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Título original: SPANISH MAGNATE, RED-HOT REVENGE 7 страница



Ao atravessar o hall de novo, Isabel viu que as empregadas haviam retomado a limpeza. Como eram discretas, pensou com uma ponta de amargura. Será que todos dançavam conforme a música de Alexandre?

Eles se encaminharam para a escadaria e subiram até um patamar de onde se podia ver o hall lá embaixo. Ali, janelas nos cantos levavam luz para os tapetes estampados, as urnas de bronze e o estatuário de mármore, que davam ao corredor um ar de ostentação imponente.

No final do corredor, portas duplas assinalavam a que se destinavam. Ricardo bateu uma vez, e, após ter ouvido alguma resposta do outro lado, escancarou as portas com um gesto dramático.

— Sra. Jameson, senhora — ele anunciou, como se Anita fizesse parte da realeza. Ele fez um gesto para que Isabel avançasse. — Vá em frente — disse em português.

Isabel entrou devagar enquanto seus olhos registravam que o escritório não era como esperara. Era uma espaçosa sala de estar com persianas na janela, e sofás e poltronas acolchoadas.

Um grande tapete quadriculado cobria a maior parte da sala.

Uma lareira de pedras ornamentada ocupava uma posição destaque, de frente para uma tela de tapeçaria. Havia vários retratos austeros nas paredes e objetos decorativos em todas as superfícies disponíveis.

Anita estava sentada em uma chaise longue [7]sob a janela. E, como seu genro fizera lá embaixo, se posicionou de modo que seu rosto ficasse obscurecido pela luz atrás dela. Mas quando Isabel entrou ela se levantou para cumprimentá-la, e Isabel percebeu que ela vestia a mesma roupa transparente de antes.

Sra. Jameson — disse com a expressão enigmática. — Não quer se sentar? Ricardo, peça à Aparecida para preparar um café.

Sim, senhora.

Ricardo fez uma reverência e se retirou, e Isabel olhou ao redor um pouco nervosa.

— Onde quer que eu me sente, senhora? —perguntou. As palmas da mão estavam suadas. E, com um certo receio de deixar sua pasta cair, a segurava de maneira protetora contra o peito.

Anita a olhou por um longo e perturbador momento e então indicou as cadeiras ao lado direito da chaise longue.

— Aqui, acho — disse com um sorriso de lábios apertados. Então inclinou a cabeça na direção da pasta que Isabel segurava de modo tão protetor. — Não vai precisar disso hoje, senhora. Espero que concorde que precisamos nos conhecer primeiro, não é?

Isabel hesitou.

— Oh, mas...

— Faz alguma objeção, senhora?

Anita arqueou as sobrancelhas em uma expressão autoritária e Isabel percebeu que não tinha escolha se quisesse fazer a entrevista.

— Não, não — disse enquanto soltava a pasta e se sentava na cadeira que Anita sugeriu. — Mas não sou muito interessante, sra. Silveira. Na verdade, prefiro falar sobre a senhora.

Anita sentou-se de novo, esticou as pernas e ajeitou o roupão de chiffon. Então, olhou para sua convidada com uma intensidade que Isabel considerou enervante e disse:

— Meu genro disse que se conheceram em Londres há alguns anos.

Era um começo intimidante, e Isabel ficou desconcertada. O que Alexandre teria contado exatamente?

— Sim — ela murmurou, concentrada em uma abelha enorme que zumbia perto da janela. — Tem uma vista maravilhosa, senhora. Imagino que ficar aqui seja bem diferente de estar em sua casa no Rio.

— Por que não mencionou que o conhecia quando o apresentei? — Anita não queria que a distraíssem.

— Oh. Bem, era difícil — Isabel disse por fim. — Não queria que pensasse que só vim para cá porque conhecia o sr. Cabral.

— E não foi por isso?

— Santo Deus, não! — Pelo menos nisso Isabel podia ser completamente honesta. — Ele... — Ela limpou a garganta. — Ele era a última pessoa que eu esperava ver.

