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O caminho da esperança 2 страница



- Mamãe.

- Espere um segundo.

Fingiu que estava procurando alguma coisa na bolsa, mas nada podia alterar o fato de ele estar ali à espera de ambos. Tia Hannah não devia ter feito uma coisa dessas, pensou, contrariada. Ela não estava preparada para aquele encontro. A última coisa que podia lhe passar pela cabeça era a possibilidade de tornar a vé-lo naquela noite. Olhou para Matthew, ansiosa, imaginando qual ia ser a reação dele.

- O que foi? Não está se sentindo bem? perguntou o garoto. São quase nove horas. Você não fazia tanta questão de apanhar esse ônibus?

Abby não sabia o que dizer.

- É que.., bem... acho que. afinal, não vamos mais precisar tomar esse ônibus - disse, confusa.

Maithew não entendeu, e antes que ela pudesse jusiificar-se, a!go aconteceu, fazendo com que o coração de Abby quase parasse.

Piers estava sorrindo para alguém que acabava de desembarcar de um dos vagões da primeira classe. Era uma moça do tipo mignon, muito graciosa e feminina. Apesar da temperatura amena, trazia sobre os ombros um casaco de peles.

Valeríe Langton?

Abby tentou controlar aquela sensação de fraqueza que antecede um desmaio. Matthew olhou para ela e para a divisória da plataforma, duas ou três vezes.

- Mamãe... o que houve? Quem é aquele homem? O que ele está fazendo ali parado? Você o conhece?

Abby molhou os lábios ressequidos com a ponta da língua.

- Oh, eu... eu pensei que conhecesse - disse tentando se recompor. Como a noite está quente! Estou morrendo de calor!

- Pois não está com cara de quem está com calor, disse Matthew. passando ambas as malas para uma das mãos e segurando-a pelo cotovelo.

- Você está branca como uma cera, reparou, começando a empurrá-la para a borboleta da saída.

- Oh, espere! - A moça de casaco de peles estava agora junto à grade, conversando com Piers. Não é mais preciso tanta pressa. Matt. Não vamos conseguir pegar esse ònibus.

- Essa eu não entendi! exclamou o garoto, olhando desconfiado para Piers. Mamãe, você conhece aquele homem! É meu pai?

Dessa vez Abby desejou realmente desmaiar. Qualquer coisa seria melhor do que correr o risco de Piers vê-la.

- Mamãe! Matthew já estava aflito.

- Pois bem! Ele é seu pai. Mas não veio para nos buscar, conforme você mesmo pode constatar.

A fisionomia de Matthew revelava emoções conflitantes, e. quando ele olhou de novo para Piers seus olhos refletiam incredulidade.

Piers se afastava com a moça, acompanhando um carregador que transportava a bagagem.

O carro dele devia estar lá fora, pensou Abby, tentando não se sentir amargurada. Para a srta. Langton não haveria a chateação de um ônibus. Iria para casa confortávelmente acomodada numa limousine.

Era o cúmulo do azar Piers ter aparecido na estação justamente naquela noite.

Pobre Matthew! Como estaria se sentindo, vendo o pai pela primeira vez, e sem poder apresentar-se ou conhecê-lo.

Abby estava carregando os bilhetes para serem picotados, quando Matthew largou a bagagem no chão e saiu em desabalada carreira atrás de Piers e da moça.

Abby ficou petrificada, sem forças para reagir. Parecia um pesadelo. Precisava detê-lo e não podia,queria gritar e não conseguia.

Viu quando o menino segurou Piers peia manga do paletó, quando falou com o pai. Viu também a expressão de consternação e assombro da moça olhando o homem que estava a seu lado.

 

Capitulo II

Abby acordou no dia seguinte com uma sensação de desnorteamento, principalmente pelo silêncio reinante no quarto. Ela, que durante doze anos acostumara-se aos ruídos da cidade grande, estranhava aquela quietude, só quebrada, eventualmente, pelo arrulhar dos pombos no telhado ou pelo cacarejar das galinhas no quintal.

Com súbita apreensão, lembrou-se que estava em Rothside, deitada na mesma cama que ocupara por mais de quinze anos. em lvy Cottage, antes de seu casamento com Piers.

Afastou as cobertas e levantou. Foi até a janela e olhou para aquela paisagem que lhe pareceu mais familiar do que nunca.

lvy Cottage situava-se nos limites do vilarejo, mas de lá se avistavam as campinas verdes que se espraiavam por quilómetros, e oaçude onde nadavam os patos. A aldeia era minúscula.

