Хелпикс

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CAPÍTULO V 1 страница



 

O resto da noite revelou-se um verdadeiro anticlímax.

Andréa perdera todo o desejo de divertir-se com Roy ou Louis e ver Janete na companhia de Axel von Mahlstrom dava-lhe dor de cabeça. Pouco depois das onze pediu desculpas a todos e subiu para o quarto. Ainda estava acordada quando Axel acompanhou Janete até a porta da suíte e soltou um suspiro de alívio ao perceber que sua prima conseguia ajeitar-se sozinha. Ouviu Axel partir e deitou-se de bruços, enterrando o rosto no travesseiro.

Só conseguiu conciliar o sono de madrugada e quando, na manhã seguinte, Janete entrou em seu quarto, às nove horas, ela dormia profundamente.

— Andréa! — Mancando, Janete aproximou-se da cama e despertou-a. — Andréa, você não vai levantar hoje?

Andréa gemeu e revirou-se na cama, protegendo os olhos do brilho do sol, quando Janete abriu as cortinas. — Que horas são?

— Passa das nove e estou morrendo de fome! — Janete olhou-a com impaciência. — Mas o que é isto? Você não foi se deitar tão tarde assim.

— É que não dormi muito bem — murmurou Andréa, afastando o cabelo dos olhos. — E como é que você está se sentindo? O tornozelo melhorou?

— Já me sinto muito melhor. Mais dois dias e estarei novinha em folha.

— Que bom. — Andréa olhou o relógio. — Puxa, mais de nove horas! Acho melhor eu me vestir.

— Herr Lieber disse que me carregaria para baixo hoje. Axel apre­sentou-nos ontem à noite. É um homem encantador.

Andréa levantou-se e vestiu o penhoar. Sentia-se indisposta e com dor de cabeça, mas atribuiu o fato à noite mal dormido.

— A que horas Herr Lieber ficou de vir? — perguntou.

— Pediu-me para telefonar quando eu ficar pronta. Estava esperando que você levantasse.

— Bem, não me espere. Chame-o e vá tomar o café da manhã. Eu, como sempre, só vou querer um cafezinho, não há necessidade de me esperar.

— Tem certeza de que não se incomoda?

— Claro que não.

Andréa encaminhou-se para o banheiro e nesse momento Janete indagou:

— Nós não a incomodamos ontem à noite, não é? Axel trouxe-me até aqui.

Andréa sacudiu a cabeça e não olhou para a prima. — Não, vocês não me incomodaram.

— Ainda bem. Quero dizer, depois de tudo o que aconteceu, imagino que Axel fez você se sentir constrangida.

— Do que é que você está falando?

Janete enrubesceu. — Aquela história boba com Roy e Louis. Você estava se expondo ao ridículo, não é mesmo, Andréa? Graças a Deus, Axel estava perto e a coisa não foi adiante.

— Foi isso que ele disse?

— Foi, sim. Olhe, você sempre sabe onde é que mete o nariz, mas realmente agir daquela maneira! Foi um tanto infantil, confesse! A po­bre Susie pensou que Roy e Louis iam se atracar, e note que eles são grandes amigos. — Hesitou. — Foi por isso, é claro, que Axel convidou-a para dançar. Para o bem de Susie e também para o meu.

— Ah, é mesmo?

Andréa sentiu-se tentada a mostrar a Janete o que seu barão bem-amado tinha feito em seu pulso, mas reprimiu-se. Janete tinha razão. Ele a convidara para dançar para afasta-la de Roy e Louis e acalmar a situação. No que lhe dizia respeito, ele conseguira abafar dentro dela todos os impulsos extravagantes, exceto um...

— É isso o que você queria me dizer, Janete? — ela indagou e sua prima pareceu um tanto sem jeito.

— Sim.

— Pois então vou tomar banho, se você não se importa.

Após o café da manhã, que Janete tomou na companhia dos pais de Susie e ao qual Andréa não esteve presente, as duas jovens resolveram tomar parte na excursão a Oberlaufen.