— Humm. — Era evidente que Anita pensava sobre aquilo, mas Isabel não se iludia de que o assunto terminaria ali. — E foi um encontro de trabalho? — Anita perguntou um segundo

— A Cabral Leisure queria anunciar em uma das revistas de seu tio?

Era uma tentação concordar, mas Isabel suspeitava que fosse uma armadilha e decidiu ser o mais honesta possível.

— Foi numa festa de aniversário, na verdade — tentou dar um tom leve à resposta. — Uma amiga minha, que trabalha com publicidade, convidou seu genro para ir com ela. E... Ele aceitou.

— E quando foi isso?

— Oh... — Como responder àquilo? — Há uns anos atrás disse por fim. — Não me lembro a data exata. Embora lembrasse o dia e a hora exatos.

— E nunca mais se viram?

— Depois que ele foi embora de Londres, não. Anita ficou calada por uns instantes, e Isabel esperava apreensiva que ela pedisse para explicar sua afirmação.

Mas não pediu.

Como se tivesse decidido que deixaria as outras perguntas sobre Alexandre para outro dia, Anita cruzou os braços sob a cabeça e esticou-se de modo opulento.

Quando a empregada chegou com o café que pedira, ela passou para assuntos menos pessoais. Perguntou a Isabel sobre seus tios e interessou-se pelo fato de que criavam cavalos. Por um momento, Isabel teve certeza de que ela perguntaria sobre Alexandre de novo.

Mas não. Ela perguntou a Isabel sobre seu trabalho e sua experiência profissional. Demonstrava um interesse polido por suas respostas.

Entretanto, quando terminaram q café, era evidente que já estava entediada.

— Estou cansada, senhora — ela falou. — Vamos continuar nossa conversa amanhã à tarde, sim? Talvez também queira descansar. Ricardo deve ter dito que eu geralmente trabalho até tarde da noite. É por isso que não estou disponível pelas manhãs. — Mordeu os lábios. — Tenho certeza de que consegue encontrar o caminho de volta ao seu quarto.

Alexandre já esperava que Isabel resistisse a ele.

Quando chegou na Vila Formosa pela manhã, estava preparado para ter que forçá-la a acompanhá-lo. E a forçaria se fosse preciso. Esperara por esse dia durante muito tempo.

Mas ela esperava por ele na varanda na frente da villa. Embora ainda fosse bem cedo, já estava vestida com uma camiseta verde-oliva de gola em "V" e short caqui. Seus cabelos, mais longos do que se lembrava, estavam presos em uma trança que caía sobre o ombro. Estava sem joia alguma e pouca maquiagem, mas ainda assim conseguia parecer muito feminina.

Alexandre levou o Lexus até a frente dos degraus da varanda e, antes que pudesse abrir a porta para sair, Isabel desceu para encontrá-lo.

Abriu a porta do carro e disse:

— Não se incomode em descer. Eu mesma abro. — Sentou-se no assento ao lado dele com uma agilidade que expôs suas coxas bem feitas, um pouco queimadas pelo sol. — Pronto.

Alexandre a olhou com curiosidade.

— Me desculpe, mas não esperava te encontrar tão ansiosa para passar a manhã comigo.

— E não estou — Isabel respondeu de imediato. A proximidade dele fazia sua pulsação acelerar. — Mas como você parece ter dificuldade para andar...

Alexandre cerrou a mandíbula.

— Você sente pena de mim, é isso? — Ele deu uma gargalhada áspera. — Por favor, não preciso da sua piedade. E sou perfeitamente capaz de subir e descer do carro.

Isabel o olhou com frustração. Se ao menos ele soubesse, pensou irritada. Era de si mesma que tinha pena.

Ele não percebia que aquela cicatriz em seu rosto lhe dava um fascínio quase primitivo? Que ele tinha uma sexualidade bruta que nem com muito esforço ela conseguiria ignorar?

