Хелпикс

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  CAPÍTULO VIII 4 страница



— Dê você a resposta.

— Mas o que você quer saber?

— Suponhamos que tivéssemos nos encontrado em Grossfeld. Como é que você me explicaria seu envolvimento com von Mahlstrom?

— Eu... Nós. . . Ele me pediu em casamento.

— Por quê?

— Ora, por que pergunta? Por que razão as pessoas costumam se casar?

Seu pai sacudiu a cabeça e vasculhando o bolso dele retirou um pequeno gravador. Ao colocá-lo sobre a mesa diante deles Andréa ficou horrorizada. Que tipo de jogo Axel estaria fazendo? Por que dera a gravação a seu pai?

— Sabe o que está nesta fita? Gostaria que você falasse a respeito.

— Aconteceu... Aconteceu durante a noite que eu passei no chalé de Axel. Ele... Ele gravou o que sucedeu.

— E o que sucedeu?

— Nada, eu já disse, nada.

— Acredito em você.

— Sim. Mas... A fita...

Ignorando as tentativas de Andréa de interrompê-lo a todo o momento Patrick apertou o botão e a fita começou a rodar. A voz de Axel era ouvida com nitidez, mas o que ele dizia deixou Andréa gelada:

— Andréa, eu lhe declarei uma vez que não me importava em ser tomado por um caça-dotes. Assim, com a permissão de seu pai, decidi fazer um jogo com você. Conheço seu pai há muitos anos e quando ele a enviou a Grossfeld pediu-me que a observasse de perto, de um jeito bem paternal. Infelizmente você interpretou muito mal o fato de eu ter me| apresentado e então decidi recorrer a subterfúgios. Minha única intenção era assustá-la. Não havia gravação alguma, nem anúncios nos jornais austríacos ou ingleses, como você, aliás, logo descobriu. Mantive seu pai a par do que estava acontecendo, mas tive de continuar o jogo seguindo todas as regras previamente estabelecidas. Não foi muito difícil, você é muito bonita. Ah, seu pai vai gastar dinheiro na restauração do castelo. Ele planeja convertê-lo em um hotel. Mais uma coisa: minha prima, com quem você me viu no dia em que chegou a Grossfeld, sentiu-se muito lisonjeada quando eu lhe disse que você tinha-se enganado a respeito de sua identidade.

Patrick desligou o gravador e só então Andréa percebeu que estava tremendo da cabeça aos pés. Com que então tudo aquilo fora planejado! Tratava-se de dar-lhe uma lição pelo modo como ela o havia tratado! Achava que ele tinha sido cruel para com ela no passado, mas aquilo superava tudo. Agora ela estava liberta de todas as angústias por que passara, com liberdade de ir para onde bem entendesse. Só que ela não queria mais gozar de todos aqueles direitos. . . Seu pai, preocupado, notou seu ar abatido. — Mas o que há? — perguntou. — Está tudo acabado! E muito mais cedo do que eu esperava!

— O que quer dizer com isto?

— Eu não deixaria tudo isto passar em brancas nuvens. Você se comportou de modo abominável para com um homem a quem estimo e respeito. Você tentou colocá-lo em uma posição ridícula, mas ele deu uma resposta à altura! Não acha que já era tempo de receber uma lição?

— Talvez. Janete contou o que eslava acontecendo?

— Não. Mandei vocês duas de férias para que se divertissem e conhe­cessem gente decente. Mas o que aconteceu? Você, no momento em que embarcava no aeroporto em Londres, já estava aborrecida e achou que poderia aliviar o tédio zombando de alguém. Pois bem, Axel fez o feitiço virar contra a feiticeira!

— Mas ele não passa de um instrutor de esqui! Não lhe ocorreu que ele poderia envolvê-lo em seu próprio jogo?

— O que você quer dizer com isso?

