Хелпикс

Главная

Контакты

Случайная статья





CAPÍTULO V 5 страница



— Absolutamente!

— Quem sabe ele resolveu adiar?

—- Sim — ela disse com desprezo. Talvez para sempre.

— Quer que eu entre em contato com o departamento de publicidade da firma de seu pai?

Não! — Andréa não ousava correr semelhante risco. Talvez dentro de alguns dias, quando estivesse mais segura. Mas agora... — Vamos, solte-me!

— Quero lhe falar — ele replicou, imperturbável. — Venha comigo. Não lhe restou outra alternativa senão segui-lo até uma pequena sala de estar, praticamente deserta àquela hora da noite.

— Tenho um convite para lhe fazer — e!e disse, assim que se aco­modaram em um divã.

— Um convite? Para mim? Que tipo de convite?

— Para dizer a verdade, o convite é de minha tia.

— Sua tia? — Andréa não esperava que ele tivesse parente vivo.

— Sim, minha tia. Sophie von Mahlstrom. Ela mora em Mahlstrom, no castelo.

— Mas. . . Você me disse que ele está em ruínas.

— E está mesmo.

— Então como é que alguém pode morar lá?

— Não está inteiramente destruído. Uma ala é habitável. É lá que minha tia vive. E assim você terá a oportunidade de ver o que o dinheiro pode fazer por nosso castelo. Isto é, o seu dinheiro.

— Não vou!

— Não mesmo? Quer então correr o risco de eu entrar em contato com meus amigos de Londres?

— Oh, Axel, por favor! Pare com esta chantagem!

— Que chantagem? A idéia de ver minha família a deixa tão desgos­tosa assim? Nós estaremos praticamente a sós durante dois ou três dias. Esta perspectiva não a deixa animada?

Não!

Mas não era verdade. Pouco a pouco, insinuantemente, vinha-lhe o pensamento de que ela poderia superar toda a angústia que sentia, acei­tando o fato de que Axel pretendia casar-se com ela. Pela primeira vez levava a idéia em consideração e descobriu que aquilo já não lhe cau­sava mais horror. A despeito do comportamento de Axel, aqueles dias tinham sido vazios sem ele e afinal de contas, como ele mesmo dissera, ela não podia tomar nenhuma atitude — pelo menos no momento.

Tentou dar alguma coerência a seus pensamentos. — Mas por que sua tia quer ver-me?

— Você sabe muito bem. Quer conhecer a mulher que se apoderou do afeto de seu sobrinho.

— Eu não... Apoderei-me de seu afeto.

— Não. Mas o seu dinheiro, sim. E é tudo a mesma coisa. Além do mais, eu a acho encantadora. . .

— Você precisa se comportar sempre como um porco?

— Mas o que você queria que eu dissesse? Que estou perdidamente apaixonado por você? Que não posso viver sem você? É impossível! Mas não pelas razões que as pessoas imaginam.

— As pessoas o conhecerão através de seus atos. Você naturalmente não espera que alguém acredite que eu o amo!

— Oh, mas você ama, sim! E garanto que sou um amante muito satisfatório. Posso lhe fornecer os nomes e endereços de várias mulheres quepoderiam fazer confidências a respeito de minhas credencias.

Andréa afastou-se e ele riu. — Está pronta para viajar depois de amanha? Infelizmente Heinrich parte amanhã e preciso estar aqui para despedir-me dele!

— E o que fará Janete em minha ausência?

— Já lhe disse. Deixe Janete comigo.

 Andréa sentiu-se tomada de pânico, — Axel. Não posso ir com você!

— Mas você precisa. Já está tudo combinado. Tia Sophie nos espera depois de amanhã e não podemos decepcioná-la.

Andréa levantou-se e caminhou até a janela. Axel aproximou-se dela e foi quase com gentileza que disse: — Você gostará de minha tia. É uma pessoa encantadora. E não tenho a menor dúvida de que ela a aprovará.

— Você não diz que ela gostará de mim — murmurou Andréa com amargura. — Mas é claro queela não precisa gostar de mim, não é?

— Não gosto deste jogo, Andréa. Por que você não aceita o que tem que ser? As coisas podiam ser piores.

— É mesmo? — Ela o encarou e ele inclinou a cabeça e roçou seus lábios nos dela. Até mesmo aquela caricia ligeira a perturbou. — Sim. É claro — ele murmurou, com voz rouca. — Muito pior. — Então. . . Depois de amanhã, certo? Às... Vejamos... Às nove? Virei buscá-la aqui no hotel.

