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CAPÍTULO CATORZE



CAPÍTULO CATORZE

 

Juliet achou a carta na caixa de correio assim que chegou do trabalho.

Ela não costumava receber correspondências, exceto as contas, claro. Mas o papel fino do envelope advertia que não se tratava disso. Sem dar importância, colocou a carta na bolsa e subiu a escada, imaginando se tinha alguma relação com David. Mas o ex-marido jamais a procurou, e era improvável que houvesse regressado à Inglaterra. Com uma possível acusação de transferência fraudulenta de fundos pesando nos ombros dele, ela duvidava que tornaria a vê-lo.

O apartamento ficava no segundo andar, e Juliet largou o casaco e os sapatos de salto alto no hall estreito. Era a segunda semana de julho, em pleno verão, e a casa estava abafada. Juliet abriu as janelas. Em seguida, após respirar a brisa de ar fresco, voltou para a sala. Precisava de um banho, pensou, espiando a mancha horrorosa de catchup na saia. Os pais não deviam deixar as crianças comerem hambúrgueres no ônibus, pensou melancólica. Depois que o seu filho de seis anos deixa um hambúrguer cair no colo do passageiro ao lado, desculpar-se não é suficiente.

Ela já passava um verdadeiro sufoco para manter as roupas limpas, sem tempo o bastante para cuidar disso. Embora trabalhar numa pequena butique exigisse que se apresentasse razoavelmente arrumada. Sem contar que as saias curtas e os decotes exagerados que a gerente esperava que usasse não eram bem o que se chama de alta costura. Mas a clientela da loja tinha certas preferências, e Juliet sentia-se tão grata por ter um emprego que não pensava em reclamar.

Não que pretendesse continuar na butique mais do que o necessário. Estava freqüentando um curso noturno de informática e gerenciamento de escritório, com o objetivo de encontrar um cargo mais interessante antes do final do ano. Sentia-se otimista quanto a atingir a meta. O professor, um programador de computador aposentado, havia dito que ela tinha um verdadeiro talento para a profissão.

Não foi nada fácil. Particularmente depois de recusar o dinheiro que Cary lhe ofereceu quando retornaram da Cornualha. Ele a chamou de tola, mas Juliet já se sentia mal demais para aceitar o que suspeitava ser dinheiro de Lady Elinor. Após penhorar o relógio, ela conseguiu se sustentar, e a referência que Cary lhe deu bastou para Sandra Sparks, a gerente da butique, contratá-la.

Mas, agora, ela não podia mais protelar para abrir a carta. Apanhou uma faca e rasgou o envelope. Logo reparou que a carta fora enviada por uma firma de advogados de Bodmin. Bodmin! O coração disparou e a mão que segurava o papel começou a tremer. A carta informava o falecimento, o falecimento, de Lady Elinor Margaret Daniels de Tregellin House, Tregellin, Cornualha, e a convidava para a leitura do testamento, que aconteceria na segunda-feira, 2 de julho, após a cerimônia fúnebre na igreja de St. Mawgan, em Tregellin.

Juliet desabou na cadeira. Sentiu-se enjoada e comovida, o olhar fixo na carta, incapaz de acreditar no que acabara de ler. Lady Elinor, aquela senhor esperta, indomável, estava morta. Santo Deus, com Rafe devia estar se sentindo? Ele amava a avó, agora Cary herdaria Tregellin e a antiga casa seria vendida.

Curiosamente, não sentiu muita compaixão por Cary Desde, o início, os interesses dele eram óbvios. Queria vender Tregellin, avaliar o potencial da propriedade par investimentos imobiliários. Talvez até já planejasse que faria após o fechamento do inventário.

Mas Rafe era diferente. Ele amava Tregellin e defendeu a propriedade quando Cary sugeriu que a vendessem. Porém, agora que Lady Elinor se foi, nada impediria Cary de fazer o que bem entendesse. Oh, Rafe...

Juliet se levantou e andou em círculos pelo apartamento. Esforçou-se muito para esquecê-lo, e quase conseguiu. O tempo cura tudo. Aprendeu isso quando o pai morreu e David a traiu. Esperava que, com o passar do tempo, conseguiria pensar em Rafe sem emoção, mas a situação ainda não era bem essa.

Além do mais, foi tolice imaginar que esqueceria tudo sem sofrimento, apesar da lembrança daquele final de semana parecer um sonho. Foi muito real, admitiu. Foi ela quem a tornou ilusória. Fingindo ser a noiva de Cary, enganando todo mundo, especialmente Rafe.

