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CAPÍTULO UM 8 страница



Contentou-se em caminhar ao longo da costa, paran­do aqui e ali, para examinar conchas iluminadas pela lua crescente. Não tinha nenhum medo de estar sozi­nha. San Gimeno era uma ilha amigável. Ao contrário do continente, o crime aqui não era um grande proble­ma. Por isso se assustou tanto quando se virou e viu uma silhueta negra que a estava seguindo. A lua se es­condeu atrás de uma nuvem nesse momento e ela não conseguiu ver de quem era.

— Hmm... Christian? — ela se aventurou corajosa­mente, esperando que, quem quer que fosse, assumisse que estava esperando alguém:

— Sim, sou eu. Você está louca, vindo aqui fora sozinha?

Sua reação a deixou zangada. O que ele pensou que estava fazendo causando-lhe um susto desses? O cora­ção saltava em seu peito. Que direito tinha ele de questionar seu comportamento? Não era a primeira vez que ela dava uma caminhada na praia.

Embora não à noite, uma voz mansamente a fez lem­brar-se. E talvez tivesse sido irresponsável por não ter avisado ninguém onde estava indo. Mas a razão por que ela não tinha dito a ninguém era porque não queria que isto acontecesse.

O fato de que a situação nem teria surgido se ele não a tivesse seguido não valia a pena ser discutida, ela decidiu. Usando o que lhe restava de seu tom argumentativo, falou:

— Na verdade, eu estava voltando para casa. — Christian continuou vindo em sua direção, seu rosto moreno ainda pouco amigável. As nuvens tinham desa­parecido e a praia estava palidamente iluminada.

— Você devia ter bom senso em vez de ficar andan­do sozinha depois de escurecer — afirmou ele severa­mente. — E sei que você não quer a minha companhia, mas é melhor do que se arriscar a ser atacada.

Olívia respirou fundo quando ele parou junto a ela, à distância de um braço.

— Acho que você está exagerando — retrucou, apa­rentemente calma. — De qualquer maneira, como você soube que eu estava aqui fora? Pensei que você e Luis estavam gostando do jogo.

— O jogo acabou — respondeu Christian secamen­te. — E eu não sabia que você estava aqui fora. Não até te ver.

— Entendo. — Era um alívio saber que ele afinal não a estava seguindo. — Bem... obrigada por sua preocupação, mas não era necessário. Como pode ver, somos as duas únicas pessoas na praia. — Christian deu uma olhada rápida para trás.

— Provavelmente, estão todos no churrasco — falou ele, e ela entendeu que ele também estava tentando ser bem educado. — Posso caminhar de volta com você ou estarei ameaçando a sua independência?

Olívia hesitou e depois falou firmemente:

— Você nunca ameaçou a minha independência. A minha paciência talvez, mas penso que agora chega­mos a um acordo. — Ela parou de falar e quando ele não falou nada, continuou: — E queria lhe agradecer por ter passado tanto tem­po com Luis. O pai dele nunca fez isso, e é bom vê-lo interagindo com um cara mais velho para variar. E eu aprecio sua consideração, mas não me importo de estar sozinha. Eu me acostumei... e, francamente, você não é o meu tipo.

— Então, qual é o seu tipo? — perguntou ele, acom­panhando o ritmo dos passos dela, enquanto ela cami­nhava para casa. — Você pensa que me conhece sufi­cientemente bem para me julgar?

— Eu sei que você é como Tony — disse ela, provo­cada para dar uma resposta honesta. — Uma mulher virá sempre em segundo lugar depois de sua carreira.

Christian tentou reter uma exclamação de protesto.

— Você não sabe de nada..

— Não sei? — Olívia se permitiu uma olhada rápida na direção dele e viu com espanto uma expressão de frustração em seu rosto moreno. — Eu sei que Tony só tinha de estalar os dedos e você fazia o que ele queria. Não importa com que mulher você estava no momento.

— Não lhe ocorre que isso poderá dizer mais sobre a mulher que estava comigo do que o meu caráter duvi­doso? — perguntou ele zangado. — Lembre-se de que eu nunca fui casado. O que é uma diferença significati­va entre mim e Tony.

Olívia encolheu os ombros,

— Casamento já não é tão importante nos dias de hoje.

— Eu o considero muito importante. Essa é a razão pela qual eu nunca teria casado com alguém como Tony, como você fez.

Olívia parou.

