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O caminho da esperança 1 страница



                                           

O caminho da esperança

“Season of mitts”

Anne Mather

 

A paixão de Piers por Abby, sua secretária, foi tão violenta que em pouco tempo eram marido e mulher. Abby estava no céu. Mas aquela felicidade acabou num piscar de olhos: os preconceitos da aristocrática família de Piers foram mais fortes. Daí a traumática separação. Durante onze anos ela criou sozinha, seu filho Mathew, já que Piers negava a paternidade do menino... Agora estavam de novo frente a frente e ela sabia que o garoto precisava da presença do pai. Além disso, o antigo amor pelo marido insinuou-se no coração de Abby, fazendo de sua vida um inferno! Ela iria escapar de mais essa armadilha do destino?

 

 

Capítulo I

Ao voltarem para o apartamento, duas cartas a esperavam na caixa do correio. O dia fora terrível. Primeiro, estourara a bomba de que a Companhia Boume Electronics ia fechar as portas. Depois, aquela convocação do professor de Matthew para que ela comparecesse à escola, após a aula; e agora, aquelas duas cartas, enviadas de Rothside, que traziam a Abby recordações que preferia esquecer.

Matthew a seguiu até a acanhada sala de estar do apartamento, lançando um olhar furtivo para os dois envelopes que ela segurava, antes de atirar-se displicentemente sobre o sofá.

Era um menino muito desenvolvido para a idade. Já tinha quase a altura da mãe. o que dificultava ainda mais fazer-lhe uma reprímenda.

Mas, naquele momento, Abby estava mais preocupada com o conteúdo da carta de Piers, que há anos não lhe escrevia, do que com as últimas novidades da tumultuada vida escolar do filho.

Matfhew era uma criança problemática, ou, pelo menos, era o que parecia nos últimos dois anos. Abby começava a perder a confiança em sua capacidade de controlá-lo.

Nem sempre fora assim. Durante dez anos, eles tinham sido muito chegados, e se enlendiam às mil maravilhas. Mas quando o garoto descobrira que Piers, seu pai, ainda estava vivo, e não morto, conforme a mãe lhe contara desde pequeno, as coisas tinham se complicado.

Abby tentara justificar-se, explicando que mentira para poupá-lo do senti­mento de rejeição que ele sofria agora, mas Matthew não lhe dera ouvidos.

Ao saber que na realidade a mãe se separara do pai. antes mesmo dele nascer, não quis mais aceitar qualquer argumentação, e atribuía-lhe toda a culpada separação.

De início. Abby preferiu deixar o barco correr, sem forçar a barra, na esperança de que, com o passar do tempo, Matthew compreendesse suas razões. Suas previsões, porém, estavam erradas. O tempo piorara ainda mais a situação, e até o comportamento de Matthew no colégio vinha se agravando desde então.

Matthew agora estava ameaçado de expulsão da escola, caso não parasse de cabular as aulas. Mas até mesmo este grave problema passarapara segundo plano diante daquela carta imprevista.

Piers nunca escrevia. De vez em quando, ela recebia notícias dele, através de sua tia Hannab. Desde sua última visita, quando ela ainda eslava na maternidade, por ocasião do nascimento de Matthew, Piers nunca mais dera sinal de vida. E era por isso que os dedos de Abby tremiam ao abrirem o envelope.

Era curioso como ela conseguia reconhecer a caligrafia do ex.-marido, depois de tantos anos. Taivez fosse graças às horas intermináveis que, no passado, passara datilografando seus incontáveis rascunhos.

Até que Abby gostava de ir todas as manhãs à mansão da fazenda, para trabalhar na elegante e luxuosa biblioteca. Todas as moças da região a invejavam por ela secretariar Piers Roth, o galã mais cobiçado das redondezas de Rothside e Alnbury. Fora uma verdadeira glória ter conseguido aquela colocação, entre tantas candidatas. E quando Piers começou a demonstrar que se sentia atraído por ela, Abby teve a impressão de estar sendo a protagonista de uma novela romântica e maravilhosa, em que ambos se apaixonavam, casavam e viviam felizes para sempre.

Desdobrou o papel da carta e viu impresso nele o nome e endereço do remetente.

"Cara Abby..."

- De quem é? quis saber Matthew, curioso, esparramando-se no sofá. Aquele cabelo cortado tão rente a fez lembrar de uma foto que vira de um prisioneiro de um campo de concentração.

Talvez ele tivesse percebido o tremor de suas mãos, e Abby foi para perto da janela, fingindo precisar de mais luz para ler.

