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  CAPÍTULO VIII 5 страница



— Axel? - chamou, percebendo que sua voz se perdia na imensidão daqueles salões. — Axel, onde é que você está?

Não se ouvia resposta alguma, e ela sentiu-se muito insegura. O que deveria fazer? Seus nervos estavam tão tensos que a idéia de esperar pacientemente na cozinha até que ele aparecesse pareceu-lhe insuportável. Talvez Axel não se encontrasse lá. Talvez se tratasse de mais alguém, algum amigo de Cari que estava tomando conta do castelo até que de regressasse.

Um som vindo do andar de cima deixou-a gelada. Era um gemido, e ela sentiu como se uma garra lhe comprimisse a garganta. Durante alguns momentos sentiu-se invadida pelo pânico, incapaz de se mexer. O gemido se fez novamente ouvir, desta vez acompanhada de uma praga. O coração de Andréa quase lhe saltava pela boca. Era a voz de Axel. Aos pulos, ela subiu a escada. Agarrando-se ao corrimão, deteve-se no segundo andar e notou que a porta do quarto que ocupara estava aberta.

Aproximando-se lentamente, chegou até o quarto c olhou. Axel estava lá, deitado de costas, e na mesinha-de-cabeceira havia um copo vazio. Esta­va muito pálido, com a fronte coberta de suor. Não a ouvira aproximar-se,

— Axel... — ela murmurou timidamente. — Axel. . . Você está bem? Durante alguns segundos ele não fez nenhum movimento nem emitiu qualquer som. Então voltou a cabeça e pôs-se a contemplá-la, sem acre­ditar no que via. A barba estava por fazer e seu cabelo estava todo em desordem. Ela percebeu um brilho no seu olhar que fez com que seu coração disparasse. Axel tentou se levantar, mal conseguindo manter o equilíbrio.

— Isto é invasão de domicílio — ele disse lentamente. — Por favor, vá embora!

— Vim para me encontrar com você, Axel. — Eu... Mas o que foi? Você está doente? Você está com um aspecto terrível.

—- Estou perfeitamente bem — ele disse, um tanto ríspido. Agora vá embora. Você não tem o menor direito de estar aqui. Já não estou mais negociando o castelo.

— Eu. . . Eu sei. Queria conversar com você a respeito de... — Ele, entretanto, interrompeu-a:

— Ah, percebo. Você veio a mandado de seu pai. Bem, sinto muito, mas não tenho mais nada a dizer.

-— Não vim a mandado de meu pai — disse Andréa com veemência. — Axel, queria vê-lo.

—- Não há mais nada a ser dito! — ele declarou, passando a mão por seu rosto abatido. — Como você vê, não estou em condições de receber visitas.

Andréa prendeu a respiração.

— Que falta total de amabilidade! Axel, por que você decidiu não vender mais o castelo?

— Ah, voltamos novamente ao objetivo de sua visita...

— Não é este o objetivo de minha visita. Pelo menos, não diretamente. Só quero saber por que você mudou de idéia. Pare de me olhar como se você... Odiasse-me.

— Desculpe. — Ele se esticou, endireitando os ombros, e de repente encurvou-se, como se uma dor profunda o golpeasse. Ela deu um passo adiante, mas ele a repeliu com um gesto. — É apenas uma ligeira. . . Indi­gestão — disse, com certa relutância. — Olhe, não posso discutir o que quer que seja com você. Você está perdendo tempo. Por favor, desculpe-me perante seu pai por fazê-lo também perder tempo.

— Axel, pare com isso! Pare com isso! O que está acontecendo com você? Você precisa me dizer.

Andréa hesitou, cheirando um copo encontrado na mesa-de-cabeceira. Havia ainda um resto de conhaque e ela compreendeu que ele deveria ter bebido a fim de aliviar a dor que sentia. Pousou o copo e sentou-se na cama, a seu lado.

— Agora me conte — ela insistiu suavemente.

—- Mas o que há para contar? Acho que me intoxiquei. Não havia comida fresca quando cheguei a Mahlstrom, comi o que havia, sem me importar muito. Agora estou sofrendo as conseqüências de minha imprudência.

Andréa contemplou-lhe a cabeça inclinada e então pousou a mão no pescoço de Axel. Ele estremeceu ligeiramente, mas não se afastou, e ela adquiriu mais confiança.

— Por que você não se cuidou, Axel? -— eia murmurou, apoiando-lhe o rosto no ombro.

— Vá embora, por favor, Andréa. Vá embora!

— Não posso, Axel, pelo menos ainda não. — Apoiou a mão na coxa dele, sentindo a musculatura rija. — Só se você me expulsar.

Muito pálido ele ergueu a cabeça e olhou-a.

— Você não sabe o que está dizendo — disse com voz rouca, cobrindo-lhe a mão com a dele.

— Sei, sim.

— Como foi que você chegou até aqui? Quem veio junto?

— Ninguém. Vim sozinha, de trem. Estava em Grossfeld e fui até o chalé.

