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O caminho da esperança 4 страница- Deixe que eu vou, disse Abby. já se arrepiando com a idéia de enfiar os pés naquela água suja e lodosa. Tirou as próprias sandálias e arregaçou a barra dos jeans. Ao sentir os pés afundarem na camada de lodo, chegou a estremecer de nojo. - Posso ajudar? O oferecimento vinha de um homem de ombros largos, um tanto atarracado, vestido com calça de algodão creme, com uma mancha de tinta à altura dos joelhos, e camisa de mangas arregaçadas. A menina de tranças foi segurar-lhe a mão e ele sorriu, divertido. - Não precisa, afirmou Abby, já aproximando-se da bola. Eu chego lá! e esticando o braço, conseguiu alcançá-la. - Viu? Mas, obrigada, da mesma forma. - Não tem de quê - retrucou o homem, estendendo a mão para ela. Não deu para chegar a tempo porque eu estava pintando a casa, e precisei antes lavar as mãos. Sou Sean Willis. Você deve ser a sobrinha da sra. Caldwell. Pude reconhecê-la pela fotografia que sua tia tem na mesinha de cabeceira. - Sean Willis! Abby tentou limpar os pés na grama. - Então você é... - ... o médico de sua tia - ele completou. - Ela me contou que você estava para chegar. Sou-lhe muito grato. - Ora! Era o mínimo que eu poderia fazer. - -Só espero que tenha conseguido convencê-la. É imprescindível que ela compreenda. Abby olhou para os pés descalços, admirando-se de não ter dito que tinha planos de ir morar com a tia. Ele aprovaria, certamente, mas agora não estava muilo segura de que aquela seria a solução mais acertada. Depois do péssimo comportamento de Matthew, como poderia permanecer ali? As coisas poderiam piorar em vez de melhorarem. - Oh, você não pode voltar para casa desse jeito! - disse Willis. Vai estragar as suas sandálias! Posso oferecer-lhe o meu banheiro? Miranda virá conosco para que essas velhas fofoqueiras não comecem a mexericar. Abby ergueu os olhos do chão. - -Mas sua mulher não... - Minha mulher morreu, Sra. Roth. Teve uma leucemia quando Miranda tinha poucos meses de vida. Agora tenho uma empregada, a Sra. Davison, que toma conta da casa e que. por sinal, é um tesouro. Mas hoje ela foia Newcastle fazer compras. Abby acabou sendo persuadida pela amabilidade do médico. O único obstáculo foi o caminho de pedregulho que levava até a porta da casa dele. - Você vai precisar levá-la no colo, papai - disse Miranda, ao ver Abby tentando pisar desajeitadamente naquelas pedrinhas pontiagudas. - Como não pensei nisso antes? - Sem hesitar, suspendeu Abby nos braços e a carregou até a soleira da porta - Quer que a leve até lá dentro? - Não é preciso - E Abby pediu que a soltasse. Oihe, se me arrumar uma bacia com água posso lavar os pés aqui na escada, à vista de todos! - Não acho uma boa ideia. E. pelo que soube através de sua tia, você não é do tipo que se importa com mexericos. Só tome cuidado com a tinta fresca do hall. Estava pintando o rodapé quando a vi dar seu mergulho no açude. A casa era antiga, com duas .janelas flanqueando a porta de entrada. Um corredor comprido e estreito atravessava-a de ponta a ponta, e agora havia jornais espalhados pelo chão, em vez de carpetes. - Venha até o lavabo - convidou o médico, enquanto a filha largava as sandálias sujas junto à escada - E você, Miranda, vá buscar uma bacia e uma toalha para a Sra; Roth. - Nem queira saber como estou agradecida - disse Abby, pouco depois, já com os pés lavados e enxutos. - Aquela água estava imunda! Nem sei como os patos não morrem envenenados! - Oh, você não tem ideia de como os patos são resistentes. Agora venha, convidou ele, dirigindo-se para uma das salas. Preparei um chá. Foi um bom pretexto para parar um pouco. Já estava começando a ficar com dor nas costas de tanto pintar esses rodapés. A hesitação de Abby foi imperceptível. Quando ela o seguiu até uma sala de estar muito confortável, notou que eles estavam sozinhos. - Miranda foi lá fora brincar mais um pouco, explicou ele, indicando um sofá para que Abby se sentasse, e acomodando-se a seu lado. Quem vai bancar a dona-de-casa? Eu ou você? Se for você, já vou avisando que gosto de leite no chá e