Na rua principal ficava o correio, e uma grande loja, que vendia de tudo.

Durante o inverno era frequente ficarem isolados pela neve, que tornava os caminhos intransitáveis. Mas aquele era o seu lar. Se ela não. tivesse se casado com Píers, poderia ainda estar morando ali. E se em vez de ter escolhido um homem tão mais velho e com um padrão de vida tão diferente do seu, tivesse se casado com Tristan Oliver, por exemplo, nada daquilo teria acontecido.

Com toda a certeza, a mãe de Piers teria considerado Tristan uma escolha mais acertada, pois não era segredo para ninguém que ela nunca aprovara o casamento de Abby com o filho. Opusera-se de todas as formas possíveis àquela união, e só a tenacidade de Piers conseguira vencer a barreira materna. A separação do casal fora, de uma certa forma, uma vitória para a sra. Roth.

Afastando-se da janela. Abby passou os braços pelo seu corpo magro. Não queria mais pensar naquela família. Mas depois do que presenciara na noite anterior, era difícil tirar os Roth da mente. Fora tudo tão embaraçoso, tão absurdamente cômico! Não que ela tivesse achado graça.

Ao contrário, fitara com vontade de enfiar-se num buraco, no momento em que Piers a encarara com aquele seu olhar crítico e ameaçador. Mas, pensando agora, a cena até que tivera sua dose de humor. Só que naquela hora ninguém se divertira. Aquela reação impulsiva de Matthew apresentar-se ao pai pareceu, aos olhos dos outros, obra da própria mãe. Pelo menos, Piers deve ter pensado assim.

Abby estremeceu de repulsa e vergonha e, não mais suportando ficar ali sozinha, a remoer o acontecido, vestiu um penhoar e desceu as escadas.

Eram somente sete e meia da manhã, mas Hannah Caldwelljá estava em plena atividade na cozinha. Ao ver a sobrinha, indicou-lhe uma bandeja onde estavam as xícaras e o bule de chá.

- Eu ia levar o chá para vocês, lá em cima, mas já que se levantou, pode­mos tomá-Io aqui mesmo - disse, as faces enrugadas, coradas de prazer.

Abby apertou-lhe a mão e foi sentar-se à mesa da cozinha.

E pensar que não precisaria nunca ter saído dali, refletiu. Que bom que tia Hannah ainda existia! Naquele momento, ela estava precisando tanto falar com alguém amigo!

- Então, finalmente você está aqui! - exclamou a velha senhora, acomodando-se ao seu lado e segurando as mãos da sobrinha. - Veio para ficar?

- Só o fim de semana, conformelhe escrevi,

- Sim, eu sei. E você também me escreveu que anda preocupada com Matthew. Agora que o conheci, posso entender a razão.

- Está se referindo ao que aconteceu na noite passada?

- Estou me referindo aos motivos que estão por trás daquilo que aconteceu. Hannah despejou o chá nas xícaras. Abby, por que não contou a ele toda a verdade?

- Como eu poderia? Ele nunca acreditou em mim, e agora vai acreditar muito menos.

- Por que agora?

- Era mais fácil fazer de conta que o pai tinha morrido. E, para mim, era como se fosse verdade. Era como se ele estivesse morto

- Oh, Abby!

- Piers sempre nos repudiou, tia Hannah! Ele rejeitou Matthew. Como eu poderia contar ao menino uma coisa dessas?

- E quando foi que ele descobriu?

- Há uns dois anos.

- Como foi?

- Ele... ele deve ter visto a certidão de nascimento,

- E daí?

- Ele leu uma das suas cartas, enquanto eu estava ausente. Foi minha culpa.Eu devia ter percebido que ele estava crescendo, que estava se tornando mais curioso.

- E ele acabou matando a charada, colocando as duas peças juntas, Hannah suspirou. Sinto muito, minha querida. Eu devia ter sido mais cautelosa.

- Você sempre foi prudente. Nunca mencionou o sobrenome de Piers, Mas é que o nome dele é pouco comum.

- Depois disso, você contou a verdade?

- Disse-lhe que Piers e eu nos separamos por incompatibilidade de genios.

- Só isso? Não lhe contou sobre as brigas? Sobre Tristan?

- Acha que isso ia adiantar alguma coisa? A respiração de Abby tornou-se ofegante. Não percebe que já era tarde demais? Eu não tinha mais chances de reconquistar a simpatia de Marthew. Ele me condenou, e ainda me condena, comprovou isso ontem à noite.