— Como disse? — Sua garganta estava seca enquan­to o olhava fixamente, e a fraqueza tinha voltado a suas pernas. — Se você está insinuando que eu casei com Tony pelo dinheiro...

— Eu não falei isso.

— Você insinuou — insistiu ela, colocando seus braços à volta da cintura. O bebê se mexeu, e ela pren­deu a respiração com esforço. — Você pode não acre­ditar em mim, mas eu amava Tony quando casei com ele. Eu queria que fôssemos uma família de verdade.

O maxilar de Christian ficou tenso.

— Como pode ter pensado isso?

— Porque era ingênua, estúpida, chame como qui­ser. — Olívia viu dúvida no rosto dele e sabia que tinha que dissipá-la. — Ele se casou comigo para dar uma mãe a Luis. Nada mais. Há muito tempo que ele não... me tocava. Eu não era mulher de Tony há muito tempo. Acho que você entende o que quero dizer.

— Dios, Olívia...

Pelo menos parecia que ele agora estava acreditan­do, pensou ela. Se ele duvidasse não havia maneira de ela o provar. Mas qual seria o benefício para ela era admitir que seu casamento tinha sido tão vazio? Estaria ela tão desesperada pela aprovação de Christian que diria qualquer coisa para justificar suas ações?

— Eu não fazia idéia — disse ele, caminhando até chegar a ela. E então, quando ela não parou, ele envol­veu com os braços a cintura dela e a fez parar. — Que­rida — disse ele persuasivamente antes que suas mãos cobrissem o inchaço em seu ventre. E então: — Caramba! — exclamou, quando sentiu o tremor que ondulava nos músculos duros quando os tocou.

Olívia se afastou dele, algo que só foi possível por­que, durante um momento, ele ficou confuso demais para fazê-la parar. Mas era tarde demais para esconder seu segredo. Ela viu que ele entendera, estava estampa­do no seu rosto. Antes que pudesse se afastar de novo, as mãos dele rapidamente agarraram seu pulso.

— Você está grávida — disse ele num tom de sur­presa. Mas logo depois sua expressão mudou. — Ma­dre de Dios, Olívia, você vai ter um bebê!

Olívia o fitava, uma centena de razões para negar. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele falou novamente, desta vez em um tom mais frio.

— Por Dios, quando é que você ia me contar isto?

Olívia deu de ombros. E então, percebendo que não fazia sentido tentar negar, disse:

— Por que eu deveria lhe contar? Você não é meu marido.

— Mas sou o pai da sua criança — respondeu ele bruscamente, suas sobrancelhas escuras quase se tocando. — Tinha esperança de que eu nunca descobrisse?

Olívia arqueou os ombros. Era inútil fingir que o bebê era de Tony. Ela acabara de sacrificar esse argu­mento em seu desejo de se defender.

— Não é um problema seu — insistiu ela. — Eu sou perfeitamente capaz de tomar conta de meu próprio fi­lho. Agora, por favor... eu gostaria de voltar para casa.

— Você não vai a lado algum até me dar uma expli­cação. — Ele estava tentando controlar sua irritação, mas o insucesso era evidente na força com que agarrava o pulso dela. — Agora... — ele inspirou com força —, eu estou disposto a aceitar que deve ter sido um choque e tanto para você descobrir que estava grávida. Para mim também é um choque, acredite. Mas isso não ex­plica por que eu não fui informado sobre a situação.

— "Informado sobre a situação" — ela o imitou, vacilante. — Meu Deus, você faz parecer um acordo de negócios.

— Sim, bem, como você diz, eu estou mais acostuma­do com trapaças nos negócios do que na vida pessoal.

Olívia protestou:

— Isto não é uma trapaça!

— Não? — O rosto moreno de Christian estava rígido demonstrando desprezo. — Mas você não nega que isto foi a razão pela qual decidiu se afastar e ficar sozi­nha por um tempo. Que vai fazer, Olívia? Ter o bebê e depois encontrar algum casal para adotá-lo?

— Não! — Olívia estava horrorizada. — Eu não fa­ria isso!

— Por que não? Obviamente, é uma inconveniência para você.

Ela olhou fixamente para ele.

— Por que você diz isso?

— Porque se não fosse, você não estaria se escon­dendo aqui em San Gimeno. Você não quer que nin­guém saiba porque não tem a intenção de tê-lo.

Seus dedos se apertaram dolorosamente.

