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  CAPÍTULO VIII 2 страница



— Nós nos veremos na hora do jantar — disse ele com muita formali­dade e logo em seguida ela ouviu a porta da entrada se fechar.

Somente então compreendeu o que ele lhe fizera e soluçando deitou-se de bruços, deixando as lágrimas correr livremente.

Quando Janete subiu para se trocar para o jantar, Andréa já estava vestida.

— Quer dizer que você afinal decidiu descer para o jantar?

— Achei melhor.

Janete parecia ter ficado irritada.

— Acabo de dizer a todo mundo que você estava com dor de cabeça e que não viria nos encontrar! Sinceramente, Andréa, você é por demais imprevisível!

Andréa fez o possível para controlar a resposta que lhe veio aos lábios. — Sinto muito lhe causar este pequeno aborrecimento, Jan. Explicarei a todos que estou me sentindo muito melhor.

— Mas não é só isso — murmurou Janete com certa relutância, — Eu... Bem, aceitei um convite para jantar com... Com Heinrich.

— É mesmo? — Andréa sentiu uma sensação de alívio. Bem, não tem a menor importância. Vá em frente e jante com Heinrich. — Se Axel esperava que ela jantasse na companhia deles, o fato perdia muito de sua importância. Será que ele planejara as coisas daquela forma? Manipular as pessoas não era nada de novo para ele. Janete encarou a prima com ar de dúvida. — Você não se importa em jantar sozinha?

— Não, não, absolutamente.

— Acho que Roy não se importaria de sentar-se à sua mesa, se você o convidasse — sugeriu ela, porém Andréa nem queria ouvir falar disso.

— Pode deixar que eu mesma resolvo meus problemas — declarou, tentando não parecer muito rude. —Você estava conversando com Hein­rich até agora?

— Sim. Ele me levou para mostrar seu carro e sugeriu que poderia­mos dar uma volta.

— Percebo. — Então era por isso que Axel sentira-se à vontade para vir até a suíte, pois sabia que Janete saíra com seu amigo. Andréa ficou tensa, mas tentou não perder a calma. — Mas você saiu sem agasalho, Jan! — exclamou.

— Heinrich emprestou-me seu casaco. Aliás, um casaco fantástico, Andréa, todo de camurça e forrado com lã. Heinrich foi gentilíssimo.

Andréa desceu com sua prima assim que ela se aprontou. Janete com­binara encontrar Heinrich no bar e Andréa acompanhou-a, preparando-se para enfrentar a expressão de triunfo de Axel quando ele constatasse que ela acabara por obedecê-lo. Roy estava lá, com Susie, Paul e o resto da turma. Seu rosto refletiu alegria ao deparar-se com a aparição inesperada de Andréa. Deixou seus amigos e veio em direção a ela, mas Janete carregou sua prima com ela para ser apresentada ao Conde von Reicher.

Heinrich ínclinou-se, cumprimentando-a com imensa distinção. Certa­mente não a reconhecera e Andréa sentiu-se aliviada.

- Fico muitofeliz em conhecer uma prima de Janete — ele disse com sinceridade. — Está gostando das férias?

— Sim. — Andréa sorriu. — Vai ficar algum tempo em Grossfeld, Sr. conde?

— Somente alguns dias. Tenho que voltar para Munique, pois infeliz­mente alguns negócios dependem de mim-

Andréa olhou de relance para Janete. — Pelo que soube. Osenhor é amigo do Barão von Mahlstrom.

— Axel? Ja, Fràulein, é verdade. A senhorita o conhece?

— Sim. . Fomos apresentados. Na realidade eu. . . Eu pensei que ele estaria com o senhor hoje à noite.

-— Ah, não. Essa noiteAxel está com alguns amigos no Hotel Gasthof. Não virá ter conosco. Janete e eu jantaremos no meu hotel, o Berghof. Conhece? Teria imenso prazer se quisesse vir conosco.

Os joelhos de Andréa haviam ficado tão moles que ela sentiu que eles iriam dobrar-se em dois, se ela não se sentasse imediatamente. Não era possível! Axel devia ter planejado tudo aquilo só para deixa-la decepcio­nada. Como é que ele tinha coragem de fazê-la preparar-se para jantar e em seguida a abandonava? Algo, no entanto, lhe dizia que esta era exatamente a atitude que ele tomaria, só para humilhá-la. A raiva e a frustração apoderaram-se dela. Heinrich olhava-a com certa preocupação.

