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CAPÍTULO UM 3 страница



— Eu também. — O entusiasmo de Luis lhe dava forças. — Você pode tomar todas as providências, não é, Chris? Como Olívia, eu iria gostar de ter uma opor­tunidade de escapar antes que descobrissem onde es­tou.

Olívia não podia olhar para Christian agora. Não ha­via dúvidas de que Luis estaria menos acessível em San Gimeno. Nem todos os repórteres tinham os recursos que Christian empregara para encontrá-la. Agora o ho­mem endireitava seus ombros e olhava para Luis com um olhar de frustração.

— Veremos o que o Doutor Hoffman tem a dizer — disse ele de maneira evasiva. — Aconteça o que acon­tecer, você não vai sair do hospital por alguns dias.

— Por que não? — Luis mostrou-se impaciente. — O que eles vão fazer comigo? Por quanto tempo tenho de usar esse colar cervical? Eles não vão poder fazer muita coisa até eu tirar isso.

— Não acho que isso seja totalmente verdade, Luis — disse Olívia num tom delicado, sem querer ficar do lado de Christian, mas incapaz de ignorar os fatos. — Podem querer se assegurar de que a fratura está se recu­perando.

Luis deu um suspiro.

— Ainda não compreendo por que não posso receber tratamento em outro lugar — murmurou, num tom be­ligerante. — Talvez uns dois dias aqui. Posso agüentar isso. Mas, com certeza, no início da próxima semana estarei pronto para sair.

— Vamos ver — respondeu Christian categorica­mente, e recebeu outro olhar ressentido.

— Hei, você não é meu pai, Chris! —exclamou Luis indignado.

 

 

CAPITULO QUATRO

 

 

Christian permaneceu no parapeito da balsa, enquanto a embarcação deslizava pelo pequeno porto. A esta hora de uma manhã de domingo, os iates e saveiros que ancoraram em San Gimeno durante a noite ainda esta­vam em seus ancoradouros e a chegada da balsa os fez balançar.

A balsa, que também funcionava como um navio fornecedor, era a única grande embarcação no porto. O que atraía a aprovação de Olívia, San Gimeno não inte­ressava aos turistas e, consequentemente, a chegada da balsa era um acontecimento.

Mas mesmo quando o mestre do porto apareceu e seu assistente veio ajudá-lo a ancorar a balsa, era tudo muito despreocupado. Christian teve de conter sua im­paciência ao ver a maneira descuidada com que os ho­mens chamavam uns aos outros e o bem intencionado apoio quando o cabo caiu na água e teve de ser puxado novamente.

Era sua própria culpa que houvesse escolhido usar a balsa, em vez do helicóptero que o havia levado a Nassau. Poderia facilmente ter ordenado a seu piloto que o conduzisse a San Gimeno, a curta distância. Mas não o fez. Deixaria o homem pensar que estava passando os quatro dias em Nassau, em vez de admitir que estava ali para dar uma olhada em seu primo.

Pretendia misturar negócios e questões familiares. Antes de sua morte, Tony vinha explorando a viabilida­de da abertura de uma filial da Companhia de Investi­mento Mora nas Bahamas, e esta visita proporcionava a Christian a oportunidade ideal para investigar melhor.

A balsa bateu contra o píer, as laterais com proteção de borracha chiaram em protesto, e Christian foi em frente para desembarcar. Não carregava bagagem. Apenas a inseparável maleta em que levava alguns objetos pessoais, assim como o laptop com que trabalha­va. Supunha que fosse um passageiro incomum na bal­sa ainda que as largas calças caqui e camisa pólo preta fossem menos formais que seus trajes habituais. Po­rém, comparada ao short esfarrapado e camisetas sem manga de seus companheiros de viagem, ainda parecia diferente. Mesmo que sua pele fosse apenas um pouco mais clara que a deles.