— Ele poderia ter feito de verdade tudo aquilo que disse que iria fazer. Aliás, não lhe faltaram oportunidade, não é mesmo?

— Oh, Andréa, como você é cínica! Você não sabe que um homem como Axel von Mahlstrom jamais se rebaixaria a viver dos favores da família de sua mulher? Concordo em que ele não é um homem rico, isto é, materialmente rico. Mas ele tem muito orgulho e se para sobreviver precisa dar aulas de esqui para filhos de nouveaux riches: não se furta a isto. Esperei que minha filha tivesse a inteligência suficiente de perceber este fato por si mesma!

— Eu... Nunca conheci alguém como ele antes — protestou Andréa.

— Acredito.

— Senti-me confusa, principalmente com tudo o que a baronesa disse.

— Sophie von Mahlstrom? Você conheceu a tia de Axel?

— Sim. Ela estava aqui quando chegamos ontem.

— E mesmo? Estava hospedada no castelo?

— Por que não? Axel trouxe-me até aqui para conhecê-la.

— Eu sei. Mas me surpreende muito que ele tenha achado necessário incomodar a tia. Eu não teria dado a você tamanha satisfação.

Andréa sabia o que ele queria dizer. Ela não tinha como verificar se Axel lhe dissera a verdade. E na realidade ele lhe mentira o tempo todo. Era uma humilhação. Meu Deus — pensou desorientada — o que ele fez comigo? Por que não consigo parar de pensar nele?

— Muito bem — prosseguiu Patrick. — Você já decidiu o que vai fazer? Tim e eu vamos voltar para Salzburg. Temos de nos encontrar com os advogados da família Mahlstrom e há outros negócios para resol­ver. Quer vir conosco ou prefere regressar a Grossfeld e ficar lá até o fim das férias? O hotel está reservado por mais uma semana.

Andréa mal conseguia pensar. — Eu... E Janete?

— Ela pode ir nos encontrar em Salzburg, se você quiser vir conosco, Ah, Axel mandou dizer que não mais se aproximará de você, se você decidir regressar a Grossfeld.

Andréa engoliu em seco. Sua garganta cerrou-se e ela sentia uma vontade desesperada de chorar.

— Muito bem, quando Tim voltar de sua inspeção partiremos — disse ela.

— Sim, partiremos. Você não espera que eu passe a noite aqui, não? -— Mas é tarde demais para ir para Grossfeld.

— Não pretendo ir a lugar algum que não seja a estação. Há um trem às quatro horas, que nos levará até Kufstein. Um amigo meu que talvez você não conheça, Klaus Ziller, é dono de um pequeno aeroporto lá. Ele permite que eu o use sempre que é preciso. Tim e eu tomaremos o avião amanhã, com ou sem você. Você pode telefonar para Janete e combinar o que convenha melhor a ambas.

 

                        CAPITULO XIII

 

Os escritórios da Companhia de Construção Connolly ocupavam os três últimos andares de um edifício no centro de Londres. Havia um espe­lho no elevador e, ao entrar, Andréa mirou-se, sem sentir o menor prazer no que via. Desde que voltara da Áustria, não se importava muito com o que fazia, aonde ia ou o que usava. Lenta, mas obstinadamente, seu pai exercera sua autoridade, transformando-a gradualmente, pelo menos no plano físico, no tipo de filha que ele sempre desejara. Nesse dia, por exemplo, ela ia almoçar com Patrick e um colega seu, aliás, um fato comum durante as últimas semanas. Entretanto, no fundo de si mesma, Andréa sentia o impulso de rebelar-se contra tamanho sujeição. Dominou seus ímpetos de revolta, pois sabia que, se voltasse a pensar, e de verdade, a antiga angústia se apoderaria dela novamente.

Após a espantosa revelação da duplicidade de Axel, sentira-se totalmente desolada, e fora quase impossível esconder sua mágoa de seu pai e de Tim Brady. Não lhe fora nada fácil voltar a Grossfeld, pois Janete protestara por ter de interromper as férias e não era nada simples com­portar-se como se as coisas continuassem na mais perfeita normalidade.