- Não me distraia, disse, sem disposição de enfrentar uma nova discussão.

Matthew conformou-se e começou a apertar os cordões das botas.

"Cara Abby", tornou a ler, soltando um suspiro, "Talvez não lhe surpreenda muito saber que eu decidi me divorciar."

Divórcio! Ela não só ficou surpresa, mas pasmada. Sem qualquer razão plausível, Abby sempre pensara que Piers nunca iria se divorciar dela. Talvez, inconscientemente, alimentara a esperança de que um dia toda aquela horrível confusão seria esclarecida. E que Piers iria acreditar na sua verdade. Mas agora via que estivera errada, e aquelas palavras a abalavam profundamente.

Continuou a ler:

"Estou cientie de que, diante das circunstâncias, eu não teria necessidade de informá-la sobre minhas intenções, mas quis que soubesse que não lhe guardo mais rancor. O que foi feito, foi feito. Você era jovem demais para a responsabilidade de um casamento, e eu era suficientemente adulto para saber disso."

Os dentes de Abby mordiam nervosamente os lábios, mas ela forçou-se a terminar a leitura.

"'Espero que você e o garoto estejam bem. Comunico-lhe que em breve você será procurada pelos meus advogados". Seguiam-se as despedidas de praxe e a assintura: "Roth".

Somente Roth, pensou Abby com amargura, dobrando a folha. Nem Piers ou pelo menos, Piers Roth. Parecia que ele assinara uma carta comercial. Os músculos de seu rosto chegaram a latejar, mas só por um instante, pois logo conseguiu controlar suas emoções.

E daí'?, perguntou-se. Que grande diferença fazia isso? Ela poderia continuar a chamar-se sra. Roth. Então, por que sentia-se tão abalada?

- E então?

Tinha até se esquecido de Matthew. mas ao ouvi-lo, lançou-lhe um olhar por cima dos ombros.

- Nada. Nada de importante e recolocou a carta dentro do envelope. - Oh, esta aqui é da tia Hannah!

- Ela também é minha tia, não é? Matthew ergueu-se no sofá. Porque nunca fui visitá-la? Fez uma careta. Oh. nem precisa dizer. Já sei. É porque ela mora em Northumberland e não vale a pena fazer uma viagem tão longa só para ir vê-la, ele sorriu forçado. O que você quer dizer, na verdade, é que meu pai também mora lá. e você tem medo de encontrá-lo.

- Não!

As faces de Abby ficaram rubras. Sabia que Matthew nunca acreditaria nela, mesmo se lhe contasse toda a verdade, pois estava convencido de que ela o privara da companhia do pai, fugindode caso pensado, para Londres.

Voltando a dar atenção a carta de tia Hannah, Abby passou uma vista d'olhos por aquela letra miúda e insegura. O texto era bem mais sucinto do que habitualmente. Só ocupava uma página, em vez da meia dúzia de folhas que tia Hannah costumava enviar. Suas cartas eram quase sempre extensas, e descreviam minuciosamente o menor incidente que ocorresse, em Rothside. Era uma consequência da sua própria solidão, e Abby queria convencer-se de que lia aqueles calhamaços só para agradar a velha senhora, mas o fato é que ela adorava cada palavra.

Hannah Caldwell não era na verdade tia de sua mãe. Mas quando esta morrera, ao dar a luz a um prematuro, ela levara Abby consigo para Rothside. O pai de Abby ficara tão transtornado com a morte da esposa que vendeu a casa que possuíam em Newcastle e mudou-se para a Escócia, indo trabalhar em Aberdeen.

Ficara combinado com tia Hannah que tão logo ele encontrasse uma moradia adequada e conseguisse uma empregada doméstica, Abby se mudaria para lá. Mas isso nunca aconteceu.

Lawrence Charlton acabou morrendo afogado num acidente marítimo, poucas semanas após sua chegada, e o lar provisório de tia Hannah ficou sendo definitivo.

À medida que lia a carta da tia, aumentava a apreensão de Abby. Ela contava que sofrera um ataque cardíaco há questão de uns dez dias. - "você entende, não foi nada sério, mas serve como lembrete de que já não sou mais tão jovem como antes", escrevera.

Abby ficou pensativa.Quantos anos teria agora tia Hannah? Oitenta e dois, oitenta e três? Refletiu que a tia estava velha demais para morar sozinha naquela casa de campo, principalmente agora que estava com o coração enfraquecido.

