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CAPÍTULO UM 9 страница



Mas contar a Christian estava fora de questão. Ao mandá-lo embora, tinha destruído qualquer afeto que ele pudesse ter sentido por ela. Tinha de encarar o fato de que era a única responsável e continuar com sua vida. Ela não era uma criança. Não precisava de nin­guém para segurar sua mão.

Então, cerca de cinco semanas antes de o bebê nascer, Christian telefonou.

Olívia atendeu o telefone, esperando que fosse Luis. Seu enteado tinha telefonado todas as semanas desde que voltara a Berkeley, só para lhe dizer que estava bem, e ela ficou surpresa quando escutou o sotaque de Christian.

— Olívia? — Ela engoliu.

— Quem mais poderia ser? — ela respondeu, con­tente por ter o braço do sofá atrás dela. Suas pernas estavam mesmo tremendo e não conseguia decidir se es­tava contente ou se lamentava. Contente porque tinha ansiado tanto ouvir a voz dele, e lamentando, porque falar com ele a lembrava dolorosamente do que nunca poderia ter.

— Como você está? —- perguntou ele e havia uma preocupação genuína em sua voz, um fato que, estupidamente, fez surgir lágrimas quentes nos olhos dela.

— Eu... eu estou bem — disse ela, decidindo não lhe contar sobre a posição do bebê. — Hum... um pouco cansada, talvez. Mas isso é normal nestas circunstân­cias. Estou um pouco sozinha. Luis foi embora há algu­mas semanas.

— Eu sei disso.

— Você falou com ele? — Claro que tinha falado. Era óbvio que Luis contaria a Christian sobre seu para­deiro.

Porém sua preocupação deve ter transparecido em sua voz, porque ele disse secamente:

— Eu não lhe contei segredo algum, se é disso que você tem medo.

— Otimo.

Era um alívio tão grande falar com alguém que sa­bia.

— De qualquer jeito, espero que você não esteja exagerando com a escrita e tudo isso — ele continuou. — Estar concentrada é cansativo. Eu sei disso.

— Ah, eu não estou escrevendo agora. — Ela estava contente por ter algo positivo para contar para ele. — Acabei meu livro logo depois de Luis ter partido para a Califórnia. Está com um editor agora mesmo.

— Foi aceito?

— Ainda não — disse ela com otimismo deliberado. — Mas estou vivendo na esperança.

— Entendo. — Christian hesitou. — Você preferiu não deixar um agente literário dar uma olhada primeiro no livro?

— Não. — Ela não podia lhe contar que pouco tinha pensado no livro desde semanas atrás. — De qualquer jeito, eu não conheço nenhum agente literário.

— Eu conheço.

— Oh, certo. — Olívia foi sarcástica. — E você es­taria disposto a me ajudar depois do jeito que eu me comportei quando você ofereceu sua ajuda antes?

— Eu não guardo ressentimentos — retorquiu Chris­tian meigamente.

Respirando com alguma dificuldade, ela disse:

— E aí... como vão as coisas com você? Como está Julie? Tão louca por você como sempre, suponho.

— Duvido. — Christian foi vago. — Não vejo Julie há meses. Nós nos separamos na semana anterior à mi­nha ida para San Gimeno.

— Ah...

— O que quer dizer com isso?

— Nada. — Olívia se recusou a admitir que isso explicava sua súbita chegada à ela. — E então... quem tomou o lugar dela? Alguém que eu conheço?

— Pare de me tratar como um garotinho de escola, Olívia. — A voz dele tinha endurecido. — Eu não sou uma criança. Eu não preciso de dúzias de mulheres para provar minha masculinidade, como fez o Tony.

Olívia estremeceu.

— Peço desculpas.

— Não, você não está pedindo — disse ele duramen­te. — E em vez de assumir que a razão pela qual eu fui para San Gimeno foi por ter terminado com a Julie, você deveria assumir a alternativa: que eu me separei da Julie porque queria ver você.