— Está tão pálida, Fräulein! Não está se sentindobem?

— Não, não é nada. — Andréa falou rapidamente para não despertar a curiosidade de Janete e percebeu com certo alívio que Roy encaminha­va-se em sua direção. Tomou-o pelo braço, sentindo-se feliz por contar com seu apoio. — Eu. . . Obrigada pelo convite, mas vou jantar com Roy. não é mesmo?

Roy não disfarçou a surpresa. — Você é quem sabe! — declarou e ela deu um suspiro de alívio. Foram até o bar.

— Sabe, eu devia adquirir um complexo, por ser usado desta maneira — murmurou Roy, enquanto se aproximavam dos demais. — Você estava falando a sério em relação ao jantar ou vai me abandonar, como fez lá no Hotel Gasthof?

— Sinto muito. Mas eles vão jantar no Berghof.

— É, eu ouvi.

— E não queria que eles se sentissem obrigados a me convidar.

— Então você não estava sendo sincera comigo?

— Não disse nada disso. Gostaria de tomar, algo, por favor.

— Oh, como não, claro! — Agora era a vez de Roy se desculpar. — O que deseja?

Andréa viu com grande alívio que Janete e Heinrich partiam. Axel não viria e era melhor que ela aceitasse o fato. Não fazia o menor sentido aborrecer-se com aquilo. Se ele tentara ridicularizá-la, cabia a ela demons­trar que se sentia muito satisfeita por ele não estar lá naquele momento.

Durante o resto da noite conseguiu comportar-se como se estivesse se divertindo. De vez em quando olhava por cima dos ombros, para ver se alguém chegava, mas ninguém parecia notar. Quando Janete voltou, muito corada e excitada, após seu encontro com o conde, ela pôde ir dormir sem despertar maiores comentários.

Janete, entretanto, não tinha o menor sono. Insistiu em descrever os detalhes do jantar, contou como tinha dançado com Heinrich e confi­denciou que ele a achava bezuubernd.

— Isto quer dizer encantadora — explicou. — Oh, Andréa, acho que ele esta gostando de mim.

Andréa não se sentia disposta a mostrar muito tato. — Pensei que você preferisse o título de baronesa...

— Preferia, sim... Aliás, prefiro. — Agora Janete falava a sério. — Mas Axel não tem dinheiro, não é mesmo? Além do mais, Heinrich é diferente. Axel étão atraente. . . Ele pode ter qualquer mulher a seus pés, Heinrich. Porém, é um homem mais simples.

— É tão simples que possui um castelo na Baviera e um fantástico carro esporte italiano... Ora, Jan! Cresça!

— Você não precisa ser agressiva desse jeito só porque nenhum dos dois se mostrou interessado em sair com você!

Andréa deu-lhe as costas, reagindo violentamente. Ela tinha provocado aquelas palavras com sua mesquinharia. Nada estava dando certo naque­las férias e não via como as coisas poderiam melhorar.

 

                                  CAPÍTULO X

 

Passaram-se três dias antes que Andréa voltasse a ver Axel. Toda manhã lia o jornal The Times e toda manhã sentia-se intrigada por não encontrar o anúncio de seu pai. Por mais estranho que parecesse, não sentia o menor alívio. Apenas um enorme vazio, uma ausência de emoções, que, no entanto tornavam-na impacientes e inquietas. Mas por quê? Estaria desejando que Axel voltasse? Onde estaria ele naquele momento? O que estaria fazendo?

Seu joelho sarou rapidamente e logo ela se pôs a esquiar, recusan­do-se, no entanto, a freqüentar as pistas mais perigosas.

Janete continuava a sair bastante com Heinrich, mas não comentava mais o que diziam e faziam. Heinrich sempre se mostrava muito polido para com Andréa e ela achou que Axel não discutira com ele o que se passara entre ambos.

Axel chegou no momento em que Andréa jantava com sua prima. Janete estava-lhe dizendo que não iria ver Heinrich naquela noite, quando Andréa levantou os olhos e viu Axel parado na entrada do restaurante imedia­tamente o sangue lhe fugiu do rosto e Janete, notando a tensão súbita, olhou à sua volta.

— Oh, é Axel! Por que você ficou tão alarmada? Ele provavelmente não está procurando por nós.

Andréa sentiu-se ligeiramente enjoada. Será que desta vez ele se dirigia a ela ou estaria procurando por alguma outra pessoa? Quando ele alcan­çou sua mesa, Janete foi a primeira a falar.