- Oh. minha querida! Hannah parecia inquieta. Conte-me tudo direitinho. Ontem você estava muito perturbada e eu não quis parecer intrometida.

- Oh, foi um horror! Matt estava sendo tão bonzinho, tão prestativo! Até pensei que ele tivesse superado o problema. Nem me passou pela cabeça que ele tivesse conhecimento da carta de Piers sobre o divórcio. Se eu soubesse disso, teria pensado duas vezes antes de trazê-lo comigo.

Hannah fez um gesto de concordância.

- Continue. Você disse que viu Piers na estação.

- Certo. Ele tinha ido buscar a srfa. Langton que, por coincidência, viajou no mesmo trem. De primeira classe, naturalmente.

- Naturalmente.

- Bem... - Abby mordeu os iábios. A princípio, quando vi Piers, pensei que... Fez uma pausa Pode imaginar o que pensei.

- Que eu tinha pedido a ele para ir buscá-la?

- É... Foi uma estupidez minha, reconheço. Mas naquela hora, foi a única coisa que me ocorreu.

- Você chegou a comentar isso com Matthew?

- Não. Mas eu estava tão atrapalhada que Matt. inleligente como é, acabou percebendo tudo.

- E por que você deixou que ele saísse correndo atrás de Piers? Não era tão difícil imaginar o que poderia acontecer.

- Eu não deixei. Mas não consegui impedi-lo, pois, quando dei pela coisa, ele já estava longe.

- E Matt se apresentou a Piers como sendo o filho dele?

- Foi.

Abby sentiu um peso insuportável comprimindo-lhe o peito.

- E como Piers reagiu? Renegou o filho diante da srta. Langton?

- Não, Abby não conseguia controlar o rancor crescente. Mas também não o recebeu de braços abertos!

- Era de se esperar, Hannah olhou para a sobrinha, penalizada. Meu amor, você pode imaginar o susto que Valerie deve ter levado? Ninguém aqui no vale sequer sabia que você tinha um filho.

- É... posso calcular. Mas naquela hora, tudo o que vi foi Piers me olhando como se quisesse me matar!

- Bem. é que sem querer, você acabou armando uma boa confusão. Nunca deve ter passado pela cabeça da srta. Langton que ela ia ter um enteado,

- Piers não considera Matt como filho dele. E deve ter dito isso à srta. Langton tão logo nós saltamos daquele carro.

- A única vantagem foi que vocês  não tiveram que esperar pelo ônibus das dez - disse Hannah irónica.

- Em compensação, foi a viagem mais longa de minha vida. Durante todo o trajeto, ninguém disse uma palavra, nem Matt. Talvez ele estivesse arrependido do seu gesto impensado. Em resumo, ficamos todos sentados e mudos, como múmias, esperando chegar ao nosso destino.

- Piers nem perguntou como você estava? Por que tinha vindo a Rothside?

- No carro, não. Nem me lembro se ele disse alguma coisa, só sei que ele foi tremendamente hostil. Foi horrível!

- Como é que ele apresentou você a Valerie?

- Oh, como a ex-esposa, penso eu. Foi humilhante.

- Esqueça - Hannah olhou-a com ternura. Você não pode imaginar como é bom tê-la aqui novamente, Abby. A casa tem estado tão vazia todos esses anos!

- Eu também estou muito feliz em revê-ia, tia. Mas ouvi dizer que você não anda se comportando bem! O tom era meio brincalhão.

- Oh, você se refere à conversa que teve com o dr. Willis? Já lhe disse, na carta, que não pretendo deixar esta casa. Se eu tiver que morrer, prefiro morrer aqui, junto de tudo o que é meu, e não num asilo. Portanto, poupe o seu fôlego, pois para Rosemont não vou nem algemada!

- Você fala como se aquilo fosse uma prisão, tia Hannah!

- Para mim é a mesma coisa. Não dá para entender, Abby? Morei aqui em Ivy Cottage toda a minha vida. Não vou sair agora.

- Então terá que contratar uma enfermeira, ou uma governanta. Alguém que possa cuidar de você. alguém...

- Não quero uma estranha circulando pela minha cozinha, interrompeu a velha senhora com determinação. Não vou permitir que qualquer uma fique me dizendo o que devo ou não fazer, na minha própria casa!

- Mas. tia Hannah...

- Não adianta. Abby. Já tomei minha resolução. E se você veio para cá para tentar me fazer mudar de ideia, perdeu seu tempo.

