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CAPÍTULO UM



 

 

― Quem é aquele cara?

Sônia Leyton foi até onde Isabel tentava impedir que um dos convidados bêbados derramasse mais vodka no ponche e cutucou seu braço.

— Quem é ele? — ela insistiu ao ver que Isabel parecia ignorá-la. — Por favor, querida. Você deve saber. Você o convidou.

— Correção... Júlia o convidou — Isabel deu uma resposta breve ao conseguir impedir que Lance Bliss transformasse uma mistura já potente em pura dinamite.

— Sua estraga-prazeres — ele resmungou. Levou a garrafa aberta aos lábios e deu um generoso gole. — Pega leve, tá? Isso era para ser uma festa.

— Não uma vigília — Isabel respondeu ao imaginar o que todo aquele álcool poderia causar. — Honestamente, se eu soubesse...

— Você ainda não me disse quem é aquele cara — Sônia protestou, obcecada pela resposta. — Você pode até não tê-lo convidado, mas o apartamento é seu. Você deve saber quem a Júlia chamou.

Isabel deu um suspiro de cansaço e olhou na direção que Sônia indicava, embora isso não fosse tão necessário. Ela notara aquele homem assim que Júlia o deixou entrar. Cruzaram brevemente o olhar e ela disse a si mesma que a reação que teve foi por ele não parecer inglês. Mas na verdade, era o homem mais atraente que já vira.

Moreno e alto, com o cabelo liso na altura dos ombros. Era mais novo do que Júlia, suspeitava. Não sabia qual era a cor dos seus olhos, mas tinha quase certeza de que também eram escuros, o que complementava seus traços meio rudes, bastante masculinos.

Naquele exato momento, ele estava encostado no parapeito da janela com uma das mãos apoiada na coxa, enquanto com a outra segurava uma garrafa de cerveja. Mas ele não parecia estar interessado nem na cerveja, nem na festa ou na mulher que apoiava o braço em seu ombro de maneira possessiva.

— Não sei o nome dele — Isabel disse. Estava se perguntando por que Sônia não ia perguntar a Júlia quem ele era. Embora a resposta fosse óbvia. Júlia não queria Sônia rondando seu território.

— Droga! — Sônia parecia desapontada. — Tenho quase certeza de que já o vi antes. — Bateu de leve nos lábios com um dedo com a unha pintada de vermelho. — Será que foi no Hampden na semana passada? Oh, mas você não saberia dizer — acrescentou com um olhar meio desdenhoso para Isabel.

— Você não gosta de festas, não é?

— Não de festas como essa — Isabel concordou com certa ironia. Já estava quase arrependida por ter aceito o pedido de Júlia, mas seu apartamento era bem maior que o dela, e teria sido rude não ajudar a amiga.

— Bem, vou ter que descobrir por mim mesma — Sônia comentou enquanto se servia de uma abundante quantidade de ponche. — Tem algum álcool nisso? É tão suave...

Isabel balançou a cabeça, sem se importar em responder. Se Sônia achou que o ponche estava fraco, era porque estava habituada a tomar bebidas fortes. Isabel sabia que Júlia colocara uma garrafa inteira de rum na mistura de vinho e suco de fruta que preparou. E era tudo que sabia sobre isso. Mas não duvidava que a amiga tivesse misturado mais alguma bebida ao ponche.

Ao olhar em volta da sala pôde ver que muitos convidados pareciam estar arrasados. Ela avisara a sua amiga que não admitiria drogas, mas se perguntava se algumas daquelas pernas bambas e olhos vidrados não seriam causados por mais do que uma mera mistura de bebidas. A música também estava alta demais. Alguém tinha colocado hard rap[1] para tocar, no lugar do rock que Mia escolhera mais cedo. Ao ver os convidados girarem no chão, Isabel se sentiu velha, embora não conseguisse se lembrar de já ter se comportado de modo tão promíscuo. Nem quando era adolescente. E como aquilo tudo era lamentável...

 

No entanto, ela teria que sobreviver ali muito depois que a festa terminasse, e sabia muito bem que seus vizinhos do prédio em Mortimer Court não suportariam se a festa virasse uma rave[2]. Sua vizinha de porta, a sra. Lytton-Smythe, já protestara contra a quantidade de carros bloqueando a entrada da garagem subterrânea. E os dois médicos que ocupavam o apartamento abaixo tinham pacientes agendados bem cedo na manhã seguinte.

Júlia sugeriu que Isabel convidasse todos seus vizinhos para a festa para desencorajar qualquer objeção, mas isso não era uma boa saída. Nenhum dos vizinhos de Isabel compareceriam à farra barulhenta que aquilo estava se tornando.

Isabel deu um suspiro antes de sair da sala grande, que em circunstâncias normais servia como sala de estar e de jantar, e se dirigir para a pequena cozinha ao lado. O barulho da música não era tão alto ali e ela olhava para as latas e garrafas de vinho vazias e para os restos da comida que os convidados de Júlia haviam trazido. Uma olhada em seu relógio revelou que já passava da meia-noite, e ela se perguntava o quanto sua amiga ainda esperava que a festa durasse.

Isabel estava cansada. Estava de pé desde as 6h30 da manhã para tentar terminar o texto sobre um famoso maquiador que ela prometera que estaria na mesa de seu editor na manhã seguinte. Ou melhor, naquela manhã, ela corrigiu. Perguntava a si mesma se deveria ter pedido à Júlia para adiar sua festa até o final de semana. Mas hoje, ou melhor, ontem, foi o aniversário de 30 anos de Júlia e teria sido egoísmo lhe negar que comemorasse no dia.

 

Isabel virou-se e chegou a engasgar ao ver o homem que estava de pé apoiado no batente da porta. Era o homem sobre quem Sônia perguntara. Ele era magro e, sem sombra de dúvida, sexy, em um jeans justo e uma camisa de seda preta com as mangas enroladas até os cotovelos.

— Oh — ela murmurou meio sem jeito, sem poder dizer seu nome, que não sabia qual era. — Oi. — Fez uma pausa. — Quer alguma coisa?

Não quero nada, obrigado — ele respondeu em outra língua, com uma voz grave e sensual.

— Não quero nada, obrigado — ele repetiu em inglês o que acabara de dizer. — Procurava por você.

— Por mim? — Isabel não poderia estar mais surpresa. Em geral, não tinha muita coisa em comum com os amigos de Júlia. Estudaram juntas na universidade, mas depois pouco se viram durante cinco anos. Só quando Isabel voltou a morar em Londres é que elas retomaram a amizade.

Sim — ele concordou com um sorriso. — Eu acho que, como eu, você está, como se diz... Entediada com essas pessoas, não?

Isabel franziu a testa. Então ele era português, ela pensou, ao reconhecer aquele "não" engraçado de sua língua. Mas Júlia não teria gostado se pudesse entender o que ele dizia. Passara a noite inteira repetindo aquela palavra.

— Eu estava só... arrumando — disse por fim, sem acreditar que ele estivesse ali só para vê-la. Pelo amor de Deus, ele não parecia o tipo de homem que se interessaria por alguém tão comum. Ela era bem atraente para uma jovem mulher que se casara e separara em apenas dois anos, mas com certeza não era uma loira alta como Júlia ou Sônia.

