Хелпикс

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CAPÍTULO UM 2 страница



— É. — Luis lançou novamente um olhar agradeci­do ao homem. — Chris foi ótimo. Ele nem reclamou por eu ter destruído o Porsche.

— Isso não significa que não vou reclamar — com­plementou Christian. — Principalmente se ficar com­provado que você estava dirigindo totalmente embria­gado. Acho que você precisa de um automóvel mais seguro. Acho que vou comprar uma charrete da próxi­ma vez.

— Se é que vou dirigir novamente — murmurou Luis.

— É claro que você vai dirigir novamente — disse ela, usando seu polegar para esfregar as lágrimas. E impôs a Christian outro julgamento de valor. — Você não concorda?

— É claro — Christian concordou. — Tão logo você faça o que lhe pedirem e não der nenhum desgosto aos médicos. Sei que se sente desesperado agora, garoto, mas é impressionante o que um repouso de algumas semanas de cama pode fazer.

— Você acha?

Luis fungou e Christian ficou um tanto aliviado quando ouviu a porta abrir atrás dele e uma enfermeira vestida de branco entrou no quarto.

— Vocês têm de ir agora — disse ela, suavizando suas palavras com um sorriso terno para seu paciente. — É hora do exame. O Doutor Hoffman está esperando por ele. Vou levá-lo para a sala de exames.

Olívia levantou-se e Christian se deu conta de como ela era alta e esbelta. Seus cabelos, num tom entre cor de mel e prata, estavam presos na nuca com uma tira de couro, e os cachos dourados em suas orelhas chama­vam sua atenção para a delicada curva de seu pescoço.

Mas Christian também notou que, embora ela esti­vesse usando uma blusa de seda creme pregueada que realçava o bronzeado, estava usando isso com uma cal­ça jeans de cintura baixa e não os ternos dos estilistas que ele costumava ver. Estava friamente elegante e Christian desejou que ela não o estivesse olhando com tal expressão de desprezo. Está certo, ele sabia que tinha cometido um erro, um grande erro.

— Vejo você depois, garoto — disse ele quando um auxiliar entrou para ajudar a enfermeira a mover o lei­to. — E eu vou arrumar as coisas, como prometi. Você não vai ter de ficar aqui mais do que for absolutamente necessário, certo?

— Certo — murmurou Luis, porém seu rosto estava desanimado, e Olívia deu um passo à frente no intuito de pegar sua mão novamente.

— Saiba que eu estou aqui por você — falou, incli­nando-se para lhe dar um beijo. — Não se preocupe, querido. Você vai ficar bem.

Olívia ficou de pé observando quando a equipe de enfermeiros o levou. Em seguida, como que percebendo que não poderia ignorá-lo indefinidamente, lançou um rápido olhar para Christian:

— Com licença. Vou pegar um café.

Christian apertou as mãos nos bolsos do casaco, re­sistindo ao impulso de agarrá-la pelos ombros. Ela realmente achava que iria conseguir escapar tão facil­mente do que havia feito? Tinha alguma idéia do quão aborrecido ele estava?

Controlando-se, ele falou:

— Vou acompanhá-la — e, embora tivesse certeza de que ela queria se opor, um encolher de ombros foi tudo que recebeu como resposta. Pouco depois, chega­ram ao subsolo e à lanchonete do hospital.

Felizmente, não estava movimentado. Nem havia nenhum sinal de Mike Delano, o que era um alívio. A esta hora da tarde, a multidão que aparece para o almo­ço tinha saído e a correria da noite ainda não havia começado. Contudo, os odores que emanavam da cozi­nha fizeram Christian lembrar-se de que não comera nada desde o café da manhã. Chegando à conclusão de que não devia nenhum favor à Olívia, pediu junto com o café um cheeseburguer e batatas fritas para viagem.

— O que você deseja? — perguntou.

— Só café — ela respondeu, desejando claramente não ter de aceitar sua hospitalidade, e Christian fez um sinal, enquanto ela foi procurar uma mesa.

Ao carregar a bandeja para onde ela estava, a impa­ciência de Olívia era óbvia pela maneira que se movia inquietamente em seu assento. Ela escolhera uma mesa no centro do recinto, provavelmente para impedir que ele pensasse que isso era um encontro amigável.

— Algo errado? — ele questionou, sentando-se na cadeira oposta. Ele tirou da bandeja e colocou sobre a mesa o prato contendo o sanduíche e as fritas. — Tem certeza de que não quer comer nada?