Abby não desistiu.

- O dr. Wíllis disse que você não pode ficar sozinha!

- Então, venham vocês morar comigo, sugeriu. Não há nada que a impeça. Ainda mais agora que você e Piers vão se divorciar. Eu lhe daria um emprego e você daria a Matt uma oportunidade de conhecer melhor seu lugar de origem,

- Isso é impossível! revidou Abby, amedrontada com aquela proposta.

- Por quê? Por causa do seu trabalho em Londres?

- Não é por isso.

- Não? Já se cansou do seu emprego?

- Não, Abby titubeou. É... é que, para ser franca, a Bourne Electronics vai encerrar suas atividades.

- Vai? Hannah não disfarçou sua alegria. Então, seus problemas já estão resolvidos!

- Não. Tia Hannah.

- Qual é a desculpa? Abby abaixou a cabeça.

- A família Roth não gostaria disso, você sabe muito bem.

- E daí? Desde quando eu me incomodo com o que os Roth pensam ou deixam de pensar?

- Eu não poderia fazer uma coisa dessas com Piers!

- Fazer o quê? - Hannah impacientou-se. Já esqueceu o que Piers lhe fez? Matthew é ou não é filho dele?

- Você sabe que é.

- Então, não acha que já é tempo dele encarar essa verdade?

- Não quero nada dele, tia.

- De acordo. Mas não percebe que ele só está pensando em si próprio? Onde foi parar o seu espírito combativo, garota?

- Não posso, não posso!

Abby levantou-see foi para perto da janela. O quintal que antigamente era tão bem cuidado, estava em petição de miséria. Evidentemente, tia Hannah era velha demais para abaixar-se e lidar com a terra. Era uma pena!

A anciã também levantou-se e, mudando momentaneamente de assunto, perguntou:

- O que será que aquele rapazinho lá em cima vai querer para o desjejum?

- Umas torradas com manteiga e geiéia são  suficientes, Abby forçou um sorriso. É melhor que eu suba e me vista.

- Tudo bem. Mas não me diga que você não vai comer nada. Um chazinho ralo não é o bastante.               

- Não costumo comer pela manhã. Mas vou aceitar umas torradas.

- Torradas! - escarneceu a velha senhora. Um bom prato de ovos com presunto é o que você precisa! Sabia que você está só pele e osso?

Abby sorriu e começou a subir as escadas. Entrou no quartinho do filho. Matthew ainda dormia, a cabeça coberta pelos lençois. Tornou a fechar a porta e foi para o banheiro. Escovou os longos cabelos vigorosamente, até ficarem brilhantes, e prendeu-os na nuca. Mas não se maquilou.

Ao descer, encontrou Tia Hannah acendendo o fogão a lenha.

- É para esquentar a caldeira e ter água quente no banheiro. Tem certeza de que não quer ao menos um ovo escaldado?

- Entrego os pontos. Vou comer um ovo, desde que você me faça companhia, respondeu Abby. sorrindo.

- Combinado.

Mas. quando Tia Hannah ia começar a cozinhar, uma batida na porta dos fundos a conteve. Abby olhou-a interrogativamente.

- Talvez seja o moleque da fazenda querendo saber se quero mais ovos - disse Hannah. Mas quando abriu a porta, recuou, espantada. - Piers! - exclamou. - Ora. vamos entrando! Você é um bocado madrugador, hein?

- Quando é necessário - disse Piers. entrando na pequena cozinha. - Bom dia, Abby. Vejo que você também é de acordar cedo.

Abby continuou imóvel, sentada à mesa pois as pernas trémulas a impediam de se levantar. Limitou-se a olhá-lo. Aos trinta e sete anos, Piers Roth era mais atraente do que aos vinte e três, quando começara a trabalhar para ele pensou.

Ao ver que Abby não respondia ao seu cumprimento, Piers transferiu a atenção para Hannah.

- Como já deve ter presumido, sra. Caldweil, vim até aqui para falar com Abby, em particular. Anunciou, com um sorriso cortês. A senhora se importa que eu troque umas palavras com ela a sós?

- Absolutamente. Pode usar a sala de visitas.

Lembrando-se da atitude de Piers na noite anterior, Abby teria preferido não falar com ele agora, só por desaforo. Mas ao ver o olhar suplicante de Tia Hannah achou que era melhor não provocar uma cena.

