Хелпикс

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CAPÍTULO V 3 страница



— Mas isto não é verdade!

— Ele não tem meios de saber a verdade e quando ouvir a gravação. . . Ele não hesitará em concordar, para evitar um escândalo.

— Não tenha tanta certeza assim!

— Sei que seu pai não aprova a mentalidade do grupo com quem você anda em Londres. Foi por isso que ele a mandou para Grossfeld, para subtraí-la à influência daquela gente.

—- E você acha que ele o aprovará? Você não passa de um aventureiro!

Ele sorriu sem rancor. — Somente para você. Líebchn, somente para você. Para seu pai serei o Barão von Mahstrom, sócio de seu bom amigo Fritz Steiner. Saberei convencê-lo de que sou o genro ideal e quem sabe? Talvez ele me torne diretor de sua companhia.

— Você é totalmente sem escrúpulos, não?

— Completamente — concordou, levantando-se do divã e deitando-se no tapete. — Agora acho melhor dormirmos, sim? Por mais que eu queira fazer amor com você, saberei esperar.

— É, os proveitos serão maiores — murmurou Andréa. — Oh, como dói o meu joelho!

— Eu a machuquei? — indagou, encarando-a preocupado. Ela sentiu que nem mesmo naquele momento conseguia sustentar seu olhar. A des­peito de tudo, ainda achava-o o homem mais perturbador que já co­nhecera.

— Casar? — Seu pai, do outro lado do telefone, parecia atônito. — Você não está falando a sério, Andréa. Meu Deus, não faz nem uma semana que você está aí!

— Eu sei, papai, mas...

— Quem é esse tal de barão? O que você sabe a respeito dele? Andréa tinha plena consciência de que Axel estava atrás dela no estreito hall do chalé e sua mão tremia.

— Você o conhece, papai. Ou pelo menos já foi apresentado a ele. Na casa de Fritz. . . Fritz Steiner.

—- Fui apresentado a ele? Como é mesmo nome dele?

— Von Mahstrom, papai, Axel von Mahstrom.

— Von Mahstrom. — Seu pai repetiu o nome pensativo. — Não me diz nada. Oh espere um momento. Acho que me lembro, sim. É alto tem o cabelo muito louro. É um tipo bem arrogante, se bem me lembro.

Andréa olhou de relance para Axel e sentiu que ele deveria ter ouvido essas palavras. — É isso mesmo — concordou. — Sim, é arrogante.

— E ele a convenceu a desposá-lo?

— Eu. . . Sim. Sim. . . Eu. . . Vou casar com ele.

— E você tomou esta decisão... Em apenas uma semana? Axel deu um passo adiante e tornou-lhe o telefone.

— é Mahstrom quem está falando, é Patríck Connolly? O pai de Andréa?

Andréa afastou-se em direção à sala de estar. Após algumas horas de repouso seu joelho doía bem menos, O gravador em cima da escrivaninha zombava de sua presença, mas a fita tinha sido retirada. Tentou prestar atenção no diálogo que estava sendo travado ao telefone,

— Sim, foi imperdoável — dizia Axel solenemente, mas com uma ex­pressão zombeteira no olhar. —- Mas o senhor compreende como as coisas são. Estávamos os dois presos aqui no chalé, por demais envolvidos um com o outro. Foi inevitável. Sei que isto não é desculpa, mas é a pura verdade.

A pura verdade! — O olhar de Axel era um tormento e ela lhe deu as costas. Seu pai provavelmente estava furioso. Mas o que ele podia dizer? Ela lhe dera muitas preocupações desde que se formara no ano passado e talvez ele sentisse um grande alívio por se livrar de tamanha responsabilidade. Se pelos menos pudesse conversar com ele talvez conse­guisse convencê-lo de que não tinha feito nada de mal. Entretanto não suportava imaginá-lo ouvindo aquela fila, que encerrava declarações apai­xonadas a Axel.

Was? Ah ya. Não sei com exatidão, — Três. Talvez quatro semanas.Antes do que isso, nein. Prometo,

Andréa olhou-o intrigado. Ele colocou a mão no bocal do telefone e disse: — Seu pai receia que nos casemos enquanto ele estiver viajando.

— Viajando? — A esperança de ver seu pai dentro de pouco tempo foi liquidada naquele momento. —- Para onde ele vai?