Ao alcançar terra firme, Christian olhou ao seu re­dor. No cais, estavam empilhados engradados de todos os tipos: ostras armazenadas em caixas cheias de gelo, das quais vazavam um filete de água constante no chão; sacas de quiabo, feijões e leguminosas; bananas que se tornavam amarelas à luz do Sol.

Christian deu as costas para a balsa e caminhou ao longo do cais, só percebendo naquele momento que não havia pensado em como chegaria à casa de Olívia. Sabia que a casa ficava no lado sul da ilha. Luis havia contado quando se falaram dois dias antes.

Acima do porto, os tetos sem cor da pequena cidade de San Gimeno se espalhavam pela paisagem. A rua principal era inclinada e cercada por barracas que ven­diam de tudo, desde roupas infantis a equipamento de mergulho. Um pequeno mercado acabava de abrir as portas e o cheiro de bacon e ovos fritos era quase irre­sistível. No entanto, Christian havia tomado café antes de deixar Nassau e não estava com fome.

Mas como iria conseguir chegar ao litoral sul? Ele não havia visto nenhum táxi, e, mesmo que houvesse algum, duvidava que estivessem rodando àquela hora da manhã. Ainda eram apenas oito horas, e a ilha estava começando a se agitar.

Então, no alto da rua, onde uma placa indicava que Cocoa Beach ficava a sete milhas, viu uma caminhone­te movendo-se pesadamente em sua direção. Acenando para o motorista, explicou seu problema, e depois que uma generosa quantia em dólares passou para a mão do motorista, o homem concordou em levá-lo para o lito­ral sul.

Não foi uma viagem confortável. Para começar, o caminhão não possuía suspensão. Só ganhava veloci­dade nas retas e devia ter alguma engrenagem danifica­da quando fazia curvas. Isto fazia com que o veículo sacolejasse violentamente de um lado para o outro e Christian se alegrou de não ter cedido à tentação do bacon.

Pelo menos, estava seguindo na direção correta. Sa­bia que o endereço de Olívia ficava em Cocoa Beach e quantas casas de veraneio ocupadas por mulheres bran­cas e solitárias poderia haver ali? Pela descrição de Luis, sabia que ficava perto do mar.

O motorista era uma pessoa calada. Após ter o di­nheiro de Christian em suas mãos, mergulhou no silên­cio. O único barulho na cabine vinha do rádio, sintoni­zado em uma estação que só tocava reggae e rap. A cabeça de Christian latejava no momento em que che­garam ao outro lado da ilha.

A pequena aldeia onde estavam não poderia ser ou­tro lugar senão Cocoa Beach. Com suas casas caiadas, era quieta e sossegada. Uma brisa soprava do oceano, aliviando sua dor de cabeça e chamando sua atenção para a beleza que o rodeava. Praias extensas, ao longo dos dois lados de um píer de pedra, onde a água era de um verde-azulado deslumbrante nos locais mais rasos e progredia para um tom cobalto, conforme a profundi­dade aumentava.

Aqui a estrada era de terra batida, esbranquiçada pela areia, iluminada pelo sol. Residências de fachadas brancas com cortinas fechadas e apenas um casal de crianças brincava com um cão de rua, lançando-lhe olhares inquisitivos enquanto caminhava.

Não pôde ver imediatamente o lugar que parecia a casa descrita por Luis. No entanto, não desejava pedir informações às crianças. Em vez disso, pendurou as alças da maleta nos ombros e dirigiu-se à praia.

Caminhou ao longo da costa, deixando pegadas es­curas de seus sapatos caros na areia úmida. Além da aldeia, as árvores agrupavam-se próximas às dunas, palmeiras e ciprestes que escondiam qualquer casa iso­lada da vista dos outros.

E então ele a avistou.

Ela estava acabando de sair da água, e ainda que estivesse um pouco distante, Christian soube instinti­vamente que era ela. Evidentemente, estava dando um mergulho matinal e observou-a retirar o cabelo de seu rosto com ambas as mãos.

