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O caminho da esperança 3 страница



- Não! O rosto contorcido pela emoção. Piers segurou-a pelo braço e puxou-a energicamente de encontro a si. Acredite se quiser, mas um de nós precisava ter um resto de decência, seus dedos a apertavam dolorosamente. Sua ordinariazinha egoísta. Quando, na sua vida, você pensou em alguém, além de você mesma?

Abby levou o braço para trás e desferiu-lhe uma sonora bofetada. Foi uma reação instintiva e incontrolável,da qual logo se arrependeu. Horrorizada, viu a marca dos seus dedos no rosio tenso de Piers.

- Não esperava outra coisa de você, disse ele. muito frio.

Os músculos dos maxilares de Piers latejavam, as narinas palpitavam, e a respiração tomara-se ofegante. Os olhos do ex-marido a penetraram como duas lâminas. Seria um olhar de ódio ou desprezo? Não sabia dizer. Só sabia que ele continuava a apertá-la junto a si, e ela sentiu-lhe o corpo em brasas.

- Eu deveria mat-la! murmurou Pieis inclinando   a cabeça, e Abby entreabriu os lábios involuntariamente.

Ele ia beijá-la pensou, incrédula.

Apesar de seu ódio, de seu desdém, de sua revolta, ele ainda sentia alguma coisa por ela!

As pernas de Abby fraquejaram quando aquele olhar penetrante fixou-se em seus lábios. Mas logo ele a libertou daquele abraço, causando-lhe uma dolorosa frustração. Piers alcançou a porta rapidamente e, já com a mão na maçaneta, voltou a fitá-la, dessa vez com evidente rancor.

- Espero nunca mais tornar a vê-la, disse com uma frieza que não combinava com sua fisionomia alterada. Você tem razão. Eu usei o nascimento da criança como pretexto para fugir de um relacionamento impossível. O nosso casamento foi uma farsa, desde o início. Talvez tivesse sido melhor ter-lhe dito a verdade, antes de casar. Talvez você tenha razão de me acusar de omissão. Mas como eu poderia saber que você era uma gata libidinosa que iria pôr suas unhas de fora em tão pouco tempo?

 

Capitulo III

- Mamãezinha!

A voz aflita de Matthew vinha da porta entreaberta, Abby não queria que ele a visse naquele estado, com os olhos congestionados e inchados, depois da crise de choro. Mas precisava atendê-lo. Tapando o nariz com um lenço, virou-se para ele.

- Oh, já levantou? perguntou, sem necessidade. Eu... você dormiu bem? Por que não pede à tia Hannah para lhe dar o desjejum?

- Ela já está escaldando dois ovos para mim, disse Matthew inquieto, apoiando-se ora num pé, ora no outro. O que foi, mamãe? Você andou chorando?

Abby deu um suspiro profundo e afastou o lenço do rosto.

- Oh, você sabe como são essas coisas, tentou disfarçar. Velhos lugares, velhas recordações...

- Meu pai esteve aqui, não foi? Acordei com a voz dele. Por que ele veio tão cedo?

 Abby procurou desesperadamente por uma explicação.

- É que seu pai é um homem muito ocupado, disse. Vai ver que tinha coisas importantes a fazer logo mais.

- Ele veio por causa de ontem à noite, não é verdade? Ele ficou uma fera porque eu estraguei o "barato" dele com aquela fulana.

- Bem... de fato, você o colocou numa situação difícil, concordou Abby com voz cansada. Você agiu impulsivamente, sem saber o que eslava fazendo. Seu pai vai levar isso em consideração. Mas vamos esquecer de tudo, ok?.

- Esquecer! repetiu Matihew, inconformado. Não vou esquecer coisa alguma. Até que enfim pude conhecê-lo, e tive a impressão que ele gostou de mim. Foi uma pena que aquela "dona" estivesse presente, senão poderíamos ter conversado de verdade. Quando eu voitar a vê-lo...

- O quê? Matt, você não vai vê-lo nunca mais!

- E por que não? Ele é meu pai! Por que você acha que eu estava tão entusiasmado em vir para cá? Depois que li a carta dele, achei que, se eu viesse, teríamos uma última chance.

- Você ieu a carta de seu pai?

Matihew se encabulou, mas assim mesmo não se deixou intimidar.

- E por que não deveria? Você nunca iria me contar, eu sei. Ele quer o divórcio, estava escrito lá. E para quê? Para casar com aquela ta! Langton?

