Хелпикс

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  CAPÍTULO VIII 1 страница



 

Ao sair do banheiro Andréa deparou com Janete sentada em sua cama, demonstrando todos os sinais de impaciência.

— Pensei que você estivesse com dor de cabeça — disse em tom ressentido.

— O quê?

— Ontem você disse que estava com dor de cabeça.

—Oh. Estava sim. 

— Você foi esquiar sozinha?

— Sim.

— Posso ser ingênua, Andréa, mas não sou burra! Você fez tudo isto de propósito, não é mesmo? Como é que foi parar no chalé do barão?

— Não sabia que o chalé era dele! —- protestou Andréa indignada. — Desconhecia que ele tinha um chalé!

— Não é verdade, não é verdade! Ele lhe contou.

— Está bem, mas eu já tinha até esquecido. Creia em mim, Jan, não sabia onde ele vivia. Você está pensando que eu fui atrás dele, é?

— Exatamente!

— Você está louca! — Andréa estava a ponto de dizer o quanto ela detestava e desprezava o barão, mas a lembrança da fita gravada a fez agir com cautela. — Janete, juro que não me machuquei de propósito.

— Não estou dizendo que tenha se machucado e imagino que o seu joelho esteja doendo. — Andréa retirara a atadura antes de entrar no chuveiro e o joelho estava muito inchado e arroxeado. — Não, a única coisa que estou dizendo é que foi muito estranho você ter ido parar justamente lá.

 — Não foi estranho coisa alguma. Foi mera coincidência — replicou Andréa.

— E então? O que foi que aconteceu?

— O que aconteceu? — Andréa procurou ganhar tempo, abrindo um pote de creme e espalhando-o pelo rosto, na esperança de que Janete não notasse que ficara corada.

— Sim. O que aconteceu? O que vocês fizeram? A respeito de que conversaram? Ele disse a você para chamá-lo pelo nome de batismo?

— Acho que isso veio naturalmente — murmurou Andréa. — Na ver­dade não aconteceu muita coisa, não. — Mordeu os lábios.

— Ele cuidou de meu joelho e eu dormi. Ele se acomodou no divã, na sala de estar. Eu usei a cama dele.

— Como é o chalé? Ele me prometeu levar lá.

— Não tem nada de especial. Uma sala de estar, quarto e cozinha.

— Será que ele sempre morou lá? — indagou Janete pensativa. Andréa pensou em falar a respeito da infância de Axel e do castelo em ruínas que fora seu lar, porém decidiu o contrário. Quanto menos envolvi­mento ela parecesse ter com Axel von Mahstrom, melhor. Mudando de assunto perguntou:

— Vocês se divertiram em Oberlaufen?

— Foi simpático. A vista era fantástica, mas estar no meio de uma multidão não é o mesmo que estar com Axel. Sabe, ele conhece tudo a respeito de lugares como Oberlaufen. É capaz de contar fatos histó­ricos, descrever incidentes que aconteceram lá e reviver situações. Bem, de qualquer maneira Axel é um companheiro muito mais interessante — prosseguiu sua prima. — Ele lhe falou alguma coisa. . . A meu respeito?

— Eu. . . Acho que não. O que você esperava que ele me dissesse?

— Sei lá. Sabendo que você é minha prima, ele poderia ter indagado a respeito de nossos pais, ou então como é que viemos parar aqui em Grossfeld.

— Mas eu já lhe disse — ela falou e o sentimento de culpa tornava sua voz mais aguda. — Nós não conversamos muito.

Janete parecia não acreditar e pôs-se a estudar sua prima, cuja inquieta­ção era evidente. — Sabe — disse finalmente —, se eu fosse uma pessoa desconfiada diria que você está escondendo alguma coisa.

— Escondendo o quê? Ora, não seja tola. Existe acaso alguma coisa para esconder?

— Sei lá... Você contou a Axel que eu não era a filha de tio Pat?

— Não! — E era verdade. Ela nada dissera.

— Ah. . . Bem. . . -— Janete caminhou até a porta. — Vou descer a turma está me esperando. Vamos jogar cartas. Venha ter conosco assim que se vestir.

— Talvez vá.

Andréa forçou um sorriso, mas assim que Janete saiu atirou-se na cama. Naquele momento mais do que nunca precisava estar a sós, pensar, ima­ginar que atitude tomaria.