— Axel! Há quanto tempo! Heinrich disse-me que você tem andado muito ocupado.

— Ocupado demais, Janete. Espero que você esteja aproveitando as férias.

— Muito! — Janete estava entusiasmada. — Acho que você sabe que tenho saído com Heinrich. Ele é extremamente gentil e nunca imaginei que iria me divertir tanto com ele.

Fez-se um silêncio incomodo após tais palavras, porém Andréa não fez o menor esforço para rompê-lo. No entanto levantou os olhos e encarou-o. Sentiu no mesmo instante que o coração lhe batia mais forte.

Guten ABEND, Andrea. Você está bem?

— Sim. Sim, estou bem.

— O joelho não está incomodando?

— Não. Melhorou bastante, obrigada.

— Ótimo. Fiquei preocupado.

Andréa não conseguiu deixar passar estas palavras sem um comentário.

— É mesmo?                                                                 

— Claro. — A expressão divertida de Axel deixava-a furiosa. — Oh, acho que você deve ter reparado eu não ter perguntado por você nestes últimos dias. Entretanto, pensei muito em você. Como está de visita a meu país, naturalmente eu sinto uma certa... Responsabilidade.

— Sua solicitude é inteiramente desnecessária, Herr Barão — ela re­trucou, para grande surpresa de Janete. — Já faz tempo assim que não o vejo? Nem notei.

— Estive em Viena, Fräulein — disse ele com muita ênfase. — Fui há visitar um jornalista meu amigo. Não imaginei que minha ausência pu­desse criar tanta amargura entre nós, principalmente porque sabe muito bem o que me levou a fazer esta viagem.

Janete ficou atônita com o rumo que os acontecimentos estavam toman­do. Andréa estava rubra de indignação. — Não estou interessada em saber os motivos que o levaram a Viena — disse, arrastando a cadeira e levantando-se. — Com licença.

Ignorando o espanto de Janete, Andréa saiu rapidamente do restaurante, mas Axel a alcançou. Assim que saíram, sua polidez desapareceu e ele a segurou brutalmente pelo braço.

— Não pense, Liebchen, que pode escapar assim tão facilmente! Pre­cisamos ter uma conversa a sós.

— Solte-me! Ou quer que eu chame o gerente?

— Nicholas? Chame se quiser. Mas o que lhe dirá? Que eu a estou molestando? Não é o caso. Além do mais, dentro de uns dois dias ele ficará sabendo que você é minha noiva.

— Quando meu pai chegar...

— Sim? O que você fará?

— Eu lhe direi a verdade. Não acredito que ele tenha a menor intenção de anunciar nosso noivado. Tenho lido os jornais todos os dias e não saiu nenhum, comunicado.

— Quem sabe você deixou passar. — perguntou Axcl, muito seguro de si.

— Absolutamente!

— Quem sabe ele resolveu adiar?

—- Sim — ela disse com desprezo. Talvez para sempre.

— Quer que eu entre em contato com o departamento de publicidade da firma de seu pai?

Não! — Andréa não ousava correr semelhante risco. Talvez dentro de alguns dias, quando estivesse mais segura. Mas agora... — Vamos, solte-me!

— Quero lhe falar — ele replicou, imperturbável. — Venha comigo. Não lhe restou outra alternativa senão segui-lo até uma pequena sala de estar, praticamente deserta àquela hora da noite.

— Tenho um convite para lhe fazer — e!e disse, assim que se aco­modaram em um divã.

— Um convite? Para mim? Que tipo de convite?

— Para dizer a verdade, o convite é de minha tia.

— Sua tia? — Andréa não esperava que ele tivesse parente vivo.

— Sim, minha tia. Sophie von Mahlstrom. Ela mora em Mahlstrom, no castelo.

— Mas. . . Você me disse que ele está em ruínas.

— E está mesmo.

— Então como é que alguém pode morar lá?

— Não está inteiramente destruído. Uma ala é habitável. É lá que minha tia vive. E assim você terá a oportunidade de ver o que o dinheiro pode fazer por nosso castelo. Isto é, o seu dinheiro.

— Não vou!

— Não mesmo? Quer então correr o risco de eu entrar em contato com meus amigos de Londres?

— Oh, Axel, por favor! Pare com esta chantagem!

— Que chantagem? A idéia de ver minha família a deixa tão desgos­tosa assim? Nós estaremos praticamente a sós durante dois ou três dias. Esta perspectiva não a deixa animada?