Roy estava parado na entrada da sala.

— Alô, Roy. Você estava esperando por mim?

— Estava à sua procura. Eu... Janete disse-me que você saiu com...Com...

— Com Axel? Saí, sim. Mas agora estou livre. Axel veio na direção deles. — Onde é que vão?

— A uma taverna ouvir música cigana — replicou Roy, antes que Andréa pudesse responder. — Acho que isto para você não tem a menor novidade.

— E Andréa vai também?

— Vou, sim. — Andréa não gostava que falassem dela como se não estivesse presente. — Agora, dê-nos licença...

— Como não? — respondeu Axel com toda polidez. — Ah, aí vem sua prima. Preciso dizer-lhe umas palavrinhas.

Um sentimento de ciúme apoderou-se de Andréa ao ouvir essa pala­vras. O que ele ia dizer a Janete? Roy, entretanto, não lhe deu tempo para especular.

— Pegue seu casaco, Andréa. Os outros estão esperando... — Mas Janete. . .

— Eu tomarei conta de Janete — assegurou Axel, Divirtam-se.

Claro que Andréa não se divertiu. Estava louca para voltar ao hotel e conversar com Janete. Aquele ambiente barulhento e enfumaçado só agravou a dor de cabeça que a atormentava. Pretextando cansaço, partiu antes dos demais, chegando ao hotel antes de meia-noite. Constatou, para sua grande decepção, que Janete já estava na cama e aparentemente dormindo.

Na manhã seguinte levantou-se as sete, após passar uma noite difícil, e invadiu o quarto de sua prima antes mesmo de se vestir. Janete ainda estava meio adormecida e sua expressão não era lá muito encorajadora.

— Oh, Andréa. Por favor, — resmungou no momento em que sua, prima descerrou a cortina. — Que você quer? Não vou nadar, não, e nem tente me convencer.

— O que. . . O que Axel von Mahlstrom lhe disse ontem à noite? — Não tinha mais como disfarçar e fitou sua prima ansiosa, à espera de uma resposta.

Janete só ergueu-se, apoiando-se nos cotovelos. — O que Axel me disse? O que você acha que ele me disse?

— Se soubesse não perguntaria. Oh, Jan, desculpe-me!

— Não tem jeito, não. Isto acabaria acontecendo mais cedo ou mais tarde. O fato de que Axel sabia de toda a história e ainda continua se encontrando comigo prova que ele não é um caça-dotes, como você insinuou, não é mesmo?

Andréa engoliu esta observação em silêncio. — Eu... Mas o que você está querendo dizer, Jan?

— Mas o que há? Você ainda não acordou? — Ele me disse que sabia o tempo todo que você era filha de Patrick Connolly...

— Oh, percebo.

— Bem, de qualquer forma não tem importância. Se ele sabe, Heinrich também tem que saber e isto resolvem o meu problema de ter que contar. Vou estar com Heinrich agora de manhã, antes de ele viajar. Ele disse que vai tentar voltar antes de nossas férias terminarem. Você acha que ele volta, mesmo?

Andréa estava atônita. O que Axel dissera? Certamente nada que se referisse ao seu relacionamento forçado. Janete não deixaria passar um fato daqueles sem comentários. Mas então como ele teria explicado a próxima viagem a Mahlstrom? Ou simplesmente não dissera nada? Percebeu que Janete esperava uma resposta e deu de ombros, confusos. — Eu... Eu não sei. Se ele gosta de você. . .

— Oh, gosta sim, tenho certeza. Não esqueci seus comentários a res­peito de ele ser conde, etc, mas ele não me parece ingênuo. E muito menos sofisticado, mundano ou qualquer coisa no gênero. Ele viveu com sua mãe a vida inteira, pois seu pai morreu cedo. Talvez por isso ele seja tão... Gentil.

— Sei, Jan, quanto a amanhã...

— Oh, sim, amanhã. Axel me contou. Vocês vão até Salzburg, não é mesmo, para visitar seu pai? Mas o que tio Pat está fazendo em Salz­burg? E por que não vem a Grossfeld, já que quer vê-la?

Andréa ficou em silêncio durante alguns minutos. — Axel lhe contou que papai estava em Salzburg?

— Claro. Por que não deveria ter contato? Francamente, Andréa, o que há com você? Acho que você levantou cedo demais. Está agindo como se ainda estivesse dormindo.

— É mesmo? Acho que é verdade. Desculpe. Quer dizer que você não se importa que eu vá a Salzburg?