"O sr. Willis quer que eu me transfira para Rosemount", continuava a carta -"Mas eu lhe disse que só saio daqui carregada numa maca. Essa é a solução que esses jovens médicos encontram hoje em dia: jogar velhos nos asilos, como se fossem gado. Não quero ir viver com uma turma de velhos caducos. Gosto de estar cercada de gente jovem. Meu maior desejo é que você e Matthew viessem morar mais perto de mim. Sinto muito a sua falta. Abby."

A consciência de Abby doeu. Fora duro para tia Hannah quando ela casara com Piers, com somente dezoito anos. Mas, pelo menos naquela época, ela acreditava que a sobrinha ia ser feliz. E quando Abby deixara Rothside. menos de um ano depois, tia Hannah sofreu muito, arrependendo-se de ter deixado que tudo aquilo acontecesse.

De início.quando Matthew era ainda um bebé. a tia fora até Londres conhecer o sobrinho-bisneto, mas as despesas de viagem e a idade avançada impediram que ela voltasse mais vezes. Já tinham se passado dez anos desde aquele encontro, e apesar de Abby manter uma correspondência assídua, não era a mesma coisa que verem-se pessoalmente.

E agora mais aquela: tia Hannah tivera um ataque cardíaco, e Abby não soubera de nada até ser informada pela própria tia. Afinal, ela era sua única parente e Abby tinha-lhe uma dívida de gratidão.

Respirou fundo e leu as últimas linhas:

"Sem dúvida você já deve estar sabendo que Piers tem intenção de casar novamente." Abby pestanejou. O divórcio!

"Ele veio visitar-me há poucos dias, a tia prosseguia, - "Acho que foi o dr. Willis quem lhe contou sobre o meu pequeno distúrbio. Ele hegou, muito amável e solícito, com uma cesta cheia de frutas e ovos frescos da fazenda. Disse-lhe que não devia ter-se incomodado, más ele grantiu que não era incómodo algum.

Desconfio que pretendia me amansar, antes que a notícia chegasse aos meus ouvidos. A eleita é Valerie Langton, naturalmente. Você deve se lembrar dela. pois já lhe contei que os Langton compraram a fazenda de Ben Armsírong quando ele se aposentou. Eia é engraçadinha, e não deve ter mais do que uns vime e três, vinte e quatro anos.

E tem chances de tornar-se a futura sra. Roth,. já que gosta de caçadas e dedica-se a obras de caridade. Bem, minha querida, não me sinto com forças para prolongar esta carta. Escreva logo. Você sabe o quanto anseio pelas suas notícias. Com todo o meu carinho..."

Abby estava arquejante quando repôs a carta da tia no envelope. Quer dizer que Piers queria o divórcio para poder casar de novo? Abby não pôde evitar que uma onda de ressentimento lhe invadisse a alma. Como ele podia fazer uma coisa dessas? Como?

Certa de que Matlhew ainda a observava, simulou um comportamento natural.

- Tia Hannah sofreu um enfarte, informou. - O médico acha que ela não deve mais morar sozinha, na sua idade, e eu estou de acordo.

Matthew franziu a testa.

- Então, porque ela não vem morar conosco? perguntou, muito prático.

Abby soltou um longo suspiro.

- Porque ela não vai querer deixar sua casa, e, além disso, eu não tenho condições financeiras para hospedá-la. A Boume Electronics vai fechar, e ao menos por um mês ficarei sem emprego, até conseguir outro. Matthew arregalou os olhos.

- E o que você vai fazer?

- Não sei,

Abby ainda não tivera tempo de meditar sobre seus problemas, que não eram poucos. O que faria? Aquele apartamento, apesar de pequeno, tinha um aluguel exorbitante. Qualquer corte na renda traria dificuldades. O pagamento mensal da firma era-lhe indispensável para fazer frente às despesas de manutenção. Havia contas de luz e gás, a escola de Matthew. e uma verba para poder apresentar-se decentemente vestida em sua função de secretária.

Quanto à comida, ela não se incomodava em pagar o alto custo dos jantares de Matthew no colégio, pois. pelo menos, tinha certeza de que ele ficava bem alimentado. Abby era de comer pouco. Graças a isso, conservava-se tão esbelta quanto nos tempos de escola.

Trevor até lhe tinha dito que ela nem parecia mãe de um filho da idade de Matthew, mas Abby desconfiava dos elogios dele. Trevor era parcial, e por mais que ele afirmasse o contrário. Abby estava convencida de que envelhecera bastante nos últimos dois anos.