Não!

Mas não era verdade. Pouco a pouco, insinuantemente, vinha-lhe o pensamento de que ela poderia superar toda a angústia que sentia, acei­tando o fato de que Axel pretendia casar-se com ela. Pela primeira vez levava a idéia em consideração e descobriu que aquilo já não lhe cau­sava mais horror. A despeito do comportamento de Axel, aqueles dias tinham sido vazios sem ele e afinal de contas, como ele mesmo dissera, ela não podia tomar nenhuma atitude — pelo menos no momento.

Tentou dar alguma coerência a seus pensamentos. — Mas por que sua tia quer ver-me?

— Você sabe muito bem. Quer conhecer a mulher que se apoderou do afeto de seu sobrinho.

— Eu não... Apoderei-me de seu afeto.

— Não. Mas o seu dinheiro, sim. E é tudo a mesma coisa. Além do mais, eu a acho encantadora. . .

— Você precisa se comportar sempre como um porco?

— Mas o que você queria que eu dissesse? Que estou perdidamente apaixonado por você? Que não posso viver sem você? É impossível! Mas não pelas razões que as pessoas imaginam.

— As pessoas o conhecerão através de seus atos. Você naturalmente não espera que alguém acredite que eu o amo!

— Oh, mas você ama, sim! E garanto que sou um amante muito satisfatório. Posso lhe fornecer os nomes e endereços de várias mulheres quepoderiam fazer confidências a respeito de minhas credencias.

Andréa afastou-se e ele riu. — Está pronta para viajar depois de amanha? Infelizmente Heinrich parte amanhã e preciso estar aqui para despedir-me dele!

— E o que fará Janete em minha ausência?

— Já lhe disse. Deixe Janete comigo.

 Andréa sentiu-se tomada de pânico, — Axel. Não posso ir com você!

— Mas você precisa. Já está tudo combinado. Tia Sophie nos espera depois de amanhã e não podemos decepcioná-la.

Andréa levantou-se e caminhou até a janela. Axel aproximou-se dela e foi quase com gentileza que disse: — Você gostará de minha tia. É uma pessoa encantadora. E não tenho a menor dúvida de que ela a aprovará.

— Você não diz que ela gostará de mim — murmurou Andréa com amargura. — Mas é claro queela não precisa gostar de mim, não é?

— Não gosto deste jogo, Andréa. Por que você não aceita o que tem que ser? As coisas podiam ser piores.

— É mesmo? — Ela o encarou e ele inclinou a cabeça e roçou seus lábios nos dela. Até mesmo aquela caricia ligeira a perturbou. — Sim. É claro — ele murmurou, com voz rouca. — Muito pior. — Então. . . Depois de amanhã, certo? Às... Vejamos... Às nove? Virei buscá-la aqui no hotel.

Roy estava parado na entrada da sala.

— Alô, Roy. Você estava esperando por mim?

— Estava à sua procura. Eu... Janete disse-me que você saiu com...Com...

— Com Axel? Saí, sim. Mas agora estou livre. Axel veio na direção deles. — Onde é que vão?

— A uma taverna ouvir música cigana — replicou Roy, antes que Andréa pudesse responder. — Acho que isto para você não tem a menor novidade.

— E Andréa vai também?

— Vou, sim. — Andréa não gostava que falassem dela como se não estivesse presente. — Agora, dê-nos licença...

— Como não? — respondeu Axel com toda polidez. — Ah, aí vem sua prima. Preciso dizer-lhe umas palavrinhas.

Um sentimento de ciúme apoderou-se de Andréa ao ouvir essa pala­vras. O que ele ia dizer a Janete? Roy, entretanto, não lhe deu tempo para especular.

— Pegue seu casaco, Andréa. Os outros estão esperando... — Mas Janete. . .

— Eu tomarei conta de Janete — assegurou Axel, Divirtam-se.

Claro que Andréa não se divertiu. Estava louca para voltar ao hotel e conversar com Janete. Aquele ambiente barulhento e enfumaçado só agravou a dor de cabeça que a atormentava. Pretextando cansaço, partiu antes dos demais, chegando ao hotel antes de meia-noite. Constatou, para sua grande decepção, que Janete já estava na cama e aparentemente dormindo.

Na manhã seguinte levantou-se as sete, após passar uma noite difícil, e invadiu o quarto de sua prima antes mesmo de se vestir. Janete ainda estava meio adormecida e sua expressão não era lá muito encorajadora.

