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CAPÍTULO V 6 страницаEnquanto servia o chá, Sophie falava entusiasticamente a respeito do castelo. Sua voz traía uma emoção que era difícil ignorar. Explicou que o exército alemão pilhara tudo o que havia quando se retirou e como fora impossível tentar prosseguir com o mesmo ritmo de vida de outrora, quando a guerra terminou. Quando Axel voltou, Andréa discutia suas próprias idéias de modernização de um ambiente e corou assim que ele entrou e interrompeu-a. — Desculpe, tia Sophie, vou levar Andréa até o quarto dela. Nós nos veremos todos na hora do jantar. Cari disse-me que preparou um prato muito especial. Subiram mais um lance de escadas e Axel precedeu-a, abrindo a porta de seu quarto. O frio a surpreendeu. Axel pousou o lampião sobre a mesa de cabeceira e indicou um lavatório antigo sobre o qual se encontrava uma jarra cheia de água quente. — Sinto muito, mas um banho é algo fora de questão. Providenciei água quente para que você possa lavar-se um pouco. Neste andar não existe banheiro e se quiser usá-lo terá de descer... — É muita gentileza de sua parte. Duvido que alguém tire as roupas nesta temperatura, para tomar banho! — Pois garanto que isto acontece. Há muita gente que não foi mimada por uma vida fácil. — Gente como você, imagino. Ele não respondeu e caminhou em direção à porta. — Será que você sabe o caminho para a cozinha? Vamos comer lá, é o lugar mais quente do castelo. Assim que ele saiu, Andréa, irritada, caminhou até a janela e viu o rio deslizando a distância. A tarde caía, mas ainda havia luz suficiente para perceber a largura da torrente, engrossada pelas nevadas recentes. As sombras projetadas pela luz do lampião pareciam ainda mais longas quando ela se voltou para contemplar mais uma vez o quarto. Quando acabou de se lavar e escovar os cabelos já estava completamente escuro, Não querendo ficar sozinha naquele ambiente tão soturno vestiu-se rapidamente e aplicou um pouco de sombra nos olhos. Tremia de frio e enfiou novamente o casaco. Foi fácil localizar a cozinha: um cheiro delicioso de ervas e temperos atraiu-a na direção certa. Quando entrou, viu a mesa comprida iluminada por um candelabro de prata e coberta por uma baixela também de prata. Não havia o menor sinal de Cari ou de quem quer que fosse e ela caminhou até a lareira para aquecer-se um pouco. Mesmo assim estremeceu no momento em que a porta se abriu e Axel entrou. Havia retirado o casaco e seu coração pulsou ao notar que os olhos dele não se despregavam do seu decote. — Gostou de conversar com minha tia hoje à tarde? Andréa ficou tensa, — Muito. — Que bom. Ela é uma mulher gentil, até certo ponto solitária, apesar de ser a última pessoa no mundo a admiti-lo. — Pudera! Morando aqui. . . Isto não me surpreende. —- Você se sentiria sozinha aqui? — Claro. Qualquer pessoa se sentiria. — Mesmo com minha presença? Andréa aos poucos foi ficando ruborizada. — Você deveria passar mais tempo aqui — disse apressadamente. — Sua tia gostaria muito. — E eu, de que gostaria? Andréa não ouvira a porta se abrir e de repente deparou com Sophie von Mahlstrom ficando muito desapontada. — Eu... Eu estava dizendo a Axel que a senhora sem dúvida gostaria que ele passasse mais tempo em Mahlstrom. — Mas, Axel vem quando pode. Ele é muito ocupado. . . — Minha tia é muito leal -— interrompeu-a Axel abruptamente. O olhar que trocaram foi incompreensível para Andréa. — Ah. Aí vem Cari. Devo confessar que estou pronto para jantar. Considerando os poucos recursos disponíveis e a idade avançada de Cari, a refeição era surpreendente. Começaram por panquecas recheadas com queijo que derretia na boca, passando em seguida a um frango muito, tenro, servido no próprio caldo, juntamente com ervilhas, terminando com uma soberba torta, cuja receita era originária da Floresta Negra, Alemanha, segundo explicou Sophie. O café foi servido juntamente com frutas e queijo, mas Andréa não podia comer mais nada. — Estava bom? — indagou Sophie, sorrindo. — Comi demais! — exclamou Andréa. — Por favor, agradeça a Cari por ter preparado uma refeição tão maravilhosa. Cari, que comera com eles, sentado na