— Isso não me parece muito provável — protestou ela, apesar de seu coração ter pulado ao pensar nisso. — Mas obrigada por dizer.

— Por que é tão difícil para você acreditar que eu posso estar sendo sincero no que falo? — questionou ele. — Raios, Olívia, até eu descobrir sobre o bebê, pensei que você estava começando a gostar de mim, a confiar em mim. O que eu fiz de errado?

— Você não fez nada errado. — Ela respirou nervo­samente. — E eu gosto de você, Christian. Mas você sabe que você e eu nunca... daria certo.

— Porque sou primo do Tony — disse ele secamente.

— Nós não somos compatíveis — ela insistiu. — Além de tudo mais, eu sou mais velha que você e...

— Ah — ele resmungou. — Estava me perguntando quando você falaria nesse assunto.

— Bem, é verdade — disse ela. — Você não pode negar. Mas a maior razão é porque eu sempre saberia que você só me pediu para casar por causa do bebê. O seu bebê. Eu me sinto lisonjeada em saber que você estaria preparado para fazer o sacrifício, mas isso não me impede de ver todas as falhas.

— Tudo o que vejo é você elaborando razões para não ser honesta comigo — disse ele num tom amargo. — Está bem. Talvez a minha proposta tenha sido prematura, mas isso não significa que não tenha sido sincera.

— Eu acredito em você. — E acreditava mesmo. — Mas estou sendo honesta com você.

— Eu não acho que você alguma vez vai me perdoar por ter abusado de você — ele disse cansado. — Por ter feito amor com você na noite em que Tony morreu, você acredita que eu provei o que você sempre pensou: que não sou melhor do que ele.

Ele desligou o telefone antes que ela pudesse res­ponder e, apesar de ela ter dito para si mesma que era melhor assim, não podia evitar desejar ter tido tempo para explicar como se sentia. Na verdade, ela não cul­pava Christian; ela se culpava pelo que tinha aconteci­do. E agora era tarde demais para se questionar o que teria acontecido se eles não tivessem sucumbido àquela fome impetuosa de desejo sexual.

A chamada foi cedo de manhã. Christian, que não dormia direito fazia semanas, acabara de engolir meia garrafa de uísque e perdera a consciência quando o te­lefone ao lado de sua cama o acordou.

Praguejando, ele estendeu a mão trêmula até o tele­fone, sem vontade de lidar agora com os problemas de outra pessoa.

— Alô? — disse ele asperamente, desafiando quem quer que estivesse do outro lado, e depois praguejou outra vez quando cortaram a chamada. Largando com força o gancho no aparelho, voltou a afundar nas almo­fadas, pousando o braço contra a testa, numa resignação cansada. Só mesmo o que precisava, pensou ele. Uma chamada anônima.

Arruinada sua tentativa de adormecer, meia hora de­pois ele acendeu as luzes e se levantou, caminhando até as janelas com cortinas do seu apartamento e espreitan­do para fora.

Involuntariamente, ele se perguntou como estaria o tempo em San Gimeno. Quando falou com Olívia, há alguns dias, não se lembrou de perguntar. Bastante quente, calculava. Bastante cansativo também, para alguém no estado dela.

Até ele próprio ter ligado, mantinha-se informado sobre como ela estava por meio de Luis. Tinha sido fácil perguntar sobre Olívia quando estava falando com o jovem. Não que Luis lhe pudesse dizer algo significa­tivo, mas, pelo menos, saberia se algo estivesse errado. Luis ainda pensava que ele mantinha alguma animosi­dade contra ela e era um desafio enorme persuadi-lo do contrário.

Agora, ele se afastou das janelas se perguntando ou­tra vez quem poderia ter telefonado. A suspeita de que Luis possa estar metido em algum problema era a que mais acorria a sua mente. Podia ser Dolores Samuels, claro. Ela ficara chateada quando ele tinha providen­ciado para que fosse transferida para fora do estado. Mas ele não agüentava suas constantes insinuações so­bre Olívia.