Ele não era o homem que ela conhecera em Londres, mas era muito mais perigoso agora. Ele era o pai de Emma, fato que ela conseguira esconder até chegar ali.

— Você sofreu uma lesão na perna — ela explicou enquanto ele colocava o carro em marcha. — Só estava sendo atenciosa.

Verdade?

— Claro que sim — ela respondeu. — Teria feito o mesmo com qualquer um nessa situação.

— Por que não diz as coisas como realmente são? — Alexandre resmungou de modo seco, e a viu fazer uma expressão de impaciência.

Mas ele não queria passar a manhã brigando com ela. Ou despertar sua hostilidade, se já não o tinha feito. Sua filha era o mais importante, mais do que qualquer ressentimento que pudesse ter por ela. Que droga, mas ele estava ressentido. Perdera os dois primeiros anos de vida de Emma.

Emma...

Chegaram à cidadezinha de Porto Verde. Isabel, que desde sua chegada só saíra da villa para ir até a praia, olhava em torno com interesse.

Como a cidade próxima à villa, Porto Verde lembrava um pouco os lugares que ela visitara no Caribe. Casas coloridas cobertas por telhas brilhavam à luz do sol. Mesmo àquela hora do dia havia roupa lavada pendurada em varais, cachorros latiam a vontade e crianças com enormes olhos castanhos se viravam para olhar quando eles passavam.

Isabel viu o aeroporto ao longe, mas Alexandre saiu da costa ao fazer a curva e subir por uma trilha íngreme. Longe do litoral, todos os indícios de habitação desapareceram, só o que se via eram sebes de hibisco e capim alto que balançava lânguido com a brisa.

Era primitivo, mas bonito. Como o homem com quem estava, pensou fantasiosa, ainda incerta sobre se fizera a coisa certa ao vir com ele. Mas que escolha tinha, na verdade? Precisava descobrir o que ele sabia sobre Emma.

Ela bufou. Sentia o calor de fora contra o vidro do carro. Ou era só sua temperatura que aumentara por causa da tensão dentro do carro?

— É muito bonito — disse por fim. Preferia evitar qualquer assunto polêmico naquele momento. — Qual é a distância até... Como é mesmo o nome? Montevideo?

— Montevideo é no Uruguai — Alexandre respondeu categórico. — A fazenda se chama Montevista. Na verdade é um nome espanhol. Significa...

— Vista da montanha — Isabel interviu com uma careta. — Eu entendo o básico de espanhol, Alexandre.

— Ah.

Alexandre prendeu a respiração. Seus dedos apertaram o volante. Esquecera como seu nome soava bem em sua boca. Esquecera um monte de coisas sobre ela, reconheceu com pesar. Em especial, como seria fácil deixar que o que aconteceu no dia anterior o cegasse sobre a verdadeira razão de ela estar ali.

Ao mesmo tempo, não podia ignorar o fato de que passara a maior parte da noite lamentando sua própria burrice. Agarrá-la daquele jeito, beijá-la! Pelo amor de Deus, o que ele esperava com isso?

Fazer amor com ela, essa era a resposta, reconheceu a contragosto. Por alguns instantes, não conseguiu pensar em mais nada. E apesar do tempo que passou, se lembrou de tudo sobre ela. O que deveria ter servido como aviso do quanto era imprevisível levá-la até a fazenda.

O céu era de um azul translúcido. Os olhos de Isabel seguiram o rastro branco deixado por um avião que passou, e viram de relance um corpo sinuoso antes que ele desaparecesse no mato ao lado da estrada. Uma cobra talvez, ela pensou ao lembrar de que seu tio a prevenira sobre a vida selvagem naquela região. Ela se encolheu. Nem todas as criaturas eram amistosas. E não se referia somente aos animais. Eles chegaram a uma espécie de planalto e Isabel ficou grata quando a estrada ficou reta. Foram quilômetros de curvas e, embora ela fosse uma viajante bem resistente, seu estômago já estava embrulhado.