— Você tentou se livrar dele?

— Não! — Olívia sentiu-se nauseada só de pensar. — Como pode perguntar uma coisa dessas?

— Certo. — Ele pareceu aceitar isso e ela se sentiu absurdamente grata. — Então, por que fugiu?

— Eu não fugi. — Mas tinha fugido e, decidindo que ele merecia, pelo menos, uma parte da verdade, ela continuou: — Eu... eu só queria ter o bebê antes que alguém descobrisse. Só isso.

— Porquê?

— O que quer dizer com isso?

— Por que era tão importante para você ter tido o bebê antes que contasse a outra pessoa?

— Olhe aqui — disse ela com veemência —, Tony tinha acabado de morrer. O que as pessoas teriam pen­sado se eu, de repente, anunciasse que estava grávida?

— Elas teriam pensado que era dele — respondeu ele secamente. — Seria razoável pensarem isso, você não acha?

Olívia balançou a cabeça.

— Talvez.

— Por que talvez? Ninguém sabia sobre o casamen­to de vocês, não é?

— Bem, não...

As sobrancelhas de Christian se arquearam em inda­gação, e ela suspirou antes de prosseguir.

— Eu... eu não pensei que fosse algo que Luís preci­sasse saber. Ele já tem o suficiente para agüentar.

— Luis! — Christian exclamou num tom desdenho­so. — Penso que você se refere a mim, não é, querida? Foi de mim que você fugiu; era a mim que você não queria contar. Você estava com medo que eu não acre­ditasse que era meu?

— Não.

— Por que então?

— Ah... — Decidindo que não havia jeito de evitá-lo por mais tempo, Olívia cedeu. — Se você quer mesmo saber, eu não queria que você soubesse sobre o bebê. Foi um erro. Nunca devia ter acontecido. A responsabi­lidade pelo que acontecer agora é minha. — Seu maxi­lar se contraiu. — Está satisfeito agora?

O silêncio que se seguiu a esta explosão era tudo menos confortável, o ar temperado com a raiva que ela sabia que suas palavras provocariam.

Mas Christian não reagiu como ela esperava. Em vez de acusá-la de ter mentido, ele olhou para baixo, para a sua mão que segurava o pulso dela. Pele morena contra pele branca, só um indício de vermelhidão revelando a pressão que ele estava exercendo. Então, quase imperceptivelmente, deixou de fazer força para permitir que seu polegar massageasse as veias no braço dela.

Olívia estava demasiado confusa para fazê-lo parar. O polegar dele acariciava insistentemente sua pele sen­sível, criando um calor explosivo em todo o lugar que ele tocava.

Quando, com um leve movimento de lábios, ele le­vantou o pulso dela até à sua boca e colocou lá a sua língua no ponto que ele encontrou palpitando frenetica­mente, ela só pôde ficar parada olhando fixamente.

Então ele levantou a cabeça e olhou para ela.

— Se estou satisfeito agora? — perguntou ele, e por alguns instantes ela não teve nem idéia do que ele estava falando. — Você esperou mesmo que me satisfaria?

A sanidade mental voltou correndo.

— Eu pensei que você iria compreender meus senti­mentos — retrucou ela. — Você adivinhou porque eu deixei Miami, e eu expliquei como estava me sentindo. Eu também quero este bebê. Quero mesmo. Mas não quero... não preciso nada de você.

As narinas de Christian se agitaram com súbita im­paciência e, como se o ofendesse tocá-la, ele a soltou.

— Dios, Olívia, você deve entender que isto muda tudo.

— Não. Por que deveria mudar? Você tem sua pró­pria vida, seus amigos, sua carreira. Você não quer as complicações de um bebê perturbando sua rotina, exigindo seu tempo. Eu aprecio a sua preocupação... e em outras circunstâncias...

— Que outras circunstâncias?

— Bem... — E.a procurou desesperadamente uma resposta. — Se... se você e eu estivéssemos tendo uma relação, por exemplo. Se estivéssemos namorando há algum tempo e isto tivesse acontecido. Mesmo que nos separássemos, eu poderia entender...

— Basta! Às vezes fico convencido de que você nunca vai me entender, querida. — Ele usou deliberadamente a expressão carinhosa, pensou ela, mas não havia um vestígio de afeto na palavra. — Eu não estou interessado nas suas patéticas desculpas para esconder isto de mim. Eu sou o pai da criança. Eu merecia saber. São necessárias duas pessoas para fazer um bebê. Olí­via. Acho que você esqueceu isso.