Quê? — ele perguntou em português com expressão incrédula. — Não acredito que você seja só uma empregada.

— Oh, não — Isabel achou graça. — Esse apartamento é meu. Júlia, sua namorada... — Por que era difícil para ela dizer aquilo?

— Ela é só uma amiga. — ele disse.

— Ah.

Ele apoiou a cabeça no batente da porta e a estudou com olhos que, ela agora via, serem de um estranho tom âmbar. Emoldurados por grossos cílios pretos, eles lhe causaram um arrepio e ela repreendeu a si mesma ao perceber que era a primeira vez que se sentia atraída por um homem desde que David a deixara.

Ele se endireitou e dirigiu-se para o fundo da cozinha. Ela arregalou os olhos, um pouco por apreensão, mas também por uma intuição que nunca teve antes. Se controla, menina, ordenou a si mesma. Achou que talvez tivesse tomado muito ponche.

Mas tudo que ele fez foi colocar a garrafa de cerveja que segurava no escorredor de pratos. Ele fez uma expressão de quem achou engraçada sua reação não muito sutil.

Sem voltar para onde estava, perguntou:

— Então você deve ser Isabel, não?

— Sim! — Isabel replicou, um pouco sem ar. — Isabel Jameson. — Ela hesitou antes de perguntar: — E você é...?

— Meu nome é Alexandre. Alexandre Cabral — ele respondeu inclinando levemente a cabeça. — Muito prazer — disse em português.

— Como vai? — Isabel ficou atordoada quando ele lhe apertou a mão. Ela não estava acostumada a esse tipo de apresentação formal, embora imaginasse que em seu país essas antigas cortesias ainda existissem.

— Muito bem, obrigado, srta. Jameson — ele respondeu com um tom de voz suave, pegando uma de suas mãos e levando aos lábios.

Mas, embora Isabel esperasse que ele tocasse os nós de seus dedos com os lábios, Alexandre virou sua mão para beijar-lhe a palma. E por um breve momento ela teve quase certeza de que sentiu a língua roçar sua pele, mas estava tão perplexa com tudo aquilo que poderia ter sido só imaginação.

Ela teria tirado logo a mão, esfregado a palma em sua calça de algodão creme e fingido que nada acontecera, mas ele não permitiu. Continuava a segurar-lhe a mão e olhá-la nos olhos de modo intenso. E ela sabia que ele percebia que a desconcertava, tanto pela audácia quanto pela reação relutante dela.

— Sr. Cabral...

— Pode me chamar de Alexandre — ele interrompeu com a voz rouca. Isabel sentiu sua boca ficar seca.

— Contanto que me permita chamá-la de Isabel. É um nome tão bonito. O nome de minha avó é Isabela. É um nome muito popular em meu país.

Isabel passou a língua em seus lábios ressecados e sacudiu a cabeça perplexa. Ela não sabia onde ele aprendera suas técnicas de sedução, mas duvidava que tivesse sido ali. Imaginava que ele devesse ter 25 ou 26 anos. E ela já tinha quase 30. Ainda assim, ele a fazia se sentir inexperiente e inadequada.

— Pode me chamar como quiser... Alexandre. Contanto que solte minha mão. — Ela conseguiu soltar seus dedos e forçar um sorriso. — Não está gostando da festa?

Ele encolheu os ombros largos sob o tecido caro de sua camisa.

— Você está? — ele replicou. — É por isso que está escondida aqui?

Isabel arqueou suas sobrancelhas bem mais escuras que seu cabelo cor de mel.

— Não estou me escondendo — lhe assegurou com firmeza. — E se estivesse, parece que não estou conseguindo fazer direito, não?

Alexandre a olhou com olhos semi-cerrados.

— Poderíamos nos esconder juntos — ele sugeriu enquanto passava o dedo sobre seus lábios e queixo. —Você gostaria? ...

Isabel deu um passo involuntário para trás.

— Não, não gostaria! — exclamou irritada consigo mesma por permitir que aquilo acontecesse. Não importava qual fosse a impressão que dera, ela não estava interessada em uma aventura de uma noite. Que Mia satisfizesse sua libido. Ela não queria se envolver com ninguém.

Mas, infelizmente, tinha um engradado vazio bem atrás dela. Ao apoiar-se no balcão para não cair, seus dedos roçaram sem querer a cintura musculosa dele. Ela sentiu na mesma hora o calor que a tomou quando ele a tocou um pouco antes. Mas quando ele ia ajudá-la a se equilibrar ela, mais do que depressa, se afastou.

— Eu acho que deveria voltar para a festa, sr. Cabral — ela recomendou, apesar de tê-lo chamado só de Alexandre antes.

— Estou certa de que Júlia deve estar se perguntando onde está.

— E por que isso teria importância? — ele perguntou em um tom de voz cada vez mais íntimo.

— Bem, porque provavelmente é importante para Júlia — Isabel retrucou com ironia. — Imagino que vocês tenham muitas festas em Portugal.

Ele encolheu os ombros e chegou para trás para esticar os braços no balcão atrás dele.

— Não sei das festas em Portugal — observou de modo seco. — Eu não sou português, sou brasileiro.

Por um momento, Isabel esqueceu de seu tornozelo dolorido por causa do engradado e que estivera tentando afastá-lo. Disse com uma expressão de surpresa:

— Que fascinante! Eu sempre quis conhecer a América do Sul.

Verdade?

Ela não sabia o que aquela palavra em português significava, mas continuou, sem se importar.

— Então está trabalhando aqui em Londres? Também trabalha com publicidade?

— Ah, não. — Fez uma expressão de deboche. — Fazer propaganda de mim mesmo não é o meu negócio.

— Entendo — Isabel disse. Embora tenha pensado consigo mesma que era uma pena. Ela quase podia vê-lo saindo nu do mar, promovendo uma fragrância sexy masculina. — Então... O que você faz? — ela prosseguiu, com medo que seus pensamentos pudessem ser lidos em seus olhos. — Está de férias?

— De férias? — Ele pareceu achar engraçado. E então, ao ver sua expressão confusa, explicou: — De férias? Na Inglaterra... Em novembro? Acho que não — disse em português, e depois repetiu em inglês.

— Oh, entendo... — Isabel disse a si mesma que não estava tão interessada e foi buscar a garrafa que ele descartara. Mas só depois de pegá-la percebeu que ainda estava meio cheia. Derramou cerveja em sua camisa e teve que sufocar um palavrão.

— Que droga — ela disse, incapaz de resistir à imprecação. — Você podia ter avisado que não bebeu tudo.

Sinto muito! — Alexandre foi até ela e tirou a garrafa de seu alcance. — Sinto muito, repetiu, dessa vez em inglês. Jogou a garrafa na pia e olhou para a camisa molhada que delineava o busto de renda de seu sutiã meia-taça.

— O que posso fazer para ajudar? — Colocou os dedos sobre os botões de sua camisa. — Por favor, deixe-me tirar isso.

Isabel engasgou incrédula e deu um tapa em suas mãos.