Não adiantava tentar mudar a opinião de Olívia nes­te momento. Ela estava determinada a ter o bebê sem a ajuda de ninguém e cabia a ele não lhe causar mais estresse do que já tinha. Mas depois de o bebê nascer, ela poderia escutar a razão. Embora ele não mantivesse muitas esperanças. Não até ela ter apagado a imagem dele como cópia de Tony em sua cabeça.

Tinha tentado descobrir para onde ela enviara seu manuscrito. Mas sabia que ela não iria lhe agradecer, se ele interferisse. Tinha de aceitar a situação como estava e seguir em frente. Pelo menos, até o bebê nascer.

Quando Luis ligou, às oito e meia, Christian já esta­va em seu escritório no Edifício Mora, bebendo uma xícara de café e tentando entender as atuais estatísticas econômicas. Com metade do mundo em recessão, a Corporação Mora tinha de se manter à frente do jogo.

O telefone tocou estridente ao seu lado e ele pegou o gancho quase com gratidão.

— Rodrigues — disse, esperando que quem estava chamando estivesse no outro lado do mundo. Mas em vez do outro lado do mundo, estava do outro lado do país. E, olhando rapidamente para seu relógio, Christian sentiu a mesma apreensão que sentira no meio da noite.

— Luis? — disse ele, em resposta à saudação sem fôlego do jovem. — Dios, desde quando você levanta às cinco da manhã?

— Desde que fui avisado de que mamãe está no hospital — retorquiu Luis, sem hesitação. — Raios, Chris, você sabia que ela estava esperando um bebê?

O estômago de Christian afundou e as numerosas xícaras de café que tinha consumido subiram por sua garganta.

— Eu... como você descobriu isso? — ele gaguejou, incerto de como deveria lhe responder. Deveria ter se lembrado de que o hospital entraria em contato com Luis. Sem dúvida ele estava cadastrado como o parente mais próximo dela.

— Eles me telefonaram — respondeu Luis, sem perceber a hesitação de Christian. — Tentaram me contatar ontem à noite, mas... bem, eu não passei a noite no meu quarto. — Ele parou de falar e Christian escutou o que se parecia um soluço em sua voz.

— Ela está bem? — perguntou, seu cérebro final­mente entrando em ação. — Você diz que ela está no hospital. Eu... ela já teve o bebê? Não estava previsto para nascer daqui a semanas?

— Eu acho que ela vai ficar bem — disse ele com pouca segurança, e Christian teve de conter as palavras que queria dizer. O fato era que a independência de Olívia tinha deixado a todos numa posição difícil.

— Luis!

O rapaz não estava dizendo nada e Christian não po­dia esconder sua impaciência. Pelos seus cálculos, o bebê não nasceria senão daí a um mês. Isso era normal? Ele desejou ter prestado mais atenção às lições de bio­logia na escola.

— Ela devia ter me falado — repetiu Luis, e Chris­tian se apercebeu que o rapaz estava tenso. — Todas aquelas semanas que estivemos juntos ela nunca disse uma palavra sobre um bebê. Eu não ia deixar que ela cuidasse de mim se soubesse que estava grávida.

— Agora não importa, Luis — disse Christian se controlando. — Me conta o que aconteceu ontem à noi­te. Olívia está bem?

— Eu penso que sim. Sabe, eu nunca planejei ir à festa de Marvin. Mas toda a galera estava indo e...

— Luis, eu não estou interessado onde você passou a noite. — Christian estava quase atingindo seu limite e a tensão estava começando a surgir em sua voz. — Quem telefonou para você? Quando telefonaram? O que lhe disseram?