— Você sabe que... Estamos sozinhos aqui. E agora eu... — Ele se interrompeu, olhando sua mão, que cobria a dela. — O que você está tentando fazer comigo?

— Você me beijou, em Londres — ela murmurou. — Agora posso beijá-lo?

O murmúrio de protesto de Axel foi abafado pela avidez dos lábios de Andréa. Ele agarrou-a, de encontro a seu corpo, e quando ela se aninhou na cama desarrumada, ele deitou-se sobre ela, com todo o peso de seu corpo. Beijou-a repetidas vezes, não deixando a menor dúvida quanto à extensão de seu desejo.

— Não devíamos fazer isso — ele protestou. — Aqui não. Preciso me barbear, preciso mudar de roupa...

— Eu ajudo você a se trocar — ela disse baixinho. — Nunca fiz a barba de ninguém, mas estou disposta a tentar. . .

Notou que o olhar dele se tornava subitamente sombrio. Praguejando, ele se afastou dela, pondo-se de pé.

— Levante-se, Andréa — ele falou, rispidamente. — Não adianta. Não consigo ir adiante.

— Mas o que você está dizendo? O que aconteceu?

— Desça, Andréa. Dê-me tempo para me tornar um pouco mais apre­sentável. Daqui a pouco irei a seu encontro.

Você quer que eu dê tempo para você levantar novamente suas defesas contra mim! — ela declarou, tremula. Caminhou em sua direção, cingindo-lhe a cintura com os braços. — Axel, Axel, eu o amo. Pronto, finalmente eu disse!

— Oh, meu Deus! Andréa, isto tudo é uma loucura!

— Por quê? Por que é uma loucura? Você me deseja, não?

— Claro que sim! Seria um tolo, se tentasse negá-lo. Mas o simples fato de amar alguém não soluciona automaticamente problema algum.

Ele se mostrava inflexível, e não restou a Andréa outra alternativa a não ser obedecer-lhe.

Quando ele veio finalmente a seu encontro, na cozinha, Andréa fervera a água e fizera café.

— Você quer café? — ela perguntou.

— Não, obrigado. — Foi até a lareira e colocou dentro dela uma acha de lenha. — Diga-me uma coisa, seu pai contou-lhe por que eu fui a Londres?

— Ele disse que você foi discutir a venda do castelo.

— É verdade. Mas ele não lhe disse o que eu pretendia fazer com o dinheiro?

— Será que ele sabia? Não, ele não me disse nada.

— É o que eu pensava.

— Mas o que ele deveria ter dito? Você está insinuando que papai escondeu algo importante de mim?

— Não. Não estou insinuando nada disso.

— Axel, por favor, pare de me atormentar desse jeito!

— Eu? Atormentá-la? — Axel riu amargamente. — Oh, Andréa, e você por acaso não acha que está me atormentando, ao vir até aqui. Fazendo com que tudo comece novamente e sabendo que o resultado final será o mesmo?

— Que resultado? Axel você está me deixando confusa.

— Está certo. — Respirou fundo. — Está certo, vou lhe contar. — Fez uma pausa, — A escola de esqui em Grossfeld está à venda. Ofereceram-na a mim. Disse a seu pai que estava pensando em comprá-la com o dinheiro da venda do castelo.

— Oh, Axel! — Os olhos de Andréa brilharam. — O que foi que ele disse?

— Ele sugeriu que eu aceitasse a oferta de gerenciar o hotel que ele pretendia abrir no castelo.

— Ah, sim, ele me contou.

— É mesmo? E ele também disse qual foi minha resposta?

— Sim. Disse também que não conseguiu entender por que você ficou tão zangado.

— Ele não... Entendeu? — Axel cerrou os punhos. — Oh, não, isto não aceito, absolutamente. Ele sabia perfeitamente por que fiquei zangado. Andréa seu pai e eu nos vigiamos durante semanas, como dois adversa­rios, cada um à espera de que o outro desse o primeiro passo.

— Mas. . . Por quê?

— Aquele negócio com você. . . Não deu certo. E seu pai sabia.

— Não deu certo?

— Sim. Sim. Você não se deu conta? Aquela noite que passamos juntos, aqui? Se tia Sophie não tivesse nos interrompido. . . Mas eu tive medo. Foi por isso que pedi a tia Sophie para vir ter conosco.

— E... Ela sabia?

— Dos meus sentimentos? Acho que talvez ela suspeitasse. Não tenho o hábito de invadir quartos e fazer amor com as mulheres que os ocupam.

— Papai ficou sem saber por que você pediu à baronesa para vir a Mahlstrom.

— Era natural. Ele ainda não tinha conhecimento de todos os fatos. Isto só sucedeu mais tarde.

— Quando? Como?

— Oh, Andréa, seu pai e eu tivemos muitas conversas. Como é que vou lhe explicar minha posição? — Fez uma pausa. — Como eu lhe disse na gravação, seu pai e eu nos conhecemos há algum tempo, e suas razões para pedir-me que a vigiasse eram mais do que razoáveis. Foi quan­do eu comecei a me envolver que as coisas começaram a dar para trás.