— Não.

Ela sacudiu a mão na frente do rosto e ele teve a impressão de que Olívia estava tentando fazer o cheiro da comida sumir. Com indiferença, ele pegou seu san­duíche e deu uma mordida generosa. Há anos não co­mia alimentos com baixo teor nutritivo, mas o sabor suculento da carne o fazia lembrar irresistivelmente de seus anos como estudante.

Percebendo que ela não iria falar — na verdade, ela tinha se afastado dele, como se vê-lo comer fosse repugnante, Christian esvaziou a boca.

— Talvez você possa me contar por que rejeitou o helicóptero — disse, brandamente. — Ou pelo menos pode tentar explicar por que não telefonou e poupou o piloto de uma viagem inútil.

Olívia respirou profundamente e, sem olhar para ele, falou:

— Sabia que você não iria aceitar um não como res­posta. Eu já tinha tentado dizer que não queria sua ajuda.

— O helicóptero não é meu. Pertence às empresas Mora. Você está autorizada a usá-lo tanto quanto eu.

— Isso importa?

— Importa — respondeu ele, afastando o sanduíche, repentinamente. — Escute, vamos ter que passar os próximos milhões de anos evitando o que realmente está acontecendo aqui? Você não gosta de mim, Olívia. Mas temos de trabalhar juntos.

O olhar de Olívia se dirigiu a ele, mas onde Christian esperava ver hostilidade avistou somente pânico.

— Onde fica o banheiro? — perguntou, a voz abafa­da, uma mão sobre a boca, suas palavras quase indistinguíveis. Quando ele procurou à sua volta por uma res­posta, ela saiu da mesa e correu.

Ele a seguiu, mas era tarde demais para ajudá-la. Quando chegou ao corredor, ela desapareceu pela porta onde se lia "Senhoras". Ele deu um suspiro frustrado e foi forçado a esperar de pé até ela sair.

Pareceu levar séculos até ela reaparecer, embora ele soubesse que tinham se passado apenas alguns minu­tos. Olívia surgiu ainda mais pálida.

Tinha passado mal. Isso era óbvio. Droga, ele não tinha se dado conta de que o acidente com Luis iria deixá-la tão sentida.

— Você está bem?

Claramente, ela não estava, mas fez um enorme es­forço para fingir que sim.

— Deve ter sido algo que comi — disse, sem tentar disfarçar o que havia acontecido. — E ver Luis. — Ela esfregou os lábios novamente com o pedaço de papel que tinha trazido do banheiro. — Acho que não espera­va todo aquele suporte em volta do pescoço dele.

— Fiquei sabendo que tem de imobilizar o pescoço para evitar mais ferimentos — comentou Christian de­licadamente. — É apenas um colar cervical. Como dis­se a você, a coluna dele não foi afetada.

— Mesmo assim...

— Olívia, ele não está paralisado. Diria que a sensa­ção em seu quadril não é muito confortável agora. Mas ele vai melhorar. — Ele fez uma careta. — Os médicos em São Francisco foram cuidadosos.

— Ele disse que não sente muita dor — ela murmu­rou e Christian concordou com a cabeça.

— E ele não precisou de nenhuma cirurgia.

— Nenhuma cirurgia?

Ela o estava fitando com olhos arregalados e Chris­tian se arrependeu de mencionar essa possibilidade.

— Pode haver ferimentos internos depois de uma batida de carro — ele disse com relutância. — Mas Luis não tem absolutamente nenhum sangramento in­terno.

— Graças a Deus.

— Realmente. Depois de algumas semanas de des­canso e ele estará bom de novo, novinho em folha.

— Você acha?

— Acho.

Ela balançou a cabeça.

— Meu Deus, e se...?

— Olívia, podemos ficar nos torturando com inúme­ros "e se" — disse ele categoricamente. — E se ele não estivesse dirigindo numa velocidade tão alta? E se não estivesse naquele trecho da estrada? Ele estava, e isso aconteceu.

Ela fez silêncio.

— Escute, por que nós não nos sentamos novamente?

— Lá não. — Sua resposta foi premente, e ela virou o rosto para longe da lanchonete. — Eu... Talvez devêsse­mos subir novamente. Luis pode ter voltado do exame.

— E pode não ter — retrucou Christian brevemente. — Vamos, Olívia. Temos de conversar sobre isso, e tem de ser agora. — Ele mordeu o lábio por um mo­mento, e acrescentou: — Por que não procuramos uma sala de espera? Deve haver salas de espera para as visi­tas em algum lugar.

