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O caminho da esperança 6 страница



- Só por uma semana. Val e eu conhecemos um conde alemão e sua mulher, quando fomos esquiar na Áustria, no começo do ano. Eles moram num castelo da Floresta Negra, e nos convidaram para participar da festa da cerveja local.

- Ah, sei... – Abby odiou-se pelo ciúme que estava sentindo. Deve ser interessante. A srta. Langton também vai?

- Sim, vai. Piers apontou para o pára-brisa. Esta é a escola! O que acha?

Abbotsford era um colégio tradicional, e o prédio, muito antigo, estava recoberto de heras. Mas mesmo à distância, via-se que era um educandário de classe, nobre e imponente.

- Que tal?

Piers estava esperando pela reação dela e, num impulso, Abby abriu a porta do carro e saltou.

- Parece um lugar ideal, declarou, vendo que Piers também saía do carro e a seguia através do alto portão de ferro batido. - Quantos anos você tinha quando veio para cá?                                      

- Oito. No começo, fiquei semi-interno. Só mais tarde é que meus pais acharam convenienteme internar.                                 

Abby tentou imaginar Piers com oilo anos. Devia -ptufcer-se bastante com Matthew,naquela mesma idade. Não tanto fisicamente, mas no temperamento. Matthew foi uma criança adorável.

Adorável! Abby lançou um olhar furtivo para o marido. Aquele não era o adjetivo que ela devia ler aplicado a Piers. Não, depois de tudo o que acontecera. Não depois de ter sido tratada daquela forma injusta. Entretanto, tal como Matthew, Piers sabia ser irresistível quando queria. Ao dar-se conta do rumo que seus pensamentos estavam seguindo, Abby teve um calafrio.

- Você está arrepiada de frio! exclamou ele, ao notar a reação de Abby, e.passando-lhe o braço pela cintura, a fez voltar.para o carro.

Ele também sabia ser solícito e atencioso... quando queria. Depois que se acomodaram, Piers ficou olhando para a linha do horizonte com um olhar distante.

- Lembra-se daquela tarde em que fomos ao High Tor? Estava garoando como hoje, e nós ficamos gelados até os ossos!

- Piers, vamos embora!

- Já vamos. Mas Piers ainda não tinha terminado a história. As muretas da torre ainda existem, ou pelo menos as ruínas. Aposto como ainda estão lá as cinzas da fogueira que acendemos e o capim seco com que fizemos a nossa cama.

- Pare com isso! gritou ela. O que você está tentando fazer?

- Não sei. Talvez tentando descobrir por que razão deu tudo errado. Bem... você sempre foi uma criatura irascível.

- Eu não pedi para que você se casasse comigo!

Piers concordou.

- Não, não pediu, mas bem que você eslava doidinha para casar. Poderia ter tido mil problemas se Matthew fosse ilegítimo.

- Bem menos do que eu tenho agora - retrucou Abby, muito ofendida com aquela indireia. E não falou mais com ele até chegarem em frente ao portão de Ivy Cottage.

No sábado, Piers levou Matthew para conhecer a avó. Abby não queria deixar, mas Matthew ficou tão ansioso com aquela perspectiva que ela não teve coragem de proibi-lo.

- Afinal, os Roth são a família dele, ponderou tia Hannah. quando ficaram a sós. Além do mais, Piers poderia valer-se dos seus direitos para forçá-la a concordar.

Era uma verdade irritante.

Mas não foi fácil testemunhar o entusiasmo de Matthew quando voltou da visita. Parecia um garotinho novamente, e tia Hannah trocou um olhar de cumplicidade com a sobrinha, quando ele mencionou a avó.

- Ela é bem velha - comentou Matthew. E quase não pode andar por causa da perna.

- Da perna? perguntou Hannah.

- E que ela sofre de artrite, explicou ele, servindo-se de mais um bolinho que a mãe fizera para o lanche. É por isso que ela não monta mais a cavalo. Mas eles ainda têm cocheiras, e papai me levou para ver o ponei. Vou aprender a montar nele!

Papai! Abby respirou fundo. Eie dissera a palavra com tanta espomaneidade! Mas como teria reagido a sra. Roth ao ver o neto? Será que Matthew notara alguma coisa de errado?

- Um pónei! exclamou Hannah, dando corda ao menino. Mas que ótimo! E ele tem nome?

- Chama-se Hazel. É o nome de um dos coelhos de um livro de histórias de um tal Richard Adams. Papai vai me arrumar um exemplar para eu ler.