Como era possível que aquele homem tivesse agido daquela maneira! Não acreditava que isto fosse possível. Claro, já lera artigos de jornal a respeito de diplomatas e homens de Estados envolvidos com chantagista de posse de fotos comprometedoras, tiradas em situações igualmente comprometedoras. Parecia-lhe, no entanto, impossível que uma coisa semelhante tivesse acontecido justamente com ela. Mas na verdade acontecera.

Pelo menos doze jornais de Londres pagariam qualquer preço para publicar o conteúdo daquela fita. Patríck Connoly não chegara até a posição que ocupava sem fazer inimigos, e a oportunidade de atingi-lo através de sua filha não poderia jamais ser desperdiçada. E, para coroar tudo isto, existia também tia Lavinia. . . Tia Lavinia e sua língua ferina. . .

Assim sendo, que alternativas lhe restavam? Casar com o barão ou então... A desonra! Sorriu. Era uma palavra tão fora de moda, e, no entanto ainda significava algo.

Ao recordar o diálogo apaixonado irado com Axel esqueceu por um momento sua angústia. Se ele não fosse tão mau-caráter poderia recor­dar-se daquela cena de amor com alguma nostalgia. Ele a excitara como jamais ninguém conseguira. Por que seus beijos a provocavam tanto? Não tinha respostas concretas para isto exceto que o toque de suas mãos diluía todos os pensamentos sensatos que lhe pudessem passar pela cabeça. Ao compreender que isto aconteceria todas as vezes que ele se dispusesse a agir, sentiu-se profundamente ressentida. "Meu Deus", pensou desespe­rada, "se dissesse tudo aquilo a seu pai, será que ele tentaria ao menos compreender?" Ignorava. Levaria ainda muito tempo para sabe-lo, pois ele estava viajando para os Estados Unidos.

Quando conseguiu controlar-se já estava na hora do almoço. Foi direto para o restaurante, onde Janete já se encontrava a sua espera. Vestia-se com muita, elegância e Janete contemplou-a com admiração.

— Muito bem — comentou, enquanto Andréa acomodava-se. — O que aconteceu com você?

— Cansei de andar de calças e resolvi pôr uma saia. Com a atadura a calça provoca um certo desconforto.

— É mesmo? — Janete parecia não estar lá muito convencido e co­mentou, meio sem jeito: — Ainda está nevando.

 — Pois é. — Andréa sorriu para o garçom e pediu uma sopa. — Jogaram cartas?

— Sim. Herr Lieber veio a sua procura. Chamou um médico, que virá examinar seu joelho esta tarde.

— Não precisava. .

— Pelo jeito, ele achou que precisava, sim.

— E seu tornozelo, como está?

— Mais ou menos. No futuro serei mais cuidadosa.

Durante à tarde Andréa teve de explicar a Susie e aos demais o que acontecera na véspera.

— Você deveria ter ido conosco a Oberlaufen — disse Roy. — Eu já tinha avisado, esquiar sozinha é uma imprudência. Você poderia ter mor­rido, enregelada na neve!

— Sei disso muito bem — respondeu Andréa com muita paciência. —- Comportei-me com muita imprudência.

— Algumas pessoas são mais aventureiras do que outras — comentou Ruth Stevens maliciosamente, — Que sorte você teve de poder chegar até ochalé do barão...

Andréa deixou passar o comentário, achando que não fazia o menor sentido criar uma situação de animosidade entre ela e a meia-irmã de Roy. Susie, muito animada, perguntou como era a casa do barão. Andréa contou-lhes o que dissera a Janete. Mais cedo ou mais tarde todos eles acabariam por saber dos planos que o barão formulara para ela.

O tempo continuou ruim até o fim do dia e começaram a chegar notí­cias relativas a avalanches que bloqueavam as estradas e isolavam as aldeias. Andréa sentia-se apreensiva em relação à segurança de Axel, à medida que a noite caía, e a ansiedade com que Janete se referia ao assunto não ajudava em nada.

O médico enviado por Nicholas Lieber declarou que o estado do seu joelho era satisfatório. Elogiou o modo como a atadura linha sido colo­cada e garantiu-lhe que ela estaria esquiando dentro de uma semana.

Estava se vestindo para o jantar quando Janete entrou em seu quarto usando uma saia com listras horizontais, que não favoreciam' sua figura rechonchuda. Não gostou muito quando Andréa comentou o fato e disse, em atitude de defesa:

— Não posso usar o tempo todo aqueles vestidos que você me comprou.

— Pois então use calças compridas e aquela blusa creme com um lenço vermelho — sugeriu Andréa no ato.