— Ei, você não precisa falar comigo nesse tom, cara. — Luis tinha voltado a si e Christian entendeu que es­tava em perigo de perder o único aliado. — O médico telefonou. Eu não sei que horas eram. Por volta da meia-noite. Não tenho certeza. Então, ele telefonou ou­tra vez, agora mesmo quando eu estava entrando.

— Está bem. E então... ela teve o bebê, não? Foi por isso que ele ligou?

— Foi? — interrompeu Luis. — Você sabia, não sabia? É por isso que você está tão calmo com o assun­to. Mas por que ela contou para você e não para mim?

Os olhos de Christian se fecharam.

— Isso importa? — perguntou ele. — Me diga só o que o médico falou.

— É seu, não é? — continuou Luis, ignorando a ur­gência do outro. — Meu Deus, há quanto tempo você anda transando com mamãe? Isso começou antes de papai ter comprado a fazenda?

— Não! — Christian não conseguia tirar a agonia de sua voz. — Não, não começou — disse ele. — E eu não tenho andado... transando com sua mãe, como você tão encantadoramente falou. Eu fiz amor com ela uma vez. Só uma vez.

— Por que eu deveria confiar em você?

— Porque eu nunca menti para você.

— Isso não altera o fato de que deveriam ter me contado que ela ia ter um bebê — insistiu ele. — Eu sou filho dela. Por que haveria de querer esconder isso de mim?

— Ela queria esconder de todo mundo — disse Christian exausto. — Eu só descobri porque... bem, porque sim. — Ele respirou fundo e acrescentou seca­mente: — Acho que tenho mais experiência com estas coisas que você.

— Você tem certeza de que não estavam... você sabe, transando, enquanto você esteve na casa?

— Não! — Christian estava inflexível. — Eu contei para você o que aconteceu e essa é a verdade.

— Então é por isso que vocês estavam sempre tão hostis um com o outro — Luis considerou pensativa­mente. — Acho que mamãe estava lamentando o que tinha acontecido. — Ele fez uma pausa. — Você la­mentou?

— Não. — Luis queria gritar tal era sua frustração. — Luis, podemos discutir isto mais tarde quando tiver­mos mais tempo. Depois de você me ter contado o que aconteceu com Olívia ontem à noite.

— Acho que sim. — Mas Luis agora não parecia ter nenhuma pressa em tranquilizá-lo. — Mas como vou saber se mamãe quer que eu fale com você?

— Luis!

Finalmente, a raiva de Luís pareceu atingir seu pri­mo e, com um resmungo displicente, disse:

— É isso aí, foi uma pena isso do bebê. Foi um... um parto prematuro, acho que foi o que o doutor falou. Eles estavam planejando fazer uma cesariana. Mas ma­mãe entrou em trabalho de parto e eles tiveram de tirar o bebê de qualquer jeito.

— Olívia — disse Christian, desesperado. — Olívia está bem?

— Como eu falei antes, penso que sim. Mas o doutor me falou que ela perdeu muito sangue. Foi por isso que me telefonaram. É isso, eu sou o seu parente mais pró­ximo.

Christian não soube como conseguiu controlar seu mau gênio. A raiva saltando dentro de si era quente e dolorosa e real. Queria estrangular Luis por protestar sobre o que Olívia devia ou não devia ter lhe contado. Ela perdera muito sangue. Pode ter perdido o bebê. Ele tinha de ir para San Gimeno imediatamente.

— Você está bem? — perguntou Luis subitamente, como se tivesse tomado consciência de que Christian se calara e este se forçou a dar uma resposta adequada.

— Sim — disse ele, sua cabeça ainda girando. — Mas tenho de vê-la, Luis. Falo com você mais tarde, depois de descobrir exatamente o que está acontecendo.

— Ei, eu vou também, cara — protestou Luis. — Logo que possa pegar um avião.

— Bem, eu encontro você lá — disse Christian, não demonstrando nenhuma intenção de esperar ele chegar a Miami. — Cuide-se.

— Espere.