— Vá você, Jan — disse Andréa, quando lhe fizeram a sugestão.

— Eu. . . Eu estou com dor de cabeça.

 Roy encaminhou-se para ela. — Eu me comportarei bem se é isso o que você teme. Andréa. . . Por favor, venha! Gostaria muito que você viesse.

Andréa sacudiu a cabeça, tocada por sua sinceridade. — Não, Roy, hoje não. Talvez outro dia.

— Então também não vou. Ficarei aqui em sua companhia.

— Não! — Andréa atenuou a recusa com um sorriso. — Sincera­mente, Roy, prefiro que você não fique. Hoje não sou lá muito boa companhia. Prefiro ficar sozinha.

— Tem certeza de que não é apenas uma desculpa?

— Claro que não. — Andréa percebeu que Ruth os olhava. — Vá com Ruth. Ao menos uma vez dê-lhe o prazer de sua companhia.

— Não sei o que há com ela. Está sempre se queixando de alguma coisa — disse Roy. — Estou começando a me arrepender por ter-me responsabilizado por ela.

— Faça-lhe companhia por algum tempo — sugeriu Andréa. — Tenho certeza de que ela se modificará.

— Não quero fazer companhia a ela! Não sou mais criança, Andréa. Preciso da companhia de uma mulher e não de uma adolescente.

Andréa sorriu ligeiramente. — Que idade ela tem?

— Dezenove.

— É um ano mais velho do que eu.

— Sim. Mas você sabe o que estou querendo dizer. Você não é como Ruth. Acho que você nunca foi como Ruth. — Enrubesceu. — Você sabe o que quero dizer.

— Sinto muito, mas a idéia de passar o dia com um bando de gente não me atraí. Eu... Bem, prefiro ficar a sós.

— É sua decisão final?

— Sim.

— Então nos veremos hoje á noite? Parece que há um baile à fantasia no Kursaai. — O Kursaai era uma espécie de boate muito conhecida na cidade. — Gostaria de ir?

Andréa hesitou e acabou concordando. Está certo, se minha dor de cabeça não piorar. A que horas você vai?

— Vamos todos nos encontrar no hall depois do jantar. Que ta! nove e meia?

— Ótimo. — Susie, Paul e Louis Graham tinham vindo a seu encontro e ela sorriu para todos. — Divirtam-se!

Janete não sentiu muitos escrúpulos em deixar a prima sozinha durante todo o dia, mas Andréa pensou que se suas posições se invertessem, ela se sentiria obrigada a ficar com Janete. Este era um dos exemplos da diferença que o dinheiro pode fazer. Andréa tinha sentimentos de culpa.

Janete não se incomodava com essas coisas, que não lhe causavam o menor problema de consciência.

Andréa foi à suíte e pegou um romance de bolso, encaminhando-se em seguida para a sala de estar. Acomodou-se em uma poltrona no canto e começou a ler.

Estava lendo a mesma página pela enésima vez, tentando concentrar-se na leitura, quando alguém entrou. Levantou os olhos, surpreendida, e deparou com o olhar calmo e desprovido de paixão de Axel von Mahlstrom. Imediatamente sua dor de cabeça piorou e ela agarrou-se nervosamente a um braço da poltrona.

Axel ficou postado diante dela olhando-a fixamente.

Guten Morgen, Fràulein — ele a saudou com a polidez de sempre. — Vejo quehoje está sozinha.

— Deseja algo, Herr Barão? — perguntou, tomada de uma calma impressionante.

— Soube que sua prima e seus amigos partiram para a geleira de Oberlaufen, Fràulein. Não quis acompanhá-los?

— Obviamente não!

— Não está se sentindo bem, Fràulein?

Não pareço estar bem?

— Para dizer a verdade, não.

Desta vez a impaciência de Andréa tornou-se real. — Obrigada — dis­se com sarcasmo.