— Está bem — concordou ela por fim. — Você pode me contar como o acidente aconteceu, e como é que você foi a pessoa com quem eles entraram em contato.

Tomaram a escada em vez de utilizar o elevador. Evidentemente, Olívia não desejava ficar confinada em um cubículo sem ar, sentindo o cheiro de anti-sépticos e medicamentos. Em seu estado atual, teria preferido andar ao ar livre, mas isso não era possível. Mesmo sem chover, as ruas não ofereceriam a eles a privacida­de que buscavam.

Encontraram uma sala de espera no segundo andar, descendo o corredor do quarto de Luis. Havia uma má­quina de café em um canto e Christian pegou para eles copos de plástico da bebida fervente antes de se sentar. Olívia escolhera uma poltrona e ele sentou-se no sofá oposto. Colocou as xícaras sobre a mesa próxima antes de esticar suas pernas e deixar as mãos penderem soltas entre as coxas.

— Certo — disse, forçando-a a escutá-lo. — A pri­meira coisa que temos de decidir é aonde Luis irá se recuperar quando sair do hospital.

— Onde ele irá convalescer? — ela repetiu. — Isso não é um pouco prematuro? Ainda não sabemos quanto tempo ele vai ficar no hospital.

— Não por muito tempo — respondeu Christian, to­mando um gole de seu café. — Minha experiência diz que pacientes que não necessitam de cirurgia recebem alta rapidamente. São incentivados a continuar sua re­cuperação em casa.

— Em casa? -— ela repetiu suas palavras novamente. __Mas... a casa de Luis é em Berkeley. Não tem nin­guém para tomar conta dele lá.

— Sei disso. — Christian pousou sua xícara e a ob­servou atentamente. — Como você se sentiria indo para a casa de Bal Harbour e ficar com ele lá?

 

 

CAPÍTULO TRÊS

 

 

Os lábios de Olívia expressaram consternação. Ela desconfiara do que estava por vir, porém ainda não es­tava preparada para ouvir a proposta. Christian espera­va que ela cuidasse de Luis. Para continuar sendo a mãe que tinha sido pelos últimos quinze anos. Mas ela não podia. Não podia voltar a viver em Bal Harbour.

— Não posso — disse, e colocou a xícara de café sobre a mesa antes que a deixasse cair. — Eu gostaria de ajudar Luis, mas... bem, voltar para a Flórida não faz parte dos meus planos.

O rosto moreno de Christian revelou sua reação rai­vosa. Embora não fosse um homem bonito, seus traços fortes tinham um apelo sensual. Neste momento, po­rém, qualquer sensualidade estava ausente.

— O que faz parte dos seus planos? — inquiriu ele.

— Tenho planos — Olivia respondeu, vagamente.

— Que planos?

Uma leve pontada de culpa percorreu o corpo dela. Quem era ela para falar de obrigações familiares se não tinha a intenção de contar a Christian que estava espe­rando um filho? Não queria que ele se sentisse obriga­do a casar. A última coisa que ela queria era outro casa­mento como o que tivera com Tony. Certo, talvez tivesse sido ingênua ao pensar que Tony se casara com ela porque a amava, mas esperara dele um pouco de lealdade. Em vez disso, poucas semanas depois de seu casa­mento Olívia descobriu que ele continuava saindo com a antiga amante.

E Christian era como seu primo. Sem dúvida, ele esperaria que sua mulher fosse tão pura como a neve enquanto ele dormiria com quem escolhesse. Olívia já tinha perdido a conta do número de namoradas que ele tivera desde que viera trabalhar para Tony. E ela era seis anos mais velha que ele, e esse era mais um motivo que a impediria de se unir a Christian.

Percebendo que ele estava esperando uma resposta, ela decidiu contar parte da verdade e arriscar receber seu escárnio.

— Eu... eu quero escrever e ilustrar livros infantis — disse rapidamente. — É o que eu sempre quis fazer, mas... bem, nunca tive tempo antes.

— Não? — As sobrancelhas escuras de Christian se curvaram ironicamente, e ele lhe lançou um olhar in­crédulo.

— Não. Nunca tive.

— Entendo. E você esteve ocupada fazendo... o que exatamente?

— Não creio que isto seja da sua conta — ela retru­cou, recusando-se a explicar suas razões. — De qual­quer maneira, esses são os meus planos.

— Em todos esses anos de casada você nunca encon­trou tempo de começar a escrever?