- Oh. Matt! Eu gostaria que você entendesse uma coisa: seu pai não está interessado em nós. Nem em mim, nem em você. O que ele quer é a liberdade dele.

Matthew ficou contrariado,

- Como você sabe? Só porque ele quer se divorciar de você, conciui que também não me quer? Milhares de casais se separam, mas os filhos continuam a ver os pais.

- Não é bem assim, Abby estava prestes a contar-lhe tudo, mas ficou penalizada em destruir aquele restinho de ilusão do menino. Matt, não me olhe assim. Dou-lhe minha palavra que não é minha culpa, mas... mas hoje peia manhã seu pai deixou bem claro que não quer mais nos ver.

- Não é verdade!

Ela sentiu-se impelida a abraçar o filho, mas ele recuou.

- O que você andou dizendo para ele? O menino já estava soluçando. Aposto que foi você quem pediu para que ele nos esquecesse. Foi isso mesmo. A culpa é sua!

- Matt...

Mas Mathew saiu correndo para a cozinha, fugindo da mãe. Abby o seguiu vagarosamente, perdendo a última esperança de ter um bom relacionamento com o fiiho.

Ao chegar à cozinha, Hannah parou de cortar o pão, e, antes de dar atenção à sobrinha, olhou para o alto da escada.

- O que está acontecendo, afinal? Primeiro, Piers sai desta casa como um vendaval, sem ao menos se despedir. E agora, Matthew sobe por essas escadas, como se você estivesse atrás dele de chicote em punho!

Abby deixou-se cair sentada numa cadeira, no auge do desânimo.

- Nem me pergunte - disse, desconsolada. Existem ocasiões em que eu desejaria ter tido o mesmo destino de minha mãe: morrer ao dar à luz. Não sei se terei forças para ir até o fim.

- Claro que tem, afirmou Hannah. E não torne a dizer uma coisa dessas! Seja grata pelo que possui, juventude e saúde. Há muita gente neste mundo que invejaria a sua sorte, !embre-se disso.

- Eu... eu sei. Só não sei o que fazer agora. Matt vive me acusando de tudo, Ele me acusou até de ter mandado Piers embora esla manhã, e Deus é testemunha de que ocorreu exatamente o contrário.

- Suponho que Piers tenha vindo aqui para pedir que você afaste o menino do seu caminho.

- Foi mais ou menos iss, Hannah ficou indignada.

- Esse homem é um idiota! Será que não enxerga a semelhança que existe entre eles? Ambos são teimosos! A acusam por uma falta que você não cometeu! Gostaria de bater aquelas duas cabeças duras, uma contra a outra!

- Quem me dera que tudo fosse assim tão simples! E pensar que sempre achei que, mais cedo ou mais tarde, Piers ia começar a ter dúvidas.

- A mãe dele nunca ihe permitiria pensar de outra forma, disse Hannah, tirando os ovos quentes da panela.- Você só facilitou as coisas para ela. quando ficou grávida logo depois de casar. Durante anos, a sra. Roth fez uma lavagem cerebral em seu filho para que ele acreditasse naquela história sobre você e Tristan.

- O fato de Tristan ter ido embora pouco ajudou.

- Pois é... - continuou Hannah. - Por uns bons tempos, os Oliver ficaram amargurados. Mas agora Lucy já é uma moça feita. Lembra-se de Lucy Oliver? Ela casou, e agora é o marido quem toma conta da fazenda.

- Tristan foi embora para o Canadá, não foi?

- Sim, e acho que fez muito bem. Ele também casou por lá e já tem três filhos.                                                       

- Homem de sorte! Como tudo teria sido mais simples se eu tivesse casado com Tristan.

- Você não o amava, declarou Hannah, muito prática. Talvez tivesse sido realmente mais simples, sob certos aspectos. Mas diga honestamente. Abby: você teria sido feliz? Está certo que as coisas com Piers não correram como você esperava, mas pelo menos ele lhe deu um pouco de felicidade.

- Uma felicidade que estou pagando até hoje - respondeu Abby, com ressentimento. Piers nunca me deu uma oportunidade para explicar tudo! Peto menos, poderia ter concordado em falar novamente com o dr. Morrison. Poderia ter mandado fazer novos testes em outro laboratório.

- Abby, Abby! Você não pode ser tão ingênua! Não depois de doze anos de casamento. Deve saber como essas coisas são importantes, principalmente para um homem. Piers consultou aquele médico, seguindo conselhos da mãe, para assegurar-se de que não poderia ter filhos.