Abby forçou-se a sorrir.

- Em resumo, você gostou da visita?

- Oh. sim. É um lugar lindo. Os comodos são enormes, a mobília é uma beleza. Não sei por que você não gostou de lá, mamãe, Soltou um suspiro conformado. Depois fomos tomar chá, lá na sala de visitas, você sabe. A Srta. Langton estava lá. Ela é bacana. É um pouco "metidinha a besta", mas acho que eslava se esforçando para agradar papai.

Como aquele menino era observador, pensou Abby. Pelo menos não se deixara cegar pelo deslumbramento daquele luxo todo. E a avó? Teria passado despercebida?

Pelo restante da semana Abby teve que aguentar os comentários de Matthew. Aquele sábado ia ficar inesquecível na memória do filho, e ela precisava conformar-se de que Piers agora fazia parte da vida do garoto. O Dr. Willjs veio visitar sua paciente na segunda-feira pela manhã, e Abby o recebeu com evidente satisfação.

- Então, você resolveu voltar? disse o médico, depois de ter examinado tia Hannah no quarto. Espero que desta vez fique para sempre.

- Eu também espero, Abby apontou para a chaleira. Aceita um cafezinho? Ia coar um, agora mesmo.

. - E dá para não aceitar? Sean sorriu e acomodou-se, sem a menor cerimónia, numa cadeira junto ao fogão. Eo garoto? Pensei que fosse encontrá-io por aqui.

- Oh. ele foi até o armazémfazer umas compras para tia Hannah, disse Abby, sentindo que corava. Suponho que tenha ouvido algum comentário sobre Matthew. Ele deve ter dado o que falar para o pessoal da vila.

- Ouvi dizer que ele é filho de Piers Roth, admitiu Sean. Mas isso não me surpreendeu. Pelo sobrenome, imaginei que tivessem algum parentesco. Mas isso não é da conta de ninguém. Eu. de minha parte, sempre respeitei a vida particular dos outros.

Maithew voltou na hora em que estavam tomando o cafezinho e, para constrangimenlo de Abby. Piers veio junlo.

- Papai me deu uma carona, disse o menino, olhando furtivamente para Sean. Ele quer falar com você sobre aquele colégio.

Abby lançou um olhar gelado para o marido.

- O que tinha que falar sobre isso com ele? perguntou, evidentemente aborrecida.

- Mencionei de leve e, retribuindo o cumprimento de Sean com fria educação, acrescentou:. Que bom ter uma clínica que funciona sozinha. O pessoal do serviço de atendimento telefonico sabe onde você está?

- O Dr. Willis veio para me examinar, interferiu Hannah, que acabava de descer as escadas, não escondendo seu desagrado pela ironia de Piers. Termine o seu café, doutor. Não se deixe assustar pelo Sr. Roth.

- Pode ficar descansada que eu não me assusto à toa, sra. Caldwe, afirmou Sean, muito seguro de si depositando a xícara vazia sobre a mesa. Mas é que já está na hora de eu ir andando. Foi bom vê-lo novamente. Matthew. Adeusinho, Roth. Até logo, Abby. Espero revê-la em breve.

Depois que o médico saiu, a atmosfera ficou elétrica, mas Piers não se deu por vencido.

- Então. Abby? Você já tomou a sua decisão? - perguntou, com uma inflexão bem mais amigável do que a que usara para falar como Sean Willis.

- Pelo visto, você já tomou a decisão por mim, respondeu com voz cansada. Matt, o que você prefere? Ir para esse colégio que seu pai escolheu, ou para a escola de Alnbury?

Ela sabia de antemão qual seria a resposia.

- Prefiro ir para o colégio onde papai estudou, declarou, olhando para Piers. Posso ir conhecê-lo? É muito grande?

- Não é tão grande assim. Deve acomodar uns quatrocentos alunos. Mas, antes de ir visitá-lo, seria melhor que sua mãe e eu fôssemos falar com o Ssr. Grant, o Diretor.

- E quando posso começar?

Maithew nunca se mostrara tão empolgado com os estudos, mas Abby teve a ligeira desconfiança de que todo aquele entusiasmo terminaria quando ele soubesse a quantidade de tarefas que aquele colégio dava para os alunos fazerem em casa.

- Depois do Natal, Piers respondeu à pergunta. E, virando-se para Abby. acrescentou: Marquei uma entrevista, a ser confirmada, para as dez horas da manhã. Para você está bem?

- E faz alguma diferença?