— Para os Estados Unidos, claro. Pensei que você soubesse. Andréa, espantada, baixou os olhos. Seu pai lhe falara de sua viagem aos Estados Unidos? Não conseguia se lembrar. É verdade que não pres­tava atenção a muitas coisas que ele dizia,

— Eu absolutamente não me casarei com você! -— murmurou furiosa e Axel retirou a mão do bocal.

— Andréa disse que mudou de idéia. Sr. Connolly. Decidiu que não quer casar comigo.

Andréa ficou horrorizada, enquanto ele prosseguia. — Naturalmente não posso forçá-la... Como disse? Oh, sim, sim. — Sorria, cheio de malícia. — Andréa, seu pai quer falar com você.

— Papai? Sim. Sim, sou eu. Papai ouça-me... Oh, não, não.' Você não está entendendo!

— Estou entendendo até demais, Andréa. — Seu pai estava furioso. — Pois muito bem, ouça o que vou lhe dizer: não admito que minha filha ganhe a reputação de mulher fácil. Não se pode confiar em você. Sabia disto? Aqui ou em Grossfeld!

— Papai, não é nada disto que você está pensando!

— Só tenho a sua palavra. E você passou a noite com esse tal... Esse tal de Barão von Mahstrom, não foi?

— Foi, sim, mas. . .

— Não tem, mas nem meio, mas. Não quero ouvir mais uma palavra, Andréa! Pelo menos o sujeito parece ser decente e está disposto a casar com você!

— Papai, nos dias de hoje as mulheres nem sempre se casam com o homem com quem dormem! — protestou, frustrada.

— Não mesmo? E você conhece tudo a respeito do assunto, imagino!

— Oh, papai, quero voltar para casa. . .

— Não, Andréa.

Com um soluço Andréa largou o telefone, correndo para a sala de estar e deixando-se cair no divã. Deu livre curso às lágrimas que dominara por tanto tempo. Não ouviu o restante do diálogo de Axel com seu pai, pois tapou os ouvidos.

As mãos de Axel em seu ombro incomodaram-na e ela o repeliu. —Vá embora!

— Vamos, deixe disso, Líebchn. Controle-se, ya? Podia ter sido bem pior.

— Não, não é verdade.

— Podia, sim. Você poderia ter sido obrigada a casar com um homem que não a atraísse.

— Você não vai prosseguir com isso!

— Por que não? Neste momento seu pai está telefonando para o jornal de maior circulação de Londres, colocando o anúncio de nosso casamento. Dentro de poucos momentos telefonarei para um jornal de Viena e farei o mesmo.

— Você está louco! Não pode me forçar a prosseguir com esta his­tória!

— Veremos. E agora vamos tomar o café da manhã, antes que eu a leve de volta para o hotel.

— O que você mandou Nicholas Lieber dizer a Janete?

— Expliquei que você tinha se machucado e passaria a noite aqui comigo.

— Só isso?

— Que mais deveria dizer?

— O que você teria feito se eu não tivesse vindo aqui ontem à noite? — perguntou subitamente. — Como é que você poderia saber que uma oportunidade desta iria se apresentar?

— Eu não sabia. Mas se você ainda se lembra, eu a convidei para vir esquiar comigo ontem.

— Claro! — A mente de Andréa começava a funcionar novamente. E ele era um homem que conhecia aquelas montanhas. Sem a menor sombra de dúvida sabia que uma tempestade estava se armando. Não lhe teria sido difícil convencê-la a visitar seu chalé assim que a neve come­çasse a cair.

— Seu... Seu porco!

— Apreciaria muito que não me chamasse com esses nomes, Líebchn, Não gosto nada disto.

— Você acha que me importo com seus gostos?

— Acho que você aprenderá com o tempo — retrucou ele. Andréa não sentia a menor fome. Mas forçou-se a tomar uma xícara de café enquanto Axel levava o cão para dar uma volta. Quando ele voltou estava coberto de neve, forte, viril e intensamente masculino em seu traje de esqui. Andréa abandonou-se às suas fantasias, imaginando-se no papel de sua esposa e teve de reconhecer que haveria certas com­pensações. Exceto que ele não tinha lá muita moral e provavelmente a acabaria abandonando por outra mulher que valorizasse seus atributos. Interrompeu seus pensamentos. Isto jamais aconteceria, porque ela nunca o desposaria, independentemente do que ele dissesse ou fizesse.

Andréa enfiou o casaco e foi mancando até a porta. À sua volta a neve voltava a cair, formando uma cortina espessa, e o atalho que Axel escavara já estava coberto com pequenos flocos.

— Espere que eu a carregarei -— disse Axel, jogando a pá de lado.