— A senhorita está pálida — ele insistiu. —- Acho que não dormiu bem,

— Acha mesmo? — A respiração do Andréa se acelerou, a despeito de sua resolução de permanecer calma. — E o que o leva a semelhante suposição? É verdade que tomou muitobem conta de mim ontem à noite!

Sua expressão endureceu. — Por que precisa sempre ser rude comigo, Fràulein?! — ele exclamou. -— Minha preocupação é sincera. Não sinto o menor prazer em ver alguém indisposto.

— E muito menos seu inimigo.

— Janete contou-me que a Fràulein gosta muito de esquiar, que é quase uma campeã.

Andréa levantou novamente os olhos do livro. — Janete exagerou. Não sei esquiar: ponto final.

— Acho que se subestima, Fràulein, mas é inútil discutir este assunto. Seu... Amigo Stevens disse-me que Fràulein esquiou no monte Feldberg, que não é um lugar para amadores.

— Mas o que importa. . .

 — Importa por que eu gostaria de levá-la para esquiar, Fràulein, Isto é, se conseguir desligar-se deste livro aparentemente tão fascinante!

— E por que haveria de querer me levar para esquiar? — perguntou, atônita.

Uma chispa de ressentimento surgiu em seus olhos. —- Talvez porque eu sinta pena de Fràulein. Abandonada pelos amigos.

— Eles não me abandonaram! Eu preferi não ir.

— Como quiser. Então, vamos?

— Não. — Andréa encontrou um certo prazer em recusar. — Estou com dor de cabeça, por isso não fui com os outros.

-— Pois acho que o ar fresco há de lhe fazer muito bem.

Este pensamento já ocorrera a Andréa, mas ela não pretendia lhe dar aquela satisfação. — Sinto-me perfeitamente bem onde estou, obrigada — replicou secamente. O barão, com uma expressão de desagrado, mur­murou algo e saiu da sala de estar.

Assim que ele saiu, ela se sentiu deprimida. Pôs o livro de lado, levantou-se irritada e caminhou até a janela. O que estava se passando com ela? Claro que ela não haveria de querer ir com ele! Não tinha nada a ver com ele, não gostava dele e não confiava nele. O fato de sua inegável atração sexual despertar nela emoções perturbadoras não mascarava a verdade de que ele não passava de um tipo dos mais presun­çosos. Será que ele pensava que podia simplesmente chegar até ela e convidá-la para esquiar, depois de tratá-la daquela forma? Era ridículo!

No entanto, sua visita a deixara perturbada. Pegou o livro e foi para a suíte. A criada acabava de arrumar os quartos e Andréa foi se trocar.

Ao sair do hotel, aspirou profundamente o ar frio. Sua dor de cabeça melhorou instantaneamente c, caminhando, sentiu-se bem melhor.

Alugou um par de esquis e tomou o teleférico até o topo do monte Feldberg. Enquanto tomava café no bar, ouviu dois alemães falarem de uma tempestade que se aproximava e ao olhar o céu encoberto não duvidou de que ela fosse acontecer de um momento para outro. Até agora tinham tido sorte com o tempo, mas se a neve começasse a cair a situa­ção poderia se prolongar durante vários dias. Durante dias e dias teria de ficar confinada no hotel, na companhia de Janete e dos demais. Essa perspectiva não lhe parecia nem um pouco atraente.

Apesar dos pensamentos sombrios, divertiu-se imensamente. Esquiar era uma ocupação solitária, um teste de perícia que não podia ser com­partilhado com qualquer pessoa. Já estava escurecendo quando tomou o teleférico. Abaixo, no vale, as luzes começavam a brilhar nas casas. Alguns flocos esparsos de neve começavam a cair; à sua esquerda as árvores que ela e Roy tinham usado como obstáculos convidavam à aventura e, calcando os bastões na neve, ela precipitou-se em direção ao alvo.