Abby não pôde evitar sentir-se desconsiderada. Piers já tinha feito todos os arranjos, como sempre, sem consultá-la. Só porque ela gostara da fachada do educandárío ele já tomara todas as iniciativas. Mas, a nao ser que quisesse causar uma grande desilusão a Matthew ela precisava acatar aquela intromissão.

 

Capitulo VII

A terça-feira amanheceu chovendo. Uma chuva fina e persistente.

Abby ficou indecisa sobre o que vestir. Um tailleur seria o mais adequado, mas os que ela possuía já estavam mais do que batidos. Decidiu-se por um vestido de jérsei cor de cereja. Sobre ele, usou o único casaco que tinha, de veludo preto e corte clássico, que contrastava com seus cabelos louros.

Piers não fez comentários sobre sua aparência quando a veio buscar com um carro Daimler. Apenas pegou o guarda-chuva que tia Hannah lhe emprestara, para atravessar a alameda do jardim, e guardou-o no porta-malas, antes de voltar a sentar-se ao volante.

Em seu terno cinza-chumbo com colete, ele parecia ainda mais esnobe e convencional.

O Sr. Grani era um homem muito agradável, de uns cinquenta e poucos anos, com verdadeira vocação para o cargo de Diretor de escola: parecia gostar sinceramente de crianças, era meticuloso nas informações que prestava aos pais e combinava isso tudo com um surpreendente senso de humor.

- Seu marido já me explicou toda a situação, Sra. Roth. Tenho certeza de que Matthew vai beneficiar-se pelo fato de ter a atenção de ambos novamente.

- Oh, sim.

Abby forçou um sorriso, tentando imaginar o que Piers teria dito ao Sr. Grant. Nunca antes Matthevv se dera ao luxo de ter a atenção do pai e da mãe simultaneamente, e ela só esperava que aquela nova experiência não fosse prejudicial ao menino.                                                             Já fora Abby respirou melhor e apressou-se em voltar para o carro.

- Você está encharcada! disse Piers, sacudindo os respingos do paleto, ao entrar pela outra porta. É melhor tirar esse casaco, antes que apanhe um resfriado. Aqui dentro está aquecido, e por enquanto você não vai precisar de agasalho.

Abby hesitou mas, considerando que ele tinha razão, tirou o casaco molhado e esfregou os braços nus para reativar a circulação.

- Voltaremos na próxima semana para que Matthew  conheça o colégio continuou Piers, quando o carro começou a afastar-se do edifício. Então, ficou satisfeita?

- Bem, o que foi feito, foi feito. Agora já assumi um compromisso com o Diretor.

- Não é bem assim. Sempre há tempo para um cancelamento. Se você acha que para Matthew vai ser melhor a escola de Alnbury, não vou me opor, mesmo não estando de acordo.

- Só tem um senão... Como é que Matthew virá para o colégio? Pelo que entendi, eles não têm ônibus escolares.

- Falarei com os Croft, sugeriu Piers. O filho mais velho deles frequenta essa escola, e Sarah vai levá-lo e buscá-lo todos os dias. Acho que eía não se incomodaria em levar também Matthew.

- Sarah Croft? Lembro-me dela!

Sarah fora uma das poucas amigas que Abby tivera na época de seu casamento com Píers.

- Vocês não andaram se correspondendo?

- Não. Ela me escreveu uma vez, mas eu não respondi. Achei que não devia. Afina!, os Croft eram seus amigos, não meus. Teria sido embaraçoso para mim coniinuar com a amizade.

- Embaraçoso?

- Não finja que não entende! revidou Abby. Como poderia manter a amizade de Sarah quando ninguém estava sabendo da existência do bebé?

- E por que você não contou a ela? Se é que conheço bem Sarah, tenho certeza de que tomaria as suas dores.

- Eu não queria que ninguém tomasse as minhas dores. Tudo o que desejava era esquecer.

- Esquecer-me? É isso que você quer dizer?

- Interprete como quiser.

- E você esqueceu?

- Sim afirmou Abby, inflexível.

- Completamente?

- Do mesmo jeito que você me esqueceu, disse ela, resoluta.

- Mas eu não a esqueci. Abby.

- Só que não queria se lembrar. Piers encolheu os ombros.

- Eu tinha as minhas razões, não tinha?

- Imaginava que tinha.

-- Mas você não respondeu à minha pergunta.

- Que pergunta?

- Se você me esqueceu completamente.

- É difícil esquecer completamente a quem se odeia.

Abby ouviu a respiração de Piers alterar-se.

- E ainda me odeia?