- Mas os testes estavam errados, e você sabe disso! - afirmou Abby, fazendo forças para não chorar.

- Possivelmente. Mas o fato é que Piers não tinha motivos para duvidar da autenticidade dos exames. Tenho certeza que, hoje em dia, você pode entender como ele deve ter-se sentido. Santo Deus! Ele ficou tão deprimido que sequer lhe contou o resultado, apesar de ter sido essa a intenção da mãe. Eia pretendia que assim você desistisse do casamento.

- Mas ela não podia pensar que uma coisa dessas ia fazer alguma diferença quanto aos meus sentimentos por Piers!

- Pois foi o que pensou.. A maior parte das moças, mesmo nos dias de hoje, querem ter filhos quando casam.

- Mas poderíamos adotar uma criança!

- Não seria a mesma coisa. Pelo menos, Piers não era dessa opinião. Abby, tente se colocar no lugar dele. Como teria reagido se um médico lhe dissesse que você era estéril?

Abby ficou impaciente.

- De qualquer forma, ele deveria ter me dado uma chance para explicar.

- Talvez. Mas as evidências eram contrárias, não eram? E o fato de você descobrir que estava grávida logo nas primeiras semanas do casamento...

- Tia Hannah! Abby olhou-a, indignada.- Afinal, de que lado você está?

- Estou só bancando o advogado do diabo. Estou do seu lado, Abby e você sabe disso. Mas continuo a achar que aquela sua fuga não ajudou em nada.

- Eu não poderia ter tido a criança aqui.

- Não vejo a razão.

- Não queria que Piers me visse naquele estado, que acompanhasse a minha gravidez, vendo-me engordar dia a dia, observando-me, desprezando-me, achando-me horrorosa!

- Mulheres grávidas não ficam horrorosas! Você fugiu porque não teve coragem para enfrentar a situação.

- Tia Hannah!

- É isso mesmo, Abby. Sinto muito, mas é a pura verdade. Você permitiu que os Roth determinassem o seu futuro. Oh, ter ido para Londres foi um ato de bravura, não nego. Mas não pense que foi somente para provar aos outros que podia ser uma mulher independente, que você deixou Rothside. Na verdade, você estava fugindo, e era isso que os Roth queriam.

Abby tevantou-se e começou a caminhar, inquieta.

- É isso que você pensa a meu respeito?

Tia Hannah resolveu refrear a língua para não feri-la ainda mais.

- Minha querida, eu lhe quero bem, e sabe disso. Mas não adianta fugir da verdade. Mais cedo ou mais tarde ela se volta sobre os nossas cabeças. É o que está acontecendo agora.

- Está se referindo a Matthew? Hannah concordou.

- Mas o que posso fazer?

- Bem, fugir novamente não é a melhor medida. Matthew não a perdoará, enquanto você não puder provar que não teve culpa do que aconteceu.

- E como poderei fazer isso?

- Voltando a morar em Rothside. Dando a Matthew a chance de conhecer o pai como ele realmente é.

- Não. Eu já lhe disse, tia, que não posso fazer uma coisa dessas.

- Por que não pode?

- Já falei. Porque não seria justo.

- Para Piers? Abby! Matthew é filho legítimo de Piers! Que direito tem eie de continuar ignorando esse fato?

Abby mordeu os lábios.

- O que as pessoas iriam dizer? O que pensariam?

- E daí? Provavelmente pensarão que você teve a criança enquanto estava em Londres. O que não deixa de ser verdade.

- Mas como poderei provar que Matthew é mesmo filho de Piers? Ele nunca acreditará em mim!

- Talvez você não consiga.

- Essa não entendi.

- Matthew poderá conseguir.

- Matthew? Abby estava confusa.

 - Minha querida, se você trouxer Matthew para morar aqui, se o matricular na escola de Alnbury, se deixar que ele conviva com os outros meninos da vila... Dá para imaginar o que Piers poderá sentir?

- Duvido que sinta alguma coisa.

- Duvida? Não acha que essa presença constante poderá sacudi-lo?

- Sacudir, concordo, mas...

- Ouça-me, Abby. Sou bem mais velha e talvez um pouco mais sábia do que você. Está certo, concordo que a aproximação com Piers poderá, a princípio, causar-lhe um certo mal-estar. Mas dê tempo ao tempo. Cedo ou tarde, seu coração de pai falará mais alto.

- Tia Hannah, acho que você está se iludindo.

- Pois eu pago pra ver.