Olhou para o filho com ansiedade. O que fariam? Como reagiria Matthew quando não houvesse dinheiro para a sua mesada?

- Você vai arrumar outro emprego?

O garoto parecia seriamente preocupado, e Abby apressou-se em tranquilizá-io.

- Se Deus quiser! Vou ter que arrumar, não é? Afinal, se não sou eu, quem põe dinheiro nesta casa?

Matthew pareceu ofendido.

- Gostaria de já ter idade suficiente para poder trabalhar, mas ainda faltam quatro anos! Não é justo!

Abby não respondeu, e foi para a pequena cozinha que dava para a saleta. Ainda por cima, precisava encarar a possibilidade de Matthew parar de estudar aos dezesseis anos. Outrora, tivera confiança de que o filho se sairia bem nos exames finais e conquistaria uma bolsa de estudos para a Universidade. Mas agora perdera as esperanças. Mesmo que tivesse dinheiro suficiente para lhe financiar os estudos universitários, Matthew não demonstrava qualquer interesse em aprender.

A turminha com quem ele andava só não tinha ainda ido parar na delegacia de Polícia. De resto, aprontavam horrores! Abby imaginou o que poderia acontecer quando o menino não estivesse mais na escola.

Não queria que o filho se tornasse um marginal, nem pretendia que fosse o sustentáculo da casa. Tudo o que desejava era que eie fosse um garofo normal, que a respeitasse, assim como ela o respeitava, e não passasse o resto de seus dias acusando-a de ter-lhe arruinado a vida.

Poucos dias mais tarde, Abby estava no escritório, arquivando a correspondência, quando o telefone tocou. Ao atender, a telefonista avisou que a chamada era para ela. Rezou para que não fosse novamente aquele professor de Matthew. Mas foi uma voz masculina desconhecida que faiou do outro lado da linha.

- É a sra. Roth? Aqui quem fala é Sean Willis, o médico da sra. Caldwell.

Abby sentiu a boca seca.

- Não me diga que...

- Não, não há com que preocupar-se, sra. Roth. Ao menos por enquanto.

- Como assim? - Abby não estava entendendo direito.

- Acho que não estou sendo claro, sra. Roth. Na verdade, a razão principal do meu telefonema é que a sra. Caldwell me contou que a senhora é sua única parente. Estou certo?

A única parente... Abby tentava se recuperar do susto, pois no primeiro instante pensara que o dr. Willis ia comunicar-lhe a morte da tia.

- Oh. sim, acho que sou, ela confirmou.- Por quê? Há algo de errado com ela? Em que posso ser útil?

- Minha esperança é que a senhora possa ajudar-me a convencer sua tia a deixar Ivy Cottage, disse o médico. Como deve saber, ela mora lá sozinha e recentemente teve um ataque cardíaco.

- Sei disso. Ela me escreveu, contando.

- Ainda bem. Assim, a senhora pode entender melhor que é uma tolice sua tia insistir em ficar lá. Santo Deus! Ela já tem mais de oitenta anos! Pode ter outro ataque a qualquer momento.

- Está querendo me dizer que tia Hannah precisaria ser internada num hospital?

- Não digo num hospital, mas numa casa de repouso, como Rosemont. Não sei se conhece, mas é uma casa residencial bastante agradável.

- ... para gente velha, completou Abby, secamente. Sim, eu sei. Tia Hannah também me contou sobre isso. Mas receio que ela não queira ir para lá.

O dr. Willis soltou um suspiro audível.

- Se a senhora tem afeição pela sua tia, sra. Roth, vai compreender como é importante que ela fique sob constante vigilância. Se ela tiver outra crise...

- Posso fazer uma ideia da situação, doutor, disse Abby, desconsolada. Só não vejo no que posso ajudar.

- Entre em contato com ela. Tente persuadi-la de que isso é para o seu próprio benefício. Quem sabe possa convencê-la,

- Pode ser que não.

- Mas. ao menos, vai tentar?

- Claro, hesitou, antes de perguntar. Ela não está em perigo de vida. está?

- O único perigo é a teimosia dela, retorquiu o dr. Willis. – Eu entrego o caso nas suas mãos. sra. Roth.

Aquele problema ocupou-lhe a cabeça pelo resto do dia, mas no começo da noite. Abby já chegara a uma conclusão. Teria que ir pessoalmente a Rothside. Não iria resolver aquele assunto por carta, e já era tempo de parar de fugir do passado.