Quando estava prestes a cortar a ligação, o grito de Luis o fez parar.

— O que houve? — perguntou, não querendo conti­nuar discutindo.

— Por que você vai vê-la? — perguntou Luis. — Se você e mamãe... foram um caso só de uma noite, por que você precisa vê-la agora?

— Porque eu a amo — respondeu ele simplesmente. — Pode ser difícil você acreditar, mas eu não imagino viver o resto da minha vida sem ela. Mas você tem razão, ela não gosta de mim. Por isso queria me afastar. Mas, me desculpe, eu não posso me preocupar com a reação dela neste momento.

 

 

CAPÍTULO ONZE

 

 

Olívia colocou a mão trêmula sob o lençol, que era tudo o que a cobria e ficou bastante surpresa ao sentir que seu ventre não estava completamente liso. Para al­guém que se sentia como se tivesse sido atropelado por uma locomotiva, estava ainda demasiado gorda para ter tido o bebê.

Mas já o tinha tido. Neste momento, sua filha estava dormindo no berçário do hospital, sem saber que sua chegada precipitada quase havia custado a vida de sua mãe. Olívia encontrava-se sozinha em casa quando as primeiras dores a pegaram. Ainda por cima, tinha libe­rado Susannah durante a noite para ir ao cinema. E, apesar da governanta ter oferecido ficar com sua pa­troa, Olívia tinha assegurado que levaria bastante tem­po até o bebê nascer.

Que ela não tinha bastante tempo ficou evidente quando a bolsa arrebentou. Percebendo que estava ten­do contrações em intervalos regulares, Olívia pegou sua mala e cambaleou até ao jipe. Sem o carro, ela teria de depender de um táxi. E, àquela hora da noite, não havia garantia de que houvesse algum disponível.

Pensou em chamar a ambulância, mas ter um bebê não era uma emergência, ela tentou tranqüilizar a si mesma. Era só um pouco assustador quando se estava sozinha. Mas, se conseguisse só chegar ao hospital, ela confiava muito no Doutor Collins. Ele saberia o que fazer.

De fato, ela chegou ao hospital em cima da hora. Tinha muitas dores e concentrar-se na estrada fora qua­se impossível. Ao entrar cambaleando no serviço de emergência, estava tão branca como a pintura das pare­des. Mas tinha sido um alívio tão grande poder relaxar.

Mesmo assim, o resto da noite tinha se tornado um pesadelo. Foram exames e mais exames e durante todo esse tempo ela teve de suportar a dor. Eles não quise­ram dar-lhe nenhuma droga até se certificarem de que o Doutor Collins iria operá-la. Mas logo ficou claro que seria perigoso demais tentar uma cesariana.

Pela manhã, a dor havia se tornado insuportável e o médico sugeriu telefonar para Luis, no intuito que ele desse apoio a ela. Mas Olívia tinha recusado. A última coisa que ela queria era colocar o enteado em pânico, particularmente porque ele nem sabia que ela estava esperando um bebê.

Ao entardecer, Olívia estava totalmente exausta. Sa­bia que o Doutor Collins e as enfermeiras estavam preocupados. Seus rostos a tinham convencido disso. Tinha certeza de que ia morrer, ela e seu bebê, e, num momento de fraqueza, ela desejou ter coragem para telefonar para Christian e pedir-lhe para vir.

Então, quando parecia que nada de bom podia acon­tecer, fazendo uma força enorme, tinha conseguido ex­pelir as pernas do bebê de seu útero. Isso tinha permiti­do que o médico, que lhe parecia tão cansado quanto ela, a ajudasse a virar o bebê, e segundos depois sua filha veio ao mundo.

Não se lembrava de muitas coisas depois disso, só do momento em que eles colocaram o bebê em seus braços. Ela estava tremendo tanto que mal conseguia segurá-la, mas tinha visto seus cabelos escuros e sua pele morena e soube que ela parecia com o pai.

