainbury? Onde é isso?

- Oh. é uma cidadezinha a uns oito quilómetros da casa da tia. Onde eu frequentava a escola, quando era criança. Agora vá pondo a mesa para o lanche, Matt. Os pãezinhos de queijo já estão cheirando, e não quero que queimem.

Abby reservou passagens para o trem das dezessete e trinta, na sexta-fcira. Combinou de apanhar Matthew no colégio às dezesseis. o que lhe daria tempo suficiente para chegar à estação dentro do horário,

- Veja se não se suja muito, Abby recomendou, quando ele saiu para o colégio naquela manhã, trajando, todo pomposo, seu melhor uniforme.

Desde que soubera da viagem. Mathew mudara de atitude. Quem sabe resolvera superar seus rancores, pensou ela. a caminho do escritório. Trevor Boume, seu chefe, concordara que ela saísse mais cedo.

- Eu estava pensando que você ia sair antes para comparecer a alguma entrevista numa nova firma, disse ele, lamuriento. Sei que você faz muita questão de continuar independente, não é?

Abby sorriu.

- Se você se refere àquilo que estou pensando, então é verdade, faço muita questão de minha independência. Não daria certo, Trevor. Você ficou solteirão tempo demais.

Para seu alívio, Trevor deixou passar aquela observação sem maiores comentários. Periodicamente, ele tentava aprofundar o relacionamento deles, mas Abby sempre lhe opunha resistência. Gostava dele. Gostava de trabalhar para ele, E só. Não que fosse uma mulher frígida. Muito pelo contrário. Havia ocasiões em que seu corpo desejava uma aproximação mais íntima com alguém. Mas Matthew era o seu freio.

Matthew já estava à espera, quando ela chegou à escola. O blazer estava um pouco empoeirado, mas felizmente, fazia bom tempo e o uniforme não estava salpicado de lama como era hábito.

O garoto fez questão de carregar a mala que a mãe levava, e Abby sentiu-se protegida ao tomarem o ônibus para a estação ferroviária. Mattew sabia ser amável e atencioso quando queria. Seria tão bom se ele fosse sempre assim!

O trem partiu dentro do horário. Havia um restaurante num dos vagões, mas Abby trouxera sanduíches que Matthew devorou, contente da vida. mal o trem saiu dos subúrbios de Londres.

Depois de comer, o menino começou a ficar indócil e pediu licença para dar um giro pelos vagões. Percebendo sua ansiedade, Abby deu-lhe permissão.

Na ausência do filho, abriu o estojo de pó compacto e olhou-se no espelhinho.

Teria mudado muito? Doze anos era muito tempo. Já não tinha mais dezoito anos. Estava beirando os trinta e já não tinha mais a expressão inocente da juventude. Ela mudara sob vários aspectos, que um simples espelho não podia revelar.

Seus olhos verdes, sombreados por espessas pestanas, pareciam ter perdido o brilho, e ela dava-se por feliz por seu cabelo ser loiro-claro, que disfarçava bem os fios grisalhos. A cútis ainda era boa e lisa. mas nada disso podia alterar o fato de que ela agora era uma mulher feita,e não mais a adolescente que casara com Píers Roth.

Mathew voltou do passeio pelo trem e seu rosto magro, agora iluminado peia luz artificial, o fazia assemelhar-se ao pai.

- Abri as portas que dão para as plataformas e fui olhar lá fora, ele explicou.

Já tinham passado por vários trechos familiares do lugarejo, e rever aquele panorama que ela conhecia tão bem mexia com seus nervos. O menino percebeu o nervosismo da mãe.

- Não tem perigo, só queria ver a locomotiva, mas a porta de comunicação estava trancada.

- Oh, Matl!

- É que eu nunca viajei num trem a diesel, e queria conhecer o maquinismo para poder contar aos caras lá da escola.

- "Os caras!" Abby sacudiu a cabeça. Você não está querendo referir-se aos seus colegas?

Maitew sorriu.

- Okey. meus colegas, repetiu, bem humorado, e Abby pensou em como ele podia ser simpático, quando não era agressivo.

- Você está pálida. Eslá preocupada com tia Hannah?

- Bem... estou preocupada, mas não sabia que demonstrava. Estou parecendo uma velha decrépita, não é? Devo estar, pois até andei imaginando se ela vai me reconhecer.

- Por que diz isso?

- Ora, por quê! Faz dez anos que ela não me vê, Matt.

- E daí? Você não está nada vefha.

- Obrigada.

- Por falar nisso, outro dia um dos formandos me perguntou se você era minha irmã, disse Matthew, com uma certa relutância. Quando lhe contei que era minha mãe ele disse que você devia ser uma menina de escola quando me teve. Eu lhe dei um soco no meio da cara!

- Oh, Matt! - Abby ficou chocada, e ao mesmo tempo lisonjeada.