A escuridão descera em meio às árvores, mas as pistas que ela e Roy haviam feito ainda eram visíveis. Deslizou por elas, gozando o embalo dos esquis, sentindo quanto era bom poder controlar o movimento de seu corpo. E então, repentinamente, um dos esquis prendeu-se na raiz de uma árvore, impossível de se distinguir na escuridão. Sua perna retor­ceu-se, ela sentiu uma dor insuportável e o esqui partiu-se em dois.

Achou que devia ter perdido a consciência durante alguns minutos, pois quando abriu os olhos parecia estar mais escuro do que antes. As luzes lá embaixo, no vale, já não eram mais pontos esparsos, mas uma massa de luz. A neve agora caía mais pesada. Tomou subitamente cons­ciência da situação desesperadora em que se encontrava e uma onda de pânico apoderou-se dela.

Lutou para não se abandonar à histeria e esforçou-se para levantar-se, arrastando-se com dificuldade para fora do buraco em que caíra. Reprimiu um soluço, enquanto uma dor aguda apoderava-se de sua perna, na altura do joelho. Ao tentar ficar de pé descobriu que a perna não lhe daria o menor apoio.

Agarrando-se ao tronco da árvore que tinha causado sua queda, olhou à sua volta, esperando ver alguém que a socorresse. Não havia ninguém. Se não houvesse nevado tão pesadamente talvez fosse possível encon­trar um ou dois entusiastas, mas do lugar onde se encontrava não via ninguém.

Contemplou as luzes do vale que brilhavam através da cortina de neve que caía. Tinha de chegar até lá, ou morreria. Ninguém sabia que ela tinha ido esquiar. Não sentiriam falta dela até que Janete voltasse e, mesmo então, era possível que sua prima não conseguisse imaginar onde ela estava. Além do mais, no estado em que se encontrava, era possível que permanecesse estirada na sala de estar, esperando que Andréa viesse a seu encontro. Andréa sentia a temperatura baixando cada vez mais. Ela tinha de descer.

A fileira de árvores prolongava-se até o vale. Elas não seguiam a rota observada pelos esquiadores, mas tinham um traçado diagonal. Se con­seguisse apoiar-se de árvore em árvore talvez alcançasse seu objetivo.

A tarefa, entretanto, revelou-se dificílima. O joelho doía terrivelmente e ela agarrava-se às árvores como se fossem salva-vidas, rezando para não perder a sensibilidade das mãos. Deixara os esquis de lado e seus pés doíam.

A descida era terrível, a neve que tombava tornara-se ainda mais espessa e ela mal conseguia distinguir para onde se encaminhava. Então, quando o desespero começava a apoderar-se dela, viu as luzes de um chalé logo abaixo, escondido por algumas árvores. Tomada de excitação, tentou deslocar-se com maior rapidez, e suas luvas, úmidas e escorregadias devido à neve, não conseguiram agarrar-se a mais nada e ela escorregou, rolando colina abaixo, quase perdendo a respiração. Somente a cerca que rodeava o chalé conseguiu deter sua queda e ela permaneceu ali durante alguns minutos, tonta, antes de tentar se movimentar.

Finalmente conseguiu pôr-se novamente de pé e apoiando-se na cerca arrastou-se até o portão. Quando finalmente conseguiu girar a tranca, o portão abriu-se ruidosamente e imediatamente um cachorro começou a latir. Não era um som dos mais amistosos, mas nesse momento a única coisa que lhe importava era uma lareira e uma presença humana.

Alguns degraus conduziam a poria da entrada; galgou-os com suprema dificuldade e bateu. O latido do cachorro tornou-se ainda mais feroz e um terrível pensamento atravessou-lhe a mente. Se o animal estivesse sozinho em casa, o que ela faria? Na certa morreria! Não tinha mais energia para prosseguir.

Quando parecia não lhe restar mais nenhuma esperança ouviu uma voz masculina, falando em alemão e ordenando que o cão silenciasse. Nesse momento a porta se abriu.

— Sinto. . . Sinto muito incomodá-lo — começou a dizer, mas nesse momento a fraqueza apoderou-se de seu corpo e ela caiu, completamente esgotada. O homem que abrira a poria e que a olhava totalmente pasmo era Axel von Mahlstrom.