O ar era tão puro, reparou ao olhar ao redor. Se deu contade que a linha azul no horizonte era o mar. Na outra direção, montanhas meio escondidas pela neblina pareciam distantes e misteriosas. Uma névoa de calor pairava sobre os campos, avasta paisagem era pontuada por pinheiros e acácias floridas.

Havia gado também, à procura de sombra sob as árvores. Os bois pareciam um pouco perigosos, Isabel pensou. Seus longos chifres pontudos estavam virados para eles.

Estava tão entretida com tudo isso que quase não viu o portão e o logotipo com cavalos empinados. A estrada estreitou-se entre as cercas brancas e tomou a direção de umas construções a uns quinhentos metros dali.

Havia mais gado ali, e Isabel olhou com um ar questionador para Alexandre.

— Pensei que era uma fazenda de criação de cavalos — disse enquanto indicava os animais com um gesto. — Você também cria gado?

— Tentamos ser , como é que se diz... Completos. — Seu sorriso era um pouco debochado. — Carlos, meu gerente, consideraria um crime qualquer desperdício do precioso pasto.

Eles se aproximavam do que parecia ser um pequeno povoado e Isabel aguardava com uma expectativa relutante a primeira visão da casa de Alexandre.

E, apesar do número de anexos, a casa principal era logo reconhecível. Tinha dois andares, uma varanda em torno e venezianas verde-escuras abertas em todas as janelas. As paredes eram cobertas por trepadeiras de maracujá e inúmeros botões de flores desabrochavam à sombra da sacada do primeiro andar.

Isabel expirou o ar que nem percebeu que prendera, e Alexandre olhou para ela.

— Algo errado? •

— Errado? — Isabel balançou a cabeça. — Não. É... Adorável. Eu não sei. Eu pensei que seria um pouco menos... Menos...

— Civilizado? — Alexandre sugeriu de modo seco ao parar o carro na entrada pavimentada de pedra.

— Sofisticado — ela corrigiu. Abriu sua porta sem pensar no que fazia. Precisava de ar, a altitude inesperada a deixara sem fôlego.

— Cuidado — disse Alexandre ao abrir sua própria porta e sair do carro com muito menos entusiasmo— Estamos a muitos metros acima do nível do mar, mas ainda está muito quente.

— Não me diga — Isabel murmurou. Assoprou o próprio rosto para aliviar o calor e umedeceu os lábios secos. Então, afastou as mechas de cabelo suadas do rosto e perguntou: — A gente se acostuma ao calor?

— Com o tempo — Alexandre respondeu. Parecia impassível com a temperatura, que devia estar acima de 30 graus.

— Venha. Vamos beber algo lá dentro.

Apesar de sua relutância em ficarem a sós, Isabel contornou o carro para se juntar a ele. Foi quando outro homem, um pouco mais velho que Alexandre, veio de trás da casa.

— Ah — ele disse ao vir cumprimentar Alexandre com um sorriso no rosto. — O que está fazendo? — Olhou para Isabel.

Quem é ela?

Em inglês, por favor, Carlos —Alexandre pediu. — Essa é a sra. Jameson, de quem lhe falei.

— Ah, sra. Jameson.

O sotaque de Carlos era muito mais forte do que o de Alexandre, mas seu sorriso era infinitamente mais amigável. Ele estendeu-lhe a mão.

— Carlos Ferreira, senhora. Prazer em conhecê-la.

— Isabel — ela se apresentou ao apertar-lhe a mão de modo um pouco menos entusiástico. Mas era um alívio saber que não estavam a sós. — Eu soube que você faz todo o trabalho por aqui.

Carlos riu. Seus dentes brancos surgiram sob o bigode escuro.

— Não acredito que esse cara falou isso — disse enquanto dava tapinhas no ombro do amigo. — Mas se quiser um... Como se diz... Tour pelos estábulos, é só me falar.