Andréa tentava pôr seus pensamentos em ordem. Ou Axel estivera mentindo o tempo todo e Salzburg era a meta final da viagem, ou então tudo não passava de uma história que ele inventara para acalmar Janete. Gostaria de saber qual versão era verdadeira. Seria possível que ele esti­vesse zombando dela e que seu pai estivesse realmente em Salzburg? Sen­tiu-se um pouco mais animada, mas não o suficiente.

Janete finalmente respondeu. — Faria alguma diferença se eu me impor­tasse? Não, não me importo. Não vou ficar sozinha, pois fiz amizade com Susie e o resto do pessoal. Não fique tão ansiosa, Andréa. Tio Pat não vai devorá-la.

Andréa andava de um lado para outro do quarto, inquieta, e Janete aninhou-se debaixo das cobertas.

— Bem, se era só isso que você queria de mim, vou voltar a dormir.

Andréa não viu Axel durante todo o dia. Janete saiu para almoçar com Heinrich no Berghotel. Era uma espécie de almoço de despedida e ao voltar disse que Axel também estivera lá. No mesmo momento o ressenti­mento apoderou-se de Andréa. Por que não a convidaram para almoçar com eles, independente do fato de saber se Axel compareceria ou não? E se ela realmente ia tornar-se sua noiva, por que ele não a tratava como tal, em vez de ignorá-la quase o tempo iodo?

Na manhã seguinte Andréa estava pronta às oito horas. Janete estava se vestindo quando bateram a porta da suíte. Andréa foi atender e deparou coro um dos porteiros do hotel.

— O senhor barão está à sua espera na recepção. A senhorita está pronta, ja!

— Mas ainda não tomei café!

O porteiro olhou-a muito sem jeito e Andréa foi até o quarto de sua prima. — Janete!

Já vou indo.

— Já? E o café da manhã?

— Acho que não vou ter tempo de tomar. Tudo bem, Jan. Durante a viagem tomarei alguma coisa. Até logo!

— Está certo. Boa sorte!

— Talvez precise mesmo — murmurou Andréa, fechando a porta. Axel estava à sua espera na recepção e Andréa não conseguiu dominar na excitação que se apoderou dela ao pensar que aquele homem queria desposá-la, qualquer que fosse o motivo.

— Está pronta? — indagou Axel.                                        -

— Ainda não tomei café, mas acho que é um detalhe secundário. Com uma leve inclinação de cabeça, Axel indicou o restaurante.

— Vamos, vá se alimentar. Tomarei um cafezinho.

— Não tem importância. Não estou com tanta fome assim. Talvez a gente encontre um lugar para comer durante a viagem. Vai levar muito tempo? É muito longe daqui?

— Como assim? Você sabe muito bem para onde vamos, Andréa.

— Sei mesmo? Você disse a Janete que vai me levar para Salzburg.

— Você teria preferido que eu lhe contasse que vamos para Mahlstrom?

— Teria sido mais honesto de sua parte. Você disse que detesta men­tiras.

— Desde quando a honestidade a deixa preocupada?

A manhã estava radiosa. O sol incidia sobre as montanhas cobertas de neve e seu brilho era fantástico. Andréa apressou-se em colocar óculos escuros. As ruas estreitas de Grossfeld já estavam movimentadas àquela hora da manhã. Dos cafés saía um cheiro delicioso, que invadiu as narinas de Andréa e fez o seu estômago protestar. Axel não fez comentário algum, mas assim que deixaram a cidade para trás abriu o porta-luvas e tirou uma garrafa plástica contendo leite. — Sirva-se.

— Obrigada.

Andréa ficou surpreendido e um tanto tocado com sua consideração, especialmente quando ela lhe ofereceu o leite e ele recusou, dizendo que já tinha tomado café. Ele obviamente tinha adivinhado que ela não teria tempo para alimentar-se, mas como sempre não deu a menor ex­plicação.

— Aí dentro tem um sanduíche e o pão está fresquinho.

— Vamos levar muito tempo para chegar a Mahlstrom?

— Quatro, talvez cinco horas.

— Tanto tempo assim! — Andréa ficou chocada. — Qual é a dis­tância?

— Uns duzentos quilômetros, mais ou menos. É um lugar afastado e muito pouco freqüentado por turistas.

Sentiu uma contração na boca do estômago. Na realidade, o que ela sabia a respeito daquele homem para dispor-se a fazer uma viagem tão longa em sua companhia? No entanto algo a impulsionava para diante, e não era apenas a existência daquela gravação.