As mãos de Olívia pousaram no pescoço, e ele des­confiou de que ela estava alheia ao fato de esta atitude fazia com que seus seios pressionassem o tecido fino que os cobria. Vestia um daqueles bustiês de amarrar que hoje em dia são usados com shorts, e entre o bustiê e o short, sua barriga aparecia, esbelta, bronzeada e inesperadamente sensual. Na verdade, com seus cabe­los grisalhos escurecidos e lisos sobre os ombros, cada linha delicada de seu rosto e do corpo expostos em per­fil, mais suas longas pernas completavam um quadro de uma feminilidade incrivelmente sensual.

Jurou furiosamente a si mesmo: não se sentia sexual­mente atraído por Olívia. Não podia. Havia ponderado o que havia acontecido na noite em que Tony morrera, e em nenhum momento se permitiu atribuir a mais que um impulso aquele incidente. Se ela havia desfrutado mais do que ele então talvez aquilo havia sido mais importante para ela que para ele.

Entretanto, enquanto a observava inclinar-se para pegar a toalha que havia deixado na areia, sua virilha pulsou com a lembrança repentina. Havia sido tão bom enterrar seu corpo rígido na fenda úmida que havia encontrado entre as pernas dela, tão prazeroso sentir as pernas dela ao seu redor e os tremores convulsivos do orgasmo de Olívia! De repente, soube que se houvesse oportunidade, ele o faria de novo.

As mãos dela deslizaram quase instintivamente para a leve protuberância de seu estômago e por um momen­to ela parecia quase pensativa. Então seus dedos baixa­ram um pouco o short e a boca de Christian secou. Dios, ela o estava tirando?

Mas não. Após um instante, as mãos da mulher des­viaram para a parte inferior das costas e ela curvou a coluna. Estava obviamente fazendo um alongamento após a natação e era problema dele estar atribuindo mo­tivações sexuais para os movimentos dela. Estava há muito tempo sem uma mulher, concluiu ele inflexível. Não tinha interesse na fria viúva.

Não sabia o que fizera com que ela o notasse naquele momento. De qualquer maneira, ela o havia visto, e por um momento algo semelhante à sensação de pânico sur­giu na face da mulher. Com um rápido movimento ela pegou a toalha e enrolou-a sobre os ombros, cobrindo-se com sucesso de seu olhar evidentemente inoportuno.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou, quando era perfeitamente óbvio por que ele estava ali. E quando ele cobriu os poucos metros que os separa­vam: — De onde você veio?

— Bem, eu não surgi do nada — respondeu ele rapi­damente, ressentindo-se da hostilidade com que ela ha­via recebido sua mais inocente atitude. — Como você acha que cheguei aqui? Embarquei em uma balsa vindo de Nassau. Eu, também, posso ser imprevisível. — Ele lançou-lhe um olhar desafiador. — Certo?

Podia perceber que ela queria dizer que não estava certo, que deveria tê-la avisado sobre sua visita, e não tinha nenhum direito de aparecer ali sem comunicar.

— Luis não lhe contou que falei com ele há dois dias? —- Christian continuou enquanto ela calçava os pés em seus chinelos. Nunca notou como pés descalços podiam ser tão sensuais, pensou irritado. Ainda que es­tivesse atento a tudo que dizia respeito a ela, da água do mar brilhando em seus cílios aos dentes brancos que mordiscavam o lábio inferior.

— Ele pode ter dito — ela respondeu desta vez, como se qualquer notícia a seu respeito fosse indiferen­te para ela. Em seguida, como se repentinamente des­cobrisse outro trunfo: — Você está sozinho? — Ela olhou por trás dos om­bros dele como se procurasse por alguma companhia. — Com quem você está saindo no momento? Julie? Ela veio com você?

Ele planejava não ceder à provocação.

— O que você está dizendo? — perguntou ele. — Que se eu tivesse trazido uma namorada seria bem-vindo?