— O que pensa que está fazendo? — ela protestou. — Não faça isso! E se alguém entrar?

Alexandre moveu a boca de modo sensual, mas obedeceu e tirou as mãos de seus ombros.

— E essa é a única razão pela qual quer que eu pare? — ele a provocou, com aqueles olhos âmbar em fogo. — Muito bem.

Isabel percebeu que tremia e isso a deixou furiosa. Por Deus, o que havia de errado com ela? Mesmo quando encontrara David pela primeira vez não se sentiu tão vulnerável. Ou tão animada, admitiu com pesar.

— Acho que deveria me soltar, sr. Cabral — disse com severidade. — Acho que teve uma impressão errada de mim.

— E se eu não quiser? — ele murmurou enquanto colocava os dedos dentro da gola de sua camisa.

— Não acho que isso tenha importância — ela replicou, sem deixar que ele visse como a perturbava. — Não sei o que Júlia disse sobre mim, mas não estou interessada em sexo casual.

Aquilo o chocou. Ela viu seus olhos escurecerem. A cor âmbar deu lugar a um tom mais sombrio. Mas nem assim ele a soltou.

— Nem eu — ele informou categórico. — E Júlia não me falou nada sobre você. Por incrível que possa parecer.

Isabel corou.

— Eu só quis dizer...

— Eu sei o que quis dizer, querida. — Seus olhos a trespassaram. — Mas não penso que seja virgem, não.

Seus dedos a apertaram um pouco e ela prendeu a respiração.

— Sou divorciada. Agora, por favor, gostaria que me soltasse.

— Te ofendi? Não era minha intenção.

— Não? — Isabel pensou que sabia muito bem o que ele pretendia. Mas agora estava mais preocupada em afastá-lo um pouco. Estava tão próximo que não conseguia respirar. Com aquele hálito morno em sua testa e aqueles dedos em sua pele, ela estava vulnerável demais. — Bem, seja lá o que for que pretendia, não estou interessada em massagear seu ego.

— Meu ego? — ele pareceu achar engraçado. — Então você acha que sabe que tipo de homem sou?

— Acho que é muito seguro de si — ela declarou com firmeza. — E, não importa o que diga, também duvido que seja virgem.

Ele sorriu, mostrando seus dentes brancos entre a curva sensual de seus lábios.

Está certa — disse em português. — Tem toda razão. Dormi com mulheres, sim. Quer saber com quantas?

— Não! — Ela parecia horrorizada. Ele deu uma risada baixa.

— Achei que não — disse presunçoso. E antes que ela suspeitasse o que ia fazer, ele inclinou a cabeça e pegou o cantinho de seu lábio inferior com os dentes.

A mordida foi mais prazerosa do que dolorida. Ele passou-lhe a língua nos lábios e então se apoderou de sua boca e colocou a língua entre seus dentes.

Colocou a mão em seu pescoço e ela sentiu que ele afrouxava o nó que prendia seu cabelo. Ela o prendera mais cedo, mas agora se dava conta de como estava mal feito. Fios sedosos caíram sobre suas orelhas e sobre os nós dos dedos dele. Ele deu um gemido de satisfação.

Ela fez um protesto abafado que não era de todo verdadeiro. Aquele gesto inesperado a deixou com uma estranha sensação de irrealidade. Isso não poderia estar acontecendo, pensou. Não com alguém como ela. David sempre dissera que ela era frígida, mas nos braços de Alexandre o sangue fervia em suas veias.

 

Ele a imprensou contra o balcão, seu corpo forte parecia feito sob medida para ela. O beijo tornou-se mais profundo enquanto a puxava pelo quadril de encontro a ele, o que fez com que qualquer pensamento de recusar sexo com ele desaparecesse por completo...

— Que diabos você pensam que estão fazendo?

Isabel ouviu a reclamação ao longe. Mas seu significado não foi registrado até sentir as unhas enfiadas em seu braço e ser arrancada de perto de Alexandre.

Então viu Júlia e a expressão no rosto da amiga fez com que sentisse vergonha. Que substituiu o que ela mais tarde descreveria como euforia completa. Ela tinha certeza de que deveria estar fora de si.

— Júlia — disse ao virar-se para olhá-la. — Eu... Não é o que está pensando.

— Ah, não? — Júlia não parecia estar convencida. — Meu Deus, isso é sangue na sua camisa?

Isabel quase desejou que fosse, assim poderia alegar que Alexandre só a consolava. Mas duvidava que Júlia acreditaria.

— É cerveja — admitiu constrangida. — Eu derramei em cima de mim mesma.

— Não era só isso que estava em cima de você. — Júlia estava amarga. — Pensei que fossemos amigas, Issy.

— Nós somos...

— Então está bêbada, é isso? Será que com a quantidade de homens que há aqui você tinha que atacar logo o que está comigo?

— Júlia...

Se me dão licença. — Alexandre estivera quieto ouvindo a discussão, mas resolveu intervir. — Eu vim para a festa sozinho, Júlia — disse com frieza. — Posso ser muitas coisas, menos seu namorado.

— Oh, por favor... — Isabel tentou mais uma vez. Mal olhava para o rosto de Alexandre. Não ousaria encará-lo. Não queria que ele notasse o que não admitia nem para si mesma.

No entanto, percebeu como ele estava imóvel, com as mãos enfiadas nos bolsos de trás da calça. Ainda podia sentir a carícia daquelas mãos, pensou meio entorpecida. Mas a expressão do rosto dele não combinava com seus pensamentos.

— Estávamos juntos mais cedo! — Júlia exclamou. — Nem estaríamos aqui se não fosse por minha causa.

— Não sabia que seu convite vinha, como se diz em inglês... Com algemas — ele respondeu com frieza. — Você está fora de si, Júlia. Não preciso da sua permissão para falar com a srta. Jameson.

— Para falar? — Júlia riu indignada. — É assim que você chama? Quando entrei você estava com a língua quase na garganta dela.

— E o que você tem a ver com isso? — Isabel notou que seu sotaque aumentara. — Sugiro que saia daqui, Júlia. Somos adultos. Não precisamos que tome conta da gente.

— Talvez seja melhor que o sr. Cabral saia — Isabel se atreveu a dizer, sem olhar para ele. — Está ficando muito tarde.

— Você não fala sério! — ele exclamou com indignação. Mas antes que ela pudesse responder, Júlia interveio.

— Fala, sim. — disse com uma expressão de triunfo. — Tchau, tchau, Alex. Te vejo na semana que vem.

Isabel olhou para o rosto de Alexandre. O que aquilo tudo significava? Mas ele já se dirigia para a porta e, por um momento, achou que ele fosse sair sem dizer mais nada.

No entanto, se deteve à soleira da porta. Segurava a maçaneta com uma das mãos e com a outra jogou o cabelo para trás.

— Ainda não acabamos, Isabel — informou com voz suave. Ela não sabia se aquilo era uma promessa ou uma ameaça. Volto mais tarde.

E o que significaria aquela frase em português?

Boa noite, senhoras.

 

 


 

 

CAPÍTULO DOIS

 

 

Depois que Alexandre foi embora, instalou-se um silêncio constrangedor. Então Júlia disse:

— Foi engraçado, não foi?