dois torrões de açúcar. Abby sorriu e incumbiu-se das honras da casa. - Por quanto tempo vai ficar em Rothside? perguntou Sean, servindo-se de um biscoito. -A sra. Caldwell ficou eufórica com a sua visita. Ela me disse que você nunca mais voltou, desde que foi para Londres. Abby apressou-se em dar uma justificativa para tão longa ausência. - E uma viagem muito longa. Mas Tia Hannah veio nos ver em Londres. - E as passagens de trem estão pela hora da morte! - De fato. - Foi muita sorte ter.pego um fim de semana com um tempo tão bom - disse o médico, mudando de assunto. - Rothside é deprimente quando faz um mau tempo. Você deve saber disso melhor do que eu. Pois já morou aqui. Eu nasci e me criei em Hampshire, e lá o clima não chega a esses extremos. - Há quanto tempo está morando em Rothside, dr. Willis? - Sean. por favor - ele corrigiu-a, pegando mais um biscoito. - Deixe-me ver... há uns dez anos, aproximadamente. O dr. Morrisonainda estava aqui. Você deve tê-lo conhecido. Ele se aposentou mais ou menos na época em que você se mudou. - Sim, conheci. Abby não queria esticar aquele assunto e resolveu dar uma explicação sobre oque acontecera naquela tarde com Matthew. - Não sei o que deu nele. Geralmente Matthew se dá bem com outras crianças. Eu devia tê-lo obrigado a ir apanhar a bola, mas fiquei tão desnorteada que o despachei de volta para casa. - Eu vi o garoto. Ele é muito forte e desenvolvido. Quantos anos ele tem? Doze. treze? - Onze. Por ele ser tão crescido, as pessoas pensam que é mais velho, e esperam que se comporte como um adulto. Mas ele não passa de um crianção. - Você devia ser muito jovem quando ele nasceu. - Eu tinha dezoito anos - disse Abby, levantando-se. Não quero importuná-lo por mais tempo, dr, Willis. O chá estava ótimo, mas agora preciso ir andando. - Como queira. Sean também levantou-se, e ela notou que ambos eram quase da mesma altura. Mas o Dr. Willis parecia maior, talvez por ser tão troncudo. Ficou imaginando quantos anos ele teria. De trinta e cinco a quarenta anos, a mesma faixa de idade de Piers. Mas era bem diferente dele. Parecia-se mais com Tristan Oliver, robusto e sólido. O tipo de homem que inspira confiança, honesto, sincero e aberto. - Terei oportunidade de vê-la novamente, antes de partir? perguntou, quando Abby saía. A sra. Caidwell disse que você iria passar só o fim de semana. Ainda vai estar por aqui na segunda de manhã? - Penso que não. Qualquer que fosse a decisão, precisaria voltar para Londres, para tomar providências sobre a mudança. Talvez nos reencontremos em breve. Obrigada pelo chá. Era o que eu estava precisando. - Disponha sempre e volte logo. Abby sentiu um calor no rosto ao atravessar o gramado. Sabia que Sean a seguia com o olhar. Estancou, olhou para trás e acenou-lhe um adeus. Abby voltou para casa e não contou a Tia Hannah sua mudança de planos. No domingo de manhã, estava ajudando a descascar batatas para o almoço, quando comunicou-lhe que não queria mais mudar-se para Rothside. - Mas, Abby! Hannah fitou a sobrinha com lágrimas nos olhos. Você prometeu! Você disse que ia tentar! Não pode voliar atrás com a sua palavra. Se você não ficar comigo, o Dr. Willis vai me obrigar a ir para Rosemount. Garanto que não terei nem um mês de vida se sair da minha casa. Abby soltou um profundo suspiro. - Tia Hannah, o Dr. Willis não é o monstro que você imagina. Cheguei a conhecê-lo pessoalmente, lembra-se? Abby já tinha feito um resumo de sua visita à casa do médico. Ele só quer o melhor para você. Se insiste em querer ficar aqui, então precisaremos fazer outro tipo de arranjo. - Já sei. Uma dama de companhia! Hannah enxugou o canto dos olhos com a ponta do avental Oh, Abby, por que você mudou de idéia? Não se sente feliz aqui? Foi alguma coisa que eu fiz? Se ao menos você me contasse... - Não é nada disso, tia. Por favor, não fique com essa cara! Eu virei visitá-la, agora que já aprendi o caminho. É que não acho bom para Matthew ser tirado do seu ambiente. Ele não iria se adaptar aqui. A partida foi difícil. Matthew mal lhe dirigira duas palavras desde o dia anterior. Abby chegou à beira de uma