Ela lhe lançou um olhar de soslaio, enquanto come­çava a atravessar a areia, o que traduzia sua opinião sobre aquela resposta. Uma clareira entre as árvores revelou uma casa comprida, ele via agora. Depois, en­colhendo os ombros levemente ela disse, num tom suave:

— Estaria mais de acordo com a sua personalidade, não acha?

O maxilar de Christian se contraiu ao ouvir suas pa­lavras. Com quem ele saía e quando não era problema dela.

— Talvez eu estivesse com receio dos seus ciúmes — ele zombou por fim, decidindo que, se ela tinha o direito de perturbá-lo, ele podia fazer o mesmo, e ouviu a súbita respiração dela.

— Não... não ouse dizer isso a mim — afirmou ela com uma voz baixa, excitada. — Não sou uma de suas... conquistas!

— E eu não sou seu marido! — ele a imitou, acom­panhando o passo dela, que tinha o rosto em chamas.

— Vá para o inferno! — Ela retrucou, acelerando o passo e afastando-se dele ao passar pelo cinturão de palmeiras e começar a subir pelo gramado em frente à casa.

Christian não queria se impressionar com o lugar, mas não foi possível. Uma varanda fechada, onde ca­deiras e mesas de bambu forneciam um abrigo provi­dencial, abria-se em um fresco saguão ladrilhado. Os quartos estavam distribuídos por ambos os lados: apar­tamentos iluminados e espaçosos com móveis de car­valho caiados e sofás moles e macios. Almofadas se espalhavam pelas cadeiras e sofás, competindo com o colorido dos muitos arranjos de flores. Era elegante, acolhedor, e ele reconheceu o toque de Olívia nas fotografias dela e de Luís que decoravam a lareira, e as gravuras de flores que ficavam penduradas no aparta­mento em Miami.

— Legal — disse ele admirado, mas ela não respon­deu. Em vez disso, virou-se para uma mulher de pele escura e idade indeterminada que surgiu dos fundos da casa.

— Susannah — disse ela sucinta. — Você poderia atender o senhor... er... Sr. Rodrigues em qualquer coi­sa de que ele necessite, por favor? Quero me trocar.

— Não por minha causa, eu espero — murmurou Christian maliciosamente, incapaz de conter uma res­posta.

Ele realmente não entendia por que sentia tanto pra­zer em provocá-la. Olívia lançou-lhe um olhar bravo antes de se afastar, dirigindo-se aos quartos que fica­vam nos fundos da casa.

Em seu quarto, Olívia pela primeira vez ousou respi­rar profundamente, desde que havia virado a cabeça e visto Christian vindo em sua direção pela praia.

Para começar ela desconfiou estar imaginando coi­sas. Que os pensamentos em sua mente ao sair da água, e passar suas mãos pela protuberância evidente de seu abdômen houvesse de algum modo materializado sua figura no ar.

Ela estava pensando como seria seu bebê, com quem ele se pareceria. Pela primeira vez, imaginou o que fa­ria caso a criança parecesse com o pai. Graças a Deus, o acidente de Luis havia acontecido nos primeiros me­ses de sua gravidez. Mesmo que estivesse com mais de cinco meses agora, sua elegância natural permitia que ela disfarçasse a cintura grossa com camisas e vestidos largos.

Christian não era como seu enteado, no entanto. E quando percebeu que ele a havia visto, e provavelmen­te observou-a enquanto ela examinava seu ventre, sen­tiu pânico de verdade. Christian era um homem, um homem experiente. Certamente possuía experiência su­ficiente para saber se uma mulher está grávida ou não.

Nunca havia sonhado que ele pudesse aparecer por ali sem avisar, ainda que se repreendesse por não ter pensado nisso antes. Era exatamente o tipo de coisa que Christian faria, apenas para aborrecê-la.