A viagem era um encanto e até mesmo Andréa não pôde negar o fato. Nunca atravessara as montanhas durante o inverno. As espirais cinzas de igrejas escondidas falavam de aldeias ocultas e de vez em quando, nos bosques que bordejavam a estrada, viam-se de relance cervos e esquilos em fuga através da vegetação esparsa. O sol brilhava em um céu, absoluta­mente sem nuvens. Andréa pensou que ninguém poderia permanecer imune á beleza de tudo aquilo e sorriu.

— Então você está mais feliz — comentou Axel, e ela concordou, com alguma relutância.

— Ainda estamos muito longe'.'

— Acho que faltam umas duas horas. Devemos chegar por volta de uma hora.

— Duas horas? Tanto tempo assim?

Axel olhou por cima dos ombros, verificou se não vinha nenhum carro atrás e estacionou em um acostamento. Tirou um charuto do bolso.

— Se você quiser sair por alguns minutos e...  Esticar as pernas fique á vontade.

Andréa hesitou c vendo que ele não se dispunha a acompanhá-la, abriu a porta e fez o que ele sugerira. Sentia-se entorpecida e a espinha lhe doía, O ar frio penetrou-lhe no pulmão e quando expirava pequenas nuvens se formavam a seu redor. Mas era bom andar um pouco, sentir a circulação ativar-se novamente. Começou a procurar algum lugar escon­dido, pois outras necessidades se apresentavam naquele momento. Axel baixou o vidro e ficou a contemplá-la. — Olhe, lá atrás há algumas árvores. Você vai primeiro ou vou eu?

Andréa ficou rubra e sem responder encaminhou-se para o lugar que ele indicara. Suas botas enterravam-se na neve e teve de enrolar a barra da calça, mas estava decidido a não pedir nenhuma ajuda a Axel. Nesse momento ouviu um barulho por entre as árvores e voltou-se, alarmada. Pensou que era Axel que vinha incomodá-la, porém a forma cinza, meio escondida nas sombras, era a encarnação de todos os pesadelos que ela pudesse ter tido um dia. Um grito involuntário escapou-lhe dos lábios e ela saiu correndo em direção à estrada. Agarrou-se desesperada mente a Axel, mergulhando o rosto em seu peito.

— Mas o que aconteceu?

— Um... Um lobo! — ela exclamou, descontrolada.

— Um lobo! Impossível! — Ele sacudiu a cabeça, afastando-a de si e preparando-se para caminhar em direção às árvores. Ela, porém, tomou-o pelo braço.

— Era um lobo sim, era um lobo! — disse, tomada de desespero. — Onde... Onde é que você vai?

— Vou ver a fera...

— Oh, não, não faça isto!

— Você está preocupada com minha segurança? — Ela fez um sinal afirmativo com a cabeça. — Suba no jipe — ordenou Axel com certa aspereza. — Não demorarei muito.

Seu tom não admitia réplicas e um tanto relutantemente Andréa entrou no jipe, La ficou, tensa, esperando sua volta e quando ele apareceu, andando do jeito displicente de sempre, Andréa sentiu uma onda de alivie apoderar-se dela. Ele entrou na perua, bateu a porta e deu um sorriso ligeiramente irônico.

— Não há nenhum lobo. Tratava-se provavelmente de uma lebre procurando comida. É muito difícil aproximar-se delas, pois são muito assus­tadiças. — Ele parecia estar se divertindo muito. — Espero que você tenha cumprido sua missão até o fim...

Andréa apertou os lábios, —- Não seja tão irônico. Qualquer um pode se enganar.

— Incluindo as lebres — concluiu Axel secamente.

 

                              CAPITULO XI

 

Já era quase uma e meia da tarde quando Axel indicou uma edificação em meio a um vale estreito, por entre o qual serpenteava um rio que corria através de rochas e penedos.

— O castelo de Mahlstrom! Já estamos quase chegando, menina. Logo você comerá e não sentirá mais frio. Espero que não fique muito desa­pontada, Liebchen. Em Mahlstrom não existe aquecimento central, luz elétrica ou televisão.

Andréa não permitiu que ele a desencorajasse. Estava ansiosa para conhecer o lugar onde ele nascera, e ser apresentada à sua tia. Notou o teto do castelo, encimado por uma pequena torre. Muitas janelas estavam quebradas, parte do telhado arreara, porém saía fumaça de duas chaminés, o que provava que o lugar não estava abandonado.

Assim que Axel desligou o motor, Andréa desceu. Ficou parada, contem­plando os muros fortificados do castelo, as janelas que ainda existiam e a pesada porta de madeira da entrada.