— Não. — Janete mostrava-se irredutível. — Esta roupa está perfeita, não acha? Mamãe pagou um dinheirão por ela.

— Janete, não há nada de mal com o vestido. Trata-se de você. Não deveria nunca usar listras horizontais.

— É, mas acontece que eu quero ir jantar vestindo um traje tão elegante quanto você.

Andréa, que ainda não havia decidido o que usar ficou bastante sur­preendida. — O que quer dizer com isso?

— Bem, você caprichou no vestido, na hora do almoço. Como posso saber o que vai usar esta noite?

— Ah, entendo. Olha, também usarei calças, se com isso puder con­vencê-la a tirar este vestido.

Janete hesitou. — Você acha mesmo que eu ficaria melhor?

— Com toda certeza.

— Então está bem.

Começou a vestir-se e pouco depois Janete voltou, muito mais elegante com calças marrom e a blusa creme sugerida por Andréa.

Após o jantar houve uma festa no Bar Tirolês. Todo mundo usava máscaras e chapéus típicos e um grupo de cantores e dançarinos folcló­ricos animou o ambiente. O joelho inchado de Andréa dava-lhe um excelente pretexto para não se juntar ao grupo, o que de resto era um alívio, dado o modo como ela estava se sentindo. Roy insistiu em lhe fazer companhia, a despeito de seus protestos. Estava imaginando como poderia apresentar uma desculpa que fizesse sentido e recolher-se a seu quarto. Uma parte dela queria certificar-se de que Axel estava bem e a salvo das tormentas de neve, mas o que ela mais queria no momento era ficar a sós.

Por volta de dez horas disse que estava cansada e pediu licença para recolher-se. Ao subir os degraus ouviu algumas vozes na recepção, entre elas a de Axel, aliás, inconfundível. Subiu a escada com dificuldade e chegou ao quarto sentindo imenso alivio, contente por ter-se retirado a tempo. Pelo menos tinha certeza de que nada de mal lhe acontecera. Adormeceu profundamente assim que sua cabeça tocou o travesseiro.

Andréa despertou cedo na manhã seguinte. Ao sair da cama constatou que o joelho estava muito melhor e que podia apoiar-se nele sem muita dor.

O dia estava cinza e sombrio, mas a neve já não caía mais. A cidadezinha voltava lentamente à vida. Resolveu vestir o maio. Um mergulho na piscina far-lhe-ia muito bem, estimularia sua circulação e talvez con­tribuísse para eliminar aquela dor de cabeça que não a deixava.

A piscina estava deserta e Andréa entrou na água. Sentia uma sensa­ção muito agradável e começou a ficar mais otimista. Axel von Mahlstrom não conseguiria forçá-la a fazer o que fosse, na medida em que ela mantivesseuma grande energia interior. Quando seu pai chegasse, ela lhe contaria tudo. Inclusive os detalhes desagradáveis relativos ao gravador.

Claro que isto era mais fácil de se dizer do que de se fazer. Patrick Connolly estava longe de ser paciente ou compreensivo e todo mundo sabia o quanto ele era impiedoso quando se tratava de negócios. Em mais de uma ocasião mostrara-se bastante rude com Andréa e não seria nada fácil convence-lo de que ela estava inocente em toda aquela história.

Ao voltar a suíte, encontrou Janete acordada. — Onde é que você foi? Ah, na piscina! Seu joelho não dói quando você nada?

— Não especialmente. Precisava de um pouco de exercício. Você ficou acordada até muito tarde?

— Bem tarde. E por falar nisso. Andréa. Axel trouxe um amigo ontem à noite. Um conde Heinrich von Reicher.

Andréa, que se enxugava no banheiro sentiu os nervos tensos. — Com quem então o barão veio ontem à noite? —- indagou, afetando não se interessar nem um pouco pelo assunto.

— Oh, sim — respondeu Janete muito animada por ter tantas novida­des para contar. — Chegou logo depois que você foi se deitar. Disse-lhe que você estava cansada e ele mostrou-se muito compreensivo.

— Que bom. . . — Andréa tentou não demonstrar muito sarcasmo na voz, mas Janete parecia não perceber nada,

— Mas como ia dizendo, ele trouxe um amigo, o Conde Heinrich von Reicher. Chegaram mais ou menos às dez e quinze. O conde está passando alguns dias em Grossfeld. Ele e Axel freqüentaram a mesma escola ou qualquer coisa no gênero. É alemão e extremamente gentil.