Então pegaram a menina de seus braços para que pudessem cuidar dela. Vozes abafadas falavam sobre sua cabeça, mas ela estava demasiado tonta para se im­portar com o que estava sendo dito. Sabia que estava sangrando muito. Ela podia sentir. Mesmo assim, esta­va tão aliviada que a dor tivesse desaparecido que não tinha entendido o que significava.

Aparentemente, tinha demorado várias horas para que o bebê nascesse, várias horas durante as quais tinha dado permissão ao médico para telefonar a seu enteado com as notícias. E, até o Doutor Collins ter vindo vê-la de manhã e ter lhe falado como tivera sorte, não tomara consciência do fato de ter estado tão próxima da morte.

Mas agora o sol estava brilhando, ela acabara de to­mar um banho refrescante e estava se sentindo muito melhor. Apesar de tudo, estava suficientemente forte para se questionar o que Luis deve ter pensado quando soube que ela tinha tido um bebê.

E Christian? Ela sabia que não devia pensar em Christian agora, não enquanto estivesse se sentindo tão frágil. O problema era que, em seu estado, era provável que ela dissesse ou fizesse algo estúpido. Como esperar que ele amasse o bebê.

Uma sombra escureceu a entrada subitamente. Ela virou a cabeça e viu uma enfermeira entrando em seu quarto, empurrando um carrinho onde estava pousado um telefone. Olívia sentiu seu coração acelerar, mas isso foi porque, durante um momento, esperou que pu­desse ser Christian. Ou Luis, corrigiu-se rapidamente. Mas o jovem não podia ter vindo de São Francisco num espaço de tempo tão curto.

— Tem uma chamada, senhora Mora — disse a enfermeira, inclinando-se para conectar o fio. — É seu filho.

— Luis... — Olívia sentiu uma ansiedade momentâ­nea, mas então acenou com a cabeça. Tinha de falar com ele mais cedo ou mais tarde.

— Tem certeza de que quer falar com ele? — A jovem enfermeira percebera sua hesitação, e Olívia sentiu vergonha por estar tão relutante em falar com seu enteado.

— Por favor — disse ela com convicção, tentando se erguer mais nas almofadas, e a enfermeira veio aju­dá-la.

— Voltarei dentro de alguns minutos. Tente não se agitar demais. É importante manter sua pressão arterial sob controle.

— Tentarei — disse ela e colocou o gancho no ouvi­do. Ela sorriu quando a enfermeira saiu, e disse, hesi­tante:

— Luis? Luis, é você?

— Quem você estava esperando? — perguntou Luis de mau humor. — Rodrigues, suponho. Ele me contou que é o pai do bebê. Você e ele devem ter estado rindo de mim!

— Não. — Olívia estava horrorizada que ele pudes­se pensar uma coisa dessas. — Luis, você sabe que eu nunca faria nada para machucá-lo.

— Então, por que você não me disse que estava grá­vida dele? — Luis exigiu saber. — Mamãe, você deve ter pensado em como eu me sentiria sabendo das novi­dades por outra pessoa. O Chris é legal e eu gosto dele. Mas, pô, mamãe, eu merecia que tivessem me contado a verdade.

— Eu sei. — Olívia admitiu que o magoara. Embora involuntariamente, mas isso não era desculpa. — Esta­va envergonhada demais para admiti-lo. Eu não queria que pensasse coisas ruins acerca de mim.

— Envergonhada? — Luis fora apanhado de surpre­sa. — Ei, mamãe, não há razão para você se sentir en­vergonhada. O que você faz com sua vida agora é pro­blema seu. — Parou de falar por um momento e, quan­do recomeçou, sua voz estava mais meiga. — Eu sei que você passou muito mal durante umas horas. Como está se sentindo agora?

— Eu estou... bem — disse ela, não querendo inco­modá-lo com todos os detalhes. — E... e sua irmãzinha também está bem, se lhe interessa saber.