Não voltara a ver Axel. Ele mantivera a promessa de afastar-se dela e Janete ficou intrigada, sem saber por que ele não vinha mais ao hotel. Talvez suas suspeitas aumentassem, se não fosse a chegada providencial de Heinrich Reiter, que passou a ocupar inteiramente seus pensamentos.

Entretanto, o trauma emocional que se abatera sobre Andréa trouxe eventualmente determinados benefícios. Decorrido algum tempo, uma espé­cie, de torpor apoderara-se dela, atenuando a dor incomensurável que sen­tia, de tal modo que peio menos durante o dia conseguia comportar-se racionalmente. Á noite, entretanto, a situação apresentava-se dramática.

Sabia que o amor que Axel despertara tão descuidadamente transformara-se em ódio e amargura. Mas tudo isso acabaria passando. Era apenas uma questão de tempo, e de tudo restaria apenas uma lembrança por demais penosa para ser sequer evocada.

Saiu do elevador e encaminhou-se para a sala de seu pai no fundo do corredor. Ao entrar, a secretária sorriu acolhedoramente.

— Meu pai está me esperando, Sarah — disse Andréa, fechando a porta. — Ele está sozinho?

— Não. Aquele colega a quem ele convidou para almoçar está lá dentro.

— Quem é ele? Você o conhece? — Andréa estava curiosa, pois sentira uma certa hesitação na voz de Sarah.

— Eu... Bem... Por favor, entre, srta. Connolly. Seu pai está a sua espera.

Foi com certa ansiedade que Andréa atravessou a sala de espera. Um instinto obscuro dizia-lhe que o constrangimento de Sarah tinha algo a ver com ela, e teve de se dominar, antes de entrar no escritório de seu pai.

Seus olhos imediatamente pousaram-se sobre o homem alto e louro que se levantara polidamente assim que ela entrara. Axel! Sentiu-se profundamente perturbada e leve de se dominar para não sair correndo do escritório. O que ele estava fazendo lá? Por que seu pai o convidara para ir a seu encontro? Certamente deveria saber que Axel era a última pessoa neste mundo a quem ela haveria de querer ver.

Mas seria rigorosamente verdade? Não sentia ainda o impulso de aproximar-se dele, convidá-lo a enlaçar seus braços em torno dela e colar sua boca irônica à dela? Isso tudo não passava de uma loucura. Aquele era o homem que a enganara, que se divertira às suas custas! Como era possível pensar em lhe dar novas oportunidades? Não! Não!

Forçou um sorriso e respondeu a seu pai com uma segurança que não acreditava possuir.

— Axel, que surpresa! — respondeu, demonstrando uma satisfação aparente. — O que está fazendo aqui?

- Alô, Andréa — respondeu Axel, com aquela rápida reverência que ela conhecia tão bem. — Como tem passado?

Os dois estavam agindo como pessoas que se conheciam apenas ligeiramente e que se tratavam com muita cerimônia, após ficarem algum j tempo sem se ver, pensou Andréa com amargura.

— Vou bem, obrigada — respondeu, sentindo que sua voz estava um pouco mais tensa. — E você?

— Sobrevivendo. — Aqueles olhos cinza a estudaram detidamente. — Você emagreceu.

— Está na moda, você não sabia?

— Você já era suficientemente magra.

— É mesmo? Não imaginei que você notasse.

Notou com satisfação que o rosto dele ficava tenso, ao sentir a agres­sividade contida em sua resposta, porém, com voz bastante controlada, ele respondeu: — Notei, sim.

Patrick Connolly pensou que era tempo de intervir. — Axel, não quer tomar um drinque, antes de irmos para o restaurante? Reservei mesa para há uma hora, portanto, temos bastante tempo.