Abby virou o rostopara a janela, olhando a chuva cair. Teria desejado responder que sim, que ainda o odiava mais do que nunca. Mas não seria verdade. Desde que Piers voltara à sua vida, seus sentimentos tinham mudado. Já não sentia tanto rancor pelas humilhações que ele a fizera sofrer no passado. O tempo abrandara seu ódio, e o fato de estar novamente ao lado dele, de sentir a antiga atração ressurgir, tinha feito com que sua vontade de vingar-se enfraquecesse.

- Para onde estamos indo? perguntou, de súbito, ao sair de seu devaneio, dando-se conta de que ele já havia ultrapassado a estrada que levava à vila. Este não é o caminho para Rothside. É a estrada particular que leva à mansão dos Roth!

- Absolutamente certo Piers lançou-lhe um rápido olhar. Pensei em almoçarmos juntos lá em casa. em homenagem aos velhos tempos. Que me diz disso?

- Almoçar na mansão? Com sua mãe? Abby apertou os lábios. Algo me diz que ela não vai gostar nem um poaco.

- Ela não está em casa. Foi para Newcasíle com tia Isabel, para fazer compras, e só vai voltarà tardinha.

Abby teve uma estranha sensação. As palavras de Piers traziam-lhe recordações de seus primeiros encontros ilícitos, quando eles aproveitavam as ausências da mãe para namorar. Tudo havia começado inocentemente, ou pelo menos assim lhe parecera. Afinal, ela só linha dezesseis anos, e aquele era seu primeiro emprego. Apesar de ela logo ter sentido uma grande atração por ele jamais imaginara que Piers poderia corresponder a esse sentimento com a mesma intensidade.

Ele ainda estava na Universidade quando o pai morrera, e os negócios ficaram nas mãos de Procuradores, que não se atreviam a tomar decisões importantes. Quando finalmente tomou as rédeas dos negócios, havia um acúmulo de trabalho esperando por ele- A secretária que durante muitos anos trabalhara para o pai pedira demissão para ir cuidar da mãe inválida. Quando o cargo ficou em aberto, Abby candidatou-se.

Nunca esperara ser aceita, mesmo porque havia outras candidatas bem mais experientes. Mas Piers insistiu que preferia alguém a quem pudesse ensinar o serviço a seu modo, e só mais tarde ela soubera da verdadeira razão daquela escolha. Para Abby, o emprego tinha sido um verdadeiro achado. Era perto de casa e   eia podia ir diariamente de bicicleta, economizando as passagens de ònibus, o que lhe permitia entregar seu salário a tia Hannah praticamente intato. Tinham sido dias felizes, muilo felizes.

Pensando neles, Abby soltou um suspiro saudoso. Logo ela aprendera tudo sobre avaliações de terrenos e propriedades, e sobre administração imobiliária. Também teve oportunidade de testemunhar os problemas que ele enfrentava tentando manter um relacionamento amistoso com seus rendeiros e inquilinos. Havia muita rivalidade entre eles, e Piers sempre procurava ser omais justo possível, favorecendo os mais pobres e necessitados.

Costumava discutir esses problemas com Abby, acatando-lhe, muitas vezes, a opinião. E logo seus diálogos começaram a ter um cunho mais pessoal. Ele contou-lhe sobre seus tempos de universidade; e ela sobre sua família, inclusive a razão por que tia Hannah a abrigara sob seu teto.

Eram conversas descontraídas, e ele parecia interessar-se por tudo o que Abby dizia. Aquela camaradagem removera todas as barreiras sociais existentes entre os dois, e Abby chegou a esquecer sua origem humilde e o fato de que a família dele poderia não aprovar o relacionamento que maniinharn.

Fora nessa ocasião que Tristan Oliver a convidou para irem a um baile de adolescentes em Alnbury. Iriam de Ônibus e o pai dele iria buscá-los de carro na volta, já que o rapaz tinha somente dezessete anos e ainda não podia dirigir.

Encorajada por tia Hannah. Abby aceitou o convite e mencionou aquele baile a Piers, de forma casual, talvez com a intenção secreia de mostrar que era requisitada pelos rapazes de sua idade.

Chegou a levar um choque ao deparar com Piers, na saída do baile, postado ao lado do pai de Tristan.

- Precisei vir a Alnbury tratar de uns negócios - dissera ele ao sr. Olíver, amavelmente. Vou aproveitar a oportunidade para acompanhar Abby até em casa. De qualquer forma, é o meu caminho, e o senhor precisaria desviar-se do seu.