- É que... bem... - Matt continuou. - Ele estava insinuando que eu não tinha pai. Que eu era um bastardo!

- Matt! Nunca mais repita essa palavra!

- Mas é verdade. Ninguém acredita quando digo que meus pais são separados. Eles pensam que você é mãe solteira.

- Mas nós dois sabemos que não é verdade.

- Sabemos mesmo?

A fisionomia de Matt ficou sombria, mas logo ele forçou um sorriso, como se não quisesse estragar o prazer daquela viagem. Olhou pela janela e perguntou:

- Onde estamos? Já chegamos a Newcastle?

Seguindo o exemplo do filho, Abby deixou de lado os próprios dissabores e respondeu:

- Não. Estamos em Darlington. Ainda temos que passar por Durham e só depois vem Newcastle.

- A que horas chegaremos em Alnbury? Tia Hannah sabe da nossa chegada?

- Assim espero. Escrevi ontem, avisando. Não quis mandar um telegrama para não assustá-la. Pessoas idosas sempre associam telegramas a desgraças, respirou fundo. Foi um telegrama que anunciou a morte de meu pai.

- O avõ Charlton?

- Pois é... Tia Hannah foi tão bondosa comigo. Nunca poderei retribuir tanta dedicação.

- E a que horas vamos chegar? - insistiu o garoto.

- Se tudo der certo, lá pelas dez da noite.

- Não é muito tarde, para uma velha da idade dela? - perguntou Matthew, e Abby foi obrigada a dar-lhe razão.

Desembarcaram na estação de Newcastle quase na hora de tomarem o ônibus das nove. Abby estava se afobando com as malas, e Matlhew interveio.

- Calma! Deve haver outro ônibus às nove e meia.

- Não tenho tanta certeza, e... - calou-se ao ver um homem parado junto a grade divisória da plataforma. Alto e magro, com as faces morenas encovadas, os cabelos escuros, quase magros, era uma figura inconfundível. Mudara um pouco. Estava mais velho e mais corpulento, mas ela o reconheceu no mesmo instante. Sua imagem estava gravada profundamente em sua memória. Estancou o passo e Matthew também parou, olhando-a com impaciência.

- Mamãe.

- Espere um segundo.

Fingiu que estava procurando alguma coisa na bolsa, mas nada podia alterar o fato de ele estar ali à espera de ambos. Tia Hannah não devia ter feito uma coisa dessas, pensou, contrariada. Ela não estava preparada para aquele encontro. A última coisa que podia lhe passar pela cabeça era a possibilidade de tornar a vé-lo naquela noite. Olhou para Matthew, ansiosa, imaginando qual ia ser a reação dele.

- O que foi? Não está se sentindo bem? perguntou o garoto. São quase nove horas. Você não fazia tanta questão de apanhar esse ônibus?

Abby não sabia o que dizer.

- É que.., bem... acho que. afinal, não vamos mais precisar tomar esse ônibus - disse, confusa.

Maithew não entendeu, e antes que ela pudesse jusiificar-se, a!go aconteceu, fazendo com que o coração de Abby quase parasse.

Piers estava sorrindo para alguém que acabava de desembarcar de um dos vagões da primeira classe. Era uma moça do tipo mignon, muito graciosa e feminina. Apesar da temperatura amena, trazia sobre os ombros um casaco de peles.

Valeríe Langton?

Abby tentou controlar aquela sensação de fraqueza que antecede um desmaio. Matthew olhou para ela e para a divisória da plataforma, duas ou três vezes.

- Mamãe... o que houve? Quem é aquele homem? O que ele está fazendo ali parado? Você o conhece?

Abby molhou os lábios ressequidos com a ponta da língua.

- Oh, eu... eu pensei que conhecesse - disse tentando se recompor. Como a noite está quente! Estou morrendo de calor!

- Pois não está com cara de quem está com calor, disse Matthew. passando ambas as malas para uma das mãos e segurando-a pelo cotovelo.

- Você está branca como uma cera, reparou, começando a empurrá-la para a borboleta da saída.

- Oh, espere! - A moça de casaco de peles estava agora junto à grade, conversando com Piers. Não é mais preciso tanta pressa. Matt. Não vamos conseguir pegar esse ònibus.

- Essa eu não entendi! exclamou o garoto, olhando desconfiado para Piers. Mamãe, você conhece aquele homem! É meu pai?

Dessa vez Abby desejou realmente desmaiar. Qualquer coisa seria melhor do que correr o risco de Piers vê-la.

- Mamãe! Matthew já estava aflito.

- Pois bem! Ele é seu pai. Mas não veio para nos buscar, conforme você mesmo pode constatar.

A fisionomia de Matthew revelava emoções conflitantes, e. quando ele olhou de novo para Piers seus olhos refletiam incredulidade.