Isabel espremeu os lábios.

— Foi, mas prefiro não falar sobre isso, se não se importa. Ao olhar para seu relógio de pulso, notou como sua camisa estava colada ao corpo e ficou envergonhada por sua aparência.

— Está tarde, como eu disse. Talvez fosse uma boa ideia se terminássemos tudo agora. Já é mais de 1h e...

— Está brincando? — Júlia ficou de queixo caído. — Issy, não pode fazer isso. As coisas estão começando a esquentar.

— Fez um gesto de impaciência. — Só porque você ficou meio bêbada e seduziu Alex, não vou botar tudo a perder. Somos amigas há muito tempo para deixar que um homem...

Isabel ergueu uma das mãos para pedir que se calasse.

— De onde você o conhece? E o que quis dizer quando falou que o veria na próxima semana?

— Oh. — Júlia parecia ter ficado tímida. — Ele não te contou? Bem, eu acho que ele não teve chance de fazê-lo, não é? Nós, quero dizer, a agência está fazendo um trabalho para a empresa dele. A Cabral Leisure é bem forte na América do Sul. Eles querem entrar no mercado europeu e escolheram nossa agência para promovê-los.

— Oh, entendo.

— É. Nosso Alex é importante, Issy. Por isso fiquei tão irritada quando vi vocês dois juntos.

— Verdade? — Isabel não conseguia acreditar naquilo, mas Júlia continuou.

— É sério, Issy. Nem eu mesma acreditei quando ele aceitou meu convite. Acho que ele estava entediado. Não é sempre que caras como ele vão a bairros pobres.

Isabel jogava as latinhas vazias que estavam espalhadas pela cozinha na lixeira. Ela quis dizer que seu apartamento não era tão pobre assim, mas não queria dar a Júlia outra desculpa para que fosse condescendente com ela. Além disso, se ele era rico como ela dizia, talvez estivesse mesmo certa. Pelo menos, quanto a ele não se misturar com o povo todo dia.

— De qualquer modo, só porque ele foi embora não significa que tenhamos que arruinar a festa. Mais uma hora, Issy? Querida, por favor. E aí então eu expulso a gangue daqui, prometo.

 

Alexandre voltou para seu hotel.

Era uma noite bem quente para Londres, em novembro, o que era ótimo, já que na pressa deixara sua jaqueta de couro no apartamento de Isabel.

Não foi de propósito, se consolou. Ele ficou com tanta raiva quando ela o pediu para ir embora que não pensou em mais nada a não ser sair dali.

Mas agora a ideia de rever Isabel o intrigava. Quando sua irritação passou, lembrou de sua doçura antes que Júlia os interrompesse. A maciez de sua pele e sua boca provocante.

Isabel, ele devaneou. Isabela. Ela com certeza era diferente das outras garotas da festa. Seu jeito um pouco tímido o fazia lembrar das garotas de seu país, embora ele imaginasse que ela possivelmente nunca tenha tido uma dama de companhia a vigiando.

Só a Júlia...

Ele torceu a boca. Quando ela o convidara para a festa, ele não pretendera aceitar. Embora estivesse trabalhando com a agência, não tinha o hábito de misturar trabalho e prazer. Mas ela foi tão insistente que ele cedeu. Afinal de contas, apesar do desejo de seus pais, ele não tinha compromisso sério com ninguém.

Fez uma cara feia. Não queria pensar em Miranda naquele momento. Não enquanto pensava em Isabel. Ela estava tão linda e sexy em seus braços. Perguntava a si mesmo quantos anos teria. Da mesma idade que ele, imaginou, mas parecia mais nova. Era incrível que já tivesse se casado e divorciado. Ela parecia tão inocente. Ele queria vê-la de novo. Mas será que ela queria vê-lo?

Ficou desapontado por ela não estar em casa quando foi a seu apartamento na manhã seguinte. Em vez disso, uma senhora tagarela saiu do apartamento ao lado e o abordou.

— Procura pela sra. Jameson? — ela perguntou. E Alexandre, que não estava acostumado que falassem com ele daquela maneira, sentiu um arrepio. — Ela não está. — Ela prosseguiu com espalhafato, sem se preocupar se estaria sendo mal-educada. — Ela saiu logo cedo, mas não imagino como vá conseguir trabalhar o dia inteiro, já que nenhum de nós dormiu ontem à noite.

— Ah. —Alexandre começava a entender sua reação.

— Você estava na festa? — ela perguntou para em seguida responder por si própria. — Não, suponho que não, se estivesse não acharia que ela já estaria de pé tão cedo.

Alexandre não se incomodou em corrigi-la.

— Disse sra. Jameson? Eu pensei que a moça fosse divorciada, não?

Ela o olhou desconfiada, como se tivesse acabado de perceber que ele não era inglês, mas respondeu assim mesmo.

— Ela é. — confirmou. — Pelo menos foi o que disse ao proprietário quando se mudou.

— Entendo. — Alexandre não deixou transparecer seu alívio. — Muito, bem, talvez volte mais tarde, quando a sra. Jameson estiver em casa.

Ela franziu os olhos por detrás das grossas lentes do óculos.

— Você é amigo dela? — perguntou. Mais uma vez ele teve que reprimir sua impaciência. Ela franziu os lábios. — Quem devo dizer que esteve aqui?

Alexandre tinha quase certeza de que a pergunta era só por curiosidade, e teve vontade de não responder. Mas a última coisa que queria era que Isabel pensasse que ele andara bisbilhotando.

— Meu nome é Cabral — E depois perguntou: — Obrigado por sua atenção, sra... Srta..?

— Lytton-Smythe — ela respondeu sem titubear. Fez uma pausa e depois se atreveu a perguntar:

— Você também trabalha pro tio dela? Alexandre hesitou.

— Tio? — ele repetiu sem querer.

— Samuel Armstrong. Ele publica revistas ou algo parecido. A sra. Jameson está sempre atarefada entrevistando gente famosa e escrevendo artigos para ele.

— É? —Alexandre estava impressionado.

— Sim — respondeu com relutância, como se estivesse arrependida de ter sido tão franca. — Suponho que ela deva ser muito inteligente, apesar de só trabalhar para o tio.

Alexandre duvidou que aquilo fosse um elogio, mas de qualquer modo estava grato pela informação. Pelo menos tinha uma outra opção de contato para pegar sua jaqueta de volta. Mas isso não alterava o fato de querer ver Isabel de novo.

Isabel estava exausta quando voltou para casa. Conseguira terminar o artigo sobre o maquiador depois que a festa acabou, mas só umas duas horas depois de Alexandre sair ela acompanhou o último convidado até a porta. Júlia fora embora cerca de uma hora e meia antes aos risinhos com seu acompanhante barbudo, e sem demonstrar remorso por deixá-la limpar tudo sozinha.

Por isso, quando Isabel chegou em casa naquela tarde, ainda leve que arrumar a bagunça. Despejou os restos de comida no triturador da pia antes de ir dormir, mas estava muito cansada para arrumar o que ainda faltava.