— Desapontada? — perguntou Axel e ela estremeceu.

— Você me preveniu. Como é que se entra?

— Por aqui,

Ele abriu uma pequena porta que dava para a cozinha. Sentiu-se envolvida por uma deliciosa onda de calor no momento em que entrou, resul­tante de uma enorme acha de madeira que queimava na lareira. Um velho colocava mais lenha para aumentar o fogo e seus olhos cansados brilharam assim que ele viu Axel,

—- Ach, Herr Barão! — exclamou, vindo em sua direção. — Seja bem vindo, seja bem vindo! Mas que bela surpresa!

— Alô, Cari, Como vai?                

— Muito bem, obrigado.

O velho criado inclinava a cabeça repetidas vezes e, ajudando-os a tirar o casaco, levou-os para peno da lareira. Andréa conseguia entender a maior parte do que diziam — as perguntas habituais a respeito da saúde do velho, comentários relativos ao mau tempo e, finalmente, Axel indagou de sua tia.

Ao que parecia, a velha senhora no momento repousava e sem dúvida viria ter com eles mais tarde. Axel sugeriu que primeiro deveriam comer e mais tarde ir ao encontro de sua tia.

Andréa não deseja outra coisa, O ensopado de carne que Cari serviu em pratos de cerâmica rústica tinha um cheiro delicioso e a fome era tanta que ela esqueceu seu nervosismo.

Enquanto comiam, Andréa contemplava a cozinha enorme. Seria ne­cessária uma pequena fortuna para tornar aquele lugar um pouco mais habitável. Axel interrompeu sua contemplação: — Em que está pensando? Que será preciso muito dinheiro para pôr este lugar em ordem?

— Para falar a verdade, sim.

— Eu já discuti o assunto com seu pai.

— Com. . . Meu pai? Mas. . . Como?

— Pelo telefone.

— Mas você disse que ele ia para os Estados Unidos!

— É mesmo? Bem, ele deve ter alterado seus planos. Sem dúvida nosso súbito noivado o fez cancelar a viagem.

— E você voltou a falar com ele e não me disse nada!

— Claro, havia assuntos que só poderiam ser discutidos por ele e por mim.

Andréa cerrou os punhos. —- Assuntos financeiros, imagino.

— Entre outros. Acho que seu pai aprecia muito, a idéia de ver sua filha tornar-se baronesa e viver em um antigo castelo austríaco.

— Custará o olho da cara reformar este lugar. — Seu pai acha que pode encarar essa despesa.

— Você é totalmente sem escrúpulos, não?

— Acho que você me fez esta pergunta antes.

Após a refeição Cari serviu-lhes café e em seguida Axel levantou-se.Andréa ficou surpresa ao notar como ele se adaptava facilmente àquele ambiente.

— Vamos, vou lhe mostrar o castelo.

Apesar de tudo, Andréa sentia-se curiosa. Passaram por várias portas e subiram por uma escada estreita que terminava em uma porta pesada e imponente. Lá dentro estava mais claro e Andréa olhou espantada o que outrora tinha sido o hall de entrada do castelo. Estava num estado desolador. As paredes, entretanto, eram sólidas e provavelmente durariam pelo menos mais cem anos.

— Seria preciso um verdadeiro batalhão para limpar estas paredes e assoalhos — exclamou Andréa. — E é urgente instalar aquecimento cen­tral. Como faz frio aqui!

— Sim.

— Pena que você não disse que meu pai estava em Londres, teria poupado a você muitos aborrecimentos. Quando eu contar a ele o que você disse e fez. . ,

— Você terá tempo suficiente para conversar com seu pai. Ele pre­tende vir logo para a Áustria.

— O quê? —- Andréa sentiu-se confusa. Mas estava certo. Seu pai achava que ela tinha intenções de casar-se com Axel e sentia-se curioso em vê-los um ao lado do outro. Mas ela em breve destruiria suas ilusões. Destruiria mesmo? Cravou as unhas nas palmas das mãos. Ao pensar na gravação estremeceu, enojada. Axel pretendera realmente enviá-la a algum jornal se ela tentasse atrapalhar seus planos? Permitiria que seu pai ouvisse a fita? E se nada disso acontecesse? Por acaso ela estava pensando seriamente em se casar com aquele aventureiro? Contemplou Axel com grande ressentimento. Ele era tão calmo, tão seguro de si, tão confiante no domínio que exercia sobre ela.