Tomou todas as informações sobre horários de trens e ônibus interestaduais. Era um trajeto longo demais para ser feito em apenas um fim-de-se mana, mas não podia deixar de ir. Nunca se perdoaria se acontecesse alguma coisa a tia Hannah sem que ela tivesse tentado ajudar.

Nem quis pensar na hipótese de reencontrar Piers. Mas não via possibilidade de tornar a vê-lo. Afinal, iria passar apenas 24 horas em Rothside. Por que ficar, tão apreensiva? O divórcio era apenas uma formalidade, conforme ele mesmo afirmara, Há doze anos não se comunicavam. Eram praticamente dois estranhos. Talvez ele sequer a reconhecesse, se a visse.

Ao chegar ao apartamento, começou a planejar o que levaria na viagem. Matthew já tinha voltado da escola e assistia televisão. Respondeu ao seu cumprimento com um grunhido, e ela foi guardar as compras do supermercado na cozinha, antes de começar a falar.

- Você se lembra do que andei comentando a respeito de tia Hannah? disse enquanto esperava que os pães de queijo que pusera no forno assassem. Lembra-se que ela leve um enfarte?

- Hum.

Entretido com o desenho animado, Matthew não lhe dera maior atenção.

- Matthew! chamou-o impaciente.

- Estou ouvindo...

- Bom. Fez uma pausa para encontrar as palavras certas. Estive pensando em ir para Rothside neste fim de semana para visitá-la.

- Hum........ O que? Finalmente ele se interessou. Você está dizendo que vamos para Northumoeriand'?

- Sim. para Rothside, em Northumberland.

- Oba! Há anos que Abby não o via tão entusiasmado. Verdade mesmo?

- Verdade!

Abby pasmou-se com aquela reação. Esperava que ele começasse a reclamar porque, com a viagem, iria perder o primeiro turno do campeonato de futebol.

- Que legal! ele exclamou, todo sorridente.

- Então não se importa?

- Eu não! Vamos num daqueles trens expressos?

- Provavelmente. Abby sentiu-se aliviada. E depois, iremos de ônibus, de Newcastle até Alnbury.

- Ainbury? Onde é isso?

- Oh. é uma cidadezinha a uns oito quilómetros da casa da tia. Onde eu frequentava a escola, quando era criança. Agora vá pondo a mesa para o lanche, Matt. Os pãezinhos de queijo já estão cheirando, e não quero que queimem.

Abby reservou passagens para o trem das dezessete e trinta, na sexta-fcira. Combinou de apanhar Matthew no colégio às dezesseis. o que lhe daria tempo suficiente para chegar à estação dentro do horário,

- Veja se não se suja muito, Abby recomendou, quando ele saiu para o colégio naquela manhã, trajando, todo pomposo, seu melhor uniforme.

Desde que soubera da viagem. Mathew mudara de atitude. Quem sabe resolvera superar seus rancores, pensou ela. a caminho do escritório. Trevor Boume, seu chefe, concordara que ela saísse mais cedo.

- Eu estava pensando que você ia sair antes para comparecer a alguma entrevista numa nova firma, disse ele, lamuriento. Sei que você faz muita questão de continuar independente, não é?

Abby sorriu.

- Se você se refere àquilo que estou pensando, então é verdade, faço muita questão de minha independência. Não daria certo, Trevor. Você ficou solteirão tempo demais.

Para seu alívio, Trevor deixou passar aquela observação sem maiores comentários. Periodicamente, ele tentava aprofundar o relacionamento deles, mas Abby sempre lhe opunha resistência. Gostava dele. Gostava de trabalhar para ele, E só. Não que fosse uma mulher frígida. Muito pelo contrário. Havia ocasiões em que seu corpo desejava uma aproximação mais íntima com alguém. Mas Matthew era o seu freio.

Matthew já estava à espera, quando ela chegou à escola. O blazer estava um pouco empoeirado, mas felizmente, fazia bom tempo e o uniforme não estava salpicado de lama como era hábito.

O garoto fez questão de carregar a mala que a mãe levava, e Abby sentiu-se protegida ao tomarem o ônibus para a estação ferroviária. Mattew sabia ser amável e atencioso quando queria. Seria tão bom se ele fosse sempre assim!

O trem partiu dentro do horário. Havia um restaurante num dos vagões, mas Abby trouxera sanduíches que Matthew devorou, contente da vida. mal o trem saiu dos subúrbios de Londres.

Depois de comer, o menino começou a ficar indócil e pediu licença para dar um giro pelos vagões. Percebendo sua ansiedade, Abby deu-lhe permissão.