Isabel olhou para Alexandre, mas sua expressão estava impenetrável. Ela encolheu os ombros e disse:

— Eu adoraria.

— Mas não agora — Alexandre sugeriu. Sua voz calma era imperiosa como uma ordem. Ele sorriu para Carlos como se quisesse suavizar suas palavras. — A sra. Isabela está com sede e calor. Vou perguntar à Consuelo se tem algo gelado para beber.

Isabel quis protestar, mas depois de trocar algumas palavras em sua própria língua com Alexandre, Carlos se afastou.

— Até mais tarde, Isabela — ele berrou e acenou com a mão para se despedir. Isabel não teve outra alternativa senão acompanhar Alexandre através da varanda e entrar na casa.

 


CAPÍTULO DEZ

 

 

O chão de madeira do hall de entrada ecoava o barulho de seus pés. Raios da luz do sol entravam por uma fileira de janelas estreitas, e um cheiro doce de verbena[8] pairava no ar.

Era bem diferente da pompa sombria da vila de Anita. As paredes coloridas e o teto de viga aparente davam ao lugar uma aparência muito mais cheia de vida. Havia quadros nas paredes e uma enorme mesa central em cores vibrantes. Uma travessa com flores tropicais fazia um alegre centro de mesa, e havia vários vasos com orquídeas em toda a sala.

Uma mulher veio ao encontro deles enquanto cruzavam o hall. Era baixa, morena e estava toda vestida de preto, mas tinha a expressão amigável e tranquila. Muito diferente de Aparecida, Isabel pensou aliviada ao lembrar-se do ar sisudo da empregada de Anita.

— Essa é Elena — Alexandre a apresentou com um sorriso. — Elena, essa é a sra. Jameson... Uma amiga minha.

Isabel teve quase certeza de que aquela hesitação fora proposital, mas Elena pareceu não perceber.

Bem-vinda à fazenda, senhora — ela disse com uma inclinação polida de cabeça. Olhou para Alexandre. — Gostaria de um café, senhor?

O pouco conhecimento da língua portuguesa de Isabel foi suficiente para saber que Elena a desejara boas-vindas. E não tinha certeza, mas também achava que ela perguntou se queriam café.

— Suco de frutas, Elena — Alexandre respondeu, provando que estava certa. Ele olhou para Isabel. — E chá gelado também, sim? Estaremos na estufa.

Sim, senhor. — Com mais uma inclinação de cabeça, Elena foi embora e Alexandre virou-se para sua convidada.

— Venha — ele disse. — Vou te mostrar um pouco da minha casa.

Isabel deu de ombros, consciente de que não tinha muita escolha. No entanto, estava curiosa. Aquele lugar era bem diferente da Vila Formosa. E não só na aparência. A atmosfera também era diferente.

Uma área livre levava do hall até um espaçoso salão com piso de cerâmica. O teto em caixotão era sustentado por colunas de mármore que dividiam o cômodo em elegantes espaços com lugar para sentar, e havia uma enorme lareira de pedra ao fundo.

Isabel não resistiu e foi até as janelas altas que davam para o pátio. Cadeiras de vime agrupavam-se em torno de uma mesa com tampo de vidro, à sombra da sacada. E, para além do pátio, uma piscina cintilava convidativa sob a luz do sol, e também havia cabanas de madeira onde os convidados de Alexandre podiam trocar de roupa.

Isabel passou a língua em seu lábio superior. Nunca imaginara nada assim. Villiers, onde seus tios moravam, era bonita, mas não se comparava à Montevista.

Respirou fundo e, mais do que depressa, Alexandre foi para perto dela. Ele caminhava com um pouco de dificuldade, mas isso não parecia atrapalhá-lo naquela manhã. Seus olhos castanho-claros a avaliavam com desconfiança.

— Não gostou do lugar?

— Como poderia não gostar? É muito bonito. E tenho certeza que sabe disso. — Ela fez uma pausa. — Você o comprou quando estava casado com Miranda?