— Eu não esqueci nada — murmurou ela ressentida. Odiava que ele a estivesse tratando como se ela fosse incapaz de um pensamento inteligente. — Você não entende mesmo...

— Não. — Ele estava amargo. — Eu não entendo. Não entendo como você pôde ter pensado que, agora que eu sei sobre o bebê, poderia pensar em ir embora e esquecer todo este assunto. — Ele deu uma risada cur­ta, sem alegria. — Dios, o que eu sou? Um monstro?

— Eu nunca disse que você era um monstro — pro­testou Olívia depressa. — E nunca pensaria isso.

— Então por que...

— Isto não é sobre você — ela explicou, cansada. — É sobre mim. Como eu disse antes, eu quero este bebê. — Involuntariamente, ela passou a mão sobre o ventre e a retirou. — Eu... eu o quero desesperadamente. Mas não quero nunca mais fazer parte da vida de nenhum homem. — Ela ouviu Christian inspirar e se preparou para se defender. Mas tudo o que ele disse foi:

— Isto tem a ver com Tony, claro. — Ela não viu razão para negar.

— Sim.

— Você não quer outro casamento como você tinha com Tony?

Ela estava demasiado chocada para falar alguma coisa, mas:

— Não.

— Não. — Christian registrou sua resposta com cal­ma, passando a mão na nuca enquanto falava. — Mas nem todos os homens são como o meu primo — ele continuou, enquanto os olhos dela pousaram nos pêlos negros expostos pela camisa aberta.

Olívia desviou o olhar e fez um gesto de repúdio. Se ele esperava uma discussão com ela, poderia esperar sentado. Ela não sabia onde isto iria parar, mas suspei­tava que não gostaria. A última coisa que queria era que ele sentisse que tinha de fazer alguns sacrifícios por ela.

Ficaram em silêncio por alguns instantes, e ela ia dizer que deveriam voltar, quando Christian disse sua­vemente:

— E Luis não sabe? — Olívia suspirou.

— Você sabe que não.

— Melhor. — Christian levou a mão à cabeça, amar­fanhando os cabelos. — Assim é melhor. Isso torna as coisas mais fáceis. Muito mais fáceis.

— Torna o quê mais fácil? — perguntou Olívia cau­telosamente, desejando que ele não fosse tão atraente. Tudo o que ele fazia, cada gesto, parecia calculado para despertar o interesse dela. Mesmo agora, que tinha os cabelos espetados em vários ângulos, ele estava provo­cadoramente viril, provocadoramente sedutor. — Não sei do que você está falando.

— Estou falando de nós, querida. Estou falando so­bre o fato de que você está grávida e que Luis pensa que você e eu não gostamos um do outro.

Olívia engoliu com dificuldade.

— E daí?

— Daí que ele nunca suspeitará de nada assim quan­do anunciarmos o nosso noivado.

— O quê?

Olívia estava horrorizada, mas Christian parecia in­diferente ao seu espanto.

— Eu falei...

— Eu sei o que você falou — ela o interrompeu fe­rozmente. — Mas você está louco se pensa que eu vou deixar você dizer a Luis que nós estamos noivos. Não! De jeito algum! Eu não casaria com você nem... nem...

— Nem que eu fosse o último homem da Terra? — ele sugeriu. — Acho que é essa a metáfora que você está buscando. E eu não vou insultar a sua inteligência lhe dando a resposta óbvia. — Ele fez uma pausa. — Mas você casará comigo, Olívia. Você dará o meu nome ao meu filho. É o que eu quero; o que eu exijo.

— O que você exige? — Ela quase se engasgou com as palavras. — Você não pode exigir que eu faça nada.

— Talvez não. — Sua voz era firme. — Mas na mi­nha família, nós temos honra, Olívia. Temos integrida­de. Não negligenciamos nossas responsabilidades.

Olívia emitiu um som zangado.

— Já falei, isto não é sua responsabilidade.

— Eu discordo.

Ela balançou a cabeça, impotente.

— Você não pode me forçar a casar com você — ela insistiu. — Eu não me casarei.

Christian suspirou.

— Por quê? — perguntou ele secamente. — Você diz que não me odeia. Bien. Então... eu sou tão repug­nante que você não pode aprovar uma vida a dois, mes­mo pelo bem-estar da criança?