Piers se afastava com a moça, acompanhando um carregador que transportava a bagagem.

O carro dele devia estar lá fora, pensou Abby, tentando não se sentir amargurada. Para a srta. Langton não haveria a chateação de um ônibus. Iria para casa confortávelmente acomodada numa limousine.

Era o cúmulo do azar Piers ter aparecido na estação justamente naquela noite.

Pobre Matthew! Como estaria se sentindo, vendo o pai pela primeira vez, e sem poder apresentar-se ou conhecê-lo.

Abby estava carregando os bilhetes para serem picotados, quando Matthew largou a bagagem no chão e saiu em desabalada carreira atrás de Piers e da moça.

Abby ficou petrificada, sem forças para reagir. Parecia um pesadelo. Precisava detê-lo e não podia,queria gritar e não conseguia.

Viu quando o menino segurou Piers peia manga do paletó, quando falou com o pai. Viu também a expressão de consternação e assombro da moça olhando o homem que estava a seu lado.

 

Capitulo II

Abby acordou no dia seguinte com uma sensação de desnorteamento, principalmente pelo silêncio reinante no quarto. Ela, que durante doze anos acostumara-se aos ruídos da cidade grande, estranhava aquela quietude, só quebrada, eventualmente, pelo arrulhar dos pombos no telhado ou pelo cacarejar das galinhas no quintal.

Com súbita apreensão, lembrou-se que estava em Rothside, deitada na mesma cama que ocupara por mais de quinze anos. em lvy Cottage, antes de seu casamento com Piers.

Afastou as cobertas e levantou. Foi até a janela e olhou para aquela paisagem que lhe pareceu mais familiar do que nunca.

lvy Cottage situava-se nos limites do vilarejo, mas de lá se avistavam as campinas verdes que se espraiavam por quilómetros, e oaçude onde nadavam os patos. A aldeia era minúscula.

Na rua principal ficava o correio, e uma grande loja, que vendia de tudo.

Durante o inverno era frequente ficarem isolados pela neve, que tornava os caminhos intransitáveis. Mas aquele era o seu lar. Se ela não. tivesse se casado com Píers, poderia ainda estar morando ali. E se em vez de ter escolhido um homem tão mais velho e com um padrão de vida tão diferente do seu, tivesse se casado com Tristan Oliver, por exemplo, nada daquilo teria acontecido.

Com toda a certeza, a mãe de Piers teria considerado Tristan uma escolha mais acertada, pois não era segredo para ninguém que ela nunca aprovara o casamento de Abby com o filho. Opusera-se de todas as formas possíveis àquela união, e só a tenacidade de Piers conseguira vencer a barreira materna. A separação do casal fora, de uma certa forma, uma vitória para a sra. Roth.

Afastando-se da janela. Abby passou os braços pelo seu corpo magro. Não queria mais pensar naquela família. Mas depois do que presenciara na noite anterior, era difícil tirar os Roth da mente. Fora tudo tão embaraçoso, tão absurdamente cômico! Não que ela tivesse achado graça.

Ao contrário, fitara com vontade de enfiar-se num buraco, no momento em que Piers a encarara com aquele seu olhar crítico e ameaçador. Mas, pensando agora, a cena até que tivera sua dose de humor. Só que naquela hora ninguém se divertira. Aquela reação impulsiva de Matthew apresentar-se ao pai pareceu, aos olhos dos outros, obra da própria mãe. Pelo menos, Piers deve ter pensado assim.

Abby estremeceu de repulsa e vergonha e, não mais suportando ficar ali sozinha, a remoer o acontecido, vestiu um penhoar e desceu as escadas.

Eram somente sete e meia da manhã, mas Hannah Caldwelljá estava em plena atividade na cozinha. Ao ver a sobrinha, indicou-lhe uma bandeja onde estavam as xícaras e o bule de chá.

- Eu ia levar o chá para vocês, lá em cima, mas já que se levantou, pode­mos tomá-Io aqui mesmo - disse, as faces enrugadas, coradas de prazer.

Abby apertou-lhe a mão e foi sentar-se à mesa da cozinha.

E pensar que não precisaria nunca ter saído dali, refletiu. Que bom que tia Hannah ainda existia! Naquele momento, ela estava precisando tanto falar com alguém amigo!

- Então, finalmente você está aqui! - exclamou a velha senhora, acomodando-se ao seu lado e segurando as mãos da sobrinha. - Veio para ficar?

- Só o fim de semana, conformelhe escrevi,

- Sim, eu sei. E você também me escreveu que anda preocupada com Matthew. Agora que o conheci, posso entender a razão.

- Está se referindo ao que aconteceu na noite passada?

- Estou me referindo aos motivos que estão por trás daquilo que aconteceu. Hannah despejou o chá nas xícaras. Abby, por que não contou a ele toda a verdade?