A primeira coisa que fez ao chegar em casa foi abrir as janelas. O cheiro de cigarro e de cerveja estava nojento e ela se debruçou por um momento no parapeito para respirar ar fresco.

O chão estava cheio de marcas de sapato e o braço de uma das poltronas estava com uma queimadura de cigarro. Mas não houve nenhum dano irremediável. Poderia ter sido muito pior, consolou a si própria.

De qualquer modo, levou pelo menos meia hora para catar todas as latinhas e garrafas vazias e colocá-las no saco de lixo. Só então decidiu que merecia um café fresco.

Levou sua xícara para a sala de estar e deu uma última olhada crítica ao redor. O piso precisava ser encerado e os tapetes aspirados, mas o pior já tinha sido feito. Por enquanto, só queria sentar-se no sofá e fechar os olhos. A verdade era que não estava acostumada com essas noitadas.

Quando a campainha tocou ela pensou em ignorar. Suspeitou que poderia ser a sra. Lytton-Smythe para reclamar de novo sobre o incômodo da noite anterior. Isabel já pedira desculpas aos dois médicos do andar de baixo, que encontrou quando saíam para o trabalho. Por sorte, eles foram compreensivos, mas a vizinha do lado era outra história.

Colocou a xícara na mesinha ao lado do sofá e levantou-se, cansada. Tirara os sapatos ao entrar e não se importou em procurá-los. Foi abrir a porta descalça.

Não era a sra. Lytton-Smythe.

Mas não teve nenhuma dificuldade em identificar o homem que estava em pé do lado de fora com o ombro apoiado na parede. Ele ainda era alto, moreno e lindo como ela lembrava, mesmo com a barba por fazer. Um calafrio percorreu sua espinha.

— Oh — ela disse, momentaneamente perturbada pela aparência dele. Seu coração disparou e ela levou uma das mãos ao peito para tentar controlar suas emoções. — Olá.

Olá — ele a cumprimentou afetuoso. Sua voz era sombria e sensual, com aquele sotaque que fazia com que tudo que dizia parecesse uma carícia. — Estou incomodando? — perguntou ao ver que ela parecia confusa.

Completamente, Isabel pensou ao dar um suspiro para aliviar o nó na garganta.

— Humm... Não. Na verdade, acabei de chegar. — Ela olhou para a sala bagunçada atrás de si. Não podia convidá-lo para entrar. Não podia mesmo. — Quer entrar?

Alexandre duvidava que ela apreciaria o que ele estava sentindo naquele momento. Entrar no apartamento dela tinha um certo atrativo, mas pegá-la pelos ombros, grudar aquela boca provocante na sua, apertá-la contra seu corpo excitado e fazê-la sentir a reação que ele era incapaz de controlar era muito mais tentador.

Ele balançou a cabeça. Não era para acontecer aquilo. Tudo bem, ele se sentira atraído por ela na noite anterior, mas não pretendia prosseguir com isso. Ele quis vê-la de novo, sim, mas não sentir essa necessidade incontrolável de tocá-la. Pelo amor de Deus, o que tinha de errado com ele? Sua família ficaria horrorizada se visse o que estava fazendo.

Isabel, entretanto, levou aquela sacudida de cabeça ao pé da letra.

— Tudo bem, então — disse em um modo um pouco brusco. Tinha confundido tudo. — Em que posso ajudar?

Não! — Alexandre não pôde se controlar. Ergueu as mãos para se desculpar. — Não foi isso que quis dizer, isto é, gostaria muito de entrar.

— Oh! — Ela estava desconcertada, mas era muito bem-educada para recusar. — Tudo bem. — Chegou para o lado para deixá-lo passar e com a mão trêmula indicou a direção da sala.

— Estou certa de que lembra o caminho.

Alexandre passou para o hall, que de imediato pareceu ficar ainda menor em comparação com seu tamanho. O que deu nela para fazer isso, Isabel se perguntava. Depois do que acontecera na noite anterior, só podia estar maluca. Naquele hall estreito, ela ficava ainda mais ciente de sua presença. Além de seu tamanho, que era intimidante, sua masculinidade também era perturbadora.

Quando ele a olhou, Isabel perdeu o ar. O que ele iria fazer? Mas então, ele disse em português:

— Você primeiro. — As palavras soavam muito sensuais. - Você primeiro — repetiu em inglês.

E ela percebeu que sua imaginação acabaria por liquidar com todo seu bom senso.

De algum modo encontrou forças para fechar a porta e conduzi-lo até a sala. Mas o estado em que o apartamento se encontrava era a última de suas preocupações naquele momento. Sabia que ele a observava e desejou estar vestindo algo mais feminino que uma t-shirt curta preta e jeans.

Como aquilo tudo era patético...

— Então... — ela disse quando ele se deteve à entrada. Olhava-o com nítido interesse. — Como pode ver, ainda não tive tempo de consertar os estragos.

Alexandre deu de ombros. Vestia um black jeans e um casaco de lã verde-escuro com o logotipo de algum time de futebol na frente.

— Eu não vim examinar o apartamento — ele respondeu. Seus olhos dourados pairavam sobre a boca de Isabel. Ele ergueu as sobrancelhas. — Você parece cansada, pequena. Não dormiu?

— Ah, obrigada — disse sarcástica. — Isso faz tão bem para o meu ego...

Alexandre contraiu os lábios.

— Não foi uma crítica — ele disse enquanto se aproximava dela. E antes que ela pudesse se afastar, ele levantou a mão e colocou o dedo no círculo roxo sob seu olho. Ela piscava de nervosismo, aflita com a intimidade de seu toque. Ele sorriu.

— Relaxa, pequena. É culpa minha se até a sua vizinha... Sra. Smith...?

— Lytton-Smythe — Isabel o corrigiu meio sem fôlego.

Sim... A boa sra. Smith — ele ignorou sua intervenção e continuou. — Ela reclamou que ninguém conseguiu dormir, não?

Isabel não pôde deixar de sorrir por ele mudar de propósito o nome da velha senhora.

— Como sabe o nome de minha vizinha? — perguntou, recuando a uma distância segura. — Ela falou com você agora?

— Hoje de manhã — Alexandre corrigiu. E para seu alívio, ele voltou a olhar ao redor. — É uma linda sala. — Ele calou-se e mais uma vez seus olhos se fixaram em seu rosto ansioso.

— Seu marido... Ex-marido... Deve ter lamentado ter que sair.

— Ele nunca morou aqui — Isabel respondeu depressa. Nós morávamos... Em outro lugar.

— Não quer me dizer onde era? — Alexandre foi astuto em perguntar. Isabel suspirou. — Acho que a lembrança ainda é dolorosa, não?

— Não mais. — Isabel pôde responder com certeza. Algumas vezes ela achava que seu orgulho fora muito mais ferido que suas emoções.

— Houve outra mulher?

Ele era persistente e Isabel se retraiu por causa das lembranças que suas palavras evocaram.

— Não — disse de modo lacônico. — Olha, podemos mudar de assunto? Isso tudo aconteceu há muito tempo.

Alexandre andou em sua direção e, dessa vez, quando ela recuou sentiu a parede fria atrás de si.