— Obrigado. Um pouco de uísque não viria mal.

— Eu também tomo. — O pai de Andréa suspirou aliviado, ao sentir que a tensão se atenuava. — E você, Andréa? Acho que a única alter­nativa para uma Coca-Cola é licor.

— Para mim nada, papai.

Andréa ignorou a ambos e encaminhou-se para a janela, pondo-se a contemplar o panorama da cidade. Estava lutando desesperadamente para não perder a compostura. Era terrível sentir quanto ele conseguia pertur­bá-la. Tinha de demonstrar que sabia competir com ele usando suas próprias armas, mas não sabia como fazê-lo.

Enquanto seu pai e Axel tomavam uísque e discutiam os planos de restauração do castelo de Mahlstrom, o telefone tocou. Patrick desculpou-se e foi atendê-lo. Respondia por monossílabos, demonstrando a impa­ciência que sentia, e ao desligar demonstrava profunda contrariedade.

— Sinto muito, mas tenho más notícias. Houve um deslizamento de terra em uma empreitada nossa nos arredores da cidade. Morreu um homem e vários outros estão soterrados. Tenho de ir para lá imediata­mente. É impossível almoçar com vocês.

— Oh, papai, que coisa terrível! Quer que eu vá com você?

— Não, não há nada que você possa fazer, meu bem. Aliás, eu tam­bém posso fazer muito pouca coisa, porém preciso ir até lá e verificar o que está acontecendo. Você compreende, não é mesmo, Axel? Minha presença lá é imprescindível.

— Claro. E se houver algo que dependa de mim. . .

— Não, não. Sinto muito modificar nossos planos.

Axel fitou Andréa e mais uma vez ela tomou consciência de sua pre­sença perturbadora. — Se sua filha permitir, eu a levarei para almoçar, conforme havíamos planejado.

— Oh. Não!

A exclamação de protesto de Andréa foi imediatamente superada pela aceitação de seu pai. — É muita gentileza de sua parte, Axel — ele disse, com evidente alívio. — Especialmente nestas circunstâncias... — Olhou para Andréa com ar de reprovação. Claro que você almoçará com Axel, Andréa. Que razão teria para recusar?

Patrick Connolly desceu com eles pelo elevador e, assim que chegaram ao térreo, encaminhou-se para o carro. Andréa e Axel foram andando para o restaurante, que era ali perto.

Enquanto ela demorava propositadamente em examinar o cardápio, Axel I ordenou dois coquetéis. De repente tirou o cardápio das mãos de Andréa, colocou-o de lado e a fitou com olhos que expediam chispas.

— Pode deixar que escolho os pratos. Beba logo seu coquetel. Andréa engoliu em seco, diante de tamanha insolência, mas decidiu não lhe dar a menor satisfação, Axel acendeu um charuto: — Está bem, peço-lhe desculpas.

Aquelas palavras tão inesperadas fizeram com que ela o encarasse, admirado. — O que foi que você disse?

— Acho que você ouviu. Apesar de você talvez merecer, não tive a intenção de magoá-la.

— Magoar-me? Sempre achei que você era o homem mais presun­çoso que já conheci.

—- Com que então, não a magoei?

— Não,

— Nosso relacionamento não significa nada para você?

— E como poderia significar? Além do mais, você se esquece de  que sou muito mais jovem do que você. Você me machucou fisicamente. As marcas que você deixou em meu pulso custaram a desaparecer.

— Sinto muito.

— É mesmo? Você não sentiu uma certa satisfação sádica?

Não! —- Havia tensão no tom com que se exprimia. — Não pre­tendia que as coisas chegassem a ponto a que chegaram. Não pude mais exercer controle sobre elas. Mas você... — Ele se interrompeu abrupta­mente e ela sentiu que a velha emoção voltava, ao contemplar o brilho intenso de seu olhar. Tudo, entretanto, foi muito rápido, e ele chamou o, garçom. — Queremos fazer o pedido.