— Oh, Andréa. Por favor, — resmungou no momento em que sua, prima descerrou a cortina. — Que você quer? Não vou nadar, não, e nem tente me convencer.

— O que. . . O que Axel von Mahlstrom lhe disse ontem à noite? — Não tinha mais como disfarçar e fitou sua prima ansiosa, à espera de uma resposta.

Janete só ergueu-se, apoiando-se nos cotovelos. — O que Axel me disse? O que você acha que ele me disse?

— Se soubesse não perguntaria. Oh, Jan, desculpe-me!

— Não tem jeito, não. Isto acabaria acontecendo mais cedo ou mais tarde. O fato de que Axel sabia de toda a história e ainda continua se encontrando comigo prova que ele não é um caça-dotes, como você insinuou, não é mesmo?

Andréa engoliu esta observação em silêncio. — Eu... Mas o que você está querendo dizer, Jan?

— Mas o que há? Você ainda não acordou? — Ele me disse que sabia o tempo todo que você era filha de Patrick Connolly...

— Oh, percebo.

— Bem, de qualquer forma não tem importância. Se ele sabe, Heinrich também tem que saber e isto resolvem o meu problema de ter que contar. Vou estar com Heinrich agora de manhã, antes de ele viajar. Ele disse que vai tentar voltar antes de nossas férias terminarem. Você acha que ele volta, mesmo?

Andréa estava atônita. O que Axel dissera? Certamente nada que se referisse ao seu relacionamento forçado. Janete não deixaria passar um fato daqueles sem comentários. Mas então como ele teria explicado a próxima viagem a Mahlstrom? Ou simplesmente não dissera nada? Percebeu que Janete esperava uma resposta e deu de ombros, confusos. — Eu... Eu não sei. Se ele gosta de você. . .

— Oh, gosta sim, tenho certeza. Não esqueci seus comentários a res­peito de ele ser conde, etc, mas ele não me parece ingênuo. E muito menos sofisticado, mundano ou qualquer coisa no gênero. Ele viveu com sua mãe a vida inteira, pois seu pai morreu cedo. Talvez por isso ele seja tão... Gentil.

— Sei, Jan, quanto a amanhã...

— Oh, sim, amanhã. Axel me contou. Vocês vão até Salzburg, não é mesmo, para visitar seu pai? Mas o que tio Pat está fazendo em Salz­burg? E por que não vem a Grossfeld, já que quer vê-la?

Andréa ficou em silêncio durante alguns minutos. — Axel lhe contou que papai estava em Salzburg?

— Claro. Por que não deveria ter contato? Francamente, Andréa, o que há com você? Acho que você levantou cedo demais. Está agindo como se ainda estivesse dormindo.

— É mesmo? Acho que é verdade. Desculpe. Quer dizer que você não se importa que eu vá a Salzburg?

Andréa tentava pôr seus pensamentos em ordem. Ou Axel estivera mentindo o tempo todo e Salzburg era a meta final da viagem, ou então tudo não passava de uma história que ele inventara para acalmar Janete. Gostaria de saber qual versão era verdadeira. Seria possível que ele esti­vesse zombando dela e que seu pai estivesse realmente em Salzburg? Sen­tiu-se um pouco mais animada, mas não o suficiente.

Janete finalmente respondeu. — Faria alguma diferença se eu me impor­tasse? Não, não me importo. Não vou ficar sozinha, pois fiz amizade com Susie e o resto do pessoal. Não fique tão ansiosa, Andréa. Tio Pat não vai devorá-la.

Andréa andava de um lado para outro do quarto, inquieta, e Janete aninhou-se debaixo das cobertas.

— Bem, se era só isso que você queria de mim, vou voltar a dormir.

Andréa não viu Axel durante todo o dia. Janete saiu para almoçar com Heinrich no Berghotel. Era uma espécie de almoço de despedida e ao voltar disse que Axel também estivera lá. No mesmo momento o ressenti­mento apoderou-se de Andréa. Por que não a convidaram para almoçar com eles, independente do fato de saber se Axel compareceria ou não? E se ela realmente ia tornar-se sua noiva, por que ele não a tratava como tal, em vez de ignorá-la quase o tempo iodo?

Na manhã seguinte Andréa estava pronta às oito horas. Janete estava se vestindo quando bateram a porta da suíte. Andréa foi atender e deparou coro um dos porteiros do hotel.

— O senhor barão está à sua espera na recepção. A senhorita está pronta, ja!