— E então... — ele falou em um modo um pouco rude. — Você ainda vê esse homem?

— Que homem? — Isabel o olhou sem entender.

— Se não havia nenhuma mulher, devia haver um outro homem — ele explicou de modo áspero enquanto levantava uma das mãos para apoiá-la na parede, atrás de sua cabeça.

— Eu quero saber se você ainda... Como é que se diz aqui... Está com ele.

— Não — Isabel ergueu uma das mãos, como que para afastá-lo. — Isso é... Verdade, sim. Havia outro homem. Agora será que podemos falar de outra coisa?

— Você não me respondeu — ele insistiu. Seus curiosos olhos felinos a inquiriam com uma intensidade severa. — Onde está o homem que te persuadiu a pôr um fim em seu casamento?

— Que me persuadiu? — Ela não poderia permitir que ele descobrisse que ela fora a responsável pelo rompimento — Eu não estava com outro homem. David, meu marido, estava. Mas isso aconteceu há muito tempo. Gostaria que esquecesse tudo.

A reação de Alexandre ao saber que outro homem a magoara dessa maneira foi incrível. Ele queria achar esse homem e dar-lhe a surra que merecia.

Mesmo se a relação dela com o ex-marido não tinha nada a ver com ele, recordou a si mesmo. Eles mal se conheciam. Ele tinha o direito de se importar.                 

Mas se importava.

Ao olhar para seu rosto envergonhado quis muito beijá-la. Mas a lembrança do calor sensual que sua boca provocara na noite anterior, e da falta de controle em que ficou, o detiveram.

Mesmo assim, não pôde refrear sua vontade de tocá-la e ergueu uma das mãos para passar um dedo em seu rosto. Sentiu que ela ficou tensa com aquele toque, e também percebeu uma pulsação irregular sob sua orelha. Ele queria sentir a origem daquela palpitação, colocar a mão sob o tecido da blusa e acariciar-lhe os seios.

— Por favor... — Foi como se ela tivesse percebido sua intenção e quisesse desviá-la. — Não sei por que veio aqui, sr. Cabral, mas acho que deveria ir embora.

—Não está falando sério. —Apesar da óbvia expulsão, ele não se incomodou. — Estamos só começando a nos conhecer, não?

— Então por que não se senta um pouco? — disse num impulso. Tinha que fazê-lo ficar longe dela. — Quer um café ou uma bebida gelada?

— Não quero beber nada — respondeu com certa impaciência. Esforçou-se para resistir à vontade de mostrar o que queria. Colocou a mão em seus ombros. Seus dedos invadiram a gola de sua blusa e passaram de leve sobre os ossos que encontrou sob o tecido. — Você é tão contraditória, querida. Disse que se casou e se divorciou, não Admite que seu marido a enganou e, ainda assim, parece não se alterar. — Ele torceu a boca. — Que tipo de mulher é você?

Naquele momento, uma mulher desesperada, Isabel pensou. Ele achava que ela parecia impassível. Ela deu um suspiro. Bem, talvez fosse mesmo. Nas raras ocasiões em que David fez sexo com ela, teve que esconder que não sentia nada. Com certeza nada parecido com o que sentia naquele instante. Teria sido por isso que nunca suspeitou que David tinha um caso? Que até se divorciar nunca soubera da verdade?

Mas Alexandre esperava pela resposta e ela conseguiu dizer:

— Uma mulher muito confusa, receio. — Ela mordeu os lábios. — Tenho certeza de que é muito mais experiente que eu, sr. Cabral. É isso que quer provar?

Não! — Alexandre parecia contrariado. — Eu queria te ver de novo, Isabel. Isso é tão difícil de acreditar?

— Na verdade, é — ela confirmou, ansiosa por mantê-lo falando. — Não sou o tipo de mulher com que passa seu tempo, tenho certeza.

Alexandre cerrou a boca. Tinha que admitir que ela estava certa. No entanto, ela o intrigava, e isso era novo para ele.

Acompanhou com os olhos o movimento de seus seios ao respirar e sentiu de imediato um volume sob o jeans. Seus seios eram empinados e redondos e irrompiam contra o tecido de sua blusa. Estaria excitada ou apreensiva? Era por isso que o repelia?

— Eu assusto você? — ele perguntou de repente, sem saber de onde viera aquela pergunta.

Ela arregalou os olhos com a insinuação.

— Não — negou com veemência. — Mas ainda quero saber por que veio aqui. Ontem à noite eu lhe disse que não estava interessada em... em..

— Sexo casual — ele a interrompeu. Inclinou a cabeça e sussurrou em seu ouvido: — E eu disse que era o que queria? — Esboçou um sorriso. — Ah. sra. Jameson, receio que esteja obcecada com isso.

Isabel decidiu que já era o bastante. Ele podia estar certo sobre ela ser contraditória, mas não podia saber o quanto era inexperiente sexualmente.

Ergueu as duas mãos e empurrou seu peito, o que o fez perder o equilíbrio. Ela então mergulhou para trás do sofá.

Mas não foi rápida o suficiente.

Ele a pegou pela cintura e a catapultou de volta até ele. O recuo involuntário a fez cair sobre seu peito, com seus seios esmagados entre eles.

 E não só os seios, ela se deu conta, ao sentir a súbita pressão de sua pélvis contra a dele. E também de sua impressionante ereção que pulsava contra sua barriga.

Mas isso tudo acontecia sem que tivesse muita consciência. Sua atenção estava voltada para o fogo em seus olhos. Um fogo devastador que se espalhava por todo seu corpo. A sensação era de estar sendo consumida, corpo e alma.

Querida... — a palavra em português escapou dos lábios de Alexandre. Segurou-a pela nuca e virou seu rosto para ele.

— Não me diga que não quer um beijo. Quer tanto quanto eu. E então sua boca colou-se à dela em um beijo que a deixou sem fôlego. Ela lhe oferecia sua boca entreaberta enquanto ele lhe acariciava os cabelos. Um desejo quente e eletrizante dominou seus sentidos. Era como uma chama que percorria suas veias. A língua dele forçava passagem entre seus dentes para possuir sua boca.

Os sentidos de Alexandre transbordavam. Não era para acontecer, ele dizia para si mesmo. Mas seu cheiro, seu gosto e sua pele o faziam apertá-la ainda mais em seus braços.

A mão dele percorreu suas costas até embaixo para erguer seu quadril e puxá-la ainda mais contra si. Quase contra sua vontade, ele se rendeu a um desejo maior que suas forças.

E então a campainha tocou...

Droga!—Alexandre vociferou irritado. Enterrou seu rosto na boca de Isabel. Sua barba por fazer arranhava a pele dela.

— Não saia daqui — ele resmungou, sem se importar com a interrupção. — Por favor, Isabel, não vá ver quem é.

— Tenho que ver. — Isabel já tinha se esgueirado dele. Endireitou a blusa e com a mão trêmula jogou o cabelo despenteado para trás. Sua voz também estava trêmula, mas determinada. Gostasse ou não, ia abrir a porta.

 

 


CAPÍTULO TRÊS

 

 

—E então, como foi a festa?