crise de choro na hora da despedida, quando tia Hannah os acompanhou até o táxi que os levaria a Alnbury, para depois apanharem o ônibus para Newcasile. O silêncio de Matthew serviu ao menos para Abby recompor-se, até chegarem à rodoviária. Durante toda a semana seguinte, não falou com o filho sobre as razões que a tinham levado a desistir da ideia de irem morar com a tia. Matthew ia diariamente para a escola, como sempre, e ela continuou a trabalhar, apesar do serviço ter diminuído consicieravelmente. Abby chegou a desconfiar que Trevor ainda a mantinha no escritório apenas por consideração e pena. Apesar disso, continuou a sustentar uma falsa aparência de que tudo ia bem, até que, passados dez dias desde o retomo, seu pequeno mundo desmoronou. Era um dia parecido com qualquer outro, Abby ia até sair mais cedo do escritório, por falta do que fazer, quando, lá pelas três e meia, apareceu um policial na recepção. Ela levantou-se de seu lugar para atendê-lo, imaginando em que enrascada Trevor teria se metido. - É a sra. Roth? O fato de o policial saber seu nome a intrigou, mas não chegou preocupá-la. Trevor devia ter solicitado íjue se dirigissem antes a ela, n qualidade de sua secretária. Não havia motivos para chegar a conclusõe precipitadas. - Pois não. Posso ajudarem alguma coisa? -perguntou, sol/cita. - Espero que possa - o policial era jovem e tímido, mas notava-seque estava disposto a cumprir com seu dever. - É sobre seu filho, Sra. Roth, Ele está detido lá na delegacia com mais dois rapazinhos. Foram pegos no Marburys furtando mercadorias. As pernas de Abby amoleceram e ela precisou sentar-se. . - Mas... eu pensei que ele estivesse na escola! O policial fez um aceno com a cabeça, como se já esperasse essa resposta, - Pelo que nos contou o professor dele, Matthew vem cabulando as aulas ultimamente. Parece que o professor já linha tido uma conversa com a senhora a esse respeito. - Sim, sim, ele falou comigo - Abby tentou coordenar as ideias. Fui chamada na escola quando terminou o semestre. Ele me advertiu que Matíhew precisava prestar mais atenção às aulas... mas nunca pensei que... interrompeu-se bruscamente, para recomeçar em seguida. - Sabe. senhor guarda, ele não deveria ter feito o segundo semestre naquela escola, pois eles não tinham turmas para a sua idade. - Ele é um garoto influenciável,senhor guarda, e o puseram com meninos maiores, que não são companhia adequada. Colocando o capacete embaixo do braço, o policial sugeriu, educadamente: - Seria bom que me acompanhasse até a delegacia, sra. Roth. A senhora poderia explicar a situação diretamente ao sargento Hodges. Tenhocerteza de que ele vai ser toleranle, pois também é pai. A caminho da delegacia. Abby foi fazendo mil conjecturas a respeito da situação. Eles lhe fariam um monte de perguntas. Descobririam que ela não tinha marido e poderiam julgar que não tinha capacidade para educar o filho. Será que lhe tirariam a custódia de Matthew? Delinquentes primários seriam enviados para os reformatórios do Estado? Matthew e os outros dois rapazinhos estavam esperando na ante-saia da delegacia, vigiados por um guarda e uma moça da Polícia Feminina. Abby sentiu um certo alívio ao verificar que o filho parecia sinceramente consternado, apesar de ter ficado logo carrancudo ao vê-la. A entrevista com o sargento Hodges não foi nada agradável. O Marburys era uma das maiores cadeias de supermercados do país, e tudo indicava que não era a primeira vez que os garotos tinham sido pilhados em atitudes suspeitas. Só que das outras vezes não havia provas, e agora tinham sido apanhados em flagrante. Abby não sabia o que dizer. Sua fraca argumentação de que Matthew era ainda muito criança e que fora influenciado por más companhias caiu por terra quando o sargento lhe afirmou que ele era o líder do grupinho. O menino precisaria apresentar-se à Corte Juvenil na manha seguinte e, conforme a decisão dos juizes, a sentença poderia ser adiada até que fosse preparado um relatório completo sobre a ocorrência e a vida pregressa do garoto. - As Cortes Juvenis estão mais preocupadas em salvaguardar os interesses