— Obrigada. Não há a menor necessidade. Não quero ficar lhe de­vendo nada!

— Acho que você já me deve muito — declarou Axel impaciente. — Não conheço nenhum outro homem que não tivesse aceitado o que você me ofereceu com tamanha generosidade!

 — Seu...

— Não. Basta. Não quero ouvir mais nada. Lembre-se, Andréa: de que agora você é minha noiva. Até o momento demonstrei ter uma enorme paciência, mas agora chega. Lembre-se de que não sou um de seus amigos frouxos e posso me tornar um inimigo poderoso. Não se esqueça nunca disto.

Andréa comprimiu os lábios. Até que seu pai chegasse, ela se encontra­ria em uma posição impossível e sabia disto.

— E Janete? O que devo dizer a ela?

— Não lhe diga nada — respondeu Axel, para sua grande surpresa. — Conversarei com Janete no devido tempo. No momento, você deve se comportar como se nada tivesse acontecido.

— Por quê? Se papai, já está telefonando para os jornais, ela logo ficará sabendo.

— Já disse para deixar comigo — disse ele bruscamente. — Agora trate de entrar no automóvel. Não tenho tempo de ficar discutindo com você.

Andréa passou por ele e abriu a porta do carro, entrando com difi­culdade. Seu rosto espelhava a ira e a frustração que ela estava sentindo. Ela não o temia, porém receava o poder que ele exercia sobre ela.

Os limpa-neve estavam em plena atividade e seus choferes saudaram Axel. Obviamente todos o conheciam e um deles parou seu veículo, caminhando até o carro. Andréa compreendia um pouquinho de alemão, mas a conversa, rápida demais, deixou-a desnorteada. Ao prosseguirem, ela o olhou com ar de interrogação.

— Houve uma avalanche em Meitbrugge. Parece que morreram três pessoas.

— Que coisa terrível! Quando aconteceu? Ontem à noite?

— Você se importa mesmo? Você, que se arrisca tanto? Se tivessem sentido sua falta ontem à noite, teriam providenciado uma equipe para resgatá-la e alguns homens arriscariam suas vidas para salvar a sua.

Andréa sentiu um tom de censura em sua voz. — acontece que eu não tive sorte.

— Você foi imprudente! Arriscou sua própria segurança e muito egoisticamente envolveu outras pessoas.

— Se você tem uma opinião tão pouco lisonjeira a meu respeito, sur­preende-me que queira casar comigo!

— Seus outros atributos compensam certas deficiências, Líebchn. Além do mais, confio que no devido tempo conseguirei transformá-la no tipo de mulher que eu gostaria que você fosse.

Andréa recusou-se a fazer qualquer comentário e pôs-se a contemplar os arredores de Grossfeld.

Axel estacionou o carro na entrada do Kiitzbahal e Andréa, com alguma relutância, olhou as janelas da suíte que ela e Janete ocupavam. Agora que tinha chegado, sentia um desejo ridículo de não sair do carro, mas atribuiu esse fato às explicações que teria de dar à sua prima, e aos demais.

Axel olhou-a de soslaio. — Muito bem. Quer que eu a carregue para dentro do hotel?

Em um gesto impulsivo, Andréa tocou-lhe o braço. — Axel — disse ela em tom de súplica, mas ele sacudiu ligeiramente a cabeça e saiu do carro. Veio até o outro lado e abriu a porta, mas antes que pudesse ajudá-la a sair ouviram-se algumas vozes que vinham da entrada do hotel.

— Hei, Andréa, o que foi que aconteceu?

— Precisam de ajuda?

— Andréa? Mas o que foi que você andou aprontando?

Andréa fez o possível para se controlar e conseguiu sorrir de leve para Susie, Roy e os demais. Naquele momento viu Janete cujo estado melhorara consideravelmente, se bem que ela ainda mancasse.

— Mas no que você se meteu? — perguntou Roy. Assim que Axel afastou-se. — Perdeu uma festa incrível ontem à noite.

— Você caiu da montanha? — perguntou alguém, em tom de brinca­deira e Susie dirigiu-lhe um sorriso solidário.

— Você levou uma queda? — perguntou Lucy Stevens, e pelo seu tom de voz Andréa sentiu que este era o seu maior desejo.

— Que tal uma trégua? — sugeriu Axel, sombrio e pensativo. Janete falou então pela primeira vez — Queria lhe agradecer da parte de Andréa por ter cuidado dela. Axel— disse, olhando para a prima com um certo desprezo, — Obviamente Andréa esqueceu de fazê-lo, na excitação de encontrar-se novamente com seus amigos,

— Eu já agradeci, Janete. Não é mesmo, Axel?

