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O caminho da esperança 5 страница



A mudança decorrera na maior facilidade. O advogado de Piers incumbiu-se de tudo, inclusive de mandar guardar seus móveis num depósito, caso um dia ela resolvesse montar casa novamente.

Trevor Bourne fora extremamente generoso e até lhe dera uma gratificação extra, pelos anos de serviço. O dinheiro havia sido muito útil.

O trem chegou a Newcastle às seis da tarde. Era um dia nublado de outubro, e seria noite quando eles chegassem a Alnbury. Abby teria preferido viajar num horário matutino, mas Miles Shand já tinha comprado as passagens e não havia possibilidade de trocá-las. Era a primeira vez que ela viajava de primeira classe e Matthew estava encantado com todo aquele conforto.

Dessa vez eles traziam uma bagagem maior e, quando desembarcaram houve um certo atropelo para descarregar as malas. Estavam decidindo quem carregaria o que, quando Piers apareceu inesperadamente entre a multidão.

- Deixem tudo aí. Vou chamar um carregador.

- Viu, mamãe? Desta vez ele veio buscar a nos dois! disse Matlhew, sorrindo. Vamos, não faça essa cara. O carro deve estar estacionado lá fora. Vamos!

Abby seguiu o filho com relutância. Quais eram, afinal, as intenções de Piers? O que ele ganharia com aquilo? Valerie Lagton não iria aborrecer-se com esse súbito interesse dele por uma criança que sempre ignorara?

Ao chegarem à rua, Piers já estava esperando por eles.

- O carro está estacionado numa área proibida. É melhor que se apressem.

A bagagem foi acomodada no porta-rnalas e Piers fez sinal a Matthew para que ocupasse o assento traseiro.

- Sua mãe vai na frente comigo, determinou, recebendo o primeiro olhar de desapontamento do filho. Entre logo, Matthew. Você está impedindo a passagem. Abby. dê-me a sua frasqueira e acomode-se.

- Mamãe... eu não posso sentar na frente? pediu Matthew. sem obedecer à ordem do pai. Nunca sentei no banco da frente. Aposto que você já foi sentada aí um monte de vezes!

- Para trás, Matthew! O tom de voz de Piers era incisivo. Abby. entre, por favor. Não quer que eu leve uma multa, quer?

Abby suspirou.

- Bem que Matt podia...

- Entrem!

Piers puxou o banco para a frente, empurrando Matthew para o assento traseiro, e olhou para Abby com determinação, dando a entender que. se ela cedesse, poderia ser um mau exemplo para o menino.

Piers concentrou sua atenção na direção do carro enquanto atravessavam a cidade que, àquela hora, estava no auge do rush. Mas quando pegaram a estrada, relaxou a tensão e perguntou se eies tinham feito uma boa viagem.

Abby ainda não conseguira digerir aquela atitude autoritária de Piers. Custara a aceitar a decisão do juiz em dar a ele o pátrio poder, mas era melhor isso do que correr o risco de alguma assistente social resolver entregar o menino a uma instituição do Estado.

Agora que Piers estava falando com ela, sentiu uma necessidade irresistível de perguntar-lhe como se atrevera a impor sua autoridade sobre o filho. E que história era aquela de ir buscá-los na estação, como se fosse a coisa mais natural do mundo? Será que ele não percebia o mal que estava fazendo?

Piers afirmara que não queria ferir o menino, mas estava fazendo de tudo para acabar com seu equilíbrio emocional. Aquilo era uma verdadeira crueldade!

Como se sentisse as palavras ásperas que Abby tentava calar, Piers olhou-a para estudar-lhe a fisionomia. Ela virou-lhe a cara.

Não queria falar com ele. Não queria sequer encará-lo. Ficou louca de raiva quando Matthew começou a responder às perguntas do pai.

Aparentemente, o menino superara a decepção de ter que viajar no banco traseiro, e, ouvindo o diálogo entre os dois. Abby sentiu-se ultrajada e injustiçada.

Por que seria que toda vez que ela repreendia Mattew por alguma malcriação, o garoto amarrava a cara por horas seguidas e até dias, enquanto que, nas duas vezes em que Piers o admoestara, ele não parecia ofendido?

- Algum problema? Piers perguntou a meia-voz, depois que Matthew esgotou todos os tópicos referentes ao assunto viagens. Você não pronunciou uma só sílaba desde que chegou. Tenho a ligeira impressão de que teria preferido vir de ônibus.