E agora Lady Elinor morreu, talvez acreditando que ela e Cary se casariam. Por que mais a convidaria para a leitura do testamento? Juliet sentiu-se muito envergonhada.

Escreveria para o advogado, o sr. Peter Arnold, e explicaria que ela e Cary haviam rompido. Rompido!

Independente do que Cary havia dito ou deixado de dizer, tratava-se de uma ocasião familiar, e ela não tinha nada a ver com isso. Simplesmente escreveria um bilhete educado, expressando as suas condolências à família e justificando a ausência por motivos profissionais. Era verdade, em todo o caso. Ela não trabalhava na butique há tempo o bastante para merecer regalias. Todavia, quando as lágrimas inundaram os olhos, Juliet compreendeu que não queria recusar o convite. Gostava de Lady Elinor. Lamentava a morte dela de fato. E desejava prestar-lhe a última homenagem.

Saber que encontraria Rafe no funeral não era um problema, pensou. Como não havia recebido notícias dele desde que voltara, era óbvio que o que aconteceu não significou nada. Além do mais, eleja devia tê-la desmascarado como a mentirosa que era. Cary não conseguiria encobrir a farsa. Não sem a conivência dela.

Quando se deitou naquela noite, Juliet continuava indecisa quanto ao que fazer. Sob qualquer ângulo, a sua presença seria uma intromissão no luto da família.

Após a noite agitada, Juliet decidiu ligar para o advogado em Bodmin. Queria explicar que ela e Cary não estavam mais "juntos" e que, embora desejasse ir ao funeral, preferia não comparecer à leitura do testamento.

Juliet precisou aguardar o intervalo matinal para telefonar. E, então, fizeram-na esperar alguns minutos até que um homem atendesse.

- Srta. Lawrence? - Juliet confirmou. - Ah... ótimo. O que posso fazer por você? Sou Stephen Arnold, o filho dele. Receio que meu pai esteja ocupado com outro cliente.

Juliet conteve um suspiro e explicou resumidamente porque havia telefonado. Não entrou em detalhes, mas deixou claro que já não tinha nenhuma ligação com a família Daniels.

- Gostaria de comparecer ao funeral - prosseguiu -mas regressarei a Londres assim que terminar. Acho que o convite para comparecer à leitura do testamento foi um engano.

- Oh, não. Você é uma das herdeiras, srta. Lawrence. Juliet quase engasgou.

- Não... não é possível. Não sou membro da família.

- Meu pai sabe disso, srta. Lawrence. Mas Lady Elinor incluiu a cláusula a seu favor, e contou a ele que você era uma moça que ela gostava e admirava.

Admirava!

Juliet morreu de vergonha. Se ao menos houvesse revelado a verdade à senhora...

- Então, você estará presente? Meu pai está ansioso para conhecê-la.

Jura? Juliet não disse a palavra em voz alta, mas deve ter respondido alguma coisa coerente, porque segundos depois a ligação caiu è ela colocou o fone no gancho.

- Algum problema?

Juliet ainda estava sentada no escritório, olhando fixo para o telefone quando Sandra Sparks apareceu.

A jovem gerente fitou a mais nova funcionária com preocupação e Juliet confirmou com a cabeça.

- Pode-se dizer que sim. Tudo bem se eu tirar uma folga na próxima segunda-feira? Preciso ir a um enterro.

Sandra fez uma cara aborrecida.

- Algum parente, é?

- Não.

- Oh, querida. Os empregados só podem tirar folga para comparecer ao enterro de familiares. Uma licença solidária, por assim dizer. Sinto muito mesmo, Juliet, mas não posso permitir que vá.

- Mas eu tenho que ir! Eu... prometi. É importante, Sandra.

Sandra suspirou de novo.

- Onde é o enterro? Talvez eu possa deixar que você se ausente por umas duas horas. Precisa guardar segredo, lógico. Se espalharem por aí que tenho o coração mole, todas as garotas vão usar isso como desculpa.

- Duas horas não bastam, infelizmente. O funeral é na Cornualha. Num lugar chamado Tregellin. Lady... Lady Elinor Daniels é, ou mehor, era, alguém que conheço há muito tempo.

O que não foi um exagero tão grande assim.

- Lady Elinor Daniels? Então, você a conheceu?

- E uma longa história. Ela conhecia o meu pai. Só recentemente, muito recentemente, passei alguns dias na casa dela. Poder dizer adeus significaria muito para mim.