Era a manhã seguinte quando o telefone tocou. Isabel tinha alguma expectativa de que fosse Alexandre. Mas não muita, para ser honesta, já que ele não tinha seu número de telefone. Mas ela encontrara a jaqueta de couro depois de ele ir embora no dia anterior e, embora suspeitasse que esse fosse o verdadeiro motivo de ele ter ido até ali, queria com todas as suas forças vê-lo de novo.

Mas era sua tia Olívia.

Os tios de Isabel ficaram com sua guarda quando seus pais morreram em um acidente de esqui, na Áustria, quando ela estava com 5 anos. E ela os amava como se fossem seus pais.

— Humm, foi boa — disse em um tom despreocupado. Mas Olívia percebeu a falta de entusiasmo em sua voz.

— Eu te avisei, Bela — disse com pesar. —As pessoas com as quais Júlia sai não são como você. O que aconteceu? Levaram drogas?

 — Não! — Pelo menos esperava que não, Isabel corrigiu a si mesma. — Não, só foi até muito tarde, é isso.

 — Humm. — Sua tia não parecia muito convencida. — Bem, agora já está feito. E pelo que você diz, acho que não causaram nenhum estrago.

 — Não. Nenhum estrago — Isabel concordou, estava se perguntando o que sua tia diria se lhe contasse o que quase acontecera na tarde anterior. Se não fosse pela sra. Lytton-Smythe...

— Quando vamos te ver? — Isabel forçou seus pensamentos a se voltarem para o que sua tia dizia. — Faz muito tempo que você não passa um final de semana em Villiers.

Seus tios tinham uma pequena propriedade em Wiltshire. Seu tio, que era dono de uma cadeia de revistas, viajava para Londres aproximadamente duas vezes por semana para conferir o trabalho de seus editores, enquanto sua tia criava cavalos e cachorros da raça Golden retriever[3].

Villiers foi onde Isabel morou até ir para a universidade em Warwick e conhecer David Taylor, com quem se casou assim que se formou.

— É porque tio Sam me mantém ocupada — ela respondeu, feliz por falar de seu trabalho. Ela gostava de entrevistar as pessoas. Apesar de não ser o que desejava fazer quando escolheu aquela profissão, apreciava a confiança que seu tio depositava nela.

Quando entrou para a universidade, queria se formar em jornalismo e então tentar trabalhar em algum jornal diário. Via-se como uma futura correspondente de guerra que enviaria notícias sobre campos de batalha do mundo inteiro.

Mas conhecer David, que foi um de seus professores, fez com que tudo mudasse. Ela instalou-se com ele em Leamington Spa e se convenceu de que seria feliz em seu trabalho de assistente de pesquisa, até terem sua própria família.

Claro que isso não aconteceu. Em vez disso, dois anos após seu esplendoroso casamento, ela se sentia só e perdida. Depois encontrou um trabalho como jornalista, mas não era como imaginara.

Agora sua tia parecia impaciente.

— Então devo dizer ao Sam que pare de te dar todas essas tarefas — Olivia disse com firmeza. — Já era hora de você arrumar alguém para cuidar de você e sossegar.

— Já fiz isso uma vez. Não, muito obrigada! — Isabel exclamou.

Mesmo já sendo divorciada há seis anos, não tinha vontade de se envolver com ninguém. Gostava de sua vida, de sua independência. E só porque tinha sucumbido a um momento de loucura na tarde anterior...

— Tem certeza de que não conheceu ninguém? — Olivia insistiu.

Isabel deu um suspiro. Às vezes sua tia podia ser muito perspicaz. Mas a última coisa que queria era começar uma conversa sobre o sexo oposto, sobretudo quando seus pensamentos estavam tão caóticos.

— Ninguém. — Deixou-se afundar no sofá e esperava não ter parecido muito inflexível.— E... Como vão as coisas? Villette pariu o potrinho?

— Sabe de uma coisa... Suspeito que esteja tentando mudar de assunto, Bela, mas eu perdoo você. — O tom de Olívia era seco. — De qualquer modo, por que não vem nesse fim de semana? Os Aitken vão dar um jantar para comemorar os 21 anos de Lucinda e sei que adorariam que viesse.

Isabel mordeu os lábios. Além de ela e Lucinda não terem nada em comum, o irmão de Lucinda, Tony, estaria lá. E ela sabia que seus tios sempre tiveram esperanças de uni-la a ele.

— Posso responder depois, tia Olivia? — ela perguntou. Tentou não deixar transparecer sua relutância. — Talvez eu vá no domingo, tá? Só para a comemoração.

Olivia suspirou desapontada.

— Suponho que pedintes não possam escolher — disse desconsolada. — Por que não pensa melhor, querida? Me liga amanhã, tá? Ainda é quinta-feira. Pode ser que você consiga vir, no final das contas.

Isabel se sentiu mesquinha, mas não poderia ficar frente a frente com Tony naquele final de semana. Não poderia mesmo. Mas...

— Tudo bem — disse por fim. — Vou fazer isso.

— Que bom. — Olívia parecia estar muito mais alegre. — Sei que vai fazer o máximo, Bela. Ah, e para sua informação, Villette teve um lindo potrinho preto. Por enquanto demos a ele o nome de Rio, mas pode escolher outro nome quando o vir.

 

Rio! Será que não tinha como escapar das coisas brasileiras? Isabel sentiu um sorriso relutante surgir em seus lábios. - Estou ansiosa para vê-lo. — E, assim que desligou o telefone, percebeu que aquilo fora uma confissão tácita.

Alexandre fez uma careta ao ver que chovia quando saiu da reunião. E como era hora do rush, não tinha nenhum táxi livre.

Sugou uma lufada de ar frio e úmido, levantou a gola de sua jaqueta e rumou para a estação de metrô mais próxima. Podia ter conseguido um carro da empresa para trazê-lo, mas não sabia quanto tempo a reunião duraria e pensou que uma caminhada até o hotel seria bem agradável.

Mas não debaixo de chuva.

Mesmo assim, não estava acostumado com tanto sedentarismo. Em casa, no Brasil, ele caminhava, nadava e velejava com regularidade. E, quando queria se afastar da cidade, ia para a fazenda que sua família possuía na região norte do Estado do Rio de Janeiro. Muitas vezes ele preferia passar seus dias ali, em vez de trancafiado em alguma enfadonha sala de reuniões.

Mas, como filho mais velho, teve que assumir o controle da Cabral Leisure quando seu pai se aposentou. Roberto Cabral foi forçado a antecipar sua aposentadoria por conta de problemas cardíacos e contava com seus dois filhos para continuar o crescimento da empresa.

Sua careta ficou pior. Não estava com o melhor dos humores. Para ser honesto estava mal-humorado desde que saiu do apartamento de Isabel pela segunda vez com um sentimento de frustração.

Poderia ter voltado lá na mesma noite, mas seu orgulho não permitiu. Consolou-se com o pensamento de que as mulheres com que estava acostumado a se relacionar jamais convidariam um homem para ir a seu apartamento no primeiro encontro, pelo menos não a sós. Sobretudo depois do modo como ele se comportara no primeiro dia em que se viram. Mas ela convidou, e ele aceitou, e agora pagava um preço por isso.