- E teria mesmo, revidou Abby  com infantilidade, sem corresponder ao senso de humor dele. O que você está querendo fazer. Piers? Destruir a mínima chance de entendimento que ainda sobrou entre mim e Matt?

A maneira como ele apertou o volante demonstrava sua irritação, mas foi com voz suave e pausada que Piers respondeu:

- Pensei que você quisesse que eu tratasse Matthew como um ser humano. Estou pronto a aceitar que já que ele leva o meu sobrenome, eu devo assumir uma certa responsabilidade. Quaisquer que sejam os meus sentimentos pessoais a seu respeito, estou disposto a ajudar no que puder, pois estou vendo que vocês, estão precisando muito de ajuda.

O suspiro profundo de Abby indicava que ela estava prestes a explodir.

- Mais tarde, Abby. Mais tarde falaremos. Agora conte-me se Shand fez o que devia. Ele é um sujeitinho pomposo e falante, mas é um bom advogado.

Abby chegou a ranger os dentes.

- O Sr. Shand fez exatamente o que você lhe disse que fizesse. Forçou-me a aceitar o veredito do juiz, que já era, de antemão, de seu conhecimento. Diga-me uma coisa: a Srta. Langton aprova essas suas iniciativas a nosso respeito?

- Val sabe de tudo o que estou fazendo, retrucou lealmente. O que não quer dizer que ela tenha alguma influência sobre as minhas decisões. Eu resolvi que me encarregaria de Matt e ela aceitou a minha resolução. Até está ansiosa para ver o menino novamente. Isso responde à sua pergunta?

- Está ansiosa para ver o menino novamente... - Abby repetiu com voz desdenhosa.

- Foi justamenteo que eu disse. Abby, você deve compreender que eu não poderia adotar Matthew sem o consentimento dela.

Abby abriu a boca, atônita.

- Adotar?

- Não no sentido literal da palavra, seu tom de voz mostrava que ele estava começando a enervar-se. Abby, quando eu me dispus a ser responsável por Matthew, naquele tribunal, sabia o que estava fazendo. Sabia o que isso representava. Olhe, Abby, sei muito bem que vai ser duro para você aceitar, mas creia que só estou pensando nos interesses do menino. A assistente social encarregada do caso de Matthew espera que eu cumpra com o meu compromisso. Existem ainda formulários a serem preenchidos, e o comportamento futuro do garoto deverá ser impecável.

- Sei disso.

Abby nunca imaginara que Piers iria levar aqueia missão tão a sério. Precisava de um tempo para convencer-se de suas boas intenções.

- Já estamoschegando?

Malthew já se cansara de contar todos os carros que passavam por eles, e agora debruçava-se sobre o espaldar do assento dianteiro. Teria ouvido aquela conversa? Teria compreendido o seu significado? O que Piers queria realmente fazer pelo garoto?

Abby teve uma leve intuição de que Piers queria mesmo é que ela engolisse todas as acusações que lhe fizera no passado sobre sua falta de responsabilidade.

- Mais uns quinze minutos. respondeu Piers. Mas por que tanta pressa? Você está com fome? Na verdade, já é hora de jantar.

- Tudo bem. Matthew olhou para o painel do carro. Qual é a veiocidade que este carro alcança?

- Ele vai longe. Mas o limite de velocidade nas estradas é de oitenta quilometros horários. Não é prudente ultrapassar esse limite.

- Mas você já ultrapassou.

- Foi sem querer.

- Eu vi. Matthew parecia muito satisfeito com sua esperteza. Quando eu crescer, vou ter um Mercedes-Benz.

- Vai? Piers trocou um olhar com Abby. Antes disso, você vai ter que se esforçar muito. Se eu fosse você, não começaria a pensar nisso ião cedo.

- Só faltam cinco anos, e cinco anos passam depressa - declarou Matthew com arrogância. E, quando eu tiver dezessete anos...

- Quando você tiver dezessete anos, ainda vai estar estudando - disse Piers. e Matthew reteve a respiração.

- Não, não vou mais estudar. Vou sair da escola aos dezesseis. Mamãe ainda não lhe disse? Essa história de exames, classificações, boletins... não é comigo. Quero ser livre, quero viajar.

- Sem dinheiro, não vai poder viajar para muito longe.

- Eu vou conseguir dinheiro.

- Como?

Matthew calou-se.

- Roubando outro supermercado? - perguntou Piers, sarcástico. Ou tem outra ideia mais lucrativa em mente?

Matthew ficou vermelho como um tomate, mas não deu o braço a torcer.