Janete não pôde deixar de mostrar sua surpresa ao ouvi-laempregar o nome de batismo do barão. Axel inclinoua cabeça polidamente e Andréa sentiu que a frustração invadia sua prima. Ele adotara aquele ar ligeira­mente altivo, que conseguia assumir com tanta facilidade, e ela mal podia acreditar que na noite passada estivera em seus braços.

Agora Axel desculpava-se, preparando-se para partir. — Tenho muito que fazer — explicou a Janete, desapontada por ele ir embora. No momento em que ele se preparava para partir, Nicholas Lieber apareceu na recepção.

— Ah, Srta. Connolly! — exclamou, tornando-lhe a mão. — Que bom ter conseguido chegar até a casa de meu amigo von Mahstrom! Diga-me, a senhorita se feriu?

 Andréa esforçou-se por sorrir. — Machuquei o joelho, mas não foi nada, não.

— Absolutamente! — Nicholas Lieber estava preocupado. — Precisa­mos providenciar para que veja um médico.

— Acho que não é necessário — murmurou Andréa, porém o barão interrompeu-a.

— Você já tomou o café da manhã? — indagou Roy, solícito.

— Sim — respondeu Andréa. — Não repare, Roy, mas quero ir ime­diatamente para meu quarto. Preciso de um banho.

— Vou com você — disse Janete no ato e Andréa concordou. Se sua prima esperava algum tipo de explicação ia ficar decepcionada mais uma vez.

 

                       CAPÍTULO VIII

 

Ao sair do banheiro Andréa deparou com Janete sentada em sua cama, demonstrando todos os sinais de impaciência.

— Pensei que você estivesse com dor de cabeça — disse em tom ressentido.

— O quê?

— Ontem você disse que estava com dor de cabeça.

—Oh. Estava sim. 

— Você foi esquiar sozinha?

— Sim.

— Posso ser ingênua, Andréa, mas não sou burra! Você fez tudo isto de propósito, não é mesmo? Como é que foi parar no chalé do barão?

— Não sabia que o chalé era dele! —- protestou Andréa indignada. — Desconhecia que ele tinha um chalé!

— Não é verdade, não é verdade! Ele lhe contou.

— Está bem, mas eu já tinha até esquecido. Creia em mim, Jan, não sabia onde ele vivia. Você está pensando que eu fui atrás dele, é?

— Exatamente!

— Você está louca! — Andréa estava a ponto de dizer o quanto ela detestava e desprezava o barão, mas a lembrança da fita gravada a fez agir com cautela. — Janete, juro que não me machuquei de propósito.

— Não estou dizendo que tenha se machucado e imagino que o seu joelho esteja doendo. — Andréa retirara a atadura antes de entrar no chuveiro e o joelho estava muito inchado e arroxeado. — Não, a única coisa que estou dizendo é que foi muito estranho você ter ido parar justamente lá.

 — Não foi estranho coisa alguma. Foi mera coincidência — replicou Andréa.

— E então? O que foi que aconteceu?

— O que aconteceu? — Andréa procurou ganhar tempo, abrindo um pote de creme e espalhando-o pelo rosto, na esperança de que Janete não notasse que ficara corada.

— Sim. O que aconteceu? O que vocês fizeram? A respeito de que conversaram? Ele disse a você para chamá-lo pelo nome de batismo?

— Acho que isso veio naturalmente — murmurou Andréa. — Na ver­dade não aconteceu muita coisa, não. — Mordeu os lábios.

— Ele cuidou de meu joelho e eu dormi. Ele se acomodou no divã, na sala de estar. Eu usei a cama dele.

— Como é o chalé? Ele me prometeu levar lá.

— Não tem nada de especial. Uma sala de estar, quarto e cozinha.

— Será que ele sempre morou lá? — indagou Janete pensativa. Andréa pensou em falar a respeito da infância de Axel e do castelo em ruínas que fora seu lar, porém decidiu o contrário. Quanto menos envolvi­mento ela parecesse ter com Axel von Mahstrom, melhor. Mudando de assunto perguntou:

— Vocês se divertiram em Oberlaufen?