Andréa mal conseguiu lembrar-se do almoço. O encontro fora um desastre, para ambos, e ela sentiu-se aliviada quando o almoço acabou e ele sugeriu que deveriam partir. Ao chegarem à rua, ele chamou um táxi. — Vou levá-la para casa — ele disse, porém ela fez que não.

— Eu posso ir sozinha.

— Como quiser. Então.. . Não é auf wíedersehen, mas adeus?

— Sim. — Um táxi parou ao lado deles e Andréa deu um passo em sua direção.

O modo como ele pronunciava seu nome deixou-os de joelhos bambos, e ele a olhou surpreendido. De repente puxou-a para si, colando sua boca aos lábios trêmulos de Andréa. Ela sentiu que o beijo tornava-se mais ousado e subitamente Axel afastou-se, misturando-se à multidão que passava, até que ela o perdeu de vista.

Ao chegar ao apartamento onde morava com seu pai a ânsia de vomito atingiu um ponto insuportável. E ela a muito custo, conseguiu aliviar-se. Ignorando a sugestão da governanta de que deveria chamar um médico, despiu-se e foi direto para a cama, abrigando-se sob ás cobertas.

No dia seguinte a maquilagem conseguiu disfarçar a palidez e oabati­mento provocados pela mágoa que se apoderara dela. Quando seu pai chegou ao apartamento, por volta do meio-dia, ela estava calma e recomposta.

Ele narrou rapidamente o que tinha acontecido e quais as providencias tomadas, e serviu-se de um uísque, perguntando-lhe: — E então? Como foi o almoço com Axel?

— Como você acha que foi? A comida, lá no Bohemien, é sempre excelente.

— Não me referia à comida. Você e Axel se entenderam bem? Colo­caram tudo em pratos limbos?

-—- Achei que você havia se encarregado disso, papai.

— Não seja irônica comigo, Andréa. Toda essa história com Axel foi iniciativa sua. Fico surpreendido por ver que ele ainda tem paciência com você.

— Não pedi a ele que me levasse para almoçar!

- O que mais lhe restava fazer, nas presentes circunstâncias? Além do que, sei que ele queria conversar com você. Ele esperava que você tivesse superado seus impulsos infantis,

— Não foram impulsos infantis!

— Muito bem dê a eles o nome que quiser. Penso que Axel achava que vocês pudessem se relacionar como dois adultos.

— Mas ele se mostrou arrogante como sempre.

— É um homem orgulhoso, quanto a isto não há a menor dúvida. São gerações e gerações de orgulho feudal. . . Mesmo assim é um homem admirável.

— Não acho — disse Andréa, dando-lhe as costas. — Com licença. Tenho muito que fazer.

Durante os dias que se seguiram Andréa fez um esforço consciente para esquecer-se do passado. Ajudou a governanta a pôr ordem no aparta­mento, comprou roupas novas e encontrou algumas pessoas de sua antiga turma. Entretanto não conseguia entregar-se verdadeiramente a tudo aquilo.

Uma tarde, quando passava diante da agência de viagens onde sua prima trabalhava, Janete fez-lhe gestos frenéticos para ela entrar.

— Olá, Janete — disse, com um sorriso polido. — O que há de novo? Janete debruçou-se confidencialmente sobre o balcão.

— Andréa, você jamais poderá imaginar! Heinrich está em Londres. Andréa agarrou a bolsa com força. — É mesmo?

— Veio me ver ontem. Vou sair com ele hoje à noite. —- Mas que sorte!

— Não É mesmo? — Janete suspirou, estática. — Oh, Andréa, foram as melhores férias que já tive até hoje! Mas você... Está tão magra! O que há? Ouvi tio Pat dizer a papai que está preocupado com você. Axel esteve em Londres, não é?

Andréa sentiu que ficava rubra. — Esteve, sim.