- Mamãe não lhe contou nada? insistiu.

- Sua mãe não me contou nada sobre os planos dela a respeito do seu futuro. Mas eu vou lhe contar os meus, ok"?

- Faça como quiser. - Matthew sacudiu os ombros, indiferente, mas Abby aguçou os ouvidos para escutar.

- Você vai continuar no colégio até os dezoito anos e, se tiver uma boa cabeça, entrará para a Universidade.

- Universidade! -repetiu Matthew, desgostoso.

- Sim senhor, universidade! Sublinhou Piers, inabalável. Não despreze o que não conhece. Posso lhe garantir que é bem melhor do que trabalhar para ganhar a vida.

Matthew fez um muxoxo.

- É tudo a mesma chatice!

- É bem diferente. Em todo caso, a escolha é sua: trabalho ou universidade.

- Você frequentou a Universidade?

- Sim.

- Qual?

- A de Londres.

- Londres!

Matthew parecia agora um pouco mais animado, mas Abby achou que aquela conversa já tinha ido longe demais.

- Universidades custam dinheiro - disse ela. Uma fortuna! E Matthew sabe que vai ser bem difícil eu poder sustentá-lo numa universidade.

- Você não vai precisar fazer isso. Será por minha conta - retrucou Piers, calmamente.

Antes que Abby pudesse contestar. Piers virou-se para Matthew e apontou para as luzes de Rothside, qiie já piscavam ao longe. Estamos chegando.

Tia Hannah estava aguardando à soleira da porta de Ivy Cottage.

- Abby! saudou ela, eufórica, indo ao encontro deles.

Piers carregou a bagagem para dentro de casa, enquanto a velha senhora abraçava a sobrinha e o garoto.

- Entre um pouco, ela convidou, quando Piers fechou o porta-malas. Está servido de uma xícara de chá? A chaleira já está no fogo.

- Hoje não, obrigado, disse Piers, e amenizou a recusa com um sorriso afável. Vejo você amanhã, Abby acrescentou, dando a volta no carro. Boa noite. Matt. Cuide bem de sua mãe!

Depois de fecharem a porta, Abby teve vontade de desabafar todas as suas frustrações, mas não o fez. Matthew a olhava vigilante, e Abby pensou que ele estivesse apreensivo com os planos de Piers. Resolveu comportar-se como se aquele retorno a Rothside fosse um acontecimento normal e sem importância. Só depois do jantar, quando o menino subiu para ir dormir, é que ela pode por Hannah a par de todas as novidades.

- Eu já estava sabendo dessa audiência na Corte Juvenil, disse a tia, ao servir um cálice de licor caseiro. Você mencionou alguma coisa na carta, e Piers veio aqui pessoalmente para relatar-me tudo, tão logo chegou de Londres. Aliás, você vai me perdoar por eu ter pedido a Piers que fosse procurá-la no apartamento. Não pensei que fosse dar tamanha confusão. Minha única intenção era que ele a convencesse a vir morar em Rothside. Achei que, se ele ihe garantisse que não tinha nada contra, você se decidiria.

- Mas como foi que ele soube que eu não queria vir para cá por causa dele? Não sabia que você e Piers eram tão chegados.

- Ora, Abby! Hannah sentou-se em frente da sobrinha e saboreou um gole do licor. Você bem sabe que eu conheço Piers desde que ele andava de fraldas. Oh, já sei. Eu não tive muita intimidade com ele depois de adulto, mas nós sempre estivemos em contato; tal como fazia o pai. Piers também sempre se interessou pelos nossos negócios.

- Desta vez interessou-se demais! retorquiu Abby, bruscamente.

- Abby, eu não falei nada a Piers sobre Matthew. Não era o meu papel. Mas ele sabia da opinião do Dr. Willis, e tudo o que eu disse foi que sentia muito que você não pudesse vir morar comigo.

- Mas você lhe contou que o motivo de minha recusa era ele?

- Não com tantas minúcias. Mas o fato é que era, ou não era? Quero dizer, não foi somente o mau comportamento de Matthew que a fez mudar de ideia. Abby suspirou Bem, seja como for, foi a melhor coisa que você fez, tendo em vista as circunstâncias. Hannah levantou-se para atiçar o fogo. Vamos encarar a realidade, Abby. Londres não é o lugar ideal para um menino como Matthew. É uma cidade com muitas tentações. Ao menos, em Rothside, ele terá uma chance de recomeçar tudo de novo.

- Terá mesmo? Abby não estava muito convencida. Você está se referindo à hipótese de Piers reconhecê-lo como um Roth?