- E você acha que Piers vai deixar que alguém atrapalhe seus planos de se casar com Valerie Langton? Ora, tia, você já deveria ter adivinhado o que Piers andou contando a ela. A verdade, sob o ponto de vista dele.

- Mesmo assim, a moça deve ter ficado na dúvida.

- Tia. você não está sendo realista.

- Não? Esse homem já amou você, e muito.

- Isso foi há muito tempo.

- Mas se ele começar a vê-la com frequência, a ouvir falar de você, como decerto vai acontecer, começará a reviver o passado.

- Lembranças que logo serão esquecidas.

- Algumas delas, pode ser. Mas exislem outras, difíceis de esquecer.

Abby impacientou-se.

- Se você pensa, tia, que depois de tudo o que aconteceu, eu vou poder perdoar Piers...

- Não espero milagres, respondeu Hannah. Estamos falando sobre Matthew. É nele que você deve pensar. O futuro do menino precisa ser garantido. Ele é filho de Piers e, por direito, a propriedade dos Rolh deverá pertencer-lhe um dia.

- Bem, sim... mas...

- Ao menos, dê uma oportunidade a natureza. O garoto é o pai escrito. Talvez, à primeira vista, a semelhança não seja tão evidente. Mas existem detalhes... afinidades... Com o tempo, quem sabe a verdade venha à tona? Gostaria de ver a cara de Piers quando ele começar a desconfiar que esteve errado todos esses anos.

Abby pensou nessa hipótese. Ela também gostaria, e muito. Mesmo que não desse em nada, seria uma doce vingança saber que Piers iria remoer a besteira que cometera peio resto de seus dias.

Matlhew ficou em seu quarto até a hora do almoço. Ao descer as escadas, deu um sorriso amarelo para a mãe, que ficou aliviada em ver que, aparentemente, o menino tinha superado sua crise de rancor. Ele respondeu às perguntas de tia Hannah e comeu com apetite.

- O que você vai fazer hoje à tarde? perguntou tia Hannah a Matthew, que já havia repetido a sobremesa e esvaziado a jarra de limonada. Abby! virou-se para a sobrinha. Por que você não leva Matthew para dar uma voita? Tenho certeza de que ele vai gostar de conhecer o nosso vilarejo.

Tia Hannah fez a sugestão com a cara mais inocente do mundo, mas Abby sabia que a velha senhora tinha segundas intenções. Queria que ela convencesse o menino a mudar-se para Rothside. Assim, matariam dois coelhos de uma só cajadada: garantiriam um lar permanente para ambos e evitariam que a tia precisasse deixar Ivy Cottage.

- Não sei se... - começou a dizer Abby, mas foi ínterrompida.

- Vão andando! - insistiu tia Hannah. - Vou só dar uma lavadinha nessa louça e depois vou descansar um pouco, de pernas para o ar. O dr. Willis recomendou que eu fizesse isso todas as tardes. Diz que faz bem para a circulação. Esses médicos jovens têm cada uma!

- E então, Matthew? perguntou ao filho, já preparada para uma negativa, mas o menino aceitou o convite.

- Vamos. sim. Já que temos que ir embora amanhã, o melhor é aproveitar o pouco tempo que me resta.

Abby pediu ao filho para ir arrumar-se um pouco e, depois que ele subiu as escadas, falou com a tia.

- Se você quiser que eu fique, daqui por diante, vou querer fazer os serviços da casa, em troca da minha hospedagem.

Ao encaminhar-se para a pia, Hannah olhou-a, incrédula. - Está falando sério?

- Se Matt concordar, começando a enxugar os pratos. - Não é uma promessa, mas já que nada está dando certo, estou disposta a fazer uma tentativa.

Abby começou a remoer aquela possibilidade quando ela e Matthew começaram a andar por uma alameda verdejante que levava ao centro do vilarejo. Era uma tarde ensolarada e a atmosfera estava impregnada peio perfume das flores e dos milharais. Passarinhos cantavam entre os arvoredos, e os patos nadavam tranquilamente no açude. Matthew mantinha-se calado e prestava pouca atenção à paisagem. De vez em quando, atirava para longe as pedras que ia encontrando pelo caminho.

- Quando eu era criança, costumava soltar barquinhos de papel naquele açude, disse Abby, numa tentativa de despertar-lbe o interesse.

Matthew continuou mudo e Abby apontou para uma construção de pedras cinzentas.

- Foi ali que aprendi as primeiras letras, antes de ter idade suficiente para frequentar a escola primária de Alnbury.