dos jovens do que em aplicar sanções - disse o sargento Hodges, confidencialmente, antes que ela se retirasse. Vai depender muito do depoimento do diretor da escola. Pode ser que seu filho seja liberado apenas com uma advertência, por esta vez, Abby sentiu-se grata por aquela pequena parcela de tranquilidade que o policial lhe concedeu, mas seu coração desandou a bater diante da perspectiva de ter que lidar com Matthew depois desse incidente. Matthew voltou para o apartamento cabisbaixo, as mãos enfiadas nos bolsos, apertando os lábios raivosamente todas as vezes que Abby tentava raciocinar com ele. Sentia que a barreira entre os dois crescera mais ainda e estava se tomando quase intransponível. Depois daquele contratempo, nem adiantava mais voltar para o escritório. Abby resolveu ligar para Trevor de uma cabine telefónica que havia em frente ao prédio, para dar-lhe uma satisfação. Quando Trevor atendeu, ela fez um resumo do acontecido. - Amanhã cedo vou precisar ir com ele à Corte. Tem algum problema? - Tire o dia para você - concedeu Trevor. Afinal, do jeito que as coisas estão por aqui. ninguém faz muita falta. E por falar nisso, Abby, se você encontrar outra colocação, não deixe de me avisar. Você vai receber o seu salário integral, mesmo que não complete o mês. Se quiser, tire o restante da semana. Comunico-me com você, caso haja necessidade. Ao subir pelo elevador, Abby ficou refietindo se aquela não seria uma formapolida de Trevor dizer-lhe que não precisava mais dela. Era estarrecedor pensar que dentro de duas semanas estaria desempregada. Quando entrou novamente no apartamento, ouviu vozes, mas não deu muita atenção ao fato. Presumiu que Matt estivesse grudado na televisão, como sempre. Depois de ter pendurado o casaco no cabide, abriu a porta da sala de estar e foi logo dizendo: - Pode ir desligando essa televisão! Parou abruptamente ao ver aquele homem alto e moreno parado junto à janela. Matthew estava a seu lado. os ombros tensos e o rosto afogueado, com uma expressão ressentida. Abby fitou-o, desnorteada, antes de prestar atenção em Piers. Piers parecia bem à vontade. Muito elegante, em seu terno com colete, o paletó jogado por sobre o ombro, parecia calmo e tranqiiíJo, e Abbj invejou sua capacidade de eximír-se das responsabilídades. De repente, como num estalo, Abby leve um palpite tenebroso. Só havia uma razão que pudesse ter levado Piers até ali: tia Hannah devia ter sofrido outro ataque cardíaco! Talvez eslivesse seriamente doente... ou pior do que isso! Soltou um gemido e seus olhos se encheram de lágrimas. - O que é isso. Abby? Afinal, as coisas não são tão más assim. Não exagere! Aquela admoestação fez com que Abby reagisse. Limpou as lágrimas com o dorso da mão e o encarou. A última coisa que queria dele era piedade. Qualquer coisa que por ventura tivesse acontecido seria suportada com coragem, como sempre. Só não atinava com o queteria dito Piers a Matthew, que o deixara tão vermelho e cabisbaixo. - O que lhe disseram na polícia? - perguntou Piers. E, antes que Abby se refizesse da surpresa, ele prosseguiu: Espero que lhe tenham dito que o caso pode ser resolvido com uma fiança. Talvez isso lhe sirva de consolo, apesar de que sou da opinião que uma boa surra traria melhores resultados. - Não é problema seu - resmungou Matthew, ao ouvir o que Piers dissera. Abby estava pasma que Matthew tivesse contado ao pai sobre aquele deplorável incidente. Não era do feitio dele. - Quando vim para o apartamento e não a encontrei, fui procurá-la no escritório, explicou Pier ignorando a malcriação de Matthew. Falei com um sujeito chamado... Trevor? - Trevor? - Abby continuava atónita. - Mas acabei de falar com ele pelo telefone, e ele não me disse nada! - Eu não mencionei o meu nome. Talvez tenha pensado que eu fosse algum oficial de justiça. Só sei que acabou me dizendo onde vocêestava e o que tinha acontecido. - Afinal, por que você está aqui? É... é por causa de tia Hannah? Ela piorou? O Dr. Willis podia ter-me telefonado se... se... - Você conhece Sean Willis, penso eu. - Sim, tive oportunidade de conhecê-lo, Abby estava ficando