Conformada, seguiu-o até a sala de visitas, que lhe pareceu gelada, apesar do calor reinante lá fora. Era um comodo da casa pouco usado e decadente. Tão decadente quanto aquele quinta!, pensou Abby, numa tentativa de não se deixar abalar por aquela entrevista tão inesperada.

Após fechar a porta atrás de si, Piers lançou um olhar melancólico para aquela saia antiga, cheirando a mofo, abarrotada de móveis, bibelõs e mil quinquilharias. Abby imaginou se ele se lembraria da primeira vez em que entrara naquele cómodo, na noite em que tia Hannah saíra para visitar a prima doente. Ou da noite em que eles tinham feito anjor, ao pé da lareira, depois da velha senhora ter subido para ir dormir? Cada cantinho daquela sala tinha uma história que Abby preferiria esquecer. Sentiu-se constrangida quando o olhar de Piers fixou-se nela, depois de vagar pelo ambiente.

- Naturalmente você deve saber por que estou aqui - disse ele, sem a menor afabilidade. Talvez você queira explicar-me a razão daquela cena deprimente de ontem à noite. Como soube que eu estaria na estação à espera daquele trem? Foi tia Hannah quem a informou? Nesse caso, gostaria de saber como ela soube disso.

Abby inspirou fundo, sabendo que não adiantaria exaltar-se.

- Acredite ou não, você era a última pessoa do mundo que eu esperava encontrar ontem à noite. Ou, ainda, que eu queria encontrar. Como você sabe tia Hannah esteve doente. O médico que está tratando dela me pediu para que eu a aleitasse sobre o perigo de morar sozinha. Esta é a única razão por que me encontro aqui.

Piers encarou-a desconfiado.

- Uma carta não teria sido menos dispendiosa?

- Talvez. Acontece que eu gosto muito de tia Hannah. Ela é a única pessoa que realmente se preocupa comigo.

Piers pareceu afetado por aquelas palavras.

- Que necessidade você tinha de trazer o menino? Abby reteve o fôlego.

- Ele é meu filho,Piers. Talvez você também se admire que eu tenha amor e consideração por ele.

Piers deu um passo à freme.

- Você não tinha com quem deixá-lo? Algum amigo? O ressentimento de Abby aumentou.

- Se você está se referindo a um amigo homem, sinto desapontá-lo. Matt e eu vivemos sozinhos.

Piers sacudiu os ombros largos.

- Mas você deve ter amigas.

- Isso é problema meu, Abby já estava ficando saturada. E que mal havia em trazer Matt? Afinai, ele pertence a este lugar.

Os olhos de Piers fuzilaram.

- Isso é o que você andou contando para ele.

Abby enfureceu-se.

- Não andei contando nada a ele!

- Contou que eu sou o pai dele!

- E você é!

- Ora, por favor! Não vamos martelar nisso novamente! - a respiração dele acelerou-se. O fato é que você afirmou que eu era, e apontou-me a ele na estação. Senão, ele não teria corrido atrás de mim e me feito passar aquele vexame na frente de Val.

- Não foi nada disso.

Estava sendo difícil para Abby controlar-se. Piers se mostrava tão seguro de si, tão arrogante! O pior é que ela não podia disfarçar a irritação quando ele falava da moça de uma forma tão íntima.

- Eu tambémfiquei chocada - continuou ela. - Foi uma coisa tão inesperada. Não fui eu quem disse a Matthew que você era o pai dele. Ele adivinhou sozinho. Como eu poderia prever aquela reação?

- Você está querendo me dizer que, ao ver um estranho na estação, ele presumiu que fosse o próprio pai? O tom de voz era sarcástico, não sou tão burro assim. Abby!

- Seu... seu bastardo! - agrediu-o Abby, furiosa. Você acha que eu ia querer que ele soubesse que seu próprio pai o renega? Acha que eu ia correr o risco de você negar-lhe a paternidade? Até dois anos atrás. Matthew pensava que você tinha morrido, e eu preferiria mil vezes que ele continuasse a acreditar nisso.

A expressão de Piers era de cetícismo.

- O que está dizendo? Que ele descobriu, de repente, sem mais nem menos, o nosso parentesco?

- Ele leu uma das cartas de tia Hannah. Viu seu nome lá escrito, e o identificou como sendo o mesmo da certidão de nascimento. Você sabe que ele não é nenhum imbecil. Seria muita coincidência eu conhecer dois homens chamados Piers, não acha?

- Foi daí que.você lhe contou a sua história.

- Não contei história alguma! Abby estava indignada. Disse simplesmente que o nosso casamento não tinha dado certo por... por incompatibilidade de genios.