— Foi simpático. A vista era fantástica, mas estar no meio de uma multidão não é o mesmo que estar com Axel. Sabe, ele conhece tudo a respeito de lugares como Oberlaufen. É capaz de contar fatos histó­ricos, descrever incidentes que aconteceram lá e reviver situações. Bem, de qualquer maneira Axel é um companheiro muito mais interessante — prosseguiu sua prima. — Ele lhe falou alguma coisa. . . A meu respeito?

— Eu. . . Acho que não. O que você esperava que ele me dissesse?

— Sei lá. Sabendo que você é minha prima, ele poderia ter indagado a respeito de nossos pais, ou então como é que viemos parar aqui em Grossfeld.

— Mas eu já lhe disse — ela falou e o sentimento de culpa tornava sua voz mais aguda. — Nós não conversamos muito.

Janete parecia não acreditar e pôs-se a estudar sua prima, cuja inquieta­ção era evidente. — Sabe — disse finalmente —, se eu fosse uma pessoa desconfiada diria que você está escondendo alguma coisa.

— Escondendo o quê? Ora, não seja tola. Existe acaso alguma coisa para esconder?

— Sei lá... Você contou a Axel que eu não era a filha de tio Pat?

— Não! — E era verdade. Ela nada dissera.

— Ah. . . Bem. . . -— Janete caminhou até a porta. — Vou descer a turma está me esperando. Vamos jogar cartas. Venha ter conosco assim que se vestir.

— Talvez vá.

Andréa forçou um sorriso, mas assim que Janete saiu atirou-se na cama. Naquele momento mais do que nunca precisava estar a sós, pensar, ima­ginar que atitude tomaria.

Como era possível que aquele homem tivesse agido daquela maneira! Não acreditava que isto fosse possível. Claro, já lera artigos de jornal a respeito de diplomatas e homens de Estados envolvidos com chantagista de posse de fotos comprometedoras, tiradas em situações igualmente comprometedoras. Parecia-lhe, no entanto, impossível que uma coisa semelhante tivesse acontecido justamente com ela. Mas na verdade acontecera.

Pelo menos doze jornais de Londres pagariam qualquer preço para publicar o conteúdo daquela fita. Patríck Connoly não chegara até a posição que ocupava sem fazer inimigos, e a oportunidade de atingi-lo através de sua filha não poderia jamais ser desperdiçada. E, para coroar tudo isto, existia também tia Lavinia. . . Tia Lavinia e sua língua ferina. . .

Assim sendo, que alternativas lhe restavam? Casar com o barão ou então... A desonra! Sorriu. Era uma palavra tão fora de moda, e, no entanto ainda significava algo.

Ao recordar o diálogo apaixonado irado com Axel esqueceu por um momento sua angústia. Se ele não fosse tão mau-caráter poderia recor­dar-se daquela cena de amor com alguma nostalgia. Ele a excitara como jamais ninguém conseguira. Por que seus beijos a provocavam tanto? Não tinha respostas concretas para isto exceto que o toque de suas mãos diluía todos os pensamentos sensatos que lhe pudessem passar pela cabeça. Ao compreender que isto aconteceria todas as vezes que ele se dispusesse a agir, sentiu-se profundamente ressentida. "Meu Deus", pensou desespe­rada, "se dissesse tudo aquilo a seu pai, será que ele tentaria ao menos compreender?" Ignorava. Levaria ainda muito tempo para sabe-lo, pois ele estava viajando para os Estados Unidos.

Quando conseguiu controlar-se já estava na hora do almoço. Foi direto para o restaurante, onde Janete já se encontrava a sua espera. Vestia-se com muita, elegância e Janete contemplou-a com admiração.

— Muito bem — comentou, enquanto Andréa acomodava-se. — O que aconteceu com você?

— Cansei de andar de calças e resolvi pôr uma saia. Com a atadura a calça provoca um certo desconforto.

— É mesmo? — Janete parecia não estar lá muito convencido e co­mentou, meio sem jeito: — Ainda está nevando.

 — Pois é. — Andréa sorriu para o garçom e pediu uma sopa. — Jogaram cartas?

— Sim. Herr Lieber veio a sua procura. Chamou um médico, que virá examinar seu joelho esta tarde.

— Não precisava. .

— Pelo jeito, ele achou que precisava, sim.

— E seu tornozelo, como está?

— Mais ou menos. No futuro serei mais cuidadosa.

Durante à tarde Andréa teve de explicar a Susie e aos demais o que acontecera na véspera.

— Você deveria ter ido conosco a Oberlaufen — disse Roy. — Eu já tinha avisado, esquiar sozinha é uma imprudência. Você poderia ter mor­rido, enregelada na neve!