- Sim. E não é isso o que ele está fazendo? Não era isso que você tanto queria?

- Mas, agora? Abby terminou seu licor e levantou-se. Eu criei Matthew sozinha por mais de onze anos. Você acha justo que só agora Piers resolva tirar essa responsabilidade das minhas mãos?

- É que pensei que Matthew estivesse em maus lençóis, querida. Pensei que houvesse o risco de lhe ser tirada a guarda do menino.

- Quem lhe disse tal coisa? Hannah ficou desconcertada.

- Bem. Piers, acho eu. Abby, você precisa admitir que Matthew não é uma criança fácil de lidar, e está fichado pelas autoridades policiais. O relatório do professor foi deplorável.

- Foi iambém Piers quem lhe contou isso?

- Pode ter sido ele. Ora, Abby, pare de me olhar com tanta severidade. Tente ver o lado bom disso tudo. Como você mesma afirmou, durante onze anos você foi a única responsável pela criação de seu filho. Não acha que chegou a hora de o pai dele carregar nos ombros uma parte desse fardo?

Os lábios de Abby tremeram.

- Nunca considerei Matthew um fardo.

- Mas foi. E agora que ele está crescendo, sua tarefa vai se torna cada vez mais espinhosa.

- Mas Piers não acredita que Matt seja filho dele, teimou Abby. Ele está fazendo tudo isso só para salvaguardar o seu sobrenome.

- Pois eu não acredito nisso.

- Não pense que faz isso por mim. Piers não levantaria um dedo por minha causa. Se quer saber, acho que é por causa de Valerie Langton.

- Valerie? Hannah estava intrigada. E por quê?

- Bem, Matt não se apresentou a Piers, na frente dela, como sendo filho dele? E Piers não negou. Seria estranho um pai não se interessar por um filho. A moça poderia ficar mal impressionada.

Hannah franziu a testa.

- Hum..

- Pois eu aposto que foi isso mesmo. Fico enojada só de pensar que ele resolveu me roubar a custódia de Matthew só para se exibir. Piers não tinha o direito de fazer uma coisa dessas. Pobre Matt! Nem sei se ele vai adaptar-se a essa nova vida. Só espero que Piers o deixe em paz, agora que limpou a barra perante a futura mulher.

 

Capitulo VI

Surpreendentemente Abby dormiu bem, e na manhã seguinte acordou disposta a enfrentar os seus problemas. Piers se cansaria de bancar o pai extremoso tão logo aquilo deixasse de ser novidade. E, quando se casasse com Valerie Langton, ela provavelmenfe não iria aceitar um enteado com a metade da idade dela.

Decidida a levar o chá para tia Hannah na cama, como uma forma de compensação por tantas confusões. Abby vestiu-se e foi para a cozinha acender o fogo. Logo que a bandeja ficou pronta, levou-a ao quarto da velha senhora.

- Que horas são? - perguntou a tia, muito surpresa.

- São só sete e quinze. E que achei que você merecia um descanso. Já limpei as cinzas do fogão e o fogo está aceso. Diga o que quer para o desjejum, que hoje eu me encarrego disso.

Ali, deitada, a tia parecia muito frágil e vulnerável. Abby sentiu uma pontada de remorso por estar causando tantos transtornos.

- Acho que gostaria de saber que consegui superar o meu mau humor. Afinal, era meu desejo vir morar aqui. Os únicos empecilhos eram Matthew e Piers. Esse assunto já foi resolvido, e agora estou aqui, disposta a dar o melhor de mim mesma para não lhe causar mais dissabores.

- Dissabores? Mas, querida, se soubesse como me sinio feliz com a sua presença! Você só trouxe alegrias para esta pobre velha.

Piers chegou depois de todos terem tomado o desjejum, na cozinha, pois tia Hannah fez questão de descer e incumbir-se dessa tarefa.

Eram nove e meia, e Matthew estava no jardim examinando os canteiros devastados, depois de ter devorado um prato enorme de cereais e ovos mexidos. Ao ouvir os passos de Piers no cascalho da pequena alameda, Abby não pôde evitar sentir uma pontada de ciúme pela eniusiástica recepção que Matthew deu ao pai.

- Olhem só quem está aqui! disse o menino, virando-se para o pai.

- Aquela perua Mercedes-Benz que está lá fora é sua? Posso ir dar uma espiada?                       

- Desde que você não mexa no câmbio, tudo bem.  E já na soleira da porta, cumprimentou. Bom dia, Abby. Bom dia, sra. Caldwel. Espero que todos tenham tido uma boa noite.