— Andréa — ele exclamou sem poder acreditar no que via. — Mein Gott, mas o que foi que aconteceu?

Em total desamparo, ela sacudiu a cabeça, sentindo que as lágrimas escapavam a seu controle. — Eu. . . Eu procedi como uma tola. Agi sem a menor prudência e sofri um. . . Acidente.

Axel percebeu que ela estava tremendo de frio e cansaço e prague­jando em sua língua disse: — Por favor, entre.

Andréa tentou ficar de pé, porém os músculos recusaram-se a obedecê-la. Tinham enrijecido com o frio. Axel desceu rapidamente os degraus e, curvando-se, levantou seu corpo.

— Você está ferida! — ele murmurou, transportando-a para o hall do chalé. — Verdammt, eu devia ter percebido.

Andréa mal prestava atenção no que ele dizia. Seu corpo era maravi­lhosamente quente e o roupão entreaberto revelava seu peito musculoso. Não ousou passar os braços em torno do pescoço de Axel. Estava toda molhada e suja; perdera o chapéu e o cabelo estava todo desalinhado. O que ele deveria estar pensando dela? Pensou, sentindo-se muito infeliz. Com certeza achava que ela merecia tudo o que tinha acontecido! Mere­cia sim era verdade.

Axel abriu uma porta à esquerda do hall e a onda de calor que ema­nava do quarto envolveu todo o seu corpo. Ouviu uma respiração excitada e, baixando os olhos, viu o cachorro que gania. Era uni pastor-alemão e muito embora parecesse bastante acolhedor nesse momento. Andréa não teria, desejado encontrá-lo em outras circunstâncias.

Axel ordenou ao animal que se calasse e carregou Andréa até um divã diante da lareira. O calor e a luz feriram seus olhos, que começaram a lacrimejar, mas Andréa limpou-os com o dorso da mão, com receio que Axel pensasse que ela estava chorando.

Axel endireitou-se, amarrando o roupão, e ela percebeu que ele só linha aquilo sobre a pele. Voltou a agachar-se e, ignorando seus protestos, começou a desamarrar suas bolas.

— Conte-me o que aconteceu — ele disse, tirando uma das botas e começando no mesmo momento a massagear-lhe o pé. Ele sabia que o refluxo de sangue poderia lhe causar dor e seus dedos fortes fizeram o possível para aliviar a situação. Andréa tinha uma consciência absurda daquele homem agachado a seus pés, do odor de seu corpo e de seus cabelos úmidos. Sentia um grande prazer em ter aquelas mãos sobre seu corpo, que lhe provocavam uma letargia deliciosa.

—-Eu... Eu resolvi esquiar. Mas sofri um acidente. Um dos esquis enganchou em uma raiz e não havia ninguém para me ajudar.

Ele tirou a outra bota e ela estremeceu de dor. Axel examinou o tornozelo cuidadosamente e sentenciou: — Você machucou a perna. Acho que foi no joelho. — Andréa concordou. — Tomarei cuidado.

Andréa lutou contra a autopiedade que queria tomar conta dela. Não merecia a consideração de Axel e sabia disso muito bem. Quando Janete soubesse o que tinha acontecido. . .

Olhou a volta, procurando interessar-se pelo que via e tentando não pensar em Janete. Era um apartamento confortável, com poucos móveis, todo muito prático: uma mesa, duas cadeiras, uma escrivaninha, o sofá e uma poltrona. O assoalho de madeira era coberto por tapetes de pele e de cada lado da lareira havia estantes cheias de livros. Em nenhum canto notava-se o mais leve indício de um toque feminino e a mobília era estritamente funcional, Mesmo assim, Andréa gostava do que via. Era tão diferente do luxo a que estava acostumada. . .