— Se me interessa saber? — Luis protestou. — Eu tenho uma irmãzinha? Mal posso esperar para vê-la.

— Bem, logo que você possa vir, ficarei feliz em vê-lo — murmurou Olívia.

— Estarei aí hoje de tarde — declarou Luis de re­pente, trazendo-a de novo à realidade. — Você pode dizer para Chris quando ele chegar que pegarei o vôo das onze horas.

— Chris? Quer dizer, Christian? — A boca de Olívia ficou seca e ela mal podia articular as palavras. — Ele está vindo para cá? — Oh, ela não queria vê-lo. Como iria conseguir esconder seus sentimentos agora se ele se mostrasse amável?

— O cara está em choque. Seja boazinha com ele, mamãe. Ele está se sentindo bastante desolado porque você também não queria que ele soubesse.

Olívia estava ainda segurando o telefone quando a enfermeira voltou. Ela tirou o gancho da mão de Olívia e o recolocou no aparelho. Então ela disse, em tom re­provador:

— O que aconteceu? O que foi que seu filho falou para a senhora, dona Mora? Espero que não a tenha perturbado. Você está pálida como um fantasma.

— Eu estou bem — disse ela, forçando um sorriso para acalmar a enfermeira. E então, mais firmemente, perguntou: — Quando posso sair desta cama?

— O Doutor Collins vai decidir quando que a senho­ra estará suficientemente recuperada para poder se le­vantar — declarou a enfermeira, ajeitando as suas al­mofadas e endireitando o lençol. — Agora, vou sair para deixá-la repousar e, dentro de uma hora, vou trazer sua filha. Você vai necessitar de toda sua força quando a pequenina precisar mamar.

A enfermeira saiu e, apesar de sua determinação em se preparar no caso de Luis ter razão e Christian apare­cer, os olhos de Olívia se recusaram a ficar abertos. Ela cochilaria só um pouquinho, pensou, sentindo-se agra­davelmente sonolenta. A enfermeira viria avisá-la se ela tivesse alguma visita.

O toque leve em sua mão também era agradável. So­nhava, e no sonho Christian estava ao lado de sua cama. Mas era um sonho porque havia lágrimas em seus olhos e o rosto do pai da sua filha parecia pensativo e abatido de um jeito que ela nunca tinha visto antes. Ele dizia algo — seus lábios estavam se movendo —, mas ela não podia escutar o que era.

Então, os dedos que seguravam os seus se apertaram e todas as ilusões de que isto fosse apenas um sonho desapareceram. Com os olhos abertos e espantados, ela olhou o rosto moreno e atormentado de Christian. Não estava imaginando. Ele tinha mesmo um aspecto exte­nuado. E quando ela olhou fixamente, ele soltou sua mão, como se tivesse receio de que ela pudesse ficar ofendida por seu toque.

— Graças a Dios, você está bem!

A língua de Olívia rodeou seu lábio superior.

— Eu... eu estou muito bem. Não era preciso você ter vindo.

— Claro que eu precisava vir. Olívia, eu não sabia o que pensar depois de ter recebido o telefonema de Luis. Ele dizia que era uma questão de vida ou morte!

— Você sabe como Luis pode ser melodramático — disse ela, concentrando-se em suas mãos, quase tão pálidas quanto o lençol. Assim não tinha de olhar para Christian, de notar com olhos esfomeados que, apesar de atormentado, ele ainda era atraente.

— No obstante, todavia — disse ele agora pouco seguro, agachando-se ao lado da cama —, você deveria ter me mantido informado. Você não tem idéia de como eu me senti impotente quando Luis me contou o que aconteceu ontem à noite. Eu queria estar com você, querida. — Ele parou de falar e então acrescentou: — Eu sei que você não quer ouvir isto neste momento, mas eu ainda quero fazer parte da sua vida.



  

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