- Aceita um cafezínho? ofereceu Hannah, já pegando na chaleira para pôr a água a ferver. É só um minutinho. mas fique à vontade.

- Na verdade, eu vim convidar Abby para sair comigo de carro, disse ele muito amável. Precisamos conversar e eu também quero lhe mostrar uma coisa. A senhora não se incomoda de ficar tomando conta de Matthew? '

- Claro que não. E você, Abby? Tem alguma coisa contra?

- Acho que podemos conversar aqui mesmo.

- Da outra vez, Matthew estava dormindo revidou Piers. Vá buscar um casaco ou uma malha leve. O carro tem aquecimento.

Abby oihou para os jeans e a camiseta de algodão que estava vestindo.

- Se você insiste em sair, é melhor que eu troque de roupa.

- Para quê?Por mim, você está ótima!

Apesar dele estar de roupa esporte, apresentava-se impecável como sempre, a calça de brim parecendo ter sido costurada no corpo, realçando os músculos das longas pernas.

Quando Abby saiu pelo portão, Matthew estava encarapitado rio muro, de cara amarrada por não poder ir junto.

- Não se preocupe com ele, afirmou Piers. logo que ela entrou na perua. Matt precisa aprender que não pode monopolizá-la. E você precisa deixar de ser boba, permitindo que ele faça isso.

- Oh, sim, eu sou mesmo uma boba total reforçou Abby com azedume. Fui boba também em permitir que você dirigisse a minha vida. Aquilo de você mandar Shand ao tribunal para acompanhar a audiência não passou de uma manobra. Eu poderia ter-me virado muito bem sozinha.

- Poderia? Naquele momento estavam atravessando a vila, e Piers acenava para várias pessoas que o cumprimentavam respeitosamente. Pois a mim pareceu que você estava meio perdida. Tive a nítida impressão de que estava sendo difícil controlar o garoto.

- Como assim? Só porque ele se meteu numa enrascada com a polícia, uma vez?

- Uma vez? Essa foi a vez que você soube. Santo Deus! Ele é um pefeito cabuladorde .ulas. Já foi pego várias vezes naquele supermercado em atitudes suspeitas. Só por milagre não foi detido das outras vezes. E já ouvi boatos sobre o que ele andou aprontando aqui. em Rothside. Você sabe que este é um vilarejo de interior, onde nada passa em brancas nuvens. As pessoas falam mesmo..

- É por esse motivo que você está fazendo tudo isso? Para não dar o que falar?

- Você devia ser a primeira a saber que eu não ligo para mexericos.

- Então, qual é a razão? Você não se importa com Matthew. nunca se importou. Por que não nos deixa em paz? Eu não lhe pedi ajuda.

- Certo. Piers conduziu o Mercedes para a estrada que levava a Alnbury. Talvez porque eu tenha sentido pena da sua situação. Afinal, você ainda é minha esposa.

Abby cerrou os punhos agressivamente.

- Duas coisas que eu não quero: a sua caridade e a sua piedade!

- Matthew quer.

- É uma baixeza você dizer isso!

- Mas é a verdade, o tom de voz era seco. Você estava prestes a perder aquele emprego, Abby. Muito provavelmente iria perder também o apartamento. Qual autoridade permitiria a você criar uma criança, nessas condições? Principalmente tratando-se de um garoto como Matthew com péssimos antecedentes?

Abby ficou num beco sem saída. Ele tinha razão. Mas ela não daria o braço a torcer.

- O que está dizendo? Que fez tudo isso por mim e não por Matthew?

- Eu mal conheço Matthew, respondeu Piers, tranquilamente. Como você mesma insiste em dizer, ignorei a existência dele durante onze anos. Mas você ainda é minha mulher. Abby. Em agosto foi o nosso décimo-primeiro aniversário de casamento.

- Dos quais só passamos quatro meses juntos - disse Abby, melancolicamente.

- Quatro meses? É... foi esse o período que você morou na mansão. Mas nós estivemos juntos por muito mais tempo do que isso.

Abby ficou cabisbaixa, vendo os joelhos tremerem.

- Aquilo foi diferente. Foi bem antes de sua mãe vir a saber sobre nós dois. Você... você ia casar com Melanie Hastings. e o nosso relacionamento não era para ser levado a sério.

- Mas foi.

- Não deveria ter sido.

- Concordo.