Enquanto entrava no chuveiro, lembrou-se do que ele havia dito quando zombou das namoradas dele. Ele não podia sinceramente acreditar que ela estivesse com ciúmes, mas precisaria ser mais cautelosa com suas pa­lavras no futuro. Não queria que parecesse que se im­portava com ele.

Contudo, isto não iria acontecer. Ainda que passado mais de um mês do acidente de Luis e quatro semanas desde que os médicos concordaram que ele continuasse sua recuperação ali, ninguém sabia quanto tempo leva­ria. Dependeria do quão rápido sua pélvis cicatrizasse e de alguma possível complicação.

No entanto, sua gravidez não seria frustrada. Ela já estava acostumada a sentir vida mexendo-se no fundo de seu útero. Em circunstâncias normais, ficaria emo­cionada com este desenvolvimento. Ela estava emocio­nada. Christian não poderia estragar aquilo. Mas estava encrencada e era difícil não se sentir incomodada com a chegada do rapaz.

Saiu do chuveiro e enrolou-se em uma das toalhas felpudas que trouxera do apartamento. Gostaria de po­der confiar em alguém. Susannah era amável, mas não poderia compreender seus sentimentos. Não, só tinha a si mesma para contar e pronto.

Acostumar-se a dividir a casa com Luis e sua enfer­meira não foi igualmente fácil. Mesmo com quatro quar­tos, havia poucas salas de estar e ela teve de desistir do quarto em que planejara escrever para que o fisioterapeuta de Luis pudesse ter um lugar para trabalhar. Por alguns dias, Olívia quase desejou ter seguido o conse­lho de Christian e aberto a casa de Bal Harbour, que era muito maior. Porém, reprimiu seus lamentos e reco­nheceu que Luis parecia mais feliz ali.

E ela estava mais feliz também, até que Christian apareceu.

Retirando a toalha, ela se olhou no espelho do banhei­ro. Parecia realmente grávida? Era óbvio? Alguém as­sociaria sua cintura grossa com um bebê, caso não sou­besse? Desconfiou que sim. Independente de qualquer outra coisa, seus seios estavam maiores, os mamilos mais escuros, transformados por mudanças que ela nem ha­via considerado. Ah, se Christian se mantivesse distan­te ela poderia lidar com aquilo.

Normalmente, ela vestiria um short e uma camisa larga, mas hoje não queria se expor ao olhar crítico de Christian, e em vez disso colocou um vestido de algo­dão com alças, amarrado abaixo dos seios por uma fita de cetim. Era estampado com nuances de rosa e verde e sempre foi um de seus favoritos. Talvez Christian o reconhecesse. E se o fizesse poderia acabar com qual­quer suspeita que por acaso tivesse.

Eram quase dez horas quando ela voltou à sala de estar. Esperava que Christian pudesse estar sentado na varanda, onde ela geralmente tomava seu café da ma­nhã, mas, para seu aborrecimento, ele estava esparra­mado em um dos sofás conversando com Helen Stevens, a enfermeira de Luis. Ele ficou de pé tão logo ela apareceu, mas não antes que pudesse vê-los e registrar a intimidade de que aparentemente gozavam.

É claro, Christian já havia encontrado Helen antes. Ele havia insistido em tomar as providências para os cuidados com a saúde de Luis. Só agora ocorria a Olívia o quanto ele a conhecia. Não gostava da idéia de que a enfermeira Helen pudesse ser mais uma das ex-namoradas de Christian.

Helen levantou-se também, quando Olívia entrou, confusa, como se soubesse que havia sido pega com­portando-se de maneira pouco profissional.

— Luis ainda está dormindo — disse ela, ruborizan­do suas sardas. — Ele teve uma noite ruim. Agora que se sente mais forte, o gesso em sua perna está começan­do a incomodar.

— Mas no geral ele está bem? — Seus próprios pro­blemas foram esquecidos, Olívia olhou para a enfer­meira preocupada.

— Ah, sim — retrucou Helen, prendendo o cabelo preto e cacheado com as mãos num gesto descuidado.