Ele acabou de massagear seu pé e levantou-se. — Então, sente-se melhor? — Ela fez que sim e ele, deixando-a por um momento, foi até a escrivaninha. Tirou um copo e uma garrafa da prateleira e encheu o copo com um líquido cor de âmbar.

— Beba. É conhaque. Assim você vai ficar boa mais depressa.

Axel estava de costas para a lareira e as chamas delineavam sua silhueta. Andréa tentou não olhar para seu corpo enquanto ele falava: — Se quiser, tome um banho, como eu estava fazendo quando chegou. Tire as calças e daremos um jeito nesse joelho.

— Oh, mas eu não posso ficar aqui. Janete deve estar preocupada, querendo saber onde estou. . .

A expressão de Axel tornou-se um tanto tenso. — Acredite ou não, Fràulein, eu tenho telefone. Contanto que funcione... Posso chamar o hotel e tranqüilizar sua prima.

Andréa sentia-se um tanto ridículo.

— Não tenha receios, Fràulein — ele acrescentou, com um ar de 'desprezo —, nós, austríacos, somos muito civilizados!

Andréa sentiu que a indignação substituía a gratidão, — Nem me pas­sou pela cabeça outra coisa — retrucou.

— Muito bem. Consegue andar?

Andréa sentou-se na beirada do sofá. De uma maneira ou de outra estava resolvida a caminhar, por mais doloroso que fosse. Conseguiu pôr-se de pé, apoiando-se na perna boa. O calor espalhava-se por seu corpo e ela lhe estendeu o copo vazio.

— Se quiser mostrar-me o caminho. . . — sugeriu com polidez. Sentia uma dor terrível ao apoiar-se, mesmo de leve que fosse, na perna machucada, mas esperava que ele não notasse a dificuldade que ela sentia. Ele precedeu-a, abrindo a porta, e ela seguiu-o, ao mesmo tempo em que o cão gania.

Sckwetg, Prinz! — falou o barão com aspereza, e o animal aquietou-se.

O mau comportamento do cão fizera com que seu dono voltasse novamente sua atenção para Andréa e ele ficou preocupado ao notar como ela havia ficado pálida após alguns passos. Veio até ela e tomou-a nova­mente nos braços.

— Acha mesmo que há necessidade de mostrar tanta coragem? — ele a repreendeu com doçura.

O chalé não era muito grande, imaginou Andréa e talvez tivesse apenas um andar. Ouviu o vento zunindo em torno das paredes da casa e a neve batendo nas janelas. O barão conduziu-a através do hall e abriu uma porta que dava para um quarto. Andréa ficou tensa no momento em que ele a colocou ao lado da cama estreita, mas quando ele se endireitou sua expressão era calma e enigmática.

— O banheiro é ali, Fraseiem — ele disse, indicando outra porta. Há bastante água quente e pode usar meu roupão. Assim poderei examinar seu joelho, ia?

— Este. . . É o seu quarto, Herr Barão?

— É o único quarto Fràulein.Por que pergunta?

Andréa suspirou, sem saber muito bem o que queria dizer. — Eu...Espero que não esteja lhe causando muitos aborrecimentos — murmurou, muito sem jeito. Talvez se telefonássemos para o hotel...

— Claro que telefonarei para o hotel. Mas enquanto a tempestade não terminar terá de suportar minha companhia, Fràulein.

— Pelo amor de Deus! — ela exclamou, sentindo que sua segurança voltava. — Não pode usar o meu nome? Fràulein isso, Fräulein aquilo! Que bobagem! Você me chamou de Andréa quando abriu a porta e me encontrou caída na soleira. Permite que o chame de Axel? Ou isto seria levar as coisas um pouco longe demais?

Seus olhos detiveram-se nela por um longo momento e uma onda de calor apossou-se dela. Em seguida ele deu de ombros, — Fico surpreso por ver que sente necessidade de pedir minha permissão, Frau... — In­terrompeu-se. — Precisa de ajuda para entrar no banheiro?

— Pode deixar que eu consigo — tranquilizou-o. Ele lançou-lhe mais um olhar significativo e deixou-a.