— Não a sério.

Enquanto Tony estava vivo tal atividade seria im­pensável. Apesar de seus próprios defeitos, Tony nunca a permitira esquecer-se de que ela era sua esposa. Ele lhe dera liberdade total com seu filho, porém, em relação a todos os outros aspectos, era esperado que ela agisse de acordo com os desejos do marido.

Christian colocou sua xícara sobre a mesa e Olívia se enrijeceu instintivamente. E agora?, pensou, obser­vando-o enquanto ele passava os longos dedos more­nos pelo tecido de lã pura que envolvia sua coxa. Ele estava vestindo um de seus ternos de estilo italiano de que tanto gostava, o tecido cor de carvão complemen­tando e realçando seu porte viril.

Não teve como deixar de se lembrar da noite que fizeram amor. Mas Christian não fizera amor com ela, Olívia se corrigiu rapidamente. O que eles haviam par­tilhado fora sexual e carnal, mas não tinha tido nada a ver com amor. Fizeram sexo, pura e simplesmente. Bom sexo, talvez; ótimo sexo, admitiu. Não que ela fosse alguma especialista. Tony fora o primeiro e o úni­co homem com quem ela havia dormido. Até Christian.

— Então, você vai contar a Luís ou quer que eu faça isso? — perguntou Christian abruptamente, despertan­do-a subitamente de seu devaneio. — Ele ficará desa­pontado, não? Mas se você não fizer objeções quanto a ele ficar na casa de Bal Harbour, tomarei as providên­cias para que uma equipe de enfermeiros tome conta dele o tempo inteiro.

Olívia o encarou. Canalha, pensou ela indignada. Mas o que poderia fazer? Ela não poderia voltar para a Flórida. Tinha de haver uma maneira de satisfazer as necessidades de Luis sem perder o respeito por si mesma.

— Olívia?

Seus olhos escuros a observavam de perto e ela que­ria tanto desviar de seu olhar penetrante.

— Vou pensar sobre isso — disse ela finalmente. — Não estou prometendo nada — acrescentou ela, retru­cando num tom mordaz, e inclinou a cabeça.

— Tenho certeza de que teria inspiração tanto em Bal Harbour quanto em San Gimeno — ele comentou de forma suave, e novamente ela se retraiu com seu tom condescendente.

— Você tem certeza disso? — perguntou ela contra­riada, arqueando as sobrancelhas, imitando-o. — Bem, é um tipo de compensação. Fico feliz por ter seu apoio.

— Não quero discutir com você, Olívia — disse ele. — Você parece ter a impressão de que estou me diver­tindo com isso. Eu garanto a você: não estou. Mas Luis é o filho único do meu primo. Naturalmente, eu me preocupo que ele tenha a melhor atenção possível.

— Então por que você não toma conta dele? — Olívia sabia que sua reação fora infantil, mas não pôde evitá-la. Christian esperava que ela sacrificasse os planos que tinha feito para o futuro. Estaria dispos­to a fazer o mesmo? Na verdade, a ligação de Chris­tian com Luis era muito mais próxima do que a dela poderia ser.

Ficaram em silêncio por uns instantes e ele deu um longo suspiro.

— Presumo que você esteja sugerindo que eu tam­bém me mude para a casa de Bal Harbour? — inquiriu ele. — Você não teria problemas com isso?

— Por que teria? — ela perguntou, decidindo tirar a máscara dele, e Christian franziu as sobrancelhas antes de prosseguir.

— Então você ficaria feliz em visitá-lo aqui? — ele insistiu e ela deu de ombros.

— Por que não?

— Realmente. — Ele ficou pensativo. —- Então a razão pela qual você abandonou sua casa e se refugiou em uma ilha primitiva não tem nada a ver com o que aconteceu entre nós?

Olívia ficou surpresa.

— Eu... é claro que não.

— Não? — Christian olhou para ela apertando os olhos. — Tem certeza?

Olívia se esforçava para permanecer calma. Ele não sabia de nada, ela lembrava a si mesma.

— San Gimeno não é uma ilha primitiva — declarou ela num tom evasivo, evitando sua pergunta. — Não tem comércio, mas isso não significa que faltara as co­modidades necessárias.

— Tenho a impressão de que você acha que está numa situação difícil de enfrentar. Foi por isso que recusou minha oferta do helicóptero, não foi? Foi por isso também que você convenceu Mike Delano a não me deixar saber o que estava fazendo.