— Ele está impaciente, só isso. — Ela olhou para Christian, abrindo os lábios em um sorriso atraente. — Estava contando ao senhor Rodrigues que Luis está an­sioso para entrar no mar. Não o critico. Olhar este mar azul todos os dias e não poder desfrutar dele, deve ser uma tortura!

Os lábios de Olívia se contraíram:

— Está sugerindo que ele se sentiria mais feliz recu­perando-se em outro lugar?

— Eu, não...

Helen pareceu constrangida e, como se estivesse com pena dela, Christian interferiu:

— Acho que a enfermeira Helen quer dizer que o ambiente ao redor está encorajando Luis em sua recu­peração — ele comentou, num tom ameno. — Me sinto satisfeito em saber que ele está ansioso para melhorar.

O calor subiu à garganta de Olívia. Ele falava como se ela não estivesse igualmente satisfeita. Mas, até en­tão, ele estava apenas tentando agradar a outra mulher. Tentando mostrar-se da maneira mais atraente.

O que quer que fosse, Olívia se magoou, e tão logo a enfermeira Helen pediu licença e se retirou da sala, ela suspirou.

—- Espero que Susannah tenha lhe dado tudo de que precisasse —- comentou, secamente. — Você parece ter feito uma conquista com um de meus funcionários.

Os lábios de Christian se contorceram.

— Nem de longe.

— Talvez eu esteja enganada. — Mas Olívia sabia que não soava como se estivesse. — Ela teve tempo de inteirá-lo sobre os progressos de Luis ou estavam mui­to ocupados recordando os velhos tempos? — Ele estreitou seus olhos negros, divertindo-se.

— Cuidado Olívia, posso começar a pensar que você está com ciúmes.

Olívia disse com a voz entrecortada:

— Você deveria se sentir envergonhado de me dizer isso!

— Envergonhado? — Seus olhos se obscureceram. — É uma palavra estranha. Você poderia explicar o que quer dizer?

— Se você acha necessário que eu explique...

— Ah, certo. Estamos de volta ao que aconteceu na noite da morte de Tony. — Ele balançou a cabeça. — Eu esperava que você deixasse isto para trás. Gostaria que tivesse tirado isso de sua cabeça.

— Eu também gostaria — exclamou Olívia com rai­va, e então engoliu a seco quando um olhar contrariado cruzou o rosto intrigado.

— O que quer dizer? — Ele a encarava.

— Esqueça.

Olívia virou-se, consciente de que havia sido impru­dente mais uma vez. Santo Deus, se não tomasse cuida­do ele iria desconfiar que algo a perturbava. E não ape­nas o fato de ele aparecer sem aviso.

De repente, a respiração de Christian atingiu sua nuca, e ela percebeu que ele estava atrás dela. Foi ne­cessária toda sua força de vontade para não ceder à tentação e se afastar.

— É você que parece ter algum problema, Olívia, querida — murmurou ele delicadamente. Ele respirava próximo ao seu pescoço.

— Eu... — Ela estava sem palavras. Sentia uma von­tade louca de levar as mãos à barriga e sentir o recon­fortante movimento da vida que trazia em si. Mas aqui­lo era algo que não podia fazer, não na presença dele, e, ofegando, ela acrescentou: — Suponho que seja porque nunca enganei meu ma­rido antes.

Christian reprimiu um palavrão.

— Se formos exatos, você não traiu seu marido — disse ele com aspereza, e suas mãos fecharam-se sobre os ossos estreitos dos ombros dela. — Droga, Olívia, pare de se martirizar sobre algo que não podemos mu­dar. Tony está morto. Ele já estava morto quando... bem, você sabe quando. Não tenho que lhe dizer isso. Você não tem por que se culpar.

Olívia estremeceu, sabendo que as mãos dele em seus ombros eram muito reais, muito excitantes. Esta era sua chance de dizer o que pensava por ele esquecer tão facilmente o que havia acontecido, mas em vez dis­so imaginava o quão prazeroso seria abandonar-se so­bre seu corpo alto. Deixar seu corpo rijo tomá-la.