Algumas crianças brincavam no gramado em frente ao edifício, mas pararam ao verem Abby e Matthew. Certamente perguntaram-se quem seriam aqueles dois forasteiros.

Seguindo adiante, passaram pelas lojas e pelo correio. Em seguida, ficava a Igreja de St. Saviour, onde ela e Piers haviam se casado. Evitou passar por ali. com receio de que o Reverendo Armstrong aparecesse à porta e a reconhecesse. Seria embaraçoso apresentar-lhe Matthew, como filho de Piers. As pessoas poderiam não acreditar nela, principalmente os conhecidos de sua sogra. Sabia que ficar morando ali no vilarejo podia ser uma tarefa muito pesada para o futuro. E temia não ser capaz de levá-la até o fim.

- Onde é que meu pai mora? perguntou subitamente Matthew.

Abby hesitou anfes de responder.

- Fora da aldeia. Ele... bem, eie mora em Rothside Manor. O nome deste vilarejo provêm do sobrenome Roth.

- Já tinha imaginado, disse com insolência. Afinal, onde fica Rothside Manor?

Abby titubeou.

- Por que quer saber?

- Por acaso é segredo?

- Não, não é segredo. Só não sei por que você quer saber.

Matthew deu um sorriso cínico.

- Não se preocupe que não vou invadir a propriedade alheia. Só queria saber onde meu pai mora com os meus avós.

- Você só tem uma avó, que é a mãe de seu pai, A sra. Roth.

- Como ela é?

Matthew parecia muito interessado, e Abby pensou como era ironico o fato de a sogra suscitar tanta curiosidade numa criança que ela nunca desejara.

- Bem... ela... ela é muito distinta. Deve estar com uns sessenta anos, mais ou menos. A ultima vez que a vi, era uma senhora muito elegante, de cabelos grisalhos, que gostava de andar a cavalo. Pelo que tia Hannah andou contando, hoje em dia ela dedica a maior parte de seu tempo a obras assistenciais. Você sabe, quermesses da igreja, campanhas para levantar fundos, esse tipo de coisas que se espera que uma pessoa da posição dela faça.

- Eles são ricos? Matthew estava curioso e perdera aquele ar de indiferença. Você já morou em Rothside Manor. não morou? Eu também já morei lá?

- Não, Abby sentiu que corava e desviou-se do assunto chamando a atenção do filho para um pequeno animai que cruzou seu caminho. Em Londres não temos desses bichinhos.

Matthew não se deixou impressionar, e Abby continuou a caminhada, achando que já era hora de falar sobre o assunto que fora desviado até o momento: a mudança. Tia Hannah tinha razão quando dizia que o garoto náo podia ser privado do direito de encontrar sua verdadeira identidade.

- Matt...

Ela faiara baixinho, mas o menino a ouvira, pois ergueu a cabeça.

- Matt... Repetiu, sem saber por onde começar. Tia Hannah sugeriu que talvez fosse melhor que nós ficássemos com ela por uns tempos.

A fisionomia de Matthew transfigurou-se.

- Ficar com ela? Quer dizer, nas férias?

- Não, Abby escolheu as palavras cuidadosamente. Nós viríamos morar aqui em Rothside, pelo menos por uma temporada.

- Morar com tia Hannah? perguntou, perplexo.

- Como você sabe, o médico acha que ela não deve morar sozinha, por causa da idade e do coração. Se não me falha a memória, você mesmo sugeriu que morássemos todos juntos lá no apartamento. Ela achou melhor fazer ao contrário, nós viríamos para cá.

- Deixar Londres?

- Não é uma idéia tão má assim, ainda mais que eu vou perder o meu emprego. O aluguel daquele apartamento é muito caro, e. hoje em dia, não é tão fácil conseguir um novo trabalho.

Matthew franziu a testa.

- E iríamos morar em Ivy Cottage?

- Claro.

- Não é uma casa muito grande... pelo menos para três pessoas.

- O apartamento também é pequeno, evidenciou Abby.

- E eu precisaria ir para a escola?

- Lógico. Você iria para a escola de Alnbury, aquela de que lhe falei. Parece que existe um ônibus especial que apanha todas as crianças das aldeias vizinhas, forçou um sorriso. No meu tempo, a gente tinha que usar as linhas normais.

- Meu pai também freqíientou essa escola?, perguntou.

- Não, Abby suspirou, desanimada, mas continuou O que você acha? Vamos aceitar o convite de tia Hannah?

Matthew abaixou-se para pegar um capim, que esmagou entre os dentes.