Olívia já tinha escutado o bastante. Ela se levantou ignorando-o, se virou propositadamente em direção à porta, mas antes que pudesse alcançá-la, a mão de Christian agarrou seu braço.

— Espere!

Olívia sabia que era melhor não tentar fugir. Seus dedos eram longos e estreitos, mas também eram bas­tante fortes. Qualquer força que fizesse seria inútil para se libertar, a não ser que ele estivesse disposto a deixá-la ir.

Ainda assim, quando falou, ele se desculpou.

— Não deveria ter dito isso — disse ele. Suas narinas flamejando com o esforço para controlar a raiva que tomava conta dele. — Desculpe-me.

— Você se desculpa?

A resposta dela não foi nem um pouco original, po­rém, diante das circunstâncias, era impossível pensar em algo singular. Seus sentidos traiçoeiros registravam outras coisas, como o calor do corpo dele e sua proxi­midade.

— Claro que sim. Não quero que sejamos inimigos, Olívia.

Sua voz engrossou quando falou, e novamente ela ouviu o sotaque sensual que ele usara naquela noite fatídica. O estômago de Olívia estremeceu ao perceber que ele estava brincando com ela. Que ele estava usan­do suas habilidades nada desprezíveis para interceder no esforço de fazê-ta mudar de idéia.

Anos antes, Tony insistira para que ela acompanhas­se Christian ao tribunal de justiça em Miami para assis­tir a sua defesa de um caso de espionagem industrial contra as corporações Mora. Ele ganhara, é claro, provando que o verdadeiro objetivo do querelante era re­duzir o valor da empresa com a fraude. Eram essas as habilidades que ele usava com ela agora, pensou ela sem fôlego. Ele estava determinado a fazer as coisas à sua maneira. Christian Rodrigues não tinha a intenção de mudar sua vida para tomar conta do filho de seu primo.

— Tenho certeza de que Luís já deve ter voltado do exame — disse ela, recusando-se a olhar para ele. Já era o bastante saber que ele estava ali com cada fibra de seu ser.

— Não creio que isto tenha a ver com Luis. — A voz de Christian tinha um único tom agora, mas ela não cometeu o erro de aceitar seu desapontamento aparente como verdadeiro.

— Não ligo para o que você pensa — afirmou ela, olhando sugestivamente para a porta. Em seguida olhou para a mão dele que apertava seu pulso. Por um instante o contraste entre a pele morena de Christian e a sua muito mais pálida a deteve, porém ela se forçou a não pensar. Então, lutando contra o impulso de levantar a cabeça, ela acrescentou:

—- Você vai me deixar ir ou vou ter de gritar pedindo ajuda?

Christian emitiu um som de impaciência.

— Você não faria isso, querida — disse, usando a palavra em espanhol deliberadamente. — Pense em como seria embaraçoso para Luis se sua madrasta e seu primo fossem vistos em, digamos, circunstâncias comprometedoras?

Olívia ficou boquiaberta.

— Você acha que Luis acreditaria na sua versão do que aconteceu em vez de acreditar na minha?

— Não. Só estou tentando fazer com que você perce­ba o ridículo da nossa discussão. Nós dois queremos o melhor para Luis, não?

— Eu quero.

— E eu também.

— Desde que não interfira em sua vida.

— Eu disse isso?

— Não precisou dizer. — Olívia fez um gesto inde­feso. — Você sabe como Luis iria se sentir morando em Bal Harbour com você.

— Tem certeza de que é em Luis em quem você está pensando? — perguntou ele com uma voz amena. — Não seria mais correto dizer que você não quer que eu more na sua casa?

— Não é minha casa. É de Tony.

— Mas Tony não está mais aqui. E ele deixou aquela casa para você, Olívia.

— E eu não a quero.

— Por causa do que aconteceu lá?

— Não! — Ela se sentiu enjoada só de pensar. Uma imagem vívida de seu corpo nu, seus braços e pernas estendidos na imensa cama colonial na suíte principal, com Christian sobre ela, sua língua trilhando um ca­minho ardente de seu mamilo a seu umbigo. — Eu... eu apenas não quero morar lá — respondeu, engasga­da. Em seguida, com um pouco mais de controle, acrescentou:

— Para mim, sempre será a casa de Tony.

— E o que aconteceu entre nós não tem relação com esta decisão?

Ela balançou a cabeça.

— Não.

— Você é uma mentirosa, Olívia.

Ela falou num tom bravo e de escárnio.