Aquela palavra dura de anuência manteve-os em silêncio por algum tempo. Só quando ele entrou na estrada que levava a Warkwick é que Abby se manifestou novamente.

-- Para onde estamos indo?

- Para Warkwick. Há um colégio iá, o Abbotsford. Já ouviu falar?

- Foi onde você estudou?

- Foi.

- É um internato, não é?

- Mas também admitem semi-internos.

- Você não está querendo matricular Matthew nesse colégio, ou está?

- E por que náo?

- Você sabe porque. A anuidade é uma fábula!

- Nem tanto assim. Saí quinhentas libras por ano. -- Quinhentas libras!

- E o ensino é dos melhores. Puxadíssimo!

- Não duvido, Abby sacudiu a cabeça. Piers, isso é uma loucura!

- Ué! Você não quer que o garoto receba uma boa educação?

- Nunca vou poder pagar uma anuidade dessas!

- Mas eu posso. Piers hesitou por um instante. Abby, pelo que você andou me contando, Matthew se comporta mal porque é um revoltado. Sua grande revoltaé não ter um pai e acrescentou, antes que Abby protestasse: Um pai que se importe com ele.

- Ele não precisa de pai. Até hoje nos arranjamos muito bem só nós dois.

- Até hoje, Piers reforçou intencionalmente, parando o carro numa pracínha. Abby, você precisa admitir que o garoto está confuso. Sob o ponto de vista dele, você me deixou porque nós não nos dávamos bem. Não é uma razão bastante forte para acabar com um casamento.

Abby levantou a cabeça.

- E você está com a intenção de lhe contar a verdade?

- Não. Por enquanto, não, Piers pareceu refletir sobre as palavras seguintes. É que antes pretendo levá-lo a Rothside Manor.

- Na mansão!

- Para que Val o conheça melhor.

Abby sentiu uma contração no estômago. Por alguns minutos ela esquecera do divórcio, esquecera de Valerie Langton, esquecera de tudo, em prol do desejo mútuo de fazer o melhor para Matthew.

- E sua mâe? O que ela vai dizer se você levar meu filho para a casa dela? Ela nunca me quis lá, só Deus sabe, e eu não vou deixar que o menino seja maltratado.

- Ela náo vai maltratá-lo. Acredite ou não, minha mãe nunca odiou você. Só ficou contrariada quando eu larguei Melanie.

- Contrariada! - ironizou Abby.

- Mas ela aceitou a ideia do nosso casamento, mesmo suspeitando que Trislan Oliver tinha a prioridade.

Abby ficou rubra de raiva.

- Tristan? Pura mentira!

- Oh, eu admito que você era virgem quando... bem... quando fiz amor com você em primeiro lugar.

- Em primeiro lugar?

Abby deu-se conta de que estava repetindo tudo o que ele dizia, mas eram coisas tão injustas que ela não encontrava meios para revidar.

- Piers, seria melhor que você me levasse de volta. Já tivemos esse tipo de conversa milhares de vezes, e, para ser franca, já estou saturada.

Piers encolheu os ombros, mas não fez menção de ligar o motor novamente.

- Você deve saber que Tristan foi para o Canadá. Ele tornou a falar. De início, até pensei que tivesse ido atrás de você.

Abby manteve-se calada, o rosto escondido pelos longos cabelos que lhe caíram pelos ombros.

- Ele não foi procurá-ía? insistiu Piers. Não lhe contou que pretendia viajar? Por que você não foi com ele? Ninguém, nem você, pode negar que Tristan estava apaixonado!

Abby continuou muda. Piers suspendeu-lhe uma mecha de cabelos da testa e ela ficou dura, sentindo um tremor interno quando ele falou, com voz sussurrante:

- Você não mudou nada... continua tão desejável quanto quando tinha quinze anos. Ficou chocada com isso? Pois saiba que logo que a vi, e você era ainda uma adolescente, eu a desejei para mim.

Abby ergueu a cabeça, desafiadora.

- Você está me namorando? pergumou, sarcástica. É uma outra forma de persuasão que você encontrou? Não me venha dizer que sou desejável. Tenho espelho em casa! Sei muito bem o que sou: uma massacrada dona-de-casa, com quase trinta anos!

- Pois você parece ter a mesma idade de Val! - retrucou Piers, dando a volta na chave de ignição. Agora vou lhe mostrar o colégio e depois voltaremos. Você terá tempo para resolver neste fim de semana. Se estiver de acordo, poderemos ir falar com o diretor na semana que vem, antes que eu vaje para a Alemanha.

- Você vai para a Alemanha?



  

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