- E você só precisaria de um dia? Juliet assentiu.

- Eu parto no domingo e volto na segunda à noite. Aposto que não faltarão vagas nos trens. É temporada de férias, afinal.

 

Então, eles continuavam juntos.

Cary confirmou que sim, mas Rafe recusou-se a acreditar. Da última vez em que Cary visitou a avó, Juliet não foi junto. Cary inventou uma desculpa qualquer, alegando que ela estava gripada e não queria contagiar Lady Elinor, mas Rafe desconfiou. Apesar de não ter coragem o bastante para conferir por si próprio.

O que não era um problema, dadas as circunstâncias, pensou melancólico, os olhos fixos no casal parado do lado oposto da sepultura. Mas isso não impedia que sentisse raiva. Tanta raiva que quase o sufocava.

Talvez esperasse que Juliet não comparecesse, que ainda lhe restasse um pingo de decência. Ela já era noiva de Cary quando fez amor com ele e, apesar da aparência inocente, ainda o era. Como agüentava estar ali, ao lado de Cary, bancando a manteiga derretida, quando ele sabia muito bem como ela era quente?

De braços dados com Rafe, Josie fitou-o, curiosa. Os olhos, embora atentos, permaneciam inchados de tanto chorar.

- Qual é o problema?

- Que problema? - Rafe indagou, amargurado, - A velha está morta e Cary mal pode esperar para colocar as mãos em Tregellin. Perfeito.

- Você não devia tirar conclusões precipitadas, Rafe. A sua avó podia ser velha, mas não era burra.

Dê-lhe algum crédito, está bem? Pensei que descobrir tudo sobre as pinturas lhe ensinaria que ela também tinha alguns segredos.

- Também? Eu não tenho segredos. A minha vida é um livro aberto.

- É mesmo? Ah, ótimo, logo saberemos. Quando o sr. Arnold ler o testamento.

Rafe riu. Seria tão hipócrita ficar lá, parado, esperando para ver o quanto a avó lhe deixou. Cary estaria lá, e Juliet também. Carniceiros, todos os dois, pensou furioso. Ambos se mereciam.

Mesmo assim, não conseguiu impedir que as imagens da última vez em que viu Juliet invadissem a sua mente. Talvez preferisse esquecer como ela pareceu despudoradamente bela quando lhe contou que não pretendia romper o noivado, mas era inevitável. E naqueles três meses desde que ela deixou Tregellin, ele viveu em completo celibato. Nunca foi muito promíscuo, porém, nunca sentiu tamanha aversão a fazer sexo com uma mulher qualquer. Talvez esse fosse o problema, ponderou, tenso. Não apenas ver Cary e Juliet juntos, e sim o fato de que se passaram meses desde a última vez em que fez amor. Assim que essa farsa ridícula terminasse, ele dirigiria até Bodmin, tomaria umas cervejas e arranjaria uma mulher. Qualquer mulher servia, pensou. Desde que conseguisse expulsar Juliet dos pensamentos.

Enquanto isso, Juliet não percebeu que Rafe a encarava do outro lado do túmulo. Se ainda duvidasse da natureza dos sentimentos dele, agora podia ver o quanto foi tola. Ele não gostou de vê-la ali, óbvio. Aquela aventura sexual foi algo que ele logo esqueceu.

Certo, ela era culpada por não contar a verdade quando ele perguntou sobre o noivado com Cary. Mas ela estava num beco sem saída, sabendo que tudo que dissesse prejudicaria Cary. Com certeza, o fato de que ela e Cary haviam rompido, na visão dele, poderia significar alguma coisa. Caso Rafe se dignasse a ouvir, ela se explicaria. O que evidentemente ele não queria, a julgar pela sua atitude. Juliet suspirou e Cary olhou para ela.

- Já vai acabar - avisou ele. - Depois vamos voltar para a casa.

Ou melhor, "saber o que o testamento diz", Juliet deduziu tristonha.

A cerimônia terminou e Rafe agachou-se para jogar um punhado de terra sobre o caixão.

- Descanse em paz, minha velha - sussurrou baixinho, antes de voltar para o estacionamento.

Juliet tentou correr atrás dele, mas Cary a deteve.

- Onde você pensa que vai?

- E isso é da sua conta? - Desde que voltou a Tregellin, Cary a tratava com um ar possessivo. - Eu o encontro na casa.