— Mas ainda não tomei café!

O porteiro olhou-a muito sem jeito e Andréa foi até o quarto de sua prima. — Janete!

Já vou indo.

— Já? E o café da manhã?

— Acho que não vou ter tempo de tomar. Tudo bem, Jan. Durante a viagem tomarei alguma coisa. Até logo!

— Está certo. Boa sorte!

— Talvez precise mesmo — murmurou Andréa, fechando a porta. Axel estava à sua espera na recepção e Andréa não conseguiu dominar na excitação que se apoderou dela ao pensar que aquele homem queria desposá-la, qualquer que fosse o motivo.

— Está pronta? — indagou Axel.                                        -

— Ainda não tomei café, mas acho que é um detalhe secundário. Com uma leve inclinação de cabeça, Axel indicou o restaurante.

— Vamos, vá se alimentar. Tomarei um cafezinho.

— Não tem importância. Não estou com tanta fome assim. Talvez a gente encontre um lugar para comer durante a viagem. Vai levar muito tempo? É muito longe daqui?

— Como assim? Você sabe muito bem para onde vamos, Andréa.

— Sei mesmo? Você disse a Janete que vai me levar para Salzburg.

— Você teria preferido que eu lhe contasse que vamos para Mahlstrom?

— Teria sido mais honesto de sua parte. Você disse que detesta men­tiras.

— Desde quando a honestidade a deixa preocupada?

A manhã estava radiosa. O sol incidia sobre as montanhas cobertas de neve e seu brilho era fantástico. Andréa apressou-se em colocar óculos escuros. As ruas estreitas de Grossfeld já estavam movimentadas àquela hora da manhã. Dos cafés saía um cheiro delicioso, que invadiu as narinas de Andréa e fez o seu estômago protestar. Axel não fez comentário algum, mas assim que deixaram a cidade para trás abriu o porta-luvas e tirou uma garrafa plástica contendo leite. — Sirva-se.

— Obrigada.

Andréa ficou surpreendido e um tanto tocado com sua consideração, especialmente quando ela lhe ofereceu o leite e ele recusou, dizendo que já tinha tomado café. Ele obviamente tinha adivinhado que ela não teria tempo para alimentar-se, mas como sempre não deu a menor ex­plicação.

— Aí dentro tem um sanduíche e o pão está fresquinho.

— Vamos levar muito tempo para chegar a Mahlstrom?

— Quatro, talvez cinco horas.

— Tanto tempo assim! — Andréa ficou chocada. — Qual é a dis­tância?

— Uns duzentos quilômetros, mais ou menos. É um lugar afastado e muito pouco freqüentado por turistas.

Sentiu uma contração na boca do estômago. Na realidade, o que ela sabia a respeito daquele homem para dispor-se a fazer uma viagem tão longa em sua companhia? No entanto algo a impulsionava para diante, e não era apenas a existência daquela gravação.

A viagem era um encanto e até mesmo Andréa não pôde negar o fato. Nunca atravessara as montanhas durante o inverno. As espirais cinzas de igrejas escondidas falavam de aldeias ocultas e de vez em quando, nos bosques que bordejavam a estrada, viam-se de relance cervos e esquilos em fuga através da vegetação esparsa. O sol brilhava em um céu, absoluta­mente sem nuvens. Andréa pensou que ninguém poderia permanecer imune á beleza de tudo aquilo e sorriu.

— Então você está mais feliz — comentou Axel, e ela concordou, com alguma relutância.

— Ainda estamos muito longe'.'

— Acho que faltam umas duas horas. Devemos chegar por volta de uma hora.

— Duas horas? Tanto tempo assim?

Axel olhou por cima dos ombros, verificou se não vinha nenhum carro atrás e estacionou em um acostamento. Tirou um charuto do bolso.

— Se você quiser sair por alguns minutos e...  Esticar as pernas fique á vontade.

Andréa hesitou c vendo que ele não se dispunha a acompanhá-la, abriu a porta e fez o que ele sugerira. Sentia-se entorpecida e a espinha lhe doía, O ar frio penetrou-lhe no pulmão e quando expirava pequenas nuvens se formavam a seu redor. Mas era bom andar um pouco, sentir a circulação ativar-se novamente. Começou a procurar algum lugar escon­dido, pois outras necessidades se apresentavam naquele momento. Axel baixou o vidro e ficou a contemplá-la. — Olhe, lá atrás há algumas árvores. Você vai primeiro ou vou eu?



  

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