outra extremidade da mesa, não tomara parte na conversa, mas agradecia com um aceno de cabeça. Então Axel trouxe uma garrafa de conhaque e eles sentaram-se em torno da lareira, bebericando. Andréa não estava acostumada com uma bebida tão forte e de repente surpreendeu-se falando a respeito de sua vida na Inglaterra, do relacionamento com seu pai e de que não conhecera sua mãe. Contou fatos de sua infância, referiu-se a Janete e aos pais dela, revelando, sem saber, que fora uma menina muito solitária. Então Axel levantou-se e anunciou que eslava na hora de dormir. Andréa ficou surpreendida ao saber que já passava de meia-noite e pediu desculpas a Sophie por ter falado tanto. — Absolutamente, minha cara. Gostei muito de conhecê-la. Espero que voltemos a nos ver muitas vezes. — Vamos — disse Axel, após a partida de sua tia. — Vou acompanhá-la até seu quarto. Axel empunhou o candelabro de prata e chegando ao quarto, procurou uma caixa de fósforos para acender o lampião. De repente uma corrente de ar apagou quase todas as velas e Andréa gritou, assustada. — Não foi nada — ele disse com toda calma, regulando a luz do lampião. — Pronto! Melhorou? Andréa tremia de medo e de frio. Axel parou diante dela, com um sorriso zombeteiro nos lábios. — Por que está tremendo? As casas velhas exercem este efeito sobre você? — Eu... eu estou acostumada com edifícios novos, sem teias de aranha nem poeira do passado. — Sim, a manutenção da casa deixa muito a desejar. Andréa fazia o possível para se acalmar. — Será. . . será que morreu alguém aqui? Quero dizer, neste quarto. . . — Que eu saiba não, menina. Por quê? Você acha que pode haver algum fantasma rondando por aqui? — Não brinque com essas coisas! — Eu... onde é seu quarto? — Meu quarto? — Ele levantou as sobrancelhas, intrigado. — Por quê? — Você sabe por quê. Estou sozinha aqui. — Ah, percebo. Pretendia dormir no andar térreo, num quarto próximo à cozinha e que já ocupei muitas vezes. De repente ele puxou-a para si e seus lábios procuraram impacientemente os dela. Ao tocá-lo, Andréa sentiu que todo seu corpo despertava. Enlaçou o pescoço de Axel e moldou seu corpo aos ângulos do corpo dele. Ele abriu as pernas para manter o equilíbrio e chegou-se ainda mais. Segurou-a pelas cadeiras, puxando-a com firmeza de encontro a ele e deixando-a ainda mais consciente da realidade de seu desejo. Com um. gemido suas mãos abriram o zíper de seu vestido e ela não protestou. — Axel Meu Deus, você está louco? A voz indignada de Sophie von Mahlstrom trouxe Axel de volta à realidade e ele automaticamente deu um passo atrás. Andréa compreendeu que pela primeira vez ele perdera o controle da situação e que, a despeito de todos os seus cálculos, ela conseguira fazê-lo esquecer de suas motivações interesseiras. Era uma descoberta fantástica e voltando-se para encarar a baronesa sentiu que detestara a intrusão da velha senhora. O silêncio teve o efeito de acalmá-los e quando a baronesa voltou a falar estava bem mais controlada. — Desculpem-me por interrompe-los, mas acho que já está na hora de você ir para seu quarto, Axel. — Tem toda razão, claro, tia Sophie — disse Axel calmamente. — Sinto muito se a incomodei. Desejo-lhes boa noite. Pegou o candelabro, inclinou-se e deixou-as. — Você está bem? — Sophie olhou-a inquisitivamente. Andréa reprimiu um soluço histérico. — Eu... sim. Sim, estou muito bem. — Ótimo. Já é tarde. Você deve estar cansada. Se quiser alguma coisa durante a noite, por favor, me chame. Assim que Sophie se retirou, Andréa fechou a porta e encostou-se nela. Sentia-se fraca e tremula e sabia que não ia conseguir dormir naquele momento. Desejou sentir o calor daquele corpo de encontro ao seu. Queria ficar com ele. Foi até o lavatório e molhou o rosto e o pescoço com água fria, deixando que ela escorresse até os seios. Devia estar louca por desejar e pensar naquelas coisas, mas depois que se despiu e enfiou-se debaixo das cobertas, teve de aceitar o fato de que por mais que se censurasse, nem mesmo assim conseguiria destruir os sentimentos que Axel, tão descuidadamente, despertara no mais profundo de si mesma.
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