— Um mentiroso reconhece outro. — Christian esperou por um instante.

— Então, o que você está dizendo?

— Estou dizendo que Luis esperará... que eu possa estar com ele — murmurou ela com relutância. — Ago­ra, por favor, deixe-me ir.

Por um momento ela achou que Christian ia ignorar seu pedido. Mas, então, como uma armadilha sendo solta, ele abriu seus dedos e afastou-se dela.

— Muy bien — disse ele, estendendo as mãos. — Longe de mim separar uma mãe do filho que ama. Que foi? — perguntou em seguida, diante de seu olhar furioso, e ela ficou tentada a dizer exatamente o que pensava sobre a descarada manipulação do rapaz.

— Fique longe de mim no futuro — disse ela apenas. E, na esperança de que ele não tivesse notado a vibra­ção em sua voz, virou-se com determinação em direção aporta.

Luis estava de volta ao quarto quando ela chegou até a porta e a abriu. Estava deitado como antes, os olhos atentos.

— Oi — disse ela delicadamente, tentando ignorar o fato de que Christian estava atrás dela. — Tudo bem?

— Foi o que disseram — murmurou Luis cansado, a depressão evidente na curva de sua boca. — Onde você estava? Tive medo de você ter ido embora.

— Sua madrasta e eu estávamos conversando sobre o que fazer quando você sair daqui — afirmou Christian, antes que Olívia pudesse falar qualquer coisa. Ele se aproximou da cama. — Sugeri abrir a casa de Bal Harbour, mas não tenho certeza se ela concordará.

— Ainda não decidi aonde vamos ficar. — Ela co­briu a mão do rapaz com a sua. — Onde quer que seja, vamos estar juntos. Agora, o que o médico falou?

— O de sempre. — Claramente Luis não estava inte­ressado em assuntos médicos. — O que Christian quis dizer com abrir a casa de Bal Harbour? Você não está morando lá?

— No momento não. Estava em uma ilha nas Baha­mas. Lá é lindo nesta época do ano, como você sabe.

Luis ouviu com um silêncio tristonho, e Olívia sabia que tinha de continuar. Ela deu um sorriso forçado.

— Mas, naturalmente, não tenho de ficar lá. Você e eu... nós cuidamos um do outro, não cuidamos? — Ela ignorou Christian ao acrescentar: — Somos os únicos Mora.

— Mas o que você está dizendo? — perguntou Luis finalmente. — Que está disposta a vir para casa e cui­dar de mim? — Sua boca se curvou de modo esquivo. — Não faça nenhum esforço.

— Vamos pensar em alguma coisa — disse ela, de­sejando que Christian fosse embora. — Talvez você pudesse ficar comigo em San Gimeno.

— Não!

A recusa de Christian foi instantânea e impressio­nante. "Que diabos isso tinha a ver com ele?", refletiu ela, lançando-lhe um olhar desafiador.

— Por que não? — ela se opôs, sustentando o sorriso para o bem de Luis. — A quinta é perfeita para ele se recuperar.

— Mas San Gimeno não é — afirmou Christian ca­tegoricamente. — Luis pode precisar de tratamento médico, de assistência. Você não está sugerindo que as instalações de San Gimeno se comparam com as daqui, está?

Olívia não tinha pensado nisso. Ele tinha razão. Luis poderia precisar da atenção de especialistas. Mas era a única solução em que poderia pensar no intuito de sa­tisfazer também suas necessidades.

Inesperadamente, Luis saiu em sua defesa.

— Acho que isso é uma ótima idéia — disse ele, demonstrando mais entusiasmo do que demonstrara até então. Um repentino brilho de empolgação, que defini­tivamente não estava lá antes, surgiu em seus olhos. — Você tem uma quinta? — Ele esperou Olívia balançar a cabeça positivamente, e em seguida continuou avida­mente:

— Por que não podemos contratar uma enfermeira, se precisarmos? E um fisioterapeuta também. Aposto que há um hospital lá. As pessoas de San Gimeno tam­bém adoecem, não?

— Não é tão simples assim, Luis — começou Chris­tian opressivamente, mas até mesmo Olívia podia perceber que ele estava lutando em uma batalha perdida. Embora pudesse ser diferente de seu pai com relação ao temperamento, quando Luis cismava com alguma coi­sa, ia até o fim. E, neste momento, ele estava esperando pelo apoio dela.

— Acho que vai funcionar — murmurou ela, cons­ciente de que Christian estava furioso com sua resposta.



  

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