— Sei disso muito bem — respondeu Andréa com muita paciência. —- Comportei-me com muita imprudência.

— Algumas pessoas são mais aventureiras do que outras — comentou Ruth Stevens maliciosamente, — Que sorte você teve de poder chegar até ochalé do barão...

Andréa deixou passar o comentário, achando que não fazia o menor sentido criar uma situação de animosidade entre ela e a meia-irmã de Roy. Susie, muito animada, perguntou como era a casa do barão. Andréa contou-lhes o que dissera a Janete. Mais cedo ou mais tarde todos eles acabariam por saber dos planos que o barão formulara para ela.

O tempo continuou ruim até o fim do dia e começaram a chegar notí­cias relativas a avalanches que bloqueavam as estradas e isolavam as aldeias. Andréa sentia-se apreensiva em relação à segurança de Axel, à medida que a noite caía, e a ansiedade com que Janete se referia ao assunto não ajudava em nada.

O médico enviado por Nicholas Lieber declarou que o estado do seu joelho era satisfatório. Elogiou o modo como a atadura linha sido colo­cada e garantiu-lhe que ela estaria esquiando dentro de uma semana.

Estava se vestindo para o jantar quando Janete entrou em seu quarto usando uma saia com listras horizontais, que não favoreciam' sua figura rechonchuda. Não gostou muito quando Andréa comentou o fato e disse, em atitude de defesa:

— Não posso usar o tempo todo aqueles vestidos que você me comprou.

— Pois então use calças compridas e aquela blusa creme com um lenço vermelho — sugeriu Andréa no ato.

— Não. — Janete mostrava-se irredutível. — Esta roupa está perfeita, não acha? Mamãe pagou um dinheirão por ela.

— Janete, não há nada de mal com o vestido. Trata-se de você. Não deveria nunca usar listras horizontais.

— É, mas acontece que eu quero ir jantar vestindo um traje tão elegante quanto você.

Andréa, que ainda não havia decidido o que usar ficou bastante sur­preendida. — O que quer dizer com isso?

— Bem, você caprichou no vestido, na hora do almoço. Como posso saber o que vai usar esta noite?

— Ah, entendo. Olha, também usarei calças, se com isso puder con­vencê-la a tirar este vestido.

Janete hesitou. — Você acha mesmo que eu ficaria melhor?

— Com toda certeza.

— Então está bem.

Começou a vestir-se e pouco depois Janete voltou, muito mais elegante com calças marrom e a blusa creme sugerida por Andréa.

Após o jantar houve uma festa no Bar Tirolês. Todo mundo usava máscaras e chapéus típicos e um grupo de cantores e dançarinos folcló­ricos animou o ambiente. O joelho inchado de Andréa dava-lhe um excelente pretexto para não se juntar ao grupo, o que de resto era um alívio, dado o modo como ela estava se sentindo. Roy insistiu em lhe fazer companhia, a despeito de seus protestos. Estava imaginando como poderia apresentar uma desculpa que fizesse sentido e recolher-se a seu quarto. Uma parte dela queria certificar-se de que Axel estava bem e a salvo das tormentas de neve, mas o que ela mais queria no momento era ficar a sós.

Por volta de dez horas disse que estava cansada e pediu licença para recolher-se. Ao subir os degraus ouviu algumas vozes na recepção, entre elas a de Axel, aliás, inconfundível. Subiu a escada com dificuldade e chegou ao quarto sentindo imenso alivio, contente por ter-se retirado a tempo. Pelo menos tinha certeza de que nada de mal lhe acontecera. Adormeceu profundamente assim que sua cabeça tocou o travesseiro.

Andréa despertou cedo na manhã seguinte. Ao sair da cama constatou que o joelho estava muito melhor e que podia apoiar-se nele sem muita dor.

O dia estava cinza e sombrio, mas a neve já não caía mais. A cidadezinha voltava lentamente à vida. Resolveu vestir o maio. Um mergulho na piscina far-lhe-ia muito bem, estimularia sua circulação e talvez con­tribuísse para eliminar aquela dor de cabeça que não a deixava.

A piscina estava deserta e Andréa entrou na água. Sentia uma sensa­ção muito agradável e começou a ficar mais otimista. Axel von Mahlstrom não conseguiria forçá-la a fazer o que fosse, na medida em que ela mantivesseuma grande energia interior. Quando seu pai chegasse, ela lhe contaria tudo. Inclusive os detalhes desagradáveis relativos ao gravador.



  

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