Olívia resmungou.

— Você não me é repugnante, Christian. Você só está tentando fazer psicologia ao contrário para me fa­zer sentir mal.

— Estou? — Os cílios escuros sombreavam seus olhos, — No entanto, você está me dizendo que prefe­ria carregar sozinha este fardo a me permitir tomar con­ta de você?

Olívia balançou a cabeça.

— Você não gosta de mim.

— Como é que você sabe?

— Porque sei. — Ela respirou fundo e continuou obstinadamente. — Christian, por favor, me deixe fazer isto do meu jeito.

— E se eu lhe disser que gosto de você? — ele insis­tiu, levantando a mão e tocando a curva do queixo dela com a ponta dos dedos. — Eu gosto, você sabe. Para meu mal.

— Você não gosta! — Ela estava horrorizada com a maneira que seu coração tinha pulado ao ouvir as pala­vras dele. Ela sabia o motivo que o levara a dizer isso, claro. Exigindo que ela o obedecesse, ele estava tentan­do persuadi-la. — E eu não gosto que você minta para mim para tentar fazer o que quer.

Um olhar de mágoa passou pelo rosto dele.

— Não foi isso que você esteve fazendo? — pergun­tou ele num tom amargo. E depois; — De qualquer forma, você está errada. Por que você acha que eu vim para a ilha? Por que você acha que eu queria ficar? Porque eu queria que nós nos conhecêssemos melhor. Porque tinha esperanças de que você começasse a acre­ditar que o que aconteceu na noite em que Tony morreu estava destinado a acontecer.

— Não...

— Sim. — A mão de Christian desceu de seu rosto pelo pescoço até a curva sensual de seus seios. Seu polegar tocou um mamilo intumescido e ela recuou alarmada. — E diga o que você disser, eu ainda penso que poderíamos ser felizes juntos.

— Não. — Olívia não podia deixá-lo continuar. — O que você está falando não é sobre nós. É sobre você... e o bebê.

— E então?

— Então... você pensa mesmo que eu aceitaria uma relação desse tipo? — gritou ela incrédula. — Meu Deus, você soa mesmo como Tony! Isso foi o que ele disse. Que nós poderíamos ser felizes juntos, ele, Luis e eu. E veja o resultado!

— Eu não sou o Tony.

— Não, você não é. Mas você é como ele. Você dá ultimatos; você faz exigências. Você pensa que, só por­que vou ter um filho seu, tem direitos sobre mim. Não tem. Eu construí uma vida para mim. Eu não preciso de você nem de qualquer outra pessoa.

— Por Dios, Olívia...

— Não. — Ela levantou a mão no intuito de silenciá-lo. — Não fale mais nada. Você falou o suficiente. E se você pensa que eu me casaria com você só para dar um nome ao meu bebê, está muito enganado. Eu tive um casamento em que meu marido pensou que enquanto me desse apoio financeiro, podia fazer tudo o que qui­sesse... e com quem quisesse. Você deve estar louco se pensa que eu passaria por isso outra vez.

O rosto aquilino de Christian parecia gelado agora.

— Eu já lhe falei, eu não sou como o Tony — ele repetiu com dureza. — Você pensa que eu faria isso a uma mulher que declarei amar?

Por um instante, Olívia ficou tentada a parar e a ana­lisar a frase, mas a incredulidade e o seu próprio bom senso a fizeram continuar.

— Eu não sei o que você faria — ela admitiu com honestidade. — Mas não estou preparada para correr esse risco. E... e se você gosta mesmo de mim, você irá partir e me deixar seguir minha vida.

— E Luis?

O coração dela afundou com a incerteza. Segura­mente ele não usaria a ignorância de Luis sobre a gravi­dez contra ela.

— Eu... eu contarei para Luis, quando chegar a hora certa — acrescentou ela rapidamente, virando-se, inca­paz de olhar mais para ele. — Por favor, Christian. Você tem de me deixar fazer isto do meu jeito.

 

 

CAPÍTULO DEZ

 

 

Luis voltou para a Califórnia seis semanas depois.

Nas últimas duas semanas antes de partir, estava an­siando ir embora, e finalmente o Doutor Hoffman tinha dado seu consentimento. Luis ainda tinha problemas para se deslocar, claro. Necessitava usar uma muleta. Mas tinha convencido Olívia e Christian de que se sen­tiria mais feliz se pudesse continuar com a sua vida. Ele já tinha desperdiçado tempo demais.