- Como eu poderia? Ele nunca acreditou em mim, e agora vai acreditar muito menos.

- Por que agora?

- Era mais fácil fazer de conta que o pai tinha morrido. E, para mim, era como se fosse verdade. Era como se ele estivesse morto

- Oh, Abby!

- Piers sempre nos repudiou, tia Hannah! Ele rejeitou Matthew. Como eu poderia contar ao menino uma coisa dessas?

- E quando foi que ele descobriu?

- Há uns dois anos.

- Como foi?

- Ele... ele deve ter visto a certidão de nascimento,

- E daí?

- Ele leu uma das suas cartas, enquanto eu estava ausente. Foi minha culpa.Eu devia ter percebido que ele estava crescendo, que estava se tornando mais curioso.

- E ele acabou matando a charada, colocando as duas peças juntas, Hannah suspirou. Sinto muito, minha querida. Eu devia ter sido mais cautelosa.

- Você sempre foi prudente. Nunca mencionou o sobrenome de Piers, Mas é que o nome dele é pouco comum.

- Depois disso, você contou a verdade?

- Disse-lhe que Piers e eu nos separamos por incompatibilidade de genios.

- Só isso? Não lhe contou sobre as brigas? Sobre Tristan?

- Acha que isso ia adiantar alguma coisa? A respiração de Abby tornou-se ofegante. Não percebe que já era tarde demais? Eu não tinha mais chances de reconquistar a simpatia de Marthew. Ele me condenou, e ainda me condena, comprovou isso ontem à noite.

- Oh. minha querida! Hannah parecia inquieta. Conte-me tudo direitinho. Ontem você estava muito perturbada e eu não quis parecer intrometida.

- Oh, foi um horror! Matt estava sendo tão bonzinho, tão prestativo! Até pensei que ele tivesse superado o problema. Nem me passou pela cabeça que ele tivesse conhecimento da carta de Piers sobre o divórcio. Se eu soubesse disso, teria pensado duas vezes antes de trazê-lo comigo.

Hannah fez um gesto de concordância.

- Continue. Você disse que viu Piers na estação.

- Certo. Ele tinha ido buscar a srfa. Langton que, por coincidência, viajou no mesmo trem. De primeira classe, naturalmente.

- Naturalmente.

- Bem... - Abby mordeu os iábios. A princípio, quando vi Piers, pensei que... Fez uma pausa Pode imaginar o que pensei.

- Que eu tinha pedido a ele para ir buscá-la?

- É... Foi uma estupidez minha, reconheço. Mas naquela hora, foi a única coisa que me ocorreu.

- Você chegou a comentar isso com Matthew?

- Não. Mas eu estava tão atrapalhada que Matt. inleligente como é, acabou percebendo tudo.

- E por que você deixou que ele saísse correndo atrás de Piers? Não era tão difícil imaginar o que poderia acontecer.

- Eu não deixei. Mas não consegui impedi-lo, pois, quando dei pela coisa, ele já estava longe.

- E Matt se apresentou a Piers como sendo o filho dele?

- Foi.

Abby sentiu um peso insuportável comprimindo-lhe o peito.

- E como Piers reagiu? Renegou o filho diante da srta. Langton?

- Não, Abby não conseguia controlar o rancor crescente. Mas também não o recebeu de braços abertos!

- Era de se esperar, Hannah olhou para a sobrinha, penalizada. Meu amor, você pode imaginar o susto que Valerie deve ter levado? Ninguém aqui no vale sequer sabia que você tinha um filho.

- É... posso calcular. Mas naquela hora, tudo o que vi foi Piers me olhando como se quisesse me matar!

- Bem. é que sem querer, você acabou armando uma boa confusão. Nunca deve ter passado pela cabeça da srta. Langton que ela ia ter um enteado,

- Piers não considera Matt como filho dele. E deve ter dito isso à srta. Langton tão logo nós saltamos daquele carro.

- A única vantagem foi que vocês  não tiveram que esperar pelo ônibus das dez - disse Hannah irónica.

- Em compensação, foi a viagem mais longa de minha vida. Durante todo o trajeto, ninguém disse uma palavra, nem Matt. Talvez ele estivesse arrependido do seu gesto impensado. Em resumo, ficamos todos sentados e mudos, como múmias, esperando chegar ao nosso destino.

- Piers nem perguntou como você estava? Por que tinha vindo a Rothside?

- No carro, não. Nem me lembro se ele disse alguma coisa, só sei que ele foi tremendamente hostil. Foi horrível!

- Como é que ele apresentou você a Valerie?

- Oh, como a ex-esposa, penso eu. Foi humilhante.

- Esqueça - Hannah olhou-a com ternura. Você não pode imaginar como é bom tê-la aqui novamente, Abby. A casa tem estado tão vazia todos esses anos!