- Devo então concluir que não existe a menor relação entre a minha carta, anunciando o divórcio, com a sua presença aqui em Rothside!

- Não mesmo! - Abby gritou.

Piers emitiu um som gutural e, resmungando, encaminhou-se para a janela. Estacionada no meio-fio, estava uma perua Mercedes Benz, muito polida e reluzente. Mais um dos seus automóveis, pensou Abby, ansiosa para que ele desse o fora. Os Roth gastavam mais em carros, anualmente, do que ela e Matthew tinham para viver.

- E o que o garoto pensa a meu respeito? - perguntou Piers subitamente, mantendo-se de costas para ela. Ele deve me culpar por essa tal incompatibilidade de genios.

- Para ser franca, ele acha que sou eu a culpada, isso deve dar-lhe um grande prazer! É o cumulo da ironia!

Piers virou-se e encarou-a.

- Não me dá prazer algum. Afinal, o filho é seu. Por que não lhe conta a verdade? Diga-!he que, apesar de ele levar o meu sobrenome, não é meu filho!

- Não posso dizer isso. porque estaria mentindo - retorquiu ela. Oh, por que não vai embora. Piers? A sua presença aqui não é bem-vínda. E não precisa mais se preocupar. Não vou deixar que Matt o aborreça novamente. Nós vamos embora amanhã.

Piers voltou para o meio da sala. só que dessa vez ficou tão perto dela que Abby podia até sentir-lhe o perfume, lavanda, misturado com o cheiro de tabaco de seus charutos predileios.

- Acredito em você quanto ao fato de não esperar me ver na estação, disse cordato. Foi uma coincidência infeliz que, espero, seja esquecida por ambos.

Se ele pensava que aquelas palavras conciliatórias a apaziguariam, estava enganado. Teria preferido que Piers dissesse abertamente o que estava pensando, deixando de lado os panos quentes.

- Quanta magnitude de sua parte! exclamou, irónica, consciente de que a proximidade deie a perturbava mais do que desejava. Não me venha com paternalismos! Não preciso disso. Vá pedir desculpas à srta. Langton. Ela está bem mais necessitada do que eu!

- Eu não estava me desculpando. Apesar de estar propenso a aceitar o fato de que você não poderia ter adivinhado que eu iria buscar Val na estação, continuo achando que foi uma tolice imperdoável ter trazido o menino para cá. Principalmente numa ocasião como esta e sabendo o quanto ele estava curioso a meu respeito.

- Ocasião como esta? Que ocasião?

- Quando estamos à beira do divórcio.

- Matthew não sabe de nada sobre o divórcio.

- Tem certeza?

Não, Abby não tinha tanta certeza assim. Matthew poderia ter lido a carta de Piers da mesma forma que lera a de tia Hannah.

- Mesmo que ele saiba, que diferença faz?

- E é você quem me pergunta isso? Pelo amor de Deus, Abby! O garoto pensa que sou o pai dele!

- E daí?

- Santo Cristo! Você não entende? Não importa o que nós dois sintamos um pelo oufro. O que importa é o que ele vai sentir. Você quer feri-lo1

- E você. o que tema ver com isso?

- Eu me preocupo com qualquer criança que esteja numa situação dessas, ergueu os ombros, nervoso. Abby, você precisa dizer-lhe a verdade. O menino é inteligente e vai compreender.

O auto-controle de Abby foi-se de vez.

- É isso o que você pensa? E o que realmente pensa? Os olhos verdes lançavam chimpas. Seu grandessíssimo pedante! Como se atreve a vir até aqui ensinar-me como agir com um filho que você ignorou durante doze anos? O que lhe importa se ele ficar ou não ferido? Não me venha dizer, agora, que vai sentir remorsos, quando ambos estamos saindo de sua vida definitivamente. Foi muito conveniente para você alegar que Matthew não era seu filho! Era uma boa saída para um casamento malogrado. Você, que nunca se dispôs sequer a pagar uma pensão alimentícia! O que tem a fazer agora é esquecer que existimos.

Os maxilares de Piers ficaram rijos.

- Isso não é verdade. Eu lhe enviei dinheiro...

- Que eu devolvi, cortou Abby. Não queria a sua caridade!

- Não era caridade.

- E o que era então?Uma esmola para apaziguar a sua consciência? Uma tentativa para provar que eu só queria mesmo o seu rico dinheirinho? Um meio de aplacar seu sentimento de culpa?



  

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