impaciente. Piers, se aconteceu alguma coisa com tia Hannah. por favor... - Abby. não aconteceu nada com tia Hannah. Ela está tal e qual você a deixou. Nem pior, nem melhor. Não é por isso que estou aqui. - Então porque... Piers lançou um olhar em direção de Matthew. - Poderíamos falar em particular, Abby? Tenho um assunto para discutir com você. Sobre uma coisa que tia Hannah me disse. - Se é a respeito do divórcio, então eu acho que Matt... - Não é a respeito do divórcio, interrompeu-a Piers com energia. E agora, se não se importa, eu... Abby tomou a iniciativa. - Vá para o seu quarto. Matt, pediu ela, logo mais vou falar com você. - Não vejo por que... - Começou a argumentar o menino, só para provocar a intervenção do pai. - Já para o seu quarto! - ordenou Piers. E o garoto obedeceu, contrariado. Depois que a porta do quarto fechou-se, Abby soltou o fòiego retido. - Bem.,, então, o que foi que tia Hannah lhe disse? Não consigo imaginar. - Minha viagem a Londres foi por oulros motivos, Piers atirou o paletó sobre o sofá. Não teve nada a ver com você. - Já supunha isso, Abby levantou o queixo? Tia Hannah pediu para vir falar comigo? No mínimo, contou-lhe o que ela queria que eu fizesse. Pois bem. Não precisa se preocupar, que eu não vou voltarei para Rothside. Já tenho problemas suficientes por aqui mesmo. - Estou vendo. Desde quando Matthew está se metendo em encrencas com a polícia? - Desde hoje, Abby enfiou as unhas nas palmas das mãos. Piers, por lavor, diga logo o que tem a dizer. Não estou com disposição para conversa fiada. - Conversa fiada? Você acha que isso é conversa fiada? - Sim. não... oh, não sei. Piers, não sei por que veio, mas posso adiantar que dispenso a sua opinião sobre o comportamento de Matt. Concordo que ele está se tornando um problema. Mas é problema meu, não seu conforme você já teve ocasião de me jogar na cara. - Você nunca cede, hein, Abby? Está sempre com uma pedra na mão! - Ora! Como você pensa que me sinto toda vez que você nega a paternidade de seu filho? - Isso é outro assunto. - Ah, é? Pois para mim dá tudo na rnesma. Você abriu mão de sua responsabilidade há mais de onze anos, e não lhe dou o direito agora de se intrometer na educação dele. - Certo, Piers fez um esforço para controlar-se. Não vim aqui para discutir sobre a educação de Matthew. Ontem visitei sua tia. Conforme você presumiu, ela me contou qual foi o pedido que lhe fez. - Contou? Não sei por que cargas d'água foi contar. E você, o que disse? - Nada que você já não soubesse. Abby, por que não falou comigofrancamente quando estivemos juntos? Por que me usar como desculpa para ficar em Londres? - Eu usei? - E não usou? Você disse à sua tia que eu teria objeções quanto à sua volta a Rothside. - E não teria? Piers hesitou. - Não posso impedi-la de morar onde queira. - E Matthew? - O que é que tem Matthew? - Precisarei esconder a sua identidade? - A identidade de Matthew, como você a chama, depende de sua própria consciência. - Seu pedante, nojento! Piers tomou fôlego. - Acho que você já foi longe demais com essa história, Abby. No que me concerne, você pode contar o que quiser às pessoas. Logo que esse divórcio estiver resolvido, vou casar com Val Langton e estarei me lixando com as mentiras que você inventar a meu respeito. - Mentiras! - Olhou para eJe ressentida, mas logo reagiu com indignação - Fora daqui! disse, com a voz embargada por um soluço. Pelo amor de Deus, saia daqui antes que eu o ponha pra fora a pontapés! - Abby... Piers aproximou-se perturbado, enfraquecendo-lhe a determinação. Por que faz isso, Abby? Por que vive me provocando? Isso lhe dá alguma satisfação masoquista? Você não vê como esses seus coices atingem a você e às pessoas que a cercam? - Não me amole! Afastou-se para longe dele. Agora vá. por favor. Não temos mais nada a nos dizer. - E o que é que você vai fazer? - Não é da sua conta! - Mas eu preciso saber, Abby. - O que você acha? Ela tornou a encará-lo. Vou levar a vida adiante, como tenho feito até agora. Que mais eu poderia fazer? - Poderia voltar para Rothside e atender ao desejo de sua tia. Ela me falou que você corre