— Vocês almoçaram juntos, não é?

— Eu... Sim.

— Eu sei. Tio Pai estava falando a respeito com papai. Foi uma pena a história do castelo, não é?

Andréa já se encaminhava para a porta, porém parou no ato. — O que foi que você disse?

— Disse que foi uma pena a história do castelo.                  

— O que você quis dizer com isso?

— Você não sabe?

— Se soubesse, não estaria perguntando, não?

— Penso que não. Bem, acho que não se trata de um segredo. Axel decidiu não vender o castelo à companhia.

— O quê?

— E verdade. Ouvi papai e tio Pat conversarem a respeito. Ele decidiu deixar o castelo arruinar-se de vez.

— Oh, meu Deus! — Andréa mal podia acreditar no que estava ouvin­do. — Por que papai não me falou nada?

— Não sei. Talvez achasse que você não se interessaria. Mas você interessa, não é mesmo? Que vai fazer?

— Eu... Eu sei lá. . . O que posso fazer?

— Talvez você pudesse conversar com seu pai. Ele sabe mais a respeito do assunto do que eu.

— Sim, acho que é isso mesmo o que eu vou fazer. Obrigada Janete. Andréa encaminhou-se imediatamente para um telefone público, ligo para o escritório de seu pai e perguntou-lhe, de chofre, por que ele não lhe dissera nada a respeito da mudança de seus planos.

— Andréa! — Patrick ficara obviamente preocupado. — Andréa! Onde é que você está?

— Perto do escritório, em Oxford Circus.

— Bem, fique aí que vou buscá-la. Pelo telefone não dá para conver­sar. Chego aí em dez minutos.

Ela sentiu-se aliviada por ter com quem conversar sobre aquele aconte­cimento insólito. Assim que seu pai chegou, ela entrou rapidamente no carro, sentindo-se melhor por finalmente poder relaxar. — Você devia ter-me contado, papai! — exclamou Andréa, quase aos prantos. — O que está acontecendo?

— Você é quem deve me dizer. — Tudo o que sei é que Axel decidiu não levar o negócio adiante.

— Mas por que você não me contou?

—- Se você bem se lembra, não estava disposta a discutir o que quer que fosse que dissesse respeito a von Mahlstrom.

Andréa sentiu o gosto das lágrimas que lhe desciam pelo rosto. — Eu... Eu o amo — ela murmurou, com voz tremula.

Fez-se um silêncio profundo e então seu pai suspirou. — Sei. — Fez uma pausa. — Tem certeza?

— Nunca tive tanta certeza de uma coisa, na vida.

— E von Mahlstrom?

— Oh, não, não! Ele pensa em mim como se eu não passasse de uma criança!

— Não acho. Quando ele veio a Londres, há dez dias, insistiu em vê-la.

— Insistiu... Em ver-me?

— Sim. — Seu pai parecia estar pouco à vontade. — Olhe, acho melhor lhe contar tudo de uma vez. Conversamos a respeito do castelo. Perguntei se ele não gostaria de associar-se a nós. Compraríamos a propriedade, restauraríamos e ele tomaria conta de tudo, talvez como... Gerente.

— O que foi que ele disse?

— Ele ficou um bocado zangado. Disse que tinha capacidade de ganhar sua vida por seus próprios meios. Não queria nem um favor meu. Eu res­pondi que estava bem, mas não entendi por que ele ficara tão zangado. Agora tudo parece mais claro.

— Como assim?

— Bem, se eu estivesse na posição dele, acharia que alguém estava tentando se aproveitar de mim.

— Você está insinuando que ele achava que você estava protegendo meus interesses?

— Bem, é possível.

Não! — Andréa sacudiu a cabeça. — Você se engana. Ah, se pelo menos você me dissesse que Axel queria me ver... Em vez de ficar me censurando.