Andréa saiu do banheiro e começou a vestir-se. — Ele tem a mesma idade do barão? — perguntou, obrigada a demonstrar algum interesse pelo assunto.

-— Sim, mas eles não se parecem nem um pouco, Axel é alto e Heinrich tem mais ou menos um metro e setenta, cabelos e barba mais para o ruivo.

— E... O barão combinou... Vir ao hotel hoje? — indagou Andréa, tentando parecer o mais casual possível.

— Não. Por quê? Você queria vê-lo?

— E por que haveria de querer vê-lo?

— Talvez você quisesse agradecer novamente tudo o que ele fez. Você teve sorte de ele ser quem é, não é mesmo? Imagine se o dono do chalé fosse uma outra pessoa, com más intenções. Acho que você não estaria em condições de repeli-lo, não?

— Não. — As palavras de Janete haviam mexido com ela. Fora por isso que ele achara tão fácil humilhá-la? Porque ela se encontrava fraca e cansada, sem torças para resistir? A coisa até chegava a fazer sentido. Mas. . . — Vamos indo? — sugeriu.

Durante a manhã Andréa tentou escrever a seu pai, sem o menor su­cesso. Era impossível transportar para o papel tudo o que sentia. Além do mais estava convicta de que Axel apareceria de um momento para outro, perguntando por que ela não havia aparecido na noite anterior, o que a deixava enervada.

Ao chegar a hora do almoço, Andréa sentia-se francamente inquieta Janete fora com Roy e Susie até o lago em Seegold. Onde estaria Axel'? Por que ele não aparecia e terminava de uma vez com tudo aquilo?

Foi ao restaurante paro o almoço. Quando estava na metade, Axel entrou acompanhado por um homem corpulento, em que Andréa reco­nheceu o conde descrito por Janete. Para sua grande surpresa ele dirigiu-lhe apenas um leve aceno de cabeça c sentou-se em um lugar bem afas­tado dela.

Que espécie de artimanha Axel estaria usando? O que estaria tentando fazer com ela? Sentiu vontade de ir até a mesa dele perguntar por que ele não se dignava cumprimentar a mulher com quem supostamente ia se casar. Acaso estaria com vergonha dela? Não seria, ela o tipo de esposa que o conde consideraria aceitável para um membro da nobreza austríaca? Nunca na vida estivera em situação tão ambígua e lançou um olhar agressivo sobre Axel.

Ele, pelo visto, ignorava aquela tempestade emocional. Estava displi­centemente recostado na cadeira, fumando um charuto e conversando com seu amigo. Talvez eles nem mesmo percebessem sua presença naquele momento, c Andréa enterrou as unhas nas palmas das mãos. "Que ani­mal, que porco!", pensou. Ele estava fazendo aquilo de propósito para humilhá-la. Recusava-se a ficar sentada e submeter-se a sua indiferença.

Empurrou a cadeira e pôs-se de pé, na expectativa de que Axel se levantasse ao ver que ela se retirava. Ele não o fez, porém. Aliás, nem sequer notou sua partida e ela fez o possível para não mancar demais enquanto se encaminhava rapidamente para a porta.

Ao chegar ao quarto, andou de um lado para o outro, tomada de impaciência. Desejava que Janete ou Roy estivesse no hotel, pelo menos teria com quem falar. Acima de tudo,desejava ter coragem de aproximar-se de Axel von Mahlstrom e dizer-lhe exatamente o que pensava a seu respeito!

Aos poucos seu ressentimento dispersou-se, dando lugar a um sentimento ainda mais perturbador de impotência. Como enfrentaria estas se­manas, até a chegada de seu pai?

 Estava sentada na sala de estar da suíte, tentando ler quando Janete chegou. Estava muito corada e atraente, após passar o dia inteiro ao ar livre.

— Você deveria ter vindo conosco, Andréa. Imagine só, ficar aqui sem ninguém! Não deve ter sido nada divertido.

— De fato! — respondeu Andréa, tentando não pensar no que tinha ocorrido na hora do almoço. — Vocês esquiaram?

— Eu não, somente algumas pessoas do grupo. Nunca tinha visto antes um lago congelado. E você, o que fez?

— Fiquei por aqui, como você notou — replicou Andréa.

— Não conversou com ninguém?

— Não. Exceto com o garçom, na hora do almoço.

— Hum. . . Axel está lá embaixo.

— É mesmo? — Andréa procurou se conter.

— Sim. Com Heinrich. Você não quer ir tomar chá?

— Não, obrigada.

— Como quiser. Só que Roy vai ficar desapontado.