Apesar da apreensão que Olívia sentiu quando Luis chegou para ficar com ela, lamentava vê-lo partir. Esta­va contente que ele se sentisse tão melhor. E significava que também não precisava esconder sua condição. Mas tinha se acostumado com sua presença, até tinha come­çado a depender dele, quando se sentia particularmente desanimada.

E também, desde que Luis estivesse lá, havia sempre a possibilidade que Christian regressasse à ilha. Apesar de ela ter se convencido de que ficou aliviada quando ele foi embora, ultimamente tinha começado a lamen­tar o jeito como se comportara. Não podia negar que gostava dele e isso era a verdade.

Ele tinha respeitado os desejos dela e não tinha con­tado a Luis nada sobre a sua gravidez. Queria contar a seu enteado quando fosse a hora certa. Se ele tivesse quaisquer suspeitas, ela teria de lhe contar. Mas Luis estava envolvido demais com sua própria recuperação. Podia esperar, disse ela para si mesma, pelo menos até o bebê nascer.

Pensar em Christian também não era sensato, e ela sempre rejeitava qualquer enfraquecimento de sua po­sição. Bastava ela pensar na vida que tinha tido com Tony para se assegurar de que não poderia arriscar que isso acontecesse outra vez. E seria muito pior desta vez. Ela nunca amara Tony como amava Christian.

Contudo, era uma situação dolorosa. E enquanto ela vivia dizendo para si mesma que seria perfeitamente capaz de ter o bebê sozinha, sempre surgiam alguns pensamentos assustadores. Seria justo negar a Chris­tian o direito de partilhar o crescimento de seu filho? Ela se questionava. Por quanto tempo ela planejava manter secreta a identidade da criança?

Desabafar com Susannah tinha se tornado uma ne­cessidade. A governanta já tinha adivinhado que sua patroa estava grávida e tinha concordado em manter a condição de Olívia em segredo.

— Será bom para a senhora ter alguma companhia — afirmou ela, depois de Luis ter partido. — Eu só queria que minha filha tivesse desejado uma família em vez de encher a cabeça com toda aquela educação acadêmica.

Olívia sabia que Susannah era viúva e que sua única filha era professora de história na Universidade de Chi­cago. Claro que Susannah tinha orgulho dela, mas sen­tia falta de ter uma família à sua volta. Olívia esperava que, quando o bebê nascesse, Susannah se sentisse um pouco compensada ao ajudar a tomar conta de seu bebê.

A partida de Luis também marcou a conclusão de seu primeiro manuscrito. Depois de imprimi-lo no computador que instalara no quarto de visitas, olhou para o monte de páginas com orgulho genuíno. Tinha conseguido, pensou. Terminara seu primeiro livro. Agora, tudo de que precisava era que as aventuras de Dimdum tocassem o coração de algum editor.

Esperando um ponto de vista imparcial, ela deixou que Susannah lesse o manuscrito antes de enviá-lo. A governanta mostrou entusiasmo, mas Olívia não pôde deixar de se questionar se ela estaria dizendo apenas o que Olívia gostaria de ouvir. Seus desenhos, aqueles que pintara em aquarelas com tanto esforço, não pude­ram ser reproduzidos satisfatoriamente, por isso ela ar­riscou e enviou os originais com o livro.

Contudo, duas semanas depois de ter despachado o manuscrito por correio, algo aconteceu que a fez esque­cer sua aceitação ou recusa. Em uma de suas visitas regulares ao hospital de San Gimeno, ela foi informada de que o bebê tinha mudado de posição, estando com os pés virados para a passagem de nascimento em vez de estar sob as suas costelas.

Era possível que voltasse a se virar, disse o doutor para confortá-la, mas, se isso não acontecesse, seria forçado a fazer uma cesariana. E enquanto Olívia tenta­va não se preocupar, não podia negar que estava ansio­sa. Tendo apenas Susannah a quem podia fazer confi­dências, ela nunca tinha se sentido tão sozinha. Era só mais uma prova de que havia desvantagens em ter este bebê em segredo, A partilha das aulas com casais que estavam tão obviamente apaixonados a tinha confrontado com a verdade, e agora, tendo de encarar um parto arriscado no pequeno hospital de San Gimeno, ela se perguntava se seria realmente tão independente como pensara.



  

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