Foi uma delícia tirar as roupas e entrar no chuveiro, cujo chão ainda estava molhado pelo banho dele. Vestiu a calcinha e estava enxugando o cabelo quando bateram a porta.

Seu coração disparou por um momento, mas o tom da voz de Axel era bastante tranqüilizador quando ele anunciou: — Aqui está o roupão!

Ela entreabriu a porta e pegou o roupão. Ainda conservava o calor de seu corpo e ela envolveu-se nele com uma satisfação sensual. Sua imagem no espelho não a agradou. O cabelo molhado emoldurava um rosto pálido que ainda trazia marcas dos momentos penosos que ela passara na montanha.

Abriu a porta do banheiro e foi pulando até a cama, deitando-se de lado. A exaustão começava a tomar conta dela e sentiu que a única coisa que desejava nesse momento era entrar debaixo das cobertas e dormir bastante. Já era quase hora do jantar e a fome começava a enfraquecê-la. Isto, porém, era menos importante do que o cansaço físico. Ficou a imagi­nar se o barão conseguira comunicar-se com o hotel e se falara com Janete ou Nicolas Lieber. De qualquer maneira não faria muita diferença. Janete jamais acreditaria que Andréa não tinha planejado toda aquela história. Mas como ela poderia saber que aquele chalé pertencia a Axel von Mahlstrom? Janete dissera que ele morava perto das pistas de esqui, porém fora muito vaga na informação.

Andréa suspirou e esticou a perna, cerrando os olhos. Se pudesse des­cansar mais um pouco, talvez se sentiria mais capaz de enfrentar o que certamente estava para acontecer...

 

                            CAPITULO VI

 

Quando Andréa abriu os olhos não conseguiu lembrar-se imediatamente de onde se encontrava. Então se deu conta do que acontecera e tentou mover a perna, percebendo que o cobertor sobre o qual estivera deitada agora cobria seu corpo. Era um tanto perturbador imaginar Axel von Mahlstrom erguendo seu corpo -adormecido e acomodando-o na cama.

Uma súbita rajada de vento fez com que flocos de neve se chocassem contra a janela. Apertou o roupão em torno do corpo e olhou o relógio de pulso: duas horas! Isto queria dizer que dormira durante quase oito horas.

Levou a mão ao estômago vazio, que doía. Não se lembrava de ter comido nada na véspera, e agora sentia uma fome incontrolável. Talvez por isso tivesse acordado.

Arriscou-se a estender as pernas para fora da cama e gemeu de dor, pois o joelho inchara terrivelmente. Foi pulando em uma perna só até o banheiro e encontrou o comutador de luz sem muita dificuldade. Ao re­gressar ao quarto a curiosidade a fez caminhar até a porta. No fundo do hall uma luz escapava pela fresta de uma porta, a da sala de estar. Andréa franziu o cenho. O barão ainda estaria de pé? Será que ele teria decidido passar a noite em claro? Não podia admitir uma coisa dessas, pois fora seu descuido e nada mais que ocasionara o acidente. Além do mais, sua conduta em relação ao barão deixava muitíssimo a desejar.

Amarrando o roupão, percorreu o hall com dificuldade e abriu a porta da sala de estar. A luz vinha de um abajur colocado sobre a escrivaninha e das achas de lenha na lareira. Inicialmente pensou que a sala estivesse vazia, mas logo percebeu o som de alguém que respirava forte e viu dois pés que saíam do sofá. Abriu a porta um pouco mais e entrou na sala, incapaz de resistir à tentação de contemplar o barão dormindo. Com uma das mãos entre as costas e a outra apoiando a cabeça, ele estava à vontade, apesar do sofá parecer pequeno. Seus cabelos eram sedosos e abundantes e ela sentiu um desejo enorme de acariciá-los. O que ele faria se ela o acordasse? Um sorriso ligeiro aflorou a seus lábios. Que impulsos ela poderia despertar nele senão o ressentimento e o desprezo?



  

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