— Então, quem irei culpar? — perguntou ela, for­çando-se a se afastar dele. — Você?

O rosto fino de Christian se contraiu.

— Se é disso que precisa para superar o fato, por que não? — respondeu ele entediado. — De qualquer ma­neira, não vim aqui para brigar com você, mi amor. Apenas queria ver meu primo. Certamente isso não é um crime, mesmo para você.

Olívia respirou fundo.

— Certo. — Ela se recusava a corresponder ao seu afeto deliberado e, recompondo-se, encarou-o nova­mente, — Então, quanto tempo planeja ficar?

 

Luis estava na varanda quando Christian regressou da cidade. Estacionando o jipe conversível que alugara de um vendedor em San Gimeno, junto à vivenda, Chris­tian pulou do carro. Depois, debruçando-se outra vez, apanhou o saco contendo os calções e camisetas que comprara na cidade e percorreu a grama até os degraus da varanda.

— Oi — disse ele enquanto Luis subia os degraus. Ele já não tinha de usar o colar cervical, e apontou o jipe. — Que máquina você arranjou.

— Bem, eu não gosto da idéia de sua madrasta ter de depender de táxis para se deslocar — disse Christian, descontraído, sabendo de antemão que Olívia não lhe agradeceria o gesto. —- O que acha?

A boca de Luis esboçou um sorriso.

— Bem, eu não diria que esse tom de rosa combina com você — ele brincou.

— É isso aí. — Christian recebeu o comentário com ar de gozação. — Mas vai servir para transportá-lo. Você pode precisar dele um dia desses.

— Isso quer dizer que você vai me deixar dirigi-lo? — Luis bateu no peito num gesto brincalhão. — Não sei se meu coração agüenta!

Christian fez uma careta.

— Você pode brincar, mas não está em posição de discutir. — Ele levantou uma sobrancelha. — E então, como está se sentindo? Já vejo que lhe deram muletas para andar por aí.

Luis se lamentou.

— Não acho que alguém entenda como é difícil le­vantar de uma cadeira, para começar. Por que não pos­so simplesmente sentar aqui até que o osso se cure?

— Você sabe que não pode. — Christian estava so­lidário, mas tentou falar positivamente. — Você tem de fazer algum exercício. Eles lhe ofereceram alguns pesos?

— Eu não gosto de malhação — resmungou Luis, amuado. Mas depois, mudou de conversa. — Então e você? Quanto tempo vai ficar? Mamãe falou que você não lhe falou quais eram seus planos.

Christian hesitou e se acomodou numa das espregui­çadeiras de bambu. De frente para Luis, ele pousou a sacola e descansou os braços sobre as coxas estendidas.

— Ainda não decidi — declarou, encolhendo os om­bros largos. — Eu lhe digo quando tiver decidido.

— Ei, a casa não é minha — disse Luis, sem se im­portar. — É a mamãe que você tem de agradar.

—- Que quer dizer com isso? Que foi que sua ma­drasta falou?

— Acho que você sabe melhor do que eu — respon­deu Luis com uma expressão esquisita em seu rosto. — Que está acontecendo com você e ela? Eu posso estar todo machucado, mas meu cérebro ainda está funcionando. Eu teria de ser cego para não ver as faíscas que vocês emitem.

Christian virou a cabeça abruptamente e ficou olhando o oceano.

— Você está imaginando coisas.

— Estou mesmo? — retorquiu Luis. — Seja franco, Chris. Vocês dois se odeiam. Por que você não admite isso? Você não gosta quando ela assume o comando.

— Isso não é verdade. — Christian estava de novo no controle e deu a seu primo um olhar de aviso. Então, esfregando as palmas das mãos nos joelhos da calça caqui, ele acrescentou brevemente: — Olívia e eu mal nos conhecemos.



  

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