- Você quer falar com ele, não é? Bem, esqueça isso, querida. É comigo que você deve ser vista.

- Por quê?

- Porque... ainda pensam que somos um casal - resmungou Cary. - O que mais eu poderia dizer? Você queria que a vovó descobrisse que andei mentindo?

Horrorizada, Juliet não acreditou no que ouviu.

- Então, você acha que só fui convidada por sua causa?

- Parece que sim.

- Não acredito em você. Bem, é melhor avisar a todo mundo que o "noivado" acabou. E não me siga, Cary. A menos que deseje que eu anuncie o fato de que nunca existiu noivado nenhum.

Recostado num dos carros fúnebres, à espera de Josie, Rafe viu Juliet se aproximar. Preferia ter usado o próprio automóvel, mas Josie insistiu que ele a acompanhasse numa das limusines.

Sentiu os músculos da face retesarem quando Juliet parou ao lado dele. Não seria o primeiro a falar, pensou, numa atitude infantil. Apesar da proximidade afetar o seu equilíbrio.

Juliet parecia tão inocente, reconheceu, ressentido. O terninho cinza claro e a blusa salmão de Juliet demonstravam a medida exata de respeito, pois Lady Elinor jamais desejaria que ninguém usasse preto. De saltos altos, ela só precisava erguer o queixo um pouquinho para olhá-lo nos olhos. Os cabelos sedosos estavam presos num coque frouxo.

- Oi - disse Juliet, e Rafe a cumprimentou com um aceno da cabeça. - Só queria dizer o quanto lamento a passagem de Lady Elinor. Ela... parecia tão forte. Fiquei chocada quando recebi a carta do sr. Arnold.

Este detalhe chamou a atenção dele.

- Arnold lhe escreveu?

- Isso mesmo.

- Porquê?

- Eu não sei. Liguei para ele. Pensei que devia ser algum engano. Ele, ou melhor, o filho, disse que não.

- Está dizendo que Cary não lhe contou sobre a doença dela? Perdoe-me, mas até para Cary isso parece improvável.

- Como ele poderia me contar? Não o vejo desde que voltamos da Cornualha.

Rafe não conseguiu disfarçar a raiva.

- Espera que eu acredite nisso? Que tipo de relacionamento vocês têm? Aberto, claro. Mas fingir que não o viu...

- Não me encontrei com ele desde aquela época! Ah, por que me preocupar? Você não acreditaria mesmo. Cary encheu a sua cabeça com tantas mentiras que nada que eu diga faria qualquer diferença.

- Certamente, não.

- Ah, acredite no que você quiser. Acaso lhe interesse, nunca existiu noivado nenhum. Cary me persuadiu a fingir que era namorada dele. Foi idéia de Cary. Concordei porque precisava de dinheiro. E ele prometeu me dar uma carta de referência para que eu conseguisse arranjar um emprego decente...

Rafe encarou-a, incrédulo.

- Cary pagou você!

- Era o combinado, mas... no final, eu não aceitei o dinheiro. Depois de... conhecer Lady Elinor, me senti uma... uma...

- Cobra?

-... uma vigarista- completou baixinho, sentindo as lágrimas arderem nos olhos. Mas Rafe não se comoveu.

- Meu Deus, não é de se admirar que se mostrasse tão angustiada quando perguntei se pretendia romper o noivado. A vovó teria chutado os dois para fora daqui se soubesse a dupla de mentirosos que vocês são.

- Acha que eu não sei?

- Então, você não se arrepende?

- Oh, Deus, claro que sim! Mas não podia prejudicar o Cary, sabe? Você não vê?

- Vejo uma mulher gananciosa e oportunista. Mas, ei, ainda não está na hora de terminar o noivado, mocinha. Não quando Cary está prestes a faturar uma bolada.

Juliet gelou.

- Já disse, não existe noivado nenhum!

- Então, quem sabe chegou a vez de reconsiderar essa hipótese?

- Acha que eu ligo para dinheiro? - perguntou, amargurada.

- Costumava ligar.

- Não! Eu estava praticamente falida. Precisava de algumas libras, mais nada. Só para me sustentar até encontrar trabalho. Mas agora tenho um emprego, portanto, não preciso da caridade de ninguém. E nada,nada, me convenceria a casar com Cary Daniels. Eu sequer gosto dele. - Sentiu uma leve tontura, mas quando Rafe tentou ampará-la, Juliet se esquivou. - Assim que tudo isso acabar, eu vou embora.

 

 



  

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