Na ausência do filho, abriu o estojo de pó compacto e olhou-se no espelhinho.

Teria mudado muito? Doze anos era muito tempo. Já não tinha mais dezoito anos. Estava beirando os trinta e já não tinha mais a expressão inocente da juventude. Ela mudara sob vários aspectos, que um simples espelho não podia revelar.

Seus olhos verdes, sombreados por espessas pestanas, pareciam ter perdido o brilho, e ela dava-se por feliz por seu cabelo ser loiro-claro, que disfarçava bem os fios grisalhos. A cútis ainda era boa e lisa. mas nada disso podia alterar o fato de que ela agora era uma mulher feita,e não mais a adolescente que casara com Píers Roth.

Mathew voltou do passeio pelo trem e seu rosto magro, agora iluminado peia luz artificial, o fazia assemelhar-se ao pai.

- Abri as portas que dão para as plataformas e fui olhar lá fora, ele explicou.

Já tinham passado por vários trechos familiares do lugarejo, e rever aquele panorama que ela conhecia tão bem mexia com seus nervos. O menino percebeu o nervosismo da mãe.

- Não tem perigo, só queria ver a locomotiva, mas a porta de comunicação estava trancada.

- Oh, Matl!

- É que eu nunca viajei num trem a diesel, e queria conhecer o maquinismo para poder contar aos caras lá da escola.

- "Os caras!" Abby sacudiu a cabeça. Você não está querendo referir-se aos seus colegas?

Maitew sorriu.

- Okey. meus colegas, repetiu, bem humorado, e Abby pensou em como ele podia ser simpático, quando não era agressivo.

- Você está pálida. Eslá preocupada com tia Hannah?

- Bem... estou preocupada, mas não sabia que demonstrava. Estou parecendo uma velha decrépita, não é? Devo estar, pois até andei imaginando se ela vai me reconhecer.

- Por que diz isso?

- Ora, por quê! Faz dez anos que ela não me vê, Matt.

- E daí? Você não está nada vefha.

- Obrigada.

- Por falar nisso, outro dia um dos formandos me perguntou se você era minha irmã, disse Matthew, com uma certa relutância. Quando lhe contei que era minha mãe ele disse que você devia ser uma menina de escola quando me teve. Eu lhe dei um soco no meio da cara!

- Oh, Matt! - Abby ficou chocada, e ao mesmo tempo lisonjeada.

- É que... bem... - Matt continuou. - Ele estava insinuando que eu não tinha pai. Que eu era um bastardo!

- Matt! Nunca mais repita essa palavra!

- Mas é verdade. Ninguém acredita quando digo que meus pais são separados. Eles pensam que você é mãe solteira.

- Mas nós dois sabemos que não é verdade.

- Sabemos mesmo?

A fisionomia de Matt ficou sombria, mas logo ele forçou um sorriso, como se não quisesse estragar o prazer daquela viagem. Olhou pela janela e perguntou:

- Onde estamos? Já chegamos a Newcastle?

Seguindo o exemplo do filho, Abby deixou de lado os próprios dissabores e respondeu:

- Não. Estamos em Darlington. Ainda temos que passar por Durham e só depois vem Newcastle.

- A que horas chegaremos em Alnbury? Tia Hannah sabe da nossa chegada?

- Assim espero. Escrevi ontem, avisando. Não quis mandar um telegrama para não assustá-la. Pessoas idosas sempre associam telegramas a desgraças, respirou fundo. Foi um telegrama que anunciou a morte de meu pai.

- O avõ Charlton?

- Pois é... Tia Hannah foi tão bondosa comigo. Nunca poderei retribuir tanta dedicação.

- E a que horas vamos chegar? - insistiu o garoto.

- Se tudo der certo, lá pelas dez da noite.

- Não é muito tarde, para uma velha da idade dela? - perguntou Matthew, e Abby foi obrigada a dar-lhe razão.

Desembarcaram na estação de Newcastle quase na hora de tomarem o ônibus das nove. Abby estava se afobando com as malas, e Matlhew interveio.

- Calma! Deve haver outro ônibus às nove e meia.

- Não tenho tanta certeza, e... - calou-se ao ver um homem parado junto a grade divisória da plataforma. Alto e magro, com as faces morenas encovadas, os cabelos escuros, quase magros, era uma figura inconfundível. Mudara um pouco. Estava mais velho e mais corpulento, mas ela o reconheceu no mesmo instante. Sua imagem estava gravada profundamente em sua memória. Estancou o passo e Matthew também parou, olhando-a com impaciência.



  

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