— O que te leva a pensar isso?

— Oh, eu não sei. — Isabel deu de ombros, muito consciente dele bem ali a seu lado. — Eu só achei que a sra. Silveira poderia tê-lo dito que o comprasse. Afinal de contas, é na mesma região.

— Montevista é da minha família há várias gerações — ele a informou. — Meu bisavô a construiu para que minha bisavó pudesse fugir da cidade. Naquela época não havia ar-condicionado e, embora possa não parecer neste momento, o ar da montanha é mais fresco. Pode fazer frio também, acredite ou não. Às vezes temos que acender a lareira.

— Então você não é o dono?

— Não — Alexandre respondeu de modo tolerante, embora esfregasse a mão na coxa em um gesto de impaciência. — O que acontece é que esse é um lugar bom para se recuperar. E eu sempre gostei de cavalos. Às vezes penso que preferiria ser cavaleiro a passar meus dias em um escritório.

Isabel olhou para ele e percebeu que estava poupando a perna machucada.

— Você teve que se recuperar após o acidente, não é? — ela disse devagar, com uma certa compaixão.

— Digamos que sim. — Então ele virou-se e fez um gesto para indicar que ela deveria precedê-lo através de uma arcada até o salão contíguo, onde uma mesa envernizada e 12 cadeiras estofadas ocupavam uma posição central.

— A estufa — ele informou desnecessariamente ao mostrar um grande espaço com paredes de vidro.

Apesar de ter muitas janelas, a estufa era mantida em uma temperatura amena pelo ar condicionado e por cortinas meio fechadas. Arbustos e trepadeiras davam ao ar uma fragrância especial. Cadeiras confortáveis e poltronas reclináveis acolchoadas criavam um agradável espaço de convivência.

— Se não se importa... — Sem esperar pela permissão dela, Alexandre sentou-se em uma das poltronas e esticou a perna com grande alívio. Ele estava fazendo esforço demais, sabia disso, mas ainda o incomodava demonstrar fraqueza para ela. Sua opinião sobre ele era importante, por mais ridículo que isso pudesse parecer.

— Claro que não — Isabel interrompeu seu interesse por uma laranjeira para responder. As pequenas frutas ainda verdes lhe pareciam encantadoras em seu habitat natural. — Humm... — Ela escolheu uma cadeira a alguma distância dele e massageou os braços. Parecia estar agitada.

— Sua perna está doendo? Eu vi que a esfregava antes.

— Já esteve melhor — Alexandre deu uma resposta curta. Não queria entrar em uma conversa sobre suas deficiências. —Ah, finalmente. Elena chegou. Se puder colocar a bandeja ao lado da sra. Jameson, Elena, por favor.

Ficou evidente que Elena entendia um pouco de inglês, pois fez o que Alexandre pediu e depois sorriu de modo solícito.

O almoço, senhor? — ela perguntou. E então, como se tivesse entendido o olhar que ele lhe fez, ela repetiu a pergunta em inglês. — Almoço, senhor? Para duas pessoas?

Receio que não, Elena. — Alexandre respondeu na própria língua e depois em inglês. — A sra. Jameson tem que voltar para Porto Verde. — Ele fez uma pausa e olhou para o rosto corado de Isabel. — Outro dia, talvez.

Sim, senhor. — Ela fez mais uma reverência e saiu. Seus sapatos com solado de borracha quase não faziam barulho ao andar. Isabel voltou sua atenção para a bandeja na mesinha a seu lado. Havia uma jarra de suco de frutas e chá gelado em uma garrafa. Os copos tinham sido resinados e soltavam uma névoa por causa do ar quente da estufa. E um balde com gelo, que também derretia com o calor.

— O que vai querer? — ela perguntou. Sabia que Alexandre colocara intencionalmente a bandeja a seu lado.

Mas ele balançou a cabeça.

— Não quero nada — ele respondeu. — Mas sirva-se do que quiser.