— Vou contar a verdade ao meu pai! — ela declarou, porém faltava convicção a suas palavras.

— Não vamos começar novamente com isso — ele disse, tomando-a pelo braço e ignorando sua resistência. — Agora vamos encontrar mi­nha tia.

Andréa seguiu Axel através de corredores sem fim, até que ele a fez entrar na sala de visitas de sua tia. O aposento era muito claro e mais quente que todos em que estivera até então. Um tapete felpudo cobria o chão e a mobília conservava a elegância de outros tempos. Havia uma lareira e ao lado dela uma senhora costurava.

Sophie von Mahlstrom assemelhava-se muito pouco à imagem que Andréa fazia dela. Tinha muita menos idade do que ela supunha, uns sessenta e poucos anos, e seus trajes c sua aparência eram tão elegantes quanto tudo aquilo que a rodeava. Levantou-se com um sorriso que era a cópia do de seu sobrinho.

— Ah, Axel! Até que enfim você chegou. Axel beijou o rosto de sua tia.

— Com que então você é Andréa, minha cara. — Ela falava inglês com ligeiro sotaque. — Que prazer conhecê-la.

— Eu... Bem... Como está, baronesa?

Andréa não sabia como se dirigir à velha senhora, porém Sophie balançou a cabeça. — Pode me chamar de tia Sophie, minha querida. O: títulos hoje em dia pouco significam, como você sabe.

— Obrigada. — Andréa forçou um sorriso, procurando desesperadamente algo para dizer. — Que. . . Que lindo aposento.

— Principalmente se comparado com o resto do castelo. Sim, sim, é um lugar muito agradável. Em outros tempos foi a sala de estar da mãe de Axel, mas infelizmente durante a guerra... Lembro-me de tudo isto bem demais.

— Sente-se, Andréa.

Ela fez conforme Axel sugerira, mas, para sua grande surpresa, ele enca­minhou-se em direção à porta.

— Tenho uma série de providências a tomar. — Dirigiu-se à sua, tia e ela fez que sim. Ela então se voltou para Andréa. — Até logo mais, menina. Auf Wíedersehen.

Assim que a poria se fechou, Sophie sorriu para sua jovem visita com ar de desculpas. — Não repare, mas meu sobrinho vem tão raramente; a Mahlstrom e há questões relativas às terras das quais ele deve se1 ocupar.

— Terras?

— Sim, restou pouca coisa, lamento dizer. Outrora os Mahlstrom possuíam todo o vale, mas agora temos de nos contentar com as terras em volta do castelo e mais alguns metros às margens do rio. Por aqui se pesca muito peixe. Axel não lhe contou?  

— Não.

— Claro que não. Pesca é um assunto que não deve lhe interessar, não é mesmo? Ele sem dúvida discutiu-o com seu pai.

Andréa arregalou os olhos. Como era possível que todos naquela família fossem tão seguros? O que tinha a pesca a ver com as intenções de Axel? Será que imaginavam que isso poderia influenciar seu pai?

— Acho que meu pai não se interessa especialmente pela pesca, ba­ronesa.

— Não? Isto me surpreende. Muita gente gosta de pescar. Esta é a sua primeira visita à Áustria?

— Não, não é a primeira vez que venho à Áustria. Já estive várias vezes aqui, com meu pai.

— Mas não em Grossfeld.

— Não.

— Axel disse-me que você acabou de deixar a escola. Pensa ir para a universidade?

Andréa sentiu-se intrigada. Por que a tia de Axel fazia tantas pergun­tas? Imaginava que ela se encaminharia para uma carreira após o casa­mento? Ou duvidava que Patrick Connolly pudesse concordar com planos de Axel? Deveria saber das intenções de seu sobrinho, caso contra­rio não diria a ela do interesse de seu pai em restaurar o castelo. Feliz­mente ,bateram à porta naquele momento e Cari entrou.

— Quer tomar chá, senhora?

— Obrigada. Será mais do que bem-vindo. — O velho criado retirou-se. — Cari é um verdadeiro tesouro. Quem mais viveria neste lugar afastado, sem ninguém para conversar?

— Ele é o único criado?

— No momento, sim. Pobre Cari. Ele era casado, porém sua mulher morreu durante a guerra e não tiveram filhos.

— Ele é muito velho.

— Mas é tão leal... Ele ainda se recorda de como Mahlstrom era, mas certamente voltará a ver o castelo restaurado, com o auxílio de seu pai.



  

© helpiks.su При использовании или копировании материалов прямая ссылка на сайт обязательна.