— Achei que você sentia pena de Ruth e desaprovava meus contatos com ele.

— Bem... Ela não é tão agradável como eu imaginava no início. Ontem à noite começou a agredir o conde, só porque ele admirou o colar que ela usava. Era um medalhão de metal e ele disse que lhe lembrava a Cruz de Ferro, uma condecoração ganha por seu pai na última guerra.

— Só que ele lutava do outro lado, imagino — comentou Andréa, divertida com o ciúme óbvio de Janete.

— imagino que sim. Só que agora acabou tudo, não é mesmo? A gente não pode continuar sempre em guerra. Não tenho preconceitos desse tipo. Gente é gente e Heinrich não pode ser responsabilizado pelas opiniões políticas de seus pais,

— Heinrich? — Arqueou as sobrancelhas. — Você também o chama pelo nome de batismo?

— Sim... Janete corou. — Axel apresentou-o como Heinrich. Ele me chama pelo meu nome, também.

— Percebo. E qual é a profissão dele?

— Ele não é um joão-ninguém, se é isto que você está insinuando. Tem um carro esporte italiano e está hospedado no Berghof. E pela roupa que usa, deve ser milionário.

— Muito bem! Pelo menos você lerá o que contar, quando voltar para casa.

— Hmmm. — Janete parecia pensativa. — Você não vai mesmo descer?

— Já, já, não.

— Pois eu acho que você deveria descer. Você não pode passar a noite inteira sentada aqui.

— E por que não?

— O que é que os outros vão pensar?

— Não me importo muito — replicou Andréa, um tanto tenso. Mas não era verdade e ela sabia perfeitamente disso.

 

                            CAPÍTULO IX

 

A seqüência dos acontecimentos determinou que Andréa descesse para o jantar, ao contrário do que havia planejado.

Assim que Janete saiu, foi até seu quarto, despiu-se e encaminhou-se para o banheiro. Estava se enxugando quando bateram a porta da suíte. Pensando que se tratasse de alguma criada, ordenou que entrasse. Ficou pasma no momento em que Axel entrou na suíte.

Imediatamente Andréa semicerrou a porta do quarto, porém ele a vira:

— Seu corpo parcialmente despido para mim não é nenhuma novidade. Andréa. Venha cá e pare de comportar-se como uma virgem pudica. Este papel não lhe cai bem.

Furiosa Andréa abriu a porta e permaneceu na soleira. — O que você deseja?

— Por que você está aí ofegante como uma prima-dona temperamental? — perguntou em tom agressivo. — Você vai cedo para a cama para evitar minha companhia e depois se comporta como uma estrela ultrajada porque eu a ignorei na hora do almoço. . .

— Foi assim que você agiu, é? Pois nem notei.

— Notou, sim. — Havia desprezo em seu olhar. — E saber que você mente com muita desenvoltura não melhora em nada sua imagem.

— Eu dizendo mentiras? Como você ousa me acusar. . .

— Cale-se! Estou afirmando que este é o seu modo de agir.

— Quer fazer o favor de ir embora? — Andréa chegara a ponto de saturação. — Não sou obrigada a ficar em silêncio, vendo-o se compor­tar como um tirano do século passado! Aliás, o que é que você está fazendo aqui? O que faria se Janete entrasse subitamente? Procuraria o primeiro buraco para se abrigar, agindo conforme o rato que você é?

Ele cobriu o espaço que os separava com uma velocidade queela jamais haveria de esperar, mas seus reflexos foram rápidos e ela fechoua porta do quarto antes que ele pudesse tocá-la. A estratégia, no entanto, revelou-se pouco eficaz. Não havia fechadura na porta e ele abriu-a sem precisar de muito esforço. Ela não teve tempo de correr até o banheiro e ficou parada, tremendo no meio do quarto, esperando a reação dele.

A cena, à medida que ele avançava, tomava as proporções de um filme de horror, Andréa apertou a toalha de encontro ao corpo e esperava que a qualquer momento ele a arrancasse, expondo impiedosamente seu corpo.

— Oh... Oh, seu animal! — Lágrimas de frustração vieram-lhe aos olhos enquanto ela se afastava. — Por que não vaiembora e me deixa sozinha? Oh, meu Deus, antes eu nunca tivesse posto os olhos em você!

— É mesmo? Por quê? Só porque eu não me ajusto à sua concepção do que deveria ser um nobre arruinado? Esquece-se, Fràulein de que minha família descende dos hunos. Creio que já ouviu falar deles, de sua vida nômade e de sua grande habilidade como caçadores. . .