- Eu também estou muito feliz em revê-ia, tia. Mas ouvi dizer que você não anda se comportando bem! O tom era meio brincalhão.

- Oh, você se refere à conversa que teve com o dr. Willis? Já lhe disse, na carta, que não pretendo deixar esta casa. Se eu tiver que morrer, prefiro morrer aqui, junto de tudo o que é meu, e não num asilo. Portanto, poupe o seu fôlego, pois para Rosemont não vou nem algemada!

- Você fala como se aquilo fosse uma prisão, tia Hannah!

- Para mim é a mesma coisa. Não dá para entender, Abby? Morei aqui em Ivy Cottage toda a minha vida. Não vou sair agora.

- Então terá que contratar uma enfermeira, ou uma governanta. Alguém que possa cuidar de você. alguém...

- Não quero uma estranha circulando pela minha cozinha, interrompeu a velha senhora com determinação. Não vou permitir que qualquer uma fique me dizendo o que devo ou não fazer, na minha própria casa!

- Mas. tia Hannah...

- Não adianta. Abby. Já tomei minha resolução. E se você veio para cá para tentar me fazer mudar de ideia, perdeu seu tempo.

Abby não desistiu.

- O dr. Wíllis disse que você não pode ficar sozinha!

- Então, venham vocês morar comigo, sugeriu. Não há nada que a impeça. Ainda mais agora que você e Piers vão se divorciar. Eu lhe daria um emprego e você daria a Matt uma oportunidade de conhecer melhor seu lugar de origem,

- Isso é impossível! revidou Abby, amedrontada com aquela proposta.

- Por quê? Por causa do seu trabalho em Londres?

- Não é por isso.

- Não? Já se cansou do seu emprego?

- Não, Abby titubeou. É... é que, para ser franca, a Bourne Electronics vai encerrar suas atividades.

- Vai? Hannah não disfarçou sua alegria. Então, seus problemas já estão resolvidos!

- Não. Tia Hannah.

- Qual é a desculpa? Abby abaixou a cabeça.

- A família Roth não gostaria disso, você sabe muito bem.

- E daí? Desde quando eu me incomodo com o que os Roth pensam ou deixam de pensar?

- Eu não poderia fazer uma coisa dessas com Piers!

- Fazer o quê? - Hannah impacientou-se. Já esqueceu o que Piers lhe fez? Matthew é ou não é filho dele?

- Você sabe que é.

- Então, não acha que já é tempo dele encarar essa verdade?

- Não quero nada dele, tia.

- De acordo. Mas não percebe que ele só está pensando em si próprio? Onde foi parar o seu espírito combativo, garota?

- Não posso, não posso!

Abby levantou-see foi para perto da janela. O quintal que antigamente era tão bem cuidado, estava em petição de miséria. Evidentemente, tia Hannah era velha demais para abaixar-se e lidar com a terra. Era uma pena!

A anciã também levantou-se e, mudando momentaneamente de assunto, perguntou:

- O que será que aquele rapazinho lá em cima vai querer para o desjejum?

- Umas torradas com manteiga e geiéia são  suficientes, Abby forçou um sorriso. É melhor que eu suba e me vista.

- Tudo bem. Mas não me diga que você não vai comer nada. Um chazinho ralo não é o bastante.               

- Não costumo comer pela manhã. Mas vou aceitar umas torradas.

- Torradas! - escarneceu a velha senhora. Um bom prato de ovos com presunto é o que você precisa! Sabia que você está só pele e osso?

Abby sorriu e começou a subir as escadas. Entrou no quartinho do filho. Matthew ainda dormia, a cabeça coberta pelos lençois. Tornou a fechar a porta e foi para o banheiro. Escovou os longos cabelos vigorosamente, até ficarem brilhantes, e prendeu-os na nuca. Mas não se maquilou.

Ao descer, encontrou Tia Hannah acendendo o fogão a lenha.

- É para esquentar a caldeira e ter água quente no banheiro. Tem certeza de que não quer ao menos um ovo escaldado?

- Entrego os pontos. Vou comer um ovo, desde que você me faça companhia, respondeu Abby. sorrindo.

- Combinado.

Mas. quando Tia Hannah ia começar a cozinhar, uma batida na porta dos fundos a conteve. Abby olhou-a interrogativamente.

- Talvez seja o moleque da fazenda querendo saber se quero mais ovos - disse Hannah. Mas quando abriu a porta, recuou, espantada. - Piers! - exclamou. - Ora. vamos entrando! Você é um bocado madrugador, hein?

- Quando é necessário - disse Piers. entrando na pequena cozinha. - Bom dia, Abby. Vejo que você também é de acordar cedo.

Abby continuou imóvel, sentada à mesa pois as pernas trémulas a impediam de se levantar. Limitou-se a olhá-lo. Aos trinta e sete anos, Piers Roth era mais atraente do que aos vinte e três, quando começara a trabalhar para ele pensou.