— Mas por quê?

— Andréa, eu não levei em conta o tipo de reação que iria ter em relação a você. Para mim ficou muito claro como você reagiria a mim, mas eu, muito estupidamente, pensei que ia ficar imune a tudo. Era impossível. Passados alguns dias, eu não conseguia mais prosseguir com aquilo. Foi por isso que eu a mantive longe de mim. Não confiava em mim mesmo.

— Mas você fez coisas tão horríveis!

— Como, por exemplo, ignorá-la. Reconheço que fui muito sujo. Mas não tinha a menor idéia de que você. . . — Ele se interrompeu, sacudindo a cabeça. — Seu pai suspeitava de que algo estava errado, quando eu o chamei, e disse-lhe a verdade.

— O quê?

— Exatamente. Não esperava que a coisa fosse adiante, mas como não sou mentiroso... Seu pai é um homem astuto. Andréa. Foi mais fácil dizer-lhe a verdade.

— Porém, mais tarde. . .

— Mais tarde fui a Londres. Eu a vi. . . Não no dia em que fomos almoçar juntos, mas antes. Eu a vi, mas você não me viu. Pensei comigo mesmo: se pudesse vê-la pelo menos mais uma vez, ter certeza de que ela é feliz. . . Mas você não parecia feliz. Estava pálida e deprimida. Foi então que decidi ir ver seu pai e dizer-lhe que queria conversar com você.

— Mas por que não falou comigo diretamente?

— É assim que as coisas se passam em minha família. E agora você sabe o que seu pai disse. Foi ele quem apresentou o plano relativo ao castelo. Ele sabia como eu reagiria. Mesmo assim, insisti em vê-la. E você sabe o que aconteceu.

Andréa não conseguia mais ficar sentada. Soluçando, atravessou a cozi­nha e atirou-se cm seus braços. Desta vez ele não tentou dete-la.

— Axel, Axel, eu o amo. Se pelo menos você tivesse me dito como se sentia; em vez de nos torturar desta forma!

Axel acariciou-a quase com desespero.

— Andréa, a situação não se alterou. Não adianta. Não posso casar-me com você, mesmo que você queira. Seu pai tinha razão.

Andréa sacudiu a cabeça. Após ter passado por tantas coisas, após acreditar que tudo acabaria dando certo. . . Ele não podia agir daquela maneira! Soluçando, desprendeu-se de seus braços, disfarçando a angústia que se estampara em seu rosto.

— Não precisa-dizer mais nada! — exclamou, tremula. — Tudo ficou muito claro. Você é orgulhoso e arrogante demais para pensar em casar com alguém que tem mais dinheiro do que berço.

— Berço não tem nada a ver com ludo isto.                               

— Não mesmo? Então qual é o impedimento?

— Não pretendo viver às custas de ninguém, como você insinuou certa vez. E não vou prostituir meus princípios, gerenciando um hotel que seu pai comprou unicamente por sua causa!

— Mas eu não disse que você deveria fazer tal coisa.

— Mais cedo ou mais tarde acabaria dizendo. Andréa, durante toda a vida você teve tudo o que desejou.

— Que opinião terrível você tem a meu respeito, não?

— Andréa, eu sou mais velho do que você, falo qu ocê mesma enfati­zou, certa ocasião. Não sou o tipo de homem que encara com superficiali­dade votos de casamento. Não admitiria que você mudasse de idéia por não haver criadas para servi-la, mesadas de seu pai para facilitar a vida dura que você escolheu. ..

— Os preconceitos deixaram você completamente cego! — ela retrucou. Sentia um zumbido nos ouvidos e sabia que não conseguiria agüentar muito mais tempo aquela situação. — Oh, por favor, quero ir embora daqui!

Foi cambaleando até a porta, arrasada pela frustração. De repente sentiu que ele estava bem atrás dela e que sua respiração acariciava-lhe o pescoço. Ele a tomou nos braços, abraçando-a fortemente.

— Oh, Andréa, Andréa! —gemeu Axel. — Não posso deixá-la partir desse jeito, o que devo fazer?

— Case comigo — ela respondeu prontamente, horrorizada com sua temeridade, ao compreender o que tinha dito.

— Não quero viver do dinheiro de seu pai — ele declarou, roçando os lábios na base do pescoço de Andréa.

— Mas eu acaso pedi a você que fizesse isso?

— Não — ele disse, estremecendo, quando ela lhe passou as mãos pelas coxas. — Muito bem. Venderei o castelo e comprarei a escola de esqui, como pretendia. Seremos independentes.

— Será como você quiser — concordou Andréa, enfiando-lhe as mãos debaixo do suéter e acariciando-lhe a carne rija. — Humm, você está com um cheiro tão bom! Oh, Axel, será que não perdemos tempo demais? O chefe da estação vai chegar daqui a pouco e quero fazer amor com você...

 



  

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