—... E do modo como pilharam e arruinaram a Europa — ela o interrompeu. — Claro que já ouvi falar deles.

— Sim, muitas de suas ações não eram assim tão recomendáveis, mas é preciso reconhecer que geralmente eles conseguiam o que queriam.

— Até serem derrotados!

— Foi a cobiça que os derrotou, Liebchen, e desse defeito eu não pa­deço. Contento-me com aquilo que me toca.

— Você tem a moral de um... De um...

Ele parou diante dela e tão perto que quase a tocava. Fitou-a irado e ela oscilou ligeiramente. Sua proximidade a deixava nervosa. A respi­ração ofegante dele era semelhante á dela e seus olhos sentiram-se irresis­tivelmente atraídos por uma veia que pulsava no pescoço dele. Seus olhos detiveram-se sobre o nó da gravata e baixaram até fixar-se na fivela do cinto. Recordava-se com precisão daquela pele macia que cobria os músculos do seu peito e estômago e um calor carregado de sensualidade invadiu-lhe o corpo. Como se não pudesse mais se controlar, inclinou-se para ele, porém Axel segurou-lhe os pulsos e com crueldade deliberada afastou-a.

— Ah, não — disse-lhe com brutalidade. — Agora não, desse jeito não. O que há? Já não pareço mais um rato?

— Estou pensando em palavras menos amáveis.

— Então por que não as emprega?

— Não tenho o hábito de recorrer a elas.

— Bem. . . Vamos falar de coisas mais práticas. Descerá para o jan­tar, ja?

 — Você não pode me obrigar. — Ah, não vamos começar tudo de novo. — Ele agora parecia impa­ciente. — Vai jantar, sim, e vai parar de comportar-se como uma colegial mimada. A futura Baronesa von Mahlstrom deve comportar-se com digni­dade e boas maneiras.

— Não serei a futura Baronesa von Mahlstrom! — exclamou furiosa.Você pensa que tudo vai se passar de acordo com seus planos, não? Naturalmente acha que a gravação e o telefonema para meu pai resolvem a situação. Mas não é verdade. Quando meu pai chegar, eu lhe contarei tudo, está me ouvindo? Tudo! E então veremos em quem de acredita.

Axel permitiu-lhe aquele momento de triunfo, mas logo em seguida segurou seus ombros nus; acariciando sua pele macia com perturbadora insistência.

— Deixe-me dizer-lhe algo. Andréa. Conheço um bocado a seu respeito e a respeito de seu pai, o suficiente para saber que ao mesmo tempo em que você assume uma certa independência em relação a ele, nada faria para magoá-lo. Você pode imaginar como ele se sentiria se você o enga­nasse? O que aconteceria, se você me denunciasse como um chantagista imediatamente após seu pai anunciar nosso noivado? Pois fique sabendo que eu negaria tudo. E então o que seria de você, incapaz de provar o que quer que fosse? Talvez eu a processasse por calúnia e difamação.

— Como você é baixo!

— Por favor, não suporto ouvir palavras desse tipo nos lábios de uma mulher, especialmente quando elas me dizem respeito.

Ela retirou a mão de Axel de seu rosto, mas ele sentou-se na cama e enlaçou com as pernas o corpo dela. Mantendo-a segura, levou a mão dela aos lábios e abrindo-a depositou um beijo na palma.

Andréa estremeceu. Aquele contato era tremendamente sensual e enfraquecia todas as suas resistências. Sentia desejos de enterrar as mãos nos cabelos finos e macios de Axel. Ele então ergueu a cabeça e fitou-a bem dentro dos olhos. Seus lábios descerraram-se involuntariamente, sua respiração acelerou-se e ela abandonou-se a seus braços. Os lábios de Axel roçavam os dela, em uma seqüência de caricias inconseqüentes que estimulavam seu desejo, mas nada faziam para saciá-lo. Tentou segurar o rosto de Axel entre as mãos, tentou apoiar seus lábios sobre os dele, mas ele a evitou, procurando a curva de seu pescoço, a pele macia de seus ombros e colo, enquanto os dedos exploravam os orifícios das orelhas.

— Axel. . . Axel. . . Por favor, pare de me atormentar. . .

— Muito bem.

Com um movimento ágil ele se levantou c, antes que ela tivesse tempo de protestar, encaminhou-se para a porta. Andréa fitou-o estarrecido, incapaz de acreditar que ele estava indo embora.



  

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