Ao ver que Abby não respondia ao seu cumprimento, Piers transferiu a atenção para Hannah.

- Como já deve ter presumido, sra. Caldweil, vim até aqui para falar com Abby, em particular. Anunciou, com um sorriso cortês. A senhora se importa que eu troque umas palavras com ela a sós?

- Absolutamente. Pode usar a sala de visitas.

Lembrando-se da atitude de Piers na noite anterior, Abby teria preferido não falar com ele agora, só por desaforo. Mas ao ver o olhar suplicante de Tia Hannah achou que era melhor não provocar uma cena.

Conformada, seguiu-o até a sala de visitas, que lhe pareceu gelada, apesar do calor reinante lá fora. Era um comodo da casa pouco usado e decadente. Tão decadente quanto aquele quinta!, pensou Abby, numa tentativa de não se deixar abalar por aquela entrevista tão inesperada.

Após fechar a porta atrás de si, Piers lançou um olhar melancólico para aquela saia antiga, cheirando a mofo, abarrotada de móveis, bibelõs e mil quinquilharias. Abby imaginou se ele se lembraria da primeira vez em que entrara naquele cómodo, na noite em que tia Hannah saíra para visitar a prima doente. Ou da noite em que eles tinham feito anjor, ao pé da lareira, depois da velha senhora ter subido para ir dormir? Cada cantinho daquela sala tinha uma história que Abby preferiria esquecer. Sentiu-se constrangida quando o olhar de Piers fixou-se nela, depois de vagar pelo ambiente.

- Naturalmente você deve saber por que estou aqui - disse ele, sem a menor afabilidade. Talvez você queira explicar-me a razão daquela cena deprimente de ontem à noite. Como soube que eu estaria na estação à espera daquele trem? Foi tia Hannah quem a informou? Nesse caso, gostaria de saber como ela soube disso.

Abby inspirou fundo, sabendo que não adiantaria exaltar-se.

- Acredite ou não, você era a última pessoa do mundo que eu esperava encontrar ontem à noite. Ou, ainda, que eu queria encontrar. Como você sabe tia Hannah esteve doente. O médico que está tratando dela me pediu para que eu a aleitasse sobre o perigo de morar sozinha. Esta é a única razão por que me encontro aqui.

Piers encarou-a desconfiado.

- Uma carta não teria sido menos dispendiosa?

- Talvez. Acontece que eu gosto muito de tia Hannah. Ela é a única pessoa que realmente se preocupa comigo.

Piers pareceu afetado por aquelas palavras.

- Que necessidade você tinha de trazer o menino? Abby reteve o fôlego.

- Ele é meu filho,Piers. Talvez você também se admire que eu tenha amor e consideração por ele.

Piers deu um passo à freme.

- Você não tinha com quem deixá-lo? Algum amigo? O ressentimento de Abby aumentou.

- Se você está se referindo a um amigo homem, sinto desapontá-lo. Matt e eu vivemos sozinhos.

Piers sacudiu os ombros largos.

- Mas você deve ter amigas.

- Isso é problema meu, Abby já estava ficando saturada. E que mal havia em trazer Matt? Afinai, ele pertence a este lugar.

Os olhos de Piers fuzilaram.

- Isso é o que você andou contando para ele.

Abby enfureceu-se.

- Não andei contando nada a ele!

- Contou que eu sou o pai dele!

- E você é!

- Ora, por favor! Não vamos martelar nisso novamente! - a respiração dele acelerou-se. O fato é que você afirmou que eu era, e apontou-me a ele na estação. Senão, ele não teria corrido atrás de mim e me feito passar aquele vexame na frente de Val.

- Não foi nada disso.

Estava sendo difícil para Abby controlar-se. Piers se mostrava tão seguro de si, tão arrogante! O pior é que ela não podia disfarçar a irritação quando ele falava da moça de uma forma tão íntima.

- Eu tambémfiquei chocada - continuou ela. - Foi uma coisa tão inesperada. Não fui eu quem disse a Matthew que você era o pai dele. Ele adivinhou sozinho. Como eu poderia prever aquela reação?

- Você está querendo me dizer que, ao ver um estranho na estação, ele presumiu que fosse o próprio pai? O tom de voz era sarcástico, não sou tão burro assim. Abby!

- Seu... seu bastardo! - agrediu-o Abby, furiosa. Você acha que eu ia querer que ele soubesse que seu próprio pai o renega? Acha que eu ia correr o risco de você negar-lhe a paternidade? Até dois anos atrás. Matthew pensava que você tinha morrido, e eu preferiria mil vezes que ele continuasse a acreditar nisso.

A expressão de Piers era de cetícismo.

- O que está dizendo? Que ele descobriu, de repente, sem mais nem menos, o nosso parentesco?