— Olhe. Andréa, essa é uma decisão que cabe a ele tomar. Se quiser saber minha opinião, acho que ele gosta de você, talvez até demais, a ponto de não poder tomar nenhuma atitude a respeito.

— O que quer dizer com isso?

— Como já disse, ele é um homem orgulhoso. Não quer receber nada de mim. Assim sendo, o que ele tem a oferecer a uma jovem como você?

— Ele mesmo — respondeu Andréa com toda a simplicidade, cerrando os olhos por um momento. — Papai, vou para Grossfeld. Quero ver Axel eperguntar-lhe por que ele mudou de opinião a respeito do castelo.

— Você faria uma coisa dessas?

— De um modo ou de outro, tenho que saber. Você compreende, não é mesmo?

— Acho que sim, mas, não espere demasiado, Andréa, caso contrario você ficará desapontada.

A primavera fazia-se anunciar, naquela região do Tirol, e apesar de o ar ainda estar frio, o sol começava a esquentar e as flores desabrochavam! Grossfeld parecia à mesma cidadezinha tranqüila de sempre. Andréa alugou um carro e foi direto ao hotel.

Nicolas Lieber, entretanto, pouco a esclareceu.

— Um dia Axel estava aqui, no dia seguinte já não estava mais. Sei para onde foi. Quem sabe está com sua tia, em Salzburg?

A baronesa! Andréa quase se tinha esquecido dela. O que ele dizia era razoável. Talvez Axel tivesse mesmo ido para lá. Valia a pena tentar.

— E...  Baronesa tem telefone? — perguntou.

- Sim, a baronesa tem telefone, Fràulein. Quer que a gente providencie a ligação?

— Eu... Sim. Sim, por favor. Falarei do meu quarto.

— Muito bem. Não demorará muito, Fràulein.

— Oh... Obrigada.

Quando Andréa conseguiu falar com a baronesa, descobriu que ele não se encontrava lá.

— Por que quer entrar em contato cora meu sobrinho, querida? — ela perguntou, com aristocrática autoridade. — Pelo que soube, seu pai já não está mais interessado em restaurar o castelo.

— Oh, mas não é verdade! Foi Axel quem recuou. Meu pai continua tão interessado como sempre.

— É mesmo? — A baronesa parecia surpreendida. — é isso o que você tem a dizer a meu sobrinho?

— Sim. Bem, acho que sim. Mas ele já sabe. Quero dizer, foi ele quem modificou a situação, não meu pai.

A baronesa suspirou.

— Já tentou Mahlstrom? Se Axel foi para lá, está sozinho. Cari deixou Mahlstrom, há alguns dias, para passar duas semanas com sua irmã em Viena.

Assim que Andréa desligou o telefone, ficou durante alguns minutos contemplando o vazio. Finalmente tomou uma resolução e foi a procura de Nicolas Lieber, em seu escritório.

— Como posso ir até Mahlstrom? — perguntou.

Passaram-se vinte e quatro horas até Andréa chegar à pequena estação que servia a aldeia de Mahlstrom. Nervosa devido ao tempo que estava perdendo. Andréa sentiu-se tensa assim que saltou do irem. Ao descobrir que não havia táxi algum que pudesse levá-la até o castelo, ficou ainda mais preocupada. Finalmente o chefe da estação ofereceu-se para conduzi-la até lá e foi através da janela do seu velho Volkswagen que ela viu novamente as chaminés do castelo de Mahlstrom.

Dirigiu-se diretamente para a porta da cozinha, como havia feito da outra vez. e seus dedos tremiam, no momento em que ela bateu à porta: ninguém respondeu. Nervosa, girou a maçaneta da porta. A porta se abriu e ela respirou fundo. Cari jamais teria sido capaz, de viajar e deixar a porta aberta. Entrou com toda cautela. Um resto de lenha ainda crepitava na lareira e ela sentiu-se mais animada. Alguém estava lá agora tinha certeza.



  

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