O pai de Tristan ficou tão surpreendido quanto ela, mas como a explicação de Piers era razoável não discutiu.

Os Oliver não eram rendeiros da família Roth, pois tinham sua própria fazenda, e como dissera Piers, eles teriam que desviar-se de seu trajeto para levar Abby para Ivy Cottage.

Assim, logo ela já estava confortavelmente instalada ao lado de Piers na perua que os levaria para Rothside.

- Você não se importou, não é mesmo? - perguntou Piers, tão logo deixaram Alnbury para trás.

- Confesse. Você não tinha negócio algum a tratar em Alnbury tinha?

- Não, respondera Piers, honestamente.

- Você veio para se encontrar comigo,

Aquilo já não era mais uma pergunta, e sim uma afirmação. Não devia ter feito isso - ela acrescentara.

- Eu sei.

Abby segurara a respiração.

- Piers...

- Não. não diga nada , pediu, muito tenso. Vamos deixar por isso mesmo.

- Se é o que você quer.

- Se é o que quero? Piers pisou no breque com tal violência que ela foi atirada para frente.Não. não é isso que eu quero. Abby. A voz era muito insinuante. Você sabe muito bem o que quero, e tem todo o direito de me desprezar por isso.

- Eu não o desprezo, Piers.

Só naquele momento ela percebera que a razão dela gostar tanto da companhia de Piers não era somente por ele ser um bom patrão, amigo e compreensivo. Na verdade, sentia-se atraída por ele como mulher, esperando muito mais do que tinha direito de esperar daquele relacionamento socialmente tão desigual.

- Abby?

Ele a encarava fixamente, e apesar da escuridão da noíle podia sentir a intensidade daquele olhar,

- Abby... não brinque comigo. Eu não sou um desses seus namoradinhos. Não sou Tristan Oíiver.

- Eu sei.

Piers passara-ihe a mão pelos longos cabelos e soltara-lhe a fivela, deixando livre e solta aquela cabeleira macia e sedosa.

-- Pena que você ê jovem demais, ele sussurrou, com os lábios projetados para a freme, sensualmente, e ela eletrizou-se toda.

- Nao diga isso!

- Por que não? É verdade!

A mão morena e acaricíante tinha deslizado da nuca para o queixo rosado, e, num gesto instintivo, Abby roçara os lábios pelos dedos que a tocavam.

Piers pressionara o polegar sobre aqueles lábios, obrigando-a a entreabrir a boca. Logo seus próprios lábios estavam colados aos dela, num beijo devastador.

Podia ser que Abby não estivesse preparada para a sensualidade adulta de Piers, mas mostrara-se uma excelente aluna e correspondera aos arroubos da paixão com o mesmo arrebatamento. Tudo isso acontecera há muito lempo.

- E então?

Notando que Piers ainda esperava por uma resposta ao seu convite para ir almoçar na mansão. Abby balançou a cabeça, numa negativa.

- Tia Hannah está à minha espera. Ela pode ficar preocupada se eu não voltar para o almoço, principalmente com um tempo desses.

- Mande-lhe um recado. Ela não vai achar ruim, se souber que você está comigo. Mesmo que  ela não me aprecie muito, por causa das circunstâncias, sei que ainda me considera um cavalheiro.

- Considera? Pois eu tenho as minhas dúvidas!

- Abby, por favor, seja mais indulgente comigo. Que diabo! Pode ser que esta seja a nossa última chance de falarmos como marido e mulher. Já escrevi ao meu advogado para dar início à ação de divórcio.

Abby ficou indecisa. A chuva, lá fora, conspirava contra ele. Acabou aceitando o convite, mesmo a contragosto.

Aquele caminho particular que levava à mansão pareceu-lhe tão familiar... Não queria lembrar-se do passado, mas diante de seus olhos pareciam se descortinar aqueles acontecimentos remotos e perturbadores.

A recordação da primeira vez em que Piers fizera amor com ela voltou-lhe à memória com uma nitidez assustadora. Era incrível que se lembrasse de todos os detalhes, depois de quase quatorze anos.

Do primeiro beijo a outras intimidades. cada vez mais ousadas, tudo foi muito natural e espontâneo. De início, os conselhos que sempre ouvira de tia Hannah continham seus impulsos. Mas, pouco a pouco, as ansiedades de seu corpo calaram toda e qualquer advertência ou remorso.

Ambos eram jovens e estavam apaixonados.