Ele balançou a cabeça, impaciente consigo mesmo e com o clima. Ao descer os degraus da estação do metrô, endireitou a gola da jaqueta e passou a mão pelo cabelo molhado. Queria voltar o mais rápido possível para o Rio de Janeiro.

De volta para Miranda, ele pensou, embora tal perspectiva não o agradasse tanto. Ele gostava dela, claro que sim. Eles praticamente cresceram juntos, droga, mas a turma com que ela andava agora não era de seu agrado. Mesmo assim, os pais dela esperavam muito mais do que era só uma amizade. Eles aguardavam um anúncio de noivado, mas se desapontariam.

Ele se esforçou para se concentrar nas estações do painel informativo. Sim, havia Green Park na linha Piccadilly, a estação mais próxima de seu hotel. Mas se ele pegasse a Central Line, estaria só a algumas estações do apartamento de Isabel.

Por que não aproveitar aquela oportunidade de pegar sua jaqueta? Voltaria para casa dentro de alguns dias. Poderia ser a última chance de pegá-la.

Certo.

Ele acreditava mesmo que era esse o motivo de ir até lá? Ela já mostrara como se sentia em duas ocasiões. Estaria pronto para ser expulso de novo?

Escolheu comprar dois bilhetes. Decidiu que pegaria o trem que chegasse primeiro. Isso significou que meia hora depois subia as escadas do apartamento de Isabel, com a jaqueta ensopada e seus sapatos caros cheios de água.

Era melhor ela estar em casa, ele pensou com raiva ao tocar a campainha. Eram 17h30. O horário de trabalho já havia terminado. Ele só esperava que ela não tivesse combinado de sair para um drinque ou um jantar.

Pareceu demorar uma eternidade até que Isabel atendesse. Diferente da vez em que a sra. Lytton-Smythe tocou, lembrou irritado. Mas enfim ouviu a tranca ser aberta e a chave girar na fechadura. E então vislumbrou um vulto vestido de robe de linho que se protegia atrás da porta.

Era uma desculpa para sua demora, ele pensou, ao ver que acabara de sair do banho. Seu rosto estava corado e seu cabelo molhado caía despenteado sobre os ombros.

Pelo menos era o que conseguia ver. Ela não abria a porta nem um centímetro a mais.

Por alguns momentos, Isabel só conseguiu olhar para ele, muito constrangida com a própria aparência para poder dizer alguma coisa. Só estava consciente do fato de estar nua sob o roupão. Minúsculas gotas de água caíam de seu cabelo e escorriam por seu pescoço.

— Eu estava no chuveiro — ela disse por fim.

— Vejo que sim — ele disse, com os olhos grudados nela.

— Vim em um momento ruim? Tem alguma dúvida?

Isabel passou a língua em seu lábio superior e deu de ombros. Por que não fizera nenhuma tentativa de devolver sua jaqueta? Teria suspeitado, ou desejado, que ele poderia decidir voltar?

— Suponho que tenha vindo pela sua jaqueta — ela disse. Decidiu que era inútil pretender que ele pudesse ter algum outro motivo.

Alexandre ergueu as sobrancelhas de um jeito que devia significar algo. Ele estava vestido de modo mais formal naquela tarde, com um terno de lã que fora tristemente prejudicado pela chuva. Seu cabelo estava quase tão molhado quanto o dela, colado à cabeça.

— Você a encontrou? — ele perguntou com voz branda. E Isabel se arrepiou ao ouvir sua voz.

— Por que não encontraria? — se apressou em responder.

— Não foi difícil de achar. Alexandre inclinou a cabeça.

É claro. — Ele fez uma pausa. — Então... Você está bem, não é?

— Só com um pouco de frio — Isabel admitiu. E então se deu conta de que não podia ir pegar sua jaqueta e deixá-lo em pé na porta, sobretudo encharcado daquele jeito. — É melhor você entrar — ela murmurou.

— Tem certeza? — Alexandre não estava muito seguro do que fazia, mas aceitou seu convite.

— Por que não? — Isabel perguntou de imediato. E, diferente da outra vez em que chegou para o lado para deixá-lo passar, correu para a sala. — Poderia fechar a porta? — pediu enquanto ia para o quarto. — Volto em um minuto.

Alexandre fechou a porta com suas costas e virou-se para trancá-la. Só por segurança, pensou, sem admitir que tinha outra razão para isso. E depois foi para a sala.

Por causa do dia escuro havia três luminárias acesas na sala, duas de mesa e um lustre de estanho que fazia uma sombra enorme. Isabel tinha bom gosto, ele reconheceu. Notou que o piso estava encerado e que os sofás e as cadeiras foram limpos. Até as almofadas estavam fofas, como se ninguém as tivesse usado, e o tapete de centro parecia novo.

Havia uma porta aberta do outro lado da sala e ele ficou curioso em ver onde daria. Tirou a jaqueta molhada e jogou-a no chão. Então, depois de hesitar um pouco, cruzou a sala e entrou no pequeno corredor.

Evidentemente, o corredor dava acesso ao quarto dela e ao banheiro. Havia duas portas e, embora soubesse que seu comportamento era imperdoável, foi em direção à primeira.

Estava aberta. E era o quarto dela. Viu algumas roupas espalhadas sobre uma colcha rosa estampada. Talvez estivesse se arrumando para sair, pensou. Abriu de modo involuntário o colarinho ao sentir uma pontada estranha. Não podia estar com ciúme, disse a si mesmo, ao desfazer o nó da gravata. Não era, já que nunca se envolveria com uma inglesa.

Ao mesmo tempo...

Outra porta se abriu e Isabel apareceu vestida só com um minúsculo sutiã meia taça e uma calcinha de renda. Ela enxugava o cabelo com a toalha, mas ele caía despenteado sobre seus ombros. Estava distraída e muito sexy, e Alexandre sentiu seu corpo reagir.

Ela ainda não o notara ali. Estava muito concentrada enquanto pegava as meias finas de cima da cama e se sentava para colocá-las em suas pernas bem torneadas. Mas algo, talvez o barulho de sua respiração, a fez olhar em sua direção.

Era impossível resistir a ela naquela posição em que uma das pernas levantada deixava entrever uns cachinhos loiros que escapavam pela calcinha, e, apesar do seu grito de indignação, Alexandre avançou de modo lento até ela.

— O que pensa que está fazendo? — Isabel mal conseguia falar. Tirou suas meias, fez uma bola com elas e atirou-a com raiva na direção dele. — Sai daqui! — ela gritou meio em pânico, meio indignada. — Eu... Eu pedi para você esperar na sala.

— Que eu me lembre você não... Como se diz... Estipulou onde eu deveria ficar — Alexandre a contradisse. Pegou a bola de seda preta e a ergueu até seu rosto. — Humm, tem seu cheiro — ele prosseguiu.

Ela levantou da cama para encará-lo.

— Não fique com raiva. Você é uma linda mulher. Não tenha vergonha de seu corpo.

— Não estou envergonhada! Mas se isso era para ser uma desculpa, não a aceito. Você não tem o direito de entrar aqui sem ser convidado e



  

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