- Ele leu uma das cartas de tia Hannah. Viu seu nome lá escrito, e o identificou como sendo o mesmo da certidão de nascimento. Você sabe que ele não é nenhum imbecil. Seria muita coincidência eu conhecer dois homens chamados Piers, não acha?

- Foi daí que.você lhe contou a sua história.

- Não contei história alguma! Abby estava indignada. Disse simplesmente que o nosso casamento não tinha dado certo por... por incompatibilidade de genios.

- Devo então concluir que não existe a menor relação entre a minha carta, anunciando o divórcio, com a sua presença aqui em Rothside!

- Não mesmo! - Abby gritou.

Piers emitiu um som gutural e, resmungando, encaminhou-se para a janela. Estacionada no meio-fio, estava uma perua Mercedes Benz, muito polida e reluzente. Mais um dos seus automóveis, pensou Abby, ansiosa para que ele desse o fora. Os Roth gastavam mais em carros, anualmente, do que ela e Matthew tinham para viver.

- E o que o garoto pensa a meu respeito? - perguntou Piers subitamente, mantendo-se de costas para ela. Ele deve me culpar por essa tal incompatibilidade de genios.

- Para ser franca, ele acha que sou eu a culpada, isso deve dar-lhe um grande prazer! É o cumulo da ironia!

Piers virou-se e encarou-a.

- Não me dá prazer algum. Afinal, o filho é seu. Por que não lhe conta a verdade? Diga-!he que, apesar de ele levar o meu sobrenome, não é meu filho!

- Não posso dizer isso. porque estaria mentindo - retorquiu ela. Oh, por que não vai embora. Piers? A sua presença aqui não é bem-vínda. E não precisa mais se preocupar. Não vou deixar que Matt o aborreça novamente. Nós vamos embora amanhã.

Piers voltou para o meio da sala. só que dessa vez ficou tão perto dela que Abby podia até sentir-lhe o perfume, lavanda, misturado com o cheiro de tabaco de seus charutos predileios.

- Acredito em você quanto ao fato de não esperar me ver na estação, disse cordato. Foi uma coincidência infeliz que, espero, seja esquecida por ambos.

Se ele pensava que aquelas palavras conciliatórias a apaziguariam, estava enganado. Teria preferido que Piers dissesse abertamente o que estava pensando, deixando de lado os panos quentes.

- Quanta magnitude de sua parte! exclamou, irónica, consciente de que a proximidade deie a perturbava mais do que desejava. Não me venha com paternalismos! Não preciso disso. Vá pedir desculpas à srta. Langton. Ela está bem mais necessitada do que eu!

- Eu não estava me desculpando. Apesar de estar propenso a aceitar o fato de que você não poderia ter adivinhado que eu iria buscar Val na estação, continuo achando que foi uma tolice imperdoável ter trazido o menino para cá. Principalmente numa ocasião como esta e sabendo o quanto ele estava curioso a meu respeito.

- Ocasião como esta? Que ocasião?

- Quando estamos à beira do divórcio.

- Matthew não sabe de nada sobre o divórcio.

- Tem certeza?

Não, Abby não tinha tanta certeza assim. Matthew poderia ter lido a carta de Piers da mesma forma que lera a de tia Hannah.

- Mesmo que ele saiba, que diferença faz?

- E é você quem me pergunta isso? Pelo amor de Deus, Abby! O garoto pensa que sou o pai dele!

- E daí?

- Santo Cristo! Você não entende? Não importa o que nós dois sintamos um pelo oufro. O que importa é o que ele vai sentir. Você quer feri-lo1

- E você. o que tema ver com isso?

- Eu me preocupo com qualquer criança que esteja numa situação dessas, ergueu os ombros, nervoso. Abby, você precisa dizer-lhe a verdade. O menino é inteligente e vai compreender.

O auto-controle de Abby foi-se de vez.

- É isso o que você pensa? E o que realmente pensa? Os olhos verdes lançavam chimpas. Seu grandessíssimo pedante! Como se atreve a vir até aqui ensinar-me como agir com um filho que você ignorou durante doze anos? O que lhe importa se ele ficar ou não ferido? Não me venha dizer, agora, que vai sentir remorsos, quando ambos estamos saindo de sua vida definitivamente. Foi muito conveniente para você alegar que Matthew não era seu filho! Era uma boa saída para um casamento malogrado. Você, que nunca se dispôs sequer a pagar uma pensão alimentícia! O que tem a fazer agora é esquecer que existimos.

Os maxilares de Piers ficaram rijos.

- Isso não é verdade. Eu lhe enviei dinheiro...

- Que eu devolvi, cortou Abby. Não queria a sua caridade!

- Não era caridade.

- E o que era então?Uma esmola para apaziguar a sua consciência? Uma tentativa para provar que eu só queria mesmo o seu rico dinheirinho? Um meio de aplacar seu sentimento de culpa?