Isabel pegou a jarra de suco de fruta e conseguiu encher meio copo sem que sua mão trêmula derrubasse a maior parte na bandeja. Colocou cubos de gelo e levou o copo aos lábios. Tentava manter a espontaneidade, pois ele não tirava os olhos dela.

O suco era delicioso, uma mistura de pêra, romã e maracujá, ela deduziu. Seja lá o que fosse, era do que precisava para molhar sua garganta seca, e nem a vigilância de Alexandre podia estragar esse prazer.

— E então? — ele disse ao ver que ela não falaria nada. — Está bom?

— Muito bom — Isabel respondeu de imediato enquanto limpava uma gota de suco de seu queixo. — Obrigada. Está delicioso.

— Ótimo. — Alexandre ajustou o encosto de sua poltrona para ficar mais confortável e então falou: — Por que está com medo de mim?

— Não estou com medo. — Isabel devolveu o copo à mesa abruptamente. — Apreensiva, talvez — acrescentou. — Queria saber do que se trata isso tudo.

— Tudo o quê? —Alexandre perguntou de modo despreocupado. — Vir até aqui? Tomar um suco de frutas? O quê?

— Sabe o que quero dizer — Isabel disse com ironia. Não conseguia ficar sentada exposta a seu olhar zombeteiro. Andou de um lado para o outro, afastando os galhos que prendiam seu cabelo enquanto passava. — Por que me trouxe aqui? O que pretende em relação à Emma? Não entendo por que quer perturbar minha vida. Não te fiz mal nenhum.

— Você acha? — Alexandre estreitou os lábios e, apesar de sua agitação, Isabel ficou impressionada com a beleza selvagem de seu rosto. Estava marcado por uma cicatriz, mas isso não fazia diferença. Não afetara muito seu encanto masculino.

Alexandre sentou-se e inclinou seu corpo em direção a ela.

— Por que não vem se sentar? — ele sugeriu de modo gentil.

— Você vai Ficar com calor andando para lá e para cá dessa maneira. — Mas quando ela foi relutante em direção à cadeira, ele gesticulou com impaciência. — Aí não — disse enquanto indicava a cadeira a seu lado. — Ficar longe de mim não vai mudar a situação.

Isabel deu um suspiro de frustração, mas se sentiu-se compelida a fazer o que ele dizia. Além disso, disse a si mesma, não estava com medo dele, só que aquela atração desmedida por ele poderia deixá-la vulnerável.

— Tudo bem — ela concordou, tentando parecer confiante.

— Por que você disse que tem uma prova de que Emma é sua filha?

Alexandre a olhou.

— Porque tenho.

— Não acredito em você.

— Não? Acredite ou não, eu a tenho — Alexandre disse de modo seco. Tirou uma carteira do bolso de trás e a abriu. Ao fazê-lo, uma pequena fotografia caiu no assento da poltrona ao lado dele.

A fotografia caiu virada para cima e os olhos de Isabel foram atraídos para ela de imediato. Meu Deus, ela pensou, ele tinha uma foto de Emma. Será que ele a estivera perseguindo? De que outro modo poderia tê-la conseguido?

Ela pegou a fotografia com os dedos trêmulos e precipitou-se em direção a ele, com os olhos cravados em seu rosto moreno.

— O que pensa que está fazendo? — perguntou. — Não sabe que é crime perseguir as pessoas? Sobretudo crianças? Como conseguiu uma foto da minha filha?

Alexandre olhou para ela com uma expressão de quem achava um pouco de graça.

— Não é uma foto da sua filha. O que está segurando é uma foto da minha sobrinha Catarina.

— O quê? — Isabel olhou para a foto com incredulidade. Era incrível como aquele rosto sorridente era igual ao de Emma: os olhos vivos, as bochechinhas, as sardas e a boca volumosa. Mas, embora a cor do cabelo fosse igual a de Emma, ele era muito mais comprido e com cachos. Isabel prendeu a respiração.



  

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