- Meu pai está sabendo disso?

Abby corou.

- Não, ele não sabe. E daí? Ele não tem nada a ver com as nossas decisões.

- Mas esta vila é dele, não é?

- Não. A família Roth já possuiu a maior parte dessas terras, no passado. Mas os tempos mudaram. Não que eles náo continuem ricos...

- ... e poderosos - acrescentou Matthew, mas ela o ignorou.

- O que quero dizer é que eles não são os donos de Rothside. Matt. Na verdade, eles são um tanto esnobes e não se misturam com os habitantes daqui. As amizades deles vivem fora da vila.

- Então, como foi que você conheceu meu pai? perguntou o menino, confundindo ainda mais a cabeça da mãe.

- Quer mesmo saber? Matt, tudo isso pertence ao passado. Foi um grande erro. Você está interessado em erros?

- Está querendo me dizer que eu fui um dos seus erros? - murmurou, ressentido.

E Abby fechou os olhos, desesperada.

- Não foi isso que eu quis dizer. O nosso casamento é que foi um erro. Piers e eu éramos de classes sociais diferentes. Nunca deveríamos ficar juntos, pois não tínhamos nada em comum.

- Com exceção de um filho - afirmou Matthew, muito inteligentemente.

- Matt, nós acabamos com tudo, mesmo antes de você nascer!

- Acho que você errou nisso também, revidou o menino. Ao menos, eu poderia ter tido a chance de escolher com quem gostaria de morar.

Abby engoliu em seco.

Matthew a tinha ferido muitas vezes, mas nunca tão profundamente como dessa vez. Desnorteada, começou a trilhar o caminho de volta, e ao passarem pelo gramado onde as crianças ainda brincavam uma bola de ténis foi cair aos pés de Matthew. Se ao menos ele pudesse ser uma daquelas crianças normais e despreocupadas!

Um dos menorzinhos, um menino gorducho e ruivo, foi para perto de Matthew para recuperar a bola. Matthew abaixou-se rápido e a segurou para o alto, prepotente e desafiador.

- Devolva a bola, Matthew! Você está interrompendo o jogo! Matthew hesitou, e em seguida, sem dizer palavra, arremessou-a através do gramado, por cima da cabeça das crianças, fazendo com que caísse dentro do açude.

Os patos se assustaram e saíram de dentro da água, grasnando e sacudindo as penas molhadas.

Matthew esfregou as mãos, deu um sorriso de satisfação e fez uma careta para o garotinho ruivo que estava prestes a chorar.

Abby ficou possessa.

- Seu idiota! - gritou, furiosa. Você não conseguirá conviver com crianças decentes! Volte já para casa, suba para o seu quarto e não apareça mais até amanhã!

 

Capitulo IV

No primeiro instante. Abby pensou que Matihew fosse desafiá-la. Ele ficou vermelho como um pimentão,fechou os punhos, mas depois, talvez por um resquício de respeito que ainda tinha por ela, limitou-se a lançar-lhe um olhar raivoso e saiu correndo em direção à casa da tia Hannah.

Abby fez um estorço para acalmar-se e virou-se para o garotinho ruivo.

- Bem, vamos lá!... vamos ver o que podemos fazer para salvar aquela bola. Até que está um dia bom para patinar na água!

A boquinha do garoto deixou de tremer, e ele chegou a dar-lhe um sorrisinho conformado.

- Por que eie jogou a bola no açude? - perguntou o menininho já mais confiante. - Não vai dar mais para jogar com a bola toda encharcada!

- Vamos ver se dá, hein?

Abby acompanhou-o pelo gramado, sentindo que estava sendo alvo de todos os olhares, inclusive de um grupo de mulheres que tinham se juntado, bisbilhoteiras, junto ao portão de uma das casas, e de dois velhos que estavam sentados num banco, à sombra de uma árvore.

Todos deviam ter presenciado a cena, pensou Abby. dando uma olhada em Matthew, que já se distanciara. Ela deveria ter obrigado o filho a ir recuperar a bola, mas, na hora, ficara exasperada demais para raciocinar direiio.

A bola estava boiando na superfície, mas fora do alcance das mãos. Abby tentou pescá-la com o auxílio de um galho, sem sucesso.

- Quer que eu entre na água e vá buscá-la? - perguntou uma menina de tranças castanhas, começando a descalçar as sandálias.

Abby a deteve. A última coisa que queria, naquele momento, era que aparecesse alguma mãe furiosa, acusando-a de ter posto em risco a vida da filha.



  

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