O clima na mansão, durante o trabalho, tomara-se tenso. Eles ficavam tempo demais juntos, tempo demais sozinhos, e o inevitável acabou acontecendo. Chegou a admirar-se de como a sra. Roth não percebesse o que se passava debaixo de seu nariz. Talvez não desconfiasse de nada porque considerava Abby apenas como mais uma das "'aldeãs do vilarejo", e acreditava que Piers também pensasse o mesmo.

Foi durante o entardecer de um verão muito quente... relembrou Abby. melancólica.

Estivera trabalhando até depois da hora. ajudando a sra. Roth a endereçar os convites para uma festa ao ar livre, em benefício de uma instituição de caridade. Piers estava ausente, pois fora assistir às corridas de cavalos no hipódromo.

Enquanto cumpriam aqueia tarefa monótona, a sra. Roth soltara a bomba.

- Talvez no ano que vem, nesta mesma época, estaremos enviando os convites para o casamento de Piers - anunciara ela, com emoção. A tão querida Melanie! Uma moça adorável! Vai ser uma esposa e tanto!

Abby soube instantaneamente de quem ela estava falando. Nos últimos tempos, Melanie Hastings era vista com freqííência na mansão. Os pais dela eram amigos íntimos da Sra. Roth e Abby pensara, ingenuamente, que aquela era a única razão da presença constante da moça. Mas era claro que se enganara, e foi com as mãos tremendo de raiva e ressentimento que Abby terminou de executar seu serviço.

Piers chegara em casa bem na hora em que Abby estava de saída, indo buscar sua bicicleta no pálio. Ele a deteve, com um olhar suspeitoso e sombrio.

- Ei, espere! Aonde vai com tanta pressa? Eu levo você para casa. E só o tempo de ir buscar o carro.

- Não é preciso, muito obrigada, recusara Abby, fria e seca. Boa noite, Sr. Roth. Nos veremos amanhã.

- Abby! Piers segurou-a pelo braço. Que história é essa de senhor Roth? Enrugou a testa, assumindo um ar desconfiado. O que foi que minha mãe andou lhe dizendo?

- O que poderia ela ter me diio? os olhos verdes chispavam de raiva. Ah, talvez que você vai se casar no próximo ano! completara, sarcástica.

Desvencilhando-se dele, saltou para o assento da bicicleta e saiu pedalando com fúria.

Ele a alcançou depois que já transpusera os limites da propriedade, e bloqueou seu caminho com o carro.

- Desça daí! ordenou, muito sério, tirando-lhe a bicicleta das mãos. Sem titubear, atirou-a na parte traseira do veículo e, segurando Abby pelo cotovelo, obrigou-a a entrar no automóvel.

- Então, é ou não é verdade? perguntou Abby. tentando simular indiferença.

Ele limitou-se a dar a partida no carro, que saiu à toda. cantando os pneus. Sem dizer palavra, conduziu-o até a beira do lago das trutas, que se estendia por vários acres.

Era um lugar pitoresco, com águas plácidas, circundadas de arvoredos que refletiam seus contornos na superfície espelhada. Mas Abby sabia que ele não a trouxera ali para apreciar a paisagem.

- Não confia em mim? perguntou ele, convidando-a a acompanhá-lo com um gesto, mas ela continuou sentada.

- E eu deveria confiar em você?

- Talvez não. - Percorreu-a dos pés. à cabeça com um olhar inflamado pelo desejo. Do jeito que me sinto neste momento, você tem toda a razão de estar com medo de mim.

- Então, leve-me para casa, pediu ela, fazendo um esforço para combater a atração que aquele olhar provocante exercia sobre ela.

Afinal, ele ainda não desmentira a acusação, e foi entre indignada e fascinada que usou ambas as mãos para empurrá-lo para longe. Mas tudo o que conseguiu foi deslizar para fora do carro, com as pernas bambas. Quando se ergueu, seu corpo veio roçando peio dele e Abby pôde sentir que Piers estava no auge da excitação. Isso fez com que seus próprios sentidos se exaltassem, e ela arqueou o corpo instintivamente de encontro ao dele. As mãos de Piers deslizaram pelas suas costas até chegarem aos quadris e ele a puxou contra si, ainda com maior sofreguidão. A boca sequiosa procurou seus lábios, e eia chegou a perder o fôlego, tal o ímpeto daquele beijo:

Beijara-a seguidamente, dando expansão ao desejo que refreara até então. Mesmo que ambos soubessem do perigo de soltarem suas emoções, não havia como controlar-se. Eles se queriam, e aquela atração mútua era uma tentação irresistível.



  

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