- Não! O rosto contorcido pela emoção. Piers segurou-a pelo braço e puxou-a energicamente de encontro a si. Acredite se quiser, mas um de nós precisava ter um resto de decência, seus dedos a apertavam dolorosamente. Sua ordinariazinha egoísta. Quando, na sua vida, você pensou em alguém, além de você mesma?

Abby levou o braço para trás e desferiu-lhe uma sonora bofetada. Foi uma reação instintiva e incontrolável,da qual logo se arrependeu. Horrorizada, viu a marca dos seus dedos no rosio tenso de Piers.

- Não esperava outra coisa de você, disse ele. muito frio.

Os músculos dos maxilares de Piers latejavam, as narinas palpitavam, e a respiração tomara-se ofegante. Os olhos do ex-marido a penetraram como duas lâminas. Seria um olhar de ódio ou desprezo? Não sabia dizer. Só sabia que ele continuava a apertá-la junto a si, e ela sentiu-lhe o corpo em brasas.

- Eu deveria mat-la! murmurou Pieis inclinando   a cabeça, e Abby entreabriu os lábios involuntariamente.

Ele ia beijá-la pensou, incrédula.

Apesar de seu ódio, de seu desdém, de sua revolta, ele ainda sentia alguma coisa por ela!

As pernas de Abby fraquejaram quando aquele olhar penetrante fixou-se em seus lábios. Mas logo ele a libertou daquele abraço, causando-lhe uma dolorosa frustração. Piers alcançou a porta rapidamente e, já com a mão na maçaneta, voltou a fitá-la, dessa vez com evidente rancor.

- Espero nunca mais tornar a vê-la, disse com uma frieza que não combinava com sua fisionomia alterada. Você tem razão. Eu usei o nascimento da criança como pretexto para fugir de um relacionamento impossível. O nosso casamento foi uma farsa, desde o início. Talvez tivesse sido melhor ter-lhe dito a verdade, antes de casar. Talvez você tenha razão de me acusar de omissão. Mas como eu poderia saber que você era uma gata libidinosa que iria pôr suas unhas de fora em tão pouco tempo?

 

Capitulo III

- Mamãezinha!

A voz aflita de Matthew vinha da porta entreaberta, Abby não queria que ele a visse naquele estado, com os olhos congestionados e inchados, depois da crise de choro. Mas precisava atendê-lo. Tapando o nariz com um lenço, virou-se para ele.

- Oh, já levantou? perguntou, sem necessidade. Eu... você dormiu bem? Por que não pede à tia Hannah para lhe dar o desjejum?

- Ela já está escaldando dois ovos para mim, disse Matthew inquieto, apoiando-se ora num pé, ora no outro. O que foi, mamãe? Você andou chorando?

Abby deu um suspiro profundo e afastou o lenço do rosto.

- Oh, você sabe como são essas coisas, tentou disfarçar. Velhos lugares, velhas recordações...

- Meu pai esteve aqui, não foi? Acordei com a voz dele. Por que ele veio tão cedo?

 Abby procurou desesperadamente por uma explicação.

- É que seu pai é um homem muito ocupado, disse. Vai ver que tinha coisas importantes a fazer logo mais.

- Ele veio por causa de ontem à noite, não é verdade? Ele ficou uma fera porque eu estraguei o "barato" dele com aquela fulana.

- Bem... de fato, você o colocou numa situação difícil, concordou Abby com voz cansada. Você agiu impulsivamente, sem saber o que eslava fazendo. Seu pai vai levar isso em consideração. Mas vamos esquecer de tudo, ok?.

- Esquecer! repetiu Matihew, inconformado. Não vou esquecer coisa alguma. Até que enfim pude conhecê-lo, e tive a impressão que ele gostou de mim. Foi uma pena que aquela "dona" estivesse presente, senão poderíamos ter conversado de verdade. Quando eu voitar a vê-lo...

- O quê? Matt, você não vai vê-lo nunca mais!

- E por que não? Ele é meu pai! Por que você acha que eu estava tão entusiasmado em vir para cá? Depois que li a carta dele, achei que, se eu viesse, teríamos uma última chance.

- Você ieu a carta de seu pai?

Matihew se encabulou, mas assim mesmo não se deixou intimidar.

- E por que não deveria? Você nunca iria me contar, eu sei. Ele quer o divórcio, estava escrito lá. E para quê? Para casar com aquela ta! Langton?

- Oh. Matt! Eu gostaria que você entendesse uma coisa: seu pai não está interessado em nós. Nem em mim, nem em você. O que ele quer é a liberdade dele.

Matthew ficou contrariado,

- Como você sabe? Só porque ele quer se divorciar de você, conciui que também não me quer? Milhares de casais se separam, mas os filhos continuam a ver



  

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