orisco de perder seu emprego. Seria uma boa alternativa ficar com ela. E o garoto poderia começar vida nova. - O garoto, como você o chama, rebela-se contra tudo o que faço por ele. Abby procurou por um lenço. E... e a sua vinda aqui só serviu para piorar as coisas ainda mais. Não percebe que você o encoraja a acreditar que... que... - ... que sou o pai dele, Piers completou. Nesse ponto, você tem razão, mas voltar para Rothside é outra coisa bem diferente. Pelo menos, ninguém vai poder negar que ele pertence àquele lugar. Tenho certeza de que os Oliver... - Saia! gritou, exasperada e Piers encaminhou-se para a porta. - Pense bem no que eu lhe disse, recomendou calmamente, antes de sair, tornando a apoiar o paletó sobre o ombro.
Capitulo V Abby saiu da audiência da CorteJuvenil completamente confusa. Nen podia acreditar no que se passara naquele recinto, eaté Matthew parecia aturdido. Por alguma razão que só ele conhecia, Piers se declarara responsável pelo bom comportamento de Matthew no futuro. Enviara seu próprio advogado, Miles Shand, para represemá-lo e dar assessoria jurídica. Abby foi instruída a dizer que pretendia voltar para o norte da Inglaterra, a fim de facilitar a interferência do marido na educação do menino. Era inacreditável. Em vez de ressentir-se pela intromissão do pai, Matthew reagiu favoravelmenle. Por certo imaginando que Piers estava disposto a assumir totalmente sua paternidade dali por diante. Como poderia ela decepcioná-lo? Como poderia explicar-lhe que Piers apenas usara de seu grande prestígio a fim de influenciar o veredito do magistrado londrino? - Parece que chegamos a um resultado satisfatório, Sra. Roth, Míles Shand apareceu ao lado dela, muito sorridente, apertando-lhe a mão e acenando afavelmente para Matthew. Agora é só tomarmos as providências para a sua mudança para Rothside. O Sr. Roth já deve ter-lhe dito que a senhora poderá deixar tudo ao nosso encargo, - Não. A voz de Abby saiu ríspida. Não, sr. Shand, ele não me disse nada. Mas eu gostaria muito de falar com o Sr. Roth, caso o senhor possa marcar um encontro. O advogado pareceu embaraçado. - Oh, o sr. Roth foi obrigado a voltar para Rothside hoje cedo, para acompanhar... acompanhar a pessoa com quem ele estava viajando. - Certamente o senhor está se referindo à srta. Langton, disse Abby, muito digna, e Miles Shand fez uma cara de alívio. - Ah, sim, naturalmente. Claro que a senhora deve estar sabendo. Então, como eu estava dizendo, a senhora vai ter que esperar para falar com ele em Rothside. - Suponho que o senhor saiba que Piers está entrando com uma ação de divórcio. Dessa vez o advogado embatucou. - Está? - É lógico que o senhor sabe! - É... o sr. Roth mencionou algo a respeito,.. Mas isso não altera nada. nas presentes circunstâncias. Quero dizer, o divórcio é para os pais, náo para os filhos. - Mamãe! Matthew estava começando a ficar indócil, e se ela continuasse com aquela conversa, poderia destruir completamente suas esperanças. Não sabia o que Piers tinha em mente, e não queria chegar a conclusões precipitadas, antes de ter uma conversa séria com ele. Só uma coisa era certa: mais uma vez os Roth tinham tomado as iniciativas sobre o seu destino, e mais uma vez ela e Matthew seriam as vítimas. A viagem de volta para Northumberland foi praticamente idêntica à primeira. Só que dessa vez, ironicamente, estava sendo realizada por sugestão do próprio Piers. Há somente um mês, ele declarara que nunca mais queria vê-la, e agora lá estava ela, cumprindo uma deliberação dele para voltar. O que o fizera mudar de ideia de forma tão imprevista? Será que se conscientízara da existência daquele filho? Era impossível, pois ele mal conhecia o menino, e o pouco que conhecera não era nada animador. Devia haver outra razão, e ela tentou descobri-la duranle todo o percurso de Londres até Newcastle. Matthew estava bem mais manso, depois daquela audiência. Certamente, esperava do pai muito mais do que ele poderia oferecer. Abby não queria nem pensar na desilusão que ele sofreria quando descobrisse o seu engano.
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